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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Professora Lisla Vassoler EVOLUÇÃO HISTÓRICA O aparato de controle de constitucionalidade está ligado intrinsecamente com a Supremacia da Constituição, de modo a ser um sistema que garanta e assegure a superioridade e força de suas normas no ordenamento jurídico, com caráter hierárquico, numa pirâmide jurídica idealizada por Hans Kelsen, onde as normas inferiores se submetem aos dizeres constitucionais, em sua doutrina como “teoria da construção escalonada”, sendo “a ideia de um princípio supremo, que determina a ordem estatal em sua totalidade e a essência da comunidade constituída por essa ordem Nesse sentido são os claros ensinamentos apontados por José Afonso da Silva apud Pedro Lenza: [...] significa que a Constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos. É, enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a própria estruturação deste e a organização de seus órgãos; é nela que se acham as normas fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua superioridade em relação às demais normas jurídicas. Em breve síntese, cumpre destacar inicialmente o período conturbado vivido pelo Brasil na época de Império, que essencialmente corroborou no desenvolvimento do modelo de controle de constitucionalidade vigente desde a CF/88. O Brasil teve sua primeira Carta Magna intitulada “Constituição Imperial” em 1.824 que, por influência francesa, segundo Gilmar Mendes, outorgava ao Poder Legislativo as atribuições totais de “fazer as leis, interpretá-las, suspendê-las e revoga-las”, consagrando-se a dogma da soberania do Parlamento. Nesse sentido, os anseios pessoais do Imperador eram transpostos as Leis, por sua convicção íntima, sem observância das formalidades processuais ou materiais legislativas. Ao final do império, em virtude de grande instabilidade vivida no cenário econômico e político, na Assembleia Nacional Constituinte formam-se dois grupos políticos: O Partido dos Brasileiros que, defendiam uma autonomia política, e o Partido dos Portugueses que, apoiavam diretamente Dom Pedro I. Esse Partido dos Brasileiros elaborou um anteprojeto de Constituição que ficou conhecida como Constituição da Mandioca. Assim, Dom Pedro I dissolve a Assembleia Nacional Constituinte, outorgando a Constituição de 1.824, que, apesar de outorgada, possuía nítido cunho autoritarista, inspirada na Constituição Francesa, e única inspirada na Teoria do Poder Moderador ou quarto poder de Benjamin Constant. Desse Poder Moderador extrai-se os conceitos iniciais de que o Imperador o exercia em sua plenitude, auxiliado por um conselho de ministros, onde o Judiciário era formado por juízes também escolhidos pelo Imperador. Demais atos ocorridos posteriormente, como à volta de Dom Pedro I a Portugal e a alteração constitucional pelo Ato Adicional de 1.834, com descentralização política no Brasil, passando os Estados a ter Legislativo próprio. Por fim, com a Proclamação da República em 1.889 revoga-se a Constituição de 1.824, convocando-se nova Assembleia Nacional Constituinte, para elaboração de texto constitucional que assim se seguiu ao de 1.891. Constituição de 1.891 Rui Barbosa influenciado pelo Direito Norte-Americano elaborou projeto de Constituição com ideais de imperatividade reforçada na Carta Magna, introduzindo no âmbito jurídico brasileiro o controle de constitucionalidade das normas. Por esse controle, consagra-se no direito brasileiro o Controle difuso de constitucionalidade, “[...] repressivo, posterior, ou aberto, pela via de exceção ou defesa, pelo qual a declaração de inconstitucionalidade se implementa de modo incidental (incidenter tantum), prejudicialmente ao mérito.” Tal Constituição incorporou tais características ao controle de constitucionalidade, competindo ao Supremo Tribunal Federal à revisão de sentenças em ultima instância, “[...] quando se questionasse a validade ou a aplicação de tratados e lei federais e a decisão do Tribunal fosse contra ela [...]”. Constituição de 1.934 Foi uma Constituição promulgada, com forte inspiração da Constituição Alemã de 1.919 chamada de “Constituição de Weimar”, passando-se de um Estado liberal para um Estado social. Manteve-se o sistema de controle difuso da Constituição anterior. Além disso estabeleceu-se a ação direta de inconstitucionalidade interventiva, bem como a chamada cláusula de reserva de plenário (atual art. 97, CF/88), que obrigava decisão de maioria absoluta de membros de Tribunal para declaração de inconstitucionalidade. Caberia ao Senado Federal com novas atribuições, e assim comunicados pelo Procurador-Geral da República, a suspensão da execução, no todo ou em parte, de leis ou atos normativos declarados inconstitucionais em decisão definitiva. Como indicado por Gilmar Mendes, eis que se mostra a inovação mais profunda nessa Constituição, inserindo a representação interventiva confiada ao Procurador- Geral da República que passar a ser legitimado na propositura da ação. Constituição de 1.937 Volta a ser uma Constituição outorgada, redigida por Francisco Luís da Silva Campos, apelidado à época de “Chico Ciência”, com inspiração na Constituição ditatorial Polonesa de 1935, daí o apelido “A Polaca”. É uma Constituição conhecida pelo chamado “Hiato autoritário”, no qual houve um espaço de tempo com ausência de democracia, em que imperava o autoritarismo do governo. Embora não introduzido qualquer modificação no modelo de controle difuso, centralizava todo o poder a juízo Presidente da República. Havia total desrespeito a constituição escrita, chamada por Ferdinand Lassale de “Constituição folha de papel”, o que denotava esse chamado Hiato autoritário, visto essa concentração de poder do Executivo da união, que destituíra o Congresso Nacional, fazendo às vezes do Legislativo, bem como o juízo final em sede de controle de constitucionalidade. Constituição de 1.946 Foi o fim do Hiato autoritário, convocando-se eleições e novamente a Assembleia Nacional Constituinte. Promulgou-se nova Constituição com diversas correntes ideológicas, com restauração do controle judicial e consequentemente o controle de constitucionalidade. Retirou a atribuição do Presidente da República do controle de constitucionalidade, e criou-se no Brasil uma nova modalidade de ação direta de inconstitucionalidade, de competência originária do STF, para processar e julgar originariamente a representação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, federal ou estadual, a ser proposta, exclusivamente, pelo Procurador-Geral da República. Estabeleceu-se, ainda, a possibilidade de controle concentrado em âmbito estadual. Além disso, reconstitucionalizou o Ministério Público independente, o mandado de segurança e a ação popular, retirados pela Constituição de 1.937, evidente ato de redemocratização do Estado, visando assegurando os direitos pré-estabelecidos. Constituição de 1.967 Em período antecedente a Constituição de 1964, dá-se início a novo Hiato autoritário com o golpe militar. Estabeleceu-se o Ato Institucional de número 1 (AI-01) que, inseriu um estado de sítio no país, suspendendo todos os direitos civis, com possibilidade de prisões sem mandado, censura aos meios de comunicação, sendo estabelecidos também, outros Atos Institucionais em conseguinte, com restrições a direitos e liberdades dos diversos meios. Com o AI-04, é convocada uma Assembleia Nacional Constituinte para aprovar novo projeto de Constituição, sem possibilidade de Emendas, originando a Constituição de 1.967. Mesmo com a proibição de apresentar Emendas, essa Assembleia conseguiu introduzi-las, de modo que, versavam sobre a proibição do Chefe do Executivo fecharo Congresso Nacional, e criando as imunidades parlamentares. Formalmente, essa Constituição foi promulgada, mas com nítida imposição presidencial, inserindo os Atos Institucionais elencados, bem como o controle de Constitucionalidade difuso e concentrado. Constituição de 1.988 As consideráveis sínteses históricas das mais importantes Constituições brasileiras apresentadas nos tópicos anteriores elucidam o desenvolvido que corroborou no sistema jurídico brasileiro atual de garantias constitucionais, principalmente no que concerne ao controle de Constitucionalidade. É notório que moldou-se com base no direito comparado e no desenvolvimento ideológico dos anos perpetrados, de modo a criar mecanismos de proteção judicial, com formas mais amplas de conter os abusos de direito. Dentre as novidades trazidas por essa Carta Magna, especificamente no que diga respeito ao controle de Constitucionalidade, foi ampliado o rol de legitimados para propositura das ações que versem esse controle, o que anteriormente era apenas fomentada pelo Procurador-Geral da República; Também possibilitou o controle das omissões legislativas, por Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), ou mesmo por Mandado de Injunção (MI); Inseriu-se a novel Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), e também, a Ação declaratória de Constitucionalidade (ADC). E na competência para julgar as ações acima elencadas, atribuiu ao Supremo Tribunal Federal fazer o juízo das causas que tratem de matéria Constitucional, porém não de modo exclusivo; Sendo que, conforme a doutrina de Lenza, nos ensinamentos de José Afonso da Silva: “Primeiro porque não é o único órgão jurisdicional competente para o exercício da jurisdição constitucional, já que o sistema perdura fundado no critério difuso, que autoriza qualquer tribunal e juiz a conhecer da prejudicial de inconstitucionalidade, por via de exceção. Segundo, porque a forma de recrutamento de seus membros denuncia que continuará a ser um Tribunal que examinará a questão constitucional com critério puramente técnico--jurídico, mormente porque, como Tribunal, que ainda será, do recurso extraordinário, o modo de levar a seu conhecimento e julgamento as questões constitucionais nos casos concretos, sua preocupação, como é regra no sistema difuso, será dar primazia à solução do caso e, se possível, sem declarar inconstitucionalidades.” Da análise de todo o contexto que originou os atuais meios da sistemática, os seguintes tópicos descreverão em suas minúcias as espécies, sistemas e ações específicas utilizáveis no controle de constitucionalidade.
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