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Unidade 02 Lesões Corporais

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Crimes em espécie 
Aula 2 lesões corporais
Nesta aula, será analisado o bem jurídico-penal integridade física, fisiológica e psíquica, bem como os critérios norteadores para fins de flexibilização de sua indisponibilidade para fins de exclusão da responsabilidade jurídico-penal em consonância com os princípios constitucionais.
Serão analisadas, por meio de casos concretos, as figuras típicas previstas no Código Penal e seu confronto com outras figuras típicas, tais como os delitos contra a honra, previstos na Legislação de Trânsito – Lei nº 9.503/1997 e na Lei nº 11.340/2006.
Conceito de integridade física e saúde corporal
Compreende-se por integridade física a “alteração anatômica, interna ou externa, do corpo humano (...) a saúde fisiológica diz respeito ao equilíbrio funcional do organismo (...) e a saúde mental, à perturbação de ordem psíquica” (CAPEZ, s. d., p. 166).
A autolesão não é punida pelo ordenamento jurídico face ao princípio da alteridade, salvo nos casos expressamente previstos em lei – Artigo 171, § 2º, V, Código Penal e Artigo 184, Código Penal Militar.
Disponibilidade do bem jurídico tutelado
Em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana, bem como do interesse social na manutenção da incolumidade física e mental dos indivíduos, o bem jurídico tutelado é considerado um bem público indisponível.
Entretanto, tal indisponibilidade foi mitigada com o advento da Lei nº 9.099/1995 ao estabelecer que, nos casos de lesões corporais culposas e de natureza leve, a ação penal de iniciativa pública passou a ser condicionada à representação da vítima ou de seu representante legal (Artigo 88, da Lei nº 9.099/1995).
No mesmo contexto, podemos também questionar a validade do consentimento do ofendido e, consequente, disponibilidade do bem jurídico em determinadas situações, tais como: lesões desportivas, intervenções cirúrgicas, dentre elas, por exemplo, o transplante de órgãos e tecidos, cirurgia transexual e esterilização cirúrgica. Clique aqui e entenda melhor os tipos de lesões.
Disponibilidade do bem jurídico 
tutelado 
As lesões desportivas e as intervenções médico-cirúrgicas encontramse dentre as causas excludentes de ilicitude decorrentes do exercício regular de direito, desde que consentidas pela vítima (art. 23, III, Código Penal). 
Fernando Capez defende o entendimento de que, sob a perspectiva da imputação objetiva do resultado, as lesões desportivas configuram condutas atípicas (CAPEZ, 2010, p. 167). 
No caso de intervenções médico-cirúrgicas, admitem-se, inclusive, suas realizações sem o consentimento da vítima quando configurar estado de necessidade (art. 24 e art. 146, § 3º, I, ambos do Código Penal). 
No que concerne ao transplante de órgãos e tecidos, o melhor entendimento direciona-se à compreensão do exercício regular de direito no caso de doador “juridicamente capaz”, haja vista a finalidade terapêutica do procedimento. 
Artigo 9 - É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos ou partes do próprio corpo vivo para fins de transplante ou terapêuticos. 
§ 3º. Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora. 
Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
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§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
O referido procedimento encontra-se previsto na Constituição da República – art. 199, § 4º e regulado na Lei nº 9.434/1997 – art. 9º. O mesmo entendimento é adotado em relação à esterilização cirúrgica, ou seja, tem sido considerada conduta atípica, haja vista fundar-se em princípios constitucionais – planejamento familiar e paternidade responsável, bem como pelo fato de estar expressamente regulada em lei – art. 10, da Lei nº 9.263/1996 e art. 226, § 7º, CRFB. 
Em relação à cirurgia transexual (tratamento de transgenitalismo), configura, em tese, lesão corporal gravíssima prevista no art. 129, § 2º, IV, do Código Penal, face à mutilação de órgãos e perda da função reprodutora. Todavia, a partir do reconhecimento de que a referida cirurgia configura-se como tratamento, não há que se falar em tipicidade da conduta médica (NUCCI, s. d., p. 656). 
Ainda, sobre o tema, o Conselho Federal de Medicina, em seu Projeto de Diretrizes, bem como por meio da Resolução CFM nº 1.955/2010, estabeleceu regras para o denominado tratamento de transgenitalismo.
Incidência do principio da insignificância
Nos casos de perfuração do corpo para a colocação de adereços, faz-se necessária a flexibilização da indisponibilidade do bem jurídico tutelado face à adoção do princípio da adequação social, bem como do principio da insignificância, por serem pequenas lesões corporais consentidas pela vítima, juridicamente capaz.
Notas
Princípio da Adequação Social
Norteador de Direito Penal segundo o qual somente podem ser tipificadas as condutas intoleráveis para a sociedade.
Violência de gênero
Espécie de violência praticada por motivo discriminatório em relação a gênero relacionado, por exemplo, ao sexo, idade, condição social, raça e etnia.
Violência doméstica
Espécie de violência praticada no âmbito da vida em família, independentemente da existência de parentesco.
Conflito aparente de normas e concurso de crimes com demais figuras típicas
É possível que, em alguns casos concretos, possamos nos deparar com situações nas quais tenhamos dúvidas acerca da correta tipificação da conduta de lesões corporais, quando essa “concorrer” com outras figuras típicas, seja por meio do conflito aparente de normas, seja por meio da incidência de concurso de crimes. Analisaremos, a seguir, algumas dessas hipóteses.
Crime de lesão corporal leve e injúria real
Nesse caso, o ponto distintivo resulta do animus do agente, ou seja, se “a violência exercida for ultrajante, havendo a intenção de humilhar, envergonhar a vítima, ofender a sua dignidade ou decoro” estará configurada a figura típica de injúria real. Por outro lado, caso haja significativa lesão corporal, consoante o disposto no § 2º, do Artigo 140, do Código Penal, será possível a aplicação concomitante de ambas as sanções por força da caracterização de concurso de crimes.
Lesões corporais culposas no Código Penal e no Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997)
Nesse caso, estamos diante de um conflito aparente de normas a ser solucionado pelo princípio da especialidade, segundo o qual a norma especial, a legislação de trânsito, ao exigir que o agente pratique a conduta na condução de veículo automotor, afasta a incidência da norma geral prevista no Código Penal.
Distinção entre violência doméstica e violência de gênero discriminatório contra a mulher
Questão a ser analisada com cuidado é o confronto entre as figuras típicas de lesões corporais qualificadas e majoradas mediante a caracterização da violência doméstica (Artigo 129, §§ 9°, 10 e 11 do Código Penal) e a violência doméstica e de gênero previstas na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
Inicialmente, temos de observar que a Lei nº 11.340/2006 não tipificou condutas, mas, sim, estabeleceu critérios de política criminal a serem adotados nos casos de violência doméstica contra a mulher, conforme se depreende da interpretação do disposto no Artigo 5º, da Lei n° 11.340/2006, in verbis:
Artigo 5º da Lei nº 11.340/2006: para os efeitos dessa lei, configura violência domésticae familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Notas
Princípio da Adequação Social
Norteador de Direito Penal segundo o qual somente podem ser tipificadas as condutas intoleráveis para a sociedade.
Violência de gênero
Espécie de violência praticada por motivo discriminatório em relação a gênero relacionado, por exemplo, ao sexo, idade, condição social, raça e etnia.
Violência doméstica
Espécie de violência praticada no âmbito da vida em família, independentemente da existência de parentesco.
Violência de gênero
Por outro lado, a violência de gênero, no caso da Lei nº 11.340/2006, possui caráter eminentemente discriminatório contra a mulher, tendo, a referida lei abarcado os dois conceitos.
Sobre o tema assevera Luiz Regis Prado:
“A violência de gênero se refere a atos de agressão ou de violência exercidos contra determinada pessoa por força de seu sexo feminino e a violência doméstica diz respeito à sua prática no âmbito doméstico ou intrafamiliar, ou a ele diretamente relacionado” (PRADO, 2010, p. 122).
Código Penal
Deve-se atentar que o disposto nos parágrafos 9º, 10 e 11 do Artigo 129 do Código Penal apresentam, como dito anteriormente, figuras qualificadas e majoradas a serem aplicadas nos casos de lesões corporais praticadas sob a caracterização de “violência domestica”, e não para casos exclusivos de “violência de gênero”, apesar de tais parágrafos terem sido inseridos no Código Penal pela Lei nº 11.340/2006. Para conhecer as contradições, clique aqui.
Código Penal disposto nos parágrafos 9º, 10 e 11, do art. 129 
No caso de lesões corporais de natureza leve praticadas contra 
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem 
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, a pena cominada passa a ser 
de detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos (art. 129, § 9º, Código Penal). 
Para as lesões corporais de natureza grave ou qualificada pelo 
resultado morte, praticadas no âmbito de violência doméstica, as penas serão 
majoradas em um terço (art. 129, § 10, Código Penal). No caso de lesões 
corporais praticadas no âmbito de violência doméstica contra pessoa 
portadora de deficiência, as penas serão majoradas em um terço (art. 129, § 
11). 
Vale lembrar que, conforme as lições de Fernando Capez, "a 
modificação da Lei nº 10.886/2004 acabou sendo tímida, visto que a conduta 
continua a configurar infração de menor potencial ofensivo e a ação penal, 
condicionada à representação do ofendido. Na hipótese de lesões de natureza 
grave, gravíssima e de lesão seguida de morte (CP, art. 129, §§ 1º, 2º e 3º), 
não incide a qualificadora do mencionado § 9º, até por uma razão óbvia: a 
pena nele cominada é bastante inferior, de maneira que seria extremamente 
vantajoso agredir um parente, um cônjuge ou a companheira de modo grave 
ou gravíssimo. Evidentemente, não é o caso. A qualificadora incide mesmo 
apenas em relação às lesões dolosas leves". (Curso de Direito Penal - Parte 
Especial, v. 2)
Perdão judicial
Em relação ao instituto do perdão judicial, causa extintiva de punibilidade prevista no Artigo 107, IX, do Código Penal, e ao delito de lesões corporais culposas, vide Artigo 129, § 8º, também do Código Penal, utilizaremos os mesmos tópicos analisados em aula anterior quanto ao delito de homicídio e a incidência do instituto do perdão judicial nos casos de homicídio culposo, previsto no Código Penal e na legislação de trânsito.
A representação como condição de procedibilidade da ação penal para o delito de lesões corporais leves e culposas
Com o advento da Lei nº 9.099/1995, por critérios de política criminal, os delitos de lesões corporais leves e culposas, por expressa previsão legal, passaram a possuir como condição de procedibilidade para a deflagração da ação penal de iniciativa pública a representação da vítima, diferentemente da iniciativa incondicionada do Ministério Público aplicável aos demais casos de lesão corporal.
Dessa forma, a partir da referida alteração legislativa, dois questionamentos devem ser feitos:
O prazo decadencial para a representação e consequente propositura da ação penal, consoante o disposto nos Artigo 24 e 38 do Código de Processo Penal, é de seis meses a contar da data em que teve conhecimento da autoria do delito, sob pena de decadência do direito de ação.
Violência doméstica contra a mulher
Antes de encerrar esta aula, reflita sobre a seguinte questão:
Nos casos de violência doméstica contra a mulher aplica-se a referida condição de procedibilidade?
Nesse caso, a questão foi enfrentada pelo (Supremo Tribunal Federal) STF, tendo sido objeto de Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (ADI 4.424) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) quanto aos Artigos 12, inciso I; 16; e 41 da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, vencido o presidente, ministro Cezar Peluso, julgou procedente, na sessão do dia 09 de fevereiro de 2012, a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424 e decidiu pela possibilidade de o Ministério Público dar início a ação penal sem necessidade de representação da vítima, bem como pela incompetência dos juizados especiais criminais em relação aos crimes cometidos no âmbito da Lei Maria da Penha.
Assim dispõe o Artigo 41 da Lei Maria da Penha, não sendo aplicável a Lei nº 9.099/1995 aos casos de violência contra a mulher. Vale lembrar que a ação penal para os delitos de lesão corporal leve somente passou a ser pública, condicionada à representação, após o advento da Lei dos Juizados Especiais, conforme dispõe seu Artigo 88.
Atividade proposta
No dia 16 de maio de 2008, por volta das 2 horas e 40 minutos, na Avenida Brasil, próximo ao número 9020, sentido Olaria/Centro, na comarca do Rio de Janeiro, Joseval Alves, inobservando o dever objetivo de cuidado inerente a qualquer motorista de veículo automotor, quando se encontrava na direção do veículo marca VW/SANTANA, cor azul-marinho, placa LPP XXXX/RIO, chassis XBWZZZXXZHPXXXXXX, atropelou as vítimas Analice de Oliveria e Kelly da Silva, causando a morte da primeira e lesões corporais na segunda, conforme se depreende do Auto de Exame Cadavérico de fls. 44 e do Auto de Exame de Corpo de Delito de fls. 82.”
Dos fatos, Joseval Alves foi denunciado constando, ainda, na denúncia que:
“(...) na data, horário e local acima descritos, o denunciado, conduzindo seu veículo automotor de forma imprudente, realizou manobra arriscada consistente em entrar em uma curva em velocidade incompatível com a do local, vindo a perder o controle do veículo e adentrando à calçada, ocasião em que atropelou as duas vítimas acima citadas, causando a morte de Analice de Oliveria e lesões corporais na vítima Kelly da Silva, conforme se depreende dos AEC de fls. 44 e do AECD de fls. 82, respectivamente. Por fim, aduz que o denunciado, logo após o atropelamento, se evadiu do local, deixando de prestar socorro a ambas as vítimas, quando era possível fazê-lo sem risco pessoal, uma vez que não sofreu qualquer lesão quando da colisão”.
Ante o caso concreto exposto, com base nos estudos realizados sobre os crimes contra a pessoa, tipifique a conduta de Joseval Alves e responda se é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.
Resposta: 
- Art. 302, parágrafo ú nico, Incisos II e III da Lei 9.503/97 – homicídio culposo na direção de veículo automotor. - Art. 303, parágrafo único e Art. 30 2, parágrafo único, Inc isos II e III da Lei 9.503/97 – lesão cor poral culposa. NA FORMA DO ART . 70 DO CÓDIGO PENAL. Presentes os requisitos do Art. 44 do CP; salientando que no crime culposo, independentemente da quantidade da pena imposta pelo juiz na sentença, é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Chave de resposta: A presente questão tem por objeto a análise dos delitos de homicídio e lesões corporais culposas na direção de veículo automotor agravados pelas causas de aumento de pena dos incisos II e III do parágrafo único do Artigo 302 c/c parágrafo único do Artigo 303, todos da Lei nº 9.503/1997, na forma do Artigo 70, 1ª parte, do Código Penal.
Clique aqui e veja as decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça.
Chave de resposta 
Em relação à possibilidade da possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade, vide decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça, in verbis : EMENTA. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. FALTA DE INTIMAÇÃO PARA APRESENTAR CONTRARAZÕES AO RECURSO DO ASSISTENTE À ACUSAÇÃO. PEÇA APRESENTADA EXTEMPORANEAMENTE. CONTRADITÓRIO RESPEITADO. CONDENAÇÃO BASEADA APENAS EM PROVA OBTIDA NA FASE INQUISITORIAL. INEXISTÊNCIA. CRIME COMETIDO O EXERCÍCIO DE SUA PROFISSÃO. APLICABILIDADE DA MAJORANTE ART. 302, INCISO IV, DA LEI N.º 9.503/97. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. POSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 
1. Renovação de julgamento em face da concessão parcial de habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal, que reconheceu nulidade pela ausência de notificação da inclusão do writ em pauta de julgamento.
 2. Inexiste violação ao contraditório, quando a ausência de intimação para apresentar de contrarrazões é motivada no fato de a Defesa adiantar-se em contraditar os argumentos do recurso em suas razões de apelação, pugnando pela sua inadmissão do apelo acusatório. Precedente. 
3. A sentença condenatória está baseada na confissão do Paciente, nos laudos técnicos e na prova testemunhal produzida durante a instrução do processo, sob a garantia do contraditório, insubsistindo a alegação de que as instâncias ordinárias reconheceram a autoria do delito apenas em prova obtida no inquérito policial. 
4. O disposto no inciso IV, do parágrafo único, do art. 302, impõe a majoração da pena quando o crime é cometido por agente no exercício de sua profissão de motorista, uma vez que, segundo Damásio Evangelista de Jesus, "nessa hipótese é maior o cuidado objetivo necessário, mostrando-se mais grave o seu descumprimento" (in Crimes de Trânsito, 5ª edição, 2002, p. 91).
5. Ainda que o tipo penal não preveja a pena de multa, não há impeditivo legal à substituição da reprimenda corporal por pena restritiva de direito de prestação pecuniária. 6. Ordem denegada. (STJ, HC n. 115301/SC, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em15/12/2011)
Síntese
Nesta aula, você:	
Compreendeu o conceito de integridade física e saúde corporal para fins de Direito Penal;
Estudou a incidência dos princípios da adequação social e insignificância aos delitos de lesões corporais e consequente flexibilização da indisponibilidade do bem jurídico tutelado;
Pôde analisar a política criminal adotada nos casos de violência doméstica e de gênero.
Com relação ao delito de lesões corporais, analise as assertivas abaixo e assinale a opção correta:
I. A autolesão não é punida pelo ordenamento jurídico face ao princípio da alteridade, salvo nos casos expressamente previstos em lei – Artigo 171, § 2º, V, CP e Artigo 184, CPM.
II. As lesões desportivas encontram-se dentre as causas excludentes de ilicitude decorrentes do exercício regular de direito, desde que consentidas pela vítima (Artigo 23, III, CP).
III. É possível a aplicação do principio da insignificância às pequenas lesões corporais, desde que consentidas pela vítima.
IV. A figura típica da lesão corporal qualificada pelo aborto absorve o delito de aborto, independentemente de o agente ter atuado com dolo ou culpa em relação ao resultado mais gravoso.
I e II
I e III
I, II e III
I, III e IV
I, II e IV
O crime de lesão corporal qualificado pelo aborto é crime preterdoloso, pois, se houver dolo em ambas as condutas, não há que se falar em consunção, mas em concurso de crimes. 
2
João, ao trafegar de maneira imprudente na garagem de seu prédio e sem verificar se havia alguém “circulando” na garagem, veio a atropelar e lesionar Cecília (sua vizinha). João, após comunicar o ocorrido ao marido de Cecília, apresentou-se à Delegacia Policial tendo sido autuado nas penas previstas no artigo:
Artigo 129, § 6º, do Código Penal, haja vista o incidente ter ocorrido no interior de seu prédio.
Artigo 303 da Lei nº 9.503/1997, pois para sua configuração é irrelevante se a lesão corporal ocorreu em via pública ou não.
Artigo 129, caput, do Código Penal, pois João atuou com dolo eventual ao manobrar sem olhar se alguém poderia estar “circulando” na garagem.
Artigo 129, § 3º, do Código Penal, por ter agido com dolo eventual em relação ao delito de lesão corporal culposa, sendo previsível o resultado mais gravoso morte.
Artigo 121, § 3º, do Código Penal, por ter agido com dolo eventual em relação ao delito de lesão corporal culposa, sendo previsível o resultado mais gravoso morte.
Não há previsão no Artigo 303 da Lei nº 9.503/1997 de que o crime tenha sido praticado em via pública.
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Motorista "A", acompanhado pelo passageiro "B", distraiu-se ao acender um cigarro e acabou por atropelar o pedestre "C", provocando-lhe importantes traumatismos. Em seguida, induzido pelo acompanhante "B", "A" deixou de prestar socorro a "C", o mesmo fazendo, evidentemente, o indutor. Considerando que o pedestre veio a sofrer a perda do membro inferior direito em decorrência dos ferimentos sofridos, assinale a resposta correta: 
"A" responderá por lesão corporal culposa, funcionando a omissão de socorro como causa especial de aumento de pena, nos termos do Código de Trânsito brasileiro; "B" responderá pela prática de omissão de socorro, prevista no Artigo 135 do Código Penal.
Ambos responderão nos termos do Código de Trânsito: "A", por lesão corporal culposa em concurso material com a omissão de socorro; "B", exclusivamente pela prática de omissão de socorro.
"A" responderá por lesão corporal culposa, funcionando a omissão de socorro como causa especial de aumento de pena, nos termos do Código de Trânsito; "B" se sujeitará às mesmas sanções, porém na qualidade de partícipe.
"A" responderá por lesão corporal culposa em concurso material com a omissão de socorro, tipificados pelo Código de Trânsito brasileiro; "B" responderá pela prática de omissão de socorro, prevista no Artigo 135 do Código Penal.
"A" responderá por lesão corporal culposa, funcionando a omissão de socorro como causa especial de aumento de pena, nos termos do Código de Trânsito; "B" não responderá pela fato diante da atipicidade de sua conduta.
O motorista, por ter causado o resultado, responde pelo aumento de pena. Já o passageiro, por não estar na direção do veículo, está no dever de solidariedade previsto no Artigo 135 do CP.
4
(PC-SP – Agente da Polícia – 2013) No crime de lesão corporal culposa, a pena é aumentada quando:
O agente quer deliberadamente atingir a vítima e causar-lhe ferimento.
O agente comete o crime sob o domínio de violenta emoção.
O agente comete o crime por motivo torpe.
O agente foge para evitar prisão em flagrante.
A vítima estava indefesa.
Conforme dispõe o § 7º do Artigo 129, aplica-se o aumento de pena para os casos previstos no Artigo 121, § 4º, do Código Penal.
5
Fabrício conduzia um trator no interior de sua fazenda, arando a terra para uma plantação, quando, por descuido, atropelou Laurete, que foi internada e perdeu uma das pernas. Assim, Fabrício:
Praticou o crime de lesão corporal previsto no Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997).
Praticou o crime de lesão corporal grave pela debilidade permanente de membro, previsto no Artigo 129, § 1º, III, do CP.
Praticou o crime de lesão corporal grave pela perda de membro, previsto no Artigo 129, § 2º, III, do CP.Praticou o crime de lesão corporal culposa previsto no Artigo 129, § 6º, do CP.
Não praticou crime.
Houve crime culposo, não importando a extensão das lesões. 
6
(TJ-CE – Juiz – 2014) Se praticado no contexto de violência doméstica, a ação será pública incondicionada no caso de crime de:
Lesão corporal contra a mulher, mas apenas se grave.
Ameaça, independentemente da condição da vítima.
Lesão corporal leve contra pai.
Ameaça contra mulher.
Lesão corporal contra mulher, independentemente da extensão.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424 decidiu a favor da possibilidade de o Ministério Público dar início a ação penal sem necessidade de representação da vítima.
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Segundo o entendimento jurisprudencial hoje preponderante, a lesão corporal respectivamente simples e qualificada ocorrida no Brasil (Cód. Penal, Artigo 129 e seus parágrafos) é um crime de ação penal:
Pública incondicionada e de ação penal privada.
Pública condicionada à representação e de ação penal privada.
Pública condicionada à representação e incondicionada.
Privada e de ação penal pública condicionada à representação.
Pública e exclusivamente condicionada à representação.
O crime de lesão corporal leve é de ação penal pública condicionada à representação, por força do Artigo 88 da Lei nº 9.099/1995.
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(Delegado de Polícia - ES – 2013) Joseval, no calor de uma discussão com Marinalda, sua namorada, por divergências esportivas, pois torcem para times distintos, desferiu um soco no rosto dela, que resultou em lesão; após isso, Marinalda passou a não sentir mais paladar. Assim, Joseval:
Deve responder pelo crime de lesão corporal simples.
Deve responder pelo crime de lesão corporal grave.
Deve responder pelo crime de lesão corporal gravíssima.
Deve responder pelo crime de violência doméstica.
Não deve responder por crime algum, pois a imputabilidade fica excluída pela emoção ou pela paixão.
De acordo com Fernando Capez, "a modificação da Lei nº 10.886/2004 acabou sendo tímida, visto que a conduta continua a configurar infração de menor potencial ofensivo e a ação penal condicionada à representação do ofendido. Na hipótese de lesões de natureza grave, gravíssima e de lesão seguida de morte (CP, Artigo 129, §§ 1º, 2º e 3º), não incide a qualificadora do mencionado § 9º, até por uma razão óbvia: a pena nele cominada é bastante inferior, de maneira que seria extremamente vantajoso agredir um parente, um cônjuge ou a companheira de modo grave ou gravíssimo. Evidentemente, não é o caso. A qualificadora incide mesmo apenas em relação às lesões dolosas leves".
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(TJ-GO – Juiz – 2012) No crime de lesão corporal leve praticado no âmbito de violência doméstica (Artigo 129, § 9º, do Código Penal), a ação penal é: 
Pública incondicionada, se a agressão se der do marido contra a mulher.
Pública incondicionada, em qualquer hipótese, segundo entendimento sumulado do STF.
Privada, se a agressão se der de irmão contra irmão.
Privada, se a agressão se der do filho maior contra o pai.
Pública condicionada, em qualquer hipótese.
Não se aplica a regra do Artigo 88 da Lei nº 9.099/1995, sendo a ação penal pública incondicionada.
10
(TJ-PE – JUIZ – 2011) No crime de lesão corporal praticado no contexto de violência doméstica (Artigo 129, § 9º, do Código Penal):
O sujeito passivo é sempre a mulher.
É necessário que a vítima conviva com o agente.
Não incide a agravante de o crime ser cometido contra cônjuge, se a ofendida é casada com o autor.
A pena é aumentada de 1/6 (um sexto), se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.
Não basta que se prevaleça o agente de relação de hospitalidade.

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