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1ÀG Ca pítu lo 6 lntrodução O sistema endócrino é composto de diversas glândulas que produzem hormônios com diferentes funções. O funcionamento normal das glândulas endócrinas é essencial para manter a atividade de tecidos e órgãos dentro do padrão de normalidade' Por outro lado, desarranjos do sistema hormonal podem acarretar diversas manifestações clínicas, algumas delas facilmente identificadas pela(o) cirurgiã(o)-dentista (CD). Alguns destes desarran- jos provocam manifestações bucais que devem ser prontamente reconhecidas pelo CD como parte do conjunto de sintomas de uma doença. Assim como algumas destas enfermidades sistêmicas podem influenciar a saúde bucal, o tratamento dentário pode influenciar algumas condições sistêmicas. Portanto, o CD deve tomar cuidados especiais no tratamento do paciente com alterações endócri- nas, quer seja no diagnóstico, planejamento ou tra- tamento dentário propriamente dito' A anamnese detalhada e o exame do paciente são de grande importância para a identificação de anormalidades endócrinas e, portanto, de riscos de determinados procedimentos durante o tratamento clentário. Estes riscos dependem do procedimento I ,1 Regulação Endócrlna do Apa rel ho EsEornatog n átl co Janete A. Anselmo Franci Cleyde Van essa Veg a H elen a a ser executado pelo CD e da etiologia e gravidade da enfermidade sistêmica do paciente. Procedi mentos odontológicos que envolvem extrações dentárias, cirurgias periodontais e endodônticas, ou seja, que envolvem situações de estresse, san- gramento e infecções, são, sem dúvida, de maior risco para alguns pacientes com alterações endó- crinas, podendo, em alguns casos, levar o paciente a situações de risco de morte. Conhecer as ações fisiológicas dos diversos hormônios é de grande importância porque faci- lita a compreensão dos sinais e sintomas da falta ou do excesso de um determinado hormônio. Por exemplo, se é de conhecimento do CD que os gli- cocorticoides agem aumentando a glicemia, cau- sando proteólise e inibindo o sistema imune, ela (ou ele) deve prever que um paciente com hiper- função adrenal ou sob corticopterapia apresente hiperglicemia (e possivelmente diabetes adrenal), maior suscetibilidade a infecçÕes e maior dificul- dade nos processos de cicatrização. lsto, portanto' ajuda o CD a prever as possíveis complicações e melhor planejar o tratamento' Com o desenvolvimento da n-redicina e o acesso da população à assistência médica, a maioria dos pacientes com alterações endócrinas encontra-se {nü .-rri1r.r,ri sob trâtamento meclicamentoso que visa corrigir quadros de hipo ou hipersecreção hormonal. Por esta razão, o conhecimento da natureza dos medi- câmentos (que, no geral, são análogos a hormônios produzidos pelo organismo) e dos seus efeitos no paciente é também de grande importância, pois muitos medicamentos utilizados no tratamento das alterações endócrinas podem provocar efeitos z-.-.: colaterais na cavidade oral e interagir desfavoravel-I mente com outros medicamentos prescritos pelo ' CD. Por outro lado, a prescrição de alguns medica- mentos pelo CD também pode afetar a terapia co- rnumente utlizada pelo paciente. Assim, o conhecimento das ações fisiológicas dos diversos hormônios, bem como das principais alterações que ocorrem nas alterações endócrinas, é essencial para uma prática odontológicâ segura nestes pacientes. Uma boa ânamnese e o diagnós- tico adequado são essenciais para que o tratamento seja feito corretamente. É muito importante que o CD esteja ciente das complicações que estes pa- cientes possam apresentar durante o procedimen- to odontológico e que saiba quando é necessário postergar qualquer procedimento até qúe a altera- ção endócrina esteja totalmente controlada. Neste capítulo abordaremos as ações fisiológi- cas e os mecanismos de regulação dos hormônios produzidos nas glândulas adrenais, dos hormônios sexuais, do hormônio de crescimento, dos hormô, nios tireoidianos e paratireoidianos, bem como da insulina. Baseando-se nas ações fisiológicas de cada um dos hormônios citados, serão, em segui- da, descritas as possíveis alterações sistêmicas e bucais encontradas em situações de alterações na secreção destes hormônios. Hormônios da Glândula Adrenal Glândula adrenal e seus horrnônios As glândulas adrenais (ou suprarrenais) locali- zâm-se acima cle cada um dos rins e são compostas de duas partes principais (Fig. 6.1). A região cen- tral, denominada "medula adrenal'l contém células cromafins que secretam adrenalina e, em menor 'r 1ü quantidade, noradrenalina. A função destas células não é controlada pela hipófise, mas sim por termi- nações nervosâs simpáticas pré-ganglionares. A porção externa das glândulas adrenais compõe a parte endócrina da glândula e é subdividida em três regiõesi a zona glomerulosa, muito delgada e constituída de pequenas células alongadas que produzem um mineralocorticoide importante para o balanço de sódio e potássio, a aldosterona; a zona fasciculada, a mais larga, constituída por células colunares que formam longos cordões que produ- zem os glicocorticoides cortisol e corticosterona, os quais agem no metabolismo dos carboidratos, proteínas e gordura; e a zona reticular, a mais in- terna e delgada, que possui uma rede de células que se interconectam e produzem esteroides sexuais. A irrigação da glândula adrenal se dá da parte mais externa da adrenal em direção à medula (Fig. 6.1). O sangue arterial entra nos capilares do cór- tex na região supracapsular e drena para dentro das vênulas medulares. Este sentido de fluxo sanguíneo faz com que a medula adrenal seja exposta a altas concentrações de glicocorticoides, que são impor- tantes para a síntese das catecolaminas adrenais. As ações e o controle da secreção dos hormônios adrenais Adrenalina e noradrenalina As células da medula da adrenal são estrutu- ral e funcionalmente equivalentes aos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático, que secretam adrenalina e noradrenalina nâs suas terminações nervosas em diversos órgãos. A dife- rença básica é que, uma vez que as catecolaminas da medula adrenal são liberadas na circulação san- guínea, suas ações passam a ser muito mais difusas do que aquelas liberadas em terminações nervosas de regiões específicas do corpo. Esta é a razão mais importante que explica por que, quando o sistema nervoso simpático é ativado, como em situações de estresse, são observadas ações difusas deste sistema por todo o organismo como aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, dilatação brônquica e pupilar, inibição da motilidade intesti- nal, aumento do metabolismo basal, da glicemia e da mobilização de ácidos graxos, entre outras. To- Capitulo 6 Regulaçáo Endóciina cio Apar, ho Ertomatoqnattco Fig. 6.1 - Anatomia da glândula adrenal. As adrenais situam-se imediatamente acima dos rins e são compostas pelo córtex e medula. O córtex adrenal é composto de três camadas distintas, que envolvem a medula: 1. A zona glomeru- losa, estreita e a mais externa, que produz mineralocorticoides; 2. Azona fasciculada, a mais espessa e intermediárìa do córtex, que produz glicocorticoides; e 3. A zona reticular, a mais interna do córtex, que produz androgênios e progesterona. A medula da adrenal localiza-se na região central da glândula adrenal e produz adrenalina e noradre- nalina. dos estes efeitos são importantes para adequar as funções do organismo em situações de estresse' A secreção de catecolaminas pela medula adre- nal é estimulada por terminações colinérgicas dos neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso simpático, pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH ou corticotrofina), liberado pela adeno-hi- pófise e pelo cortisol. O ACTH, juntamente com o sistema nervoso simpático, ativa as enzinas tirosi- na hidroxilase e dopamina B-hidroxilase, que par- ticipam no processode síntese cle adrenalina e no- radrenalina. O cortisol ativa a enzima feniletanola- mina-N-metiltransferase (PNMT), que converte a noradrenalina em adrenalina. Esta ação do cortisol é uma das razões que justificam a hipertensão que se apresenta no paciente com hipercortisolismo. 1'!1 Adrenal Cápsula Zona glomerulosa Hormônios Mineralocorticoide (aldosterona) Glicocorticoides (cortisol e corticosterona) Zona fasciculada Andrógenos (DHÊA e androstenediona) e Progesterona Zona reticular Medula Veia medular Adrenalina e Noradrenalina i 1rr1,,11, t-;1;'j Aldosterona A aldosterona tem importância fundamental no equilíbrio hidroeÌetrolítico corporal, especifi- camente no balanço dos íons sódio e potássio. É o principal hormônio responsável pela reabsorção renal de sódio e a secreção de potássio. Além de atuar no rim, a aldosterona exerce efeitos seme- lhantes nas glândulas sudoríparas e salivares. O produto de secreção dessas glândulas possui gran- des quantidades de cloreto de sódio; no entanto, grancle parte desses íons é reabsorvida nos ductos excretores, enquanto íons potássio são excretados. A alclosterona aumenta essa reabsorção de sódio constituindo um mecanismo importante de manu- tenção de sal no organismo. O secretagogo mais importante da aldosterona é a angiotensina. Aumento da concentração de po- tássio extracelular, bem como diminuição da con- centração de sódio também estimulam a secreção de aldosterona. Em estados fisiológicos, o ACTH tem pouca importância na secreção de aldosterona. No entanto, em situações de grande liberação âe ACTH, como por exemplo durante o estresse, este hormônio estimula a secreção de aldosterona. Por seu papel na retenção de sódio e, portanto, de água, distúrbios na secreção deste hormônio causam al- terações importantes na pressão arterial. O exces- so de aldosterona aumenta o volume extracelular e a pressão arterial, queda nos níveis de potássio plasmático (hipocalemia) e consequente fraqueza muscular. Por outro lado, a deficiência na secreção de aldosterona leva a quadros de hipotensão e hi- percalemia, que é cardiotóxico, e causa arritmias e insuficiência cardíaca. Glicocorticoides O cortisol é o principal glicocorticoide produ- zido pela adrenal e responsável por 95o/o de toda a atividade glicocorticoide. A adrenal produz tam- bém corticosterona, bem menos potente que o cortisol, e é responsável por apenas 4o/o da ativida- de glicocorticoide. Os glicocorticoides são críticos à sobrevivência devido aos seus efeitos sobre o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios (Quadro 6.1). No metabolismo de carboidratos, os glicocor- ticoides aumentam a glicemia porque elevam a gli- coneogênese, isto é, a síntese de glicose pelo fígado a partir de aminoácidos e outras substâncias. Atém disso, diminuem a utilização de glicose pela maio- ria das células do organismo. Assim, o excesso ou a diminuição na secreção de cortisol resultam, res- pectivamente, em quadros de hiper e hipoglicemia. No hipercortisolismo, a ocorrência de aumentos muito acentuados da glicemia caracteriza o quadro denominado "diabetes adrenal'1 Quadro 6.1 - Ações do cortisol sobre o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras e consequências fisioló- gicas de seu excesso sobre o organismo. Ações do cortisol sobre o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras Consequências fisiológicas do excesso de cortisol Carboidratos t Gliconeogênese t Utilização de glicose pelas células Diabetes adrenal Proteínas ü Síntese, t catabolismo J Proteínas de todas as células I Proteínas hepáticas e plasmáticas t vtobilizaçao de aminoácidos dos tecidos J Transporte de aminoácidos para as células extra- -hepáticas ï Transporte de aminoácidos para as células hepáticas Atrofia muscular Fatigabilidade e f raqueza Estrias violáceas Dificuldade de cicatrização Gorduras I Vobilizaçao de ácidos graxos do tecido adiposo Massa muscular sem gordura Depósito de gordura no abdo- me, face e ombros capítulo 6 Regulação Endocrina clo Ap'rrr:ll ' r E:iornatorjtrci lrr''l ,g ìit i$ :l r{ 'i,i Ì ìi t ; :.j ..1 t; rl ',-j lIì *Ì 1 I No metabolismo de proteínas, os glicocorti- coides reduzetn as reservas de proteínas em pra- ticamente todas as células do corpo (exceto as do fígado). Estes hormônios inibem a síntese e au- mentam a degladação de proteínas aumentando a oferta de aminoácidos para o fígado, favorecendo a gliconeogênese e, portanto, o aumento da glice- mia e a síntese de proteínas plasmáticas. Portanto, em casos de hipercortisolismo, haverá degradação proteica com atrofia muscular e dificuldade de ci- catrização de lesões. No metabolismo de lipídios os glicocorticoides têm ação lipolítica' Favorecem a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, de modo a forne- cer ácidos graxos e glicerol para a gliconeogênese, e causam aumento da glicemia. Apesar da ação li- poiítica do cortisol, indivíduos com hipercortiso- lismo desenvolvem um tipo peculiar de obesidade com depósito de gordura nas regiões interescapu- lar (originando a "corcova de búfalo"), mesentérica (provocando a "obesidade axial") e da face (resul- tando no aspecto de "cara de lua cheia")' Os meca- nismos que determinam este deslocamento centrí- peto de gordura das extremidades para o tronco e face não estão ainda esclarecidos. Assim, as ações do cortisol no metabolismo de carboidrato, proteínas e gordura são extremamen- te importantes em estados de jejum e de outros ti- pos de estresses para manter no indivíduo níveis de glicose adequados para a sobrevivência' Além de seus efeitos no metabolistno, os glicocorticoides em concentrações farmacológicas possuem impor- tantes ações que justificam seu uso como anti-in- flamatório e imunossuPressor' Efeito anti-inflamatório do cortisol - o cor- tisol inibe as reações inflamatórias evocadas pelo traurnatismo dos tecidos atuando basicamente na microvasculatura e na produção e ação das citoci- nas inflamatórias. O cortisol dificulta a ruptura das membranas dos lisossomos; assim, sob ação desse hormônio, ocorre inibição da liberação, pelos lisos- somos das células lesadas, de enzimas proteolíticas que participam do processo inflamatório' Há dimi- nuição da liberação local de histamina, bradicinina e da hialuronidase, que induzem edema no teci- do. O cortisol inibe a atividade da fosfolipase 42, inibindo assim a síntese do ácido araquidônico, o qual dá origem às prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos, mediadores da dilatação capilar e do aumento da permeabilidade microvascular. Assim, o edema, componente do processo inflamatório, é inibido pelo cortisol. Além disso o cortisol inibe a produção de interleucinas-1 e 6, a ploriferação de mastócitos inflamatórios locais, o recrutamento de leucócitos circulantes para o local do traumatistno ou infecção e a aderência dos leucócitos ao endo- télio capilar. Dessa forma, o cortisol inibe a reaçâo inflamatória e tem ação antipirética, uma vez que a interleucina-1 é um pirógeno endógeno, mediador da febre. Por essa razão, os corticoides sintéticos são largamente utilizados em processos inflama- tórios crônicos (tais como artrite reumatoide e asma), agudos (como pericementite), bem como na prevenção de edemas (como, por exemplo, em cirurgias ortognáticas). Como consequência destes tratamentos, pode ser gerado um quadro de hiper- cortisolismo idiopático. Efeito imunossupÍessor do cortisol - este hormônio também suprime o sistema imune por diminuir a produção de anticorpos, a ativiclade fa- gocitária dos neutrófilos, os eosinófilos circulantes e as de células T. Por estas e outras ações imunossu- pressivas, oç corticoides são utilizados, por exem- plo, para evitar rejeição de órgãos transplantados e nas'doenças autoimunes' Além dos efeitos acima descritos dos glicocor- ticoides,várias outras importantes ações serão ci- tadas adiante no paciente com hipercortisolismo' A síntese e a secreção de glicocorticoides pela zona fasciculada da adrenal estão sob controle es- timulador exclusivo do ACTH,liberado pelos cor- ticotrofos adeno-hipofisários. O ACTH' por sua vez, é liberado em resposta ao hormônio libera- dor de corticotrofina (CRH), um neuro-hormônio produzido no núcleo paraventricular (PVN) do hipotálamo e rapidamente liberado em resposta a diferentes tipos de estresses (Fíg' 6'2)' O CRH também aumenta a síntese da molécula precursora do ACTH, favorecendo assim a síntese desse hor- mônio hipofisário. A secreção de ACTH é também profundamente influenciada por estresses' Qual- quer tipo de estresse Provoca aumento imediato e acentuado da secreção de CRH e, portanto, de ACTH, o que é seguido, em minutos, pelo aumen- to da secreção de cortisol pela adrenal' A ativação rápida do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal ocorre ljj i ri r'ìi,l i ìl;ìl \Hipo."rpo PVN Eminência média Corticotrofos ACTH ADRENAL Fig. 6.2 - Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Os neurônios do núcleo paraventricular do hipotálamo secretam CRH no plexo primário do sistema porta-hipofisário. O CRH, via vasos portalongos alcançam os corticotrofos onde agem em seus receptores para provocar a liberação de ACTH. O cortisol exerce feedback negativo de alça longa nos corticotro- fos adeno-hipofisários e nos PVN do hipotálamo, inibindo, respectivamente, a secreção de ACTH e CRH. Além disso, o cortisol estimula neurônios hipocampais que, por sua vez, inibem a secreção de CRH pelo pVN. O ACTH exerce feedback negativo de alça curta sobre o hipotálamo, inibindo a liberação de cRH. em resposta a uma grande variedade de estresses físicos e psicológicos, tais como hipoglicemia, ci- rurgía, dor, infecção, febre, frio, calor, ansiedade, medo, exercício, entre outros. As concentrações plasmáticas de cortisol são controladas por meio de feedback negativo de alça longa e curta. No feedbaclc negativo de alça longa, os glicocorticoicles agem: 1. Na hipófise, inibindo a síntese e a secreção do ACTH e do receptor para o CRH; 2. No hipotálamo, diminuindo a síntese e a secreção de CRH pelos neurônios do PVN; e 3. No hipocampo, estimulando os neurônios hipocam- pais que, por sua vez, inibem os neurônios CRH do PVN. No feedback de alça curta, o ACTH inibe sua própria secreção por inibir a liberação de CRH do PVN. ïJ Assim, a secreção endógena sustentada ou a ad- ministração crônica de glicocorticoides sintéticos (como anti-inflamatório, como imunodepressor após transplantes etc.) resulta na hipofunção dos corticotrofos com queda da secreção de ACTH, o que resulta na atrofia e hipofunção da córtex su- prarrenal com resultante queda na secreção de cortisol endógeno. Assim, se a administração de glicocorticoides nesses pacientes for suspensa abruptamente, ele apresentará baixas concentra- ções de ACTH, devido à hipofunção dos cortico- trofos induzida pelo feedbacl< negativo do cortisol na hipófise e nos neurônios CRH, e baixas concen- trações de cortisol, devido à hipofunção da adrenal resultante das baixa secreção de ACTH. Por essa razão, é de extrema importância compreender-se Capítr-rìo 6 Regulação do F:1 utn.' Lrtr_Jrt'ttt,-,, que nesses pacientes a administração deste tipo de ffÌedicamento não pode ser suspensa de vez, uma vez que o indivíduo não tem a capacidade de secre- tar quantidades de cortisol compatível com a vida e não estará apto a suportar nenhum tipo de estresse ao qual responderá com hipoglicemia, hipoten- são, desmaio e choque, podendo chegar à morte. Então, a suspensão deve ser feita paulatinamente, diminuindo-se lentamente as doses administra- das e, portanto, as concentraçÕes plasmáticas do glicocorticoide, de forma que o feedback negatívo exercido por este hormônio na hipófise, hipotála- mo e hipocampo diminua também paulatinamente e as células destas regiões readquiram a capacidade secretória. A lenta retirada do medicamento (des- mame) pode durar longos períodos, chegando até a um ano, Hormônios sexuais A zona reticular da adrenal secreta androgê- nios em pequena quantidade e progesterona. Os androgênios produzidos na adrenal são a desidroe- piandrosterona e androstenediona, menos poten- tes que a testosterona ou a 5cx-di-hidrotestosterona (DHT). No entanto, perifericamente, a androstene- diona pode ser convertida em testosterona, contri- buindo assim com as concentrações dos androgê- nios plasmáticos. Os androgênios adrenais são de pouca importância para os homens, uma vez que os testículos produzem grande quantidade de tes- tosterona. No entanto, nas mulheres eles represen- tam de 50 a 600/o das necessidades de hormônios androgênicos e são responsáveis pela presença de pelos axilares e pubianos nas mulheres, bem como pela libido. Além dos androgênios, a zona reticu- lar da adrenal secreta também progesterona e uma importância fundamental deste hormônio adrenal nos mecanismos que deflagram os picos pré-ovu- latórios de gonadotrofinas tem sido sugerida. A se- creção de hormônios sexuais pela zona reticular da adrenal está também sob controle do ACTH e não das gonadotrofinas; consequentemente, a secreção destes hormônios é suprimida por glicocorticoides exógenos. As ações dos hormônios adrenais nos tecidos corporais, incluindo os bucais, podem ser bem ilus- tradas quando analisamos os sinais e sintomas de pa- cientes com hiper ou hipofunção da adrenal. Abor- daremos adiante com mais ênfase a situação mais comumente encontrada, que é a de hiper ou hipocor- tisolismo, sem, no entanto, deixar de nos referir à al- dosterona, aos hormônios sexuais e às catecolaminas da medular da adrenal quando necessário. Hiperadrenalismo (síndrome de Cwshing) O excesso crônico de glicocorticoides, indepen- dentemente da sua etiologia, leva ao conjunto de sintomas e características físicas conhecido como síndrome de Cushing, por ter sido Harvey Cushing o primeiro, em1932, a demonstrar este quadro que era decorrente de pequenos adenotnas hipofisá- rios. Estes tumores secretavam ACTH, o que in- duzia hiperplasia das adrenais e hipersecreção dos seus hormônios. A causa mais comum da síndrome de Cushing espontânea (endógena), que acomete cerca de B07o dos pacientes com esta síndrome, é a hipersecreção de ACTH hipofisário, tnas deve ser distinguida das outras formas de excesso de corti- sol plasmático, como a síndrome de ACTH ectópi- co e tumores suprarrenais. Embora originalmente o termo síndrome de Cushing fosse utilizado apenas para pacientes com adenomas hipofisários hiper- secretores de ACTH, tem sido utilizado de forma mais ampla para estados de hipercortisolismo em geral. Atualmente, a causa mais comum da síndro- me de Cushing é a administração iatrogênica de glicocorticoides por diversas razões, tais como para imunossupressão após transplantes, para amenizar as reações alérgicos, como anti-inflamatório etc. Na doença de Cushing espontânea ocorre hi- perplasia do córtex suprarrenal que secreta cor- tisol (zona fasciculada) ou hiperpÌasia da toda a parte cortical da adrenal (glomerulosa, fasciculada e reticulada). Como mencionado, esta hiperplasia pode decorrer: 1. Da secreção aumentada pela ade- no-hipófise de ACTH; 2. Pela secreção de ACTH por tumores ectópicos; ou 3. De tumores primá- rios da própria adrenal. Enquanto nos dois primei- ros casos as concentrações de glicocorticoides e de ACTH plasmáticos são altas, no caso de tumores primários, bem como na síndrome de Cushing ia- trogênica, a secreção de glicocorticoides endóge- nos está diminuída e a adrenal atrofiada, devido ao $ il-' ' , rl(,i ti;'ì l)r;ll feedback negativo exercido pelos glicocorticoides na secreção de ACTH, cuja concentração é baixa. Estes dados são importantes para um diagnóstico diferencial entre as várias câusas de hipercortiso- lismo.A identificação do paciente com esta síndro- me é de grande importância para o CD, para que ele possa prever as alterações a serem encontra- das neste paciente (tais como diabetes, hiperten- são, dificuldade na cicatrização, baixa imunidade, osteoporose e distúrbios de personalidade) e pla- nejar adequadamente o tratamento odontológico. Assim, os sinais e sintomas citados abaixo podem ajudar o CD não somente a compreender melhor as ações dos hormônios adrenais, como a identifi- car este tipo de paciente e planejar ações. Sinais e sintomas Obesidade - embora o cortisol tenha ação li- política, como descrito acima, a obesidade consti- tui a manifestação mais comum, observada em97|/o dos pacientes com esta síndrome, devido ao depó- sito de gordura em algumas regiões do corpo como abdome, nos ombros e pescoço (corcova de búfalo) e na face (face de lua cheia), por mecanismos ainda não esclarecidos. Além disso, ocorre edema de face devido ao fato de o cortisol, em altas concentra- ções, exercer efeitos mineralocorticoides. A grande maioria dos pacientes também apresenta aumento de peso corporal. Fatigabilidade e fraqueza - cerca de 90% dos pacientes com síndrome de Cushing apresentam intensa fraqueza resultante da ação proteolítica do cortisol nos músculos, causando, portanto, atrofia muscuiar. Estrias violáceas e má cicatríznção - a dimi- nuição das fibras proteicas de colágeno do tecido conjuntivo subcutâneo induzida pelo excesso de cortisol faz com que haja ruptura deste tecido. Além do adelgaçamento da pele, há nestes pa- cientes também adelgaçamento das paredes dos capilares, provocando fragilidade capilar que leva a aumento de rupturas capilares e hemorragias. A ruptura destes tecidos subcutâneos e vasculares resulta no aparecimento das "estrias violáceas" ou "estrias purpúreas'l Estes sinais, facilmente iden- tificáveis, auxiliam o CD a reconhecer a doença e 1?6 aguçar sua atenção ao fato de que estes pacientes apresentarão, após cirurgias, atraso no processo de cicatrização devido exatamente às ações do corti- sol de inibir a síntese de colágeno e de induzir pro- teólise. Acne e hirsutismo - embora as disfunções que ocorrem na síndrome de Cushing no geral se- jam decorrentes das concentrações aumentadas de cortisol plasmático, elas também estão relaciona- das ao aumento de andrógenos plasmáticos. Em B0% das mulheres com esta síndrome observa-se o aparecimento de acne e hirsutismo (crescimento excessivo de pelos faciais) decorrentes do aumento de secreção de androgênios da zona reticulada. O hirsutismo facial é o mais comum, mas pode tam- bém haver crescimento de pelos no abdome, ma- mas, tórax e parte superior das coxas. Em pacien- tes do sexo feminino, este sinal facial é de grande ajuda para a identificação da doença e pode ser facilmente identificado pelo CD. Além disso, os androgênios podem causar engrossamento da voz, intensificação da libido, regressão dos tecidos ma- mários e irregularidades nos ciclos menstruais. Hipertensão - cerca de B0% dos pacientes com síndrome de Cushing apresentam hipertensão e, portanto, devem receber do CD os mesmos cui- dados dispensados aos pacientes hipertensos. Vá- rias ações do cortisol justificam esta hipertensão. O cortisol induz síntese da enzima PNMT respon- sável pela síntese de noradrenalina da medula da adrenal, que aumenta a contratilidade do miocár- dio, o tônus vascular e a frequência cardíaca. Além disso, o cortisol aumenta o volume sanguíneo por diminuir a permeabilidade do endotélio vascular e a síntese de proteínas vasodilatadoras. Por fim, é preciso lembrar que em altas concentrações os glicocorticoides apresentam efeitos semelhantes àqueles dos mineralocorticoides, ou seja, reter só- dio e água, o que contribui com o aumento de pres- são arterial. Diabetes adrenal - como visto anteriormente, o cortisol causa elevação de glicemia porque au- menta a gliconeogênese e diminui a utilização de glicose. O cortisol também aumenta a liberação de glucagon (que é hiperglicemiante), antagoniza as ações da insulina e diminui a sensibilidade dos tecidos a esse hormônio, diminuindo assim a cap- tação de glicose nos tecidos. A hiperglicemia acen- Capítuio 6 Regulacão Errdócrirra rJr,; Àir, tuada produz o quadro de diabetes adrenal, que, se persistir por muitos meses, pode induzir a quadro de d.iabetes mellitus, que persistirá por toda a vida do paciente. A hiperglicemia persistente tende a estimular a secreção de insulina, que pode encon- trar-se ligeiramente elevada nesses pacientes. No entanto, uma vez que o cortisol diminui a sensi- bilidade dos tecidos à insulina, é pouco eficaz em diminuir a glicemia. Perda de massa óssea (osteopenia ou osteo- porose) - os glicocorticoides desempenham papel importante no metabolismo ósseo, promovendo equilíbrio entre formação e reabsorção e manten- do, dessa maneira, um padrão ósseo normal. As- sim, alterações nas concentrações plasmáticas de glicocorticoides estão associadas à alteração neste equilíbrio, resultando em alteração significativa na homeostasia do tecido ósseo. O paciente com excesso de cortisol pode apre- sentar osteoporose, dor lombar, fratura de vérte- bras e necrose dos quadris. Estes sinais sáo decor- rentes da perda de massa óssea, um dos efeitos mais deletérios do excesso do cortisol, porque o cortisol inibe a formação óssea, diminui a mineralização e aumenta a reabsorção de tecido ósseo, em especial em ossos trabeculares e em menor grau em ossos compactos. Os glicocorticoides agem diretamente nos os- teoblastos, promovendo diminuição da síntese de colágeno, assim como nas células osteoprogenito- ras, impedindo sua diferenciação em osteoblastos. Assim, a utilização de glicocorticoides em altas do- ses ou por longo período de tempo causa osteopo- rose. Além disso, a absorção de cálcio no intestino e a reabsorção de cálcio pelo rim são também inibi- das pelo cortisol. Esses esteroides também causam redução da massa óssea de forma indireta, pela inibição das gonadotrofinas e hormônios sexuais, bem como pela ativação do paratormônio. Os es- trogênios são hormônios essenciais para manter a massa óssea na mulher, e sua importância é cla- ramente verificada pelo alto grau de incidência de osteoporose em mulheres após a menopausa, em função da falência ovariana e, portanto, da falta de produção de estrogênios. Assim, a inibição da secreção de gonadotrofinas induzida pelos glico- corticoides causa diminuição da função ovariana e da secreção dos estrogênios, o que contribui para a osteoporose induzida diretamente pelo cortisol. O paratormônio (PTH) age diretamente nos rins e ossos e indiretamente no intestino. Este hormô- nio age nos ossos, rins e intestino para aumentar a concentração plasmática de cálcio e diminuir a de fosfato. Nos túbulos renais, o PTH age aumen- tando a reabsorção de cálcio, dirninuindo a de fos- fato e estimulando a formação de vitamina D que, por sua vez, também aumenta a reabsorção de cál- cio nos rins e a absorção de cálcio no intestino. A exposição contínua ao PTH induz reabsorção ós- sea mediada pelos osteoclastos. Uma vez que os osteoclastos não possuem receptores para o PTH, este hormônio age nos osteoblastos, induzindo liberação de citocinas que, por sua vez, agem nos osteoclastos ativando a reabsorção óssea. Assim, a ativação crônica da liberação deste hormônio pelo cortisol contribui também para a instalação de um quadro de osteoporose. São várias as implicações destes efeitos do cor- tisol no paciente com hipercortisolismo, com as quais o CD deverá estar alerta. O paciente com hipercortisolismo pode apresentar osteoporose na maxi'la, composta de osso trabecular, e em menor grau no osso compacto da mandíbula, aumentando o risco de fraturas em procedimentos odontológi- cos, tais como na exodontia. É importante também considerar queos glico- corticoides têm sido amplamente utilizados em tratamentos de pacientes respiradores bucais por- tadores de rinite alérgica, rinossinusite crônica, rinite não alérgica e pólipo nasal. Consideranclo que a prevalência de problemas respiratórios tem aumentado nos últimos aÍÌos e que a respiração bucal é um importante fator na etiologia das más oclusões, um importante núrmero de pacientes submetidos ao tratamento ortodôntico pode apre- sentar alterações no metabolismo ósseo alveolar decorrente do uso destes esteroides. Portanto, o CD deve ser cauteloso nos tratamentos ortodôn- ticos de pacientes que usam cronicamente corti- coides. De fato já foi dernonstrado em trabalhos experimentais que o tracionamento dentário em animais submetidos a tratamento crônico com cortisona (um glicocorticoide sintético) pÍovocou movimentação dentária três vezes maior do que no grupo controle, um efeito indesejável neste lipo de tratamento. i,,t,rlrrttr;t ili.]rl Supressão do sistema imune - um dos proble- mas mais graves clo uso crônico de glicocorticoides deve-se ao fato desses hormônios serem potentes imunossupressores. O cortisol aumenta a frequên- cia e a gravidade das infecções porque diminuem a proclução de anticorpos, a atividade fagocitária e bactericida dos neutrófilos, diminuem a produção de interleucinas e causam depleção dos eosinófi- Ìos circulantes e do tecido linfoide, em especial de células T. Deviclo â estas ações, a reação imune, ou seja, a rejeição de um tecido transplantado, apre- senta-se diminuícla, razão pela qual os glicocorti- coides são utilizaclos após transplantes de órgãos. Por outro lado, quando administrados por muito tempo, estes hormônios aumentam a suscetibili- dade a infecções ou permitem sua disseminação, causando, por vezes, a morte do paciente por infec- ções normalmente banais, e podem impedir a cica- trizaçáo normal de um ferimento. Assim, devido à supressão do sistema imunológico, pacientes sob corticoterapia apresentam grande suscetibilidade para desenvolver infecções orais em geral, doenças gengivais e períodontais e candidíase. Distúrbios psicológicos - a maioria dos pa- cientes com hipercortisolismo apresenta distúrbios psicológicos leves, como aumento de irritabilidade e instabilidade emocional, mas pode também haver ansiedade, depressão, má concentração e deficiên- cia de memória. A euforia é frequente e alguns pa- cientes apresentam comportamento maníaco. Al- guns pacientes podem também apresentar depres- são acentuada, psícose com delírios e alucinações e paranoia. É possível que a depressão seja devido às baixas concentrações de CRH, uma vez que seu aumento resulta em ansiedade. Esta diminuição de CRH pode se dar por feedback negativo dos glico- corticoides ou do ACTH, nos neurônios produto- res de CRH. O CD deverá, portanto, estar ciente da possibilidade desses pacientes apresentarem estas alterações de humor durante o atendimento e pre- parado para lidar com elas. Ma n ifestações O rofacia is Os pacientes com síndrome de Cushing apre- sentam bochechas aumentadas e rosadas, o que Ihes conferem um aspecto corado de saúde. Além disso, ocorrem alterações nas sensações orais de al- 118 guns pacientes, com diminuição da acuidade a es- tímulos oÌfativos, auditivos, visuais e gustativos, da detecção do gosto salgado e da discriminação entre dois pontos no palato e língua. São observadas, também, alterações da compo- sição da saliva com diminuição da concentração de cloreto de sódio e âumento da de potássio. Estas al- terações podem ser decorrentes ou de um excesso na secreção de aldosterona (no caso de hiperfunção generalizada da adrenal), hormônio que aumentâ a reabsorção de sódio e a excreção de potássio nos ductos excretores, como discutido anteriormente ou então são devidos à própria ação mineralocorti, coide do cortisol, quando este está em excesso. Em crianças com hipercortisolismo crônico, a idade óssea e dental é retardada. Consideraçoes gerais A identificação de pacientes com hipercortiso- lismo pelo CD deve ser feita por meio da anamnese minuciosa e pela observação de sinais da doença. Enquanto sinais como hipertensão, obesidade, dia- betes sejam mais inespecíficos, sinais como corco- va de búfalo, edema de face, atrofia muscular das extremidades e caÍacterísticas masculinizantes na mulher são, quando presentes, sugestivos da sín- drome e mais úteis para o diagnóstico. Constatada a síndrome de Cushing, o CD deve estar atento aos problemas que a acompanham, tais como hiper- tensão, diabetes adrenal ou mellitus, osteoporose, dificuldade cle cicatrização de lesões, fraqueza, de- pressão emocional ou psicose. Em'especial, o CD deverá estar alerta à grande suscetibilidade deste paciente para desenvolver infecções, orais em ge- ral, doenças gengivais e periodontais e candidíase, devido à supressão do sistema imunológico pelo cortisol. Para evitar tais infecções, o CD deve pro- curar utilizar técnicas atraumáticas e assépticas, ter extremo cuidado com a assepsia e utilizar tera- pia antibiótica. Hipoadrenalismo A insuficiência adrenal foi a primeira doença li- gada ao órgão endócrino descrita e sua descoberta por Addison foi o marco para o início da endocri- nologia com especialidade clínica. A insuficiência Capítulo 6 Regulaçào Endócrrn.r do Ap.rt, lir!.ì i;siorì, j[iì!1 .ìrì, { r adrenal pode ser devida à incapacidade da adrenal de sintetizar e liberar quantidades suficientes de hormônios (hipoadrenalismo primário ou doença de Addison) ou então devido à diminuição da se- creção de ACTH pela adeno-hipófise (hipoadre- nalismo secundário). A insuficiência adrenal pri- mária é relativamente rara e pode ser decorrente, entre outros, da destruição da glândula (por lesão autoimune, remoção cirúrgica, tuberculose, he- morragia) ou por insuficiência metabólica de pro- dução hormonal. Algumas vezes, a estimulação exagerada da adrenal pelo estresse pode, primeira- mente, aumentá-la e depois torná-la hemorrágica e em seguida ser substituída por tecido fibroso. A insuficiência adrenal secundária pode ser decor- rente de uma doença hipotalâmico-hipofisária, na qual a secreção de CRH e/ou ACTH está diminui da ou devido ao uso terapêutico de corticoides, os quais, por feedback, inibem a secreção de CRH e ACTH, causando atrofia da adrenal. Devido ao uso terapêutico de corticoides, este tipo de disfunção é relativamente comum. Sinais e sintomas Os principais sintomas da insuficiência adrenal sâo fraqueza (astenia), fadiga, mal-esta$ anorexia, náuseas, vômitos, perda de peso, hipoglicemia en- tre refeições, hiponatremia, hipotensão e desmaios. Todos estes sintomas são explicados pela falta de glicocorticoides associados ou não à falta de aldos- terona e contrapõem-se aos sintomas observados no hipercortisolismo. A insuficiência completa das córtices suprarrenais leva à morte rapidamente (de quatro dias a duas semanas), a não ser que o doente receba tratamento adequado. A falta de aldostero- na diminui acentuadamente a reabsorção de sódio, o que causa grande diminuição do volume do lí- quido extracelular, da volemia, do débito cardíaco seguido de choque e morte. Estes pacientes são in- capazes de responder adequadamente ao estresse, podendo, nestes casos, apresentar a crise adrenal aguda por náuseas, vômitos, dores abdominais, hi- potensão e choque, na qual o CD deve estar prepa- rado para identificar. O tratamento com mineralocorticoides pode prolongar o tempo de vida, mas, mesmo assim, o paciente pode ser incapaz de resistir a estresses e tem pouca energia. Por isto, o tratamento destes pacientes deve também incluir glicocorticoides, que, por suâ vez, como já discutido, leva à supres- são da resposta imune do indivíduo. No entanto, mesmo tratados com glicocorticoides, pacientes expostos a estresses agudos (cirurgias, infecções, traumatismos etc.) podem apresentara crise adre- nal aguda. Esta crise pode levar o paciente a óbito rapidamente, a menos que receba tratamento ime- diato com corticoides. Ma n ifestaçoes orofacia is A hiperpigmentaçáo da pele e mucosa (prir-rci- palmente mucosa oral e gengiva) é o achado mais clássico e uma das primeiras manifestações da doença deAddison. Napele há aumento da pigmen- tação nas pregas palmares, mamilos, aréolas, e as cicatrizes novas tornam-se pigmentadas enquanto as antigas não (Figs. 6.3A-C). A pigmentação oral aparece como pontos irregulares que variam de cor e intensidade, que vai do marrom-claro para o cin- za e o preto, e estão presentes mais frequentemente na bqchecha, mas podem ser encontrados na gen- giva, palato,língua e lábios. Para se compreender a razão desta pigmentação, é necessário entender o processo de biossíntese do ACTH. O ACTH é composto de uma cadeia de 39 ami- noácidos, mas não é necessária a molécula inteira para que ele exerça sua atividade. Os primeiros 16 aminoácidos são requeridos para uma atividade mí- nima do ACTH e, à medida que aumenta o compri- mento da molécula, há elevação progressiva dessa atividade, que atinge o máximo com os 23 primei- ros aminoácidos. O ACTH é sintetizado a partir da proteína pró-opiomelacortina (POMC), um hor- mônio precursor não só do ACTH, mas também de outros hormônios peptídicos (Fig.6.3A). A POMC é produzida em alguns locais do cérebro e nos lo- bos anterior e intermediário da adeno-hipófise e seu processamento depende do local onde ocorre. No lobo anterior, a POMC é processada a um pep- tídio N-terminal, ao ACTH e um peptídÍo opiode endógeno, a p-lipotrofina (p-LPH), com proprie- dades analgésicas quando em grandes coucentra- çoes. No lobo intermediário, os iocais de clivagem proteolítica da POMC são dlferentes, de forma que sua clivagem dá origem ao y-MSH, a-MSH, CLIP t 4íl 11 r1' 1 r 1 Figs. 6'3 - (A) Diagrama da estrutura da molécula da pró-opiomelacortina (PO[VC) e seu processamento nos lobos anterior e intermediário da hipófise. No lobo anterior, a POMC dá origem a um peptídio N-terminal longo, ao ACTH e um peptidio opioide endogeno, a B-lipotrofina (B-LPH). No lobo intermediário, a pOMC dá origem a 1-MSH, u.-MSH, peptídio do lobo intermedíário semelhante à corticotrofina (CLIP), y-LPH e B-endorfina. (B e C) pacientes com doença de Addison apresentando pigmentação (setas) nos lábios e mucosa oral (B) e na língua (C). (corticotropin-like intermediate-lobe peptide), y-LPH e p-enclorfina. Em anfíbios, o MSH age nos melanócitos aumentando a dispersão dos grânulos de pigmento de melanina. No homem, é provável que este hormônio estimule a síntese de melanina e sua transferência dos melanócitos para as células epidérmicas, causando hiperpigmentação. A razão da hiperpigmentação na doença de Addi- son (hipocortisolisrno primário) é que, umavez que as concentrações plasmáticas dos glicocorticoides se encontram baixas, a ausência dofeedback negativo exercido por estes hormônios resulta em aumen- to acentuado da secreção de ACTH. Uma vez que a POMC é a molécula precursora do ACTH, e que também dá origem ao MSH, o aumento da quanti- dade de POMC para suprir a síntese de ACTH acaba por calrsar aumento da síntese de MSH. Além disso, pela semelharÌça estrutural do ACTH com o MSH, o ACTH em grandes concentrações passa a exibir um efeito melanócito estimulante. Assim, ambos os hor- ]Zü mônios são, neste câso, responsáveis pela hiperpig- mentação observada nestes pacientes. É importante observar que quando a hipofunção adrenal é secun- dária, ou seja, é resultado da deficiência da secreção de ACTH pela adeno-hipófise, esta pigmentação da mucosâ oral e pele não é observada, embora os ou- tros sinais e sintomas sejam comuns para ambas as condições de hipofunção da adrenal. Pacientes que sofrem de hipofunção adrenal e que estão ou estiveram sob terapia de reposição hormonal (com glicocorticoide) no último ano irão apresentar os mesmos sinais e sintomas que os pa- cientes com hipercortisolismo, como discutido an- teriormente. Ëstes pacientes apresentam suscetibi- lidade aumentada a infecções, doenças gengivais e periodontais, candidíase e infecçoes orais, que devem dificultar o tratamento com terapias con- vencionais. A probabilidade de infecções pode ser diminuída pelo CD utilizando técnicas atraumáti- cas e assépticas, além de terapia antibiótica. Capítulo 6 Regulação Enclricrina clo /\p,rr-i l.ro LsìorrnL':rilrr.,riii:ir Considerações gerais Por apresentarem a adrenal atrofiada e hipo- funcionante e, portanto, não serem capazes de res- ponder à estresses, fatores como infecção, trauma- tismo, cirurgia, anestesia, podem levar qualquer paciente com insuficiência adrenal primária ou secundária à crise adrenal. A crise ocorre porque o aumento da demanda metabólica de corticoide de- corrente do estresse físico ou emocional não pode ser atendido pela adrenal do paciente. Assim, o tra- tamento do paciente com hipoadrenalismo com altas dosagens de corticoides deve ser previsto e o ajuste da dose deve ser discutido com o médico an- tes de expor o paciente a estresses. O melhor tratamento para a crise adrenal agu- da é a prevenção. O controle do estresse decorren- te da dor e da ansiedade, juntamente com terapia medicamentosa complementar são as bases do ma- nejo clínico-odontológico nestes pacientes. Porém, âpesar de todas as precauções, a crise pode ocorrer e o CD deve estar preparado para reconhecê-la e a tomar as primeiras providências, tais como in' terrupção imediata do procedimento odontológico e colocação do paciente em decúbito supino, com os membros superiores elevados e providenciar o encaminhamento do paciente ao hospital. Hormônio de Crescimento Diferentemente de todos os outros hormônios adeno-hipofisários, que atuam especificamente em uma glândula-alvo periférica, como a glândula tireoide, ovário, testículos e adrenal, o hormônio de crescimento ou GH (de growth hormone) não atua em uma glândula-alvo específica, mas sim na maioria dos tecidos do corpo induzindo seu cresci- mento. A maior parte dos efeitos do GH (também denominado hormônio somatotrófico ou soma- totrofina) se dá por meio do fator de crescimento semelhante à insulina I ou IGF-I (de insulin-like growth factor), antes denominado somatomedina, produzida pelo fígado por ação do próprio GH. Ações do hormônio de crescimento Entre todos os hormônios que induzem cres- cimento, o GH e o IGF-1 são considerados os principais, e este sobre o crescimento é o efeito mais clássico descrito para o GH. Indivíduos colrr secreção excessiva de GH durante a infância de- senvolvem gigantismo, enquanto a deficiência da secreção deste hormônio neste período da vida causa nanismo. O crescimento longitudinal que ocorre na infância depende do crescimento dos ossos, músculos, tendões e pele e é acompanhado por aumento proporcional dos órgãos viscerais em geral. Este crescimento é diretamente relacionado com o GH e o IGF-I. Estes hormônios induzem crescimento linear dos ossos longos por atuarem nos discos epifisiais, localizados entre a epífise e a diáfase do osso. No final da adolescência, as epí- fises e as diáfises fundem-se não havendo mais crescimento nestes ossos. No entanto, nos ossos membranosos, o GH e o IGF-1 podem induzir au- mento de espessura no indivíduo adulto, uma vez que estes hormônios estimulam os osteoblastos. Sob a ação dos osteoblastos, há depósito de osso novo sobre o osso mais velho no periósteo e em algumas cavidades ósseas. Se este depósito, esti- mulado pelo GH, excede a absorção determinada pelos osteoclastos, o resultado é o aumento do es- pessamento ósseo. Assim, os ossos da rnandíbula e da fronte podem crescer mesmo após a adoles- cência. Por causa destes efeitos evidentes do GH no crescimento, por muito tempo se acreditou que o GH fosse secretado apenas durante a infância. No entanto,foi demonstrado que, embora as concen- trações plasmáticas deste hormônio diminuam ra- pidamente do nascimento até o final da adolescên- cia, ele continua a ser secretado no adulto. Atual- mente, este hormônio também é importante r-ra vida adulta, principalmente por suas importantes ações no metabolismo corporal. Após cessar o cres- cimento dos ossos, no final da adolescência, embo- ra o GH o IGF-I não mais atuem no crescimento longitudinal, eles continuam atuando nos tecidos moles e cartilagens, além de exercerem importan- tes efeitos metabólicos. Estas ações metabólicas do GH são agudas, ocorrerÌì em minutos ou horas, e não necessariamente estão relacionadas com sua ação no crescimento, que é de longa duração. O GH é um hormônio com intensa ação anabólica. Atua diretamente (e não via IGF-I) no fígado, no tecido muscular e gorduroso, alterando o metabo- lismo de carboidratos, proteína e gorduras. 4\4 i , ÌrìÌ;1, Í!a í ìj .:ìi Metabolisrno de carboidratos - o GH dimi- nui as ações da insulina de aumentar a utilização de glicose pelo músculo e pelo tecido gorduroso e de inibir a síntese de glicose no fígado. Assim, o GH aumenta a produção de glicose pelo fígado e diminui a captação e utilização de glicose no tecido acliposo e muscular. A resultante é o aumento da concentração plasrnática de glicose, que é acompa- nhada por elevação compensatória da secreção de insulina. A hipersecreção crônica de GH é acom- panl'racla pela resístência à insulina e, frequente- mente, por intolerância à glicose e diabetes. Esta hiperglicemia (diabetes hipofisária), devido ao ex, cesso de GH, é semelhante àquela observada em pacientes com diabetes tipo 2, resistentes aos efei- tos da insulina. Metabolismo de proteínas - o GH aumenta a captação de aminoácidos pelo músculo e a sín- tese proteica no fígado e músculo. Além disso, o GH diminui a degradação das proteínas celulares utilizando, preferencialmente, ácidos graxos para a obtenção de energia. Há, portanto, aumento geral de proteínas em toclas as célülas do corpo, o que resulta em aumento da massa corporal. Este efei- to metabólico do GH é o que justifica o uso dessa substância por atletas e fisioculturistas para ganhar massâ muscular magra. Metabolismo de gorduras - o GH induz au- mento da mobilização dos ácidos graxos do tecido adiposo com conseqnente elevação de ácidos gra- xos nos líquidos corporais e conversão dos ácidos graxos em acetil-CoA, os quais são utilizados como fonte de energia. O consumo de gorduras, junta- mente com o aumento da síntese proteica produz, aumento da massa corporal magrâ. As ações do GH no metabolismo de carboidra- tos, proteínas e lipídios são, portanto, opostas às da insulina nos mesmos tecidos e têm sido denomina- das de ações anti-insulínicas ou diabetogênicas. Controle da secreçãa do hormônio de crescimento A síntese e a secreção de GH pelos somatotro- fos da adeno-hipófise são diretamente controladas por clois hormônios hipotalâmicos: o hormônio liberador de GH (GHRH), que é produzido no nú- cleo arqueado, e o hormônio inibidor do GH, de- 4 "ìa nominado GHIH ou, mais comumente, somatos- tatina (SS), produzido no núcleo periventricular. Estes dois neuro-hormônios são liberaclos nos câ- pilares do plexo primário da eminência mediana e alcançam a adeno-hipófise via vasos porta longos, nos quais agem em seus receptores na membrana dos somatotrofos. Nestas células, o GHRH induz à síntese, bem como à liberação de GH, enquan- to a somatostatina inibe à liberação de GH, (Fig. 6.4). Parece que a regulação primária da secreção de GH é estimulatória, uma vez que a secção da haste hipofisária, que interrompe o fluxo do san- gue portal parâ a adeno-hipófise, induz queda na secreção de GH. Além de os somatotrofos serem controlados por estes dois fatores hipotalâmicos, a secreção de GH por estas células também é con- trolada por feedbacl< negativo por ambos, GH e IGF-1. O aumento das concentraçóes circulantes de IGF-1 inibe a secreção de GH diretamente nos somatotrofos adeno-hipofisários, e indiretamente no hipotálamo, aumentando a liberaçáo de soma- tostatina e inibindo a de GHRH. Além disso, a se- creção de GH parece ser inibida pelo próprio GH, uma regulaçáo por feedback de alça curta. Estados de inanição, hipoglicemia, baixas con- centrações cle ácidos graxos no sangue, exercício, traumatismos, enfim, uma grande variedade de estresses também podem aumentar a secreção de GH. Quando o controle da secreção de GH é perdi- do, como em casos de tumores adeno-hipofisários, por exemplo, o indivíduo apresenta disfunções da secreção de GH, as quais serão descritas a seguir. Hiperpituitarismo A hipersecreção de GH geralmente resulta de tumores adeno-hipofisários hipersecretores de to- dos os hormônios ou de tumores das células acidó- filas, produtoras de GH. Se esta disfunção aparece quando o indivíduo já é adulto, após a fusão das epí- fises dos ossos longos com as diáfises, ele não pode mais crescer longitudinalmente, mas os tecidos moles continuam â crescer e os ossos aumentam na espessura. Esta síndrome é denominada acrome- galia, e é caracterizada, portanto, pelo aumento da espessura dos dedos, mandíbulas e região supraor- bital, além de tecidos moles. No entanto, se estes Capítulo 6 Regulação EndÓcrina do Aparellr', Êstom.rloi1nitjcr Fig. 6.4 - A secreção de GH pelos somatotrofos é estimulada pelo GHRH e inibida pela somatostatina, ambos secre- taãos nos capilare! do plexo primário da eminência mediana. o GH, além das suas ações em tecidos-alvo, induz a secreção de IGF-1 pelo iÍgado. A IGF-1, por sua vez, inibe a secreção de GH diretamente nos somatotrofos ou indire' tameÃte. por agir no hipõtálamo inibindo a secreção de GHRH e estimulando a de somatostatina. A secreção de GH também é inibiãa pelo próprio GH via feedback negativo de alça curta nos somatotrofos. tumores começam antes de a puberdade estar com- pleta, isto é, antes da fusão de epífises e diáfises, ob- serva-se o quadro de gigantismo, ou seja, a altura do indivíduo aumenta tanto que ele se torna um gigan- te, de estatura de até 2,40 mde altura, com braços e pernas muito longos. A maioria dos pacientes com gigantismo também apresentará características de acromegalia, se a hipersecreção de GH persistir du- rante a adolescência e na vida adulta. Acromegalia A característica mais chamativa dos acromegáli- cos é a alteração da aparência, como consequência da proliferação dos tecidos ósseos que resulta no alar- gamento dos dedos das mãos e pés, crescimento dos ossos do crânio, mandíbula e tecidos moles, como, por exemplo, a língua e os órgãos como coração, ritn etc. No entanto, o acromegálico tarnbém apresenta disfunções sistêmicas como diabetes e hipertensão, para as quais o CD deve estar preparado. Ma nifestações orofaciais As orelhas, natiz e lábios apresentam-se au- mentados, o que contribui para a expressão facial típica da acromegalia. Os sulcos nasolabiais, com frequência, apresentam pigmentação. No paciente acromegálico, ocorre crescimento dos ossos mem- branosos, incluindo crânio, nariz, protuberâncias x?? o t GHRH ) ì atostatinaCo v """";;::ïS-i*"tt""'ë .j Somatotrofos Músculo coração, pulmão ossos e outros tecidos Tecido adiposo ì na testa, arcos slrpraorbitários e mandíbula, visto qlre estes ossos não param completamente de cres- cer após a adolescência. Os centros de crescimen- to mandibular, especialmente o côndilo, são esti- mulados na acromegalia. O crescimento condilar exagerado causa deslocamento mesial na oclusão. Embora a maxila também aumente, o crescimento mandibular é muito maior. Este crescimento deter- mina prognatismo mandibular que deforma a face e alonga o queixo. A largura da mandíbula é tam- bém aumentada. Estudos indicam que uma grande proporção de pacientes acromegálicos tem um ân- guiode má oclusão classe III, com mordida crllza- cla parcial ou completa, podendo causar dores na articulação temporomandibular. Estas disfunções podem ser corrigiclas com cirurgia ortognática após a correção da disfunção hipofisária, que po- derá ser cirúrgica ou clínica (Figs. 6.54-C). A língua pode aumentar, com grande hipertro- fia papilar. Há protrusão e crescimento para as áreas laterais pressionando os dentes. A macroglossia pa- rece estar relacionada ao aumento do diâmetro das fibras musculares, (especialmente aquelas da meta- de anterior) e do espessamento do tecido conjun- tivo epitelial e subepitelial. A pressão exercida pela língua no processo alveolar pode contribuir com o crescimento exagerado da mandíbula para induzir o prognatismo observado nestes pacientes. Embora o GH induza o crescimento da mandíbu- la, ele não afeta o tamanho dos dentes, que permane- ce inalterado na acromegalia. Como consequência, ocorre espaçamento dos dentes (diastemas). Todas estas alterações acima descritas no aspecto facial de pacientes acromegálicos podem ser facilmente identificadas pelos CDs, não raramente o primeiro profissional da saúde a ser procurado pelo paciente devido aos seus problemas de oclusão. Embora não haja alteração no tamanho dos dentes, um achado comum é o aumento do depó- sito de cemento em pacientes acromegálicos. Além Figs. 6.5 - (A) Prognatismo em paciente com acromegalia resultante de adenoma hipofisário em radìografia lateral ceíalométrica e seu traçado. (B) Radiografia do mesmo paciente após o tratamento da disfunção endócrina e cirurgia ortognática. r,3+ Capílulo 6 Regulação Endócrirra dtt Ap,ri :ìhtt IslorïiatogÌ1átti.i) :l ç rt{ ,1 .fr .:ll t Ij IIj disso, indivíduos acromegálicos apresentam doen- ças periodontais avançadas, especialmente quando a má oclusão é grave. Outra característica deste paciente é que a voz ficamais grave devido à'hiper- trofia das cordas vocais e ao aumento do tamanho da laringe, induzido pelo GH. Ma nifestaçÕes sistêm icas É importante que o CD esteja atento não ape- nas às alterações morfológicas do paciente acro- megálico, mas também às alterações sistêmicas que decorrem do excesso de GH plasmático. A hipertensão e o diabetes são as principais alterações encontradas no paciente acromegálico. Como explanado no início deste tema, o GH é um importante hormônio hiperglicemiante. Esta hiper- glicemia, se sustentada, pode causar hiperatividade das células beta do pâncreas que secretam quanti- dades maiores de insulina, e estas células podem sofrer degeneração, culminando com a instalação de do diabetes do típo mellitu.s. A hipertensão de- senvolve-se nestes pacientes devido à ação do GH em elevar o líquido extracelular por aumento da atividade do sistema renina-angiotensina-aldos- terona e por diminuição do peptídio natriurético atrial (ANP). As alterações nos ossos das vértebras podem causar deformidade nas costas, conhecida como cifose. Os ossos das mãos e dos pés são alargados. O crescimento dos tecidos moles induz aumento do tamanho de vários órgãos como fígado, coração e em particular os rins. O aumento da oleosidade da pele é um sintoma frequente, juntamente com sudorese excessiva, um dos principais sintomas do excesso de GH. A hipertrofia dos tecidos moles das vias aéreas resulta em engrossamento da voz e muitas vezes em apneia do sono. Como a principal causa é a ocorrência de tumor adeno-hipofisário, podem ocorrer cefaleia e problemas de campo vi- sual devido à compressão do quiasma óptico ou nervos ópticos cranianos. Gigantismo O principal efeito do excesso de GH na infância é o crescimento exagerado de todos os tecidos do corpo. Crianças com gigantismo raramente têm as características clínicas do acromegálico, pois elas não ocorrem enquanto o indivíduo estiver cres- cendo longitudinalmente. A altura elevada dos pacientes é normalmente acompanhada por algu- mas características fisicas facilmente reconhecidas pelo CD que incluem mãos e pés aumentados e aurnento do tamanho da mandíbula. A hipergli- cemia e por vezes o diabetes meLlitus também são observados nestes pacientes. lJtna vez terminada a puberdade, se a enfermidade não for controlada, os tecidos moles e alguns ossos continuam a crescer, o que constitui o estado típico de acromegalia, ou então o tumor acaba por destruir a hipófise cau- sando hipofunção generalizada da glândula que pode culminar conì a morte do paciente. Ma nifestações orofacia is Crianças com excesso de GH apresentam de- senvolvimento dental acelerado, incluindo erupçào dentária precoce dos dentes com tamanho aumen- tado. A mineralização dos dentes, entretanto, não é afetada pelo excesso de GH. Durante a puberdade, os distúrbios associados ao hiperpituitarismo são restritos à mandíbula e, em menor grau, à maxi- la. Estes distúrbios consistem no espessaffÌeuto do osso cortical da mandíbula e no autnento dos seios paranasais. Se a doença não for tratada, o superde- senvolvimento da mandíbula e face começa a pro- duzir a face característica do adulto acromegálico. Radiograficamente, os ossos são vistos pobremente calcificados e corn grandes trabéculas. Da mesma forma que na acromegalia' as colrÌ- plicações mais frequentes associadas ao hiperpi- tuitarismo são o diabetes e a hipertensão, com os quais a CD deve saber lidar. Considerações gerais Basicamente três tipos de tratamento são uti- lizados nos casos de hiperpituitarismo: tratamen- to cirúrgico pâra remoção do tumor, radioterapia hipofisária e terapia medicamentosa com análogos de somatostatinas ou antagonistas de GH. Os três tratamentos têm vantagens e desvantagens. Mais de uma modalidade é frequentemente necessária e, algumas vezes, todos os tratamentos são utili- z.ados. Uma terapia adequada pode reverter pelo menos em parte tnuitas das consequências rela- cionadas ao crescimento dos tecidos moles. Após 'ï 25 a correção hormonal dos pacientes que sofrem de hiperpituitarismo, as alterações da mandíbula per- sistem. O CD deve considerar que sua interferência no câso não deve ser imediata. Sugere-se que, so- rnente após 12 meses de normalização dos níveis de GH, o paciente deva ter tratamento de correção de oclusão para resolver as dificuldades de masti- gação, o qual pode incluir osteotomia combinada com tratamento ortodôntico. Hipopituitarismo A hiposecreção cle GH ou de todos os hormô- nios hipofisários pode ser congênita, ou seja, estar presente desde o nascimento, ou ocorrer súbita ou lentamente em qualquer momento durante a vida do indivícluo, como resultado, mais frequentemen- te, de tumor hipofisário que destrói a hipófise. Esta hipofunção pode também ocorrer devido uma le- são no hipotálamo, levando a uma deficiência de fatores hipotalâmicos que normalmente atuam so- bre a hipófise. uma vez que o controle hipotalâmi- co predominante é o excitatório, via GHRH, o resultaclo de hipofunção do hipotálamo é a baixa secreção de GH. H ipopituitarismo na i nfância (nanismo) A deficiência de GH em crianças pode resultar de disfunções hipotalâmicas, tumores hipofisários, moléculas de GH biologicamente incompetentes, falta de produção de somatomedinas ou de seus re- ceptores. As consequências destas deficiências são a pequena estatura e a maturação óssea atrasada, obesidade moderada e puberdade atrasada. A maioria dos casos de nanismo resulta de de- ficiência generalizada da função hipofisária (pan- hipopituitarismo) durante a infância. Assim, a falta de gonadotrofinas faz com que este tipo de anão nunca chegue à puberdade. Entretanto, em um ter- ço dos anões, a deficiência da função hipofisária afeta apenas a secreção de GH pelos somatotrofos; nestes casos, os indivíduos amadurecem sexual- mente e podem reproduzir-se. Os anões no geral também possuem uma camada maior de gordura subcutânea devido à ausência da ação lipolítica doGH. O atraso do crescimento pode ocorrer tâm- 3ã6 bém devido a outras deficiências que não na se- creção de GH. Nos pigmeus africanos e no anão de Levi-Lorain, por exemplo, as concentrações de GH são normais ou mesmo elevadas; no entanto, estes anões não produzem IGF-1 pelo fígado. Nes- tes indivíduos, a capacidade reprodutiva é preser- vada. Além da falha na secreção de GH e IGF-I, o nanismo pode também ser decorrente na falha de produção de receptores para o GH ou IGF-I. Estas deficiências no crescimento de crianças com hipossecreção de GH não são acompanhadas por nenhum grau cle retardo mental. Ma n ifestações orofacia is O atraso no crescimento em crianças deficien- tes de GH não se aplica apenas à altura do paciente, mas também no crescimento e desenvolvimento da face, da base do crânio e dos dentes. Quase todas as medidas lineares da estrutura facial são menores e há crescimento desproporcional nas estruturas da base do crânio, assim como na mandíbula, resul- tando em retrognatia facial. Há retardo acentuado no desenvolvimento mandibular e em menor grau da maxila, e este crescimento desproporcional leva à má oclusão com ajuntamento acentuado dos den- tes. Mais de 90o/o dos pacientes não apresentam os terceiros molares. Embora o dente tenha tamanho normal, as co- roas são pequenas, pois frequentemente têm erup- ção incompleta e as raízes tendem a ser mais curtas. A erupção dos dentes nas duas dentições é atrasada e incompleta; no entanto, este atraso é bem menor do que aquele ocorre no crescimento do esqueleto. O atraso no desenvolvimento dental é bem mais discreto e começa com maior retenção dos dentes decíduos, cujas raízes não são reabsorvidas. Além disso, a erupção dos dentes permanentes é atrasa- da, com formação incompleta de raízes e selamen- to do forame apical. A dentição parece ter atraso harmonioso, desde que foi demonstrado que todos os componentes do depenvolvimento dental (reab- sorção do dente decíduo e formação e erupção do dente permanente) apresentaram o mesmo grau de atraso. Quando ocorre a destruição da hipófise, há hipofunção das glândulas salivares, o que resulta em xerostomia, que provoca aumento da incidência de cárie e doenças periodontais. ! ,.ì J l i1i Consideraçoes gerais A terapia de reposição hormonal nas crianças com deficiência grave de GH era muito difícil' uma vez que o GH não humano (de suínos e bovinos' por exemplo) não e eficaz no humano' Assim' até 1985, o tratamento destes pacièntes era feito com material extraído de hipófises humanas obtidas de necropsias. Este procedimento, por vezes' induzia ao aparecimento de graves doenças nos pacientes herdàdas por meio do material da necropsia' Em 1985, por meio de engenharia genética, foi final- mente produzido o GH, pela técnica de DNA re- combinante, que passou a ser disponível no mer- cado e utilizado na terapia de reposição hormonal' No primeiro ano de tratamento, a taxa de cresci- mento pode aumentar de 0,5 a2 vezes em compa- ração èrs outras crianças. O crescimento normal- mente diminui nos anos subsequentes' mas' em geral, mantém-se acima do normal durante alguns ã.ros, d" modo que a criança com nanismo pode crescer até uma estatura normal' A terapia de repo- sição hormonal acelera o desenvolvimento dental' mas este efeito é muito menor do que o efeito do tratamento nos ossos faciais' Sob a ação de GH re- combinante, o crescimento facial é bastante rápido e o perfil torna-se menos convexo' É importante também lembrar que a terapia de reposição com GH pode ser inefetiva em pacientes cuja deficiên- cia de crescimento se deve à hiporresponsividade dos tecidos ao GH ou à IGF-I, o que pode ocorrer por ausência de receptores para estas substâncias ãu -"r-o por falhas nos processos intracelulares que ocorrem após a ligação do hormônio ao recep- tor, como, por exemplo, aqueles que traduzem as ações do IGF-1 nos condrócitos da cartilagem de crescimento ePifisária' Hipopituitarismo no adulto A anomalia mais comum é a hipofunção gene- ralizada da hipófise (pan-hipopituitarismo)' Este quadro resulta frequentemente de tumores que pod"- destruir a hipófise, ou então de tromboses àor,ruro, sanguíneos hipofisários' Estes indivíduos apresentam as alterações esperadas resultantes de cleficiências dos hormônios hipofisários' ou seia' alteraçÕes da função sexual como amenorreia em mulheres e diminuição da libido ou impotência Capítulo 6 Regtrlação Endocrìna rJo 'Aparelhr' 'rstumaLoqnaitco em homens, devido à diminuição do hormônio lu- teinizante e do hormônio folículo-estimulante hi- pofisários. A deficiência dos hormônios tireoidia- .ro, .utlr" intolerância ao frio, pele seca, lentidão mental, letargia, bradicardia, rouquidão e anemia' A deficiência de ACTH causa fraqueza' náuseas' vômitos, febre e hipotensão postural, despigmen- tação e diminuição da cor da pele e diminuição dos p"ior.o.porais. Há hipoglicemia de jejum devido à ausência de GH e ACTH e geralmente aumento de peso corporal por falta de ACTH, TSH e GH, que mobilizam gorduras. Ma nifestaçÕes orofacìais Não há alterações específicas nos dentes' mas sim nas características orofaciais, conto adelgaça- mento da mucosa dos lábios, e expressão facial de imobilidade. Outras alterações orais nestes pacien- tes são aquelas relatadas nos casos de insuficiência hormonal no adulto (de horrnônios sexuais' tireoi- dianos, adrenais por deficiência de ACTH etc')' co- mentada nos outros capítulos, e como tais devem ser observados os procedimentos odontológicos' Considerações gerais besde que estes indivíduos têm maior incidên- cia de cáries e das inflamações gengivais' são neces- sárias avaliações odontológicas frequentes' O mais provável é que pacientes com destruição iripofisá- ,iu d",r"- estar sob terapia de reposição hormonal' que inclui glicocorticoides' Portanto' é importante puru o CD àntender como lidar corn pacientes sub- metidos a tratamento com este tipo de medicaçáo' já abordado anteriormente neste capítulo no item Hormônios adrenais. Hormônios Pancreáticos O pâncreas é uma glândula mista' ou seja' possui dois tipos de tecido glandular: exócrino e endócri- no. A porção exócrina é uma glândula acinosa que secreta várias enzimas que digerem os alimentos' facilitando sua absorção no intestino' O pâncreas endócrino é o principal órgão regulador do meta- bolismo energético, secretando dois importantes hormônios que têm açÕes antagônicas' a insulina e o glucagon' que são funclamentais na regulação Y ) do metabolismo de glicose, lipídios e proteínas. A insrúina é o principal mediador do anabolismo, en- quanto o glucagor-r induz catabolismo. Além disso, a insulina participa de forma muito importante no crescimento e diÍèrenciação dos tecidos, atuando em conjunto com olrtros fatores de crescimento e os IGFs. Neste capítulo, trataremos especificamen- te das ações da insulina e das consequências da sua falta, uma vez que, entre as doenças relacionadas com a disfunção da secreção de hormônios pan- creáticos, o díabetes mellitus é de longe a doença de maior prevalência. Áções da ínsulina A insulina é produzida nas células beta das ilhotas de Langerl,ta,ns e àrmazenada em vesículas do aparelho de Golgi em forma inativa (pró-insu- lina). Quando a concentração de glicose sanguínea atinge níveis acima de 110 mgldl, há excesso do metabolismo oxidativo mitocondrial nas células beta, o que determina a liberação de insulina para a circulação sanguínea. Apesar de a glicose ser o maior secretagogo de insulina, sua produção tam- bém pode ser estimulada por alguns aminoácidos (em especial a arginina e a leucina), pequenos ceto- áciclos e ceto-hexoses (como a frutose). As principais funções da insulina são estimu, lar a captação de glicose pelas células via receptor GLUT-4, a síntese e o armazenamento de glicogê- nio hepático e muscular, a síntese de proteínase a de ácidos graxos, triglicérides e colesterol. Como resultado dessas ações, há consumo intenso de gli- cose e queda graclual da glicemia (hipoglicemia), o que estimula as células pancreáticas a liberar o glucagon, um polipeptídio sintetizado pelas células alfa das ilhotas pancreáticas. A insulina é antagoni- zada pelas ações do glucagon que mobiliza os de- pósitos de aminoácidos e ácidos graxos, promove glicogenólise e neoglicogênse. Esses efeitos hiper- gÌicemiantes possibilitam novâ ação insulínica, o que deixa a glicemia de um indivíduo normal em torno dos níveis normais de 70-110 mgldl. Os alvos primários da insulina são o fígado, os músculos esqueléticos e o tecido adiposo. Outros tecidos como o cérebro e os epitélios transportado- res dos rins e do intestino não dependem da insuli- na para a utilização da glicose. No fígado, o transporte da glicose para as cé- lulas é diretamente dependente da insulina. Após a refeição, a secreção de insulina aumenta e esta ativa a via glicolítica por meio da conversão da glicose a glicose-6-fosfato, diminuindo assim as concentrações intracelulares de glicose livre baixas em relação àquelas do líquido extracelular, o que favorece a difusão da glicose para dentro da células pelos transp ortadores GLIJT -2, presentes na mem - brana do hepatócito (Fig. 6.6). Estas baixas concen- trações de glicose são, portanto, em parte devido à ação da insulina em estimular a glicólise, ou seja, a degradação de glicose, e inibir sua síntese (gli- coneogênese). Assim, a inibição da glicogenólise e da gliconeogênese assim como a estimulação da glicólise promovem a diminuição da glicose hepá- tica. Além disso, a glicose transportada para o he- patócito não fica na forma livre. Ela é armazenada nestas células na forma de glicogênio sob a ação da insulina, que aumenta a síntese de glicogênio (gli- cogênese) a partir da glicose e inibe sua degradação (a glicogenólise), aumentando assim os estoques de glicogênio no fígado. A insulina estimula a degradação de glicose por meio da ativação da via glicolítica até piruvato. O pi- ruvato, resultante da glicólise, é então utilizado na síntese de ácidos graxos livres. A insulina induz a enzima ácido graxo sintase e, portanto, estimula a síntese de ácidos graxos livres e triglicérides e inibe o transporte dos ácidos graxos parâ a mitocôndria, no qual ocorre sua oxidação para cetoácidos. Os áci- dos graxos livres formam os triglicérides que serão estocados no fígado ou liberados como partículas de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL). O músculo e o tecido adiposo captam os lipídios destas partículas e estocam ou oxidam para energia. Então, uma das importantes ações da insulina é a de induzir a conversão de glicose a triglicérides. Uma terceira ação da insulina nos hepatóci- tos é a de induzir a síntese de proteína e reduz sua degradação, mas os mecanismos envolvidos ainda não são bem esclarecidos. No músculo, a glicose atravessa a membrana via GLUT-4, um transportador de glicose sensível à insulina. Neste tecido, portanto, a insulina tem ação direta na captação de glicose. Como no fíga- do este hormônio promove a estocagem da glico- se como glicogênio, glicólise e síntese de proteína ï' ì Í r *. Capítulo 6 Regulação Endócrina do Aparelho Estomatognútico Fig. 6.6 - Efeito da insulina nos hepatócitos. As setas contínuas indicam a ação estimuladora, e as pontilhadas, as inibidoras da atividade das enzimas. A insulina: 1. Promove a síntese de glicogênio a pârtir da glicose e inibe a glico- genólise;2.Promoveaglicóliseatéaformaçãodepiruvatoeinibeagliconeogênese; 3.Promoveasínteseeaestoca- gem de ácidos graxos livres (AGL) que dão origem aos triglicérides, que são estocados em gotículas no fígado ou no plasma como partículas de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL); além disso, inibe a oxidação dos AGL em cetoácidos; e 4. Promove a síntese de proteínas e inibe a proteólise. enquanto inibe a degradação das proteínas, o que preserva â massa muscular. O aumento da utiliza- ção de glicose pelo músculo permite a estocagem de ácidos graxos livres e triglicérides. O glicogênio e os triglicérides são a principal fonte de energia para o músculo produzir calor ou no exercício. O tecido adiposo também exige insulina para promover a entrada da glicose na célula, utilizan- do os transportadores GLUT-4. Neste tecido, a insulina recruta os transportadores GLUT-4 e au- menta a captação de glicose, mas, diferentemente do músculo e fígado, pouco glicogênio é forma- do. Ela promove glicólise cujos produtos piruvato e a-glicerolfosfato são essenciais para a formação de triglicérides. O piruvato é convertido a ácidos graxos livres e o a-glicerolfosfato esterificado com ácidos graxos livres para formar os triglicérides, os quais são armazenados em gotículas lipídicas. Por outro lado, a insulina inibe o reverso, ou seja, a quebra dos triglicérides em ácidos graxos livres e glicerol. É importante lembrar que apenas parte dos ácidos graxos livres origina-se da glicólise, mas a maior parte vem dos quilomícrons e VLDLs pre- sentes na circulação sanguínea. Assim, a insulina é um hormônio anabólico, uma vez que promove a síntese de glicogênio, pro- teína e gorduras. Portanto, na ausência da sua pro- dução ou ação, as células desviam seu metabolismo para o catabolismo. O quadro de insuficiência de produção ou da ação da insulina é denominado de diabete mellitus e será descrito a seguir. i ã ,j '{ *l 129 .'....'.> lnibe ---"--> Estimulamffiil-est c'|i."* | eu-rr,n*J f oli* o ro"r"r"* Gli€gânio sintss lqb"s"6Pl <--_-...1f*""'"*l :^Frutos 1,6 diÍGÍatâs Gliaogênb ÍosloÍllâss :rutosel,odiPl tA*r**ütc"Al I Ptrwatoouinm -- ? ""4*";K V i acelil-tÍansÍeraso+iE;l I AGr-c"A I lpruarooeume,* ---T--ã*itin" ; aÉtil.tEnsteÍas8 I Pi.*" I tAcL-c""Íil] d , I .- 4 rinbil&, q - ü A@üt CoA Acido GÍm llqm;l cã;;;'t r"r",ilc"^l ïi;;"> f*ï.- t @ /t---i----V glicerot P ----'-\ I -ir"flrh,r"rtFc"A I \l GrbeÍorPqurna€ r--::--l ,rd,i"*\ I F l.,Y"..o*"il\l-M"""r"*" l---[ffi] fï,isri""íd;l OxalaceÍatoït_ \ Piuatofru.u **ï!0,"," t têcidos Díabetes mellitus O diabetes mellitus é a doença metabólica mais comum ern humanos e foi descrita há mais de 2.000 mil anos. O nome é derivado dos dois principais sintomas. O termo diabetes refere-se à poliúria (au- mento da frequência e do volume de micção) e à po- lidipsia (sede aumentada). O termo mellitus (mel) refere-se ao cheiro adocicado da urina referente à presença de glicose. O díabetes mellitus é uma alte- ração multissistêmica bastante complexa, caracte- rizada por deficiência absoluta ou relativa da secre- ção de insulina e/ou à resistência à ação da insulina em tecidos-alvo. É caracterizadâ por concentrações plasmáticas elevadas de glicose, a consequência metabólica imediata do diabetes, mas podem ocor- rer outras complicações que incluem danos aos va- sos sanguíneos, olhos, rins e sistemâ nervoso. Dois tipos de ciiabetes primário são descritos. O diabetes tipo 1 (insulinodependente) e o tipo 2 (não insulinodependente ou diabetes resistente à insu- lina). O diabetes tipo I ocorre devido à destruição das células betapancreáticas causando inabilidade na secreção de insulina. É mais comumente uma doen- ça autoimune, ou seja, o organismo não reconhece as células beta como sendo do próprio organismo e as destrói por meio de anticorpos e células brancas. Este tipo de diabetes normalmente se desenvolve an- tes dos 30 anos, apesar de poder ocorrer em qualquer idade. Sugere-se que a destruição pancreática ocorre quando inclivíduos geneticamente predispostos são submetidos a um evento desencadeador, como infec- ção viral, que induz à resposta destrutiva autoimune. O diabetes tipo 2 ocorre normalmente em pessoas com mais de 4.0 anos de idade e é a forma mais co- mum, representando de B0 a 93% dos pacientes
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