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Definic¸a˜o e propriedades do limite Parte 5 Limites de func¸o˜es Voltaremos a` noc¸a˜o de limite sob uma forma mais ampla, conside- rando, agora, func¸o˜es reais de varia´vel real, f : X −→ R, com X ⊂ R, em vez de sequeˆncias. 1. Definic¸a˜o e propriedades do limite Definic¸a˜o 1.1 Seja f : X −→ R uma func¸a˜o definida num subconjunto X ⊂ R e seja a ∈ X ′ um ponto de acumulac¸a˜o. Dizemos que o nu´mero real L e´ o limite de f(x) quando x tende para a e escrevemos lim x→a f(x) = L quando para cada ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ) =⇒ |f(x) − L| < ε Assim, simbolicamente escrevemos: lim x→a f(x) = L⇐⇒ ∀ ε > 0∃ δ > 0 ; x ∈ X e 0 < |x− a| < δ =⇒ |f(x) − L| < ε⇐⇒ ∀ ε > 0∃ δ > 0 ; f ( (a− δ, a+ δ) ∩ (X− {a}) ) ⊂ (L− ε, L+ ε) . Ou seja, lim x→a f(x) = L quando e´ possı´vel tornar f(x) arbitrariamente pro´ximo de L, desde que se tome x ∈ X suficientemente pro´ximo de a e diferente de a. Instituto de Matema´tica - UFF 161 Ana´lise na Reta Observac¸a˜o 1.1 So´ tem sentido escrever lim x→a f(x) = L quando a ∈ X ′, pois se a 6∈ X ′, todo nu´mero real L seria limite de f(x) quando x tende para a. De fato, como a 6∈ X ′, existe δ0 > 0 tal que (X− {a})∩ (a− δ0, a+ δ0) = ∅. Enta˜o, para cada ε > 0 dado, existe δ = δ0 > 0, tal que ∅ = f ( (X− {a}) ∩ (a− δ0, a+ δ0) ) ⊂ (L− ε, L+ ε) , qualquer que seja L ∈ R. Observac¸a˜o 1.2 O ponto a pode pertencer ou na˜o ao domı´nio X. Mesmo quando a ∈ X, o valor f(a) na˜o interfere na determinac¸a˜o de lim x→a f(x), pois tal limite, quando existe, depende apenas dos valores f(x) para x pro´ximo e diferente de a. ´E possı´vel ter-se lim x→a f(x) 6= f(a). Por exemplo, se f : R→ R e´ a func¸a˜o definida por f(x) = 1 , se x ∈ R− {0}0 , se x = 0 , enta˜o lim x→0 f(x) = 1 6= 0 = f(0). Observac¸a˜o 1.3 Se lim x→a f(x) = L enta˜o L e´ aderente ao conjunto f(X− {a}), pois todo intervalo aberto de centro L conte´m pontos deste conjunto. Tem-se, tambe´m, que L ∈ f(Vδ), onde Vδ = (a − δ, a + δ) ∩ (X − {a}) e δ > 0. Teorema 1.1 (Unicidade do limite) Sejam X ⊂ R, f : X −→ R e a ∈ X ′. Se lim x→a f(x) = L1 e limx→a f(x) = L2, enta˜o L1 = L2. Prova. Dado ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que: • x ∈ X− {a} e 0 < |x− a| < δ1 =⇒ |f(x) − L1| < ε 2 ; • x ∈ X− {a} e 0 < |x− a| < δ2 =⇒ |f(x) − L2| < ε 2 . J. Delgado - K. Frensel162 Definic¸a˜o e propriedades do limite Seja δ = min{δ1, δ2}. Como a ∈ X ′, existe x0 ∈ (X − {a}) ∩ (a − δ, a + δ). Logo, |L1 − L2| ≤ |L1 − f(x0)| + |f(x0) − L2| < ε 2 + ε 2 = ε . Ou seja, |L1 − L2| < ε para todo ε > 0. Logo, L1 = L2, pois, se L1 6= L2, terı´amos que |L1−L2| < |L1 − L2| 2 , para ε = |L1 − L2| 2 > 0, o que e´ absurdo.� Teorema 1.2 Sejam X ⊂ R, f : X −→ R, a ∈ X ′. Seja Y ⊂ X tal que a ∈ Y ′ e seja g = f|Y. Se lim x→a f(x) = L, enta˜o limx→ag(x) = L . O teorema 1.2 e´ ana´logo a` afirmac¸a˜o de que toda sub- sequ¨eˆncia de uma sequ¨eˆncia convergente e´ tambe´m conver- tente e tem o mesmo limite. Prova. Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que |f(x) − L| < ε qualquer que seja x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ) . Enta˜o, |g(x) − L| = |f(x) − L| < ε para todo x ∈ (Y − {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Logo, lim x→ag(x) = L.� Teorema 1.3 Sejam X ⊂ R, f : X −→ R e a ∈ X ′. Se I e´ um intervalo aberto que conte´m a, Y = I∩X, g = f|Y e lim x→ag(x) = L, enta˜o limx→a f(x) = L. O teorema 1.3 diz que a ex- isteˆncia e o valor do limite de uma func¸a˜o f depende apenas do comportamento de f numa vizinhanc¸a de a.Prova. Seja δ0 > 0 tal que (a − δ0, a + δ0) ⊂ I. Dado ε > 0 existe δ > 0 tal que |g(x) − L| < ε para todo x ∈ (I ∩ X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Tome δ ′ = min{δ, δ0}. Enta˜o, (I ∩ X− {a}) ∩ (a− δ ′, a+ δ ′) = (X− {a}) ∩ (a− δ ′, a+ δ ′) , pois (a− δ ′, a+ δ ′) ⊂ I. Logo, |f(x) − L| = |g(x) − L| < ε para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ ′, a+ δ ′). Portanto, lim x→a f(x) = L.� Teorema 1.4 Sejam X ⊂ R, f : X −→ R e a ∈ X ′. Se existe lim x→a f(x), enta˜o f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a, ou seja, existem A > 0 e δ > 0 tais que |f(x)| < A para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Instituto de Matema´tica - UFF 163 Ana´lise na Reta Prova. Seja L = limx→a f(x). Dado ε = 1 > 0, existe δ > 0 tal que |f(x) − L| < 1 para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Enta˜o, |f(x)| ≤ |f(x) − L| + |L| < 1 + |L| = A para todo x ∈ (X − {a}) ∩ (a − δ, a+ δ).� Teorema 1.5 (Princı´pio do Sandwiche) Sejam X ⊂ R, f, g, h : X −→ R e a ∈ X ′. Se limx→a f(x) = limx→a h(x) = L e f(x) ≤ g(x) ≤ h(x) para todo x ∈ X− {a}, enta˜o limx→a g(x) = L . Prova. Dado ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que: • |f(x) − L| < ε 2 se x ∈ X e 0 < |x− a| < δ1. • |h(x) − L| < ε 2 se x ∈ X e 0 < |x− a| < δ2. Tome δ = min{δ1, δ2}. Enta˜o, L− ε ≤ f(x) ≤ g(x) ≤ h(x) ≤ L+ ε , para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Logo, lim x→ag(x) = L. � Teorema 1.6 Sejam X ⊂ R, f, g : X→ R e a ∈ X ′. Se lim x→a f(x) = L < limx→ag(x) = M, enta˜o existe δ > 0 tal que x ∈ X, 0 < |x− a| < δ =⇒ f(x) < g(x). Prova. Seja ε = M− L 2 > 0. Enta˜o, L + ε = L+M 2 = M − ε e existe δ > 0 tal que L − ε < f(x) < L + ε = M − ε e M − ε < g(x) < M + ε para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Logo, f(x) < M+ L 2 < g(x), ou seja, f(x) < g(x) para todo x ∈ (X − {a}) ∩ (a− δ, a+ δ).� Corola´rio 1.1 Se lim x→a f(x) = L > 0, enta˜o existe δ > 0 tal que x ∈ X, 0 < |x− a| < δ =⇒ f(x) > 0. J. Delgado - K. Frensel164 Definic¸a˜o e propriedades do limite Corola´rio 1.2 Se lim x→a f(x) = L, limx→ag(x) = M e f(x) ≤ g(x) para todo x ∈ X− {a}, enta˜o L ≤M. Teorema 1.7 Sejam X ⊂ R, f : X −→ R e a ∈ X ′. Enta˜o lim x→a f(x) = L se, e so´ se, lim n→∞ f(xn) = L para toda sequ¨eˆncia (xn) ⊂ X − {a} tal que lim n→∞ xn = a. Prova. Suponhamos que lim x→a f(x) = L e que limn→∞ xn = a, com xn ∈ X − {a} para todo n ∈ N. Enta˜o, dado ε > 0, existe δ > 0, tal que |f(x) − L| < ε para todo x ∈ X, 0 < |x− a| < δ. Como lim n→∞ xn = a e xn 6= a para todo n ∈ N, existe n0 ∈ N tal que 0 < |xn − a| < δ para todo n > n0. Logo, |f(xn) − L| < ε para todo n > n0. Assim, lim n→∞ f(xn) = L. Suponhamos, agora, que lim x→a f(x) 6= L. Enta˜o existe ε0 > 0 tal que para todo n ∈ N podemos obter xn ∈ X tal que 0 < |xn−a| < 1 n e |f(xn)−L| ≥ ε0. Logo, lim n→∞ xn = a, mas limn→∞ f(xn) 6= L.� Corola´rio 1.3 Existe lim x→a f(x)se, e so´ se, limn→∞ f(xn) existe e independe da sequ¨eˆncia (xn) ⊂ X− {a} com lim n→∞ xn = a. Corola´rio 1.4 Se existe lim n→∞ f(xn) para toda sequ¨eˆncia (xn) ⊂ X − {a} tal que lim n→∞ xn = a, enta˜o existe limx→a f(x). Prova. Basta provar que lim n→∞ f(xn) independe da sequ¨eˆncia (xn) ⊂ X − {a} com lim n→∞ xn = a. Suponhamos, por aburdo, que existem duas sequ¨eˆncias (xn) e (yn) de pontos de X − {a} tais que lim n→∞ xn = limn→∞yn = a, mas limn→∞ f(xn) = L 6= M = lim n→∞ f(yn). Instituto de Matema´tica - UFF 165 Ana´lise na Reta Enta˜o, a sequ¨eˆncia (zn) ⊂ X− {a}, dada por z2n = xn e z2n−1 = yn, e´ uma sequ¨eˆncia de pontos de X− {a} que converge para a, mas que (f(zn)) na˜o converge, porque possui duas subsequ¨eˆncias (f(z2n)) e (f(z2n−1)) que convergem para limites diferentes. Logo, o valor de lim n→∞ f(xn) independe da sequ¨eˆncia (xn) com xn ∈ X− {a} e lim n→∞ xn = a. Enta˜o, pelo corola´rio 1.3, existe limx→a f(x).� Teorema 1.8 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′, f, g : X −→ R. Se lim x→a f(x) = L e limx→ag(x) = M, enta˜o: (1) lim x→a (f(x)± g(x)) = L±M . (2) lim x→a (f(x)g(x)) = LM . (3) lim x→a f(x)g(x) = LM , se M 6= 0. (4) Se lim x→a f(x) = 0 e existe A > 0 tal que |g(x)| ≤ A para todo x ∈ X− {a}, enta˜o lim x→a f(x)g(x) = 0. Prova. Seja (xn) uma sequ¨eˆncia de pontos de X− {a} com lim n→∞ xn = a. • Enta˜o, lim n→∞ (f(xn)± g(xn)) = L ±M e limn→∞ (f(xn)g(xn)) = LM, pois lim n→∞ f(xn) = L e limn→∞g(xn) = M. Logo, pelo teorema 1.7 limx→a (f(x)± g(x)) = L±M e limx→a(f(x)g(x)) = LM . • Se M 6= 0, temos, pelo teorema 1.6, que existe δ > 0 tal que g(x) 6= 0 para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). Como lim n→∞ xn = a e xn ∈ X− {a}, existe n0 ∈ N tal que 0 < |xn − a| < δ para todo n > n0. Logo, g(xn) 6= 0 para todo n > n0 e lim n→∞ f(xn)g(xn) = L M . Assim, pelo teorema 1.7, f(x) g(x) tem sentido para todo x suficientemente pro´ximo e diferente de a e lim x→a f(x)g(x) = LM . J. Delgado - K. Frensel166 Definic¸a˜o e propriedades do limite • Se lim x→a f(x) = 0 e |g(x)| ≤ A para todo x ∈ X − {a}, enta˜o limn→∞ f(xn) = 0 e (g(xn)) e´ uma sequ¨eˆncia limitada. Logo, lim n→∞ (f(xn)g(xn)) = 0. Assim, pelo teorema 1.7, lim x→a (f(x)g(x)) = 0.� Observac¸a˜o 1.4 Se lim x→ag(x) = 0 e existe limx→a f(x)g(x) ou o quociente f(x)g(x) e´ limitado numa vizinhanc¸a de a, enta˜o, pelo teorema acima, lim x→a f(x) = limx→a ( g(x) f(x) g(x) ) = 0 . Logo, se lim x→ag(x) = 0 e limx→a f(x) 6= 0 ou na˜o existe limx→a f(x), enta˜o o quo- ciente f(x) g(x) na˜o e´ sequer limitado numa vizinhanc¸a de a. Teorema 1.9 (Crite´rio de Cauchy para limites de func¸o˜es) Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′ e f : X −→ R. Enta˜o existe lim x→a f(x) se, e so´ se, para todo ε > 0 dado, existe δ > 0, tal que |f(x)−f(y)| < ε quaisquer que sejam x, y ∈ (X− {a} ) ∩ (a− δ, a+ δ) . Prova. (=⇒) Se lim x→a f(x) = L, enta˜o, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que |f(x)−L| < ε2 para todo x ∈ X, 0 < |x− a| < δ. Logo, |f(x) − f(y)| ≤ |f(x) − L| + |f(y) − L| < ε 2 + ε 2 = ε , quaisquer que sejam x, y ∈ X, 0 < |x− a| < δ e 0 < |y− a| < δ. (⇐=) Seja (xn) uma sequ¨eˆncia de pontos de X− {a} com lim n→∞ xn = a. Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que |f(x)−f(y)| < ε para x, y ∈ X, 0 < |x−a| < δ e 0 < |y− a| < δ. Como lim n→∞ xn = a e xn ∈ X − {a}, existe n0 ∈ N tal que 0 < |xn − a| < δ para todo n > n0. Logo, |f(xn) − f(xm)| < ε para todos n,m > n0. Ou seja, a sequ¨eˆncia (f(xn)) e´ de Cauchy e, portanto, converge. Enta˜o, pelo corola´rio 1.4, existe lim x→a f(x).� Instituto de Matema´tica - UFF 167 Ana´lise na Reta • Sejam X ⊂ R, Y ⊂ R, a ∈ X ′, b ∈ Y ′, f : X −→ R e g : Y −→ R tais que f(X) ⊂ Y, lim x→a f(x) = b e limy→bg(y) = c. Enta˜o, para x pro´ximo de a, f(x) esta´ pro´ximo de b, mas pode ocor- rer que f(x) = b para x arbitrariamente pro´ximo de a. Neste caso, b ∈ Y e lim x→a(g ◦ f)(x) pode existir ou na˜o. Caso exista, deve ser igual a g(b), que pode ser diferente de c. Exemplo 1.1 Seja f : R −→ R a func¸a˜o identicamente nula e seja g : R −→ R a func¸a˜o definida por g(x) = 1 , se x 6= 00 , se x = 0 . Enta˜o, lim x→0 f(x) = 0, limy→0g(y) = 1 e limx→0(g ◦ f)(x) = 0, que e´ diferente de 1.� Exemplo 1.2 Sejam f : R −→ R e g : R −→ R as func¸o˜es definidas da seguinte maneira: f(x) = 0 , se x ∈ Qx , se x ∈ R−Q , e g(x) = 0 , se y 6= 01 , se y = 0 . Enta˜o, lim x→0 f(x) = 0 e limy→0g(y) = 0, mas na˜o existe limx→0g(f(x)), pois g ◦ f(x) = 1 , se x ∈ Q0 , se x ∈ R−Q . � Teorema 1.10 Sejam X, Y ⊂ R, f : X −→ R, g : Y −→ R, com f(X) ⊂ Y, a ∈ X ′ e b ∈ Y ∩ Y ′. Se lim x→a f(x) = b e limy→bg(y) = g(b), enta˜o, limx→a(g ◦ f)(x) = g(b). Prova. Dado ε > 0 existe η > 0 tal que |g(y) − g(b)| < ε para todo y ∈ Y, |y− b| < η. Sendo lim x→a f(x) = b, existe δ > 0 tal que |f(x) − b| < η para todo x ∈ X, 0 < |x− a| < δ. Logo, |g(f(x)) − g(b)| < ε para todo x ∈ X, 0 < |x− a| < δ.� J. Delgado - K. Frensel168 Exemplos de limites 2. Exemplos de limites Exemplo 2.1 Seja f : R −→ R a func¸a˜o identidade, ou seja, f(x) = x para todo x ∈ R. Enta˜o, lim x→a f(x) = limx→a x = a para todo a ∈ R. Por induc¸a˜o, lim x→a xn = an para todo n ∈ N, porque se limx→a xj = aj, temos, pelo teorema 1.8, que lim x→a xj+1 = ( lim x→a xj ) ( lim x→a x ) = aj a = aj+1 Logo, pelo teorema 1.8, temos que se p(x) = anx n + an−1x n−1 + . . .+ a1x+ a0 e´ um polinoˆmio, enta˜o, para a ∈ R, lim x→ap(x) = an limx→a xn + an−1 limx→a xn−1 + . . .+ a1 limx→a x+ a0 = an a n + an−1 a n−1 + . . .+ a1 a+ a0 = p(a) . Assim, se f(x) = p(x) q(x) e´ o quociente de dois polinoˆmios, ou seja, f e´ uma func¸a˜o racional, enta˜o lim x→a f(x) = f(a), se q(a) 6= 0. Se q(a) = 0, enta˜o a e´ uma raiz de q(x) e, portanto, x− a divide q(x). Seja m ≥ 1 tal que q(x) = (x − a)mq1(x), com q1(a) 6= 0, e seja n ≥ 0 tal que p(x) = (x− a)np1(x), com p1(a) 6= 0. Se m = n, lim x→a f(x) = limx→a p1(x)q1(x) = p1(a) q1(a) , pois f(x) = p1(x) q1(x) para todo x 6= a. Se m < n, lim x→a f(x) = 0, pois f(x) = (x− a)n−mp1(x)q1(x) para todo x 6= a. Se m > n, enta˜o lim x→a f(x) na˜o existe, pois f(x) = p1(x)(x− a)m−nq1(x) , onde o denominador tem limite zero e o numerador na˜o (ver observac¸a˜o 1.4).� Exemplo 2.2 Seja f : R −→ R a func¸a˜o definida por f(x) = 0 , se x ∈ Q1 , se x ∈ R−Q . Instituto de Matema´tica - UFF 169 Ana´lise na Reta Enta˜o, na˜o existe lim x→a f(x) para todo a ∈ R. De fato, existe uma sequ¨eˆncia (xn) de nu´meros racionais, xn 6= a, tal que xn −→ a e existe uma sequ¨eˆncia (yn), yn 6= a, de nu´meros irracionais tal que yn −→ a. Enta˜o, lim n→∞ f(xn) = 0 e limn→∞ f(yn) = 1. Logo, pelo corola´rio 1.3, na˜o existe lim x→a f(x). Mas, se g(x) = (x− a)f(x), temos que lim x→ag(x) = 0, pois limx→a(x− a) = 0 e f e´ limitada.� Exemplo 2.3 Seja f : Q −→ R a func¸a˜o definida por f(x) = 1/q , se p/q e´ uma frac¸a˜o irredutı´vel com q > 01 , se x = 0 . Como Q ′ = R, tem sentido falar em lim x→a f(x) para todo a ∈ R. Vamos provar que lim x→a f(x) = 0 para todo a ∈ R. Afirmac¸a˜o: Seja a ∈ R fixo. Dado ε > 0 existe δ > 0 tal que 0 <∣∣∣∣pq − a ∣∣∣∣ < δ =⇒ 0 < 1q < ε, ou seja, q > 1ε . Seja F = {q ∈ N |q ≤ 1 ε } . Enta˜o, F e´ um conjunto fiinito. Para cada q ∈ F fixo, as frac¸o˜es m q , m ∈ Z, decompo˜em a reta em intervalos juxtapostos de comprimento 1 q , pois R = ⋃ m∈Z [ m q , m+ 1 q ) . Para cada q ∈ F, seja mq ∈ Z o maior inteiro tal que mq q < a. Seja m ′ q q ′ a maior das frac¸o˜es mq q , com q ∈ F, a qual existe, pois F e´ finito. De modo ana´logo, para cada q ∈ F, seja nq ∈ Z o menor inteiro tal que nq q > a. Como F e´ finito, existe nq ′′ ∈ Z tal que nq ′′ q ′′ e´ a menor das frac¸o˜es nq q , com q ∈ F. J. Delgado - K. Frensel170 Exemplos de limites Assim, mq ′ q ′ e´ a maior frac¸a˜o que tem denominador em F e e´ menor do que a, e nq ′′ q ′′ e´ a menor frac¸a˜o com denominador em F que e´ maior do que a. Enta˜o, salvo possı´velmente a, nenhum nu´mero racional do intervalo( mq ′ q ′ , nq ′′ q ′′ ) pode ter denominador em F. Seja δ = min { a− mq ′ q ′ , nq ′′ q ′′ − a } . Enta˜o, 0 < ∣∣∣∣ pq − a ∣∣∣∣ < δ =⇒ a− δ < pq < a+ δ , pq 6= a =⇒ mq ′ q ′ < p q < nq ′′ q ′′ , p q 6= a =⇒ q 6∈ F =⇒ q > 1 ε =⇒ 0 < 1 q < ε =⇒ ∣∣∣∣ f(pq ) − 0 ∣∣∣∣ < ε . Logo, provamos que dado ε > 0, existe δ > 0 tal que ∣∣∣∣ f(pq ) − 0 ∣∣∣∣ < ε para todo p q ∈ Q, 0 < ∣∣∣∣ pq − a ∣∣∣∣ < δ. Assim, limx→a f(x) = 0 para todo a ∈ R.� Observac¸a˜o 2.1 Seja g : R −→ R a func¸a˜o definida por g(x) = 0 , se x ∈ R−Q 1 , se x = 0 1 q , se p q e´ irredutı´vel com q > 0 . Enta˜o, lim x→ag(x) = 0 para todo a ∈ R. Exemplo 2.4 Seja f : R− {0} −→ R definida por f(x) = x+ x |x| , ou seja, f(x) = x+ 1 , se x > 0x− 1 , se x < 0 . Enta˜o, na˜o existe lim x→0 f(x), pois lim n→∞ f ( 1 n ) = lim n→∞ ( 1 n + 1 ) = 1 e lim n→∞ f ( − 1 n ) = ( 1 n − 1 ) = 1 n − 1 = −1 . � Instituto de Matema´tica - UFF 171 Ana´lise na Reta Exemplo 2.5 Seja f : R − {0} −→ R a func¸a˜o definida por f(x) = sen 1 x . Enta˜o na˜o existelim x→0 f(x). De fato, seja c ∈ [−1, 1] e b ∈ R tal que senb = c. Enta˜o, a sequ¨eˆncia ( 1 b+ 2pin ) n∈N tende para zero e lim n→∞ f ( 1 2pin+ b ) = lim n→∞ sen(2pin+ b) = senb = c . Mas, como a func¸a˜o f e´ limitada, temos que lim x→0g(x) sen 1 x = 0 para toda func¸a˜o g : R− {0} −→ R tal que lim x→0g(x) = 0. Em particular lim x→0 xn sen 1 x = 0 para todo n ∈ N.� 3. Limites laterais Definic¸a˜o 3.1 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′+ e f : X −→ R. Dizemos que L ∈ R e´ o limite a` direita de f(x) quando x tende para a, e escrevemos L = lim x→a+ f(x) , quando, para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que |f(x) − L| < ε para todo x ∈ X, a < x < a+ δ Simbolicamente, temos: lim x→a+ f(x) = L⇐⇒ "∀ ε > 0∃ δ > 0 ; x ∈ X , a < x < a+ δ =⇒ |f(x) − L| < ε" . ou lim x→a+ f(x) = L⇐⇒ ∀ ε > 0∃ δ > 0 ; f(x) ∈ (L− ε, L+ ε) ∀ x ∈ X ∩ (a, a+ δ) . Definic¸a˜o 3.2 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′− e f : X −→ R. Dizemos que L ∈ R e´ o limite a` esquerda de f(x) quando x tende para a, e escrevemos L = lim x→a− f(x) , quando, para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que |f(x) − L| < ε para todo x ∈ X, a− δ < x < a. Simbolicamente, temos: J. Delgado - K. Frensel172 Limites laterais lim x→a− f(x) = L⇐⇒ "∀ ε > 0∃ δ > 0 ; x ∈ X , a− δ < x < a =⇒ |f(x) − L| < ε" , ou lim x→a− f(x) = L⇐⇒ ∀ ε > 0∃ δ > 0 ; f(x) ∈ (L− ε, L+ ε)∀ x ∈ X ∩ (a− ε, a) . Teorema 3.1 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′+, f : X −→ R, Y = X ∩ (a,+∞) e g = f|Y. Enta˜o, lim x→a+ f(x) = L se, e so´ se, limx→ag(x) = L. Um resultado ana´logo ao teorema 3.1 vale para o limite a` esquerda. Prova. (=⇒) Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que f(x) ∈ (L − ε, L + ε) para todo x ∈ X ∩ (a, a+ δ). Como (Y − {a}) ∩ (a − δ, a + δ) = X ∩ (a, a + δ), temos que |g(x) − L| < ε para todo x ∈ (Y − {a}) ∩ (a− δ, a+ δ). (⇐=) Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que |g(x) − L| = |f(x) − L| < ε para todo x ∈ (Y − {a}) ∩ (a− δ, a+ δ) = X ∩ (a, a+ δ).� Observac¸a˜o 3.1 Pelo teorema acima, o limite a` direita e o limite a` es- querda sa˜o o limite de uma restric¸a˜o de f. Assim, os teoremas 1.1 a 1.10 valem tambe´m para os limites laterais, substituindo nos enunciados (a− δ, a+ δ) por (a, a+ δ) no caso de limite a` direita, e (a− δ, a+ δ) por (a− δ, a) no caso de limite a` esquerda. Exemplo 3.1 Sejam X, Y ⊂ R, f : X −→ R, g : Y −→ R, f(X) ⊂ Y, a ∈ X ′+, b ∈ Y ′ ∩ Y. Se lim x→a+ f(x) = b e limy→bg(y) = g(b) enta˜o limx→a+ g(f(x)) = g(b).� Teorema 3.2 Sejam X ⊂ R, f : X −→ R e a ∈ X ′+ ∩ X ′−. Enta˜o existe lim x→a f(x) se, e so´ se, existem e sa˜o iguais os limites laterais limx→a+ f(x) e lim x→a− f(x). Neste caso, lim x→a f(x) = limx→a+ f(x) = limx→a− f(x) . Prova. (=⇒) Suponhamos que L = lim x→a f(x). Sejam Y = (a,+∞) ∩ X e g = f|Y. Instituto de Matema´tica - UFF 173 Ana´lise na Reta Como a ∈ Y ′, pois a ∈ X ′+, temos, pelo teorema 1.2, que lim x→ag(x) = L. Enta˜o, pelo teorema 3.1, existe lim x→a+ f(x) e e´ igual a L. De modo ana´logo, podemos provar que o lim x→a− f(x) existe e e´ igual a L. (⇐=) Suponhamos que L = lim x→a− f(x) = limx→a+ f(x). Dado ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que • |f(x) − L| < ε para todo x ∈ X ∩ (a, a+ δ1) , e • |f(x) − L| < ε para todo x ∈ X ∩ (a− δ2, a). Tomando δ = min{δ1, δ2}, temos que |f(x) − L| < ε para todo x tal que x ∈ (X ∩ (a, a+ δ)) ∪ (X ∩ (a− δ, a)) = (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ) . Logo, lim x→a f(x) = L. � Exemplo 3.2 Seja f : R − {0} −→ R definida por f(x) = x + x |x| . Como f(x) = x+ 1 para x ∈ (0,+∞) e f(x) = x− 1 para x ∈ (−∞, 0), temos que lim x→0+ f(x) = 1, limx→0− f(x) = −1 e na˜o existe limx→0 f(x).� Exemplo 3.3 Seja f : R− {0} −→ R definida por f(x) = 1 x . Enta˜o, 0 ∈ (R − {0}) ′+ ∩ (R − {0}) ′−, mas na˜o existem os limites laterais a` direita e a` esquerda no ponto 0.� Exemplo 3.4 Seja f : R− {0} −→ R definida por f(x) = e− 1x . Enta˜o, lim x→0+ f(x) = 0, mas na˜o existe limx→0− f(x), pois f(x) na˜o e´ limitada para x negativo pro´ximo de 0.� Definic¸a˜o 3.3 Seja f : X ⊂ R −→ R. Dizemos que f e´ • crescente quando x, y ∈ X, x < y =⇒ f(x) < f(y). • na˜o-decrescente quando x, y ∈ X, x < y =⇒ f(x) ≤ f(y). • decrescente quando x, y ∈ X, x < y =⇒ f(x) > f(y). • na˜o-crescente quando x, y ∈ X, x < y =⇒ f(x) ≥ f(y). J. Delgado - K. Frensel174 Limites laterais • mono´tona quando f e´ de algum dos quatro tipos acima. Teorema 3.3 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′+, b ∈ X ′− e f : X −→ R, uma func¸a˜o mono´tona limitada. Enta˜o, existem os limites laterais L = lim x→a+ f(x) e M = limx→b− f(x). Prova. Suponhamos que f : X −→ R e´ na˜o-decrescente. Seja a ∈ X ′+ e seja A = {f(x) | x ∈ X e x > a}. Como a ∈ X ′+ e f e´ limitada, temos que A e´ na˜o-vazio e limitado inferior- mente. Enta˜o, existe L = infA. Afirmac¸a˜o: L = lim x→a+ f(x) . Dado ε > 0, existe x ∈ X, x > a, tal que L ≤ f(x) < L+ ε. Seja δ = x − a > 0. Enta˜o, para x ∈ X, a < x < a + δ = x temos que L− ε < L ≤ f(x) ≤ f(x) < L+ ε. Logo, lim x→a+ f(x) = L. Sejam, agora, b ∈ X ′− e B = {f(x) | x ∈ X e x < b}. Enta˜o, existe M = supB, pois B 6= ∅ e e´ limitado superiormente. Dado ε > 0, existe x ∈ X, x < b, tal que M− ε < f(x) ≤M. Tome δ = b− x > 0. Enta˜o, para x ∈ X, x = b− δ < x < b, temos que M− ε < f(x) ≤ f(x) ≤M <M+ ε. Logo, lim x→b− f(x) = M.� Observac¸a˜o 3.2 Se a ∈ X, enta˜o na˜o e´ preciso supor que f e´ limitada, pois, se f e´ na˜o decrescente, por exemplo, f(a) e´ uma cota inferior para o conjunto {f(x) | x ∈ X e x > a} e e´ uma cota superior para o conjunto {f(x) | x ∈ X e x < a}. Observac¸a˜o 3.3 Uma sequeˆncia mono´tona limitada e´ convergente, mas para uma func¸a˜o mono´tona limitada pode na˜o existir lim x→a f(x) quando a ∈ X ′. Isso acontece, por exemplo, com a func¸a˜o f(x) = x + x |x| , para x ∈ (R − {0}) ∩ (−1, 1), porque o limite de uma sequ¨eˆncia e´ um limite lateral a` esquerda, pois quando n→ +∞, tem-se n < +∞. Instituto de Matema´tica - UFF 175 Ana´lise na Reta 4. Limites no infinito, limites infinitos e expresso˜es indeterminadas Definic¸a˜o 4.1 Sejam X ⊂ R um conjunto ilimitado superiormente e f : X −→ R. Dizemos que L e´ o limite de f(x) quando x→ +∞, e escrevemos lim x→+∞ f(x) = L , quando ∀ ε > 0∃A > 0 ; x ∈ X , x > A =⇒ |f(x) − L| < ε . Definic¸a˜o 4.2 Sejam X ⊂ R um conjunto ilimitado inferiormente e f : X −→ R. Dizemos que L e´ o limite de f(x) quando x→ −∞, e escrevemos lim x→−∞ f(x) = L , quando ∀ ε > 0∃A > 0 ; x ∈ X , x < −A =⇒ |f(x) − L| < ε . Os resultados do teorema 1.1 ao teorema 1.9 sa˜o va´lidos para lim- ites no infinito com as devidas adaptac¸o˜es. Observac¸a˜o 4.1 O limite quando x tende a +∞ e´, de certo modo, um limite lateral a` esquerda, e o limite quando x tende a −∞, um limite lateral a` direita. Assim, o resultado do teorema 3.3 continua va´lido. Mais precisamente: • Seja f : X −→ R uma func¸a˜o mono´tona limitada e X ⊂ R um conjunto ilimitado superiormente. ◦ Se f e´ na˜o-decrescente, enta˜o lim x→+∞ f(x) = L, onde L = sup{f(x) | x ∈ X}. ◦ Se f e´ na˜o-crescente, enta˜o lim x→+∞ f(x) = L, onde L = inf{f(x) | x ∈ X}. • Seja, agora, X ⊂ R ilimitado inferiormente. ◦ Se f e´ na˜o-decrescente, enta˜o lim x→−∞ f(x) = L, onde L = inf{f(x) | x ∈ X}. ◦ Se f e´ na˜o-crescente, enta˜o lim x→−∞ f(x) = L, onde L = sup{f(x) | x ∈ X}. Observac¸a˜o 4.2 O limite de uma sequeˆncia f : N → R e´ um caso particular de limite de uma func¸a˜o no infinito, pois lim x→+∞ f(x) = limn→∞ f(n). J. Delgado - K. Frensel176 Limites no infinito, limites infinitos e expresso˜es indeterminadas Exemplo 4.1 lim x→±∞ 1x = 0, pois dado ε > 0 existe A = 1ε > 0 tal que 0 < 1 x < ε, para todo x > 1 ε = A, e −ε < 1 x < 0, para todo x < −A = −1 ε .� Exemplo 4.2 Na˜o existe lim x→+∞ sen x, pois 2pin → +∞ e sen(2pin) → 0, enquanto ( 2pin+ pi 2 )→ +∞ e sen(2pin+ pi 2 )→ 1. De modo ana´logo,podemos verificar que na˜o existe lim x→−∞ sen x.� Exemplo 4.3 lim x→−∞ ex = 0, mas na˜o existe limx→+∞ ex.� Definic¸a˜o 4.3 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′ e f : X −→ R. Dizemos que f(x) tende para +∞ quando x tende para a e escrevemos lim x→a f(x) = +∞ , quando para todo A > 0 dado, existe δ > 0 tal que x ∈ X, 0 < |x− a| < δ =⇒ f(x) > A . Exemplo 4.4 lim x→a 1(x− a)2 = +∞, pois dado A > 0 existe δ = 1√A > 0 tal que 0 < |x− a| < δ =⇒ 0 < (x− a)2 < 1 A =⇒ 1 (x− a)2 > A . � Definic¸a˜o 4.4 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′ e f : X −→ R. Dizemos que f(x) tende para −∞ quando x tende para a e escrevemos lim x→a f(x) = −∞ , quando para todo A > 0 dado, existe δ > 0 tal que x ∈ X, 0 < |x− a| < δ =⇒ f(x) < −A . Exemplo 4.5 lim x→a −1(x− a)2 = −∞ .� Outros casos possı´veis Definic¸a˜o 4.5 Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′+ e f : X −→ R. Dizemos que: Instituto de Matema´tica - UFF 177 Ana´lise na Reta • lim x→a+ f(x) = +∞⇐⇒ ∀A > 0, ∃δ > 0 ; x ∈ X, a < x < a+ δ =⇒ f(x) > A. • lim x→a+ f(x) = −∞⇐⇒ ∀A > 0, ∃δ > 0 ; x ∈ X, a < x < a+ δ =⇒ f(x) < −A. De modo ana´logo, podemos definir lim x→a− f(x) = +∞ e limx→a− f(x) = −∞, quando a ∈ X ′− . Definic¸a˜o 4.6 Sejam X ⊂ R ilimitado superiormente e f : X −→ R. Dizemos que: • lim x→+∞ f(x) = +∞⇐⇒ ∀A > 0, ∃B > 0 ; x ∈ X, x > B =⇒ f(x) > A. • lim x→+∞ f(x) = −∞⇐⇒ ∀A > 0, ∃B > 0 ; x ∈ X, x > B =⇒ f(x) < −A. Definic¸a˜o 4.7 Sejam X ⊂ R ilimitado inferiormente e f : X −→ R. Dize- mos que: • lim x→−∞ f(x) = +∞⇐⇒ ∀A > 0, ∃B > 0 ; x ∈ X, x < −B =⇒ f(x) > A. • lim x→−∞ f(x) = −∞⇐⇒ ∀A > 0, ∃B > 0 ; x ∈ X, x < −B =⇒ f(x) < −A. Exemplo 4.6 lim x→a+ 1 x− a = +∞ ; lim x→a− 1 x− a = −∞ ; lim x→+∞ ex = +∞ ; lim x→+∞ xk = +∞ , k ∈ N.� •Modificac¸o˜es que devem sofrer os teoremas provados para limites finitos de modo a continuarem va´lidos no caso de limites infinitos. (1) Unicidade. Se lim x→a f(x) = +∞, enta˜o f e´ positiva e ilimitada supe- riormente numa vizinhanc¸a de a. Logo, na˜o se pode ter lim x→a f(x) = L, pois, neste caso, f seria limitada numa vizinhanc¸a de a, nem lim x→a f(x) = −∞, pois f seria negativa numa vizinhanc¸a de a. (2) Sejam Y ⊂ X com a ∈ Y ′ e g = f|Y. Se lim x→a f(x) = +∞ =⇒ limx→ag(x) = +∞. Sejam Y = (a− δ, a+ δ) ∩ X, δ > 0, e g = f|Y. Se lim x→ag(x) = +∞ =⇒ limx→a f(x) = +∞. J. Delgado - K. Frensel178 Limites no infinito, limites infinitos e expresso˜es indeterminadas (3) Se lim x→a f(x) = +∞ enta˜o f e´ ilimitada superiormente em qualquer vizinhanc¸a de a. (4) Se f(x) ≤ g(x)∀ x ∈ X e lim x→a f(x) = +∞, enta˜o limx→ag(x) = +∞. (5) Se lim x→a f(x) = L e limx→ag(x) = +∞, enta˜o existe δ > 0 tal que x ∈ X, 0 < |x− a| < δ =⇒ f(x) < g(x). (6) lim x→a f(x) = +∞ ⇐⇒ limn→+∞ f(xn) = +∞ para toda sequ¨eˆncia (xn) de pontos de X− {a} com lim n→∞ xn = a. (7) ◦ Se lim x→a f(x) = +∞ e g(x) > c ∀ x ∈ (X − {a}) ∩ (a − δ, a + δ), enta˜o lim x→a(f(x) + g(x)) = +∞. ◦ Se lim x→a f(x) = +∞ e g(x) > c > 0∀ x ∈ (X − {a}) ∩ (a − δ, a + δ), enta˜o lim x→a(f(x)g(x)) = +∞. ◦ Se f(x) > 0∀ x ∈ (X − {a}) ∩ (a − δ, a + δ), enta˜o lim x→a f(x) = 0⇐⇒ lim x→a 1f(x) = +∞. ◦ Sendo f(x) > c > 0 e g(x) > 0 para todo x ∈ (X−{a})∩(a−δ, a+δ), temos que se lim x→ag(x) = 0 enta˜o limx→a f(x)g(x) = +∞. ◦ Sendo |f(x)| ≤ c para todo x ∈ (X− {a})∩ (a− δ, a+ δ), temos que se lim x→ag(x) = +∞, enta˜o limx→a f(x)g(x) = 0. (8) Na˜o existe algo semelhante ao crite´rio de Cauchy para limites infinitos. (9) ◦ Se lim x→a f(x) = ±∞ e limy→±∞g(y) = L, enta˜o limx→ag(f(x)) = L. ◦ Se lim x→a f(x) = ±∞ e limy→±∞g(y) = +∞, enta˜o limx→ag(f(x)) = +∞. ◦ Se lim x→a f(x) = ±∞ e limx→±∞g(x) = −∞, enta˜o limx→ag(f(x)) = −∞ . (10) Sejam a ∈ X ′+ e f : X −→ R mono´tona. ◦ lim x→a+ f(x) existe se, e so´ se, existe δ > 0 tal que f e´ limitada no conjunto X ∩ (a, a+ δ). Instituto de Matema´tica - UFF 179 Ana´lise na Reta ◦ Se f e´ ilimitada superiormente em X ∩ (a, a + δ) para todo δ > 0, enta˜o lim x→a+ f(x) = +∞. De fato, dado A > 0, existe x ∈ X ∩ (a, a+ 1) tal que f(x) > A. Se f e´ na˜o-crescente ou decrescente, temos que f(x) ≥ f(x) > A para todo x ∈ X ∩ (a, a+ δ), onde δ = x− a > 0. Observe que, neste caso, f na˜o pode ser na˜o-decrescente ou cres- cente, pois, dado x > a, x ∈ X, existiria x ∈ (a, x) tal que f(x) > f(x). ◦ De modo ana´logo, podemos provar que se f e´ ilimitada inferior- mente em X ∩ (a, a + δ) para todo δ > 0, enta˜o lim x→a+ f(x) = −∞ e f tem que ser crescente ou na˜o-decrescente. Observac¸a˜o 4.3 No entanto, se a ∈ X ′−, temos que: • lim x→a− f(x) existe se, e so´ se, existe δ > 0 tal que f e´ limitada no conjunto X ∩ (a− δ, a). • Se f e´ ilimitada superiormente em X ∩ (a − δ, a) para todo δ > 0, enta˜o lim x→a− f(x) = +∞ e f e´ na˜o-decrescente ou crescente. • Se f e´ ilimitada inferiormente em X ∩ (a − δ, a) para todo δ > 0, enta˜o lim x→a− f(x) = −∞ e f e´ na˜o-crescente ou decrescente. Exercı´cio: Se f : X → R e´ mono´tona, enta˜o ou existe lim x→+∞ f(x) ou limx→+∞ f(x) = ±∞. De modo ana´logo, ou existe lim x→−∞ f(x) ou limx→−∞ f(x) = ±∞. Agora, vamos falar um pouco sobre expresso˜es indeterminadas do tipo 0 0 ,∞−∞, 0×∞, ∞∞ , 00,∞0, 1∞ . • Indeterminac¸a˜o do tipo 0 0 . Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′, f, g : X −→ R tais que lim x→a f(x) = limx→ag(x) = 0. Se a ∈ Y ′, onde Y = {x ∈ X |g(x) 6= 0}, enta˜o o quociente f(x) g(x) esta´ definido em Y e faz sentido indagar se existe lim x→a f(x)g(x) . Mas nada se pode afirmar sobre esse limite, pois, dependendo das func¸o˜es f e g, ele pode assumir qualquer valor ou na˜o existir. Por exemplo, se f(x) = cx e g(x) = x, temos J. Delgado - K. Frensel180 Limites no infinito, limites infinitos e expresso˜es indeterminadas lim x→0 f(x) = 0, limx→0g(x) = 0 e limx→0 f(x) g(x) = c. Por outro lado, se f(x) = x sen 1 x , x 6= 0, e g(x) = x, enta˜o lim x→0 f(x) = lim x→0g(x) = 0, mas na˜o existe limx→0 f(x) g(x) = lim x→0 sen 1 x . • Dizer que∞−∞ e´ indeterminado, significa que, dependendo das esco- lhas para f e g, tais que lim x→a f(x) = limx→ag(x) = +∞, o limite limx→a(f(x)−g(x)) pode ser um valor real c arbitra´rio ou pode na˜o existir. Por exemplo, se f, g : R− {a} −→ R sa˜o dados por f(x) = c+ 1 (x− a)2 e g(x) = 1 (x− a)2 , enta˜o lim x→a f(x) = limx→ag(x) = +∞ e limx→a(f(x) − g(x)) = c. E se f(x) = sen 1 x− a + 1 (x− a)2 e g(x) = 1 (x− a)2 , temos que lim x→a f(x) = limx→ag(x) = +∞, mas na˜o existe lim x→a(f(x) − g(x)). • Para a indeterminac¸a˜o do tipo 00, dado qualquer c > 0, existem func¸o˜es f, g : X −→ R, com a ∈ X ′, lim x→a f(x) = limx→ag(x) = 0 e f(x) > 0 para todo x ∈ X, tais que lim x→a f(x)g(x) = c. Por exemplo, para as func¸o˜es f, g : (0,+∞) −→ R dadas por f(x) = x e g(x) = log c log x , temos que lim x→0 f(x) = limx→0g(x) = 0 e limx→0 f(x)g(x) = limx→0 eg(x) log f(x) = limx→0 elog c = c . Podemos, tambe´m, escolher f e g de modo que o limite de f(x)g(x) na˜o existe. Basta tomar, por exemplo, as func¸o˜es dadas por f(x) = x e g(x) = log ( 1+ ∣∣∣ sen 1 x ∣∣∣) · (log x)−1, x > 0, para termos lim x→0 f(x) = limx→0g(x) = 0, mas o limite lim x→0 f(x)g(x) = limx→0 eg(x) log f(x) = limx→0 ( 1+ ∣∣∣ sen 1 x ∣∣∣) na˜o existe. Instituto de Matema´tica - UFF 181 Ana´lise na Reta 5. Valores de adereˆncia de uma func¸a˜o, limsup e liminf Sejam X ⊂ R, a ∈ X ′ e f : X −→ R. Para cada δ > 0, indicaremos por Vδ o conjunto Vδ = {x ∈ X | 0 < |x− a| < δ} = (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ) . Definic¸a˜o 5.1 Dizemos que f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a quando existe δ > 0 tal que f|Vδ e´ limitada, ou seja, existe K > 0 tal que |f(x)| ≤ K para todo x ∈ Vδ. Definic¸a˜o 5.2 Dizemos que c ∈ R e´ um valor de adereˆncia de f no ponto a quando existe uma sequ¨eˆncia (xn) de pontos de X − {a} tal quelim n→+∞ xn = a e limn→+∞ f(xn) = c. Indicaremos por VA(f;a) o conjunto dos valores de adereˆncia de f no ponto a. Observac¸a˜o 5.1 Pelo teorema 1.7, temos que se L = lim x→a f(x), enta˜o L e´ o u´nico valor de adereˆncia de f no ponto a. Mostraremos, mais adiante, que se f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a e L e´ o u´nico valor de adereˆncia de f no ponto a, enta˜o lim x→a f(x) = L. Mas se f na˜o e´ limitada numa vizinhanc¸a de a, pode ocorrer que na˜o exista lim x→a f(x), mesmo quando f possui um u´nico valor de adereˆncia no ponto a. Exemplo 5.1 Seja f : R −→ R a func¸a˜o f(x) = 1 , se x ∈ Q1 x , se x ∈ R−Q . Enta˜o, 1 e´ o u´nico valor de adereˆncia de f no ponto 0, mas na˜o existe lim x→0 f(x), pois f na˜o e´ limitada numa vizinhanc¸a de 0.� Teorema 5.1 Um nu´mero real c e´ valor de adereˆncia de f no ponto a se, e so´ se, c ∈ f(Vδ) para todo δ > 0. J. Delgado - K. Frensel182 Valores de adereˆncia de uma func¸a˜o, limsup e liminf Prova. (=⇒) Seja c um valor de adereˆncia de f no ponto a e seja (xn) uma sequ¨eˆncia de pontos de X− {a} tal que xn −→ a e f(xn) −→ c. Como xn −→ a, dado δ > 0, existe n0 ∈ N tal que xn ∈ Vδ para todo n > n0. Logo, f(xn) ∈ f(Vδ) para todo n > n0, ou seja, (f(xn))n>n0 e´ uma sequ¨eˆncia de pontos de Vδ que converge para c. Enta˜o, c ∈ f(Vδ) . (⇐=) Suponhamos que c ∈ f(Vδ) para todo δ > 0. Enta˜o, c ∈ f(V 1 n ) para todo n ∈ N. Assim, para todo n ∈ N, existe xn ∈ V 1 n tal que |f(xn) − c| < 1 n . Como xn ∈ X, 0 < |xn − a| < 1 n e |f(xn) − c| < 1 n para todo n ∈ N, temos que (xn) e´ uma sequ¨eˆncia de pontos de X − {a} tal que xn −→ a e f(xn) −→ c. Logo, c e´ um valor de adereˆncia de f no ponto a.� Corola´rio 5.1 VA(f;a) = ⋂ δ>0 f(Vδ) . Corola´rio 5.2 VA(f;a) = ⋂ n∈N f(V 1 n ) . Prova. Se c ∈ ⋂ δ>0 f(Vδ), enta˜o c ∈ f(Vδ) para todo δ > 0. Em particular, c ∈ f(V 1 n ) para todo n ∈ N. Logo, c ∈ ⋂ n∈N f(V 1 n ) . Suponhamos, agora, que c ∈ ⋂ n∈N f(V 1 n ). Dado δ > 0, existe n ∈ N, tal que 1 n < δ. Logo, V 1 n ⊂ Vδ e, portanto, f(V 1 n ) ⊂ f(Vδ). Assim, f(V 1 n ) ⊂ f(Vδ) . Como c ∈ f(V 1 n ) para todo n ∈ N, temos que c ∈ f(Vδ) para todo δ > 0. Portanto, Instituto de Matema´tica - UFF 183 Ana´lise na Reta c ∈ ⋂ δ>0 f(Vδ) = VA(f;a) , ou seja, c e´ um valor de adereˆncia de f no ponto a.� Corola´rio 5.3 O conjunto dos valores de adereˆncia de f num ponto a ∈ X ′ e´ fechado. Se f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a, enta˜o VA(f;a) e´ compacto e na˜o-vazio. Prova. Como VA(f;a) e´ uma intersec¸a˜o de conjuntos fechados, temos que VA(f;a) e´ fechado. Suponhamos que f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a. Enta˜o existe n0 ∈ N tal que f(V 1 n0 ) e´ limitado. Logo, f(V 1 n0 ) e´ fechado e limitado e, portanto, compacto. Seja Kn = f(V 1 n ), n ∈ N. Como Kn ⊂ Kn0 para todo n ≥ n0, temos que (Kn)n≥n0 e´ uma sequ¨eˆncia decrescente de conjuntos compactos na˜o- vazios tal que VA(f;a) = ⋂ n≥n0 Kn. Logo, pelo teorema 4.5 da parte 4, temos que VA(f;a) e´ compacto e na˜o-vazio.� Observac¸a˜o 5.2 Se f e´ ilimitada em qualquer vizinhanc¸a de a, isto e´, f(Vδ) e´ ilimitado para todo δ > 0, enta˜o VA(f;a) pode na˜o ser compacto. Exemplo 5.2 Se f : R−{0} −→ R e´ a func¸a˜o definida por f(x) = 1 x sen 1 x , enta˜o f e´ ilimitada em toda vizinhanc¸a de 0 e VA(f; 0) = R, que na˜o e´ compacto, pois e´ ilimitado. De fato, 0 ∈ VA(f; 0), pois xn = 1 2npi −→ 0 e f(xn) = 1 2pin sen(2pin) = 0 −→ 0. Seja, agora, c > 0. Afirmac¸a˜o: Dado n ∈ N, existe xn > 0 tal que xn < 1 n e sen 1 xn = xn c . Como 1 npi c− sen(npi) = 1 npi c− 0 = c npi > 0 e J. Delgado - K. Frensel184 Valores de adereˆncia de uma func¸a˜o, limsup e liminf 1 2pin+ (4k− 3)pi2 c− sen(2pin+ (4k− 3)pi 2 ) = c 2pin+ (4k− 3)pi2 − 1 < 0 para algum k ∈ N, temos, pelo teorema do valor intermedia´rio para func¸o˜es contı´nuas, que provaremos na pro´xima parte, que existe xn ∈ ( 1 2pin+ (4k− 3)pi2 , 1 npi ) tal que xnc− sen 1 xn = 0. Logo, 0 < xn < 1 n e f(xn) = c para todo n ∈ N. Assim, xn −→ 0 e f(xn) −→ c, ou seja, c ∈ VA(f;a). Se d = −c < 0, basta tomar a sequ¨eˆncia yn = −xn, onde (xn) e´ a sequ¨eˆncia obtida acima, que teremos yn −→ 0, yn < 0, e f(yn) = −f(xn) = −c = d −→ d . Logo, d ∈ VA(f;a). Enta˜o, VA(f;a) = R. � Observac¸a˜o 5.3 Tambe´m pode ocorrer que VA(f;a) seja vazio quando f e´ ilimitada em toda vizinhanc¸a de a. Por exemplo, se f : R − {0} −→ R e´ a func¸a˜o definida por f(x) = 1 x , enta˜o VA(f;a) = ∅. Observac¸a˜o 5.4 Como VA(f;a) e´ compacto e na˜o-vazio quando f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a, VA(f;a) possui um maior elemento e um menor elemento. Definic¸a˜o 5.3 Chamamos limite superior de f no ponto a ao maior valor de adereˆncia L de f no ponto a, e escrevemos: lim sup x−→a f(x) = L . Chamamos limite inferior de f no ponto a ao menor valor de adereˆncia ` de f no ponto a, e escrevemos: lim inf x−→a f(x) = ` . Exemplo 5.3 Seja f : R − {0} −→ R a func¸a˜o definida por f(x) = sen 1 x . Enta˜o, pelo visto no exemplo 2.5, VA(f; 0) = [−1, 1]. Logo, lim sup x−→0 f(x) = +1 e lim infx−→0 f(x) = −1 .� Instituto de Matema´tica - UFF 185 Ana´lise na Reta Observac¸a˜o 5.5 `As vezes escrevemos lim sup x−→a f(x) = +∞ para indicar que f e´ ilimitada superiormente em toda vizinhanc¸a de a, e escrevemos lim inf x−→a f(x) = −∞ para indicar que f e´ ilimitada inferiormente em toda vizinhanc¸a de a. Por exemplo, para f(x) = 1 x sen 1 x , x 6= 0, do exemplo 5.2, terı´amos lim sup x−→0 f(x) = +∞ e lim infx−→0 f(x) = −∞. Tambe´m, quando lim x→a f(x) = ±∞, terı´amos lim sup x−→a f(x) = lim infx−→a f(x) = +∞ . Consideraremos, agora, o valor de adereˆncia de f quando x → +∞ ou x→ −∞. • Dizemos que c ∈ VA(f; +∞), ou seja, que c e´ um valor de adereˆncia de f em +∞, quando existe uma sequ¨eˆncia (xn) de pontos de X tal que xn → +∞ e f(xn)→ c. • E dizemos que c ∈ VA(f; −∞), ou seja, que c e´ um valor de adereˆncia de f em −∞, quando existe uma sequ¨eˆncia (xn) de pontos de X tal que xn → −∞ e f(xn)→ c. Seja Vδ = X ∩ (δ,+∞), δ > 0, e Wδ = X ∩ (−∞, δ), δ < 0. Enta˜o, VA(f; +∞) = ⋂ δ>0 f(Vδ) = ⋂ n∈N f(V 1 n ) e VA(f; −∞) = ⋂ δ<0 f(Wδ) = ⋂ n∈N f(W− 1 n ) . A demonstrac¸a˜o destes fatos faz-se de modo ana´logo ao caso finito. • Dizemos que f e´ limitada numa vizinhanza de +∞ quando existe δ > 0 e K > 0 tais que x ∈ X , x > δ =⇒ |f(x) ≤ K, ou seja, |f(x)| ≤ K para todo x ∈ Vδ = X ∩ (δ,+∞). • E dizemos que f e´ limitada numa vizinhanza de −∞ quando existe δ < 0 e K > 0 tais que x ∈ X , x < δ =⇒ |f(x) ≤ K, ou seja, |f(x)| ≤ K para todo x ∈Wδ = X ∩ (−∞, δ). Como no caso finito, podemos provar que VA(f; +∞) e VA(f; −∞) sa˜o compactos na˜o-vazios quando f e´ limitada numa vizinhanc¸a de +∞ J. Delgado - K. Frensel186 Valores de adereˆncia de uma func¸a˜o, limsup e liminf e −∞, respectivamente. Enta˜o, nestes casos, temos, tambe´m, o maior e o menor valor de adereˆncia, que sera˜o denotados por lim sup x−→±∞ f(x) e lim inf x−→±∞ f(x), respectivamente. Os fatos que sera˜o provados a seguir para VA(f;a) se estendem aos valores de adereˆncia no infinito com as devidas adaptac¸o˜es. • Seja f limitada numa vizinhanc¸a Vδ0 de a, ou seja, f(Vδ0) e´ um conjunto limitado. Enta˜o f(Vδ) e´ limitado para todo δ ∈ (0, δ0]. Sejam as func¸o˜es L : (0, δ0] −→ R δ 7−→ Lδ = sup x∈Vδ f(x) e ` : (0, δ0] −→ R δ 7−→ `δ = inf x∈Vδ f(x) Como Vδ ⊂ Vδ0 para δ ∈ (0, δ0], temos que `δ0 ≤ `δ ≤ Lδ ≤ Lδ0 para todo δ ∈ (0, δ0]. Se 0 < δ ′ < δ ′′ ≤ δ0, enta˜o Vδ ′ ⊂ Vδ ′′ e, portanto, `δ ′′ ≤ `δ ′ e Lδ ′ ≤ Lδ ′′, ou seja, δ 7−→ `δ e´ uma func¸a˜o mono´tona na˜o-crescente e δ 7−→ Lδ e´ uma func¸a˜o mono´tona na˜o-decrescente.Logo, pelo teorema 3.3, existem os limites lim δ→0 `δ e limδ→0Lδ, e lim δ→0 `δ = sup{`δ | δ ∈ (0, δ0]} e limδ→0Lδ = inf{Lδ | δ ∈ (0, δ0]} . Teorema 5.2 Se f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a, enta˜o lim sup x−→a f(x) = limδ→0Lδ e lim infx−→a f(x) = limδ→0 `δ . Prova. Sejam L = lim sup x−→a f(x) e L0 = limδ→0Lδ. Como L e´ valor de adereˆncia de f no ponto a, enta˜o L ∈ f(Vδ) para todo δ > 0. Logo, L ≤ Lδ para todo δ ∈ (0, δ0], ou seja, L e´ uma cota inferior do conjunto {Lδ | δ ∈ (0, δ0]}. Assim, L ≤ L0 = inf{Lδ | δ ∈ (0, δ0]}. Vamos provar, agora, que L0 e´ valor de adereˆncia de f no ponto a. Como L 1 n = sup{f(x) | x ∈ V 1 n }, existe xn ∈ V 1 n = X ∩ ( a− 1 n , a+ 1 n ) tal que L 1 n − 1 n < f(xn) ≤ L 1 n . Instituto de Matema´tica - UFF 187 Ana´lise na Reta Enta˜o xn → a, xn ∈ X − {a}, e f(xn) → L0, pois lim n→∞L 1n = limδ→0Lδ = L0. Logo, L0 e´ valor de adereˆncia de f no ponto a e, portanto, L0 ≤ L. Provamos, assim, que L = L0. A igualdade lim inf x−→a f(x) = limδ→0 `δ se demonstra de maneira ana´loga.� Teorema 5.3 Se f e´ limitada numa vizinhanc¸a de a, enta˜o, para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 talque x ∈ X, 0 < |x − a| < δ =⇒ ` − ε < f(x) < L+ ε, onde ` = lim inf x−→a f(x) e L = lim supx−→a f(x). Prova. Pelo teorema anterior, ` = lim δ→0 `δ e L = limδ→0Lδ. Enta˜o, dado ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que `− ε < `δ ≤ ` e L ≤ Lδ < L+ ε. Assim, tomando δ = min{δ1, δ2}, temos que `− ε ≤ `δ ≤ f(x) ≤ Lδ < L+ ε , para todo x ∈ (X− {a}) ∩ (a− δ, a+ δ).� Observac¸a˜o 5.6 Como no caso de sequ¨eˆncias, L e´ o menor nu´mero que goza da propriedade acima, e ` e´ o maior nu´mero com a propriedade acima. Corola´rio 5.4 Seja f limitada numa vizinhanc¸a de a. Enta˜o existe lim x→a f(x) se, e so´ se, f possui um u´nico valor de adereˆncia no ponto a. Prova. (=⇒) Se lim x→a f(x) = L enta˜o L e´ o u´nico valor de adereˆncia de f no ponto a, pois se (xn) e´ uma sequ¨eˆncia de pontos de X − {a} que converge para a, temos, pelo teorema 1.7, que f(xn) −→ L. (⇐=) Se f possui um u´nico valor de adereˆncia no ponto a, enta˜o L = `. Assim, pelo teorema anterior, para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que L − ε < f(x) < L + ε para todo x ∈ (X − {a}) ∩ (a − δ, a + δ). Logo, L = lim x→a f(x).� J. Delgado - K. Frensel188
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