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Tipos de Ferramentas na Mediação

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Enfoque prospectivo 
 
É importante que o mediador tenha um enfoque voltado para o futuro. Para isso, ele não deve 
escutar as partes pensando em quem está certo ou errado, mas identificando os reais interesses, 
as questões a serem resolvidas e estimulando as partes a encontrarem soluções dali para frente. 
 
Esse enfoque prospectivo permite que não se estabeleça mais uma situação de culpa entre as 
partes, e sim de busca de soluções que atendam à situação vivenciada. Os relatos passados são 
importantes no início da mediação para que o mediador conheça o conflito. Além disso, podem 
revelar o que funcionou em algum momento e trazê-lo para o futuro. 
 
O mediador deve auxiliar os mediandos a entenderem que o passado não pode ser modificado, 
mas o futuro pode ser construído por eles, de forma diferente. Ao passar o olhar do passado para 
o futuro, os mediandos saem do lugar de queixosos e vítimas para um lugar de esperança e de 
produtividade. Os interesses serão melhor atendidos e entendidos se os participantes falarem 
onde querem chegar, em vez de tratar do passado. 
 
Por exemplo: 
O mediador pode falar para as partes que insistem quanto ao passado: “Entendo que essas 
situações foram muito importantes para vocês. Não podemos mudar o que passou, mas a mediação 
é uma oportunidade de mudar as coisas daqui para frente. Como vocês preferem resolver essa 
situação no futuro?”. 
 
Teste de realidade 
 
Muitas vezes, as pessoas em conflito, por estarem envolvidas emocionalmente na situação, têm 
uma percepção seletiva em razão do estado emocional em que se encontram. O mediador de 
conflitos busca uma nova reflexão dos envolvidos sobre o problema e suas possíveis soluções. É 
uma busca de uma reflexão realista dos mediandos sobre as propostas apresentadas por meio de 
parâmetros objetivos. 
 
 
 
 
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A exemplo da inversão de papéis, essa técnica deve, prioritariamente, ser aplicada em sessão 
privada. A parte deve ser avisada sobre a sua aplicação. 
 
Por exemplo, em uma questão de convivência de um pai, que não tem a guarda, com seus filhos, 
ele afirma que quer vê-los todos os dias. Na mediação, essa afirmação levará a uma reflexão sobre 
a possibilidade real de se conseguir realizar a convivência, com tal frequência, em função do 
horário de trabalho, da escola das crianças, de suas atividades e de outras realidades que muitas 
vezes não são consideradas no momento do conflito. 
 
Mensagem-eu 
 
Através dessa mensagem, o mediador assume a responsabilidade sobre as suas percepções e 
autoria dos discursos. O mediador deve sempre utilizar a primeira pessoa do singular (eu), para 
se referir a alguma percepção. A ideia dessa técnica é entender que as percepções são individuais 
e que cada um deve se responsabilizar pelas leituras que fizerem das situações. Da mesma forma, 
os mediandos devem se responsabilizar por suas falas. 
 
Vejamos alguns exemplos: 
 
 No caso do mediador, “Do que você falou, eu entendi que...”; 
 No caso de mediando e mediador, o mediando afirma: “Esse valor tem de ser pago à vista”. 
E o mediador redefine: “Eu estou entendendo que você quer o pagamento à vista”; 
 Quando a pessoa diz “Você me enganou”, o mediador pergunta: “Você quer dizer que se 
sente enganado?”. 
 
Perguntas 
 
As perguntas são ferramentas fundamentais e constantes na mediação. É a partir delas que 
aparecerão as informações, reflexões, ideias e decisões sobre o problema que está sendo 
mediado. Os mediadores transformam hipóteses, sugestões e afirmações em perguntas. Marinés 
Suares (2008), conhecida mediadora argentina, afirma que as perguntas podem ser 
possibilitadoras de mudanças e de novas perspectivas sobre o futuro para os mediandos. 
 
 
 
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O mediador deve formular suas perguntas de forma cuidadosa e criteriosa, a partir de uma 
finalidade que sirva ao trabalho na mediação. São várias as formas de classificar as perguntas, 
veja abaixo uma dessas possibilidades: 
 
 Perguntas abertas – são aquelas que permitem uma resposta ampla, maior exploração e 
coleta de informações. Por exemplo: “O que o leva a pensar dessa forma?”; 
 Perguntas fechadas – pretendem respostas do tipo “sim” e “não”. São utilizadas para 
confirmar ou complementar uma informação. Por exemplo, o mediador pode perguntar a 
um dos mediandos: “Você pretende vender o seu carro?”; 
 Perguntas circulares – geram reflexões sobre a influência dos mediandos na construção do 
conflito e na sua solução. São perguntas que criam ações interdependentes e, também, o 
reconhecimento do protagonismo das partes. Por exemplo, um mediador poderia perguntar 
para cada uma das partes: “O que você pode fazer para que ele concorde com a sua 
proposta?”; 
 Perguntas reflexivas – fazem com que os mediandos reflitam sobre as suas próprias 
percepções, necessidades, possibilidades, crenças, criando um novo olhar e novos caminhos 
para a situação. Por exemplo: “Como você se sente a esse respeito?”; 
 Perguntas autoimplicativas – referem-se à identificação do mediando em relação a sua 
contribuição para o conflito. Por exemplo: “Há algo que você pudesse ter feito diferente 
para que esse fato não ocorresse?”; 
 Perguntas hipotéticas – são perguntas que levam os mediandos a uma situação diferente da 
que estão vivenciando. Eles podem pensar sobre possibilidades, com um certo 
distanciamento da situação real. As questões podem ser formuladas de modo que as partes 
possam refletir sobre os custos e os benefícios de suas opções. Por exemplo: o mediador 
pode perguntar para um dos membros de um casal em fase de separação: “Supondo que a 
casa seja vendida, onde você poderia residir?”; 
 Perguntas desagregadoras – servem para tornar claro um significado de uma palavra, uma 
expressão ou fala que poderia ser interpretada de várias formas. O esclarecimento será 
importante para o mediador e para as partes. Por exemplo: um mediador, ao escutar uma 
parte falar: “Ele sempre atrasa o pagamento”, pode perguntar: “Quando ele atrasou o 
pagamento?”. Outra situação poderia ser: uma parte falar com o mediador “Ninguém me 
respeita”. E ele poderia perguntar: “O que você considera falta de respeito?”. 
 
 
 
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Resumo 
 
Os resumos são importantes ferramentas na mediação e são usados em vários momentos. É através 
deles que o mediador vai situando os mediandos quanto à mediação ou sintetizado as suas falas. 
 
Os resumos podem ser chamados de procedimentais quando dão aos mediandos uma noção do 
andamento da mediação, possibilitando a continuidade de um ambiente colaborativo, 
principalmente no intervalo entre uma sessão e outra. 
 
Esse tipo de resumo também pode ser usado no final de uma reunião, para esclarecer o que 
ocorreu e explicar, brevemente, sobre a etapa seguinte. Essa técnica visa levar transparência à 
mediação, gerando uma sensação de tranquilidade e segurança para os mediandos, que estão, 
com frequência, conscientes do que está ocorrendo. 
 
Temos, também, os resumos de conteúdos que são utilizados ao final da fala de um mediando, 
ou de um diálogo entre as partes e sempre que o mediador achar necessário. É importante lembrar 
que a conotação positiva deve sempre ser utilizada. 
 
Esse resumo organiza os discursos dos mediandos, gerando uma linha de raciocínio que irá ajudar 
no trabalho da mediação. O mediador, ao aplicar a técnica, deve usar a mensagem-eu (que já 
vimos anteriormente) e se aproximar da linguagem das partes, reutilizando suas palavras e 
expressões, para que os mediandos se reconheçam no resumo. 
 
Dessa forma, não querendo esgotar o tema das ferramentas, gostaríamos de lembrar que, na 
mediação, como em qualquer outro campode atuação, a escolha e o uso das ferramentas são 
estratégias fundamentais para o êxito em qualquer profissão. Para reunir as ferramentas, é 
preciso habilidade para eleger aquela que melhor se insere numa determinada intervenção. Além 
disso, após a seleção, é preciso saber utilizá-la de forma adequada. 
 
Encontramos autores, como Tania Almeida (2014), que dividem, de forma didática, as ferramentas 
em: ferramentas procedimentais, ferramentas de comunicação e ferramentas de negociação. Não 
deixe de ler o artigo dessa autora. 
 
 
 
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Referências 
 
ALMEIDA, T. Caixa de ferramentas em mediação. Aportes práticos e teóricos. São Paulo: Dasch, 
2014. 
 
SUARES, M. Mediación. Conduccion de disputas, comunicación y técnicas. Buenos Aires: Paidós, 
2008.

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