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Willian Robson Soares Lucindo - Historico Do Movimento Negro No Brasil

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1 
 
 
 
Capítulo 2 - Histórico do Movimento Negro no Brasil, luta e resistência da 
militância às Políticas de Ação Afirmativas, a Declaração de Durban até a 
Lei 10.639/03: a dívida social do Brasil com a população negra após o 13 de 
maio 
Willian Robson Soares Lucindo
1
 
 
AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES DE LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO DE 
COR NO BRASIL 
 
Atualmente, associações e organismos antirracistas se baseiam na unidade racial, 
inspirados nos projetos de identidade de organizações dos Estados Unidos no período de luta 
por direitos civis, nos movimentos Pan-africanistas e Negritude. Embora muito importante 
para formular a unificação de pessoas a partir da raça e questionar a mestiçagem no Brasil, as 
primeiras organizações das populações afrodescendentes contra o preconceito e a 
discriminação racial, que incorporava todas as pessoas de origem africana, iniciaram nos 
primeiros anos após a Abolição. 
Desde o final do século XIX é possível encontrar jornais e sociedades beneficentes de 
afrodescendentes, que buscaram criar uma rede de solidariedade entre ex-escravizados e 
descendentes e, assim, garantir a ascensão social, ter visibilidade e respeitabilidade. As 
irmandades, desde o período colonial, criaram salas de aulas, fundos de auxílio, eventos em 
homenagens às/aos santas/os padroeiras/os, conseguindo unir parte das populações de origem 
africana no Brasil. Mesmo não compreendendo que existia a luta e a identidade racial, essas 
associações podem ser consideradas como o início do Movimento Negro. 
As Irmandades e as sociedades beneficentes fundadas entre o final do século XIX e a 
década de 1930 não se organizavam a partir da noção de raça. Local de origem, tom de pele, 
ascendência, posição social foram usadas para demarcar seus/suas frequentadores/as. Deste 
modo, existiram irmandades de pretos e outras de mulatos, além da divisão por nações, mais 
comum na Bahia. Em Laguna, mulatos/as frequentavam a Sociedade Recreativa União 
 
1
 Mestrado em História do tempo presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) sob a 
orientação do Professor Doutor Norberto Dallabrida e coorientação do Professor Doutor Paulino de Jesus 
Francisco Cardoso, com a dissertação intitulada "Educação no pós-Abolição: um estudo sobre as propostas 
educacionais de afrodescendentes (São Paulo/1918-1931)". É professor da rede municipal de São Paulo, também 
é membro do grupo de pesquisa: "Experiências das populações de origem africana em Santa Catarina no pós-
abolição", desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro da Universidade do Estado de Santa Catarina 
(NEAB/UDESC). 
2 
 
 
 
Operária, enquanto pretos/as participavam do Clube Cruz e Souza, no início do século XX 
(ROSA, 2011). Em São Paulo, quem frequentava baile das sociedades se diferenciava dos 
demais pelas suas roupas e emprego, ficando conhecidos como “negros de baile”, além disso, 
em meados da década de 1910, nas festas do cordão Camisa Verde os “Negros da Glete”, não 
podiam participar, ou melhor, “eles ficavam espontaneamente do lado de fora, bebendo pelos 
botecos e garantindo a segurança”.2 
Os frequentadores de sociedades beneficentes e jornais de imprensa negra eram uma 
minoria das populações afrodescendentes, inseridas no mundo das elites brancas dirigentes e 
compartilhando seu valor positivista e também evolucionista das civilizações, valorizando, 
assim, “o modo como a elite branca organizava o mundo” (CARDOSO, 1993, p. 19). 
Algumas sociedades mantinham jornais, como o jornal Kosmos controlado por um 
grêmio de mesmo nome. A finalidade dessa manutenção era divulgar os eventos das 
associações, os acontecimentos dentro e fora da vida associativa, destacando as condutas dos 
associados, mesmo que de outras instituições. O jornal A Liberdade teve uma sessão dedicada 
a expor seu desgosto com a prática de pessoas que participavam desses espaços, e agiam 
contra tudo que era pregado nas sociedades beneficentes. Dizia que estava desgostoso “com 
Justino Costa, por andar na zona estragada de sapato sujo” (Jornal A Liberdade, 14 dez. 1919) 
ou “com a Isaura do Carmo, por ter arranjado um novo marido e a mulher deste não sabe” 
(Idem, 14 dez. 1919). 
Essas sessões foram classificadas como fofocas por Miriam Ferrara (1981) e por José 
Correia Leite, um jornalista da época. Ele indica que a prática de procurar os “podres” das 
pessoas era comum na imprensa negra, principalmente n‟O Alfinete, que “não dava 
alfinetadas no sentido político ou ideológico. Eram alfinetadas no sentido de corrigir a moral, 
denunciar pessoas que aparentemente tinham dignidade mas escorregavam” (CUTI, LEITE, 
1992, p. 33). A finalidade de divulgar esses escorregões era mais do que meramente fofocar, 
nos estatutos das principais sociedades beneficentes paulistanas do início do século XX a 
conduta inadequada era punida de diversas formas, desde advertência à expulsão do infrator. 
Assim, essas sessões podem ser vistas como um mecanismo de correção moral. 
“Denunciar qualquer acto prejudicial ao andamento, ao bom nome do centro” 
(Estatuto do Centro Recreativo Smart, 1910, p. 2), era um dever dos sócios do Centro 
 
2
 Depoimento de Dionísio Barbosa à BRITTO, Ieda Marques. Samba na cidade de São Paulo (1900-1930): um 
exercício de resistência cultural. São Paulo, FFLCH-USP, 1986, p.69. Negros da Glete eram moradoras/es pobres 
da parte baixa da alameda Glete do bairro operário da Barra Funda. Lá também existiu um time de futebol, São 
Geraldo, e seus jogadores ficaram conhecidos pela violência nos jogos. 
3 
 
 
 
Recreativo Smart. E, para ser admitido como associado do Grêmio Recreativo Dramático 
Kosmos era preciso atender a algumas exigências: “ser proposto por um sócio em gozo dos 
seus direitos sociais, por escripto e mencionado o nome, estado civil, profissão, residência”, 
ser maior de quinze anos e “ter bom comportamento moral e civil” (Estatuto Grêmio 
Dramático e Recreativo Kosmos, 1921, p. 1). 
No Centro Recreativo Dansante Defensor da Pátria, poderiam fazer parte do quadro 
associativo “todas as pessoas de ambos os sexos e de reconhecida idoneidade moral”; o 
estatuto reforça a condição moral entre os sócios contribuintes, afirmando que para se tornar 
um destes o candidato deveria ter “bom comportamento moral e civil” (Estatuto Grêmio 
Recreativo Dansante Defensores da Pátria, 1922, p. 1). Também não era permitida a entrada 
de pessoas de atos duvidosos nas festas, nem mesmo como convidadas. O Alfinete elogiou a 
“sempre Exma e gentil esposa [do presidente da Sociedade Chuveiro de Prata], ainda não 
mãe, [que] proibiu que ali [no Chuveiro de Prata] entrassem Magdalena Roza, Fulgência de 
Conceição, etc., que são pessoas que a moral manda que fiquem em casa” (Jornal O Alfinete, 
27 set., 1921). 
A vigilância também era feita por alguns membros das sociedades detentoras de 
cargos específicos para isso: eram eles os 1º e 2º fiscais ou os mestres-salas. Caso um sócio 
agisse de maneira inadequada, o fiscal do Kosmos ou do Smart deveria chamar a atenção dele 
por duas vezes em particular, na próxima suspendê-lo e comunicar o presidente, isto nas festas 
ou reuniões; maneira inadequada poderia ser comprometer uma dama antes que fosse dado 
sinal para iniciar a quadrilha, voltar do centro do salão desacompanhado das damas ou dos 
cavalheiros para as contradanças (Estatuto Grêmio Dramático e Recreativo Kosmos, 1921, p. 
4; e Estatuto do Centro Recreativo Smart, 1910, p. 11). Além disso, haviam atos impróprios 
que poderiam causar a eliminação, como frequentar qualquer atividade alcoolizado ouportando armas, ter “mau comportamento dentro ou fora das festas ou reuniões”, faltar com 
respeito a quem quer que fosse quando estivessem representando sua associação e 
desrespeitar qualquer sócio ou convidado, assim como desacatar qualquer membro da 
diretoria (Ibidem)
.
 
O policiamento aos associados tinha uma da dupla função nas sociedades recreativas: 
garantir a desmontagem das bases de discriminação e repressão das manifestações das 
populações afrodescendentes. Ou seja, as regras de conduta tentavam fazer com que os 
associados de sociedades beneficentes não se comportassem de forma imoral aos olhos das 
elites dirigentes e, assim, não poderiam discriminados por conta dos “vícios da raça”. Então, a 
4 
 
 
 
imposição de um governo das condutas era uma das formas de educação dos afrodescendentes 
que participavam da vida associativa e liam esses jornais, visando inculcar o respeito à ordem 
entre os afrodescendentes e, por consequência, conquistar o respeito dos demais setores da 
sociedade brasileira. 
Os jornais e as sociedades beneficentes de afrodescendentes das primeiras décadas do 
século XX criaram uma estrutura de comunicação entre si, que fazia com que se agisse 
através de um entendimento, também proporcionou uma ação comunicativa, que extrapolava 
as funções e conteúdo da comunicação cotidiana, imprimindo a vontade do grupo. Isto 
significa que construíram uma espécie de esfera pública letrada de afrodescendentes. 
A discriminação não era combatida somente através do governo de condutas, a esfera 
pública letrada de afrodescendente criou diversos espaços educativos. A criação de salas de 
leituras, bibliotecas, cursos de instrução, escolas foram algumas iniciativas dessas pessoas que 
tentavam retirar as populações afrodescendentes da condição subalterna na sociedade 
brasileira. Os avanços econômicos das colônias estrangeiras fez confirmar esse período 
histórico como momento de oportunidades, a ação, logo, tinha que se inspirar nas colônias 
estrangeiras, como é apontado em O Alfinete. 
É preciso que todos os homens de cor emitem os bellisimos exemplos das colônias 
estrangeiras, procurando mandar ensinar uma profissão para seus filhos ganharem a 
vida no futuro. 
(…) 
É preciso que os pretos tenham a aspiração de querer ser alguma coisa no futuro; 
para isso é preciso que todos tenham força de vontade, ensinando os nossos filhos o 
que os nossos Paes não pouderam apreender. 
Avante meus irmãos de cor, caminhae com o progresso da nossa capital. Mandae 
vossas filhas, para aprenderem costura, bordados e engomados; vossos filhos, depois 
que sahirem do grupo escolar, mandae aprender officio de sapateiro (trecho ilegível), 
mechanico encanador e typographo etc 
Só assim é que todos nossos irmãos de cor, deixarão de ser cosinheiros, copeiros e 
arrumadores de quarto.
3
 
 
Desta forma, as associações e os jornais passaram a se dedicar à construção de 
espaços escolares, que não fossem esvaziados pelos bailes e outras atividades recreativas, 
criticando também os usos que os associados faziam das suas instituições. O Alfinete de 1919 
dizia: 
Pensamos que as Sociedades, como ponto de reunião familiar, não devem ser 
formados unicamente para dançar; precisamos progredir, e para isso, precisamos 
[de] agremiações que possam sustentar uma escola, um bibliotheca, etc. Apezar das 
desilusões por que passou o articulista, quando a “Kosmos” inaugurou uma pequena 
bibliotheca teve de pedir o seu fechamento por falta de leitores, notando-se que os 
 
3 
MARTINS, José Benedicto. Os Pretos e o Progresso. O Alfinete, 3 set., 1918. 
5 
 
 
 
sócios e mesmo o Gremio não faziam despeza alguma com a manutenção da 
mesma.
4
 
 
Na continuação do artigo, o jornalista Frederico Souza pede que as sociedades 
beneficentes se unissem e tentassem inculcar em seus associados o “amor pelas cousas úteis”, 
pois não era “raro se encontrar grande numero de rapazes, que (infelizmente) exhibem 5 ou 6 
recibos de sociedades dançantes, e esquecem, (porque não possuem) um só de uma sociedade 
beneficente”. Desta forma, denunciava o esvaziamento das atividades beneficentes das 
sociedades, por causa dos próprios associados que preferiam as atividades lúdicas, nem as 
atividades dramáticas eram frequentadas, segundo o artigo. 
Um artigo do mesmo jornal, publicado um ano antes, talvez nos dê pistas para 
encontrar os motivos do esvaziamento das atividades beneficentes. Indicava que os 
afrodescendentes estavam “opprimidos de um lado pelas ideias escravocratas que de todo não 
desapareceram” e de “outro pela nefasta ignorância em que vegetam”.5 Florestan Fernandes e 
Roger Bastide entendiam que afrodescendentes, evitando as situações de discriminação racial, 
não entravam na escola e alguns lugares vistos como próprios das pessoas brancas 
(BASTIDE, FERNANDES, 2008).
 D
este modo, a dupla opressão apontada pelo jornal seria as 
duas faces da mesma moeda, o racismo. 
A opção em pagar mensalidades de sociedades dançantes e não contribuir com as 
ações beneficentes, era uma forma de se manter inserido na zona de conforto, entre as 
populações afrodescendentes, e longe do mundo das populações brancas, um espaço que teria 
que lidar com os conflitos raciais. Mas, a esfera pública letrada afrodescendente projetava 
táticas de superação desse problema, sendo a principal criar a coesão, como demonstra o final 
do artigo: 
se todos procurassem restringir este câncer que a corroe, nasceria a iniciativa, da 
iniciativa, nasceria a força da cohesão da cohesão, o ideal e do ideal a Victoria final, 
desse elemento que uma vez, conhecendo o seu papel na marcha da nossa 
civilisação, poderia ser um factor, muito mais importante da grandeza e prosperidade 
da nossa querida patria.
6
 
 
Assim, vivendo em um período em que “tudo se progride”, a vitória chegaria se a 
humildade fosse combatida e se as populações de origem africana estivessem apresentáveis, 
mas não só nas roupas e/ou nas condutas, era preciso ir além. Seria “preciso freqüentar 
escolas, propagar a boa imprensa, instituir sociedades Beneficentes, Educativas, Literárias, 
 
4
 SOUZA, Frederico Baptista de. Ilusão. O Alfinete, 9 mar., 1919. 
5
 OLIVEIRA. Para os Nossos Leitores. O Alfinete, 22 set. 1918, p. 1. 
6
 OLIVEIRA. Para os Nossos Leitores. O Alfinete, 22 set. 1918. p.1. 
6 
 
 
 
com reuniões intimas”, sem usar como desculpa a falta de recursos, pois a união faria com 
que os mais “destacados” ajudassem os mais carentes (Jornal O Clarim, 06 jan. 1924). 
Apesar de não se reconhecerem em termos raciais, quando se propuseram a debater os 
problemas sociais, sempre expuseram a existência da discriminação às populações 
consideradas oriundas da escravização, e para elas elaboraram discursos e ações em favor de 
sua ascensão econômica e reconhecimento de suas culturas. Por esses motivos, a esfera 
pública letrada de afrodescendentes do início do século XX é reconhecida como parte da 
história dos movimentos sociais negros, mesmo sem reconhecer e/ou rejeitar a ideologia da 
raça. 
A primeira grande manifestação antirracista pautada pela raça no Brasil foi a Frente 
Negra Brasileira, entre 1931 à 1937. Ela foi fundada em São Paulo por membros Centro 
Cívico Palmares, o qual foi criado para ser um lugar de debate em contraponto às sociedades 
beneficentes, que focavam mais no baile e nas recreações. Quando o Palmares não conseguiu 
se sustentar, ao tentar construir um salão para funcionar como escola para crianças 
afrodescendentes, Arlindo Veiga dos Santos e outros membros continuaram a se encontrarpara discutir a situação de pobreza em que viviam as populações de cor. O jornalista estava 
atento aos debates sobre a raça no mundo e foi um dos responsáveis pela mudança de postura 
nos jornais controlados por afrodescendentes, que incorporaram o termo negro para 
autodenominação no final da década de 1920. 
A FNB teve como veículo de comunicação o periódico A Voz da Raça, que além de 
denunciar a discriminação racial, trazia discurso de união e forjamento da raça brasileira, e 
não só raça negra. Baseado na experiência das outras associações paulistas cobrou de seu 
quadro associativo uma conduta que não fosse criticada por nenhum outro setor da sociedade. 
Conseguiu criar salas de aulas para crianças negras, manteve um grupo cênico e exaltou a 
importância das populações africanas escravizadas na construção da sociedade do nosso país, 
a fim de elevar a autoestima de seus/suas descendentes. 
Assim como os jornais anteriores, A Voz da Raça também lutava contra a apatia das 
populações negras, frente aos seus problemas e na busca pela elevação social. Porém, nas 
primeiras organizações acreditavam que a apatia se formava por estarem oprimidos, “de um 
lado pelas ideias escravocratas que de todo não desapareceram” e de “outro pela nefasta 
ignorância em que vegetam” (Jornal O Alfinete, set. 1918), enquanto para a Frente Negra era 
criada pelos “vícios da raça”. Para combater esses vícios intentaram diversas campanhas 
contra o alcoolismo, a desunião, a prostituição feminina. 
7 
 
 
 
Maria Angélica Maués (1991), ao analisar a trajetória do discurso racial, aponta que 
havia no discurso das lideranças das instituições da década de 1930 a assimilação da ideologia 
do branqueamento, ao se referirem como culpados pelos ditos “vícios da raça”. De fato as 
falas das lideranças eram carregadas de valores das elites brancas, isso também é encontrado 
nas ações dos membros das primeiras sociedades beneficentes, e buscavam incorporar esses 
valores ao restante das populações negras. Mas a assimilação também foi uma maneira de 
luta, uma vez que ao agirem da maneira dita correta desarmavam o discurso de que o 
problema estava nos modos como viviam. Assim escreviam no número 8 de A Voz da Raça: 
E havemos de vencer. Vencer ante a nós mesmos; vencer as paixões ruins que nos 
dominam; as qualidades más, o álcool, o samba desenfreado, o descrédito imerecido; 
vencer a incompreensão, a cobiça, o orgulho, o despeito que vem confirmar a 
lúgubre frase de Patrocínio - inimigo do negro é o próprio negro. 
 
Ao passo que acreditavam poder superar os “vícios da raça”, a FNB entendia que 
todos esses problemas ocorriam por conta da situação vivida e não por ordem biológica. O 
perigo está na fácil conclusão de que as populações negras têm uma predisposição a esses 
“vícios”. 
A FNB foi dissolvida no governo Vargas em 1937, o qual manteve poucas associações 
desse caráter abertas. Na verdade, o combate à discriminação racial era feito por associações 
que valorizavam a recreação e aspectos culturais, de forma pontual. A partir da década de 
1940 as associações de afrodescendentes voltaram a ter força, através de centros de culturas e 
humanitários, companhias de teatros e jornais. Sensíveis às críticas, procuraram não abrir 
conflito direto contra a discriminação (ANDREWS, 1998). 
 
O NOVO MOVIMENTO NEGRO 
 
Das diversas instituições de afrodescendentes criadas pós-Estado Novo destacaram-se: 
União dos Homens de Cor, Teatro Experimental do Negro, Centro de Cultura Negra, Cruzada 
Social e Cultural do Preto Brasileiro, Centro de Cultura Luiz Gama, Frente Negra Trabalhista; 
os jornais Alvorada, Niger, Novo Horizonte, Mundo Novo, A Tribuna Negra, Quilombo e a 
revista Senzala. Todas se preocuparam em debater e valorizar a cultura de origem africana, 
elevar a autoestima das populações afrodescendentes e cuidar da educação destas. Entretanto, 
aponta George Andrews, 
surgiu um grupo de afro-brasileiros mais jovens que tendiam a ser melhor instruídos 
que a maior parte dos brasileiros negros (ou brancos), politicamente conscientes e 
8 
 
 
 
profundamente perturbados em relação ao seu status de negros em uma sociedade 
racialmente estratificada (ANDREWS, 1998, p. 300). 
 
Estes jovens acreditavam que tudo que vinham fazendo não era o suficiente, 
entendiam que a discriminação continuava oprimindo e não importava o grau de instrução. 
Também estavam atentos aos movimentos internacionais da Negritude, Pan-africanismo e aos 
processos de libertação dos países africanos, além da luta por direitos civis nos Estados 
Unidos da América. 
Abdias Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN) e editava o 
periódico Quilombo, que se espalhou pelo país. Em 1950, o TEN organizou o I Congresso do 
Negro Brasileiro, em que foi recomendado o “estudo das reminiscências africanas no país 
bem como dos meios de remoção das dificuldades dos brasileiros de cor e a formação de 
Institutos de Pesquisas, públicos e particulares, com esse objetivo” (NASCIMENTO, 1968, p. 
293). Nascimento também questionava seus conteúdos, considerava o sistema educacional 
como instrumento para a manutenção da discriminação racial, que praticava a ostentação da 
Europa e dos Estados Unidos. 
Se a consciência é a memória e futuro, quando e onde está a memória africana, parte 
inalienável da consciência brasileira? Onde e quando a história da África, o 
desenvolvimento de suas culturas e civilizações, as características, do seu povo, 
foram ou são ensinadas nas escolas brasileiras? Quando há referência ao africano ou 
negro, é no sentido do afastamento e da alienação da identidade negra. Tampouco na 
universidade brasileira o mundo negro-africano tem acesso. O modelo europeu ou 
norte-americano se repete, e as populações afro-brasileiras são tangidas para longe 
do chão universitário como gado leproso. Falar em identidade negra numa 
universidade do país é o mesmo que provocar todas as iras do inferno, e constitui um 
difícil desafio aos raros universitários afro-brasileiros (NASCIMENTO, 1978, p. 
95). 
 
Desta forma, exigia mudança nos conteúdos da educação formal, não bastava entrar 
no sistema educacional. É importante lembrar que até o período Vargas, a iniciativa privada 
era responsável por grande parte das escolas, mesmo quando gratuita, por isso na esfera 
pública letrada de afrodescendente a preocupação em criar e adentrar em espaços de 
instruções. 
Por conta da ditadura militar de 1964, as organizações sociais tiveram um refluxo e, 
mesmo sem desaparecer, as associações de afrodescendentes tiveram problemas de atividades 
e de organizar protestos. No final da década de 1970 foi possível o surgimento de 
organizações políticas, inclusive o surgimento o Movimento Negro Unificado Contra a 
Discriminação Racial – que depois abreviou seu nome e até hoje é chamado de Movimento 
Negro Unificado ou MNU. 
9 
 
 
 
O surgimento do MNU estava combinado ao aniversário de 90 anos da Abolição da 
escravatura e dois fatos extremos de discriminação racial que ganharam destaque e se 
tornaram públicos. Em 28 de abril Robson Silveira, um jovem negro, foi morto enquanto 
estava sob a custódia policial, com sinais de tortura e sem nenhuma denúncia contra ele, e 
duas semanas depois quatro jovens negros foram expulsos do Clube de Regatas Tietê, onde 
jogavam vôlei. Durante os debates em comemoração ao 13 de maio de 1888, intelectuais, 
professoras/es, artistas e estudantes negras/os que frequentavam as associações culturais e 
cívicas apontaram para a necessidade de combater o racismo com outras armas, além da 
instrução e conscientização de negras/os. Era preciso pressionar as organizações públicas e 
privadasà “também combater e criar ações para expandir as oportunidades econômicas, 
educacionais, saúde e etc.” (ANDREWS, 1998, p. 302). 
Desta maneira, o discurso e as ações mudaram totalmente. Se antes as falas eram 
carregadas de valores das elites brancas, começaram a questioná-los, entendendo serem 
responsáveis pela discriminação. Portanto, não bastaria mais se educar, era preciso discutir a 
educação e como ela atuava (atua) no reforço das práticas discriminatórias. Em vez de 
somente dizer que as/os negras/os não buscam estudar, procuram saber o porquê disso e qual 
ação seguir para a eliminação desse problema. Ou seja, o “problema do negro” se torna o 
problema da sociedade brasileira. 
Durante o processo de redemocratização as entidades do Movimento Negro 
participaram de diversas discussões. Em 1986, houve a Convenção Nacional do Negro pela 
Constituinte. Nela os representantes desejavam que na educação fosse incluída a história do 
Negro no Brasil e da África, que também a propaganda de preconceitos de religião, de raça, 
cor ou classe fosse proibida. Ações estaduais e municipais também foram feitas, e alguns 
estados e cidades constituíram leis surgidas das reivindicações do Movimento Negro. 
 
MOVIMENTO NEGRO E AS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS 
Em 1995, durante a comemoração dos 300 anos de Zumbi dos Palmares, diversas 
organizações do Movimento Negro resolveram realizar uma grande marcha em Brasília 
denunciando a discriminação racial e os crimes e mobilizando a luta contra a desigualdade 
racial. Os milhares de manifestantes conseguiram uma declaração de Fernando Henrique 
Cardoso, então Presidente da República, concordando com a existência do racismo, seus 
males e o compromisso do governo brasileiro em combater toda e qualquer discriminação 
10 
 
 
 
racial. No ano seguinte foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da 
População Negra, responsável por pensar medidas de ações afirmativas que atacassem as 
desigualdades sofridas pelas populações negras. 
Entretanto, não foi a primeira vez que se discutiu políticas de ações afirmativas para 
as populações negras no Brasil. Em 1983, o então deputado federal Abdias do Nascimento 
apresentou o projeto de Lei 1332, que pretendia criar mecanismos de compensação à 
discriminação racial. Suas principais propostas eram reservas de vagas para mulheres negras e 
homens negros no serviço público, 20% para cada, além de incentivos à empresa privada que 
contribuísse com a erradicação do racismo e incorporação da história e cultura africana e afro-
brasileira nos livros didáticos, que as demonstrassem de forma positiva (SOARES, 
OLIVEIRA, 2012, p. 11-12). Tal projeto não foi aceito, assim como outros, feitos por ele, 
objetivando colocar em evidência a cultura e a história afro-brasileira, bem como a existência 
do racismo. 
Os projetos de Abdias Nascimento não foram aprovados porque negavam, 
consequentemente, a existência da democracia racial no Brasil, o que era impossível na época. 
A pressão de Organizações Não Governamentais do Movimento Negro e os fóruns 
internacionais sobre discriminação tornaram possível pôr fim à ideia de democracia racial e, 
assim, discutir o racismo, a desigualdade racial e todos os males causados por eles. 
Outra situação importante para discussão das relações raciais no Brasil foi a III 
Conferência Internacional contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada 
em Durban, África do Sul, em 2001. Antes do evento, houve encontros entre acadêmicos e 
militantes que elaboraram as diretrizes de discussão a serem levados pela comitiva brasileira – 
o Brasil foi representado por 41 delegados e 5 assessores técnicos –, também colocaram nos 
meios de comunicação a brutal desigualdade racial existente entre brancos e negros no Brasil. 
A Conferência de Durban foi fundamental para o debate de políticas de ações 
afirmativas no Brasil porque, mesmo com a declaração de reconhecimento da discriminação e 
da desigualdade racial por Fernando Henrique Cardoso, muitos setores do Poder Público se 
recusavam a elaborar propostas contra os males do racismo. O Ministério de Educação foi um 
dos mais resistentes, insistindo que a desigualdade racial no sistema escolar era um problema 
social e do mau funcionamento do ensino básico público. Para Antônio Sergio Guimarães, 
em Durban, o empenho pessoal do presidente levou a chancelaria brasileira a 
aposentar definitivamente a doutrina da „democracia racial‟, reconhecendo, em 
fórum internacional, as desigualdades raciais do país e se comprometendo a revertê-
las pela adoção de políticas afirmativas. Como consequência, depois de Durban, 
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vários segmentos da administração pública brasileira passaram a adotar cotas de 
emprego para negros, tais como os ministérios da Justiça e da Reforma Agrária. No 
entanto, no setor crucial, a educação, tudo que se logrou foi a criação de uma 
comissão de trabalho (GUIMARÃES, 2003, p. 255-256). 
A criação de reservas de vagas para pessoas negras é uma política de ação afirmativa, 
mas não é a única. Antes do Brasil, Estados Unidos, alguns países da Europa e da Ásia já 
utilizavam tais políticas para enfrentar problemas de intolerância e desigualdades causados 
por elas. Jacques d‟Adesky define ações afirmativas como um conjunto de experiências de 
correção de desigualdades oriundas de tensões raciais, étnicas ou religiosas, elas são formas 
de proteção de grupos em desvantagem social. A Índia foi onde se começou a usar as ações 
afirmativas, ainda no processo de emancipação colonial, passando pela Malásia, Holanda, 
Canadá, Inglaterra e França (GUIMARÃES, 2003). 
A experiência dos Estados Unidos é referência para a implementação do sistema 
brasileiro. Nos anos 1960, as instituições estatais norte-americanas, sob pressão do 
movimento de direitos civis, constituíram políticas de ação afirmativa, com destaque para a 
criação da Comissão Presidencial sobre Igualdade no Emprego e a decisão da Suprema Corte 
de proibir o uso de testes ou outros dispositivos para admissão que não se relacionassem ao 
desempenho de tarefas do ofício, em 1971. 
A proibição da Suprema Corte aconteceu no caso Griggs contra Duke Power 
Company. Para atender às políticas de igualdade de direitos, a companhia, que antes aceitava 
afro-americanos somente nos canteiros de obras, impôs teste de QI e diploma de segundo grau 
para a contratação de pessoas nas áreas fora do canteiro. Isso fez com que um número menor 
de pessoas negras fossem contratadas em comparação às brancas, além disso, o teste não era 
requisitado para os brancos e nem avaliava a competência em realizar as tarefas. Deste modo, 
para os juízes, a companhia realizava testes que não tinham a função de saber a capacidade 
dos candidatos, seja ao emprego ou promoção, mas sim discriminar afro-americanos. 
Para Ronald Walters, o ato da Suprema Corte colocou em questão não a intenção de 
discriminar, mas os efeitos dessas práticas sobre as vítimas. O autor ainda afirmar que a 
intenção em criar políticas de ação afirmativa é ajudar na formação de uma sociedade 
democrática, e “a medida em que os negros, no passado e no presente, são submetidos ao uso 
de critérios raciais em que decisões básicas para as suas vidas são tomadas por outras pessoas 
que não são eles mesmos, a promoção de igualdade exige um regime de melhoramento” 
(WALTERS, 1995, p. 131). 
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Existem muitas críticas às políticas de ações afirmativas, em especial o pensamento de 
que para garantir a democracia, deve-se dar chances iguais a todos/as e que caberia aos negros 
adquirir as habilidades necessárias à participação eficiente na ordem competitiva. Segundo 
Ronald Waltersexiste problema nessa argumentação. Em primeiro lugar, há uma lacuna 
construída historicamente entre brancos e negros de tal modo que os negros, muitas vezes, 
não são capazes de competir com os brancos. 
Em segundo lugar, mesmo nos espaços em que negros possuem as mesmas 
habilidades que os brancos, devido aos padrões injustos baseados na discriminação racial, os 
negros continuam impossibilitados de competir. E, por último, numa sociedade em que as 
formas de interação social são baseadas em círculos de convivência, como laços familiares, 
relações de amizade, entre outros, as oportunidades de empregos e negócios aparecem e são 
firmados nesses espaços. Como a desigualdade racial provoca uma separação significativa, a 
falta de acesso dos negros a essas interações sociais com os brancos, em termos de igualdade, 
lhes tem sido desvantajosa. 
Em nosso país, o problema, como diz Antônio Sérgio Guimarães é o fato do ideário 
antirracista de negação da existência de “raças”, fundiu-se rapidamente com uma política de 
negação do racismo como fenômeno social. Tal ideário, combinado com as duas ditaduras, 
engessaram a sociedade civil, contribuindo para a perpetuação de um silêncio criminoso sobre 
as múltiplas violências que atingiram de forma brutal as populações não brancas. Então, as 
raças no Brasil aparecem como produtos sociais, formas de identidade baseada numa ideia 
biológica errônea, mas eficaz socialmente para forjar, manter e reproduzir diferenças e 
privilégios (GUIMARÃES, 1999). 
Não por acaso, a primeira legislação antirracista, a famosa Lei Afonso Arinos, partia 
do pressuposto de que o Brasil não era uma sociedade racista. Sendo os poucos casos de 
agressão apenas manifestação de preconceito racial, atitude individual que tornada 
contravenção penal, um ato ilícito de pequena gravidade, que como tal, deveria receber uma 
punição branda. 
Desse modo, as iniciativas positivas no sentido de promover o desenvolvimento das 
populações negras são ainda muito tímidas. Outra dificuldade é a ausência de informações 
confiáveis que possam traçar em detalhe os aspectos das desigualdades no cotidiano. Nos 
últimos anos, o Movimento Negro e seus aliados antirracistas têm alcançado algumas vitórias 
importantes. O acesso ao ensino superior através do sistema de cotas, em universidades 
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públicas estaduais e federais, e por meio do Programa Universidade para Todos do Ministério 
da Educação (PROUNI), nas instituições privadas. 
Segundo informações publicadas no diário Valor Econômico, edição de 08.11.2011, 
com base nos Estudos do DATAPOPULAR, as mudanças sociais e econômicas produzidas na 
última década, fizeram com que a renda bruta dos negros chegasse em 673 bilhões de reais. 
Estes que correspondem hoje 51,7% da população, segundo a PNAD de 2009. Neste sentido, 
de acordo com Renato Meirelles, diretor do instituto, as políticas de ação afirmativa são 
fundamentais para agregar valor à renda dessas pessoas por meio do acesso à educação 
superior. 
Entretanto, outras políticas afirmativas foram as sanções das Leis 10.639 em 2003 e, a 
sua modificação, 11.645 em 2008, bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a 
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e 
Africana de 2004. Essas medidas foram criadas para lidar com os problemas na educação 
básica, grau de escolaridade em que existe uma grande taxa de evasão das populações não 
brancas. 
Militantes e pesquisadores preocupados com a saída prematura de estudantes, notaram 
que uma justificativa repetitiva era a falta da sensação de pertencimento aos valores da escola. 
Isso ocorre porque os conteúdos ensinados causam constrangimentos nos estudantes não 
brancos, associados somente a escravos, índios dizimados na colonização, pessoas 
preguiçosas, que não contribuíram positiva e intelectualmente para a sociedade brasileira 
atual. O ensino universalista eurocêntrico transforma as populações de origem africana e 
indígenas em meros penduricalhos na história do Brasil. 
As leis 10.639/03 e 11.645/08 e as Diretrizes exigem a mudança de foco dessa 
história. Garantem que as populações indígenas e de origem africana tenham espaço de 
estudo, a partir de dinâmicas próprias e expondo suas atuações enquanto sujeitos na formação 
do Brasil e do mundo. Atualmente livros didáticos reformularam seus conteúdos para se 
adequarem às leis, cursos de formação de professores são oferecidos por secretarias de 
educação e diversas linhas de financiamento são abertas para que as Leis sejam 
implementadas, sendo problema a formação inicial. Mesmo com diversos concursos criados 
para a disciplina de História da África nas universidades públicas, as leis não exigem que esta 
disciplina seja obrigatória no ensino superior. Acabam voltando-se mais ao ensino básico. 
 
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