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Temperamento de bezerros leiteiros submetidos a diferentes tipos de manejo - Freitas, 2012.

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67
Universidade Estadual Paulista “Júlio de mesquita filho” 
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
Campus de Jaboticabal
temperamento de bezerros leiteiros mantidos em Dois diferentes tipos de manejo 
NATHASHA RADMILA FREITAS
 
Jaboticabal- SP
2º Semestre/2012
Universidade Estadual Paulista “Júlio de mesquita filho” 
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
Campus de Jaboticabal
temperamento de bezerros leiteiros mantidos em Dois diferentes tipos de manejo 
NATHASHA RADMILA FREITAS
 
Orientador: Prof. Dr. Mateus José R. Paranhos da Costa 
Co-orientadoras: MSc. Aline Cristina Sant`Anna e 
MSc. Lívia Carolina Magalhães Silva
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências e Veterinárias – UNESP, Campus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. 
Jaboticabal- SP
2º Semestre/2012
Dedico
Aos meus avós Elza Assumpção Penteado Freitas e David de Andrade Freitas, In Memorian. 
Vô David, obrigada pela companhia na infância, por todo pão de queijo e por fazer questão sempre do melhor e de que buscá-lo vale a pena.. Nem que fosse uma pizza de Catupiry. 
Vó Elza, obrigada pela sabedoria, pela amizade, pela coragem...enfim, por ter sido tudo que a senhora foi, a frente de seu tempo e do meu tambémSempre estarão presentes na minha vida e, se houver algo depois desta, gostaria de saber o que acharam desse trabalho quando nos encontrarmos novamente.
Ofereço
 David José Penteado de Andrade Freitas, e Maria Regina dos Santos Freitas, vulgo Pais, ofereço esse trabalho à vocês, afinal, os créditos dele pertecem a nós três. 
Amo vocês!
Agradecimentos.
Para começar, à Deus e a todo e qualquer espírito/ser superior/força que tenha contribuído com a minha vida até hoje, especialmente com a jornada dos últimos 5 anos.
Aos meus pais (novamente), pois não importa o quanto eu agradeça nunca será o suficiente. 
Agradeço aos autores dos roteiros e às equipes por trás de filmes como “O Rei Leão”, “Pocahontas”, “Bambi”, desenhos como “Animais do Bosque dos Vinténs” ou de milhares de documentários sobre vida selvagem. Tenho certeza que toda a ideia de trabalhar com animais que me trouxe para a Biologia e que principalmente que me manteve nela até chegar neste momento surgiu por influência de obras assim. 
A todos os meus amigos, de maneira geral, pelos momentos de diversão, pânico coletivo, brigas e entendimentos, compreensão, conselhos dados e recebidos que me fizeram ser uma pessoa infinitamente melhor e talvez o melhor tipo que eu poderia nessa altura da vida. 
Aos de SP e outros
Ágata e Thaís, colegas de Hora do Almoço, Carine, irmã caçula, Annie e Rodrigo não tem nada que eu possa escrever aqui que vocês já não saibam sobre o quanto são importantes. MUITO obrigada a cada um de vocês por aguentarem toda choradeira de querer largar a faculdade e até pelo momento em que a paciência de alguns acabou. Sem o apoio, o chacoalhão de vocês nas horas certas, decisões estúpidas certamente seriam tomadas! 
Pâmela, Cau, Eduardo, Ju Luthien e Rafa e tantos outros, obrigada pelos ótimos momentos!
Aos avulsos de Jabuka,
Lala Miúsa e Micela amigas e companheiras de república, vocês estão entre as pessoas mais legais que conheci nessa cidade. Espero que minha amizade com vocês durem muito além da faculdade. Também são muito importantes!
K-mélia, companheira de SdA; obrigada pela ajuda e amizade nesses anos de faculdade e nos demais!
Nan, Parpiteira, Lucília, Mari, Quel, vocês além de serem pessoas com quem tive a sorte de morar tornaram-se muito queridas! Obrigada pela convivência e por todos os bons momentos.
Marcelinha, companheira de rock e de balada, obrigada por toda diversão, pelo grito de guerra e por toooooooodas as horas de terapia.
À todos com quem fiz amizade e convivi no Cursinho Ativo, entre alunos e professores, com destaque para Puxa, Pudendo, as secretárias Nick, Bruna e Mô, o companheiro de aulas Milianti, entre MUITOS outros que agradeço por tudo. Esse lugar foi praticamente minha família durante os últimos anos, me dando os melhores amigos, momentos e pedaços de pizza do mundo.
À Comissão da X JABU – 2011: Muralha, Frozen, Cotuba, Melamina, Baiana, Xiliguidum, Ismégma, Lumbriga e Fungo(leitor) meu eterno agradecimento por terem feito a melhor JABU de todos os tempos, pela diversão e trabalho duro recompensados com todo chopp e almoços no Mamma Mia que podíamos ganhar! Sério foi muito divertido conviver com todos vocês (e até querer matá-los algumas vezes). Faria isso de novo e mais vezes! 
À Bio 08, conhecida como a mais bizarra da gloriosa FCAV-UNESP, por ter tido a honra de dividir meus anos de faculdade e minha formação de Bióóóóóóóóloga com todos vocês. Tentei fazer alguns agradecimentos específicos, mas não tem como não incluir quase todos. Basta relembrar que todos somos um que todas as piadas, momentos engraçados, bicicletas humanas, xispadas, surras-de-bunda, vegetarianos, seminários criativos, discussão que nunca chegava a um ponto final, lanhouse e etc vem à mente. Obrigada por me receberem, por me aguentarem nos piores momentos e por se divertirem comigo nos meus melhores.
Ao meu orientador Prof. Mateus J. R. Paranhos da Costa pelas aulas de Etologia, pelas indicações e por me receber no seu grupo de pesquisa como orientada e por todas as oportunidades que me deu desde então.
Às minhas coorientadoras Lívia e Aline por toooda paciência, apoio, orientações dadas pela internet, terapia em grupo na FAI e por toda ajuda na vida profissional, pessoal e com este projeto.
Aos membros e estagiários do grupo ETCO pelas oportunidades de conviver com profissionais incríveis, aprender coisas sobre comportamento animal e vencer preconceitos. Em especial para Luciana e Maria Fernanda que estiveram junto comigo desde o começo, seja na hora de manejar os bezerros, seja na hora de assistir seriados de terror; Mariana que virou uma ótima companheira de trabalho, Tiago por toda ajuda com as coletas e na banca! MUITO obrigada a todos vocês!
Agradeço também à Profª Luciandra por ter aceito compor a banca deste trabalho, contribuindo para sua melhora e por ter sido compreensiva com todos ‘problemas técnicos’ que ocorreram. 
Também agradeço a todos os funcionários da UNESP que me ajudaram, seja em com auxilio aluguel, indicação para projetos e orientações: Fernanda, Rita, Wirso, Monica, Fieno e Profª Maria Cristina Tomas.
Aos meus companheiros fundadores do Centro Acadêmico Alfred Russel Wallace, essa vitória que me ensinou muito sobre determinação, valor do trabalho em grupo, importância política e sobre objetivos e sonhos se tornando realidade: Bigola, A-mostra, Parlito, Pudendo, Dou-rada, Philco, Jujubinha, Dou-méstica, Power... e a todos os bixos que continuam mantendo os ideais que tínhamos quando o CA surgiu!
Por fim, ao meu namorado Edson, por todo apoio, companhia, momentos bons, ajuda de todas as formas possíveis. Ed, você foi uma das melhores pessoas que eu já conheci e uma das melhores coisas que me aconteceu durante a faculdade, espero que seja assim sempre. Amo você!
“(…). I see pictures. Some of these pictures have a common flavor, almost a common smell, which groups them together. Keep quiet and watch and they will begin joining themselves up. (…)I have no idea whether this is the usual way of writing stories, still less whether it is the best. It is the only one I know: images always come first. (...)”
C.S. Lewis
~.~
“Contos de fada são a pura verdade: não porque nos contam que os dragões existem, mas porque nos contam que eles podem ser vencidos.”
C. K. Chesterton
IV
Sumário
	temperamento de bezerros leiteiros mantidos em 
Dois diferentes tipos de manejo
 RESUMO........................................................................................................
	
	
	13
	temperament of dairy calves kept in two typesof handling 
 abstract....................................................................................................
	
14
	
	
	introdução.........................................................................................
	15
	objetivos..............................................................................................
	22
	revisão bibliográfica................................................................
O TEMPERAMENTO E O BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO ANIMAL ..................................................................................................
O TEMPERAMENTO NA BOVINOCULTURA LEITEIRA...........................................................................................
MEDIDAS UTILIZADAS NA AVALIAÇÃO DO TEMPERAMENTO...................................................................................
	23
	
	24
	
	27
	
	31
	Materiais e métodos....................................................................
Animais e sistemas de criação.....................................
AVALIAÇÃO DO TEMPERAMENTO.......................................
Análise Estatística............................................................
	34
	
	34
	
	37
	
	43
	resultados.........................................................................................
EFEITO DOS MANEJOS NOS INDICADORES DE TEMPERAMENTO...................................................................................
ASSOCIAÇÃO ENTRE AS DIFERENTES MEDIDAS DE TEMPERAMENTO...................................................................................
	45
	
	
	
	45
	
	
47
	
	
	discussão..............................................................................................
	50
	conclusão e considerações finais.....................................
	52
	8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................
	54
	ANEXO I.........................................................................................................
	60
	ANEXO II........................................................................................................
	61
	ANEXO III......................................................................................................
	62
Lista de Figuras
	FIGURA 1. Bezerros do manejo convencional alojados em casinha tropical..............................................................................................................
	
35
	FIGURA 2. Bezerro do manejo racional durante o aleitamento........................................................................................................
	
37
	FIGURA 3. Esquema ilustrativo do curral de testes em que foi realizado
o experimento, com áreas de cada teste definidas.............................................
	
39
	FIGURA 4. Bezerro na saída do corredor em que foi realizado o teste de velocidade de fuga observando a bola utilizada no teste de novo objeto..........
	
43
	FIGURA 5. Bezerro interagindo com o novo objeto. Os escores individuais foram: Eap = 1, Eaç=1 e índice=2, considerado de melhor temperamento no teste de novo objeto...........................................................................................
	
43
	FIGURA 6. Frequências dos escores obtidos no teste de novo objeto em função do tipo de manejo............................................................................
	
46
	FIGURA 7. Frequências dos escores obtidos no escore de tronco em função do tipo de manejo..............................................................................................
	
47
Lista de tabelas
	Tabela 1. Quadro com categorias comportamentais e variáveis avaliadas durante o teste de novo objeto...........................................................................
	
42
	TABELA 2. Coeficientes de VF e DF de cada manejo comparados através do teste t.......................................................................................................
	
46
	TABELA 3. Média, Desvio-padrão e valores mínimo e máximo para VF e DF em função da avaliação...............................................................................
	
47
	TABELA 4. Coeficientes da correlação de Pearson e respectivos valores de P entre todos os indicadores de temperamento avaliados......................................................................................................
	
48
.	
resumo	
temperamento de bezerros leiteiros mantidos em Dois diferentes tipos de manejo 
O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito de dois diferentes tipos de manejo durante a fase de aleitamento no temperamento de bezerros leiteiros desmamados e estudar a associação entre diferentes tipos de indicadores utilizados na avaliação do temperamento dos bezerros. Os dois manejos avaliados foram: manejo convencional (MC) e manejo racional (MR). Como indicadores do temperamento foram utilizados escore de tronco, distância de fuga, teste de novo objeto e velocidade de fuga. Os dados foram analisados através do teste t para medidas contínuas, teste de qui-quadrado para o TNO e a associação entre as medidas através da correlação de Pearson. Os diferentes indicadores do temperamento não foram correlacionados entre si (P > 0,05), indicando que estes avaliam diferentes aspectos do temperamento dos bezerros. Não houve diferença significativa em VF (MR = 0,78 ± 0,29 e MC = 0,61 ± 0,19 , t = -1.69, P > 0,05), em DF (MR= 1,75 ± 0,81 e MC = 1,87 ± 0,81, t = 0,45, P > 0,05) e em TNO (X2 = 4,58, P = 0,33) para os dois diferentes tipos de manejo Concluiu-se que o manejo não influencia a expressão do temperamento, que ET não é uma medida adequada para avaliar o temperamento de bezerros leiteiros Holandeses e que todos os indicadores avaliados são independentes, portanto recomendando-se o uso deles em conjunto para avaliação do temperamento.
Palavras-chave: manejo; relação humano-animal; bem-estar animal.
abstract
temperament of dairy calves kept in two types of handling. 
The aim of this study were to evaluate the effect of two different types of handling during the weaning period in dairy calves weaned temperament and to study the association between different types of indicators used to assess the temperament. The two handlings were: conventional handling (MC) and rational handling (MR). Four indicators of temperament were used: crush score (ET), flight distance (DF), novel object test (TNO) and flight speed (VF). The data were analyzed using the t test for continuous measures, chi-square to the TNO measures and the association between measures by Pearson coefficient of correlation. The different indicators of temperament were not correlated (P> 0.05), indicating that they assess different aspects of calves temperament. There was no significant difference in VF (MR = 0,78 ± 0,29= and MC = 0,61 ± 0,19, t = -1.69, P> 0.05), in DF (MR = 1,75 ± 0,81 and MC =1,87 ± 0,81, t = 0,45, P> 0.05).and in TNO for the two different types of handling (X2 = 4,58, P = 0,33). It was concluded that the handling does not influence the expression of temperament, that ET is not a good measure to assess the temperament of Holstein dairy calves and all evaluated indicators are independent, so it is recommended to use them together in other evaluations. 
Keywords: handling; human-animal relationship; animal welfare.
XII
introdução
 O temperamento e a personalidade têm sido objeto de diversos estudos dentro da psicologia e da etologia desde a década de 50. No estudo com animais tanto de espécies selvagens quanto domésticas, esses dois termos podem ser empregados como sinônimos (GOSLING e JOHN, 1999). Na produção animal a definição mais adotada afirma que o temperamento é o conjunto de respostas comportamentais em relação ao homem, principalmente atribuídas ao medo. Este conceito elaborado por FORDYCE et al (1982) é utilizado por boa parte dospesquisadores que trabalham com animais de produção, como BARBOSA-SILVEIRA et al (2007) e PEIXOTO et al (2011), pois tais respostas comportamentais afetam de modo importante a relação entre o homem e os animais domésticos. Por esse caráter prático, pode-se dizer que esta é uma definição operacional, mas o temperamento não se limita apenas a respostas provenientes do medo. 
Entre as definições mais abrangentes do temperamento, a que GIBBONS et al (2011) utilizaram em seu trabalho considera que existem tendências individuais na expressão de determinadas respostas comportamentais que são constantes ao longo do tempo. Estas tendências podem ser exemplificadas por reações inatas a desafios ambientais. Considerou-se a definição de GIBBONS et al. (2011) do temperamento está mais adequada para o presente estudo, pois respostas atribuídas a emoções além do medo também foram avaliadas.
Na criação de bezerros leiteiros há uma série de desafios ambientais com os quais os animais devem interagir, e entre os mais importantes estão as condições de manejo e a relação homem-animal. Como a formação do temperamento se origina da interação entre as características genéticas herdadas pelos indivíduos em conjunto com as experiências ao longo da vida, pode-se aproveitar o período da infância em que os bezerros estão mais sensíveis ao efeito do ambiente (entre o nascimento e o terceiro mês de idade) para formar vínculos positivos entre os animais e o homem. Com isto pode-se atenuar traços de temperamento ruins e evitar respostas inadequadas em relação ao homem que sejam atribuídas a este traço. Por exemplo: animal medroso pode se tornar reativo ao tratador se não tiver contatos positivos com o homem (BURROW, 1997). Outra estratégia para reduzir a reatividade de bovinos ao manejo é o uso de técnicas de condicionamento ou de habituação (Becker e Lobato, 1997).
Animais com tendência a manifestar comportamentos indesejáveis como agressividade ou medo dos trabalhadores ou aos procedimentos de rotina causam perdas econômicas ao produtor, como menor produção de leite ou gastos com medicamentos decorrentes de acidentes. (BOISSY e BOUISSEAU, 1988; BOIVIN, 1992; HEMSWORTH et al, 1993; BREUER et al, 2003; ROSA, 2005)
Dentro da criação de bezerros leiteiros também é importante considerar que o bem-estar dos animais tem ganhado importância porque beneficia tanto os animais, por aumentar sua qualidade de vida, quanto o produtor, que vende mais ao satisfazer a demanda por produtos obtidos em fazendas que empreguem este conceito. Bovinos com melhor nível de bem-estar apresentam maior produção de leite e tem menor índice de agressividade, diminuindo acidentes entre animais e trabalhadores e os gastos oriundos destes (HÖTZEL et al, 2006). Para avaliar o nível de bem-estar dos animais de qualquer fazenda é necessário considerar as condições de cada local, como infraestrutura, tipo de gado, recursos financeiros disponíveis entre outros. Com isso, o temperamento pode ser usado como ferramenta para avaliar individualmente o bem-estar dos animais, permitindo fazer os ajustes mais adequados (MANTECA e DEAG, 1993). 
Os efeitos da relação entre tratador-bezerro são importantes na criação de bovinos tanto para a aptidão de carne quanto de leite. A adoção de sistemas de manejo que estimulem um relacionamento positivo entre os animais e seus tratadores causa melhora na produtividade das fazendas, muitas vezes sem despender um custo tão elevado quanto investimento em construção ou reforma de currais ou outras adaptações estruturais.
Podemos considerar como exemplo a tendência de se intensificar a produção leiteira, utilizando ordenhadeiras mecanizadas e outros equipamentos. Isto pode reduzir as interações entre o tratador e os animais e aumentar a quantidade de animais por retireiro. É possível minimizar a reatividade das vacas nessa condição se os trabalhadores interagirem de modo positivo com elas, como ao estabelecer contato visual ou chamá-las pelo nome. (BOIVIN et al, 1995b; ROSA, 2005). 
Outro exemplo da importância destas relações é a pesquisa em que BREUER et al (2003) concluíram que novilhas não lactantes têm seu comportamento em relação a humanos alterado de acordo com o estímulo recebido, podendo generalizar essa associação com vários seres humanos.
Além das interações propriamente ditas, outros fatores ambientais como o status social entre coespecíficos, a resposta inata a novidades (ambiente ou elementos novos em seu ambiente), entre outros são elementos que podem afetar a relação tratador-bovino. 
Em um estudo com novilhas da raça Holandesa avaliando o efeito da escovação durante o aleitamento, observou-se que as estimuladas respondiam melhor que os animais sem estímulo não apenas em relação ao homem, mas também suas respostas a situações novas, como a exploração de um local desconhecido. A partir disso os autores consideraram que os efeitos da escovação influenciariam quaisquer estímulos que pudessem causar aversão, atenuando o medo nos animais de maneira geral (BOISSY e BOUISSEAU, 1988). 
Se a estimulação durante esta fase realmente interfere em mais de um aspecto do temperamento, a adoção de melhores condições nas instalações e de maior proximidade com o homem pode interferir de maneira mais profunda na expressão dos traços de temperamento do que a assimilação através da habituação. Pode ser possível tornar o animal mais dócil apresentando melhor temperamento em situações estressantes, como a vacinação.
Quanto à relevância das interações sociais com coespecíficos GRIGNARD et al (2000) afirma que bezerros leiteiros agrupados em duplas apresentam um melhor escore de docilidade do que aqueles mantidos individualmente. Isso pode indicar que há melhora no nível de bem-estar dos animais.
Porém o estudo de LENSINK et al. (2001) não concorda com GRIGNARD et al (2000) quanto à maior docilidade dos bezerros. Este trabalho avaliou as respostas de bezerros machos da raça Ayrshire Finlandês frente ao homem em relação a dois estímulos. Um foi a adoção de dois diferentes tipos de alojamento: individual e em baias coletivas com dois indivíduos por baia. O outro foi a reação dos animais à pessoas não familiares, sendo considerado o efeito de maior ou menor contato com o tratador, ficando distribuídos em: alojamento individual com maior contato, com menos contato e alojamento em pares com maior contato e menor contato. Mesmo que todos os animais com contato adicional tenham respondido com maior frequência de interações (P= 0.04) e menos respostas de medo aos tratadores (P= 0.01), os animais mantidos em duplas não apresentaram melhor docilidade, pois demoraram mais para interagir com o homem e requereram mais esforço das pessoas não familiares para serem tocados para suas baias e para o caminhão de transporte. 
Com isso podemos inferir que não é tudo o que pode melhorar o bem-estar dos animais que irá facilitar o manejo ou melhorar a expressão do temperamento dos mesmos. Logo é necessário adotar medidas que equilibrem esses dois fatores.
Entre os diferentes tipos de manejo aplicados na criação de bezerros que tentam manter esse equilíbrio, no Brasil o manejo que é mais adotado é o uso da casinha tropical (EMBRAPA, 1994). Os animais ficam em uma casinha individual,alimentação e aleitamento também individualizados, cujas vantagens incluem o controle maior sobre ingestão de alimento e água e baixo índice de mortalidade por problemas digestivos ou problemas respiratórios. Entre as desvantagens, o acondicionamento individual entra em conflito com o aspecto altamente gregário da espécie, afetando o desenvolvimento fisiológico e cognitivo dos indivíduos e também diminuindo o nível de bem-estar (PERES, 2000; MAGALHÃES-SILVA, 2007).
Visando o aumento do nível de bem-estar durante a criação de bezerros, o estudo de MAGALHÃES-SILVA (2007) propõe a adoção de um sistema de criação que privilegie o bem-estar. Este sistema é chamado de manejo racional, onde a criação é em grupo, os animais tem acesso à piquete durante o dia e ficam no curral durantea noite, o coxo de alimentação e água é compartilhado e o aleitamento é individual, feito através de baldes com bico e com o tratador escovando nos bezerro, para imitar o comportamento da mãe. Os resultados mostram que os bezerros tiveram melhora em seu nível de bem-estar, em seu comportamento e no próprio manejo.
Quanto às metodologias empregadas para estudar o temperamento, a utilização de avaliações quantitativas é considerada a mais adequada por permitir quantificar com precisão o aspecto estudado (PEIXOTO et al, 2011). Dentre esses métodos, a distância de fuga e a velocidade de fuga têm se mostrado medidas com boa confiabilidade tanto para bovinos de corte quanto leiteiros (BARBOSA-SILVEIRA et al, 2007; GIBBONS et al, 2009; GIBBONS et al, 2011;).
Também são realizadas avaliações categóricas ao medir variáveis categóricas quando se quer investigar quais comportamentos são expressos em determinadas circunstâncias. Entre estas medidas é muito utilizada a atribuição de escores de diversos tipos a partir da avaliação de um observador treinado. Um exemplo é o escore de reatividade no tronco de contenção (GRANDIN, 1993). Este é um método adequado para avaliação de bovinos de corte, podendo ser utilizado dentro da rotina das fazendas (GIBBONS et al, 2009). 
Outra medida de temperamento é o teste de novo objeto, que possui diversas adaptações. O ponto principal nessa metodologia é avaliar quais reações serão expressas pelo animal diante de um objeto desconhecido (MANTECA e DEAG, 1993). Podem-se utilizar bolas coloridas, guarda-chuvas ou até cones como objeto em questão e a distância pode ser medida através da delimitação de áreas ou quadrantes. 
Considerando válido investigar entre diferentes medidas de temperamento utilizadas em gado de corte quais seriam bons indicadores para bovinos leiteiros e também avaliar se o manejo dos animais afeta na expressão do comportamento, este trabalhou utilizou quatro testes de temperamento para avaliar as respostas de bezerros leiteiros em função do seu manejo.
Para isso foram testadas as hipóteses de que os diferentes tipos de manejo durante o período de aleitamento de bezerros afetam a expressão do temperamento nesses indivíduos e de que os diferentes testes estão associados entre si e responderão de forma semelhante em função do tratamento. 
16
OBJETIVOS
Os objetivos com este trabalho foram:
Avaliar se o tipo de manejo adotado na fase de aleitamento tem efeito na resposta do temperamento de bezerros leiteiros após a desmama e, 
 Estudar se existe associação entre os indicadores utilizados para avaliar o temperamento dos bezerros.
3. revisão bibliográfica 
3.1. O TEMPERAMENTO E O BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO ANIMAL 
Não há um consenso entre a diferenciação dos termos temperamento de personalidade, já que alguns trabalhos utilizam ambos como sinônimos (GOSLING, 2001). Por outro lado, ROTHBARTH et al (2000) consideram que a personalidade em pessoas adultas é resultado do temperamento em conjunto com as experiências individuais ao longo da vida. Em sua revisão, GOSLING e JOHN (1999) afirma que alguns estudos utilizam o termo “personalidade” para se referir às respostas comportamentais características de indivíduos de outras espécies e enfatiza que há
aspectos descritos da personalidade humana que são compartilhados com estas, como a capacidade de raciocínio em cães ou a consciência individual em chimpanzés. 
As pesquisas sobre o temperamento em animais abordam desde o impacto do mesmo para um indivíduo dentro do contexto social da espécie até como um animal com determinado temperamento reage a diferentes tipos de ambiente. Além de animais de companhia como gatos (TURNER et al, 1986) e espécies selvagens como chimpanzés (DUTTON et al, 1997), hienas (GOSLING, 1998) e leopardos da neve (GARTNER & POWELL, 2011), os animais de produção também têm sido objeto de grande interesse nesse campo (Burrow, 1997). 
Provavelmente este interesse vem do fato que estudos sobre as diferenças individuais no comportamento em animais de produção têm se apresentado como um meio de avaliar os diversos fatores que interferem nas condições de bem-estar dentro de sistemas de criação (MANTECA e DEAG, 1993). É valido ressaltar que o temperamento tem importante influência de caracteres genéticos herdáveis, mas também perante as experiências e ao aprendizado. (PETHERICK et al, 2002)
O bem-estar de um individuo é o seu estado durante as suas tentativas para se ajustar ao ambiente (BROOM, 1986a). Dependendo das adaptações realizadas e do sucesso obtido, podemos compreender se o nível de bem-estar do individuo está “bom ou ruim”. Conhecimentos sobre as necessidades biológicas de uma espécie fornecem as informações necessárias sobre as condições que levariam a um nível de bem-estar ótimo. O temperamento pode ser utilizado nesse processo de avaliação já que a sua expressão é influenciada pelas condições de manejo as quais o animal é exposto (CORREA e BIZINOTO, 2010). 
Na produção animal muitos pesquisadores consideram adequada para o estudo do temperamento a definição de Fordyce et al (1982), segundo os quais é o conjunto de respostas comportamentais em relação ao homem geradas a partir do medo. A adoção desta definição é explicada, em grande parte, pela importância da interação homem-animal dentro dos diversos sistemas de criação e a forma como as reações de estresse e agressividade em relação ao homem influenciam a produtividade e as condições de saúde e bem-estar dos trabalhadores e dos animais. .
Porém o temperamento não influencia somente as respostas comportamentais originadas pelo medo. Segundo REÁLE et al (2000) o temperamento inclui outros traços fenotípicos, cujas respostas se manifestam de acordo com a circunstância em que o animal está. Portanto, convém utilizar uma definição mais abrangente se o traço investigado ou o contexto da avaliação requererem. Assim como que GIBBONS et al (2003) consideraram em seu trabalho com vacas da raça Holandês, ao considerar o temperamento como um traço individual que tende a ser estável ao longo do tempo. 
Neste contexto, o bem-estar ganhou força a partir das exigências do mercado consumidor para produtos de origem animal. Isto agregou valor econômico ao conceito, levando produtores que lidam com várias espécies domesticadas a adequar seus sistemas produtivos para atender a demanda. 
Além disto, criadores que priorizam o bem-estar de seus animais, adotando medidas conhecidas como “boas práticas de manejo” obtendo produtos finais com maior qualidade e menores prejuízos, por exemplo, com medicamentos ou trabalhadores feridos por animais assustados ou agressivos, aumentando o ganho da propriedade em longo prazo. 
Nesse cenário também há a vantagem de que a qualidade do serviço e o bem-estar dos próprios trabalhadores tende a melhorar (HÖTZEL et al, 2005; MAGALHÃES-SILVA, 2007). 
 Para a criação de bezerros leiteiros, no Brasil o manejo que é mais adotado é o uso da casinha tropical (EMBRAPA, 1994). Os animais ficam em uma casinha individual, constituída por uma estrutura de madeira aberta nas laterais e com teto de zinco para isolamento térmico e proteção dos coxos e do fenil, presos à casinha por uma coleira com corrente de metal. Algumas das vantagens desta instalação é o controle maior sobre ingestão de alimento e água e menor índice de mortalidade por problemas digestivos (diarreia intensa) ou problemas respiratórios. O contágio é diminuído pelo isolamento dos animais e com o posicionamento adequado da casinha, se evita excesso de umidade que pode causar doenças ao animal. (PERES, 2000). Entre as desvantagens, o acondicionamento individual entra em conflito com o aspecto altamente gregário da espécie, diminuindo o número de interações sociais e comportamentos expressos pelos animais. Isto provavelmente afeta o desenvolvimento fisiológico e cognitivo dos indivíduos e também baixo nível de bem-estar.
Visando o aumento do nível de bem-estar durante a criação de bezerros, estudoscomo o de MAGALHÃES-SILVA (2007) estudam quais condições de criação proporcionam melhor bem-estar para bezerros, comparando o manejo na casinha tropical com um sistema denominado manejo racional. Os resultados favoreceram a adoção do manejo racional, pois a criação em grupo permite que os animais realizem suas interações sociais e expressem seus comportamentos naturais tendo melhora em seu nível de bem-estar. Para garantir a sanidade dos animais, este trabalho propôs que seja feito treinamento dos tratadores para prevenção de doenças e incentivo que os mesmos estabeleçam bons relacionamentos com os animais. Entre os resultados encontrados houve a diminuição da mortalidade, sendo que no manejo convencional a média de mortes foi de 6,67±3,85% e no MR, 2,25±2,21%.
3.2 O TEMPERAMENTO NA BOVINOCULTURA LEITEIRA 
Utiliza-se a avaliação do temperamento como parâmetro comportamental em larga escala dentro da bovinocultura de corte (GRANDIN, 1993). Isso ocorre pelas raças serem, em geral, mais reativas do que as raças leiteiras e o sistema de criação normalmente ser semi-intensivo ou extensivo, em que o contato com o homem é restrito. A bovinocultura leiteira restringiu-se durante um bom tempo a avaliações subjetivas, sem uma padronização de indicadores e métodos (BURROW, 1997). 
Com a necessidade de melhorar as avaliações de temperamento dentro da cadeia produtiva do leite, seja para avaliar impactos da seleção genética no temperamento de bovinos de leite ou para aperfeiçoar o sistema produtivo em que o contato entre animais-humanos é frequente, tornou-se necessário validar metodologias práticas e preferencialmente de fácil execução que possam ser repetidas em fazendas comerciais. De modo a produzir resultados confiáveis que levem à melhora do sistema produtivo (GIBBONS et al, 2009).
Alguns trabalhos investigam as respostas dos animais a manejos com diferentes tipos de instalação, diferentes formas de interação com seus tratadores e a produtividade desses animais em função destas condições (BOIVIN et al, 2000; SCHRADER, 2002; HÖTZEL et al, 2005).
Como por exemplo, BREUER et al (2003) avaliando 31 propriedades na Australia, demonstrou através de uma correlação significativa (P<0,05) que a produção de leite é menor em vacas cujo tratador interagiu de modo agonístico ao bater ou tocá-las de modo impróprio. Esse resultado é corroborado por Hemsworth (2003) ao afirmar que o uso constante de interações positivas na fazenda traz benefícios, como na habituação dos os animais a humanos, assim diminuindo as tentativas de fuga e outras reações que caracterizam medo. Estes animais reativos são mais difíceis de lidar, pois podem fugir de seus tratadores ou reagir com agressividade durante procedimentos rotineiros como a vacinação, castração ou descorna (ROSA, 2005).
A relação entre tratador-bovino tem melhores resultados quando a formação do vínculo ocorre durante a fase de sensibilização em que os bezerros estão com sua capacidade de aprendizado mais aguçada, durante os três primeiros meses de vida (Boissy e BOUISSEAU, 1988). Neste período, especialmente nas semanas que se seguem ao nascimento, ocorre um grande desenvolvimento morfológico e fisiológico e acredita-se que o modo como ocorrem as interações com o ambiente durante esta fase pode determinar certas características do comportamento de diversas espécies animais ao longo de sua vida. (BOIVIN et al, 1992) Deste modo, ainda que exista a predisposição do animal ser mais ou menos reativo a certos estímulos, ele pode se tornar mais fácil de manejar quando adulto por ter se familiarizado com o tratador na infância, não considerando o homem como ameaça.
Muitas avaliações das respostas comportamentais de bovinos frente a diferentes tipos de manejo foram realizadas com bovinos de corte, como o trabalho de BARBOSA-SILVEIRA et al (2007) que ilustra como a falta de contato pode influenciar nas respostas dos bovinos ao homem. O objetivo era de avaliar como machos castrados de dois grupos genéticos de Bos taurus taurus (n= 96) e cruzas (n= 186) respondiam de acordo com os tratamentos a que foram submetidos em alguns testes de temperamento (escore composto, velocidade de fuga e distância de fuga). Os três tratamentos foram: intensivo, semi-extensivo com suplementação e extensivo sem suplementação. Havia também diferença no contato com os tratadores, sendo: maior no primeiro, intermediário no segundo e menor no último. O único contato constante entre animais e tratadores foi durante a vacinação e outros procedimentos aversivos. Os animais do manejo com menor contato apresentaram maior reatividade na velocidade de fuga e na distância de fuga, sendo a significância de P<0,0001 para a classificação da reatividade dos animais, e as respostas dos três testes foram correlacionadas.. 
No entanto, ainda que resultados e metodologias deste e de outros estudos com bovinos de corte sejam referências importantes e que existam sistemas de criação como os descritos por BARBOSA-SILVEIRA (2008) para animais leiteiros, existem diferenças importantes no manejo entre fazendas de gado de corte e gado de leite que distanciam estes dois ambientes, como a ordenha. 
Como muitas vezes a seleção e o descarte e de matrizes genéticas para cada tipo de rebanho leva em conta o animal com melhor desempenho para os manejos típicos de cada fazenda, ou seja, aqueles mais calmos nessas circunstâncias, a realização de mais estudos e de avaliações do temperamento de bovinos leiteiros tanto de origem europeia como indiana é necessária e muito válida. Em duas ocasiões GIBBONS et al (2003, 2011) validaram metodologias para a medida do temperamento em novilhas Holandesas, obtendo resultados interessantes com medidas há muito aplicadas em bovinos de corte, mas que podem ser adaptadas.
Como outro exemplo, o trabalho de ROSA (2005) foca justamente no manejo e na interação entre retireiros e vacas durante o processo de ordenha, discutindo tanto sobre o processo mecanizado quanto o manual. Seu trabalho mostra que houve diminuição na produção do leite das vacas com pior interação com seus tratadores, pois elas ficavam mais reativas quando havia contatos negativos como gritos ou ausência contato visual ou físico. A diferença entre o leite produzido pelas vacas com maior reatividade para as menos reativas foi de menos 1kg/animal/ordenha. Trabalhos específicos como este são muito úteis, pois estão relacionados de modo claro e objetivo com a rotina de manejo adotado nas fazendas leiteiras.
Por um lado, a interação entre tratador-bovino e a compreensão de como esses relacionamentos se dão dentro da bovinocultura leiteira é fundamental para tornar as avaliações do temperamento mais acuradas e para proporcionar melhores condições de bem-estar, por outro existem outras variáveis importantes que interferem no comportamento dos bovinos pois são fatores ambientais que irão levar a respostas individuais nos animais.
Exemplo de estudo que estuda fatores que podem influenciar nas respostas individuais dos em bovinos leiteiros é o de Boissy e Bouissou (1988) que avaliaram efeitos de três estimulações diferentes em novilhas Holandesas e suas respostas em diversos testes comportamentais, como: medida da reatividade através de distância de fuga e reações a novos estímulos através do open field test aplicado em um piquete desconhecido
 Nos estudos de GIBBONS e seus colaboradores em que foram avaliadas as respostas comportamentais de novilhas Holandesas a diferentes testes de aproximação voluntária e novo objeto (GIBBONS et al,2003) e no escore de tronco e velocidade de saída (GIBBONS et al,2011) encontramos mais exemplos interessantes da adaptação de medidas de temperamento para bovinos leiteiros. 
A importância de estudos que aprimorem o rendimento e os sistemas criatórios das fazendas leiteiras no Brasil está no fato do país estar aumentando sua produção leiteira nos últimos anos, com cerca de 32.296 milhões de litros produzidos em 2011 (EMBRAPA, 2012). A composição genética de uma das principais regiões produtoras nopaís, em Minas Gerais, é oriunda de cruzamentos com touros Holandeses, tendo predomínio de sangue da raça Holandesa (GOMES, 2002). Portanto estudos com animais dessa raça têm relevância para a melhora na produção nacional de leite e derivados.
3.3. MEDIDAS UTILIZADAS NA AVALIAÇÃO DO TEMPERAMENTO
 Avaliação do temperamento dos bovinos pode ser feita através de indicadores quantitativos e qualitativos, com abordagens objetivas ou subjetivas e ainda com animais contidos ou não e com ou sem a presença de humanos, dependendo do que será avaliado (MANTECA e DEAG, 1993). Como dito anteriormente, como o medo em relação ao homem é um fator importante, diversos testes consideram a reatividade ao medo como parâmetro de avaliação. 
Avaliando a aplicabilidade do teste de velocidade de fuga para novilhas holandesas, GIBBONS et al (2011) concluem que esta é uma medida confiável e simples de se executar para medir a reatividade de um indivíduo a um procedimento de rotina. Esta medida consiste no cálculo da velocidade do animal (em m/s) ao sair do tronco ou balança. Animais com maior velocidade são considerados de pior temperamento. 
Entre os testes utilizados por BOISSY e BOUISSEAU (1988) a distância de fuga (DF) é uma avaliação precisa do medo que os bovinos sentem em relação a humanos. A menor distância na qual o avaliador pode se aproximar antes que o animal se afaste, caracterizando uma reação de fuga, é anotada. Os animais que se afastaram com as maiores distâncias são considerados mais medrosos em relação ao homem.
O teste de novo objeto já foi aplicado suínos (LAWRENCE et al, 1991), leopardos da neve (GARTNER &POWELL, 2011) e outras espécies. O teste consiste em avaliar o nível curiosidade individual e sua resposta a desafios ambientais. A interação com o objeto, atenção direcionada para ele sem contato, a indiferença ou medo são medidas em forma de escores visuais (MANTECA e DEAG, 1993). Considera-se que animais altamente reativos a novos estímulos podem não responder bem à mudanças em sua rotina ou ambiente. O escore pode ser construído a partir de distância, em metros, quadrantes ou outras medidas do objeto, que deve oferecer algum estímulo intrigante mas inofensivo aos animais. 
O escore de tronco foi elaborado por GRANDIN (1993) que fez a avaliação de bovinos de corte contidos em um tronco (balança composta) durante 30 segundos, avaliando a frequência e intensidade de movimentação, especialmente da cabeça e membros. 
BOIVIN (1992), KERR e WOOD-GUSH (1987) e BOISSY e BOUISSEAU (1988) tem em comum entre seus trabalhos a observação do impacto das alterações de manejo que ocorrem durante o período sensível da vida dos bezerros, podem influenciar nas respostas dos animais a esses estímulos ao longo de muito tempo. Então se pode identificar alguns traços de temperamento mais marcantes no individuo já na infância.
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A avaliação do temperamento, especialmente durante a infância dos bezerros pode contribuir para a melhora do sistema de criação e também para a adequação de instalações e metodologias da fazenda utilizando estes indicadores de temperamento como guia. Também possibilita a melhora nas respostas comportamentais dos animais através do aprendizado obtido a partir das interações positivas com o homem para lidarem melhor com estímulos que serão presentes durante a sua criação, buscando a facilitação do manejo quando o animal for adulto, a melhora do nível de bem-estar dos trabalhadores e do rebanho e também melhor produtividade e lucros para fazendas leiteiras.
 
Materiais e métodos
4.1 Animais e sistemas de criação 
O experimento ocorreu na fazenda Santa Terezinha/FAI do Brasil, no município de Jaboticabal – SP. Foram utilizados 24 bezerros machos, oriundos de cruzamentos das raças Holandês, Gir e Jersey divididos em dois tratamentos: Manejo Convencional (MC) e Manejo Racional (MR). Estes dois manejos foram adotados durante a fase de aleitamento e estavam sendo adotados como parte do experimento de um outro estudo, ainda em andamento, de MAGALHÃES-SILVA. O MR visou aumentar o nível de bem-estar dos animais, ao implantar metodologias que levam em consideração características comportamentais e necessidades dos bezerros. O MC é o manejo comumente adotado em fazendas produtoras no Brasil.
Os bezerros nasceram em diferentes fazendas leiteiras, onde foram mantidos do nascimento até o quarto dia de vida. Neste período receberam colostro, duas vezes por dia, ad libtum. A partir do 5º dia foram trazidos para a fazenda Santa Terezinha/FAI do Brasil onde foram divididos nos respectivos manejos (adaptados de MAGALHÃES SILVA et al, 2007).
a) Manejo Convencional (MC): A partir do 5ª dia até a desmama os animais foram criados em abrigos individuais do tipo “casinha tropical” (EMBRAPA, 1994), e distribuídos de forma equidistante evitando o contato físico entre os animais. A partir também do 4º dia passaram a receber 4 litros/dia de sucedâneo de leite (em duas mamadas diárias) em pequenos baldes até a desmama. As mamadas ocorriam em torno das 8:30 da manhã e 15:30 da tarde. Neste caso, a desmama foi abrupta. A interação com os tratadores foi restrita, sem contato adicional entre os mesmos e os bezerros. A alimentação era com ração peletizada, sendo a quantidade de 500 gramas/animal/dia dados de manhã. 
FIGURA 1. Bezerros do manejo convencional alojados em casinha tropical.
b) Manejo Racional (MR): os bezerros foram mantidos em galpão coberto (3m²/animal) com acesso a piquete (pelo menos 10m²/animal), sendo agrupados por peso. Do 4º dia em diante o aleitamento foi feito em baldes com bicos adaptados para o bezerro sugar, em duas mamadas ao dia. Os animais também receberam sucedâneo de leite, com a quantidade inicial de 5 litros/dia, nos mesmos horários dos animais do MC. A desmama foi feita de forma progressiva, com a oferta de leite diminuindo com a idade do bezerro e com o peso adquirido, sendo a quantidade final de 1 litro/dia de sucedâneo. Os bezerros receberam estimulação através de escovação feita pelo tratador, durante todas as mamadas, por 5 minutos Os animais foram soltos pela manhã, após a primeira mamada e recolhidos para o galpão à tarde, para a segunda mamada. A quantidade de ração aumentava de acordo com a idade do grupo, sendo o consumo colocado no coxo compartilhado de 1 kg/ração/cabeça. O volumoso de 100 gramas para todos os animais.
Após a desmama, em torno dos 70 dias de idade, todos os animais passaram a ser mantidos a pasto com grama Estrela (Cynodon),suplementados com ração peletizada no cocho (1 kg/dia), sal mineralizado e água. Os animais de ambos os tratamentos foram mantidos em conjunto, havendo a separação durante o arraçoamento por peso e idade. A pesagem de todos os animais até a desmama foi realizada em uma balança simples, mensalmente. Após a desmama, a pesagem ocorreu no curral de testes com a mesma frequência.
FIGURA 2. Bezerro do manejo racional durante o aleitamento.
4.2. AVALIAÇÃO DO TEMPERAMENTO
Para avaliação dos indicadores de temperamento foram escolhidos testes já realizados em bovinos leiteiros que são possíveis de se reproduzir em fazendas. Como o objetivo foi saber se há diferentes respostas entre os animais de MR e MC, a divisão dos bezerros em grupos para avaliação dos indicadores de temperamento foi agrupando os animais de cada um desses tratamentos. 
Foram formados grupos contemporâneos e os animais foram testados em duas diferentes faixas etárias, totalizando 12 animais por tratamento ao final de todas as coletas. Foram realizadas duas repetições por grupo, sendo cada bezerro avaliado individualmente. As duas avaliações foram denominadas avaliação 1 e avaliação 2. Na avaliação 1 as idades dos animais foram entre 6 e 9 meses (em média 8 meses) e na avaliação 2, entre 9 e 13 meses (em média 10 meses).
Os testes utilizados para a avaliação do temperamento foram: o escore de tronco (ET), velocidade de fuga (VF), distância de fuga (DF) e teste de novo objeto (TNO). Todos foram realizados dentro de um curral, sendo duasdas três coletas antes de procedimentos de rotina como pesagem, vacinação e teste clínico, para que essas atividades não interferissem nos resultados. A última coleta foi realizada em dia sem atividades com os animais.
Na primeira repetição de cada idade foram realizados os testes de ET, VF e DF e na segunda repetição, novamente foram efetuadas as primeiras três medidas, com o acréscimo do TNO. Sendo a ordem dos testes na segunda repetição: ET, VF, TNO e DF. Justamente para não comprometer a validade do mesmo, o TNO foi realizado na última coleta de dados de cada animal.
 Os animais foram conduzidos pela seringa até o brete, (após atravessar duas mangas do curral) de onde foram posicionados no tronco de contenção para a realização do escore de tronco. 
Após a liberação do tronco, cada individuo passou por um corredor que dava acesso à manga em que o teste de novo objeto e a distância de fuga ocorreram. Neste corredor de saída ocorreu a medida da velocidade de fuga através do equipamento Flight Speed® que registrou a velocidade de cada animal. Na avaliação 1 assim que o animal saiu na manga do curral foi realizado o teste de distância de fuga. Na avaliação 2, após a saída foi realizado o teste do novo objeto e após a conclusão deste é que foi medida a distancia de fuga. A disposição do curral de testes está representada em um esquema ilustrativo, na Figura 3.
FIGURA 3. Esquema ilustrativo do curral de testes em que foi realizado o experimento, com áreas de cada teste definidas.
Segue abaixo a descrição de cada um dos testes: 
O escore de tronco (ET) foi adaptado de GRANDIN (1993), ao entrar no tronco, os animais foram identificados através dos números dos brincos em uma das orelhas ou pelo pelame., após isso ficaram contidos durante 4 segundos. Cada bezerro teve seus movimentos de cabeça e membros avaliados durante a contenção no tronco, sendo: (a) 0 - animal parado durante todo o tempo de movimentação, sem ocorrência de agitação da cabeça, cauda ou orelhas (b) 1 – baixa frequência de movimentação do animal e pouca agitação de cauda, cabeça e orelhas; (c) 2 – movimentação frequente do animal e agitação da cabeça, orelha ou cauda, tentativas de forçar a saída. 
A velocidade de fuga (VF) adaptada de GIBBONS et al (2011) foi obtida medindo-se o tempo em segundos que o animal levou para percorrer uma distância fixa de 1,7 metros através do corredor que conduz à manga do curral, utilizando o equipamento de Flight Speed®. Os animais com valores mais altos de velocidade foram considerados os mais reativos. 
A distância de fuga (DF) adaptada de BOISSY e BOUISSEAU (1988) foi considerada a mínima distância entre o animal e o observador, determinada quando o animal que estabeleceu contato visual com o observador realiza o primeiro deslocamento, o que caracteriza fuga. Foi medida em metros utilizando uma trena, sendo realizadas três repetições cuja média foi utilizada nas análises estatísticas.
O teste de novo objeto (TNO) adaptado de BARROS et al (2011) foi aplicado apenas na segunda repetição de forma que não afetasse o resultado do teste. Assim que o animal saiu do corredor para a manga do curral, havia uma bola amarela posicionada em sua frente, no centro de duas áreas circulares delimitadas no solo. A primeira era de 1 metro de raio a partir do centro da bola e a segunda 1,80 metros, sendo denominadas área 1 e área 2, respectivamente. O resto da manga foi denominado área 3. O teste iniciava a partir do momento em que o animal saía do corredor e avistava a bola, tendo a duração de 30s. Um observador, fora do campo de visão do animal, registrou através da rota animal focal os comportamentos que o animal poderia realizar em relação ao objeto e em qual das áreas ele efetuou o comportamento.
Deste modo foi elaborado um índice de temperamento obtido com a soma de dois escores que foram atribuídos com base nas observações, cujos níveis foram de 2 até 6. 
Os escores utilizados para formar o índice foram: 
Escore de Aproximação (Eap), relativo à distância que o animal se aproximou do objeto, sendo: (a) 1 – o animal se posicionou a uma distância menor ou igual a 1,0 m em relação ao centro da bola, portando posicionando-se na área 1, (b) 2 – o animal posicionou-se entre 1m e 1,80m de distância da bola, caracterizando uma distância intermediária, portanto na área 2 e (c) 3 – o animal posicionou-se a distância superior a 1,80 m em relação ao centro da bola, estando na área 3 da manga. Considera-se que o animal penetrou nas áreas quando ao menos uma de suas patas dianteiras estiver inteira dentro da mesma. 
Escore de Ação (Eaç), referente às categorias comportamentais exibidas pelo animal em cada área, sendo os escores os seguintes: (a) 1 – animais que apresentaram os comportamentos tocar ou cheirar, sendo considerado cheirar diretamente a superfície da bola ou o ar em direção a ela dentro das áreas 2 ou 1, apresentando uma resposta considerada positiva diante do objeto; (b) 2 – animais que permaneceram indiferentes à bola, não exprimindo reação de curiosidade em relação a ela e (c) 3- animais que exibiram os comportamentos evitar, esquivar, coicear ou alerta à bola, caracterizando como reações de aversão à bola.
O índice composto pela soma desses dois escores foi usado para classificar os animais do melhor ao pior temperamento em uma escala crescente (de 2 até 6), sendo o animal considerado o de melhor temperamento aquele que se aproximar do objeto, expressando curiosidade em vez de medo do mesmo, sendo representado pelo índice 2. Os animais de pior temperamento são representados pelo escore 6, caracterizados por responder com comportamentos aversivos e manter a maior distância do objeto.
As categorias utilizadas no Eaç foram definidas conforme a Tabela 1: adaptada de BARROS et al (2011). A disposição do objeto inanimado na manga e um exemplo de teste podem ser observados nas figuras 3 e 4.
Tabela 1. Quadro com categorias comportamentais e variáveis avaliadas durante o teste de novo objeto. 
FIGURA 4. Bezerro na saída do corredor em que foi realizado o teste de velocidade de fuga observando a bola utilizada no teste de novo objeto.
FIGURA 5. Bezerro interagindo com o novo objeto. Os escores individuais foram: Eap = 1, Eaç=1 e Índice=2, sendo considerado exemplo de melhor temperamento neste teste.
4.3. Análise Estatística
A análise estatística descritiva dos dados foi realizada no Microsoft Excel® 2007 com cálculo de média, desvio padrão, mínimo e máximo para VF e DF, enquanto para TNO e ET foram obtidas as porcentagens de cada nível dos escores, em ambas as avaliações. Os demais testes estatísticos foram realizados no programa SAS®. Como o ET apresentou baixa variabilidade dentro do grupo estudado, este não foi incluído nas análises estatísticas. 
Com exceção do TNO que só teve uma repetição, para VF e DF calculou-se a média entre os resultados obtidos nas duas idades (8 e 10 meses) e a partir desta média foi feita a avaliação entre a associação entre os diferentes testes e a comparação entre os tratamentos. 
Para investigar se os diferentes indicadores do temperamento estavam associados entre si, utilizou-se o teste de correlação de Pearson. Utilizou-se o teste t para comparar as médias de cada tratamento para VF e DF, pois tratam-se de medidas contínuas. Para avaliar se as porcentagens de TNO dependiam do tratamento (tipo de manejo) foi aplicado o teste de qui-quadrado. 
46
5. resultados
5.1. EFEITO DOS MANEJOS NOS INDICADORES DE TEMPERAMENTO
Os resultados da análise estatística demonstram que os manejos não exerceram influência sobre os indicadores de temperamento mensurados. Para a DF e VF não houve diferença significativa entre as médias dos dois manejos, como se pode observar na Tabela 2.
TABELA 2. Coeficientes de VF e DF de cada manejo comparados através do teste t.
	Medidas 
Objetivas
	MC
	MR
	Valores Estatísticos
	
	Média ± DP
	Média ± DP
	T
	P
	VF
	0,61 ± 0,19
	0,78±0,29
	-1,69
	P= 0,11
	DF
	1,87 ± 0,811,75± 0,81
	0,45
	P= 0,66
As medidas categóricas também não apresentaram diferença significativa entre os manejos. Não houve dependência do tratamento em TNO (X2 = 4,58, P = 0,33), portanto são variáveis independentes. O ET também não apresentou diferença significativa (X2 = 2,40, P = 0,49) em função dos tratamentos, os resultados são apresentados nas Figuras 6 e 7, respectivamente.
FIGURA 6. Frequências dos escores obtidos no Teste de Novo Objeto em função do tipo de manejo.
 
FIGURA 7. Frequências dos escores obtidos no escore de tronco em função do tipo de manejo.
5.2. ASSOCIAÇÃO ENTRE AS DIFERENTES MEDIDAS DE TEMPERAMENTO
A análise estatística descritiva para VF e DF nas duas avaliações está apresentada na Tabela 3.
TABELA 3. Média, desvio padrão, e valores mínimo e máximo para VF e DF em função da avaliação.
	Avaliação
	Indicador
	Média (± DP)
	Mínimo
	Máximo
	1
	VF (m/s)
	0,55 ± 0,22
	0,17
	1,16
	1
	DF (m)
	1,64 ± 0,79
	0,00
	2,93
	2
	VF (m/s)
	0,80 ± 0,30
	0,32
	1,44
	2
	DF (m)
	1,96 ± 0,64
	0,80
	3,12
De modo geral, os indicadores de temperamento não foram associados entre si, pois os testes de correlação de Pearson realizados entre VF – DF, TNO – VF e TNO – DF foram não significativos (P > 0,05). Os resultados estão apresentados na Tabela 4. 
TABELA 4. Coeficientes da correlação de Pearson e respectivos valores de P entre todos os indicadores de temperamento avaliados.
	Testes Associados
	R
	P
	VF-DF
	0,19
	0,36
	VF-TNO
	0,09
	0,66
	DF -TNO
	0,11
	0,60
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6. discussão
Quanto à influência do manejo sobre a expressão do temperamento, o resultado deste estudo demonstra que não há diferença significativa entre os manejos, e, portanto as práticas adotadas não influenciariam na expressão do temperamento dos bezerros. Isto contraria diversos resultados encontrados na literatura, como os de Barbosa-Silveira et al (2007), em que o tempo de saída, VF e ET se alteraram conforme o tipo de manejo. 
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Por outro lado, talvez a realização dos testes em um local em que os animais têm uma rotina associada a exames e procedimentos que podem ser estressantes não 
oferece informações de como o manejo influenciou nos comportamentos exibidos pelos animais no cotidiano. 
Com isso podemos supor que é possível que se um animal apresenta desde cedo tendências específicas de como irá reagir em relação a certos estímulos se o ambiente em que é manejado favorecer, ele tenha essas tendências alteradas no cotidiano. Porém a reação individual diante de situações novas ou adversas (por exemplo: reatividade em relação a humanos e curiosidade em relação a novos locais) pode não ser amenizada por um manejo mais próximo ou adequado durante a infância.
A diferença entre os relacionamentos estabelecidos pelos tratadores e os animais de diferentes manejos não apresentou resultados significativos. Porém apresentaram menor média de DF. Talvez se a quantidade de animais estudados fosse maior, estes resultados fossem significativos.
Os resultados demonstram que em relação à validade do uso dos testes comportamentais utilizados, o ET não foi considerado uma medida adequada para a avaliação de bezerros leiteiros por apresentar baixa variabilidade na frequência de seus escores. Este resultado concorda com o de GIBBONS et al (2011), sendo os animais de ambos os estudos da raça Holandesa, o que reforça os resultados de nosso estudo. 
A VF e a DF apresentam boa consistência para avaliação de bovinos leiteiros em outros estudos (BOIVIN et al, 1992; GIBBONS et al , 2003, 2011). Neste trabalho, concluímos que são bons métodos para a medida do temperamento com esse tipo de animal. O fato de termos comprovado a facilidade de execução destes testes
 também corrobora nossa proposta de utilizá-los para a avaliação de animais em fazendas comerciais.
O TNO também foi considerado por nós como uma boa medida de avaliação do temperamento, uma vez que os animais apresentaram diversas respostas, representadas pelo escore final combinado do Eap e do Eaç. Entretanto devemos considerar alguns fatores: diversos indivíduos ao saírem do tronco exibiram comportamento de exploração na manga em que a bola estava posicionada antes de direcionarem sua atenção ao objeto. Isso leva a crer que poderiam não estar totalmente familiarizados com o local e isto pode ter interferido na resposta dos animais em relação ao objeto e nos resultados da avaliação. 
O tronco de contenção e o curral são espaços em que esses indivíduos já haviam sido pesados com certa regularidade, então esperavasse que não houvesse influencia sobre o efeito do novo objeto. Mas é possível que, por não ser o local em que estes animais ficam o dia todo, algumas respostas apresentadas sejam oriundas da reação dos animais às atividades que foram realizadas neste ambiente. 
Existem recomendações de que a aplicação de testes comportamentais no local em que os animais habitam proporciona uma caracterização mais confiável das respostas dos animais no cotidiano (SVARTBERG, 2005). Consideramos interessante investigar se as respostas dos bezerros ao teste de novo objeto realizado no tronco iriam divergir de algum outro teste que avalie a resposta diante de uma novidade no local em que os bezerros frequentam diariamente.
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7. conclusão e considerações finais
Concluímos que MR não foi capaz de modificar o temperamento dos animais diante do tronco e no curral. As condições experimentais deste estudo podem tem influenciado que os animais do MC tenham recebido mais atenção do que animais em sob o mesmo manejo em fazendas comerciais. 
Logo acreditamos que para maior confiabilidade dos resultados, as avaliações do presente estudo sejam repetidas em diferentes fazendas de produção leiteira, para mensurar a resposta de grupos de animais em que as diferenças entre MC e MR sejam mais próximas da realidade do produtor e que seja utilizado maior número de animais.
Concluímos que os diferentes métodos utilizados na avaliação dos bezerros leiteiros abordam aspectos independentes da característica, já que não estão associados entre si.
ET não é considerada uma medida adequada para avaliação do temperamento de bezerros leiteiros da raça holandesa ou com predomínio de holandês 
E também recomendamos o acréscimo de mais um teste comportamental que ocorra dentro do ambiente familiar dos animais ou que envolva sua reação aos seus tratadores para validar se o manejo empregado altera as respostas dos animais neste contexto. 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO I
Planilha de coleta de DF
ANEXO II
Planilha de coleta de VF e ET
ANEXO III
Planilha de coleta de TNO

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