Buscar

13-O conceito de mentalidade e o estudo da História Medieval

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

História Antiga e Medieval 
Aula 13 
Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este material é parte integrante da disciplina, oferecida pela UNINOVE. 
O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de 
discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente 
virtual de aprendizagem UNINOVE. 
 
 
Uso consciente do papel. 
Cause boa impressão, imprima menos. 
 
Aula 13: O conceito de mentalidade e o estudo da História Medieval 
 
Objetivo: Discutir um importante aporte teórico e metodológico produzido pela 
historiografia do século XX com grandes contribuições para os estudos sobre a 
Idade Média. 
 
 
O conceito de mentalidade na historiografia 
 
Importantes contribuições para o estudo das sociedades ditas “pré-
capitalistas” foram elaboradas pela historiografia durante o século XX. A produção 
francesa, notadamente em torno do movimento dos Annales, contou com uma 
significativa presença de medievalistas renomados, como Marc Bloch, Jacques Le 
Goff e Georges Duby entre tantos outros. 
Uma das inovações, surgida no contexto de um intenso debate com as 
demais ciências humanas e sociais, notadamente com a antropologia, foi o uso do 
conceito de mentalidade. 
A concepção de mentalidade procurou desde então dar maior visibilidade aos 
níveis mais estruturais dos fenômenos históricos, observando, sobretudo as 
permanências em detrimento das rupturas. Nesse sentido, uma História das 
Mentalidades procura apreender os níveis mais profundos e estáveis da ação 
humana e social na dimensão diacrônica. 
Apesar de o termo mentalidade evocar fenômenos relativos a uma atividade 
“mental”, é necessário que se diga que a mentalidade expressa um nível 
inconsciente, incorporando assim os avanços da psicologia no início do século, 
sobretudo a repercussão dos estudos de Sigmund Freud e seus discípulos. 
Assim, a mentalidade se refere ao conjunto das crenças e valores mais 
arraigados e entranhados do comportamento humano, expressando-se por aquelas 
ações mais automáticas e irrefletidas. 
O quadro a seguir procura sintetizar a compreensão da História das 
Mentalidades em comparação com aquelas concepções da ação humana 
produzidas a partir do humanismo renascentista e que perduraram até o fim do 
século XIX. 
 
Concepções convencionais do homem Mentalidade 
Racional “Irracional” 
Consciente Inconsciente 
Ato refletido / ato meditado Ato automático / ato reflexo 
Mediato Ato automático / ato reflexo 
Duração rápida (eventual) e média (conjuntural) Longa duração (estrutural) 
 
 
Note-se que a apropriação da concepção de inconsciente amplia a 
perspectiva da investigação histórica na medida em que parte de uma 
problematização da complexidade das ações humanas, possibilitando a exploração 
de novos objetos passíveis de investigação histórica: o onírico, os sentimentos, as 
emoções, os medos e temores, as crenças partilhadas, por exemplo. 
Como todo artefato conceitual, os procedimentos metodológicos preconizados 
pelos historiadores das mentalidades devem ser entendidos como instrumentos de 
ampliação da concepção de homem e não na sua redução, isto é, a metodologia da 
pesquisa das mentalidades não deve ser feita isoladamente, mas solidariamente aos 
avanços obtidos com outros procedimentos de pesquisa. Nesse sentido, a História 
das Mentalidades possibilita um olhar específico sobre os fenômenos humanos, e 
não uma explicação causal única destes fenômenos em detrimento de outras 
abordagens possíveis. 
 
A mentalidade medieval 
 
A partir da investigação de uma “psicologia coletiva” nos tempos medievais, a 
historiografia tem ressaltado a importância do sagrado na mentalidade medieval. 
Neste período as fronteiras entre o mundo natural e o mundo sobrenatural não 
estavam tão demarcadas como se verá a partir da época moderna. Nesse sentido, o 
homem medieval entendia que esses dois níveis estavam presentes e atuavam 
conjuntamente na realidade humana e social. 
 
A concepção que melhor define esta percepção é a ideia de hierofania, isto é, 
a manifestação do sagrado, a crença de que paralelamente aos fenômenos visíveis 
e naturais atuavam sempre as forças sobrenaturais e invisíveis. 
Um exemplo dessa concepção estava expresso na instituição do ordálio, o 
“julgamento de Deus”, mais intensamente praticada nos primeiros séculos 
medievais. Trata-se de um julgamento que pede o veredicto expresso por uma 
suposta intervenção de forças sobrenaturais ou divinas. Assim, o acusado de um 
crime deveria passar por uma prova (pela água, pelo fogo, por beberagem) cujo 
resultado revelaria sua culpa ou inocência. 
Desse traço fundamental da mentalidade medieval, a manifestação do 
sagrado, derivam outras três características: 
 
 Simbolismo. Partindo da concepção de que todos os objetos visíveis no 
mundo natural expressavam apenas uma faceta somente, ocultando os 
elementos sobrenaturais pertinentes a este objeto, a mentalidade medieval 
recusava uma análise objetiva do mundo. Nesse contexto, toda interpretação 
da realidade passava por uma leitura simbólica de todos os objetos e eventos. 
A função desta linguagem simbólica era expressar a um só tempo as duas 
faces do mesmo objeto de forma a apontar para uma síntese totalizadora. É 
por esse motivo que a linguagem da arte medieval é a da alegoria e do 
símbolo, em detrimento da descrição realista ou do “retrato” moderno. 
 Belicismo. As forças sobrenaturais que se manifestam no mundo não 
representam somente as entidades divinas benignas, mas também há as 
maléficas, diabólicas. Esta percepção compreende toda realidade como palco 
de uma luta (bellum quer dizer guerra) renhida entre estas forças do bem e do 
mal. Neste sentido, as Cruzadas expressam exemplarmente este aspecto da 
mentalidade medieval de forma radical. 
 Contratualismo. Essa concepção deriva diretamente do belicismo, na medida 
em que implica a tomada de posição dos homens naquele contexto de luta 
entre as forças sobrenaturais do bem e do mal. Assim, os homens devem se 
posicionar no quadro daquele conflito, externando de forma contratual sua 
adesão a esta ou àquela facção em conflito. Os rituais são a ocasião da 
reatualização constante do conteúdo daquele contrato. Nesse ponto é 
necessário lembrar que a descrença nas forças benignas implica como que 
 
automaticamente a adesão às fileiras do culto das forças malignas, por isso a 
constante preocupação com a questão da magia e dos cultos pagãos ainda 
bastante presentes, principalmente entre os camponeses. Em um livro que 
provoca ainda muitos debates, O problema da incredulidade no século XVI, 
Lucien Febvre defende a ideia de que durante a Idade Média seria pouco 
provável a existência de concepções como o ateísmo ou o agnosticismo dado 
a concepção dominante na presença constante das forças sobrenaturais. O 
que restava aos homens era escolher qual partido tomar naquela disputa, 
anterior e eterna, impossibilitando assim a emergência de percepções 
materialistas da realidade. 
 
Implicações 
 
O conhecimento destas características da mentalidade medieval constitui 
pressuposto importante no estudo deste período histórico, pois implica componente 
importante na análise dos fenômenos econômicos, sociais, políticos e culturais 
pertinentes àquele momento. 
Durante as aulas seguintes, poderão ser explicitadas algumas das conexões 
estabelecidas entre o nível da mentalidade medieval com cada um destes aspectos 
específicos.Nesse momento, cabe explorar uma implicação em particular. Tendo em vista 
as características da mentalidade medieval podemos compreender que a 
religiosidade do homem medieval é mais um efeito diante da sua inquietação sobre 
a relação estabelecida entre os níveis natural e sobrenatural, e não sua causa. Isto 
é, o cristianismo, suas práticas e concepções, estabeleciam então uma linguagem 
apropriada para dar forma e ordenar o universo simbólico no qual se moviam 
aqueles homens. 
É nesse sentido que a Igreja e suas instituições foram centrais na constituição 
da sociedade medieval, na medida em que monopolizavam a relação com o 
sagrado. 
 
Vale a pena conferir 
 
 
1. Leia o livro de HUIZINGA, Johan. O declínio da Idade Média. Lisboa: Ulisseia, s.d. 
(Edição brasileira: HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Média. São Paulo: Cosac 
Naify, 2011). 
 
Eis o conteúdo desta aula. Acesse agora o AVA para aprofundar seus 
estudos e trocar informações com os colegas e com o professor. 
 
 
 
* O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência 
para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929–1989). São Paulo: Unesp, 1991. 
FRANCO JR., Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: 
Brasiliense, 2001. 
LE GOFF, Jacques (Org.). A nova História. Coimbra: Almedina, 1990.

Outros materiais