Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Espiral ou escalada do conflito Nas relações conflituosas, há uma progressiva escalada do conflito, resultante de um círculo vicioso de ação e reação. Cada reação torna-se mais severa do que a ação que a precedeu, e cria uma nova questão ou ponto de disputa. Esse modelo é denominado espiral ou escalada do conflito, e sugere que, com esse crescimento, as causas que deram origem ao conflito, progressivamente, tornam-se secundárias, porque, a partir desse momento, os envolvidos estão mais preocupados em responder a uma ação que imediatamente antecedeu sua reação. Ou seja, as causas originais se tornam secundárias. É importante a compreensão da escalada dos conflitos para que não se agrave a questão e não ocorra o afastamento da real questão que se está discutindo. Vamos a um exemplo: duas crianças pequenas brincam juntas em um parque, sob a supervisão dos pais. Em um dado momento, uma pega o brinquedo da outra, e aquela que ficou sem o brinquedo começa a chorar. Os pais correm para ver o que ocorreu e começam a discutir. Um deles quer que a criança devolva o brinquedo, o outro diz que a criança que está sem o brinquedo já pegou, em outras ocasiões, o brinquedo de seu filho. Começa uma discussão sobre educação de filhos, sobre a própria educação dos pais, suas classes sociais, modo de vestir, aparência das crianças, brinquedos que levam para o parque, local onde moram, até empurrões e xingamentos. Percebemos que o que ocorreu, no caso dos pais, foi uma forma de resolução de conflito destrutiva, como veremos a seguir e, claro, uma vertiginosa escalada do conflito. A questão era o brinquedo das crianças e acabou com xingamentos e empurrões. 2 Citado no Manual de Mediação Judicial (2013), Deutsch (1973) apresenta uma importante classificação sobre os processos de resolução de conflitos. Eles podem ser: construtivos e destrutivos. Os primeiros nos interessam mais, contudo comecemos pelos destrutivos: há uma tendência de o conflito aumentar ou acentuar-se no desenvolvimento da relação. O resultado é que ele se torna, com frequência, independente das causas iniciais que o geraram, assumindo aspectos competitivos, em que uma parte busca vencer ou derrotar a outra parte. Há, também, uma percepção errada de que os interesses das pessoas não podem coexistir. Já vimos essa situação na espiral ou escalada do conflito. As partes, quando em processos destrutivos de resolução de disputas, terminam com o enfraquecimento da relação social preexistente e com um aumento da animosidade, resultado da forma ineficaz de trabalhar o conflito. Isso se estiverem numa relação processual. Os processos construtivos, segundo Deutsch (1973), seriam aqueles em que as partes concluiriam a relação processual com um fortalecimento da relação social que já havia antes da disputa. Isso ocorreria pelo aumento do conhecimento entre elas e pela empatia desenvolvida na resolução do conflito. Para chegarmos a esses resultados construtivos, de acordo com o Manual de Mediação Judicial (2013), citando Deutsch (1973), teríamos um processo com as seguintes características: Capacidade de estimular as partes a desenvolver soluções criativas que permitam a compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos; Capacidade das partes ou do condutor do processo (por exemplo, magistrado ou mediador) a motivar todos os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição de culpa; 3 Desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de eventuais impasses; Disposição das partes ou do condutor do processo para abordar, além das questões juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões. Abordagem de todas as questões que influenciam a relação, e não apenas as questões jurídicas que estejam influenciando a relação (social) das partes. REFERÊNCIAS AZEVEDO, A. G. (org.). Manual de Mediação Judicial 4. ed. Brasília, DF: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, 2013. DEUTSCH, M. The Resolution of Conflict: constructive and destructive processes. New Haven: Yale University Press, 1973.
Compartilhar