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Módulo V Responsabilidades

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Módulo V - Responsabilidades 
 
Ao final do Módulo V, o aluno deverá ser capaz de diferenciar as esferas de 
responsabilização funcional no âmbito da administração pública federal. 
 
Unidade 1 - Responsabilidades 
Um único ato cometido por servidor pode repercutir, simultaneamente, nas 
esferas administrativa, penal e civil. 
 
Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 121. O servidor responde civil, penal e 
administrativamente pelo exercício irregular de suas atribuições. 
 
Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, 
doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros. 
 
Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções 
imputadas ao servidor, nessa qualidade. 
 
Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato omissivo ou 
comissivo praticado no desempenho do cargo ou função. 
 
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, 
sendo independentes entre si. 
 
Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso 
de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria. 
 
 
É de se reiterar que uma das possíveis consequências do processo 
administrativo disciplinar é a configuração da responsabilidade administrativa 
do servidor por atos cometidos no exercício do cargo ou a ele relacionados. De 
acordo com a tripartição da responsabilidade estabelecida no art. 121 da Lei nº 
8.112, de 11/12/90, e a consequente enumeração de três responsabilizações 
nos arts. seguintes (122, 123 e 124), interpreta-se que o art. 124, mencionando 
a responsabilidade “civil-administrativa”, reporta-se à responsabilização 
administrativa propriamente dita (de forma que o prefixo “civil” se refere à 
natureza cível da responsabilização administrativa, que, embora não possua o 
dolo e a culpa expressos em seus enquadramentos, deles não pode prescindir 
para se cogitar de enquadramento disciplinar). Não obstante, no curso dessa 
apuração administrativa, pode a comissão se deparar com ilícitos civis ou 
penais. Nestes casos, a administração deve adotar algumas providências 
legalmente previstas. 
 
Ou seja, além da responsabilização administrativa (por atos contrários ao 
Estatuto), apurada no rito da Lei nº 8.112, de 11/12/90, detalhadamente 
descrito em todos os tópicos anteriores do presente texto, pode haver 
responsabilização civil (por danos causados ao erário e a terceiros e que tanto 
pode se esgotar excepcionalmente na via administrativa quanto em regra pode 
necessitar de ingresso na via judicial) e responsabilização penal (por crimes ou 
contravenções cometidos como servidor e que obrigatoriamente segue o rito 
judicial do CPP). 
 
Essas responsabilidades possuem características próprias, sofrendo gradações 
de acordo com as situações que podem se apresentar como condutas 
irregulares ou ilícitas no exercício das atividades funcionais, possibilitando a 
aplicação de diferentes penalidades, que variam de instância para instância. 
 
Responsabilização Administrativa 
 
A responsabilização do servidor público decorre da Lei nº 8.112/90, que lhe 
impõe obediência às regras de conduta necessárias ao regular andamento do 
serviço público. Nesse sentido, o cometimento de infrações funcionais, por 
ação ou omissão praticada no desempenho das atribuições do cargo ou 
função, ou que tenha relação com essas atribuições, gera a responsabilidade 
administrativa (arts. 124 e 148), sujeitando o servidor faltoso à imposição de 
sanções disciplinares. Em geral, os deveres e proibições ao servidor público 
estão previstos nos arts. 116, 117 e 132 da Lei nº 8.112/90[1]. 
 
Ao tomar conhecimento de falta praticada pelo servidor cabe à Administração 
Pública apurar o fato, aplicando a penalidade porventura cabível. Na instância 
administrativa a apuração da infração disciplinar ocorrerá por meio de 
sindicância contraditória ou de processo administrativo disciplinar (art. 143). 
Isso porque o processo disciplinar lato sensu é o instrumento de que dispõe a 
Administração para apurar a responsabilidade do servidor por infração 
praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as 
atribuições do cargo que ocupa (art. 148). 
 
Importa registrar que ao servidor público investigado em sindicância punitiva ou 
em processo administrativo disciplinar são assegurados todos os direitos 
constitucionais, inclusive o direito ao contraditório e à ampla defesa, com os 
meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, inciso LV, Constituição Federal). 
 
Uma vez comprovada a infração disciplinar pela própria Administração Pública, 
por meio de sindicância punitiva ou de processo administrativo disciplinar, será 
possível a aplicação das sanções previstas no art. 127 do Estatuto Funcional: I 
- advertência; II - suspensão; III - demissão; IV - cassação de aposentadoria ou 
disponibilidade; V - destituição de cargo em comissão; ou VI - destituição de 
função comissionada. 
 
 
[1] - MEIRELLES, 2011, p. 494. 
 
Unidade 2 - Responsabilização Civil 
Para o foco pessoal do agente público, de imediato, antecipe-se que, no atual 
ordenamento jurídico, a responsabilidade civil de servidor tem natureza 
subjetiva. Em outras palavras, a obrigação pessoal do agente público em 
reparar dano em decorrência do exercício do seu cargo requer a comprovação 
de que a sua conduta causadora do prejuízo foi dolosa ou culposa, em ato 
comissivo ou omissivo. Sem esse pré-requisito essencial, ainda que a atuação 
pública do servidor tenha acarretado dano, não se cogita de responsabilizá-lo 
civilmente a reparar. A responsabilidade civil não tem índole punitiva, mas sim 
patrimonial e indenizatória. 
 
Da mesma forma como se aduziu para a responsabilidade administrativa, tem-
se que a simples comprovação de que, objetivamente, de fato, ocorreu dano 
(avaria ou quebra) ou desaparecimento (perda, extravio, furto ou roubo) de um 
bem, mercadoria ou processo não necessariamente implica responsabilidade 
civil reparatória para o servidor cujo nome consta do respectivo termo de 
responsabilidade e/ou para o servidor (se diferente) que o tinha em uso ou 
guarda no momento da ocorrência do fato. A responsabilização civil também é 
de índole subjetiva, não se tolerando cogitar de imposição meramente objetiva 
de reparar o dano ou perda, sem a comprovação do ânimo subjetivo do 
responsável. 
 
Nesse rumo, repete-se, com maior aplicabilidade, uma vez que trata 
justamente de repercussão civil, a seguinte decisão adotada pelo Tribunal de 
Contas da União: 
 
 TCU, Tomada de Contas nº 450.131/96-3, Relatório 
 
Não obstante, novamente recomenda-se que o servidor signatário do termo de 
responsabilidade e/ou detentor do bem objeto de furto ou roubo registre a 
ocorrência policial e comunique o fato a seu chefe imediato (esta comunicação 
à chefia é recomendável também no caso de dano de bem). 
 
Como visto, a Lei nº 8.112/90, no respectivo Art. 122, estabeleceu duas 
situações em que o servidor poderá ser chamado a ressarcir os prejuízos 
causados ao erário. A primeira, quando causar danos diretamente à 
Administração Pública. A segunda, quando causar danos a terceiros no 
exercício da função pública[1]. 
 
Na hipótese de dano causado à Administração Pública, prevê o art. 46 da Lei 
nº 8.112/90 que a indenização do prejuízo financeiro causado pelo servidor 
poderá ocorrer ainda no âmbito administrativo, mediante desconto autorizado 
do valor devido em folha de pagamento. 
 
A indenização ao erário será previamente comunicada ao servidor para 
pagamento, no prazo máximo de 30 (trinta)dias, podendo ser parcelada. O 
valor de cada parcela não poderá ser superior a 10% (dez por cento) da sua 
remuneração. Quando o pagamento indevido houver ocorrido no mês anterior 
ao do processamento da folha, a reposição será feita imediatamente, em única 
parcela. 
 
Na hipótese de valores recebidos em decorrência de cumprimento à decisão 
liminar, à tutela antecipada ou à sentença que venham a ser revogadas ou 
rescindidas, serão eles atualizados até a data da reposição. O servidor em 
débito com o erário, que for demitido, exonerado ou que tiver sua 
aposentadoria ou disponibilidade cassada, terá o prazo de 60 (sessenta) dias 
para quitar o débito. O vencimento, a remuneração e o provento não serão 
objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos casos de prestação de 
alimentos resultante de decisão judicial (Arts. 46 a 48). 
 
Analogamente ao que se expôs para responsabilização administrativa, não se 
cogita de responsabilizar civilmente um servidor, obrigando-o a indenizar a 
União por um bem danificado ou extraviado, descontando de sua remuneração, 
sem antes se ter comprovado, no devido processo legal, com ampla defesa e 
contraditório, seja em via administrativa, seja em via judicial, que ele, no 
exercício de seu cargo, agiu com culpa ou dolo no evento. 
 
 
 
 
Neste ponto, ressalve-se a simplificação introduzida pela Instrução Normativa-
CGU nº 4, de 17/02/09. Segundo essa norma, o dano ou desaparecimento de 
bem decorrente de conduta culposa por parte do servidor e causador de 
prejuízo inferior a R$ 8.000,00 pode ter sua apuração encerrada em TCA, sem 
rito disciplinar, se o agente público aquiescer em ressarcir ao erário, poupando-
se a instauração de PAD ou sindicância punitiva. Ou seja, aquela norma atuou 
inovando apenas a sede disciplinar, em nada alterando a repercussão civil, não 
sendo relevante para o presente tópico. 
 
Menos ainda se pode cogitar de exigir de um grupo de servidores a 
indenização de um bem pelo simples fato de todos trabalharem no local onde 
se deu o sinistro, diluindo a responsabilidade civil sem o devido processo legal, 
se foi impossível a individualização ou se a administração não foi capaz de 
identificar o responsável. Assim, repetem-se as citações de fontes 
administrativas e doutrinária. 
 
Parecer-AGU nº GM-1, vinculante: “Ementa: A imputação administrativa da 
responsabilidade civil exige que se constate a participação de todos os 
envolvidos nas irregularidades, considerados individualmente. 
 
Formulação-Dasp nº 261. Responsabilidade administrativa. 
 
A responsabilidade administrativa deve ser individualizada no respectivo 
processo, vedada, na impossibilidade de indicação do culpado, a sua diluição 
por todos os funcionários que lidaram com os valores extraviados. 
 
“(...) não se permite a extensão da responsabilidade, de modo genérico, 
quando não for possível a individualização da responsabilidade.” Antônio 
Carlos Palhares Moreira Reis, “Processo Disciplinar”, pg. 184, Editora 
Consulex, 2ª edição, 1999. 
 
 
A imputação de que foi determinado servidor que, com intenção, negligência, 
imperícia ou imprudência, danificou ou extraviou o bem (ou propiciou que 
terceiro o fizesse) pode decorrer de várias formas juridicamente lícitas de 
comprovação, sendo aceitos desde o reconhecimento não-litigioso por parte do 
próprio servidor (como o TCA) ou apuratórios administrativos (de que a 
sindicância contraditória e o PAD são os principais exemplos, podendo-se 
ainda citar a tomada de contas especial, detalhada ao final do presente texto), 
até apurações em processos civis judiciais (ação de reparação de dano - ou 
ação indenizatória - e ação de improbidade), antes mesmo de apurações 
administrativas, à vista da consagrada independência das instâncias. 
 
[1] - DI PIETRO, 2006, p. 588-589. 
 
 
 
Pág. 2 
Não se confunde a conclusão obtida em meios administrativos de que o 
servidor, no exercício culposo ou doloso de seu cargo, acarretou prejuízo com 
a independente apuração da responsabilidade civil indenizatória, que, em 
regra, requer rito judicial. Obviamente que a apuração da responsabilidade civil 
(de repercussão patrimonial), no rito judicial, é independente da apuração da 
responsabilidade administrativa (de repercussão punitiva, no rol do art. 127 da 
Lei nº 8.112, de 11/12/90), podendo ocorrer antes, simultaneamente ou depois 
desta última. Nada impede o ajuizamento da ação civil antes mesmo de sequer 
se ter instaurada apuração administrativa ou antes de se ter tal apuração 
concluída. 
 
Destaque-se que, mesmo que já exista apuração administrativa acerca de dano 
causado por servidor com dolo ou culpa no exercício de seu cargo, pode haver 
a independente ação judicial, com seus requisitos probatórios próprios do CPC 
e garantindo ao acusado o exercício da ampla defesa e do contraditório, para 
apurar a responsabilização civil, cujo resultado pode até discrepar daquele 
obtido na sede administrativa. Não obstante, sem negar a independência das 
instâncias, o que se recomenda, no caso de já haver a prévia apuração da 
responsabilidade administrativa, é que a administração aproveite-a como peça 
de instrução da ação civil judicial, auxiliando na individualização da 
responsabilidade civil de indenizar, uma vez que ambas as instâncias guardam 
índole subjetiva. 
 
No caso específico em que a apuração da culpa subjetiva deu-se no escopo da 
sindicância contraditória ou do PAD, a comissão, após ter quantificado ou ao 
menos indicado o prejuízo, ao final, propõe à autoridade julgadora que proceda 
à comunicação do fato à unidade do local de ocorrência do fato, à Consultoria 
Jurídica do órgão e à Controladoria-Geral da União, conforme exposto em 
4.10.7.3. Este comunicado se justifica para que as instituições acima possam 
tomar suas respectivas providências na busca do ressarcimento do dano, que 
podem variar desde a simples lavratura de acordo com o responsável até um 
processo judicial de execução. 
 
“Lembre-se de que o processo administrativo disciplinar não pode ter por 
efeito ou penalidade compelir o servidor a ressarcir os prejuízos causados à 
Administração, visto que as penalidades cabíveis em seu bojo são apenas 
aquelas previstas em lei (art. 127, I a VI, art. 130, § 2º, todos da Lei federal nº 
8.112/1990.” Antônio Carlos Alencar Carvalho, “Manual de Processo 
Administrativo Disciplinar e Sindicância”, pgs. 122 e 123, Editora Fortium, 
2008, 1ª edição. 
 
 
 
Conforme se verá adiante, dependendo de a quem o servidor tenha causado 
prejuízo exercendo seu cargo, a responsabilização de reparar pode encerrar-se 
totalmente na esfera administrativa, sem necessidade de provocação judicial, 
ou pode ser necessário o ingresso em juízo. Na verdade, a cobrança 
administrativa direta do débito é exceção, possível apenas com aquiescência 
do servidor ou em razão de impossibilidade de execução judicial. Em regra, 
tem-se a inscrição do débito em dívida ativa não tributária, para execução 
judicial. 
 
A ação civil por responsabilidade do servidor em razão de danos causados ao 
erário é imprescritível. 
 
CF - Art. 5º 
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a 
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos 
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o 
limite do valor do patrimônio transferido; 
Art. 37. 
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por 
qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, 
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. 
Não sendo aresponsabilização civil de índole punitiva, tem-se que a ela não 
se aplica a garantia constitucional de que a pena não passa da pessoa do 
acusado, sendo certo que, em caso de morte do responsável, os sucessores 
arcam com a obrigação de reparar o prejuízo causado pelo agente, até o 
limite da herança. 
Lei nº 8.112, de 11/12/90 -Art. 122. 
§ 3º A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles 
será executada, até o limite do valor da herança recebida. 
 
A apuração de responsabilidade pelos danos causados à Administração 
Pública Federal e a obtenção do respectivo ressarcimento podem ser 
efetuadas, também, por meio da Tomada de Contas Especial (TCE), 
regulamentada pela Instrução Normativa TCU nº 56, de 5 de dezembro de 
2007. 
 
A TCE tem a finalidade de apurar os fatos, identificar os responsáveis e 
quantificar o prejuízo causado ao erário. De acordo com o art. 1º da IN/TCU nº 
56/2007 c/c o art. 8º da Lei no 8.443, de 16 de julho de 1992 (lei orgânica do 
TCU), são determinantes para a instauração de TCE a ocorrência de pelo 
menos um dos seguintes fatos: a) omissão no dever de prestar contas; b) não 
comprovação da aplicação dos recursos repassados pela União, mediante 
convênio, contrato de repasse ou instrumento congênere; c) ocorrência de 
desfalque, desvio ou desaparecimento de dinheiros, bens ou valores públicos; 
e d) prática de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico de que resulte dano à 
Administração Pública Federal. 
 
Na via judicial, em regra, o débito regularmente apurado é inscrito em dívida 
ativa da União e constitui título executivo passível de cobrança por intermédio 
de ação de execução fiscal proposta pela União perante o Poder Judiciário (Lei 
nº 6.830, de 22 de setembro de 1980). Entretanto, existem outras formas de 
ressarcimento judicial dos prejuízos causados ao erário pelo servidor, tais 
como a ação indenizatória (de ressarcimento ou reparatória) e a ação de 
improbidade administrativa de que trata a Lei nº 8.429/92. 
 
[1] - DI PIETRO, 2006, p. 588-589. 
 
 
 
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Unidade 3 - Dano e Desaparecimento de Bem 
De imediato, faz-se necessário estabelecer o enfoque extenso da presente 
abordagem, que inclui todas as hipóteses de dano (avaria ou quebra) ou de 
desaparecimento (perda, extravio, furto ou roubo) de qualquer tipo de material 
que possa ser incluído na abrangente expressão “bem público”. Isto porque, 
primeiramente, o termo “material” empregado pela Instrução Normativa-Sedap 
nº 205, de 08/04/88, em seu sentido mais estrito, alberga os bens devidamente 
patrimoniados pela administração, incluindo obviamente os bens duráveis ou 
que fazem parte de seu ativo permanente e excepcionalmente até alguns bens 
de consumo que possuam valor relevante. Mas aquela expressão alberga não 
só os bens já incorporados ao patrimônio público como também inclui aqueles 
bens ou mercadorias retidos ou apreendidos, ainda sob custódia, que teriam 
emprego após a destinação formalmente prevista em norma, visto já serem 
itens sob domínio do Estado, mesmo que provisoriamente. E, por fim, pode-se 
considerar que inclui ainda os processos administrativos danificados ou 
extraviados, uma vez que parte do que aqui se exporá para bens ou materiais, 
em termos procedimentais, pode ser adaptado também para autos 
processuais, embora tenham natureza distinta daqueles objetos. 
 
Firmado este enfoque abrangente, convém então destacar que, nas hipóteses 
de dano ou desaparecimento de bens públicos (lato sensu), é comum 
configurar prejuízo ao erário e/ou a terceiro, o que remete ao conceito de 
responsabilidade civil, cuja índole não é punitiva, mas sim patrimonial e 
indenizatória, apurada em regra em rito judicial. 
 
Tem-se que, a princípio, a simples comprovação de que, objetivamente, de 
fato, ocorreu o desaparecimento ou o dano de um bem, mercadoria ou 
processo não necessariamente implica responsabilidade administrativa para o 
servidor cujo nome consta do respectivo termo de responsabilidade ou para o 
servidor (se diferente) que o tinha em uso ou guarda no momento da 
ocorrência do sinistro. Sob ótica meramente conceitual para este tema (antes 
de adentrar nas especificidades do ordenamento de regência), não se tolera 
cogitar de responsabilização meramente objetiva -ou seja, à vista apenas de 
que objetivamente um fato criticável ocorreu para fim punitivo, sem a 
comprovação do ânimo subjetivo do responsável. 
 
Como resta óbvio que não há necessária e direta vinculação entre ter o nome 
no termo de responsabilidade ou deter o bem no momento do sinistro e atuar 
ou se omitir a favor da ocorrência, não se deve confundir, pela simples 
similaridade das expressões, “termo de responsabilidade” com 
“responsabilização administrativa”. Em um caso específico, até pode coincidir 
de o responsável pelo ilícito ser aquele que assinou o termo de 
responsabilidade e/ou ser aquele que detinha o bem no momento do fato, mas 
também pode ser que esses agentes não sejam as mesmas pessoas. 
 
Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa 
resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou 
função. 
 
Nesse rumo, embora se refira especificamente à tutela de sua competência 
(reparação civil), é perfeitamente aplicável também à sede administrativa 
disciplinar a seguinte manifestação exarada pelo Tribunal de Contas da União: 
 
 TCU, Tomada de Contas nº 450.131/96-3, Relatório 
 
De toda forma, recomenda-se ao servidor signatário do termo de 
responsabilidade e/ou detentor do bem objeto de furto ou roubo que registre a 
ocorrência policial e comunique o fato a seu chefe imediato (esta comunicação 
à chefia é recomendável também no caso de dano de bem). 
 
A imputação de que foi determinado servidor que, com intenção, negligência, 
imperícia ou imprudência, danificou ou extraviou o bem (ou propiciou que 
terceiro o fizesse) pode decorrer de várias formas juridicamente lícitas de 
comprovação, sendo aceitos desde o reconhecimento não-litigioso por parte do 
próprio servidor ou apuratórios administrativos (de que o processo 
administrativo disciplinar é o principal exemplo, podendo-se ainda citar a 
tomada de contas especial), até apurações em processos civis judiciais (ação 
de reparação de dano -ou ação indenizatória -e ação de improbidade), antes 
mesmo de apurações administrativas, à vista da consagrada independência 
das instâncias. 
 
Ainda sob a ótica meramente conceitual, sem abordar as liberalidades que o 
ordenamento pátrio previu para o tema, não se cogita de responsabilizar 
administrativamente um servidor, impondo-lhe em seu assentamento funcional 
a conclusão de que cometeu ilícito disciplinar e aplicando-lhe a pena 
associada, sem antes se ter comprovado, no devido processo legal, com ampla 
defesa e contraditório, que ele, no exercício de seu cargo, agiu com culpa ou 
dolo em sua conduta acarretadora de dano ou perda de bem público. 
 
Menos ainda se pode cogitar de responsabilizar indistintamente um grupo de 
servidores pelo simples fato de todos trabalharem no local onde se deu o 
sinistro com determinado bem, sem o devido processo legal. Não se tolera 
diluição da responsabilização entre diversos servidores se for impossível a 
individualização ou se a administração não for capaz de identificar o 
responsável. 
 
 Parecer-AGUnº GM-1, Vinculante 
 
Pág. 2 
Na hipótese mais frequente para o presente tema, quando se tem notícia 
apenas genérica de dano ou de desaparecimento de bem público, de 
mercadoria apreendida e de extravio de processo administrativo, sem nenhum 
indício que aponte o possível autor ou responsável pelo fato, não se justifica, 
de plano, instaurar a onerosa e residual sede administrativa disciplinar, com 
todos os ônus que lhe são inerentes. Repisa-se aqui que o simples fato de se 
identificar quem tem o nome consignado em termo de responsabilidade e/ou 
quem tinha o bem sob guarda ou uso no momento do sinistro não tem o 
condão de autorizar qualquer ilação acerca de algo muito mais grave e 
residual, que é a possibilidade de responsabilização administrativa. Somente 
se cogita de tal responsabilização se houver, no mínimo, indícios de conduta 
culposa ou dolosa de servidor. 
 
O caso específico de a apuração de dano (avaria) ou desaparecimento 
(extravio, furto ou roubo) de bem público transcorrer em via administrativa traz 
à tona a segunda exceção, de não- aplicação do devido processo legal previsto 
na Lei nº 8.112, de 11/12/90, e faz com que se abra um parêntese para abordar 
esta questão. 
 
Assim, nessa segunda exceção, de ato causador de dano ou de 
desaparecimento de bem, quando não há indícios que a priori indicam possível 
autor ou responsável, não se tendo de imediato a quem se garantir o exercício 
do contraditório e da ampla defesa, por meio de sindicância punitiva ou de 
processo administrativo disciplinar, inicialmente, fica a cargo da unidade de 
ocorrência do fato realizar um procedimento administrativo prévio, sem 
nenhuma participação da autoridade competente em matéria correcional. Se, 
nesse primeiro momento, se está diante de uma notícia limitada objetivamente 
ao fato de que um bem foi danificado ou extraviado, ainda sem qualquer indício 
de responsabilização a servidor, não há nenhuma necessidade de a unidade 
local provocar, por meio de representação, o sistema correcional. 
 
A princípio, ainda limitado ao enfoque meramente conceitual, o que determina 
a necessidade de remessa da apuração para o sistema correcional não é o 
simples fato de se poder identificar quem estava com o bem no momento do 
sinistro, mas sim a possibilidade de se cogitar que algum servidor tenha agido 
com culpa ou dolo no evento danoso. Nesta abordagem inicial, o bem até 
poderia estar em mãos de algum servidor perfeitamente identificável quando 
ocorreu o sinistro e ainda assim o procedimento administrativo prévio se dará 
no âmbito da unidade local se não houver indícios de ânimo subjetivo (culpa ou 
dolo) na conduta. 
 
Avançando para além do enfoque meramente conceitual e iniciando a análise 
sob a luz do ordenamento de regência e abordando primeiramente o sentido 
mais estrito de bens (bens patrimoniados e bens retidos ou apreendidos, 
excluindo desse conceito os processos administrativos), tem-se que a matéria 
foi disciplinada em sede do Poder Executivo federal pela Controladoria-Geral 
da União, por meio da Instrução Normativa-CGU nº 4, de 17/02/09. É de se 
antecipar que esta norma revogou a já mencionada Instrução Normativa-
Sedap, de 08/04/08, apenas no que se referia à obrigatoriedade de apuração 
de responsabilidade disciplinar decorrente de dano ou desaparecimento de 
bem de pequeno valor; a antiga norma não foi revogada nos tópicos em que 
aborda outros temas, tais como controle contábil e inventário de bens públicos. 
 
A Instrução Normativa-CGU nº 4, de 17/02/09, estabeleceu uma apuração 
simplificada, a cargo da própria unidade de ocorrência do fato, à margem do 
sistema correcional, a ser realizada por meio do instrumento processual 
chamado Termo Circunstanciado Administrativo (TCA), para casos de dano ou 
desaparecimento de bem público que implicar prejuízo de pequeno valor 
(assim entendido quando o preço de mercado -e não de registro contábil -para 
aquisição ou para reparação do bem extraviado ou danificado for igual ou 
inferior ao limite legal para dispensa de licitação, conforme o art. 24, II da Lei nº 
8.666, de 21/06/93 -atualmente de R$ 8.000,00). O tema conta ainda com um 
“Perguntas e Respostas” disponível no endereço 
http://www.cgu.gov.br/Destaques/TCA_ CRG.asp. 
 
Instrução Normativa-CGU nº 4, de 17/02/09 -Art. 1º Em caso de extravio ou 
dano a bem público, que implicar em prejuízo de pequeno valor, poderá a 
apuração do fato ser realizada por intermédio de Termo Circunstanciado 
Administrativo (TCA). 
Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, considera-se prejuízo 
de pequeno valor aquele cujo preço de mercado para aquisição ou reparação 
do bem extraviado ou danificado seja igual ou inferior ao limite estabelecido 
como de licitação dispensável, nos termos do art. 24, inciso II, da Lei nº 
8.666, de 21 de junho de 1993. 
 
Com isso, de imediato já se limita o emprego do TCA: somente é permitido se 
já se sabe, de antemão, que o prejuízo decorrente de dano ou extravio de bem 
é inferior a R$ 8.000,00, não se podendo aplicar aquele rito simplificado 
quando o prejuízo supera este limite. Obviamente, em casos em que não se 
sabe ao certo o valor do prejuízo, pode-se dar início ao TCA justamente 
elegendo-o como o meio hábil para, de imediato, buscar a quantificação do 
prejuízo; quantificando o prejuízo abaixo do limite, a princípio, pode-se 
prosseguir no rito simplificado e quantificando-o acima, tem de se encerrar o 
TCA e adotar o rito adequado, conforme adiante se exporá. 
 
Pág. 3 
O TCA, claramente, foi instituído objetivando a eficiência e a racionalização do 
emprego dos recursos públicos, como uma alternativa -sob determinadas 
condições de aplicação -ao oneroso rito disciplinar, cujo custo por vezes é 
desproporcional em relação ao benefício obtido. 
 
O TCA deve ser protocolizado na forma de um processo administrativo lato 
sensu, tendo como folha inaugural o formulário estabelecido pela Portaria-
CGU/CRG nº 513, de 05/03/09 (cujo modelo segue no Anexo III), não se 
exigindo formalismo de publicar ato de instauração e de designação de seu 
condutor, atribuição esta que recai sobre o chefe do setor responsável pela 
gerência de bens e materiais na unidade. Esse gestor patrimonial deve lavrar o 
TCA, descrevendo o fato, identificando o servidor envolvido, propiciando-lhe a 
manifestação no processo em cinco dias (prazo prorrogável por igual período, 
sendo permitido, se necessário, realização de provas, inclusive laudos periciais 
ou técnicos), e, ao final, deve apresentar parecer conclusivo, com proposta de 
julgamento para o titular da unidade de lotação do servidor à época do fato, 
que pode acatar ou não a proposta. 
 
 Arts. 3º e 4º 
 
Caso o titular da unidade de lotação do servidor julgue que o prejuízo inferior a 
R$ 8.000,00 decorreu do uso regular do bem ou de fatores que independeram 
da ação do servidor ou seja, que este não agiu nem com culpa e nem com dolo 
-, a apuração se encerra no próprio TCA, com remessa dos autos para o gestor 
patrimonial, a fim de se proceder apenas a controles contábeis internos (como 
a baixa do bem, por exemplo). Caso aquela autoridade conclua que o prejuízo 
inferior a R$ 8.000,00 decorreu de conduta culposa do servidor e este concorde 
com o ressarcimento ao erário, desde que o prejuízo se limite a R$ 8.000,00, a 
solução ainda se encerra no próprio TCA (esta via simplificada não tem o 
condão de impor o ressarcimento ao servidor). Neste caso, o encerramento se 
condiciona ao ressarcimento ao erário, no prazo de cinco dias (prorrogável por 
igual período), tanto por meio depagamento quanto pela entrega de bem igual 
ou superior ao bem danificado ou extraviado ou pela prestação de serviço 
(realizada por terceiro, não pelo servidor) que restitua o bem danificado. 
 
 
 Instrução Normativa-CGU nº 4, de 17/02/09, Art. 3º 
 
 
 
Pág. 4 
Em sentido contrário, apenas nas hipóteses de o servidor não concordar em 
ressarcir o prejuízo limitado a R$ 8.000,00 culposamente causado ou de este 
superar o limite ou ainda de haver indícios de conduta dolosa 
independentemente do valor, a apuração de responsabilidade administrativa 
não pode se encerrar na via simplificada do TCA, recaindo na regra geral, via 
PAD ou sindicância punitiva, no rito contraditório estabelecido na Lei nº 8.112, 
de 11/12/90. Na hipótese de prejuízo limitado a R$ 8.000,00 e culposamente 
causado, o voluntário ressarcimento por parte do servidor, mesmo após o 
prazo, desde que antes que se instaure o rito disciplinar, afasta esta 
instauração. 
 
 
Instrução Normativa-CGU nº 4, de 17/02/09 - Art. 5º É vedada a utilização do 
modo de apuração de que trata esta Instrução Normativa quando o extravio 
ou o dano do bem público apresentarem indícios de conduta dolosa de 
servidor público. 
Art. 6º Não ocorrendo o ressarcimento ao erário, de acordo com o descrito no 
art. 4º, ou constatados os indícios de dolo mencionados no art. 5º, a 
apuração da responsabilidade funcional do servidor público será feita na 
forma definida pelo Título V da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. 
 
Percebe-se restar ainda uma situação intermediária, quando se tem 
configurado prejuízo superior a R$ 8.000,00 mas não se sabe se o dano ou o 
desaparecimento do bem decorreu de seu uso regular, sem culpa ou dolo, ou 
se decorreu de conduta culposa ou dolosa do servidor. Nesses casos, por força 
da limitação imposta pelo art. 1º da IN-CGU nº 4, de 17/02/09, o TCA não se 
revela meio legal para a investigação da existência ou não de ânimo subjetivo 
e, se for o caso, de sua especificação (se culpa ou se dolo). 
 
Além disso, também é cristalino que esta inovação simplificadora trazida ao 
ordenamento pela Controladoria-Geral da União não se aplica a dano ou a 
extravio de processo administrativo, uma vez que a esta espécie não se pode 
aplicar o limite do prejuízo (de R$ 8.000,00). Mesmo que o processo 
administrativo verse sobre algum valor financeiro (um crédito tributário, por 
exemplo), não se confunde o valor intangível dos autos com o quantum que 
porventura neles se discuta, bem como a providência administrativa de 
reconstituir os autos não se confunde com aquiescência em restituir valor. 
 
Pág. 5 
Uma vez que não há amparo normativo para se utilizar o TCA como rito para 
se apurar se houve ânimo subjetivo na conduta que acarretou dano ou 
desaparecimento de bem com prejuízo superior R$ 8.000,00 ou de processo 
administrativo, resta aplicar a estas duas hipóteses os regramentos gerais da 
responsabilidade disciplinar, previstos na Lei nº 8.112, de 11/12/90, sem 
exceção para condutas eivadas de culpa ou de dolo. Ainda assim, sem 
expressa previsão legal, também é de se buscar a ponderação entre a 
proporcionalidade do processo administrativo disciplinar e o grau de 
reprovação ao dano ou extravio de processo administrativo. 
 
Assim, resta aqui a necessidade de se abordar a sindicância inquisitorial, em 
razão exclusiva de duas hipóteses: de se ter a necessidade de investigar se 
houve ânimo subjetivo ou não em dano ou desaparecimento de bem causador 
de prejuízo superior a R$ 8.000,00 (claro que, quando se sabe de antemão da 
existência de culpa ou dolo para prejuízo superior a R$ 8.000,00, é caso 
diretamente tratado na instância correcional, não se necessitando dessa 
sindicância) ou de processo administrativo (para o qual não se cogita de valor); 
ou ainda de algum caso residual que não se enquadre na definição de bem 
patrimoniado ou apreendido. 
 
A competência para tal instauração de rito meramente investigativo repousa 
nas genéricas atribuições regimentais dos titulares de órgãos ou unidades, em 
nada se confundindo com a restrita competência da autoridade correcional para 
instaurar ritos contraditórios. Essa sindicância investigativa inquisitorial, não 
possuindo expressa previsão e disciplinamento em lei, pode ser conduzida por 
somente um sindicante ou por comissão integrada por quantidade de 
servidores a critério da autoridade, com o único requisito de obrigatoriamente 
serem todos lotados na própria unidade de ocorrência do fato, não sendo 
exigível a estabilidade do sindicante ou dos integrantes. Não possuindo rito 
previsto em lei, a praxe administrativa tem sido adequar a esta sindicância 
inquisitorial, no que for cabível, o rito que a Lei nº 8.112, de 11/12/90, 
estabelece para a sede disciplinar (por exemplo, o sindicante ou comissão 
pode redigir atas de deliberação, emitir documentos de comunicação, ouvir 
testemunhas, realizar diligências e demais atos de instrução e, ao fim, elaborar 
relatório para a autoridade local), mas, por sua natureza apenas inquisitorial, 
não pode acusar ninguém, nem concluir por responsabilização. 
 
Se a sindicância inquisitorial, após esgotar suas investigações, concluir tão-
somente pelos fatos objetivos de que realmente ocorreu o prejuízo superior a 
R$ 8.000,00 em decorrência de dano ou desaparecimento de bem ou de que o 
processo administrativo foi danificado ou extraviado, sem nada conseguir 
levantar acerca de conduta subjetiva do suposto autor ou responsável (ou seja, 
acerca de conduta culposa ou dolosa), deverá ser concluída com relatório 
propondo à autoridade o arquivamento do feito para fim disciplinar. Sendo 
acatada pela autoridade local a conclusão do sindicante ou comissão de que 
não foi possível apontar algum servidor como suposto autor direto do fato ou 
nem sequer como eventual responsável para que terceiro cometesse o fato, 
deve-se dar prosseguimento nas providências atinentes apenas ao apenas ao 
controle interno, como baixa contábil do bem ou restituição dos autos, se for o 
caso, significando que não haverá nenhuma repercussão disciplinar e muito 
menos imposição de ressarcimento a quem quer que seja. Ainda nesta 
hipótese, por fim, não há nenhuma necessidade de remessa dos autos para a 
autoridade competente em matéria correcional, sendo arquivados pela própria 
unidade de ocorrência do fato. 
 
Somente na hipótese de a sindicância investigativa instaurada na própria 
unidade local obter indícios de suposta autoria (ou concorrência) por parte de 
servidor é que, além das medidas administrativas internas atinentes a controle 
interno porventura cabíveis, se encaminha o caso para a autoridade com poder 
correcional no órgão ou unidade, a fim de se instaurar o apuratório disciplinar, 
sob ampla defesa e contraditório. Tendo a sindicância inquisitorial levantado 
indícios de que o servidor, seja intencionalmente, seja por imperícia, 
imprudência ou negligência, praticou o ato causador de prejuízo superior a R$ 
8.000,00 em decorrência de dano ou desaparecimento de bem ou causador de 
dano ou extravio de processo administrativo (ou permitiu que terceiro o 
praticasse), não lhe cabe prosseguir, pois sua portaria de instauração, baseada 
apenas em competência regimental da autoridade local, não se baseia na Lei 
nº 8.112, de 11/12/90, e, como tal, não tem o poder de acusar ninguém e muito 
menos de redundar em pena estatutária. Neste caso, deve o sindicante ou a 
comissão elaborar relatório dirigido à autoridade local, propondo remessa dos 
autos à autoridade com poder correcional no órgão ou unidade. Repisa-se mais 
uma vez que nãobasta o simples fato de se identificar o servidor que tinha o 
processo danificado ou extraviado sob guarda ou uso no momento do sinistro 
para se aduzir que se configurou sua responsabilização administrativa, pois 
esta requer conduta culposa ou dolosa no evento. Caso seja a proposta 
aprovada pela autoridade local, este relatório se consubstanciará em uma 
representação para a autoridade correcional submeter a juízo de 
admissibilidade a decisão de instaurar ou não sindicância contraditória ou PAD, 
nos termos do art. 143 da Lei nº 8.112, de 11/12/90. 
 
Tanto na hipótese de bem patrimoniado ou apreendido quanto na hipótese de 
processo administrativo danificados ou extraviados, tendo decidido a 
autoridade correcional, em sua exclusiva competência, pela instauração do rito 
disciplinar, a comissão designada para tal, após a instrução coletada sob 
manto do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, tanto pode 
concluir pela inocência do servidor representado e relatar a favor do 
arquivamento do feito, quanto pode concluir por sua responsabilização 
disciplinar. 
 
Para que se cogite dessa segunda possibilidade, se faz necessário que o 
colegiado tenha comprovado a conduta culposa ou dolosa do servidor, uma vez 
que, repisa-se, não se contenta, para o grave fim de responsabilização 
disciplinar, com a simples comprovação fática de que objetivamente ocorreu 
ato danoso; a responsabilização de índole punitiva tem natureza subjetiva e 
não objetiva, requerendo ainda que se comprove que não só o fato danoso 
ocorreu, mas também que sua ocorrência se deu em virtude de conduta 
imperita, negligente, imprudente ou consciente e intencional por parte do 
servidor, seja para ele mesmo cometer o ato, seja para propiciar que terceiro o 
cometesse. Ressalva-se a simplificação introduzida pela Instrução Normativa-
CGU nº 4, de 17/02/09, conforme já aduzido, que permite, sob condições, que 
a conduta culposa acarretadora de dano ou extravio de bem tenha sua 
apuração encerrada sem processo administrativo disciplinar. 
 
Igualmente para todos os casos ora analisados, não obstante, se no TCA ou na 
sindicância inquisitorial, são identificados indícios de possível responsabilidade 
contratual da empresa de segurança ou de qualquer outra pessoa jurídica 
decorrente de contrato celebrado com a administração, deve-se remeter cópia 
da investigação ao fiscal do contrato administrativo para adotar providências 
administrativas e/ou judiciais para ressarcimento dos valores dos bens à 
administração pública, nos termos avençados no instrumento contratual. 
 
Unidade 4 - Responsabilização Penal 
A responsabilidade penal do servidor público decorre da prática de infrações 
penais (art. 123) e sujeita o servidor a responder a processo criminal e a 
suportar os efeitos legais da condenação. 
 
A responsabilidade do servidor na esfera penal deve ser definida pelo Poder 
Judiciário, com a aplicação das respectivas sanções cabíveis, que poderão ser, 
conforme o caso, privação de liberdade, restrição de direitos ou multa (art. 32, 
incisos I, II e III, do Código Penal). 
 
Para fins penais, o conceito de servidor público é mais amplo e, de acordo com 
o art. 327 do Código Penal, considera-se funcionário público “quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função 
pública”. Por sua vez, o parágrafo 1º do art. 327 do Código Penal equipara a 
funcionário público “quem exerce cargo, emprego ou função em entidade 
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada 
ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”. 
 
Os principais crimes funcionais contra a Administração Pública estão tipificados 
nos arts. 312 a 326, bem como nos art. 359-A ao 359-H do Código Penal, cujas 
sanções variam de acordo com o grau de lesividade aos princípios e interesses 
administrativos, e são processados mediante ação penal pública 
incondicionada, proposta pelo Ministério Público perante o Poder Judiciário. 
 
Embora a maioria das condutas delituosas contra a Administração Pública 
figure nos artigos supracitados do Código Penal, isso não significa que outras 
transgressões do tipo não possam se somar àquelas. Nesse sentido, cita-se a 
Lei Federal nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, como exemplo, que disciplina 
o abuso de autoridade (ou abuso de poder) que configure crime. 
 
Nessa mesma esteira, merece menção a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 
(lei das licitações e contratos administrativos), tendo em vista que nos artigos 
89 a 98 há tipificação de determinadas condutas consideradas criminosas. 
 
Nesse ínterim, a autoridade administrativa que tenha conhecimento de indícios 
de crime ou contravenção é obrigada a representar ao Ministério Público 
Federal. A rigor, como consequência do julgamento, à luz do art. 154, 
parágrafo único, e do art. 171, ambos da Lei nº 8.112, de 11/12/90, a remessa 
ao Ministério Público Federal deve se dar ao final tanto da sindicância quanto 
do PAD, como decorrência da observância dos princípios da legalidade, do 
devido processo legal e da presunção de inocência. Todavia, 
excepcionalmente, pode ser justificável que a comissão encaminhe a qualquer 
momento, antes do término do rito, representação penal à autoridade 
instauradora, a fim de que esta, se entender cabível e se assim o caso exigir 
(por exemplo, para obtenção de provas judiciais ou para prevenir prescrição 
penal), remeta-a ao Parquet. 
Lei nº 8.112, de 11/12/90 -Art. 123. A responsabilidade penal abrange os 
crimes e contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade. 
 
Mas, em todo caso e sobretudo na hipótese excepcional e atípica da 
antecipação, a proposta da comissão passa primeiramente pela autoridade 
instauradora, a fim de que se faça análise crítica jurídica cautelosa, avaliando 
apenas a existência de indícios, já que não é competência de agente 
administrativo apreciar crime e também com vista ao risco de pré- julgamento 
ou de dependência da instância penal. Decerto é que remessas prévias não 
prejudicam a remessa final, prevista em Lei. 
 
A partir daí, na esfera penal, instaura-se o rito estabelecido no CPP, sintetizado 
abaixo, com as peculiaridades estabelecidas nos seus arts. 513 a 518, em 
função de o agente ser servidor. Especificamente no caso ato de abuso de 
autoridade (ou abuso de poder) que configure crime, segue-se o rito dos arts. 
12 a 28 da Lei nº 4.898, de 09/12/65, e no caso de crimes funcionais 
associados a licitações, segue-se o rito dos arts. 100 a 108 da Lei nº 8.666, de 
21/06/93. 
 
Diante da representação, o Ministério Público Federal pode ou não solicitar a 
instauração de inquérito policial. Se, com base apenas na cópia do processo 
administrativo, o Ministério Público Federal considerar que há indícios ou 
provas de crime, pode dispensar o inquérito policial e oferecer diretamente 
denúncia à Justiça Federal de primeira instância, solicitando instauração da 
ação penal. Além disso, caso haja dano ao erário a reparar, o Parquet pode 
também solicitar o sequestro de determinado(s) bem(ns) (medida cautelar que 
antecede a pena de perdimento, diferindo da indisponibilidade, que recai 
genericamente sobre todo o patrimônio). Por outro lado, pode o Ministério 
Público Federal entender desde o início descartada a repercussão criminal e 
arquivar a representação. 
 
Apresentada a denúncia, o juiz cita o acusado para que este apresente suas 
alegações prévias. O juízo pode acatar essas alegações e não receber a 
denúncia do Ministério Público Federal, não instaurando ação penal, podendo o 
Parquet recorrer à segunda instância (Tribunal RegionalFederal). Por outro 
lado, se o juiz não acatar as alegações do acusado e receber a denúncia 
(contra o quê ele pode impetrar habeas corpus no Tribunal Regional Federal), 
instaura- se a ação penal, procede-se à instrução processual e, ao final, o 
magistrado emite sua decisão, absolutória ou condenatória. Transitada em 
julgado esta decisão, há hipóteses (tanto de absolvição quanto de condenação) 
que repercutem na via administrativa. 
 
Unidade 5 - Responsabilização no âmbito do Tribunal de Contas da União 
No tocante à separação da instância administrativa com o campo de atuação 
do Tribunal de Contas da União - TCU é válido ressaltar que a regularidade de 
contas julgada por aquela Corte não impede a responsabilização disciplinar do 
gestor, bem como o julgamento pela irregularidade das contas não 
necessariamente impõe a responsabilização disciplinar, conforme Parecer GQ-
55 da AGU, de 30 de janeiro de 1995, vinculante: 
Contraditório, ampla defesa, prescrição e conseqüências do julgamento da 
regularidade de contas pelo Tribunal de Contas da União no processo 
administrativo disciplinar. [...] 29. A decisão do TCU, adotada em vista de sua 
função institucional, repercute na ação disciplinar dos órgãos e entidades 
integrantes da Administração Pública na hipótese em que venha negar 
especialmente a existência do fato ou a autoria. 30. O julgamento da 
regularidade das contas, por si só, não indica a falta de tipificação de infração 
administrativa [...]. 
 
Absolvição Criminal por Insuficiência de Provas ou por Fato Não Ser 
Crime e Falta Residual 
Como consequência, tem-se, por exemplo, que a absolvição penal definitiva 
por falta de prova suficiente para imputar criminalmente não afasta a 
possibilidade de haver responsabilizações administrativa e civil, uma vez que a 
instrução probatória na ação penal é muito mais exigente, de forma que um 
conjunto probatório insuficiente para configurar crime pode ser suficiente para 
configurar ilícito administrativo e obrigação de indenizar. 
 
 Formulação-Dasp nº 278. Absolvição judicial 
 
As provas produzidas no processo criminal podem ser insuficientes para a 
respectiva condenação, dadas as características próprias daquele juízo. 
Entretanto, o conjunto probatório pode ser plenamente adequado para a 
apenação nas instâncias administrativa e/ou civil, até porque serão produzidas 
independentemente do andamento do processo penal. 
 
Nessa circunstância, se demitido após apurada sua responsabilidade 
administrativa, o servidor não deverá ser reintegrado caso o processo criminal 
conclua pela absolvição por insuficiência de provas. Tal orientação é 
corroborada nas seguintes decisões exaradas pelos Egrégios STF e STJ, 
respectivamente: 
 
FUNCIONÁRIO PÚBLICO – DEMISSÃO – ABSOLVIÇÃO CRIMINAL. 
Embora possa ter sido absolvido o funcionário na ação penal a que 
respondeu, não importa tal ocorrência a sua volta aos quadros do serviço 
público, se a absolvição se deu por insuficiência de provas, e o servidor foi 
regularmente submetido a inquérito administrativo, no qual foi apurado ter ele 
praticado o ato pelo qual veio a ser demitido. A absolvição criminal só 
importaria anulação do ato demissório se tivesse ficado provada, na ação 
penal, a inexistência do fato, ou que o acusado não fora o autor. (BRASIL, 
Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 20.814. Relator: 
Ministro Aldir Passarinho, Data de Julgamento: 22.03.1991, STF Pleno, Data 
de Publicação: 24.05.1991). 
 
PAD. ABSOLVIÇÃO PENAL. Cinge-se a controvérsia à possibilidade de 
condenar servidor público na área administrativa, por infração disciplinar, 
após sua absolvição criminal pela imputação do mesmo fato. O entendimento 
do STJ é que, afastada a responsabilidade criminal do servidor por 
inexistência daquele fato ou de sua autoria, fica arredada também a 
responsabilidade administrativa, exceto se verificada falta disciplinar residual 
sancionável (outra irregularidade que constitua infração administrativa) não 
abarcada pela sentença penal absolutória (Súm. n. 18-STF). No entanto, a 
Turma não conheceu do recurso em face do óbice da Súm. n. 7-STJ. 
Precedentes citados: REsp 1.199.083-SP, DJe 8/9/2010; MS 13.599-DF, 
DJe 28.05.2010, e Rcl 611-DF, DJ 04.02.2002. (BRASIL, Superior Tribunal 
de Justiça. REsp nº 1.012.647-RJ. Relator: Ministro Luiz Fux, julgado em 
23.11.2010). 
 
FUNCIONÁRIO PÚBLICO – DEMISSÃO – ABSOLVIÇÃO CRIMINAL. 
Embora possa ter sido absolvido o funcionário na ação penal a que 
respondeu, não importa tal ocorrência a sua volta aos quadros do serviço 
público, se a absolvição se deu por insuficiência de provas, e o servidor foi 
regularmente submetido a inquérito administrativo, no qual foi apurado ter ele 
praticado o ato pelo qual veio a ser demitido. A absolvição criminal só 
importaria anulação do ato demissório se tivesse ficado provada, na ação 
penal, a inexistência do fato, ou que o acusado não fora o autor. (BRASIL, 
Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 20.814. Relator: 
Ministro Aldir Passarinho, Data de Julgamento: 22.03.1991, STF Pleno, Data 
de Publicação: 24.05.1991). 
 
PAD. ABSOLVIÇÃO PENAL. Cinge-se a controvérsia à possibilidade de 
condenar servidor público na área administrativa, por infração disciplinar, 
após sua absolvição criminal pela imputação do mesmo fato. O entendimento 
do STJ é que, afastada a responsabilidade criminal do servidor por 
inexistência daquele fato ou de sua autoria, fica arredada também a 
responsabilidade administrativa, exceto se verificada falta disciplinar residual 
sancionável (outra irregularidade que constitua infração administrativa) não 
abarcada pela sentença penal absolutória (Súm. n. 18-STF). No entanto, a 
Turma não conheceu do recurso em face do óbice da Súm. n. 7-STJ. 
Precedentes citados: REsp 1.199.083-SP, DJe 8/9/2010; MS 13.599-DF, 
DJe 28.05.2010, e Rcl 611-DF, DJ 04.02.2002. (BRASIL, Superior Tribunal 
de Justiça. REsp nº 1.012.647-RJ. Relator: Ministro Luiz Fux, julgado em 
23.11.2010). 
 
Também, a absolvição criminal definitiva em razão de o fato não ser típico (ou 
seja, não ser crime) não impede a responsabilização administrativa se o 
mesmo fato for ilícito funcional (chamada falta residual), já que os 
enquadramentos administrativos são mais abrangentes que as restritas 
tipificações penais. 
 
 STF, Enunciado da Súmula nº 18 
 
Em outros termos, ainda que não tenha realizado todos os elementos da 
definição legal do crime, o fato pode ser considerado suficientemente grave 
para a Administração e estar enquadrado nas descrições mais abrangentes da 
Lei nº 8.112/90. 
 
Exceções à Independência das Instâncias 
Embora a princípio se consagre a independência das instâncias, há situações 
que, uma vez comprovadas no rito penal, repercutem necessariamente nas 
outras duas esferas. 
 
Indubitavelmente, a sentença penal definitiva, exarada sob o manto dos rígidos 
princípios do Direito Penal e do processo penal (tais como os princípios da 
reserva legal, da tipicidade, do devido processo legal, da ampla defesa, do 
contraditório, da defesa técnica e da verdade material), apresenta-se, 
tecnicamente, a priori e em tese, como uma decisão mais qualificada e 
criteriosa que aquelas da esfera civil e administrativa. 
 
 
 
Absolvição Criminal por Inexistência do Fato ou Autoria ou por Excludentes de 
Ilicitude 
 
Assim, como exceção à independência das instâncias, à vista do princípio da 
economia processual e buscando evitar decisões contraditórias, tem-se que as 
responsabilizações administrativa e civil,decorrentes de crime, serão afastadas 
pela absolvição criminal em função da definitiva comprovação da inocorrência 
do fato ou da não-autoria. 
 
Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 126. A responsabilidade administrativa do 
servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência 
do fato ou sua autoria. 
 
Embora não expresso na Lei nº 8.112, de 11/12/90, inclui-se também como 
exceção à independência das instâncias a possibilidade de a ação criminal 
comprovar a existência de excludente de ilicitude a favor do servidor (atuação 
ao amparo de estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de 
direito ou cumprimento de dever legal) ou comprovar a sua inimputabilidade. 
Seria incoerente o juízo criminal aceitar que uma afronta a um bem tutelado 
estivesse amparada por excludente de ilicitude e a autoridade administrativa 
não acatasse tal conclusão. 
 
 
 
 Código de Processo Penal - Art. 65 
 
Análoga extensão deve ser aceita se o juízo criminal se manifestar pela 
excludente da culpabilidade, seja em função de coação irresistível, seja em 
função de obediência hierárquica. 
 
Condenação Criminal Definitiva 
Por fim, tem-se que, em primeira leitura, no CPP e na Lei n° 8.112, de 
11/12/90, a condenação criminal definitiva não vincula de forma expressa as 
responsabilizações administrativa e civil se o ato criminoso englobar também 
uma falta disciplinar e dele decorrer prejuízo ao erário ou à vítima. 
 
Mas, uma vez que a esfera penal, com toda sua cautela e rigor na aceitação da 
prova, ainda assim considerou comprovados o fato e a autoria, pode parecer 
incompatível e incoerente que a instância administrativa chegue a um resultado 
diferente. 
 
Além dessa mencionada incoerência, reforça-se a tese da repercussão da 
sentença penal condenatória na sede disciplinar o dispositivo expresso no art. 
935 do CPC, uma vez que tal sentença decide acerca da existência do fato e 
do seu autor. 
 
CPC - Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se 
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o 
seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. 
 
“Quando o funcionário for condenado na esfera criminal, o juízo cível e a 
autoridade administrativa não podem decidir de forma contrária, uma vez 
que, nessa hipótese, houve decisão definitiva quanto ao fato e à autoria, 
aplicando-se o art. 935 do Código Civil de 2002.” Maria Sylvia Zanella Di 
Pietro, “Direito Administrativo”, pg. 592, Editora Atlas, 19ª edição, 2006. 
 
Acrescente-se ainda que o art. 92 do CP permite que o juiz manifeste na 
sentença a perda do cargo. E, na hipótese de que o magistrado não o faça, em 
tese, a repercussão se daria, caso ainda não tivesse sido processada a via 
administrativa (o que não é comum) com o enquadramento no art. 132, I da Lei 
nº 8.112, de 11/12/90. Some-se ainda, que o art. 91 do CP prevê outra 
repercussão: a perda de bens obtidos em razão do crime, em favor da União, a 
ser precedida pela medida cautelar do seqüestro de bens. 
 
 
Note-se, porém, que os efeitos de que trata o art. 92 do CP não são 
automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença, conforme 
dispõe o parágrafo único do mencionado dispositivo do CP em tela, somente se 
efetivando a medida com a decisão penal transitada em julgado. 
 
 
Mas, caso haja condenação com aplicação de pena de privação da liberdade 
por crime que não tenha conexão com a sua função pública, duas hipóteses de 
penalização podem ocorrer: a) se a pena imputada for por tempo inferior a 
quatro anos, o servidor ficará afastado de seu cargo ou função, perdendo o seu 
vencimento, sendo devido a seus familiares o auxílio-reclusão, conforme 
dispõe o art. 229 da Lei nº 8.112/90; b) se a pena for superior a quatro anos, o 
servidor perderá o cargo, a função pública ou o mandato eletivo (art. 92, inciso 
I, alínea 'b', do Código Penal). 
CP - Art. 91 -São efeitos da condenação: 
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro 
de boa-fé: 
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito 
auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. 
 
 
 
 
 
Por fim, é válido atentar que o ato de improbidade administrativa também pode 
dar ensejo à perda da função pública (Lei nº 8.429/92, art. 12, incisos I, II e III) 
e a transação penal, prevista na Lei nº 9.099/95 para os casos de infração 
penal de menor potencial ofensivo, não inibe a apuração administrativa, tendo 
em vista justamente a independência de instâncias. 
 
Unidade 6 - Regra Geral da Independência das Instâncias 
Como regra geral, prevalece a independência das instâncias, de forma que, em 
decorrência de determinado ato cometido no exercício do cargo, pode-se 
configurar a responsabilização administrativa a despeito de não se 
configurarem as outras duas. Ou, por outro lado, configurando-se mais de uma 
responsabilização, as respectivas apurações são realizadas de forma 
independente, na via correspondente e pela autoridade competente para cada 
caso, sem que, a princípio, uma tenha de aguardar a conclusão da outra e 
podendo as penas se cumularem. 
 
 
 
 Lei nº 8.112, de 11/12/90, Art. 125

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