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RESENHA DO LIVRO
“ MATRIZES DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO”
DE
LUÍS CLÁUDIO MENDONÇA FIGUEIREDO
1
CAPÍTULO I
A CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO
EMERGÊNCIA E RUÍNA DO SUJEITO
Na Idade Moderna surge a redefinição das relações sujeito/objeto: A razão 
contemplativa cede lugar à “razão” e à ação instrumental. A partir de Francis Bacon, 
enfatiza-se o caráter operante das relações entre homem e mundo, o sujeito possui o status 
de senhor de direito da natureza, cabendo ao conhecimento transformá-lo em senhor de 
“fato”. Descartes compartilha com Bacon a mudança, no sentido de um interesse utilitário. 
O conhecimento científico subordinando-se à utilidade, à adaptação e ao controle, 
modelando-se a prática científica pela ação instrumental alcançou realce cada vez maior. 
Com o passar do tempo, desdobrando-se a tradição utilitária, a aplicação prática do 
conhecimento, deixa de ser apenas condicionante externo e passa a justificar e motivar a 
pesquisa. A possível e desejável aplicação prática do conhecimento, ao motivar 
profundamente a pesquisa, faz com que ocorra a ruptura, de uma forma, na qual as teorias 
do conhecimento ainda manifestavam-se sob o modelo da razão contemplativa, que 
buscava os fundamentos absolutos do conhecimento, na razão (Descartes) e na 
experimentação (Bacon), para uma que fundamentava-se cada vez mais na 
instrumentabilidade do conhecimento, cujos procedimentos e técnicas definem-se nos 
termos de controle, cálculo e teste. 
O “real” objeto desta ciência é o real tecnicamente manipulável, na forma do 
controle e na forma simbólica do cálculo e da previsão exata. A ciência e a produção 
tecnológica, por terem os mesmos projetos e meios empregados nas atuações produtivas, 
progridem juntas, amparando-se e incentivando-se mutuamente. Ambas encarnam um 
projeto único e visam o mesmo objeto, da mesma forma. Bacon afirma que o ser humano 
possui tendências inatas ou adquiridas que bloqueiam ou deformam a leitura objetiva da 
natureza; diz também que a mente humana foi possuída por ídolos e falsos preceitos e que 
existe dificuldade para a verdade penetrar e ser absorvida e apreendida. Instala-se a partir 
de Bacon, uma atitude cautelosa e suspeitosa do homem para consigo mesmo. A produção 
do conhecimento produtivo pela objetividade e a ação instrumental, necessariamente 
enfrentam uma dificuldade; o auto-conhecimento e o auto-controle seriam preliminares 
indispensáveis. Tem-se por disciplina do espírito o objetivo das regras metodológicas, as 
quais definirão a própria prática científica, ou seja, a disciplina do método é o que 
especifica o cientista. 
Emerge com Descartes, a dúvida metódica; a nova ciência tem nela, seu 
procedimento fundamental. Na doutrina dos ídolos assim como na dúvida metódica 
encontram-se todos os discursos de suspeição que a Idade Moderna elaborou, identificando 
e extirpando, ou neutralizando a subjetividade empírica. A base segura para se validar e 
fundar o conhecimento objetivo, no entanto, continuou sendo para Bacon, a evidência 
empírica que além de sua dificuldade de obtenção ainda exigia uma constante higiene 
mental. Hegel e Marx inauguram um outro ponto de vista, onde surge a desconfiança em 
2
relação ao sensível, ao imediatamente dado. Nessa concepção, todo conhecimento é 
mediado e construído. Desenvolvia-se a suspeita dirigida à experiência sensorial e numa 
outra tradição, a própria razão tinha seu valor e limites investigados. David Hume reduziu 
os processos mentais a fenômenos associativos apontando para a aprendizagem como sendo 
origem das categorias e operações do pensamento. Hume inicia o procedimento que 
desqualifica a lógica como reitora incondicional do discurso científico e a coloca como 
resultado da experiência, portanto, condicionada e relativa. O que exige cautela, diante da 
própria razão. 
Não se encontra com facilidade, movimentos intelectuais que compartilhem 
simultaneamente as suspeitas, diante das teorias e dos dados, da razão e da observação e 
suspeitas generalizadas diante dos afetos e das motivações. Isto reduziria o sujeito ao 
desespero e à condenação (por ilusória), de qualquer pretensão ao conhecimento objetivo. 
O niilismo Nietzschiano é o que mais se aproxima deste limite. Com Peirce e Popper a 
busca do fundamento absolutamente seguro do conhecimento foi substituída pela 
especificação de um procedimento, de uma lógica da investigação, que diante da 
impossibilidade de extirpar o subjetivismo e a arbitrariedade, no início da pesquisa, possa 
promover um processo infinito de auto-correção, no qual a verdade objetiva se coloca como 
idéia reguladora. A época define-se pela presença destes ataques ao sujeito empírico do 
conhecimento, pelas táticas contra sua inclusão indesejada, pelo sítio armado em torno da 
subjetividade.
O sujeito empírico é concebido como fator de erro, de ilusão. Constitui-se e tenta-
se colonizar um novo campo, “o da natureza interna” ou “intímo”. Este projeto carrega uma 
contradição peculiar: justifica-se por se presumir que a natureza interna seja essencialmente 
hostil à disciplina imposta pelo método científico e por isso deva ser neutralizada. Mas, por 
outro lado, o objetivo seria submeter a natureza interna às mesmas práticas de pesquisa e 
portanto de controle, que se firmaram e desenvolveram na interação com a natureza 
externa. O sujeito, então é atravessado por uma sucessão de rupturas. As ciências naturais 
repousam na pressuposição de uma exterioridade entre a prática da pesquisa e seu objeto, o 
confronto nitidamente delimitado e rigidamente controlado entre sujeito e objeto, o que 
promove a multiplicação e o refinamento dos instrumentos conceituais e teóricos de 
descrição, previsão e controle. Mas, a Psicologia que nasce no bojo das tentativas de 
fundamentação das novas ciências acaba por destinar-se a jamais encontrar seus próprios 
fundamentos e nunca satisfazer os moldes de cientificidade que motivaram seu próprio 
surgimento.
EMERGÊNCIA E RUÍNA DO SUJEITO 
Numa sociedade agrária, a identidade social era pré-definida pela cultura em 
função de eventos biográficos, quase que totalmente. O indivíduo era o que a comunidade 
definia, ao menos em grande medida. A nova forma de organização social, a convivência é 
marcada pelas relações instrumentais e pela luta entre interesses particulares opostos, o que 
dá margem para o surgimento de uma subjetividade diferenciada em relação à identidade 
social pré- definida existente na sociedade agrária. Surge uma imagem de indivíduo legada 
pelo iluminismo e presente no liberalismo clássico: capaz de discernimento, capaz de 
cálculo na defesa de seus interesses, etc., enfim: capaz de independência em relação à 
autoridade e à tradição.
Mais tarde, quando a sociedade entra em crise, com as guerras, as lutas operárias, 
as recessões, os bolsões da miséria urbana, o indivíduo privado passa a ser visto como 
3
egoista, imediatista, sem condições de autocontrole em benefício do social, tornando-se 
assim o bode expiatório. Esta perspectiva instrumental da administração racionalizada 
também aparece no projeto de constituição de uma psicologia como ciência do individuo e 
(inúmeras vezes) contra o indivíduo. Observa-se: de um lado o indivíduo para si, 
irredutível; do outro lado, o indivíduo para o outro, um suporte de papéis sociais e pré 
definidos. Um, objeto de uma psicologia que não é ciência; o outro, objeto de uma ciência, 
mas não chega a ser psicologia.
CONCLUSÕES
Nota-se, ao se reconstituir as condições sociais, econômicas e culturais existentesno projeto de uma Psicologia Científica que lhe criam o espaço e definem seu significado, 
oposição entre o caráter considerado pré-científico do sujeito, somado ao caráter pré-social, 
ou anti-social do indivíduo privado de um lado, e do outro lado a necessidade de submeter 
a subjetividade a leis, descobrindo aí regularidades que possibilitem seu controle e a 
coloquem a serviço do domínio técnico da Natureza e da reprodução social. Daí, a ciência 
psi, tende a constituir-se, vendo-se na obrigação de reconhecer e desconhecer seu objeto. 
Ao não reconhece-lo, não se legitima como ciência independente e pode ser anexada à 
outras modalidades de conhecimento. Mas ao não desconhece-lo, não se legitima como 
ciência, pois não se submete aos requisitos da metodologia científica, nem resulta na 
formulação de leis gerais com caráter preditivo. Abre-se um campo de conflitos que não é 
acidental. Este, não parece que possa vir a ser unificado, por qualquer meio que o seja. 
Antes, as divergências parecem refletir as contradições do próprio projeto que enraizam-se 
por sua vez na ambigüidade da posição do sujeito e do indivíduo na cultura ocidental 
contemporânea. 
CAPÍTULO II
A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO
No plano teórico a Psicologia reproduz a ambigüidade de seu objeto: o sujeito é 
dominador e dominado; o indivíduo é liberto e reprimido. No conjunto da Psicologia nos 
deparamos com um complexo de relações sincrônicas que se caracteriza pelo antagonismo 
entre diversas concepções irredutíveis entre si. De um lado, escolas e movimentos gerados 
por matrizes cientificistas, onde a especificidade do objeto, ou seja, a subjetividade e a 
singularidade tendem a ser desconhecidas e surge uma imitação dos modelos e práticas das 
ciências naturais. Do outro lado escolas e movimentos gerados por matrizes românticas e 
pós românticas, onde atos e vivências de um sujeito, dotados de valor e significado para ele 
são valorizados, ou seja, a especificidade do objeto é reconhecida, reivindicando-se total 
independência da Psicologia em relação às demais ciências, mas, há carência de segurança 
e de cientificidade e assim buscam-se novos moldes científicos.
MATRIZES CIENTIFICISTAS
MATRIZ NOMOTÉTICA E QUANTIFICADORA
É a que define a natureza dos objetivos e procedimentos de uma prática teórica 
realmente científica. Busca ordem natural nos fenômenos psi e comportamentais, 
classificando e procurando leis gerais, mantendo caráter preditivo. Hipotetização, cálculo e 
4
mensuração definem a lógica experimental. Assim orientam-se a práticas de controle do 
ambiente natural, no qual inserem-se aspectos da vida social.
MATRIZ ATOMICISTA E MECANICISTA
Procura relações deterministas ou probabilísticas. Mantém concepção linear e 
unidirecional de causalidade. Considera-se o real como sendo elementos que em diferentes 
combinações, causam mecanicamente os fenômenos complexos daí derivados. Abriga 
rígida noção de causalidade onde ocorre inexorável encadeamento de causas e efeitos. Ao 
substituir o determinismo pelo probabilismo reduz a ambição de conhecimento sem alterar 
o a-historicismo mecanicista. Salta à vista a incompatibilidade entre o mecanicismo e um 
sujeito capaz de agir transformando e inovando. Esta matriz foi muito influente apenas na 
pré-história da Psicologia por suas pretensões e realizações eminentemente científicas.
MATRIZ FUNCIONALISTA E ORGANICISTA
Exerceu e ainda exerce sobre o pensamento psi influência, mais poderosa que a 
matriz atomicista e mecanicista. A noção de causalidade funcional, surge, recuperando-se a 
noção de causa final de Aristóteles. A causalidade circular, na qual um efeito é também 
causa e uma causa é efeito de seu efeito é cogitada. Considera-se a funcionalidade de um 
orgão, de um mecanismo, etc., como algo que remete ao todo de que faz parte e assim 
apenas se define na interdependência das partes deste todo. A análise então, obedece regras 
diferentes das que do atomicismo emanam. Substitui-se a sub-divisão da matéria 
(atomicismo) pela análise dos sistemas funcionais. Dispensa-se atenção aos processos 
temporais. Os seres vivos têm uma história de desenvolvimento. E outra evolutiva. Divide-
se em submatriz ambientalista e submatriz nativista. Ao superar o atomicismo e o 
mecanicismo, regata as noções de valor e significado. É um estruturalismo biológico que se 
funda na idéia de complementaridade num sistema, onde o conflito é visto como 
patológico, o que talvez seja acertado para a Biologia mas traz para a Psicologia, 
conseqüências. A dimensão ética do comportamento, essencial e diferenciadora do 
comportamento humano, transforma-se em técnica de sobrevivência. Aparecem a noções 
pragmáticas de conveniência e adequação. Uma técnica de sobrevivência mostra-se 
adequada e conveniente se elimina ou reduz o conflito e restabelece a harmonia e a 
complementaridade.
MATRIZES CIENTIFICISTAS E IDEOLOGIAS CIENTÍFICAS
A partir de todas as matrizes cientificistas, surge na Psicologia a idéia de 
conhecimento útil. Mas, deve-se avaliar a utilidade tanto no nível prático quanto no 
simbólico. Um dos mais antigos focos permanentes na pesquisa psi é a elaboração de 
técnicas: psicométricas, de treinamento, de ensino, de persuasão, etc... Mas, à Psicologia do 
século XX coube além disso, fornecer legitimações, pela necessidade de se dar às práticas 
sociais de controle e dominação a necessária legitimidade que debilmente é negada pelo 
liberalismo. Entende-se que uma tecnologia psi é possível e não há mal em usá-la: quem 
garante é a ciência. A pesquisa de base é a fiadora maior da possibilidade de se aplicar ao 
subjetivo os modelos das ciências naturais possibilitando que se submetam os fenômenos 
subjetivos à interesses tecnológicos. Este esforço de legitimação mostra-se necessário: as 
práticas de dominação e controle social estão sujeitas à contestação emanada, na Psicologia, 
das matrizes românticas.
5
MATRIZES ROMÂNTICAS E PÓS-ROMÂNTICAS
Nelas, o que foi excluido pelas matrizes cientificistas é recolhido, no que se 
denomina de vitalismo naturista: o qualitativo, o indeterminado, o espiritual, etc. Os 
vitalistas, são a favor da vida e contra a razão. O sujeito, por não se reconhecer na sua 
ciência, na imagem refletida pela ciência, desiste da ciência. Surge o interesse estético no 
lugar do interesse tecnológico. Anulam-se as diferenças entre sujeito e objeto, entre ser e 
conhecer. Esta matriz está profundamente enraizada no senso comum da prática psi e nas 
representações sociais da Psicologia.
MATRIZES COMPREENSIVAS
Existem três grandes linhas compreensivas: o historicismo idiográfico, o 
estruturalismo e a fenomenologia. O primeiro busca a captação da experiência como se 
constitui na imediata vivência do sujeito. Propõe que se decifre e interprete as 
manifestações vitais, culturais e psicológicas, ou seja, atribui às ciências do espírito uma 
tarefa hermenêutica. Mas como resolver o problema da verdade? Como escolher entre 
interpretações conflitantes? Uma das soluções para o problema da compreensão foi 
proporcionada pelos estruturalismos. 
Nestes, o trabalho de interpretação tenta modelar-se pela hipotetização, pelo 
cálculo e teste de hipóteses, característica das ciências da natureza. A intenção é reconstruir 
as estruturas geradoras de mensagens, as regras que controlam inconscientemente a 
organização das formas simbólicas e os discursos. Mas é na fenomenologia que vamos 
encontrar uma tentativa de superação, do cientificismo, ao qual os estruturalistas 
sucumbem, assim como do historicismo. Os objetos, então, não são os eventos naturais, 
mas osfenômenos, aquilo que à consciência aparece. Assim os eventos psi não são coisas 
no mundo, mas, constitutivos do mundo. 
A fenomenologia denuncia como irremediavelmente cético ao historicismo 
idiográfico. O ceticismo seria uma conseqüência do relativismo radical historicista. A 
fenomenologia descobre que o ser humano não tem essência alguma pré definida. 
Compreender o indivíduo são ou doente, implica em reconstruir seu mundo, explicitar 
horizontes que confiram sentidos a seus atos e vivências, desvelando o seu projeto 
existencial. Na base de tudo encontra-se um sujeito e suas escolhas.
MATRIZES ROMÂNTICAS, PÓS-ROMÂNTICAS E IDEOLOGIAS 
PARARRELIGIOSAS
As matrizes cientificistas secretam ideologias científicas. As matrizes românticas e 
pós-românticas, com exceção dos estruturalismos que fazem a balança pender para o outro 
lado, secretam ideologias pararreligiosas. O indivíduo, a liberdade e imagens afins são 
colocados no altar, sem que se analisem as condições concretas de realização de tais 
pressupostos. As ideologias científicas afirmam ser o sujeito um objeto como qualquer 
outro para o exercício do poder, legitimando a dominação com o manto da ciência, mas as 
ideologias românticas completam: independentemente de questões menores de dominação e 
poder, a liberdade é indestrutível, o indivíduo é livre, a escravidão é uma opção. Legitima-
se assim, o retraimento do sujeito sobre si mesmo. Entre as ideologias de um e de outro 
lado, ocorre complementação.
6
PERSPECTIVAS ATUAIS
O projeto de unificação filosófica e metodológica permanece atual, mas parece 
inviável. Desde Watson, até Skinner, na Psicanálise ou em Piaget, percebe-se a mesma 
intenção. Diante da impossibilidade da unificação surgem projetos de partilha. Karl Jaspers 
distribuiu os fenômenos psi entre uma ciência da natureza e uma ciência do espírito. S. 
Koch aceita como inevitável a diversidade na Psicologia e preconiza a anexação das 
diversas áreas às disciplinas mais próximas. Há quem defenda a permanência da 
duplicidade epistemológica e metodológica, tal como Nuttin, para quem existe a 
intencionalidade e as leis da natureza, sem que se possa excluir uma ou outra. Howaarth, 
assume ótica pragmática e reúne tradição humanista e psicologia mecanicista e acaba 
incorrendo num ecletismo embelezado. O ecletismo tem sido a maneira que se tem 
encontrado predominantemente na comunidade profissional da Psicologia, para enfrentar as 
contradições do projeto de independência científica da Psicologia. Mas assim, as 
contradições ficam camufladas, travestidas de complementaridade e a própria natureza do 
projeto é subtraida do campo da reflexão e da crítica.
CAPITULO III
MATRIZ NOMOTÉTICA E QUANTIFICADORA
A ciência em qualquer de suas práticas e específicos procedimentos, busca tornar 
para o homem, mais compreensível um domínio de sua experiência. As ciências naturais 
com a sua procura de compreensão da realidade assenta-se na crença de uma ordem natural, 
uma ordem à parte dos sujeitos que a experimentam. Esta não é uma crença gratuita nem se 
trata de um mero expediente de conveniência; origina-se na e justifica-se pela historia da 
espécie homo sapiens. Nossa espécie caracteriza-se pela produção da própria existência, 
através do trabalho que por um lado exige e por outro testa a capacidade que temos para 
formar idéias que reproduzem regularidades naturais; estas idéias orientarão a fabricação de 
instrumentos e a codificação de técnicas produtivas. O trabalho é a forma mais completa e 
poderosa do ser humano adaptar-se ao ambiente, sobre o mesmo exercendo algum controle. 
Respostas adaptativas padronizadas com formas e condições de ocorrência dependentes 
essencialmente da informação filogenética existem no nível mais simples. 
 A crença na ordem que a ciência assume é a crença na ordem assumida e 
legitimada pelo trabalho. O ser humano anda em busca de regularidades que lhe permitam 
prever; é um traço característico de nossa espécie. A crença na ordem natural dirige o 
pesquisador na busca de sistemas classificatórios recortando a realidade de acordo com as 
diferenciações mais verdadeiras e ou mais inconvenientes e também de leis gerais que 
possam descrever de modo mais conveniente ou aproximados relações entre os fenômenos. 
Sistemas classificatórios e leis têm valor de hipótese e precisam sofrer correção sempre que 
se revelem insuficientes para proporcionar descrições e explicações satisfatórias.
A ORDEM NAS APARÊNCIAS
A ciência pode se propor a apenas organizar os dados aparentes sem pretensão de 
representar a ordem objetiva. Taxionomias são concebidas como “mecanismos de 
descrição, cálculo e previsão”, sem dimensão ontológica. A preocupação com salvar as 
aparências dá lugar a uma proliferação de dispositivos ad hoc numa interminável sucessão 
de ajustes que acabam, ao se superporem, também contradizendo-se. 
7
A ORDEM NATURAL
Copérnico, Kepler e Galileu e Descartes imbuíram nova função à matemática: 
expressar as “leis da natureza”. Previsão e cálculos exatos obviamente não foram deixados 
de lado. Sobretudo esta previsão é condicionada por uma abstração, que naturalmente 
exclui o sensível para trabalhar apenas com o inteligível, com o puramente racional. 
Haverá uma substituição: o mundo da experiência cotidiana saturado de 
significados e de valores afetivos e estéticos intenções e desejos, dá lugar a um mundo em 
que a pesquisa e a teorização são fins pra um universo geométrico e mecânico, 
matematizável e homogêneo. Esta homogeneízação acaba com divisão do cosmos, porém 
impõe-se a tarefa de oferecer descrições e explicações unitárias.
A ruptura epistemológica, que foi uma das grandes façanhas dos precursores da 
física, ou seja, a superação e afastamento da experiência sensível para construção de um 
objeto teórico original, construída pela razão e objeto da experiência intelectual, foi uma 
lição. Apenas a este objeto se aplica de maneira exata as leis da matemática. Assim a 
experiência cientifica foi se tornando cada vez mais abstrata e purificada.
A EXPANSÃO DA ORDEM NATURAL
O espírito de exatidão, da mensuração e da análise experimental surgiu através de 
Lavoisier. Os estudos biológicos também avançaram na direção da biologia científica.
A ORDEM NATURAL DOS FENÔMENOS PSICOLÓGICOS E 
COMPORTAMENTAIS.
Submeter os fenômenos psi aos procedimentos da matemática, possibilitando a 
criação de uma Psicologia empírica, foi algo negado pr Kant. O projeto de uma 
psicometria, no entanto, surgiu no século XVIII com Chrstian Wolff. Em momento algum 
arrefeceu o impulso nomotético e quantificador.
RAÍZES SOCIOCULTURAIS DA QUANTIFICAÇÃO PSICOLÓGICA
Hoje se aceita como objetivo de uma observação acerca do homem, a elaboração 
de leis gerais, em linguagem matemática, descrevendo regularidades dos fenômenos 
psíquicos e comportamentais, proporcionando previsões exatas, mas isto soava a ainda bem 
pouco tempo, como contra-senso, perante a natureza especial da subjetividade. 
Estender o pensamento nomotético e quantificador ao homem e particularmente 
ao sujeito individual encontrou obstáculos diversos, culturais, ideológicos, religiosos, etc, e 
teve que se preceder de transformações sociais que modelaram uma natureza humana, 
criando uma imagem de homem que tornou o próprio homem acessível, objeto aos 
procedimentos das ciências naturais. 
Assim houve melhores condições de expansão da economia mercantil. O 
surgimento da psicologia enquanto ciência natural associa-se à expansão da economia 
mercantil, graças às transformações sociais queesta proporcionou, mas associa-se também 
às crises desta economia, a exigir novas técnicas de controle social, uma ativa intervenção 
do Estado, além disto, a legitimações para as novas formas de exercício de poder. 
Coube em parte à Psicologia fornecer técnicas e ideologias, e as práticas sociais 
criaram pré-condições para que se tornasse aceito um tratamento cientificista da 
subjetividade, por introduzir na vida do indivíduo o formalismo, a quantificação, e a 
sujeição as leis supostamente naturais da sociedade. O tratamento cientificista devolve por 
8
seu turno à sociedade, a imagem na qual as características da vida cotidiana, são fixas e 
mostradas como fatos naturais.
Não se pode negar a cientificidade de muitas descrições e explicações da 
Psicologia principalmente as mais relacionadas ao campo biológico, mas ao estender-se a 
todas as formas e níveis de fenômenos psi e do comportamento o pensamento nomotético e 
quantificador ao não revelar as origens sócio culturais de suas próprias possibilidades de 
existência, a Psicologia cientificista acaba contribuindo para que se legitime práticas sociais 
e interesses correspondentes, o que torna muito comum os produtos das matrizes 
românticas, confundir os planos de análise, rejeitando junto com a ideologia cientificista, 
conservadora ou progressista, a própria ciência.
CAPÍTULO IV
MATRIZ ATOMICISTA E MECANICISTA
O movimento dos seres inanimados sempre intrigou o homem. Em busca de 
previsão e controle, torna-se importante a resolução desta questão. Tem-se que dominar os 
fenômenos naturais. Estes são, em grande medida, movimentos. Exercício do domínio 
implica em se produzir movimento no mundo físico. Todo movimento é interpretado como 
efeito de ação exercida sobre o corpo que se move.
Durante séculos o ocidente aderiu ao ponto de vista de Aristóteles, quanto ao 
movimento. Este ponto de vista superava o antropomorfismo do senso comum, apesar de 
animista. Aristóteles admitia a existência de um movimento violento que seria produzido 
por um mecanismo obedecendo a uma intenção estranha ao corpo movente. Mas, este 
movimento não explica o movimento dos astros, de uma pedra que se move caindo de uma 
montanha, ou da fumaça de uma chaminé. Estes seriam movimentos naturais, segundo 
Aristóteles: cada corpo se move na direção de seu lugar natural. Para Aristóteles, há uma 
causa final que gera e dirige os movimentos físicos. Mas os movimentos violentos 
permaneciam em sua dinâmica, na obscuridade. Autores medievais propuseram o impetus: 
potencia que impregna o corpo, a partir de sua associação com o motor, podia se acumular 
e dissipar, seria, segundo Benedetti, passível de descrição matemática. Na Idade Média, a 
física do impetus desalojou a física de Aristóteles, mas a noção de impetus, afinal de contas 
é antropomórfica. A matematização é maneira de ordenar as aparências.
AS ORIGENS NA FÍSICA
A princípio, também Galileu aderiu à física do impetus, mas mediante sua 
fragilidade, terminou por lançar as bases da física científica. Rompeu com Aristóteles e o 
senso comum, ao conceber o movimento no vácuo, num experimento imaginário, o que o 
conduziu à lei da inércia que atribui o mesmo valor e as mesmas propriedades ao repouso e 
ao movimento. O movimento é dotado de autonomia e sua permanência é automática. A 
aceleração e a direção são concebidas como procedentes de causas externas ao corpo que se 
move, mas o movimento em si independe de força que o puxe como meta, ou causa final, 
ou o empurre como ação que lhe foi impressa. Aos fatores causais de aceleração e direção 
denomina-se causas eficientes: antecedem o movimento e lhe imprimem direção e 
velocidade. O passado determina o presente e o presente ao futuro: é o conceito de 
causalidade mecanicista. Homogeneíza-se o universo. Com a homogeneização, propiciada 
pela matematização, surge a ressurreição do atomismo de Demócrito. Este concebia o real 
como sendo composto de mínimas partículas, invisíveis, combinadas em diversas formas 
9
observáveis. Ao se postular que estes elementos seriam os realmente objetivos vai-se 
desqualificar a sensibilidade e valorizar a razão como via de acesso ao real. Foi a mecânica 
de Newton que sintetizou a matematização e a atomização. Engendrou-se o universo como 
um grande mecanismo, um imenso relógio. Ali se condensava a idéia de movimento 
automático, perfeição mecânica, determinismo estrito e quantificação. Surge uma nova, 
abrangente e sistemática concepção da Natureza que se opõe radicalmente às concepções 
aristotélicas. A síntese newtoniana tornou-se exemplo de cientificidade e matriz de teorias e 
pesquisas em outras áreas de conhecimento.
EXTENSÕES DO ATOMICISMO E DO MECANICISMO
A química veio chegando a decomposições cada vez mais precisas, embora mais 
tarde contribua com o antielementarismo e com o antimecanicismo quando mostra a 
importância de configurações e sínteses originais. Na biologia o atomicismo insinuou-se 
através da anatomia. Na Psicologia Científica, o elementarismo (atomicismo) e o 
mecanicismo tiveram também repercussões e uma matriz na teoria do conhecimento teve 
grande importância na Psicologia. Tentou-se reduzir o conhecimento e os fenômenos 
mentais a uma combinação de elementos primitivos.
ATOMICISMO E MECANICISMO NA PSICOLOGIA
As ciências naturais estudam os elementos buscando uma ordem objetiva; a 
perspectiva atomicista na Psicologia levou a que se buscasse estudar os elementos átomos 
da consciência: as sensações. Isto, na sua relação de dependência com o organismo que as 
vive. Para Titchener, identificar estes elementos é em grande parte a tarefa da Psicologia, 
mediante introspecção controlada e altamente treinada, evitando-se o erro de estímulo, o 
qual seria relatar algo do objeto, ao invés de relatar somente as sensações simples e 
primitivas que oferece a experiência. Na obra de Ebbinghaus sobre a memória também está 
presente o atomismo e o mecanicismo.Em algumas versões do behaviorismo também se 
encontram o atomicismo e o mecanicismo, embora oscilem entre atomicismo/mecanicismo 
e funcionalismo organicista. Alguns behavioristas são marcadamente mecanicistas, a ponto 
de excluir intenções e propósitos, ficando-se com o conceito de automatismos. Em sua 
maioria, os behavioristas preconizam, no entanto, embora nem sempre de maneira 
consistente, análises molares do comportamento. Afastam-se também do mecanicismo e 
aderem a explicações funcionais da aprendizagem que se baseiam no sucesso ou fracasso 
adaptativo das respostas. Exclui-se, do discurso científico, por razões metodológicas ou 
metateóricas, os conceitos mentalistas, mas, embora promovam uma visão da aprendizagem 
como processo automático, chegam a postular variáveis organísmicas motivacionais e 
cognitivas. Por influência do funcionalismo, reduz-se o automatismo comportamental. 
Condutas motivadas e instâncias de escolha e decisão são incompatíveis com a imagem de 
passividade e reatividade pura, ocasionada pela matriz mecanicista. Não se pode concordar 
com a idéia, amplamente divulgada que associa o behaviorismo, fundamentalmente ao 
atomicismo e ao mecanicismo. 
RAIZES SOCIOCULTURAIS
A organização social e técnica do trabalho industrial ocasionaram o surgimento e 
consolidação do atomicismo e do mecanicismo. Mas o simples prestígio não explica a 
10
importação deste modelo para a Psicologia. É necessário que práticas sociais 
institucionalizadas forneçam condições para o funcionamento do sujeito se equiparar aos 
processos impessoais e padronizados da natureza inanimada e às formas de movimento das 
máquinas. De início, o atomicismoe o mecanicismo se manifestaram nos primórdios da 
Psicologia Industrial. Muitos psicólogos experimentalistas viram como possível e desejável 
contribuir para adaptar o homem à máquina e à linha de montagem. A vivência da prática 
mecanizada através do trabalho, nas condições que surgiram a partir de Taylor, Fayol e 
Ford, faz com que o movimento assuma o lugar da conduta. Esta vivência junto com a 
desvalorização da consciência, como fator causal, prepara o terreno para explicações 
mecanicistas em Psicologia.
Este terreno, não fica nunca aplainado totalmente. Tem havido forte resistência ao 
mecanicismo, gerada por vezes dentro dos próprios quadros das ciências naturais com o 
funcionalismo, outras vezes geradas nos quadros das ciências humanas e da filosofia, 
correspondentes à própria resistência engendrada nas práticas sociais.
CAPITULO V
MATRIZ FUNCIONALISTA E ORGANICISTA NA PSICOLOGIA AMERICANA
LIMITES DO ATOMICISMO E DO MECANICISMO
A matriz mecanicista e atomicista sobre os seres vivos encontrou e tem encontrado 
resistência. Reprodução, desenvolvimento e autoconservação desafiaram o poder 
explicativo do atomicismo e do mecanicismo. Estes fenômenos indicam uma especificidade 
nos seres vivos que aponta par algo dentro deles. Superficialmente os seres vivos são 
matéria tão acessível quanto qualquer outra aos procedimentos da física e da engenharia. 
Mas nos seres vivos há mecanismos sui generis. Surgiu então nova ciência e com ela os 
conceitos de organismo, função, evolução, desenvolvimento.
FUNÇÃO, ESTRUTURA E GENESE
Organismo e função são conceitos decisivos na biologia. As disciplinas biológicas 
são estabelecidas sob o conceito de adaptação. A biologia recupera de certa forma a causa 
final aristotélica que a física moderna afastou do discurso cientifico passa a vigorar uma 
causalidade teleonômica ao lado da eficiente. Identificar as funções de um fenômeno 
biológico é o primeiro passo na busca de sua explicação, então o funcionamento global é 
pressuposto nas operações analíticas e a analise funcional sempre necessariamente uma 
analise sistêmica e estrutural. Os conceitos que caracterizarão a biologia são: função, 
estrutura e gênese. Na teoria dos sistemas abertos encontrou expressão este conjunto de 
noções, o qual fornece o modelo das interações adaptativas dos seres vivos e seus 
ambientes. A adaptação é meta continuamente perseguida pelo ser vivo, mediante 
coordenação de atividades submetidas ao controle de suas próprias conseqüências, por meio 
de um fluxo constante de retro-informação. Daí emerge a idéia do equilíbrio, estado de 
estabilidade relativa, ativamente procurado, mantido e se necessário, recuperado, com a 
auto-regulação fisiológica do desenvolvimento ontogenético e da evolução filogenética.
11
OS REFLEXOS DO FUNCIONALISMO NA PSICOLOGIA
Tanto no plano ontológico quanto no plano metodológico manifesta-se a presença 
da matriz funcionalista e organicista na Psicologia. Toda Psicologia que se pretende uma 
ciência natural adota modelo funcionalista instrumentalista dos fenômenos mentais e 
comportamentais. Percepção, memória, pensamento, afetividade, motivação, aprendizagem, 
são compreendidos como processos adaptativos o que aponta para uma intencionalidade, 
consciente ou puramente objetiva, manifesta ou encoberta. Por sua própria amplidão no 
campo da Psicologia ocorre uma enorme variedade ou diversificação do legado 
funcionalista, organicista. O panorama torna-se confuso, graças às influências cruzadas do 
funcionalismo, com vestígios do mecanicismo e do atomismo, como por exemplo, na 
Psicologia da aprendizagem norte americana, na qual a dimensão estrutural, embora não 
eliminada, permanece dissimulada, em segundo plano. Assim, é preciso analisar autor por 
autor, para se descrever com alguma fidelidade, a versão de Psicologia funcional que cada 
qual elabora.
O MOVIMENTO DA PSICOLOGIA FUNCIONAL
O grande precursor do funcionalismo na Psicologia é William James (1842-1910), 
mas houveram outros representantes notáveis desta corrente chamada Psicologia funcional, 
que nos EUA se desenvolveu no final do século XIX e inicio do XX tais como J. Dewey, J. 
Angell, J. Baldwin. Nestes autores os ingredientes fundamentais do funcionalismo 
biológico são encontrados. Os seres vivos exibem uma intencionalidade ao se 
comportarem. Seus comportamentos distinguem-se dos comportamentos mecânicos dos 
seres inanimados, pois são articulados e hierarquizados, visando uma meta e encontrarem-
se submetidos a sistemas de auto regulação que asseguram a persecução da meta frente as 
resistências impostas pelo ambiente. Comportamentos não são movimentos, são operações. 
A consciência é uma operação seletiva e auto reguladora das táticas comportamentais. 
Operação pressupõe interesses e que se identifiquem os interesses, corresponde à analise 
funcional dos processos psi e comportamentais. Estudar estas operações mentais e 
comportamentais opõe-se à análise atomística da reflexologia de Tichener e do 
elementarismo de Mach. A oposição ao atomismo, com a decorrente defesa de análises 
molares e sistêmicas liga o pensamento dos funcionalistas a Kant. Mas, aqui as estruturas 
transcendentais são naturalizadas e seu caráter apriorístico é matizado, pois são 
interpretados como estruturas orgânicas e epistemológicas, resultantes de uma história 
natural e de uma experiência individual. No conjunto do movimento da Psicologia 
Funcionalista, pode-se encontrar interpenetradas, análises funcionais, estruturais e 
genéticas, característica metodológica básica da matriz funcionalista e organicista.
A PSICOLOGIA COMPARATIVA
Estudar o comportamento animal para conhecer o desenvolvimento da vida 
mental na escala filogenética e buscar a origem da inteligência humana foi iniciado por 
Darwin, continuado por Romanes, Morgan, Thorndike, Jennings, dentre outros. O pano de 
fundo deste projeto de Psicologia comparativa é a hipótese da continuidade evolutiva de 
Darwin.
OS BEHAVIORISMOS
A partir do início do século XX organizou-se nos EUA um movimento 
behaviorista representando uma conjunta influência de várias tradições filosóficas e 
12
científicas. Os positivismos, o pragmatismo, aparecem claramente no pensamento de Mach. 
Com o behaviorismo de Watson, os primeiros atacados foram a introspecção e a vida 
interior. Mas há em Watson, tanto o ideário funcionalista quanto algo do ponto de vista 
atomicista e mecanicista. Em Watson o funcionalismo é compreensivo mas nada 
explicativo. O mecanicismo prevalece em termos de explicação e assim ele rejeita a lei do 
efeito de Thorndike, vendo nela vestígios de mentalismo, pois a mesma sugere 
intencionalidade, o que o positivismo não poderia admitir.
Watson procurou na fisiologia do reflexo respaldo científico que o legitimasse. A 
reflexologia e a teoria do condicionamento reflexo são a promessa de uma Psicologia 
fundamentada em eventos observáveis e submetido a leis objetivas. De maneira ainda mais 
acentuada o elementarismo e o mecanicismo está no behaviorismo de Guthrie. Hull e 
Spence destacaram-se na evolução do behaviorismo rumo a uma purificação metodológica, 
com base numa opção funcionalista.
O APOGEU DO FUNCIONALISMO BEHAVIORISTA
Tolman e Skinner assumiram integralmente, cada qual ao seu modo o legado 
funcionalista. Tolman foi quem provavelmente mais contribuiu para o desenvolvimento de 
uma Psicologia funcional. Trouxe para o movimento a preocupação com o rigor 
metodológico e a prática da experimentação. No entanto, a solução mais original está em 
Skinner, batizada por ele deBehaviorismo Radical. A ciência do comportamento de 
Skinner assenta-se no conceito elaborado por ele, de comportamento operante. No conceito 
de comportamento operante de Skinner é resguardada a natureza voluntária do 
comportamento instrumental. O comportamento operante é emitido pelo organismo e não 
eliciado por estimulação. Skinner prescindiu de todo mecanicismo associacionista e de todo 
estruturalismo cognitivista. A organização do comportamento não se localiza no sujeito, 
mas nas suas relações com o ambiente. O conceito de tríplice contingência de reforçamento 
é uma outra forma de se referir ao comportamento operante. Na dimensão genética, Skinner 
admitiu a existência de uma prévia organização, na forma de um sistema de respostas 
reflexas e na forma de padrões instintivos de tendências inatas, pela seleção natural 
modeladas, mas para ele em sua maior parte as formas de adaptação ao meio, nos 
organismos superiores localiza-se durante a vida do indivíduo.
CAPITULO VI
MATRIZ FUNCIONALISTA E ORGANICISTA NA PSICOLOGIA EUROPÉIA, 
NA PSICANÁLISE E NA PSICOSSOCIOLOGIA
A matriz funcionalista e organicista e em especial a biologia evolutiva darwiniana 
comandaram as pesquisas sobre interação adaptativa em cada espécie. Vários autores 
formularam o projeto de se estudar o comportamento no contexto da evolução com 
métodos da biologia. Assim o vitalismo é superado e o mecanicismo é combatido, por não 
apreender intencionalidade no comportamento. O atomismo reduz as unidades funcionais 
significativas a um amontoado de elementos, mas, o sucesso do animal é assegurado, não 
pela existência desses elementos, mas por sua coordenação e hierarquização. Então se deve 
buscar, ao se procurar compreender o comportamento, uma análise de frente ampla, 
buscando-se os elementos de um conjunto, os quais somente serão compreendidos 
simultaneamente, ou não o serão de maneira alguma.
13
FUNCIONALISMO NA PSICOGENÉTICA DE PIAGET
A formação biológica e a preocupação epistemológica conduziram Piaget à 
Psicologia. Com seu trabalho quis buscar uma forma de integrar numa teoria científica do 
conhecimento as duas áreas, biologia e psicologia, integrando os fenômenos cognitivos ao 
contexto de adaptação do organismo ao meio. Encontra-se em Piaget uma obra das mais 
completas, consistentes e articuladas, enquanto um representante do funcionalismo 
organicista em Psicologia. Em Piaget dissolvem-se os limites entre filosofia, biologia e 
Psicologia, mas os métodos e conceitos da biologia é que dominarão, ao longo de sua 
carreira. Baldwin, Janet, Claparede, foram precursores de Piaget na Psicologia. Nas 
primeiras obras de Piaget há indícios da influência de Freud. Em consonância com o 
funcionalismo pragmatista norte americano, Piaget vê na ação concreta, motora, a origem 
dos níveis superiores de adaptação. A ação é coordenada, decorrente da estrutura orgânica 
do sujeito e dotada de lógica. Piaget focou o estudo das estruturas cognitivas, mas 
acreditava, sendo funcionalista, na indissociabilidade dos fenômenos mentais e 
comportamentais. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo, ocorre em paralelo com o 
desenvolvimento das formas de afetividade e com as formas de existência social. 
Evidenciam-se na obra de Piaget os pontos de vista da fisiologia da autoregulação e da 
embriologia. Ele assumiu uma posição que o distingue bastante de outros autores no que 
toca à evolução.
FUNCIONALISMO NA PSICANÁLISE FREUDIANA
A psicanálise de Freud apresenta grande riqueza e vem passando por 
reformulações de tal forma que admite várias leituras.. Algumas dessas leituras, em certos 
aspectos relacionam-se à presença da matriz funcionalista e organicista. Mas, a obra de 
Freud é tributária de diversas tradições, filosóficas, filológicas, teológicas e místicas, mas 
também tradições científicas. Estas, mais explicitadas. O próprio Freud afirma que a 
psicanálise é uma ciência natural. Mas, em sua obra aparecem lado a lado uma fisiologia de 
caráter mecanicista e uma biologia funcionalista. A psicanálise, porém, nada tem de 
eclética. As diversas tradições foram integradas num conjunto que é original e pode-se falar 
de uma pré-história da Psicanálise, onde o que a embasou ainda pode ser analisado 
isoladamente. Para Freud, nada acontece por acaso. Todos os fenômenos se encontram 
inter-relacionados e são de tal forma indissociáveis. Nenhuma parte se esclarece sem a 
relação com o conjunto. Em Freud a visão organicista é assumida em sua inteireza. Mas, o 
determinismo absoluto de Freud não é o mecanicista mas o funcional. Sem se eliminar a 
idéia de um determinismo mecanicista onipresente, a explicação dos fenômenos psi, no 
entanto deve responder à questão: para que serve? Tudo tem um sentido e uma função. 
Nada é casual. O desenvolvimento da personalidade é visto como um processo de 
diferenciação (colocando Freud na tradição da embriologia) e é uma história de sofrimento 
e adaptação. A Psicanálise afasta-se das mais típicas manifestações do funcionalismo ao 
enfatizar a existência do conflito.. Nos EUA a assimilação da Psicanálise foi condicionada 
pelo domínio do ponto de vista funcional. Atribui-se ao ego maior autonomia em relação ao 
superego e uma ênfase maior na adaptação do indivíduo. A ênfase na adaptação e na 
harmonia é característica da escola culturalista, inspirada pelo funcionalismo americano 
através da antropologia principalmente. Atenua-se a tensão entre o prazer e a civilização, 
quando se afirma que a vida psíquica é nada mais que um produto do meio.
14
FUNCIONALISMO NA PSICOSSOCIOLOGIA
Na psicossociologia a matriz funcionalista organicista associa-se às obras de 
Durkhein, Malinowski, Radcliffe-Brown, Parson, Merton, etc. O modelo funcionalista de 
sociedade é estruturado em torno das noções de função e complementaridade. A sociedade 
é vista como um organismo. Cada parte desempenha função complementar às demais e essa 
complementaridade é essencial ao funcionamento da vida social.
Na psicologia social existe a teoria dos papéis e o manual de Lindsey e Aronson, 
condensa as principais lições em termos psicológicos, da sociologia funcionalista. Um dos 
grandes nomes do funcionalismo foi Mead que se tornou, no entanto, mais conhecido na 
sociologia que na psicologia.
Embora a psicossociologia funcionalista tome a sociedade como sendo 
essencialmente harmoniosa, não desconhece a existência de conflitos. Em forma de crises, 
sendo que o tema das disfunções sociais, remete à idéia de patologias. Então, de certa 
forma, absolve-se o sujeito, na crítica sociologizante, por seus maus comportamentos. O 
problema está na sociedade e não no indivíduo.
Hoje o senso comum encontra-se impregnado de modelo funcionalista de 
sociedade. Além das divergências teóricas o senso comum aproxima as escolas psicológicas 
divergentes e com facilidade maior as inspiradas na matriz funcionalista organicista. Na 
questão genética, onde a matriz funcionalista tem um de seus focos, surgem questões que 
irão separar em suas respostas, ambientalistas e nativistas na Psicologia.
CAPITULO VII
SUBMATRIZES AMBIENTALISTA E NATIVISTA NA PSICOLOGIA
O AMBIENTALISMO PSICOLÓGICO
Surge no século XIX a “inspiração ambientalista nos estudos da experiência 
sensorial”, tais como, por exemplo, os estudos de Helmholtz (1821-1894) em psicofísica e 
psicofisiologia. Para este autor a percepção dos objetos é aprendida; insere-se, portanto no 
que leva ao empirismo epistemológico de Berkeley” século XVIII”. HELMHOLTZ afirma 
que as qualidades da sensação devem ser consideradas como sensação pura e real mas a 
maioriadas percepções do espaço é produto de experiência e treinamento. Habito e 
memória embora produzidos através de processos inconscientes e automáticos, conferem às 
sensações puras uma estrutura não atribuível, apenas ao fenômeno sensorial. Lidar com 
objetos sobre diversos pontos de vista ensina o sujeito a percebê-los como único objeto 
apesar das diferenças de foco. A conclusão inconsciente (termo de Helmholtz) possibilita 
compensar as deformações impostas pelas diversas perspectivas obtendo-se uma constância 
de forma. As variações propiciadas pelas mudanças de iluminação acarretam conseqüências 
na percepção das cores que são compensadas pela aprendizagem obtendo-se constância na 
percepção da cor. O caráter inconsciente dos efeitos da aprendizagem faz com que se 
tornem bastante difícil perceber isoladamente o papel do presente, do passado e de 
experiências. A aprendizagem perceptiva também se revela na seleção de elementos 
sensoriais importantes na composição da imagem com que se percebe um objeto. O critério 
de conveniência existe e comanda esta seleção, ou seja, o critério da adaptação. Não 
observamos exatamente nossas sensações senão quando úteis no reconhecimento de objetos 
externos. Antes, pelo contrário, deixamos de lado as sensações sem importância para os 
objetos. 
15
A aprendizagem nas obras de “Ebdinghaus” e “Thorndike” já não era, ao fim do 
século XIX, um recurso meramente interpretativo, na explicação, quer filosófica quer 
fisiológica, dos fenômenos. No auge do movimento behaviorista (século XX), recebeu a 
psicologia da aprendizagem um intensivo tratamento, o maior já acontecido em relação a 
um tema de psicologia cientifica. Watson posicionou-se equilibradamente, de início, entre 
empirismo e nativismo, no entanto se inclinou mais e mais para uma opção ambientalista 
radical. O que refletiu um movimento amplo na psicologia americana. Assim o conceito de 
instinto sofreu crítica severa, tanto por questões empíricas, quanto por questões 
metodológicas. Além disto, a opção ambientalista, mostrou-se manifestação de posturas 
ideológicas e políticas.
Houve retraimento da importância atribuída ao organismo e negação do caráter 
ativo do sujeito do comportamento. Enfatizar o controle ambiental faz com que se atenue a 
imagem funcionalista de autoregulaçao: resulta o sujeito reagente sem espontaneidade e 
direção própria. O ambientalismo radicalizado criou condições para combinação de 
funcionalismo e mecanicismo, característicos de grande parte da psicologia norte- 
americana, mas enfatizar o controle ambiental não conduz necessariamente a estes 
compromissos, aja vista a obra de Skinner.
O ambientalismo/empirismo é nítido, explicitamente, em Skinner, podendo ser 
inferido do seu discurso ou de sua prática de pesquisa. Ocorre uma suposição: os motivos 
primários da ação são em numero bastante reduzido. Skinner afirma: a maior parte dos 
reforços são condicionados, cultural e historicamente determinados, na espécie humana. As 
condutas adaptativas são reforçadas. A prática de pesquisa de Skinner, baseia-se 
principalmente nos conceitos de estímulos e respostas representativas. Skinner quer 
elaborar leis empíricas que possam descrever a dinâmica do comportamento, em termos de 
Sd -R - Sr supondo implicitamente que estas seriam leis gerais e sua aplicação à casos 
particulares dependeria de ajustes de parâmetros. Qualquer estímulo poderia mostrar-se 
estímulo discriminativo pra qualquer resposta; qualquer reforço poderia exercer efeitos 
sobre qualquer resposta antecedente: é a eqüipotencialidade de estímulos e respostas. Isto 
baseia todo o projeto científico de Skinner, no qual há uma critica à “botanização” da 
psicologia, ou à sua redução, a uma pura descrição de comportamentos particulares e 
situações, o que conduz a que se suponha que a experiência e as contingências ambientais, 
são os determinantes únicos do comportamento. O comportamento tem uma estrutura que 
não reflete a estrutura do organismo, mas a estrutura das relações do organismo com o 
meio. A conduta adaptativa em sua estruturação de classes funcionais de respostas 
operantes emergiria completamente da historia do individuo; então a tendência é 
desconhecer que existam classes estruturais que precedem e interferem com as formações 
das classes funcionais. 
Admite-se as classes estruturais, mas no campo das respostas reflexas apenas, 
negando-se que condutas adaptativas complexas e de caráter instrumental, possam estar 
submetidas a uma estruturação biológica e hereditária. Supervaloriza-se a plasticidade do 
comportamento considerando-se que tudo pode ser aprendido. Também se supervaloriza a 
aleatoriedade da variabilidade comportamental, sobre a qual se aplica a seletividade da 
conseqüência do reforço; minimiza-se, ou nega-se efeitos de estados motivacionais e de 
estímulos ambientais, na indução de comportamentos específicos e assim restringe-se a 
faixa de variabilidade sujeita à seleção.
Skinner, nunca abandonou a imagem do organismo ativo, emitindo respostas, 
atuando sobre e modificando seu ambiente. Sua originalidade explicita-se na simultânea 
16
lealdade ao funcionalismo e ao radical ambientalismo, então, se designa como sendo não 
mecanicista, apesar de ambientalista, nem cognitivista, apesar de funcionalista, pois realça 
a intencionalidade da conduta.
 
O NATIVISMO PSICOLÓGICO
As tradições racionalistas e nativistas revelaram-se na psicofisiologia de Müller 
(1801-1858). Muller postulou energias específicas dos “nervos” que pela estimulação 
externa ou interna dariam aos fenômenos sensoriais suas qualidades. Uma pancada, no 
ouvido produz um som, no olho uma luminosidade, noutra parte do corpo, mera sensação 
táctil. Muller naturalizou o apriorismo transcendental de Kant convertendo num apriorismo 
fisiológico, pois afirmou a especificidade de cada via sensorial. Na psicofisiologia 
contemporânea, Maturana, com os seus trabalhos acerca da estrutura da experiência visual 
da rã (função da estrutura do olho deste animal), inseriu-se na tradição de Müller e também 
de Von Uexküll, para quem o ambiente de cada espécie, não é o que as ciências da física e 
da química descrevem, mas um conjunto articulado de estímulos com valor e significado 
para o animal. 
Foi com Lorenz que o conceito de instinto retornou, mas livre do mentalismo. 
Lorenz mostra segurança quanto a uma diferenciação entre comportamentos sujeitos a 
aprendizagem e comportamentos inatos. No homem o inato se retrai, mas não é eliminado. 
Recentemente, Chomsky e seus seguidores manifestaram-se pelo nativismo; situam-se na 
tradição da lingüística racionalista cartesiana e do pensamento romântico organicista. 
Segundo Chomsky o fenômeno lingüístico essencial é o aspecto criativo do uso da 
linguagem: “a fala não está determinada pela associação fixa de palavras à estímulos 
externos ou à estados fisiológicos” . O pensamento de Chomsky representa o estruturalismo 
e não se insere na tradição funcionalista.
OS INTERACIONISMOS
As respostas ambientalistas e nativistas nunca são encontradas na forma pura e 
exclusiva, pois isto destruiria a característica principal dos fenômenos vitais: os elementos 
estruturais no organismo e no ambiente são coordenados uns com os outros. Assim, o 
organismo adapta-se ao ambiente, e o ambiente, inclusive o interno ambiente, ao organismo 
se adapta: eis o que mantém a vida. 
A estrutura orgânica é inseparável da estrutura ambiental, não existem 
isoladamente e suas existências expressam mútua coordenação. Na Psicologia como ciência 
natural, veda-se a possibilidade deuma exclusiva opção, seja pelo controle ambiental, seja 
pelo controle organísmico. Organismo e ambiente definem-se em termos de 
interdependência. É natural, portanto, existir uma terceira força entre o ambientalismo e o 
nativismo, buscando uma síntese que apreenda o organismo e o ambiente como integrantes 
de uma totalidade que se auto-sutenta. 
Baldwin, Loyd Morgan e Poulton, assim como Waddington e Piaget, associaram-
se à ênfase nas interações reciprocamente determinantes, entre organismo e ambiente e 
entre a história da espécie e do indivíduo. A história do individuo, implicando na 
supervalorização da aprendizagem e da experimentação, num determinado ambiente e a 
ênfase na história da espécie, implicando na sobrevalorização do organismo, na 
determinação do curso em que se desenvolve e na qualidade de suas experiências e de suas 
reações.
17
Em Freud encontra-se outro exemplo, da adesão ao interacionismo, porém nem 
tão explícitos, embora bastante ambíguo. No trabalho de Freud, surge como tendo um 
caráter essencial, o conflito. Natureza e ambiente, de modo especial o ambiente social 
encontram-se indissoluvelmente associados e integram como pólos um antagonismo. O 
indivíduo se desenvolve refletindo o conflito que há entre o natural (instinto) e o que o 
ambiente físico e social lhe oferece, possibilidades que são restritivas. Os resultados dos 
conflitos tornam a personalidade simultaneamente natural e social; desaparece a separação 
entre influências biológicas e influências sociais. O indivíduo não existe dissociado do 
ambiente, em nenhum espaço e temporalidade. O indivíduo, se constitui exatamente no 
processo, entre natureza e sociedade.
Além de Piaget e Freud que assumiram o interacionismo, autores de áreas mais 
marcadas pelos extremos, ambientalismo e nativismo, aproximaram-se da terceira posição. 
A dicotomização do comportamento inato e aprendido foi atacada por D. Hebb e F.ª Beach 
que mostraram ser todo comportamento, dependente, tanto de hereditariedade como de 
experimentação. Beach nega a utilidade do conceito de instinto, enquanto definido como ‘o 
que não é aprendido’. Inato, enquanto conceito, deve-se evitar, no contexto dos estudos da 
ontogênese, quando passa a designar uma fixidez de desenvolvimento, oposta a plasticidade 
comportamental. 
Skinner também aderiu ao interacionismo. O ponto de vista interacionista sempre 
se manteve vivo e atuante e hoje ele tende a tornar-se o ponto de vista dominante, além do 
ambientalismo e do nativismo. Estas posições extremadas, no entanto, ainda permanecem e 
procurar entender o contexto cultural que a tempos vem lhes garantindo a dominância e 
assegurando sua sobrevivência, ainda hoje, pode ser útil.
Skinner admite a determinação genética da aprendizagem e a existência de 
padrões instintivos, modelados, contudo, pelas contingências naturais que determinaram a 
evolução da espécie. 
RAÍZES SOCIOCULTURAIS DAS SUBMATRIZES AMBIENTALISTA E 
NATIVISTA
O empirismo epistemológico teve o seu apogeu associado à luta antidogmática e 
contra a autoridade não legitimada pela razão e pelo consenso, da nova ciência. Diante da 
necessidade da natureza, ou melhor, do imperativo da cultura, põe-se o próprio homem, 
como réu. Quando a cultura se torna a única referência, tudo é nomeável, desde o 
organismo e todas as indiferenciáveis formas orgânicas, até os sentimentos. Dentro desta 
contradição, qual seja, entre a cultura instituída pelo homem e o homem enquanto fruto 
deste meio, pode-se questionar como caberia qualquer transformação. 
Ambientalismo e nativismo radicais dirigem-se ao sustentáculo de autoritárias 
concepções de exercício do poder enquanto a posição interacionista se volta para a 
legitimação do auto controle; assim sendo, contém um potencial crítico, relacionado às 
formas vigentes de sociabilidade. A autoregulação é fenômeno essencial da matéria 
orgânica e conceito fundamental da biologia. Em Piaget encontra-se talvez a figura mais 
exemplar da posição interacionista numa perspectiva funcionalista o que o torna merecedor 
do titulo do mais completo funcionalista. Em Freud, o interacionismo corresponde à 
realização plena do ideal funcionalista e liberal; encontra-se integrado, numa original 
combinação com a teoria do conflito, a qual rompe com a matriz funcionalista organicista. 
Houve um rompimento. Mas também, com a concepção da psicologia como ciência natural. 
18
E aqui surge a possibilidade de olharmos as alternativas que se oferecem, no que se 
denominou “matrizes românticas e pós-românticas” (Figueiredo).
CAPITULO VIII
MATRIZ VITALISTA E NATURISTA
Não se pode dizer que as matrizes românticas e pós-românticas articulam-se com 
um mesmo tronco, assim como sucede com as matrizes mecanicista e funcionalista em 
relação à nomotética e quantificadora. Pode-se, no entanto, observar entre elas uma certa 
afinidade, na especificação do objeto da Psicologia e na denúncia da inadequação ou 
mesmo da insuficiência dos métodos das ciências naturais, para o estudo dos fenômenos 
subjetivos.
O BERGSONISMO: UM EXEMPLO
A obra de Bergson é representativa de algumas orientações intelectuais e afetivas, 
bem específicas, presentes nessas linhas e em especial em algumas formulações ecléticas e 
do senso comum. É como introspeccionista que Bérgson inicia sua reflexão filosófica e se 
mantém sempre atento às informações, impressões e sentimentos que lhe chegam por essa 
via que ele considera privilegiada. Justifica-se, com um ponto de vista cartesiano, 
afirmando ser a existência a respeito da qual se tem segurança e que se conhece melhor, a 
existência pessoal. Em seus primeiros trabalhos versou sobre dados da consciência e sobre 
memória.
Em Bérgson, instaura-se a mística da fluidez e da indeterminação, com pretensão 
de representar uma posição metacientífica. Bérgson não nega a importância da ciência 
natural em relação matéria orgânica, mas estabelece uma interdição, quanto ao estudo 
naturalista dos fenômenos vitais, em particular com relação à Psicologia. A ciência, produto 
do intelecto, nada entende da vida. A Psicologia Científica é um contra senso. A promessa 
de previsão e controle é uma farsa. O que esperar de uma Psicologia que renuncia ao status 
de ciência, se apresenta como metafísica, denuncia a lógica e o conceito, recusa as 
faculdades intelectuais e coloca as próprias colocações em perigo? Bergson se vale da 
experiência estética e tenta justificar a viabilidade da apreensão intuitiva dos fenômenos 
vitais.
A psicologia metafísica não é um corpo de doutrinas e menos ainda um arsenal de 
técnicas e instrumentos. Sob este ponto de vista a psicologia metafísica é uma arte delicada 
e sutil da qual a própria idéia de utilidade deve ser afastada pra que não se caia na 
perversão. Mas, embora não tenha utilidade, no entanto, tem um interesse: promover 
comunhão entre o indivíduo e o fluxo vital, do qual faz parte e que o constitui. Este é o 
interesse que permeia a obra de Bérgson e o leva ao exagero de estetização nas idéias e no 
estilo. Sem os ornamentos do estilo o trabalho de Bergson pode ser percebida, como 
incoerente, pobre, inócua, baboseiras. Sua obra antecipa várias correntes da Psicologia 
contemporânea que sequer o mencionam como precursor.
 
O HUMANISMO ROMÂNTICO
A institucionalização da profissão de psicólogo não é compatível com a noção de 
Bergson de Psicologia, pois esta supõe uma prática mais para os grandes inspirados: 
artistas, santos, heróis. Uma boa parte das seitas psi que existem nas grandes metrópoles 
19
culturais e são importadas para o Brasil,são marcadas por essas idéias de psicólogo guru. 
Essa perspectiva é forte nos humanistas. Cura, reeducação, solução de problemas, são 
substituídos pela esperança na fruição do sujeito por ele mesmo em termos estéticos, 
entregando-se à corrente da vida, impetuosa e criativa. Um barato. O objetivo da terapia, 
seria libertar a energia vital. Para tanto, deve-se abolir as restrições sociais. A uniformidade 
do modelado pelo social deve ser substituída pela diversidade do autêntico, do individual.
Em Bérgson, o misticismo da criação e da indeterminação, associa-se ao 
intuicionismo e à desvalorização da lógica e do conceito; o autêntico é o pré simbólico, 
aquilo que não se pode comunicar, a experiência pessoal e intransferível. A linguagem deve 
permanecer na berlinda e intervenções não verbais ou antiverbais ganham simpatia. No 
corpo e pelo corpo, no gesto pelo gesto; nos movimentos vicerais, os motivos autênticos e 
sentimentos genuínos.
O IRRACIONALISMO CONFORMISTA
Entre os filósofos modernos, o intuicionismo irracionalista e o vitalismo não são 
exclusividade de Bérgson. O discurso do anti-racionalismo psicológico pode ser visto nele. 
Divulga-se uma visão otimista e positiva da condição humana. A energia vital não 
depende, para ser liberada, de nenhuma condição de vida concreta. Basta uma nova atitude, 
a ser obtida por meio da terapia. O retorno ao subjetivo via intuição, com vistas a uma 
pretensa liberação das forças vitais, que jazem amortecidas, é de tal forma banalizado e ao 
senso comum da prática psi incorporado, preenchendo um vácuo teórico e outorgando certa 
consistência à prática profissional, entre ecléticos, que surge uma tentativa de analisá-lo, 
em sua dimensão ideológica.
Supõe-se no bergsonismo e em outras versões do humanismo, assim como na 
gestáltica, em outras terapias corporais, na bioenergética, etc., que a realidade psi tenha 
uma existência pré-simbólica e anti-simbólica. Mas não se cogita que a libertação desses 
conteúdos vitais possa comprometer a vida socialmente falando-se. O subjetivismo de 
Bérgson é anêmico, sem capacidade de resistência efetiva, contra a massificação, a 
estereotipia, a repressão, sendo que o próprio irracionalismo bergsoniano não compromete 
ninguém, com uma crítica radical da racionalidade estreita, reduzida à pura 
instrumentalidade, pois é muito bem comportado. 
O funcionalismo, parece representar, principalmente em suas versões mais 
interacionistas que superam a visão de ambiente e organismo independentes, o velho 
liberalismo burguês em sua forma viril e progressista; o vitalismo naturista, parece que 
corresponde à forma feminina e magoada do liberalismo. O vitalismo reduz-se a uma 
ideologia sem valor cognitivo. Inverte os valores dos termos em oposição, ordem e 
história, razão e vida. Renega a racionalidade e o impulso crítico. No plano do 
conhecimento nenhuma ambição rigorosa, mas delicada intuição dos sentimentos da 
subjetividade, enfim. A nenhuma das outras matrizes cabe tão bem o conceito de romântica.
CAPITULO IX
MATRIZES COMPREENSIVAS: O HISTORICISMO IDIOGRÁFICO E SEUS 
IMPASSES
20
DESDOBRAMENTOS E DIFERENCIAÇÕES DO ILUMINISMO
Iluminismo, na obra de Adorno e Horkheimer, designa uma tradição cultural que é 
crítica e combate as tradições. Tem por objetivo libertar o sujeito para o desempenho sem 
entraves, de seu poderio técnico-manipulatório, sobre a Natureza, submetendo-a a sua 
próprias finalidades. A crítica deve ser livre, racional e soberana. Espera-se da crítica o 
desbloqueio, ou a quebra de todos os bloqueios que limitam o homem em seu progresso de 
um domínio teórico e prático. Neste processo impiedoso, o iluminismo separa 
constantemente o sujeito (do poder e do conhecimento), do objeto. Na Idade Moderna, o 
iluminismo traz a exaltação do sujeito como senhor do Universo. Mas, como pré-condição 
para o exercício do poder, também exalta o objeto.
A oposição ao cientificismo objetivista no pensamento psicológico decorreu, ou da 
metafísica bergsoniana, ou de uma posição crítica mais radical ao Iluminismo: o 
romantismo. Mas, a vertente subjetivista do Iluminismo, foi incorporada, às tradições do 
pensamento psicológico, no contexto da problemática romântica e assumindo muitas de 
suas proposstas.
CARACTERIZAÇÃO DO ROMANTISMO
O romantismo opõe-se ao Iluminismo. Na segunda metade do século XVIII a 
dominância do Iluminismo era incontestável. Então, dominava a matriz atomicista e 
mecanicista. Goethe identificava-se com o Iluminismo, porém não aceitava suas limitações. 
Desenvolveu então uma nova forma de ciência que exerceu mais tarde, considerável 
influência na formação do ideário romântico. Empenhou-se Goethe na constituição de uma 
ciência anti-newtoniana. Os românticos herdaram da obra científico-poética de Goethe 
vários aspectos que em nada influíram nos rumos das ciências naturais do século XIX. Em 
contrapartida, encontraram-se no cerne de muitas das ciências morais ou humanas e 
também das reflexões estéticas e metafísicas.
É preciso que se saiba que existem distinções entre o romantismo alemão, o 
funcionalismo e o intuicionismo de Bergson, com os quais o romantismo aparenta alguma 
semelhança. Também os românticos renegam o indivíduo independente, racional, crítico, 
em favor da coletividade, porém, com a pressuposição e com a promoção da comunicação 
entre particulares e não sua aniquilação.
O ROMANTISMO E AS HUMANIDADES
O romantismo não proporcionou nenhuma solução metodológica às ciências 
naturais, mas inspirou uma série de ciências morais. As humanidades tem fenômenos 
espirituais e culturais como objetos, nos quais o pesquisador se reconhece de alguma forma. 
Não faz sentido buscar a neutralização do sujeito em nome de uma objetividade absoluta. 
As ciências morais, ao invés de repousar sobre e acentuar a separação entre sujeito e objeto, 
supõe e promove a aproximação entre eles. 
A CRÍTICA DA RAZÃO COMPREENSIVA
Durante o século XIX houve uma preocupação em definir a metodologia das 
ciências morais. Schleiermacher sobressaiu-se com suas contribuições para a arte da 
compreensão, ou seja, a hermenêutica. Wilhelm Dilthey (1833-1911) se propôs 
desempenhar nas ciências morais, o papel de Kant nas ciências naturais do século XIII, 
explicitando as condições de possibilidade do conhecimento histórico. Nas obras de Dilthey 
não se encontram orientações metodológicas precisas, como as influenciadas pelo 
21
positivismo nos trabalhos acerca das ciências naturais podem ser encontradas pelo leitor 
moderno. Trata-se de uma reflexão critica que define a natureza do sujeito e do objeto e as 
relações entre estes, numa concepção peculiar desta forma de conhecimento. O trabalho de 
Dilthey posiciona-se no campo da ontologia e da epistemologia e não no campo da 
metodologia. Dilthey retoma uma distinção já insinuante no espírito do tempo: a diferença 
radical entre as ciências naturais e históricas. Isto marca o repúdio do romantismo e do 
cientificismo iluminista que procuravam cada um ao seu modo, englobar as práticas 
cientificas num mesmo construto epistemológico.
Durante o século XIX as ciências naturais não se deixaram influenciar 
profundamente pelo romantismo e além disto, geraram novas produções metodológicas na 
tradição iluminista que superaram as limitações de sua própria versão mecanicista, com a 
biologia funcionalista e com os avanços na física e na química, corroendo o universo de 
Newton. No entanto, o romantismo sobrevivera e se consolidara nas ciências morais. 
Dilthey definiu as ciências naturaiscomo sendo explicativas, pois seu procedimento é na 
elaboração de leis gerais, com a explicação de acontecimentos particulares subsumidos 
nestas leis. Já, as ciências morais e históricas são ciências do espírito e sua meta não é a 
explicação, mas a compreensão de seus objetos. Compreender é elucidar a experiência 
vivida, manifesta por meio dos atos comunicativos. Os atos comunicativos sempre são atos 
de um indivíduo, histórica e culturalmente datados que se articulam ao conjunto da 
biografia individual que se integra ao sistema total das formas culturais. Somente nesta 
articulação com um conjunto, do individuo e da sociedade, o ato adquire sentido e pode ser 
compreendido, como momento e expressão de uma totalidade histórica e biográfica.
Mas se o limite do psicologismo é o irracionalismo, já o limite do historicismo é o 
ceticismo e o conjunto de regras interpretativas, caso elaborado, resolvendo a contradição 
entre a universalidade e a singularidade, não seria um produto histórico? Assim solapam-se 
as bases da ciência do espírito: a interpretação já não pode visar as verdades das mensagens 
INTERPRETAÇÃO E VERDADE
Em vários arraiais psicológicos a preocupação com a verdade não é acentuada. 
Variantes do discurso Diltheyano, na psicologia clinica, aparecem com freqüência. Os 
humanistas, por exemplo, usam e abusam desta terminologia: compreensão significado, etc. 
Assim, operam na redução destes conceitos ao nível do vitalismo pré-crítico, ou, de 
bergsom. Em que condições poderemos expressar sobre a compreensão verdadeiras? O 
núcleo da compreensão, encontra-se na valoração do espírito. 
CAPÍTULO X
MATRIZES COMPREENSIVAS: OS ESTRUTURALISMOS
A PROBLEMÁTICA ESTRUTURALISTA
A noção de organismo, central na matriz funcionalista, também aparece no ideário 
romântico, sendo que ela, traz consigo, em ambos os casos, o enfoque anti-elementarista, 
globalizante, sistemático. Na biologia, no entanto, a noção de organismo liga-se à noção de 
complementaridade. As partes do todo, adquirem significado funcional, ajustando-se umas 
às outras, complementando-se com harmonia na promoção da interação adaptativa do 
organismo ao meio externo a este, mantendo o meio interno dentro da faixa de variação que 
seja compatível com a conservarão da vida. O disfuncional, o patológico é puramente 
22
negativo; é o acidental que se opõe ao essencial; é a desintegração contra-posta à 
cooperação orgânica entre os componentes do todo
No romantismo as noções de organismo, totalidade, ou forma, supõe 
interdependência mas não complementaridade e não excluem o conflito. No campo das 
ciências naturais, o romantismo nunca exerceu grande influência, mas, no campo das 
ciências morais, não apenas influenciou, mas, também frutificou e passou sérias 
transformações que dizem respeito fundamentalmente à atividade crítica autoreflexiva que 
oferece às ciências morais, um terreno seguro, epistemologicamente falando-se. A 
neutralização do sujeito caracteriza o ideal cientifico dos estruturalismos, colocando-os 
como uma espécie de positivismo das ciências humanas e tal índole cientificista levam as 
ciências humanas estruturalistas para bem próximo das ciências naturais, distinguindo-se no 
entanto pela persistência em considerar as noções de significado, de sistemas simbólicos, 
como definidoras de seus objetos específicos. Os estruturalismos, julgam superar a 
oposição entre compreender e explicar: compreende-se uma determinada mensagem, 
quando se aplica à mesma, de modo mais ou menos automático, mais ou menos, 
exploratório, mais ou menos consciente, a gramática que a gerou, ou se é capaz de 
reproduzi-la.
ORIGENS DOS ESTRUTURALISMOS: A PSICOLOGIA DA FORMA 
 A matriz estruturalista, em sua origem trás movimentos intelectuais que 
revolucionaram no final do séc 19 e inicio do 20 a psicologia, a teoria da literatura e a 
lingüística. A psicologia da forma, ofereceu consistente alternativa na Europa à velha 
psicologia elementarista, associacionista e introspeccionista. Nos EUA coube ao 
funcionalismo e ao behaviorismo esta missão. Wundt reconhecera a complexidade dos 
fenômenos da experiência imediata. Von Ehrenfels em 1890 aponta a existência de 
qualidades formais, configuracionais, como dimensões dos elementos que existem apenas 
no contexto dos conjuntos estruturados a que se integram. Qualidades que pertencem à 
configuração e não a cada uma de suas partes. Os autores gestaltistas da escola de Berlim 
assumiram de maneira completa, criticas ao elementarismo, ao negar a realidade 
independente dos elementos, como Von Ehrenfels, extendendo a idéia de uma estrutura 
organizadora a todos os níveis e áreas da experiência. Alguns experimentos engenhosos nas 
áreas da percepção da memória, das soluções de problemas permitem observação sem 
nenhuma introspecção de como os sujeitos organizam seus campos. Se há nisso alguma 
universalidade estará segura a viabilidade da tarefa de descrever objetivamente e 
cientificamente, explicar o comportamento> O conceito de geltalt passa a unificar todos os 
reinos da natureza e do espírito e o isomorfismo psicofísico expulsa a subjetividade 
introduzida no inicio pela descrição e compreensão da experiência imediata. Consuma-se o 
rompimento da psicologia da forma, com as ciências morais ou do espírito e apesar de 
argumentação contrária, revela-se a índole positivista do gestaltismo. 
ORIGENS DOS ESTRUTURALISMOS: OS FORMALISTAS RUSSOS
 A noção de forma, contemplada pelos gestaltistas exerceu influência notável 
sobre a teoria das artes plásticas enquanto na Rússia se desenvolvia uma teoria da 
literatura formalista e estruturalista. Ler as obras literárias, pondo de parte o psicologismo 
e o sociologismo e visando a obra mesma de modo a captar nela, não as intenções do autor 
ou o efeito das pressões sociais, porém sua estrutura imanente e seus procedimentos 
constitutivos. Os formalistas vêem a obra literária fundamentalmente como uma forma que 
23
não deixa transparecer uma idéia ou conteúdo; ela é o conteúdo em sua manifestação 
sensível, a única em que pode este conteúdo subsistir. Importa na análise da forma detectar 
princípios de organização, técnicas construtivas. A matriz é Urphänomen (Goethe) dos 
contos fantásticos, como a Urplanze o era dos vegetais, contudo um objeto construído e não 
um objeto da imediata experiência, alvo da intuição concreta.
ORIGENS DOS ESTRUTURALISMOS: A LINGUISTICA DE SAUSSURE
Na época em que a Alemanha desenvolvia-se a psicologia da forma, na Rússia a 
teoria formalista da literatura, na França ocorria o impacto do lingüista suíço Saussure . A 
lingüística estrutural teve peso na formação do estruturalismo moderno. A contribuição de 
Sausser ocorreu no plano conceitual e metodológico, ao distinguir langue e parole, isto é o 
sistema lingüístico e a fala. No estudo da língua apresenta-se a descrição do conjunto de 
regras, que é o código de diferenciação e de oposição. 
NOVOS RUMOS PARA OS ESTRUTURALISMOS: A GRAMATICA GERATIVA
Na década de 50 nos EUA desenvolveu-se uma corrente de estudos lingüísticos 
lideradas por Chomsky, conhecida por “Gramática Gerativa Transformacional”. Chomsky 
critica a lingüística estruturalista por permanecer em um nível demasiado empírico e 
descritivo, com isto tornando-se incapaz de compreender a mais importante e original 
característica da linguagem humana: sua criatividade. Aqui novamente o Urpänomen 
goethiano. Por baixo da estrutura da mensagem que aparece na forma de discurso outra 
forma mais decisiva, a forma

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