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O que é a comunicação? Introdução Nesta lição, veremos como a comunicação é fundamental para a existência da civilização e mesmo para o sentido de humanidade, entendendo seu surgimento e desenvolvimento ao longo da história. Vamos apresentar um esquema geral do processo de comunicação, válido para diversas áreas de conhecimento e para diferentes tipos de trabalho, e a partir dele iremos estudar as diferentes formas pelas quais os seres humanos podem se comunicar. Ao final desta aula, você será capaz de: reconhecer processos de comunicação no dia-a-dia identificar os elementos que formam um processo de comunicação classificar os diferentes tipos de comunicação Comunicação e civilização O que diferencia o ser humano de outros animais? Polegares opositores, cérebro mais desenvolvido? O senso artístico, a religião? Mesmo que o debate seja antigo, ele está longe de ver uma resolução definitiva. Embora seja uma capacidade encontrada em várias espécies animais, a comunicação entre a espécie humana adquiriu ao longo da história um nível de complexidade não equiparável ao de nenhum outro ser vivo conhecido. Há quem diferencie o ser humano por meios de práticas como a religião e as belas artes, por exemplo. Mesmo assim, não se pode negar que essas práticas dependem da existência da comunicação. As grandes religiões, por exemplo, estão todas fundamentadas em textos, no uso da palavra e de símbolos para comunicar o sentido de uma vida superior. A comunicação é a possibilidade de que ideias sejam compartilhadas entre duas ou mais pessoas. A própria etimologia da palavra “comunicação” (do latim communicare, que significa partilhar, dividir) já dá a noção de que ela trata de um acontecimento social. Não existe comunicação se não houver ao menos duas pessoas. Sem comunicação, o ser humano seria condenado à prisão individual do seu ser e a civilização não seria possível. O desenvolvimento de uma linguagem em comum foi essencial para o desenvolvimento da civilização. SEM linguagem, não há Como preservar o conhecimento, não há Como compartilhar an observação da natureza e transmiti-la às futuras gerações. Se pensarmos no dia-a-dia de qualquer pessoa que viva em sociedade, veremos que essa pessoa está sempre sendo envolvida de alguma maneira em um processo de comunicação. Ela acorda e pode receber um “bom dia”, ler o jornal, escutar o rádio, falar com o vizinho. Ela escolhe a roupa de acordo com a situação que vai vivenciar no dia: a roupa de trabalho é uma, a de festa é outra. Chega ao trabalho e pelo olhar do chefe já sabe se o dia vai ser puxado ou não. Ouve o sino da igreja e, dependendo do número de badaladas, sabe qual é o horário. Se ouve uma sirene, sabe que algo grave acontece: pode ser a polícia, um acidente, um incêndio. Todos esses exemplos são formas de comunicação, cada uma delas com características diferentes das outras. Quanto mais se desenvolve uma civilização, mais complexos se tornam os processos de comunicação. A linguística, a ciência que estuda a linguagem humana, e a semiótica, a ciência geral dos símbolos, são duas áreas de conhecimento que dividem espaço com a comunicação. Ao estudar a linguagem humana em profundidade, a linguística fez descobertas surpreendentes, como, por exemplo, afirmar que o pensamento humano só existe por causa da linguagem. Você já tentou pensar em alguma coisa que não fosse com palavras? O surgimento e a evolução da linguagem escrita Os códigos linguísticos, regidos por um sistema estável de regras, ou seja, uma gramática, têm papel preponderante na história da humanidade – e por isso compõem um campo de estudo independente. Os primeiros códigos nasceram como linguagens orais. Uma característica distintiva dessas linguagens é justamente o canal pelo qual as mensagens são emitidas: através de sons produzidos pela vibração das cordas vocais humanas. Outros animais possuem sistemas de comunicação mais ou menos rudimentares, a maioria deles baseados em conjuntos de sons. A diferença desses sistemas para os dos humanos foi a complexidade com que se desenvolveram. Os dos outros animais são essencialmente instintivos, enquanto que os dos humanos, dada a maior capacidade intelectual da espécie, era aprimorado a cada geração, com uma crescente complexidade de regras que permitiam gradativamente uma comunicação com mais precisão e abstração – capacidade de imaginar conceitos fora da realidade material. Milhares de anos depois do surgimento das primeiras linguagens orais humanas, o aparecimento da agricultura impactou diretamente nas comunicações. Com mais tempo livre em virtude do excedente de alimentos, começou-se a desenvolver o código escrito: símbolos visuais associados primeiramente a ideias gerais e depois aos próprios sons (escritas fonéticas). O que parece ser uma simples mudança do canal de comunicação, do oral para o escrito, representou um dos processos mais importantes da história da humanidade. A linguagem escrita permitiu uma incrível expansão do tempo e do espaço em que as comunicações poderiam acontecer. Se antes uma mensagem só podia ser endereçada a um receptor instantaneamente e no espaço que a voz humana alcançasse, com a escrita tudo isso mudou. Cartas e pergaminhos viajaram continentes. Inscrições em monumentos milenares levaram a mensagem de antigos povos para toda a humanidade. Figura 1 - Códigos linguísticos milenares Fonte: Shutterstock Desde a invenção da escrita – que se deu aproximadamente 5 mil anos antes de Cristo em diferentes civilizações – até o final da Idade Média, as comunicações não haviam sofrido tamanha revolução como a que se iniciou no Renascimento europeu. A imprensa foi inventada por chineses, mas foram os europeus que a puseram para trabalhar. A possibilidade da produção de textos e livros em uma escala sem precedentes representou uma mudança profunda na história. Por exemplo, as reformas religiosas na Europa só puderam se expandir com o aumento da impressão de Bíblias. Antes, a leitura e interpretação dos textos sagrados eram exclusivas da Igreja Católica. Até o século XX, a escrita teve um poder incontestável. No entanto, o aparecimento de novas tecnologias, como o telefone, o rádio e a televisão, reintroduziram as comunicações orais – agora propagadas para grandes massas de receptores – na ordem mundial. A escrita perdeu a hegemonia como comunicação dos círculos de poder. Desde o começo do século XXI, o conjunto de inventos e descobertas que, no século anterior, levaram ao surgimento da internet vem alimentando uma nova fase no processo de revolução das comunicações. Essa nova fase é marcada pela possibilidade de uma infinidade de linguagens e códigos coexistirem no ambiente da internet, sem que haja uma hierarquia definida. O processo de comunicação Vimos que as comunicações são tão antigas que sua origem não pode ser separada da própria origem das civilizações humanas. Foi somente no século XX, no entanto, que a comunicação passou a se consolidar como uma área científica própria. Desde então, um modelo universal para explicar as comunicações passou a ser amplamente utilizado. Figura 2 - Diagrama geral do processo de comunicação Fonte: Elaborado por André Ribeiro Vicente Esse modelo originou-se na área da teoria da informação, cujos principais objetos de estudo na segunda metade do século XX foram os sistemas de informática. A preocupação desse modelo era pensar sistemas de comunicação físicos, garantido a qualidade do sinal e das informações transmitidas. A comunicação é, portanto, um processo que pressupõe a existência de um emissor, ou remetente, que é a pessoa ou grupo de pessoas que produza mensagem; um receptor ou destinatário, que é a pessoa ou grupo de pessoas que recebe a mensagem; a mensagem propriamente dita, que contém as informações transmitidas; um canal de comunicação ou de contato, que é o meio usado para a transmissão da mensagem; um código, que, no caso de uma mensagem escrita, é a língua; além da língua, outros códigos poderão ser usados, tais como cores, formas, sinais, entre outros, sendo importante salientar que, para a comunicação se estabelecer com eficiência, o emissor e o receptor devem utilizar o mesmo código; o contexto ou referente, que é a situação ou objeto a que a mensagem se refere; já quanto aos ruídos existentes, são interferências externas que prejudicam em qualquer ponto o bom andamento do processo. Acontece, no entanto, de o emissor e o receptor, no processo de comunicação, não dominarem o mesmo código. A mesma pessoa que costuma usar as cores do seu time no Brasil, quando em outro país, pode sem querer comunicar uma mensagem diferente usando as mesmas cores. Isso acontece porque os códigos culturais são diferentes. Um determinado gesto que em dada sociedade é visto como amigável, em outra sociedade pode ser considerado ofensivo. Percebe-se, portanto, que o domínio do código é um pré-requisito para o processo de comunicação. Os códigos são as chaves, portanto, que abrem universos culturais específicos. Para um viajante realmente entender a sociedade basca, na Espanha, seria necessário conhecer o euskera, a língua local. Da mesma maneira, para poder modificar um determinado software, um programador precisa conhecer o código-fonte. Em uma das cenas do clássico filme O Poderoso Chefão, a família Corleone infiltra um de seus homens de confiança, Luca Brasi, na família rival para descobrir o que eles tramam. As duas famílias entram em guerra aberta, e os membros da família Corleone querem saber onde está Luca Brasi, quando então recebem um embrulho com um peixe morto. Só quem conhece os códigos da máfia siciliana sabe o que o peixe significa: que Luca Brasi foi descoberto como um espião e assassinado. Formas de comunicação As formas de comunicação são as mais variadas possíveis. Uma maneira de classificá- las é analisar os seus elementos constituintes e agrupá-los pelas semelhanças, pelo tipo de emissor, pelo tipo de receptor. Mas os processos de comunicação se diferenciam principalmente pelos códigos e canais que utilizam e pelas mensagens que permitem transmitir. Por exemplo, quando falamos em oralidade e escrita, estamos tratando de dois códigos linguísticos parecidos, ainda que não idênticos. A principal diferença entre eles é o canal que utilizam, fato que acaba conferindo às mensagens materialidade diferente. Palavras são vibrações sonoras. Tão rápido quanto se propagam, também desaparecem, não deixando provas da sua existência. A escrita, por sua vez, não consegue a mesma propagação – por outro lado, possui uma materialidade que permite que suas mensagens perdurem por muitos anos. Outro código linguístico é o sistema de libras, que utiliza como canal de comunicação os gestos. Existe ainda uma infinidade de formas de comunicação não linguísticas, isto é, que não utilizam palavras. Um programador de computador usa determinada linguagem de programação para criar sistemas lógicos (ou softwares) que processam informações. Trata-se de uma forma de comunicação bastante específica e importante para os dias de hoje. O programa de computador é a maneira pela qual o programador comunica um sistema de ideias de processamento de dados. Vale ressaltar que os computadores nunca são os destinatários finais de qualquer comunicação. Eles podem ser canal, codificador, decodificador, mas uma mensagem humana tem sempre outro ser humano como destinatário final. O vestuário é outra forma de comunicação bastante importante nas sociedades humanas. As roupas há muito deixaram de ser apenas tecidos para proteger o corpo das intempéries do clima. Elas são uma importante forma de comunicar qual o grupo social com que uma pessoa se identifica. O mundo do trabalho é pródigo em criar sistemas de comunicação. O trânsito no mundo inteiro, por exemplo, é orientado por sinais mais ou menos universais, como acontece com a navegação de navios e aviões, todos organizados por uma infinidade de códigos e sistemas específicos. Música, literatura, pintura, escultura, dança, teatro e cinema são considerados formas artísticas de expressão. Ainda que muito próximas da comunicação, o grande objetivo delas é retratar sentimentos, impressões subjetivas e pessoais, construir o belo. Não há a obrigação de seguir regras ou códigos para que a mensagem seja clara e compreensível, como se exigiria das formas de comunicação em si. Por exemplo: um aviso de como se deve realizar o despacho de um dado produto frágil tem que ser comunicado com um diagrama claro e organizado, não através de uma tela abstracionista. Fechamento Chegamos ao final desta lição! Aprendemos como a comunicação mudou e ainda muda a história e a vida dos seres humanos. O modelo de comunicação visto aqui – de emissor, canal, código, mensagem e receptor – será utilizado em vários momentos da disciplina. Começamos a ver, ainda, que o código linguístico tem um papel preponderante nas comunicações entre as pessoas. Nesta aula, você teve a oportunidade de: entender o desenvolvimento da comunicação ao longo da história humana identificar os elementos necessários para que se efetue a comunicação diferenciar tipos de comunicação a partir de características específicas
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