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Apostila TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL I

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TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL I
AULA 1
 CONCEPÇÕES HISTÓRICAS E TEÓRICAS SOBRE FAMÍLIA
A terapia familiar é a psicologia aplicada ao atendimento das famílias ou casais, é uma forma de terapia de grupo é uma abordagem terapêutica que prioriza as relações intrafamiliares, segundo Minuchin (2003), o indivíduo não existe dentro de si mesmo, mas também em interação com a família. Desta forma, o terapeuta familiar dá atenção tanto para o indivíduo como para o grupo familiar. A arte da terapia familiar consiste dentre outras, reunir a família trabalhar com as regras estabelecidas pelo sistema familiar, buscando entender o resultado das inter-relações, a qualidade dos vínculos construídos entre eles, o conteúdo afetivo e como esses sentimentos circulam entre os membros da família. Ao mesmo tempo em que, sob alguns aspectos, a família mantém-se inalterada, em outros apresenta uma grande gama de mudanças. 
Desta forma se faz necessário conhecer um pouco da história e conceituações sobre família. Devido a importância do assunto, tem sido o centro de atenção de quase todas as ciências sociais. 
Breve Histórico sobre a família
Devido as inúmeras definições e variabilidade histórica da instituição Família, torna-se difícil elaborar um conceito único. Etimologicamente podemos definir “família” sendo derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada. No direito romano clássico a fámília é baseada no casamento e no vínculo de sangue.
Segundo Osório (1997), existem inúmeras teorias sobre a origem do termo família, umas a fundamentam em suas funções biológicas; outras, em suas funções psicossociais; econômicas dentre outras. Ela é talvez a mais antiga das instituições humanas; sempre existiu em formas processos variados e evoluiu e adaptou-se às condições de vida dominantes num determinado tempo e lugar. É o produto de uma determinada estrutura social (DIGIORGI, 1980, p. 21).
No contexto das grandes transformações ocorridas nos últimos anos, a família enquanto núcleo social formador de valores, vem sofrendo modificações profundas em suas estruturas, estas modificações no tempo e espaço, acontecem por influência da sociedade em que está inserida, nisto podemos apontar os períodos e características das famílias ao longo da histórica, como a família aristocrática, nos séculos XVI e XVII ,que segundo Melo (2004), era uma família extensa e agregavam-se pessoas não pertencentes aquele núcleo familiar. Não havia uma separação entre o afetivo e a privacidade, abrigava-se patrões, crianças e grande número de empregados. 
 A noção de posse e a questão do poder estão, portanto, intrinsecamente, vinculados à origem e a evolução do grupo familiar (OSÓRIO, 1997). A família, como um organismo social de base, não pode deixar de refletir transformações que tem sido constante na sociedade, na cultura e nos usos e costumes que tem trazido alterações notórias, com ênfase nos seus princípios.
O primeiro estudo da História da Família foi realizado por Bachofen em 1861 e propunha algumas teses:
Johann Jakob Bachofen 
(1815 – 1887)
http://www.elciudadano.cl/wp-content/uploads/johann_jacob_bachofen.jpg 
As transformações históricas na situação social recíproca entre o homem e a mulher, não foi resultado do desenvolvimento das condições reais de existência dos homens, mas o reflexo religioso dessas condições.
Primitivamente, os seres humanos viveram em promiscuidade sexual (chamado de heterismo) 
Tais relações excluíam a possibilidade de estabelecer a paternidade, estas relações, a filiação podia ser assegurada somente pela mãe; como consequência desse fato, as mulheres, como mães, gozavam de grande apreço e respeito. Desta forma de acordo com Bachofen, passam a ter o domínio absoluto (ginecocracia); 
Teria prevalecido a promiscuidade sexual: qualquer mulher pertencia a qualquer homem sem distinção, e também acontecia esta promiscuidade com os homens que pertenciam a qualquer mulher. 
Foi introduzida uma norma prima que proibia o incesto, passando-se da linha consanguínea, para o casamento grupal, onde um grupo de irmãs eram mulheres dos seus maridos de comum acordo; seguido este estilo, um homem tinha uma mulher favorita entre as tantas que possuía, e a mulher um marido predileto entre os muitos. 
A passagem de ¨heterismo¨ a ¨monogamia” e do direito materno ao paterno, processa-se particularmente entre os gregos, em consequência do desenvolvimento das concepções religiosas, da introdução de novas divindades.
Consequentemente surge a família matriarcal, a qual sucedeu a patriarcal e a poligamia e finalmente aparece a monogâmica, com o objetivo de criar filhos com uma paternidade sem contestações por motivos de herança, a qual segundo os investigadores, se diferencia da família de casal por uma sólida ligação entre os cônjuges, indissolúvel. 
JOHN FERGUSON MAC LENNAN
(1827 – 1881)
http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&rlz=1T4GPTB_pt-BRBR290BR291&um=1&sa=1&q=Mac+Lennan+1865&aq=f&oq=&start=0 -
Mac Lennan foi considerado o fundador da história da família, ainda que muito questionado, apresentou as teses:
TRIBOS PRIMITIVAS EXÓGAMAS: o matrimônio por rapto de mulheres fora do seu próprio grupo.
TRIBOS PRIMITIVAS ENDÓGAMAS: as mulheres teriam que ser do próprio grupo
TRÊS FORMAS DE MATRIMÔNIO:
POLIANDRIA: posse de uma mulher por vários homens (Índia e Tibete)
POLIGAMIA: posse de várias mulheres por um homem (Oriente)
MONOGAMIA: posse de uma mulher por um homem
Porém, estas três formas não podiam ser dispostas historicamente, em ordem, configuravam-se juntas, umas ao lado das outras, simultaneamente sem nenhuma conexão.
 
LEWIS HENRY MORGAN
(1818 – 1881)
http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&hl=pt-BR&ie=UTF-8&rlz=1T4GPTB_pt-BRBR290BR291&q=LEWIS+HENRY+MORGAN -
Segundo Engel, os estudos de Morgan foram publicados em 1871, tomou como ponto de partida o Sistema de consanguinidade e afinidade da família humana, foi o primeiro a introduzir uma ordem precisa na pré-história da humanidade. Das três épocas principais conceituou-se estado selvagem, barbárie e civilização, enfatizando-se as duas primeiras e da transição para a terceira. Subdividiu em: 
1) Estado Selvagem:
a) Fase Inferior: 
Infância do gênero humano, os homens viviam parcialmente em árvores. Alimentavam-se dos frutos, nozes e raízes. Início da linguagem articulada.
b) Fase Média: 
Início das migrações: Os homens seguem o curso das águas (rios e mares). Sua alimentação passa a ser de peixes e outros animais aquáticos. Início do uso da pedra sem polimento e do fogo bem como das primeiras armas (a clava e a lança). Papeis sociais: os homens caçam e as mulheres procriam e cultivam. Encontram-se, ainda nessa fase média do estado selvagem, os australianos e diversos polinésios.
c) Fase superior:
Edificação das primeiras casas no tronco das árvores, invenção do arco e da flecha. Início do artesanato: produção dos utensílios de madeira, tecido á mão com fibra de cortiça e instrumentos de pedra polida.
2) A BARBÁRIE
a) Fase inferior:
Introdução da cerâmica. 
Criação e domesticação de animais e o cultivo de plantas.
b) Fase Média:
Cultivo de plantas por meio de irrigação, formação de rebanhos (camelo, gado, cavalos, carneiros, porcos, cobras) e produção do tijolo cru e pedra para construção. Alimentação: peixe, vegetais, cereais, carne, leite.
c) Fase superior – CIVILIZAÇÃO
Passa para a fase da civilização. Inicia-se com a fundição do minério de ferro, invenção da escrita alfabética, acontece a derrubada das matas e desenvolvimento da agricultura em grande escala.
Utensílios: instrumentos de ferro aperfeiçoado, arado, foles de forja, moinho de mão, roda de olaria, carretas e carros de guerra, barcos com prancha e vigas, espadas e escudos. Introdução do azeite, vinho, farinha detrigo, pão. A habitação era de arquitetura com arte, cidades com muralhas e torres. A Civilização, marca o período em que o homem continua aprendendo a elaborar os produtos naturais, período da indústria propriamente dita e da arte
Bock (2002), Szymanski (2005) e Vital (2002), pontuam que os estudos de Morgan registraram sucessivas concepções acerca das famílias nesses lócus históricos, conforme definições a seguir:
 
Família consanguínea: fruto de relações sexuais entre jovens e entre adultos, irmãos e irmãs, sem nenhuma limitação do número de parceiros, caracterizando a promiscuidade. O parentesco era estabelecido pelo lado paterno, sendo permitido o casamento entre irmãos, onde os filhos são todos comuns e por isso mesmo se casam entre si. 
 Família Punaluana: surge como uma forma de impedimento do casamento entre irmãos, primeiro os irmãos por parte de mãe, até a proibição do casamento entre primos. Ocorre uma maior seleção e variabilidade genética, mas ainda continua ocorrendo alguns tipos de promiscuidades sexuais, por exemplo: em algumas tribos da América do Norte, o casamento de várias irmãs carnais e colaterais, com os maridos de cada uma das outras; e, os irmãos também se casavam com as esposas de cada um dos irmãos. Isto é, o grupo de homens era conjuntamente casado com o grupo de mulheres.
Família Sindiásmica: É a fase em que o homem passa a viver com uma mulher principal. Este estágio é marcado pelo matriarcado, caracterizado pela poligamia e infidelidade feminina. Em caso de separação dos pais os filhos ficaram sempre com a mãe, o pai era um indivíduo de passagem e não existia casamento.
Família Patriarcal: O que caracteriza o patriarcalismo é a influência do pai sobre a mãe. A noção de pátrio poder é algo de grande intensidade. Tudo gira em torno da ordem estabelecida e mantida pela autoridade do chefe de família. A subordinação da mulher frente ao homem aumenta. O casamento de um só homem com diversas mulheres. Dependendo da cultura ainda existe este tipo de casamento.
Família Monogâmica: Os costumes passam a tender para a desigualdade entre marido e mulher: ao homem cabe a direção da família, ao passo que à mulher, a subordinação ao poder marital. A monogamia surgiu verdadeiramente com a criação da propriedade privada, a qual naquele período era destinada à criação de rebanhos. Como era o homem que tinha o domínio sobre esta criação, ele se tornou mais importante que a mulher. Precisava da fidelidade dela para ter a garantia de que os seus filhos fossem legítimos e dignos de sua herança. 
Os antecedentes históricos da família são complicados. Casamento e família foram separados. Sexo e casamento foram separados. O desvio evolucionário da caça para a agricultura como uma forma de vida trouxe consigo uma mudança da família matriarcal para a patriarcal e o desenvolvimento do valor da propriedade. A revolução industrial trouxe consigo mudanças profundas no padrão familiar. O que a energia nuclear e a era espacial trarão ninguém pode prever (ACKERMAN, 1986, p. 30). 
	Reis (2001) contextualiza as origens da família, conforme os modelos de (Poster, 1979). O modelo de família aristocrata e camponesa (séculos XVI e XVII). 	A primeira por sua vez tinha sua riqueza baseada nos favores do rei e no controle da terra que era conservada como patrimônio. Sua unidade de habitação era o castelo, que abrigava a família, os criados e os clientes. As relações entre os moradores eram estabelecidas por meio de uma hierarquia rígida e tradicional. O casamento era um ato político, e deste ato dependia a manutenção das propriedades familiares. O sexo obedecia a padrões próprios sendo praticado entre si e com a criadagem. O trabalho do homem era restrito às guerras e a função da mulher era a organização da vida social do castelo. O trabalho era desvalorizado e o lazer cultivado. Os filhos eram criados pelas amas-de-leite e serviçais. Este tipo de família não atribuía valor algum à privacidade, domesticidade, cuidados maternos ou relações de intimidade entre pais e filhos. As condições sanitárias eram precárias, ocasionando alto índice de mortalidade infantil.
	Já o modelo de família camponesa se caracterizava por um alto padrão de natalidade, associado a uma acentuada mortalidade infantil. A aldeia regulava a vida cotidiana por meio dos costumes e tradições.
 
[...] os casamentos, assim como os enterros, davam origem a rituais que envolviam a aldeia toda ou pelo menos grande parte dela; também o namoro era regido por um conjunto de procedimentos coletivos, pelos quais se providenciava a formação de pares considerados adequados. A família não era o espaço privado ou privilegiado e os laços emocionais se estendiam para fora dela. (REIS, 2001, p. 107)
Diferente da família aristocrata, a criação dos filhos era de responsabilidade da mãe camponesa que tinha a ajuda de parentes e moças mais novas e também por mulheres mais velhas. No mundo camponês, o filho tinha sempre como modelo a mentalidade, as normas, os valores e os comportamentos do estilo de vida dos pais. Apesar de viverem em pequenas unidades nucleares, a família camponesa, tendo toda a sua vida voltada para si, não valorizava e não tinha conhecimento sobre a vida privada e doméstica. 
 A família antiga era responsável pela conservação dos bens, e no cotidiano a ajuda mutua era comum, sendo que num determinado contexto histórico onde um homem e uma mulher viviam isolados e, de outra forma não conseguiam sobreviver. Sendo que as manifestações e trocas afetivas não eram necessárias para manutenção do ambiente familiar (RAMOS, 1992).
Nas antigas sociedades, a transmissão dos valores e conhecimentos, a socialização da criança não estava sob a responsabilidade da família. Somente a partir do século XVII foi que as famílias passaram a ter uma função afetiva, sob a influência da Igreja e do Estado, assumindo o lugar de função moral e espiritual. 
 Em meados do século XVIII, segundo o autor, a comunidade era constituída por pais, vizinhos, pessoas amigas ou inimigas que se relacionavam e se ajudavam mutuamente. Era de responsabilidade dos rapazes irem em busca de reconhecimento, obtendo posses, domínios e firmando fronteiras. Tinham também que determinar limites e espaços sem se sujeitarem às resistências que poderiam se deparar. Dependendo da mulher que o rapaz escolhia para esposa, esta tinha a função de ajudar na manutenção de seu papel e também de colaboração e amplitude de suas habilidades para tal ambição. O texto coloca que a mulher possuía um caráter, uma presença de espírito, bem como talentos e capacidades de lidar com as situações que lhes viesse, esta reforçava a posição do marido através deste trabalho que a esposa desempenhava no casamento.
	Tinha ainda a intervenção do Estado, que segundo o autor era considerado a grande Sociedade que exerciam raras influências de maneira intermitente, inspirando o terror e semeando a ruína, ou como uma providencia miraculosa. Cada indivíduo tinha de ganhar seu domínio transigindo com os homens e as mulheres de sua pequena comunidade. 
Segundo Reis (2001) por volta do século XX a família operária muda-se para os subúrbios e começa a assumir características semelhantes da família burguesa, que rompeu com os modelos familiares vigentes e criou novos padrões de relações familiares. A família se isolou fechou em si mesma e isto trouxe a separação entre a vida pública e a privada.
O marido passou a ser o provedor material da casa e a autoridade dominante, vivendo pela razão, sendo livre e autônomo. A mulher ficou com a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos, sendo considerada com menor capacidade, dependente do homem e vivendo pela emoção. A mãe ficou absorvida pela educação dos filhos. A taxa de mortalidade, bem como a de natalidade teve uma redução e os padrões de higiene foram modificados tendo uma melhoria. A família nuclear burguesa definiu também novos padrões referentes à sexualidade. Os papéis sexuais se diferenciaram, a sexualidade feminina fora do casamento foi interditadaassim como o desfrutar do prazer sexual, restringindo-se à procriação. 
As mulheres burguesas passaram a ser consideradas seres angelicais, acima das necessidades animais do sexo. Dessa forma o casamento burguês passou a caracterizar-se por uma dissociação entre sexualidade e afetividade. A família era o recanto do afeto, mas não do prazer sexual. Este passou a ser buscado fora do lar pelos homens, em geral através da conquista de mulheres das classes inferiores. (REIS, 2001, p. 111)
Em 1960 os estudos estenderam-se para o contexto social da família em função da crescente consciência da interdependência entre indivíduo-família-sociedade, no campo da saúde mental, visto que um sintoma pode exceder a vida familiar a ser também produto de vivencias que afetam pessoas inseridas numa forma de vida adversa (ASSUMPÇÃO & SPROVIERI, 2000, p. 115).
O tema família deve ser analisado como integrante de um contexto histórico, político, cultural e econômico. A família é fruto da história humana, estando sujeita às determinações dessa história que ao longo do tempo apresentou-se de diferentes formações, estando, portanto, ligada à situação concreta de uma época, assumindo características, valores, funções e ideologias distintas (MELO, 2004).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOCK, Ana Maria; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Família...o que está acontecendo com ela? Psicologias: Uma Introdução ao Estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
TEXTO COMPLEMENTAR:
TERUYA, Marisa Tayra. Família na historiografia brasileira. Bases e perspectivas teóricas s/d. DISPONÍVEL EM: http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/Todos/A%20Fam%C3%ADlia%20na%20Historiografia%20Brasileira....pdf
FAMÍLIAS E SUAS IMPLICAÇÕES
Como vocês puderam verificar na aula anterior existe uma diversidade de teorias que contribuem para a compreensão da história da família. A evolução histórica da família é apenas um breve apanhado para demonstrar como a família mudou de acordo com o tempo, e como esta estrutura é influenciada pelos acontecimentos sociais. Considerando que as famílias variam muito sua estrutura e forma, no decorrer da história desde a época colonial, em que eram extensas, vivendo em torno da figura patriarcal, passando pela família nuclear dos séculos XIX e XX, chegando nas múltiplas possibilidades no mundo contemporâneo, cada vez mais distante dos conceitos que se tinha anteriormente (MELO, 2004). Contudo, é impossível apresentar um conceito geral sobre família, devido a infinidade de tipos de culturas e variados padrões de relações humanas. 
2.1. Afinal o que é família? 
Segundo o Terapeuta familiar Ackerman (1986). A família pode ser definida como um modelo universal para o viver. Ela é a unidade de crescimento; de experiências; de sucesso e fracasso. 
Para Osório (1997) são muitas as variáveis do ambiente, da sociedade, da economia, da cultura, da política e/ou da religião que determinam as diferentes composições das famílias até hoje. Pode ser definida como uma unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos), e que a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais desenvolveu funções diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais. 
Família nem sempre quer dizer pai, mãe e filhos, pois geralmente a família é representada por indivíduos que moram sob o mesmo teto, dividem as responsabilidades econômicas e sociais. O ambiente familiar contextualizado é composto por vários fatores entre eles: biológicos, psicológicos, sociais e econômicos, cada qual com a sua característica peculiar. Segundo Saraceno (1992) a família é um núcleo de pessoas que convivem em um determinado lugar durante um lapso de tempo mais ou menos longo, que se acham unidos ou não por laços consanguíneos e que se relacionam por laços de parentesco e ou afetivos.
Prado (1989) define a família como um conjunto de pessoas em interação e não pode ser percebido apenas a partir das características individuais ou da personalidade de cada um de seus membros. Especifica que o que caracteriza uma família é, sobretudo, a natureza das relações entre seus componentes, ou seja, a forma como interagem e como estão vinculados nos diferentes papeis e sistemas, e que uma pessoa na família não pode mudar sem mobilizar mudanças nos outros, 
A família é um sistema em que todos os seus membros estão envolvidos, nesse sentido: é um tipo especial de sistema, com estrutura, padrões e propriedades que organizam a estabilidade e a mudança. É também uma pequena sociedade humana, cujos membros têm contato direto, laços emocionais e uma história compartilhada (MINUCHIN, 1999). 
Por ser uma expressão difícil de conceituação, é possível descrever as várias estruturas e modalidades assumidas pela família nas diversas épocas, porém, impossível defini-la ou encontrar algum elemento comum a todas as formas com que se apresenta este agrupamento humano (OSÓRIO, 1997). 
2.2 Funções da Família
Sua tarefa primordial é o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente articulada com a estrutura social na qual se insere. É por meio das relações familiares, que os acontecimentos da vida recebem seu significado, e, por meio dele, são entregues, a experiência individual, o nascer e o morrer, o crescer, o envelhecer, a sexualidade, a procriação. O mundo ocidental está num estado de transição, a família deve se acomodar à sociedade, à medida que é influenciada também pode influenciar. Mas, em razão de dificuldades transicionais, a principal tarefa psicossocial da família, apoiar seus membros se tornou mais importante do que nunca. Somente a família, a menor unidade da sociedade, pode mudar e, apesar disso, manter suficiente continuidade para criar filhos que estarão firmemente enraizados, o suficiente para crescerem e se adaptarem (MINUCHIN, 1990).
	Assumpção e Sprovieri (2000) colocam que dentre as funções da família, está a de educar, sustentar, proteger e socializar, este ambiente também deve proporcionar a comunicação, regras, papéis, lideranças, afeição física, individualização, integração, autoestima e bem-estar psíquico e socioambiental.
A função que a família exerce enquanto organismo social pré-político e agente primeiro da socialização da criança. Com efeito, a família preside aos processos fundamentais do desenvolvimento psíquico e à organização da vida afetiva e emotiva da criança segundo os modelos ambientais. Como agente socializador e educativo primário, ela exerce a primeira e mais indelével influência sobre a criança (DI GIORGI, 1980). 
A família assumi o papel de estabelecer as relações sociais e mostra-se essencial na vida emocional de seus membros. É a formadora da nossa primeira identidade social. Ela é o primeiro “nós” a quem aprendemos a nos referir. Atualmente a classe média urbana apresenta uma grande riqueza na variação de padrões familiares. Ao mesmo tempo em que abarca a família caracterizada por um extremo conservadorismo e uma rígida hierarquia interna, abrange também formas mais liberais de convivência familiar que marcam tanto as relações entre os seus membros quanto um posicionamento mais crítico diante da sexualidade (REIS, 2001).
	 Complementa Bock (2002), que a família, além de se um local para procriação e educação das novas gerações seguindo os padrões de valores e condutas, é forte transmissora de valores ideológicos. Lane (2001) complementa além de ser o lócus da estrutura psíquica, a família constitui um espaço social onde gerações se defrontam mútua e diretamente, e onde os dois sexos definem suas diferenças e relações de poder.
Isto significa que além da reprodução biológica ela promove também sua própria reprodução social, e na família que os indivíduos são educados para que venham a continuar biológica e socialmente a estrutura familiar. Ao realizarseu projeto de reprodução social, a família participa do mesmo projeto global, referente à sociedade na qual está inserida. É por isso que ela também ensina a seus membros como se comportar fora das relações familiares em toda e qualquer situação. A família é, pois, a formadora do cidadão (REIS, 2001).	De acordo com Lane (2001) a socialização primaria ocorre dentro da família, e os aspectos internalizados serão aqueles decorrentes da inserção da família numa classe social, por meio da percepção que seus pais possuem do mundo, e do próprio caráter institucional da família. Aponta ainda que, as duas importantes funções da família são a econômica no que se refere a reprodução de mão-de- obra e ideológica no que se refere a reprodução de ideologia dominante. É a maneira em que a família organiza a vida emocional de seus membros que lhe permite transformar a ideologia dominante em uma visão de mundo.
A família é o lócus da sociedade, onde se cultivam os valores a serem construídos no decorrer da vida do indivíduo. Em duas das revoluções mais conhecidas mundialmente, a família concebeu-se cada qual com características próprias; na Revolução Francesa, o matrimônio laico dado no Ocidente, formou grupos familiares por meio do casamento e na Revolução Industrial a família deu-se devido à migração para cidades maiores, tendo a demanda industrial como fator principal para este acontecimento. Estas duas revoluções formavam diferenciadas famílias (VITAL, 2002).
A família hoje tem a função básica de garantir a manutenção da propriedade nas classes superiores e nas subalternas, a reprodução da força do trabalho, como instituição também é regida por normas econômicas. A sociedade valoriza os elementos por sua participação efetiva no social, que é representada pela participação através da força econômica (REIS, 2001).
 A discussão em torno do que é família e suas funções nos dias de hoje, já desencadeou acaloradas discussões e continua desencadeando muitos debates e poucas conclusões. No entanto, o conceito de família que nós conhecemos e aprendemos a respeitar e a reproduzir é da família nuclear burguesa (BIAR 2008). No entanto existem outros tipos, que veremos em seguida.
2.3 Tipos de Famílias Contemporâneas
A antropóloga Lia Zanotta Machado, explica que antes a família era indissolúvel, os valores religiosos, morais e sociais prevaleciam. Hoje, se os sentimentos individuais não são satisfeitos, as pessoas rompem o estatuto da família e vão viver de outras maneiras. Até a metade do século passado, a relação consanguínea era extremamente forte na constituição da família. Hoje as relações amorosas passaram a ser o valor mais importante 
Em nossa sociedade contemporânea, industrial, capitalista, mais de 50% das pessoas vivem no que denominamos “família nuclear”, composta de pais e filhos, porém ainda que possa persistir na sociedade os reflexos de uma sociedade maxista e autoritários frequentemente novos arranjos são criados, conforme nos mostra Fabio Daflon, Lia e Gomes Szymanski 
FAMÍLIA PENSADA, TRADICIONAL OU NUCLEAR: as relações interpessoais ocorrem de forma harmoniosa. Seus membros executam o papel esperado. Pai, provedor de recurso material; mãe só cuida dos filhos e do lar; filhos, comportados, obedientes e estudiosos. Seguir este modelo é agir de forma coerente, é preservar socialmente a imagem da família.
FAMÍLIAS ''RECASADAS'' OU RECONSTITUÍDAS: aquela em que os pais são separados de seus primeiros cônjuges (oficial ou não oficialmente) e atualmente mantêm uma relação estável com outra pessoa.
FAMÍLIAS HOMOSEXUAIS: formadas por casais do mesmo sexo.
FAMÍLIA MULTINUCLEARES, onde os filhos transitam por casas de dois ou mais casamentos dos genitores.
FAMÍLIA HOMOPARENTAL: adoção por homossexuais, ou fertilização in vitro.
FAMÍLIAS ALTERNATIVAS: comunidades e produção independentes
FAMÍLIA UNIPESSOAL: pessoa que mora sozinha em uma casa.
FAMÍLIA UNIPARENTAL: famílias chefiadas por um dos cônjuges (viuvez, separação)
DOUBLE INCOME NO KIDS (EUA), onde homens e mulheres constituem patrimônio, se divertem sem pensar em filhos.
 SINGLES: solitários por opção, muitos preferem morar com bichos de estimação. 
Cláudia Marra (2002) psicóloga do Instituto Kaplan, explica que a cara da Família Brasileira está mudando, morre o conceito de família idealizada e juntamente os papéis representados por seus membros. As tarefas de casas há muito tempo deixaram de ser exclusivas do sexo feminino, principalmente depois que se tornou mais comum a guarda compartilhada dos filhos após o divórcio. Hoje, homens dividem as tarefas de casas e as tarefas ligadas à educação dos filhos. Para os especialistas, ainda é cedo para medir as consequências dessa reviravolta nos papeis de pai e mãe. Por enquanto, a experiência mostra que, na ausência de uma das figuras, os filhos buscam referência em outras pessoas e outros ambientes como a escola ou a família expandida. 
AULA 2
GENOGRAMA: UM INSTRUMENTO DE ESTUDO DAS FAMÍLIAS.
Esta aula tem como objetivo máximo apresentar o genograma como uma técnica de investigação e intervenção que permite também abordar questões sociais com ênfase no tema família. 
Além da apresentação da técnica, esta aula tem como objetivo, apresentar instruções básicas de como desenhar um genograma (estrutura básica e símbolos usados). Vocês poderão encontrar junto a literatura de psicologia familiar os termos: Genograma ou Genetograma, termos que apresentam o mesmo significado, contudo, as literaturas internacionais consultadas preferem referir-se a genograma.
Definição do Genograma
O Genograma pode ser considerado como um instrumento de avaliação e intervenção utilizado para mapear a situação atual de uma família proporcionando-lhes reflexões sobre as disfunções e a elaboração de novos projetos de vida. Também definido como um desenho gráfico da vida em família, que proporciona uma conversação terapêutica, e transforma-se num recurso de compreensão colaborativa, sendo de muita utilidade em situações de doenças com traço familiar ou hereditário, aquelas influenciadas por fatores psicossociais e/ou socioambientais (KRÜGER & WERLANG, 2008).
O uso de um genograma no estudo de uma família é um elemento básico de informações e representações gráficas multigeracionais da família, inclui um diagrama das relações e interações familiares geralmente até três gerações, os laços que as unem, a qualidade da relação e as informações psicossociais que se ligam.
Ele permite de uma forma rápida e clara uma visualização dos membros que constituem a família, quais os vínculos consanguíneos estabelecidos ou não, qual o papel social desempenhado por cada membro, identificando-os quanto à idade e ocupação (profissão/escolaridade) de cada pessoa, além de retratar o lugar ocupado por cada um dentro da estrutura familiar, é possível também apresentar a filiação e a, compreenção da estrutura da familiar alargada, reconstituída enfim permite ter a história da família. 
Os genogramas possibilitam a visualização de grandes números de dados sobre determinada família, incluindo seu passado e o risco que oferece aos membros atuais, como doenças psicossomáticas, considerando as influências clínicas, sociais e interacionais. É possível registrar também informações familiares de forma que prove uma visão rápida dos padrões familiares complexos e uma fonte rica de hipóteses sobre como um problema clínico pode estar conectado com o contexto familiar. É possível por meio deste instrumento, compreender e ou predizer as manifestações e reações dos membros da família em diversos momentos do ciclo de vida familiar e até incluir pessoas importantes.
Símbolos e Formatos de um Genograma
Para a utilização do genograma se fazem necessário algumas explicações com relação a sua montagem. O Mapa da família pode ser construído, com base em informações de um membro da família e depois reeditado e ampliado com a participação dos outros membros, pode incluir pessoas que estão próximas ou pessoas que estãoaté mesmo em outros continentes. A história da família pode ser contada partindo de qualquer momento do ciclo de vida. 
O formato padronizado do genetograma ou genograma, foi organizado por um comitê de profissionais vinculados a terapia familiar e a medicina da família, porém, os procedimentos e os símbolos padronizados foram divulgados por McGoldrick e Gerson em 1987. Os principais símbolos, para descrever a estrutura e a descrição dos membros da família e seus relacionamentos ao longo de até três gerações. Este retrato gráfico da família é uma construção de figuras/símbolos (quadrados e círculos) que representam as pessoas, e de linhas (cheias, pontilhadas ou interrompidas) que descrevem os seus relacionamentos. 
Informações a serem registradas num Genograma: 
Os dados que irão compor o genograma podem ser coletados por meio de uma entrevista semi-estruturada e a interação que ocorre entre o profissional e a família pode ser entendida como um processo de interação social. Geralmente pode ser efetuada em 1 hora, as verbalizações serão representadas graficamente com símbolos e siglas proposto por McGoldrick e Gerson (1995) e Minuchin (1982). 
Primeiros nomes, apelidos e títulos de família (príncipe, diplomata), representação primária de cada pessoa. 
Data de nascimentos, registrar as Idades e as fases do ciclo de vida, doenças graves; data de falecimentos.
Casamentos, divórcios, ritos de passagem, inauguração de residências, promoções, graduações); 
Frequência do contato entre vários membros da família extensa (local).
Forma de contatos, visitas; telefone (correio, via internet).
Relacionamentos mais íntimos em cada nível de geração. 
Coloque os filhos em ordem com os mais velhos à esquerda. 
Características do relacionamento que o paciente identificado estabelece com cada pessoa do genograma (ou o grau de distanciamento). 
Separações emocionais: qual foi o evento? Quando ocorreu? (Deve-se explorar seu possível efeito sobre o processo de ciclo de vida).
Estressores existentes na família naquele momento
Perdas com eventos traumáticos (O perder requer uma reorganização familiar e propõe desafios de adaptação compartilhados).
Religião ou mudanças religiosas;
Educação;
Ocupação ou desemprego; Serviço militar; Aposentadoria;
Obesidade;
Abuso de drogas lícitas e ilícitas;
Inserir datas importantes entre parênteses, (datas em que membros da família deixaram a casa).
Cuidados a serem tomados
Incluir pessoas quer residem com a família ou pessoas que são cuidadas pela família (colocá-los ao lado direito do genograma, indicando quem são);
Indicar somente doenças e problemas maiores e crônicos;
Ficar atentos as perdas precoces ou traumáticas de um dos membros da família;
Ficar atentos a padrões disfuncionais, que desenvolvem em meio a perdas e conflitos (podem desencadear doenças, problemas com a lei, abuso físico ou incesto).
As hipóteses e informações devem ser datadas e resumidas;
Indicar somente os fatores mais importantes;
Ter consciência que cada porção extra de informação pode deixar o genograma mais complicado e reduzir sua compreensão. 
Interessante anotar no genograma as pessoas que vivem sob o mesmo teto que o paciente identificado (cercando com um círculo).
No final do genograma pode se fazer anotações sobre informações, com relação as mudanças nas estruturas familiares, que o profissional achar interessante. Contudo, o Genograma é apenas um mapa sumário das informações coletadas da família, evidencia-se a importância de se colocar as informações mais importantes, para que o mapa fique compreensível, McGoldrick e Gerson (2001).
REFERÊNCIAS BÁSICAS:
McGoldrick, M. e Gerson, R. Genetograma e o ciclo de vida familiar. In: Carter & M. McGoldrick (Orgs.). As mudanças no ciclo de vida familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001, p. 144-164.
KRUGER, Liara Lopes e WERLANG, Blanca Susana Guevara. O genograma como recurso no espaço conversacional terapêutico. Aval. psicol., dez. 2008, vol.7, no.3, p.415-426. ISSN 1677-0471.
TEXTOS COMPLEMENTARES:
BASTOS, Rita Maria Rodrigues; FRIAÇA, Meyriland Dias Amorim; DUQUE, Kristiane de Castro Dias. Genograma: a utilização deste instrumento gráfico pelas Esf da Ubs de parque guarani. Juiz de Fora, 2004.
MACHADO Heloisa Beatriz; SOPRANO Arlete Teresinha Besen; MACHADO Carolina;LUSTOSA, Ana Cristina Ponchielli; LIMA ,Melissa Horvath de; MOTA, Ana Carolina Gomes. Identificação de riscos na família a partir do Genograma. Rev.Fam. Saúde Desenvolvimento, Curitiba, v.7, n.2, p.149-157, maio/ago, 2005.
AULA 3
TERAPIA FAMILIAR
É importante ressaltar que todo trabalho do terapeuta é privado e confidencial. Sendo assim, a Terapia Familiar é uma forma de auxiliar a família na busca de novos caminhos para uma melhor convivência entre os membros em um sentido também preventivo.
Considerações históricas e conceituais da Terapia Familiar
Os primeiros fundamentos da Terapia familiar estão estreitamente ligados ao caso do pequeno Hans tratado por Freud em 1909, que frequentemente tem sido considerado como ponto de partida. O processo terapêutico ocorreu a partir do relato do pai de Hans, que criou mudanças significativas na dinâmica familiar. A partir daí inúmeros estudos contemplaram a necessidade de haver algum tipo de intervenção na família como forma de suporte a psicoterapia realizada com as crianças. Inicialmente o contato se dava com a mãe, a seguir o pai e os demais membros, os atendimentos envolvendo a família se dava também a outros membros que não fossem crianças Osório (2009).
Outras contribuições fundamentais para a terapia de família partiram também dos atendimentos dos assistentes sociais, que desde o início do século XX tinham como foco de seu trabalho o grupo familiar e o atendimento do indivíduo em seu próprio ambiente , assim os assistentes sociais, antecederam a teoria sistêmica e introduziram a perspectiva ecológica na terapia familiar, entre os colaboradores, mais conhecidos, que iniciaram o movimento da terapia familiar, estão: Virginia Satir, Peggy Pappy, Betty Carter, Braulio Montalvo, Mônica McGoldrick, entre outros (Osório, 2009).
Em 1930 surgiu o Aconselhamento Conjugal, fator relevante para a Terapia Familiar. Um dos primeiros pioneiros foi Nathan Ackerman, psiquiatra e psicanalista infantil, observava paciente e família em sua clínica, em Nova York descrevia o atendimento da família como uma modalidade de tratamento própria, e não apenas uma técnica para tratar de indivíduo. A terapia familiar passou a se desenvolver após a 2ª Guerra Mundial, quando a superlotação dos asilos provocou um posicionamento mais perspicaz frente ás questões de cronicidade dos pacientes, inúmeros analistas e não analistas decidiram investigar o ambiente familiar.
Ao final da década de 50, a terapia familiar tinha a proposta de favorecer mudanças na estrutura de uma família, por meio da mudança de seus padrões de conduta, já que os sintomas de uma pessoa passavam a ser descritos com uma conduta de resposta a outras pessoas. Se as chamadas terapias familiares apareceram nos Estados Unidos há cerca de 40 anos, a partir de então, uma variedade de escolas surgiu tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, apregoando essa abordagem terapêutica. 
John Elderkin Bell, ocupa lugar importante na história da terapia familiar, ele começou a atender famílias em 1951, a abordagem de Bell no tratamento de famílias, baseava-se na terapia de grupo que confiava na estimulação de uma discussão aberta para ajudar as famílias a resolverem seus problemas.
Don Jackson em 1954 começou a perceber a possibilidade de tratar os pacientes dentro da sua família como uma alternativa para tentar eliminar sua influência. Sua principal ênfase era na comunicação e seus efeitos sobre as famílias. Documentou o efeito dramático que a psicoterapia tinha sobre outros membros da família do paciente. Em um de seus casos clínicos, Jackson estava tratando uma mulher de depressão; quando ela começou a melhorar, o marido se queixou portelefone que a condição emocional da esposa havia piorado. Quando ela melhorou, o marido perdeu o emprego. Após este episódio, ele se matou. Aparentemente, a estabilidade deste homem estava baseada em ter uma esposa doente (NICHOLS & SCHWARTZ, 1998). 
Observaram-se também em famílias que tinham um paciente esquizofrênico, mudanças parecidas do transtorno. Com a melhora do paciente, ocorriam problemas e, os outros membros da família mudavam em seus comportamentos que levavam o paciente voltar à psicose, ou se o paciente se recuperava, outros membros da família começavam a exibir angústia patológica conforme (Bateson, 1959; Haley, 1959; Jackson, 1961).
Após várias constatações documentadas, vários hospitais psiquiátricos passaram a não permitir que os pacientes recebam, pelo menos durante o período inicial de sua hospitalização, as visitas de familiares (NICHOLS & SCHWARTZ, 1998).
No começo da década de 1960, Murray Bowen, Lyman C. Wynne e Theodore Lids, também realizaram trabalho pioneiro na utilização da terapia familiar, tanto como instrumento de diagnóstico quanto método de tratamento de pacientes esquizofrênicos.
De acordo com Nichols & Schwartz (1998) em meados do século XX, as duas abordagens que mais influenciaram a psicoterapia foram a Psicanálise de Freud e a terapia focalizada no paciente de Rogers, segundo eles se baseavam na suposição de que os problemas psicológicos provinham de relações doentias com os outros e que poderiam ser melhor aliviados em um relacionamento privado entre o paciente e o terapeuta. Já que os conflitos neuróticos eram gerados na família, parecia apenas natural supor que a melhor maneira de anular a influência da família seria isolá-la do tratamento, mantendo sua influência repressora fora do ambiente psicanalítico.
Foi realizada uma observação da pessoa se relacionando com seus familiares, em vez de depender do que essa pessoa contava sobre a vida de sua família. Por meio desta observação abriu-se espaço para o conhecimento e intervenção terapêutica nos canais do relacionamento dos membros desta família que demonstrava problemas. Alguns distúrbios psiquiátricos começaram a ser vistos e compreendidos como uma expressão familiar. 
Estudos foram realizados a respeito de pacientes esquizofrênicos e a influência de suas famílias, concluíram que a psicose esquizofrênica era um produto da relação mãe-filho, e que a conduta psicótica era a resposta do filho á mãe, às observações foi se incluindo o pai junto a estes comportamentos. E, após algumas verificações de que os sintomas do filho faziam parte de ambos, pai, mãe, e, caso também houvesse irmãos também se incluíam neste ato terapêutico, a finalidade da terapia passou a ser estudar sequências de condutas entre os membros de uma família. 
A terapia familiar floresceu no final do século XX, não só porque foi comprovada a sua eficácia clínica, mas porque a sociedade norte-americana estava redescobrindo a inter-relação que caracterizava o mundo. Eles descrevem que muitos teóricos trouxeram várias contribuições para a compreensão e tratamento das famílias. 
No começo da década de 1960, Murray Bowen, Lyman C. Wynne e Theodore Lids, também realizaram trabalho pioneiro na utilização da terapia familiar, tanto como instrumento de diagnóstico quanto método de tratamento de pacientes esquizofrênicos. Segundo Nichols & Schwartz a abordagem mais lida e comentada na década de 1960 foi a terapia das comunicações do grupo de Palo Alto. Gregory Bateson, Don Jackson e Jay Haley. 
A partir de 1965, alguns psicanalistas entre eles Harold Searls voltaram-se para o ambiente familiar. Na década de 1970, Salvador Minuchin foi um terapeuta de família mais influente com a terapia familiar estrutural. Na década de 1980, as terapias de famílias estratégicas e sistêmicas dominaram o cenário, seus representantes foram: Milton Erickson e Cloe Madanes.
Na década de 1990, as tendências dominantes são o construcionismo, a ideia de que a nossa experiência é uma função do modo em que a pensamos, outras tendências são as abordagens integrativas e uma preocupação com questões sociais e políticas.
A ênfase contemporânea da terapia familiar está nas questões sociais, especialmente sexismo, violência familiar e multiculturalismo, são consistentes com sua história de preocupação com a justiça social e com os direitos humanos (NICHOLS & SCHWARTZ, 1998).
No entanto, existe um problema no uso do método familiar, é que este exige habilidade por parte do terapeuta para não se colocar no lugar de juiz ou árbitro nas brigas familiares durante as sessões terapêuticas.
 	A terapia familiar não implica simplesmente na mudança do paciente individual em questão. A terapia familiar pode provocar mudança em toda a família, e, por isso, a melhora pode ser duradoura, porque todo e cada membro da família muda e continua a provocar uma mudança sincrônica um no outro (NICHOLS & SCHWARTZ, 1998).
	Os terapeutas familiares têm se utilizado de várias técnicas entre elas a Gestalt que tem como objetivo ampliar a consciência dos pacientes para aumentar a espontaneidade, a criatividade e a responsabilidade enquanto pessoa, estimulando assim a interação emocional entre as famílias. 
	As correntes não analistas surgiram e multiplicaram-se, entre elas: a abordagem estrutural de Salvador Minuchin, abordagem estratégica de Jay Haley, abordagem comunicacional, entre outras. 
Na história da Terapia Familiar, surgiram distintos grupos de profissionais da saúde mental, considerando que os problemas das pessoas devem ser olhados e atendidos no contexto de sua vida familiar e cotidiana, indo além das teorias sobre o que lhes acontece como indivíduos. Nestes grupos, as equipes de médicos, psicólogos e trabalhadores sociais começam a desenvolver formas de tratamento nas quais envolvem aqueles que compartilham a vida de seus pacientes, reunindo-os para que conversem entre si. Os autores colocam que é difícil conceituar este campo, devido à pluralidade de teorias e técnicas. 
Mesmo com os avanços da década de 1990, a maioria dos hospitais psiquiátricos ainda segrega os pacientes de suas famílias. Eles pontuam também que existem hospitais que possuem pessoas capazes de lidar com os pacientes e também com as suas famílias, porem também existem casos em que os pacientes (por exemplo, mulheres que sofreram agressão física e crianças sofridas de abusos) precisam ser defendidos de suas famílias por serem nocivas. 
[...] mesmo nos hospitais que tentam reconhecer que os pacientes têm família, os esforços de realização de terapia familiar frequentemente não significam mais do que realizar encontros familiares para tentar ajudar os membros a se “comunicar”, quando em geral o problema dessas famílias, é que seus membros se comunicam demais e precisam desenvolver maior independência. (NICHOLS & SCHWARTZ, 1998, p. 26)
	Contudo, acredita-se que a instituição familiar exerce grande influência na formação e na vida do indivíduo e várias ciências sociais se interessam por trabalhar com ela. A terapia familiar tem sido recomendada em representações preventivas e curativas, indicada como instrumento terapêutico para momentos de crises, e também como tratamento de famílias disfuncionais que são encaminhadas por outros profissionais, entre eles, psiquiatras e assistentes sociais. O que torna diferente uma intervenção de outra é a maneira como essa instituição é vista pelos profissionais, terapeutas familiares e como ela se insere nas diversas intervenções que a abordam. 
Terapia Familiar no Brasil
	 As terapias familiares vieram para o Brasil em meados da década de 70, influenciando vários profissionais da área psicossocial. Para Melman os processos de desospitalizaçao, os movimentos de crítica ao tratamento tradicional e o movimento de reforma psiquiátrica, aumentarem as responsabilidades da família em relação aos doentes, provocou uma necessidade de reformulação da atenção dirigida à família nos serviços, inclusive nos serviços extra hospitalares, que passaram a ser mais procurados pelosusuários e familiares. 
Ainda na década de 1970, houve um importante movimento que veio proporcionar o interesse pela terapia de casal e de família no Brasil, por entenderem que a patologia individual poderia estar vinculada a causas diferente da origem intrapsíquica. A terapia de casal e família recebeu a influência de vários grupos religiosos, sob a égide de pastoral da igreja católica, por meio dos encontros de noivos e encontros de casais em Cristo em 1977. 
A lei do divórcio instituída no Brasil, contribuiu para o crescente aumento no atendimento aos grupos de casais com uma forma de prevenir a dissolução dos casais e famílias. Nesse movimento a igreja católica estendeu-se pelos vários estados do país servindo de estímulo para abertura de centro e instituições onde profissionais terapeutas e pesquisadores dedicaram-se a ampliar o conhecimento da terapia familiar a maioria desses centros usavam a abordagem sistêmica.
Em 1980 terapeutas brasileiros formalizaram um espaço de discussão de ideias e inquietações de suas práticas junto aos grupos familiares. E em 1986 aconteceu o primeiro encontro de terapia familiar em Florianópolis, organizado por Luiz Carlos Osório. 
Em 1994 em uma assembleia após congresso foi fundada a Associação Brasileira de Terapia Familiar – ABRATEF, ficando decidido nesta ocasião que os estados organizariam suas associações regionais, e estas seriam a sede da ABRATEF, a qual teria um caráter itinerante, localizando-se na regional escolhida para sediar os Congressos Brasileiros (Osório, 2009). No mesmo ano da fundação da ABRATEF, foi proclamado pela ONU o dia 15 de maio como o DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA.
Em 1998 aconteceu o primeiro Encontro de Formadores, no Rio de Janeiro. Vários encontros, congressos, criação de vários institutos e centros de atendimentos e de formação foram criados nas diversas Capitais Brasileiras ao longo destas décadas. Em 2010 A ABRATEF- Associação Brasileira de Terapia Familiar - junto com a ATF-RJ - Associação de Terapia Familiar do Rio de Janeiro – está organizando o IX Congresso Brasileiro de Terapia Familiar, de 11 a 14 de agosto de 2010, em Búzios- RJ.
RECAPTULANDO
Desta forma a terapia familiar surgiu na década de 1950, desenvolveu-se na década de 1960 e chegou à maturidade na década de 1970. Mais precisamente em 1975 foi a época que em surgiram várias abordagens e escolas. Mesmo sendo uma ciência relativamente nova está baseada na ideia de que os comportamentos de uma pessoa devem ser compreendidos no contexto da família. Visando também o autoconhecimento dos membros da família e das relações estabelecidas por eles, a fim de possibilitar a família uma compreensão para resolução dos conflitos e uma maneira melhor de convivência e comunicação.
Embora não se possa deixar de considerar a interdisciplinaridade da terapia familiar e a diversidade de modelos de atuação nesta área acredita-se que a compreensão sobre o que se entende por família e sistema é fundamental para a discussão sobre a atuação clínica da terapia familiar. Na próxima aula iremos conhecer as primeiras e as principais escolas de Terapia Familiar, bem como suas contribuições e estratégicas de intervenção.
REFERÊNCIAS BÁSICAS:
MINUCHIN, S. & Fishman. Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.
OSORIO, Luiz Carlos; VALLE, Maria Elizabeth Pascual do Valle (org.). Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009.
NICHOLS, Michael P. e SCHUWARTZ. Terapia Familiar: conceitos e métodos. Porto Alegre: Artes médicas, 1998.
SITES 
Associação Brasileira de Terapia Familiar – ABRATEF.
BLOG do IX Congresso Brasileiro de Terapia Familiar.

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