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Aula 9 Contextos de aplicação da mediação

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Aula 9 Contextos de aplicação da mediação
Nesta aula, você aprenderá sobre os contextos de aplicação da mediação e suas várias possibilidades.
Hoje, no Brasil, amplia-se cada vez mais o interesse sobre a mediação de conflitos. Profissionais de diferentes áreas têm buscado informações sobre a atividade e, ao mesmo tempo, a capacitação a fim de exercê-la.
Vamos lá!
Medição familiar
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Os conflitos relacionais e as disputas nas famílias são numerosos e variam quanto ao grau de intensidade e gravidade. Eles são fruto dos diferentes níveis de relações que existem no seio familiar e deveriam ser considerados naturais. No entanto, por estarem ligados à estrutura interna de cada indivíduo, são vivenciados de forma negativa, dificultando, muitas vezes, sua solução através de uma negociação direta.
Em geral, certos conflitos, nesse contexto, acabam gerando a necessidade de buscar um terceiro para ajudar ou decidir a situação em questão.
A mediação familiar tem por objeto a família em crise. Quando seus membros se tornam vulneráveis, o mediador pode oferecer-lhes uma estrutura de apoio profissional, a fim de que lhes seja aberta a possibilidade de desenvolverem, através da mediação, a consciência de seus direitos e deveres, a responsabilidade não só pelo conflito, mas por tudo que será conversado na mediação, inclusive o que irão assumir como compromisso para o futuro.
Através desse trabalho, serão criadas condições para que o conflito seja resolvido com o mínimo de comprometimento da estrutura psicoafetiva de seus integrantes.
No caso da mediação familiar, teremos um momento de diálogo, em que a cooperação e o respeito são fundamentais para que os mediandos busquem a solução, sobretudo, pensando no pressuposto de que todos sairão ganhando com a resolução ou a transformação do conflito.
Não apenas questões de separações de casais com filhos ou sem filhos podem ser resolvidas através da mediação familiar. Ela se mostra um procedimento muito eficaz nos conflitos decorrentes de laços de parentesco, como questões entre irmãos, primos, tios, sobrinhos e demais situações familiares.
A mediação proporciona a possibilidade de criar soluções inovadoras, resgatando os laços de afetividade que existiam antes entre as pessoas.
Não devemos nos esquecer das relações entre pais e filhos.
No caso de adolescentes, o processo de mediação pais-adolescentes, assim como outros tipos de mediação familiar, permite que os membros da família definam seus temas, esclareçam suas necessidades e compreendam as dos outros integrantes. Isso gera alternativas e soluções que se harmonizam com as precisões de todas as partes envolvidas.
Os seguintes princípios podem ser encontrados nesse tipo de mediação:
Participação voluntária e igualitária;
Confidencialidade;
Autoria da resolução com as partes;
Intervenção breve.
Atenção
A mediação familiar pode, também, ser vista como uma técnica eficiente para desobstruir os trabalhos nas Varas de família e nas Varas de Órfãos e Sucessões, influindo decisivamente para que os litígios judiciais tenham uma solução mais fácil, rápida e menos onerosa. Levando, assim, menos desgaste e sofrimento para todos. Não se deve confundir mediação com terapia ou aconselhamento familiar. Não há um diagnóstico de tratamento terapêutico a ser seguido.
Mediação empresarial e organizacional
Em torno dos anos setenta, as empresas norte-americanas começaram a utilizar a mediação como técnica alternativa de resolução de conflitos empresariais, não mais utilizando com tanta frequência os métodos tradicionais legais.
Entre as alternativas de solução de conflitos nessa área, a mediação é a que mais tem se desenvolvido, com notável êxito em sua aplicação.
O aumento da atividade empresarial levou a um incremento de conflitos entre empresários e entre empresas, o que tornou indispensável resolver de maneira efetiva essas situações, permitindo preservar as relações previamente estabelecidas.
Algumas das vantagens que têm feito muitas empresas e escritórios de advocacia nos Estados Unidos, na América Latina e na Europa se interessarem pela mediação são:
A significativa redução dos custos legais;
O tempo;
A possibilidade de resolver questões complexas;
A confidencialidade do processo;
A eliminação de dúvidas.
A intervenção de um terceiro, facilitador do diálogo e da negociação cooperativa entre duas ou mais pessoas jurídicas, busca evitar a perda de tempo com discussões que não levarão a nenhum lugar, pois muitos falam, quase ninguém escuta, podendo a situação perdurar por horas.
Algumas vezes, a solução vem baseada em aspectos apenas econômicos e objetivos, não sendo levados em conta os reais interesses das partes, gerando soluções com graves riscos de não serem cumpridas.
Nesse sentido, a participação do mediador nessas situações é fundamental. Ele fornecerá elementos para a reflexão sobre a relação estabelecida entre as partes visando à construção de um futuro. As partes deverão perceber que o presente e o futuro dependem delas e, dessa forma, a melhor opção é uma relação mais madura e mais pacífica.
O mediador deve tomar cuidado com alguns discursos de empresários ou representantes de empresas que apresentam fortes argumentos de convencimento, mas que encobrem os reais interesses e necessidades dessas empresas ou organizações.
Muitas situações, nesse contexto empresarial, são fruto do descumprimento de cláusulas contratuais. A mediação, por isso, pode ter como resultado a elaboração de um novo contrato, com novas perspectivas entre as partes. Outra grande vantagem da mediação empresarial é o sigilo, pois as partes não querem suas pendências veiculadas publicamente no Judiciário. Nada do que foi discutido ali pode ser usado em eventual demanda judicial.
Na esfera do trabalho, é habitual que se produzam conflitos que dificultam as relações profissionais e afetam o funcionamento das organizações. O mediador deve ter habilidades necessárias para uma adequada gestão do conflito organizacional.
Atenção
Segundo o site da Hewysa Consultoria e Treinamento, a mediação pode ser aplicada em qualquer “organização”, podendo seu uso ser preventivo, como, por exemplo, nos casos de introdução de:
Novos produtos;
Novas políticas administrativas;
Novos funcionários;
Fusão de empresas;
Cisão de empresas;
Participação dos empregados nos resultados ou lucros das organizações;
Negociação de demissões;
Relações intersindicais;
Sucessão e/ou divergências na empresa familiar;
Treinamento de funcionários em técnicas de resolução de conflitos;
Dúvidas oriundas de contratos e acordos;
Situações de crises, antes ou durante os processos ou reclamações trabalhistas;
Desentendimento entre setores, entre gerentes, entre clientes e fornecedores.
Mediação escolar
A escola é um local onde convivem pessoas com diferentes características: religião, valores morais, personalidade e educação. Com tantas diferenças, é natural que surjam divergências das mais variadas espécies. Nesse caso, é fundamental a boa administração de conflitos que venham a surgir, para que sejam mantidos o respeito e a harmonia no ambiente escolar, e para que não haja interferência no processo ensino-aprendizagem.
Assim sendo, a mediação surge para tentar prevenir e solucionar quaisquer conflitos que ocorram na instituição de ensino. A mediação é uma ferramenta que pode levar a uma solução construtiva do conflito frente ao desafio que é conviver todos os dias. Battaglia (2004) argumenta que “a mediação escolar se coloca como um convite à aprendizagem e ao aperfeiçoamento da habilidade de cada um na negociação e na resolução do conflito, baseada no modelo ganha-ganha, onde todas as partes envolvidas na questão saem vitoriosas e são contempladas nas resoluções tomadas”.
O uso da mediação, nesse contexto, pode ser para resolver disputas e controvérsias na escola, entre alunos, docentes, diretores, coordenadores e pais, visando a uma melhor convivência. Um programa de mediação escolar também facilita aredução dos níveis de violência, de ausências e de suspensões, pois os alunos estariam mais disponíveis para conversar entre si e com as autoridades. Há uma mudança de paradigma nesses casos, pois jovens e crianças se responsabilizariam por seus atos e suas opções, não precisando dos adultos para resolverem seus problemas por eles.
A mediação escolar possibilita a educação de valores, a educação para a paz e uma nova visão sobre os conflitos. É um modelo de intervenção que promove a escuta ativa (como vimos na aula 7), a participação colaborativa e o desenvolvimento da criatividade.
Mediação comunitária
Na era da globalização, as mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais têm sido cada vez mais profundas e aceleradas. Há uma transformação permanente da comunidade e das formas de estabelecer a sociabilidade entre os indivíduos de uma cidade, região ou comunidade. Esse convívio gera uma fonte enorme de conflitos que demandam o reconhecimento do outro e o respeito pelas diferenças.
Na mediação comunitária, vamos perceber a criação de espaços de diálogos em que as pessoas, com suas diferenças, vão construir seus lugares na sociedade de forma pacífica, dinâmica e colaborativa. Ela estabelece canais para a intervenção política, institucional e social, permitindo uma reflexão sobre a realidade atual, preservando as características de uma comunidade pluralista, igualitária e integradora.
De acordo com Nató; Querejazu; e Carbajal (2005), a mediação comunitária pode ser utilizada para auxiliar em:
Conflitos na comunidade, como relações entre vizinhos de uma determinada área;
Conflitos entre pessoas em uma determinada região;
Conflitos provenientes de questões culturais como etnia, minorias, imigração e inclusão social
A mediação comunitária tem como objetivo “desenvolver entre a população valores, conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos conducentes ao fortalecimento de uma cultura político-democrática e uma cultura de paz. Busca, ainda, enfatizar a relação entre os valores e as práticas democráticas e a convivência pacífica e contribuir para um melhor entendimento de respeito e tolerância e para um tratamento adequado daqueles problemas que, no âmbito da comunidade, perturbam a paz” (SALLES, 2004, p. 302).
São vários os pontos positivos da Mediação Comunitária a destacar:
O estímulo ao diálogo entre famílias e vizinhos;
O incentivo à participação ativa dos cidadãos na solução de conflitos individuais e coletivos;
A criação de espaços de escuta;
A prevenção à má administração de conflitos futuros;
A ênfase à valorização do coletivo em detrimento do individual, buscando sempre a solução de um problema que satisfaça a todas as partes envolvidas.
Segundo Salles (2004), a mediação é um processo democrático porque estimula a participação ativa das pessoas na solução dos conflitos e a inclusão social, permitindo que elas busquem por elas mesmas a solução de seus problemas. É importante lembrar que a mediação comunitária não está voltada para a população com baixos recursos. Ela é ampla e pode ser utilizada em todas as classes sociais, porque pressupõe a pacificação da sociedade como um todo, e não a paz em uma determinada classe.
Mediação ambiental
A previsão constitucional sobre o Direito Ambiental, em nossa Carta Magna (1988 – VI, Título VIII, Da Ordem Social), estabelece o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, um bem de uso comum e indispensável para a qualidade de vida no presente e para as futuras gerações.
Como se trata de situações que exigem respostas imediatas, quando ocorre algum conflito, a mediação tem se mostrado uma estratégia adequada, porque cria a possibilidade de diálogo entre todos os envolvidos, promovendo a melhora e a conservação de uma relação existente e, também, permitindo a prevenção de futuras disputas. Ao mesmo tempo, constrói uma consciência ecológica nas partes, através dos compromissos assumidos ao longo da mediação.
De acordo com Sampaio e Braga Neto (2007), tem-se notado que as condutas que privilegiam soluções negociadas estão sendo priorizadas. O Ministério Público Federal e Estadual, os órgãos estaduais e municipais ligados ao meio ambiente têm desempenhado um importante papel na primazia do diálogo sobre as questões ambientais, com uma base colaborativa.
O importante é o cumprimento dos compromissos, através da identificação dos interesses reais dos envolvidos, dos limites das normas jurídicas e do uso de estratégias adequadas para preservar o meio ambiente. Os órgãos federais e estaduais, citados anteriormente, contam com o auxílio de mediadores especializados para analisar, junto com as partes, as questões conflituosas.
Uma mediação ambiental trabalhará para a conscientização ecológica de todos os envolvidos, construindo estratégias para o futuro, que devem estar em conformidade com a legislação em vigor, ligadas a um desenvolvimento mais sustentável e coerente, objetivando a preservação dos recursos ambientais naturais.
Mediação judicial
Entre os meios alternativos de soluções de disputas, o papel da mediação de conflitos é inegável. Suas características e seus objetivos, no âmbito do acesso material à justiça, apresenta as seguintes situações:
Na busca pela justiça, os cidadãos merecem dispor de diversas maneiras para demandar seus direitos. Nessa perspectiva, a mediação figura como um meio essencial, já que, de forma simples e rápida, visa à aproximação das partes, esclarecendo-as, para que elas próprias alcancem a justiça que procuram.
Seguindo esse caminho, a mediação apresenta-se como instrumento de transformação do Judiciário, tendo como consequência a paz social, criando uma cultura que, paulatinamente, irá diminuir a demanda de processos judiciais.
No Brasil, já há previsão legal expressa em nosso ordenamento jurídico (Lei 13.140 de junho de 2015 e Lei 13.105 de março de 2015). A Lei 13.140 de junho de 2015 dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Considerando a mediação como uma atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.
É importante lembrar que a mediação tem se desenvolvido bastante na área judicial, no território nacional, e uma das grandes molas propulsoras desse desenvolvimento é a Universidade. Na esfera governamental, foram adotadas normativas direcionadas para a mediação. O Ministério da Educação, através da Secretaria de Ensino Superior, em sua organização didático-pedagógica dos padrões de qualidade dos cursos de Direito, no item 5, letra C II, em junho de 2001, recomendava a mediação enquanto prática a ser adotada e desenvolvida nos Núcleos de Prática Jurídica dos cursos de Direito.
Tal orientação e a inserção da disciplina Mediação nos cursos de Direito representam um grande avanço para o ensino acadêmico, além de proporcionar para os futuros profissionais da área uma prática mais comprometida com uma cultura de negociação, no lugar da cultura do litígio.
Saiba mais
Acreditamos que, quanto à área de mediação judicial, as aulas anteriores foram bastante elucidativas e, por isso, preferimos nos estender aos outros contextos. Recomendamos como uma leitura fundamental o Manual de mediação judicial, que nos acompanhou por várias vezes em nossas aulas
Atividades
Alguns autores, ao tratarem de mediação, conceituam esse processo de resolução de conflitos e buscam esclarecer o papel do profissional enquanto mediador. Leia com atenção as afirmativas abaixo:
I. A mediação familiar tem por objetivo ajudar as partes em controvérsia ou disputa a alcançar a aceitação mútua e a concordância voluntária.
II. A mediação familiar é um processo preventivo que tenta evitar o divórcio através da intervenção firme do mediador, que orienta as partes sobre as consequências jurídicas do divórcio.
III. O mediador éum profissional com capacitação específica, que deve se manter neutro em todo o processo.
IV. A mediação não é uma arbitragem, na medida em que não tem como encargo descobrir e prover soluções para as partes.
Agora, assinale a alternativa correta:
Somente as proposições I, III e IV estão corretas.
Somente a proposição III está correta.
Somente as proposições I e II estão corretas.
Somente as proposições I e III estão corretas.
Somente a proposição I está correta.

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