Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
História Antiga e Medieval Aula 12 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina, oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 12: A questão da periodização Objetivo: Apresentar e discutir um importante aspecto metodológico e conceitual: os esquemas de periodização utilizados no estudo da História Medieval. Limites cronológicos Quando começa e quando termina o período denominado Idade Média? As várias respostas dadas a essas questões aparentemente triviais remetem a importantes considerações de ordem metodológicas e conceituais. Os manuais escolares geralmente apontam duas datas convencionais: o ano 476 (século V) como data inicial e o ano 1453 (século XV) como data final da Idade Média. A aceitação dessas datas referenciais deve ser analisada à luz de algumas considerações. Ao longo de todo o século IV são realizadas várias reformas administrativas e políticas na direção do Império Romano com o objetivo de oferecer respostas aos efeitos da ampla crise que se instalara desde os inícios do século III. A mais duradoura dessas medidas foi a divisão do Império Romano em duas grandes áreas geográficas que seriam então governadas de forma independente por imperadores distintos, dando origem ao Império Romano do Ocidente, com capital na cidade de Roma, e o Império Romano do Oriente, com sua capital na cidade de Constantinopla. As datas assinaladas para balizar o início e fim da Idade Média remetem ao destino dessas duas entidades. O ano 476 marca o colapso do Império Romano do Ocidente (Roma), e o ano 1453 registra o fim do Império Romano do Oriente, que durante o período medieval havia conservado vários dos elementos que o ligavam à sua tradicional herança romana, passando posteriormente a ser conhecido sob a denominação de Império Bizantino. Vale lembrar, portanto, que essas datas se referem mais ao destino de uma entidade política (o Império Romano) que às características próprias de um período específico, a Idade Média. Assumindo dessa forma a percepção de um período medieval como um hiato, uma lacuna no processo histórico, estas balizas reforçam em muito a visão generalizada a partir do Renascimento. Por outro lado, cabe ainda argumentar que esses marcos cronológicos remetem a uma concepção de história na qual a história da sociedade é reduzida e identificada à história de uma entidade político-administrativa, o Estado. Como a historiografia do século XX reiteradamente apontou em suas várias manifestações, a história do Estado não corresponde à história de toda a sociedade e não é capaz de compreender as várias manifestações que estão além dos referenciais jurídicos e políticos personificados na evolução daquela entidade. Não se trata, portanto, de uma História Total, para utilizar uma expressão cara aos historiadores dos Annales, no sentido em que não dá conta da compreensão de todos os grupos sociais e de suas experiências. Hilário Franco Júnior argumenta que várias outras datas significativas poderiam ser utilizadas para demarcar estes limites cronológicos. Por exemplo: Para o início da Idade Média: 330 Reconhecimento da liberdade de culto aos cristãos 392 Oficialização do cristianismo 698 Conquista muçulmana de Cartago Ou para o fim da Idade Média: 1453 Queda de Constantinopla e fim da Guerra dos Cem Anos 1492 Descoberta da América 1517 Início da Reforma Protestante Fazendo um balanço desta discussão, esse autor aponta que a História deva ser entendida como um processo, e por isso é necessário “renunciar à busca de um fato específico que teria inaugurado ou encerrado um determinado período” (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 15), o que possibilita ainda assim entender que a Idade Média é “um período da história europeia de cerca de um milênio, ainda que suas balizas cronológicas continuem sendo discutíveis” (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 14). Fases internas Quanto à compreensão do processo histórico interno ao período medieval, Hilário Franco Júnior observa que se tornou prática corrente dividir o período medieval em fases que expressam certa “unidade interna”, isto é, um conjunto relativamente homogêneo de características identificáveis. Uma das formas mais comuns de dividir a Idade Média em fases é a seguinte: Alta Idade Média Do século V ao século X Baixa Idade Média Do século XI ao século XV Vários são os critérios utilizados para justificar esta divisão, e alguns deles serão apresentados e discutidos mais detidamente nas aulas seguintes, mas podemos inicialmente apontar que há uma grande diferença entre estas duas fases no que diz respeito à disponibilidade das fontes de pesquisa. Como a primeira fase (Alta Idade Média) corresponde ao desmoronamento do aparato estatal do Império Romano do Ocidente, verifica-se um recuo generalizado na produção da cultura letrada no Ocidente Medieval, tornando por isso mais rarefeita a produção dos documentos escritos produzidos neste período. Já a segunda fase (Baixa Idade Média) é marcada pela evolução e auge do modo de produção feudal, quando se verifica um notável crescimento na produção da cultura letrada, proporcionando aos historiadores uma maior quantidade e diversidade de fontes de investigação a partir dos documentos escritos. Novas convenções Procurando aprofundar ainda mais a percepção das peculiaridades de cada fase da Idade Média, Hilário Franco Júnior utilizou uma forma de divisão mais sofisticada em seu importante manual universitário intitulado A Idade Média: nascimento do Ocidente (FRANCO JÚNIOR, 2001). Nessa obra, a Idade Média é dividida da seguinte forma: Primeira Idade Média Princípios do século IV a meados do século VIII Alta Idade Média Meados do século VIII a meados do século X Idade Média Central Séculos XI–XIII Baixa Idade Média Século XIV a meados do século XVI Podemos entender essa opção de divisão em fases como um aprofundamento da divisão anteriormente descrita, na medida em que as duas primeiras fases (Primeira Idade Média e Alta Idade Média) são desdobramentos coerentes da noção mais genérica de Alta Idade Média e as duas seguintes (Idade Média Central e Baixa Idade Média) correspondem à noção de Baixa Idade Média em sentido amplo. A Antiguidade Tardia Esta divisão ampliada das fases da História Medieval utilizada na obra de Hilário Franco Júnior é importante não somente por reconhecer mais detalhadamente as especificidades de cada momento do processo histórico, mas também porque permite problematizar uma noção que vem ganhando importância crescente na historiografia mais recente. A partir de meados do século XX vários historiadores passaram a defender a ideia de que o período que se segue ao colapso do aparelho estatal romano no século V apresenta uma maior articulação com a História da Antiguidade do que com a História Medieval. Argumentam alguns especialistas que as questões pertinentes ao período que se estende até meados do século VIII somente podem ser compreendidos integralmente a partir da compreensão das fortes raízes que ligam estemomento à suas heranças com o mundo clássico. Nessa perspectiva, questões como o processo de desmantelamento da escravidão, as permanências nas concepções e práticas políticas e o domínio da cultura grega e latina nos círculos letrados devem ser investigadas a partir de sua conexão com o mundo romano, ainda que decadente em vários aspectos. Surge desse debate a importante noção de Antiguidade Tardia, que ganha cada vez mais espaço na produção historiográfica. É nesse sentido que a divisão proposta por Hilário Franco Júnior permite perfeitamente assimilar o período por ele denominado de Primeira Idade Média à Antiguidade Tardia, tanto do ponto de vista cronológico como do ponto de vista temático. Eis o conteúdo desta aula. Acesse agora o AVA para aprofundar seus estudos e trocar informações com os colegas e com o professor. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. REFERÊNCIAS FRANCO JR., Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. OLIVEIRA, Waldir Freitas. A antiguidade tardia. São Paulo: Ática, 1990. ______. A caminho da Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1991.
Compartilhar