Buscar

Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Hollanda

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
*
*
Sérgio Buarque de Holanda
Raízes do Brasil
Brasílio Sallum Jr.
*
*
*
O Problema
Trata-se nele de entender o processo de transição sociopolítica vivio pela sociedade brasileira nos anos 1930 e depois, na década de 40.
Em Raízes do Brasil não se reconstrói a história da sociedade brasileira.
Haverá que tomar cautela com a interpretação que entende ser o objeto de Raízes do Brasil reconstruir a identidade nacional brasileira, aquilo que nos singularizaria como sociedade.
Nossa identidade não é apenas algo ainda em aberto. Para o nosso autor, a identidade brasileira era problemática - fraturada e ainda em devir.
*
*
*
Fronteiras da Europa
É na Europa e, particularmente, na Península Ibérica que Sérgio Buarque encontra o pilar central desta identidade em construção. Trata-se da particular concepção da natureza humana que portugueses e espanhóis compartilhavam antese ao longo do processo de colonização da América.
Essas concepções e forma de vida, comuns às sociedades ibéricas, surgiram ligadas a condições particulares da vida social.
No mundo Ibérico a cultura da personalidade associava-se a certa frouxidão da estrutura social, a uma fata de hierarquia organizada.
No entanto, a falta de rigor hierárquico na estrutura social não impedia que lhes fossem recusadas as honras “enquanto viverem de trabalhos mecânicos”.
*
*
*
Fronteiras da Europa
Três aspectos centrais das relações entre os homens resultam da concepção personalista de autonomia da pessoa.
 Dela resulta boa parte da fragilidade das ormas de associação baseadas em solidariedades livremente pactuadas.
 Ao exaltar o mérito pessoal frente aos privilégios herdados, o personalismo distingue-se do universo de pensamento inerente ao feudalismo de além Pireneus.
 As tendências anárquicas inerentes à exaltação da personalidade e às dificuldades de gestação de formas livremente pactuadas de organização social convertem os governos no único princípio organizador das sociedades ibéricas.
 Tão relevante é o personalismo para a construção de Raízes e de nossa identidade, que o capítulo se encerra enfatizando, contra a crença na singularidade brasileira radical.
*
*
*
Trabalho e Aventura
Aqui o foco passa a incidir sobre o processo de colonização dos trópicos.
Sérgio Buarque atribuirá oa parte do sucesso português às suas particulares inclinações de conduta, às “determinantes psicológicas” do seu movimento de expansão colonial.
Os tipos divergem seja no modo como hierquizam meios e fins, seja o tempo e o espaço, ou a parte e o todo.
Mesmo não existindo fora do mundo das idéias, os tipos permitem identificar as disposições de conduta predominantes nas sociedades.
O espírito de aventura teria sido característica da colonização portuguesa. O sucesso da colonização deveu-se, então, à sua ética aventureira, a algumas características culturais e à facilidade com que se adaptaram aos meios materiais e humanos que as condições naturais e hostóricas lhes ofereciam.
*
*
*
Herança Rural
O foco desloca-se para a ordem social na qual as concepções, valores e normas orientadoras das relações dos homens entre si e com o mundo material se encarnaram na América portuguesa.
Examina-se o legado do nosso passado colonial e seus desdobramentos até a abolição.
O centro de toda organização dos domínios rurais foi a família patriarcal, organizada segundo as normas do antigo direito roman-canônico que se mantiveram na península Ibérica.
Não parece exagero dizer que, para Sérgio Buarque, a família patriarcal foi o elo social através do qual a tradição personalista e aventureira herdada dos colonizadores portugueses se aclimatou entre nós e acabou por imprimir sua marca na sociedade como um todo.
Viria a valorização generalizada do exercício da inteligência por contraposição às atividades que requeiram algum esforço físico.
*
*
*
O semeador e o ladrilhador
O foco deixa de incidir sobre os padrões de organização social que davam vida às concepções, normas e valores conformadores da colonização.
Trata-se de sublinhar os traços específicos da colonização portuguesa, por oposição à espanhola. A dominação colonial de Portugal teria se adaptado ao máximo às oportunidades dadas pela natureza. A colonização espanhola seria essencialmente antinatural.
Predominou entre os portugueses o esforço de exploração comercial, de “feitorizar uma riqueza fácil e quase ao alcance da mão”.
*
*
*
O homem cordial
O foco está nas tensões entre as formas tradicionais de sociabilidade, centradas na família patriarcal, e os padrões de sociabilidade inerentes ao mundo moderno.
O centro das preocupações de Sérgio Buarque estava nas conseqüências do predomínio do patriarcalismo sobre o funcionamento das modernas instituições societárias, especialmente as atividades estatais. 
Segundo Buarque o indivíduo formado em ambiente dominado pelo patriarcalismo dificilmente conseguirá distinguir entre o domínio privado e o domínio público. Não é o Estado a potência que organiza a sociedade, mas é esta que submete o Estado. 
A conformação da vida societária em geral pelo molde derivado da vida rural e patriarcal produz no plano psicossocial aquilo que para Sérgio Buarque seria “a contribuição brasileira para a civilização”, a cordialidade. A cordialidade não tem nada a ver com a civilidade ou a polidez.
Buarque concentra suas preocupações nas dificuldades que o molde familiar e rural tende a colocar para a efetivação de uma vida social e política baseada em normas impessoais e democráticas.
*
*
*
Novos tempos
Tempos de independência política e de urbanização acelerada.
Mesmo no novo contexto histórico, as raízes personalistas, o espírito de aventura e a ordem patriarcal que os encarnava, continuaram produzindo efeitos sobre a vida social em geral, sobre as ocupações urbanas e a atividade intelectual.
Esta crença no poder milagroso das idéias é tomada como a chave para se entender o movimento positivista no Brasil.
Os movimentos intelectuais, assim, dissociam-se de qualquer atividade transformadora da realidade social; teriam, diversamente, uma função basicamente ornamental.
Essa função conservadora dos movimentos intelectuais era assimilada “em nossa adolescência econômica e social” mesmo por ideologias que no seu solo de origem europeu tiveram função crítica e transformadora da sociedade. 
Os movimentos intelectuais do Brasil independente não representaram formas de transformação mas de conservação social.
*
*
*
Nossa Revolução
Trata-se do deslocamento do centro de gravidade da vida social brasileira dos domínios rurais para os centros urbanos.
É exatamente a tensão entre as expressões políticas legadas pelo passado e as novas condições urbanas e industriais que costitui o tema central deste inal de Raízes.
É justamente o exame da “substância” das fórmulas institucionais que se apresentam como “saídas” para o descompasso entre sociedade e política que permite a Sérgio Buarque criticá-las agudamente.
Como se vê, não haveria solução simples para o descompasso entre sociedade e política. Haveria que ir mais fundo e mudar a própria substância política brasileira tradicional.
É que haveria certas características na formação nacional que favoreceriam o seu trânsito para uma forma verdadeiramente democrática de sociedade Forma que não haveria de ser artificial e imposta, mas teria que nascer organicamente das necessidades da sociedade brasileira em seu conjunto.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais