Buscar

Eutansia sob a tica do fim do sofrimento humano de forma digna Marco Angelo (1)

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
MARCO ANGELO SOTO VIANNA 
 
 
 
 
 
EUTANÁSIA SOB A ÓTICA DO FIM DO SOFRIMENTO DO SER HUMANO DE 
FORMA DIGNA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA 
2016 
MARCO ANGELO SOTO VIANNA 
 
 
 
 
 
EUTANÁSIA SOB A ÓTICA DO FIM DO SOFRIMENTO DO SER HUMANO DE 
FORMA DIGNA 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-
requisito para conclusão do Curso de Ba-
charelado em Direito da Universidade Fe-
deral de Roraima. 
Orientador: Prof. MsC. José Edival Vale 
Braga 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) 
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
V614e Vianna, Marco Angelo Soto. 
Eutanásia sob a ótica do fim do sofrimento do ser humano de forma 
/ Marco Angelo Soto Vianna. – Boa Vista, 2016. digna 
100 f. 
 
Orientador: Profº. Me. José Edival Vale Braga. 
 
Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima, Curso 
de Bacharel em Direito. 
 
1 – Eutanásia. 2 – Dignidade da pessoa humana. 3 – legalização. 4 – 
Direito à liberdade. 5 – Autonomia de vontade. I – Título. II – Braga, 
José Edival Braga (orientador). 
 
CDU – 342.71 
MARCO ANGELO SOTO VIANNA 
 
 
 
 
 
EUTANÁSIA SOB A ÓTICA DO FIM DO SOFRIMENTO DO SER HUMANO DE 
FORMA DIGNA 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-
requisito para conclusão do Curso de Ba-
charelado em Direito da Universidade Fe-
deral de Roraima. Defendida em 14 de fe-
vereiro de 2017 e avaliada pela seguinte 
banca examinadora: 
 
 
__________________________________________ 
Prof. MsC. José Edival Vale Braga 
Orientador/ Curso de Direito da UFRR 
 
__________________________________________ 
Prof. MsC. Mauro José do Nascimento Campello 
Curso de Direito da UFRR 
 
 
__________________________________________ 
Prof.ª. MsC. Lívia Dutra Barreto 
Curso de Direito da UFRR 
 
 
 
BOA VISTA 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe, Leonilda, e meu pai, Samuel, 
por todo o carinho, educação, confiança e 
apoio que me proporcionaram. Muito obri-
gado por tudo, jamais chegaria até aqui sem 
vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Nossas conquistas e momentos especiais sempre são compartilhados com todos a-
queles que nos rodeiam e fazem parte de nossa formação como pessoa. Assim, uso este espa-
ço para agradecer a todos. 
À minha mãe, Leonilda, e meu pai, Samuel, por todo amor, carinho, atenção, confi-
ança e suporte que me proporcionam desde o meu nascimento. 
À minha avó e madrinha, Maria, à minha irmã, Karina, ao meu irmão, Victor, avô, 
tios, tias, primos, primas e amigos por fazerem parte da minha vida e me fornecerem suporte 
quando necessário. 
Ratifico minha gratidão especial ao Msc. Edival Braga, que veio a ser o orientador de 
minha monografia e sempre ajudou com sugestões e ensinamentos durante os anos de curso. 
Por fim, agradeço a todos os membros do corpo docente do Curso de Direito da U-
FRR, pelo apoio recebido durante minha formação acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
A eutanásia sempre foi um assunto complicado de se abordar em qualquer tempo e lugar do 
globo. Afinal, a vida humana é um dos assuntos mais controversos de todo o mundo jurídico e 
o tema apresenta interdisciplinaridade marcante. É da natureza do homem tentar postergar ao 
máximo sua morte, entretanto, em alguns casos o ser humano roga para que lhe abreviem a 
vida diante de tanto sofrimento físico-psicológico. Nesse contexto, a eutanásia se inclui no 
mundo jurídico e causa imensa polêmica, sendo sua legalização um tema controverso. Ques-
tões como dor, sofrimento, dignidade e o embate entre os direitos fundamentais à vida e à 
liberdade concentram-se no núcleo desta discussão. Assim, levando em consideração que a 
dignidade humana é o valor fundante do ordenamento jurídico brasileiro, através do sopesa-
mento entre os direitos à vida e à liberdade, mostra-se possível uma pessoa requerer a eutaná-
sia como forma de encerrar o sofrimento e partir de forma digna. 
 
Palavras chaves: eutanásia, dignidade da pessoa humana, legalização, direito à vida, direito à 
liberdade, autonomia de vontade, sofrimento. 
 
 
ABSTRACT 
Euthanasia has always been a complicate issue to address at any time and place in the world. 
After all, the human life is one of the most controversial issues in the legal world and the 
theme presents striking interdisciplinarity. It is the nature of man to try to postpone his death 
to the maximum, however, in some cases the human being begs to abbreviate his life in the 
face of so much physical-psychological suffering. In this context, euthanasia is included in the 
legal world and causes immense polemic, the legalization is a controversial subject. Issues 
such as pain, suffering, dignity and the clash between the fundamental rights to life and free-
dom are concentrated in the core of this discussion. Thus, taking into consideration that hu-
man dignity is the value that underlies the brazilian legal system, through the weighting be-
tween the rights to life and freedom, it is possible that a person requires euthanasia as a way to 
end the suffering and departing in a dignified manner. 
 
Key words: euthanasia, dignity of the human person, legalization, right to life, right to free-
dom, autonomy of will, suffering. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
CC – Código Civil; 
CF – Constituição Federal; 
CP – Código Penal; 
PL – Projeto de Lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 
CAPÍTULO 1: EUTANÁSIA E SEUS PRINCIPAIS ASPECTOS ................................... 12 
1.1 – EUTANÁSIA .......................................................................................................... 12 
1.1.1 Conceito ................................................................................................................... 12 
1.1.2 – Aspectos Históricos da Eutanásia ......................................................................... 14 
1.1.3 – Classificações Dadas Pela Doutrina ...................................................................... 16 
1.1.3.1 – Quanto à forma: Ativa ou Passiva .................................................................. 16 
1.1.3.2 – Quanto à Vontade ........................................................................................... 18 
1.1.4 – Ortotanásia, Distanásia e Suicídio Assistido ......................................................... 20 
1.1.4.1 – Ortotanásia ...................................................................................................... 20 
1.1.4.2 – Distanásia ....................................................................................................... 22 
1.1.4.2 – Suicídio Assistido ........................................................................................... 23 
1.1.5 – Paciente Terminal e Morte ....................................................................................24 
1.1.5.1 – Paciente Terminal ........................................................................................... 24 
1.1.5.2 – Morte .............................................................................................................. 24 
CAPÍTULO 2: DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................................. 26 
2.1– ASPECTOS GERAIS SOBRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................... 26 
2.1.1 – Origem dos Direitos Fundamentais ....................................................................... 26 
2.1.2 – Caráter Relativo dos Direitos Fundamentais ......................................................... 27 
2.2 – DIREITO À VIDA ....................................................................................................... 29 
2.2.1 – Noções Gerais do Direito à Vida........................................................................... 29 
2.2.2 – Histórico do Direito à Vida ................................................................................... 31 
2.3 – DIREITO À LIBERDADE .......................................................................................... 32 
2.3.1 – Aspectos Gerais do Direito à Liberdade ............................................................... 33 
2.4 – DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ..................................................................... 34 
2.4.1 – Conceito ................................................................................................................ 35 
2.4.2 – Histórico ................................................................................................................ 35 
2.4.3 – Aspectos Jurídicos ................................................................................................. 36 
CAPÍTULO 3: EUTANÁSIA NO DIREITO COMPARADO ........................................... 39 
3.1 – ANÁLISE DA EUTANÁSIA NO DIREITO COMPARADO ................................... 39 
3.1.1 – Holanda ................................................................................................................. 39 
3.1.2 – Bélgica ................................................................................................................... 42 
3.1.3 – Alemanha .............................................................................................................. 43 
3.1.4 – Uruguai .................................................................................................................. 45 
3.1.5 – Colômbia ............................................................................................................... 45 
3.1.6 – França .................................................................................................................... 47 
3.1.6 – Inglaterra ............................................................................................................... 49 
3.1.6 – Estados Unidos ...................................................................................................... 50 
3.1.7 – Demais Ordenamentos .......................................................................................... 52 
CAPÍTULO 4: LEGALIZAÇÃO DA EUTANÁSIA – ASPECTOS JURÍDICOS E 
CONSTITUCIONAIS ............................................................................................................ 54 
4.1 – EUTANÁSIA NO BRASIL ......................................................................................... 54 
4.1.1 – Tratamento Atual da Eutanásia no Direito Brasileiro ........................................... 54 
4.1.2 – Projeto De Lei 236/2012 ....................................................................................... 57 
4.2 – NÚCLEO DA DIVERGÊNCIA EM RELAÇÃO À EUTANÁSIA: ASPECTOS 
CONSTITUCIONAIS .......................................................................................................... 59 
4.2.1 – A Disponibilidade e o Caráter Relativo do Direito à Vida ................................... 60 
4.2.2 – Princípio da Proporcionalidade ............................................................................. 65 
4.2.3 – Dignidade da Pessoa Humana como Núcleo do Ordenamento Jurídico Brasileiro
 ........................................................................................................................................... 66 
4.3 – ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRÁRIOS À EUTANÁSIA ............................. 71 
4.3.1 – Vida: Sacralidade ou Disponibilidade ................................................................... 71 
4.3.2 – Evolução da Medicina e a Incurabilidade do Paciente .......................................... 73 
4.3.3 – Legalização da Eutanásia e Sua Consequência ..................................................... 75 
4.4 – REQUISITOS PARA A AUTORIZAÇÃO DA PRÁTICA DA EUTANÁSIA ......... 76 
4.5 – TESTAMENTO VITAL .............................................................................................. 77 
CAPÍTULO 5: OPINIÃO MÉDICA – PESQUISA DE CAMPO ...................................... 81 
5.1 – EUTANÁSIA NA VISÃO DOS MÉDICOS ............................................................... 81 
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 84 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 88 
ANEXOS ................................................................................................................................. 98 
APÊNDICES ........................................................................................................................... 99 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
A abordagem de temas que possuem relação direta com a vida e a morte é sempre 
complicada, pois, em regra, tais assuntos trazem uma gama enorme de fatores atrelados à dis-
cussão e se relacionam com diferentes áreas científicas. A eutanásia, por seu ponto, não foge à 
regra, pelo contrário, se caracteriza pela interdisciplinaridade em seu entorno, possuindo rela-
ção estreita com o direito, medicina, psicologia, ética e religião. 
Por toda esta interdisciplinaridade, a eutanásia é um dos temas mais delicados, com-
plexos e controversos a ser debatido no direito, não só no Brasil como em todo o mundo. Em 
todos os países do globo, a eutanásia se caracteriza por apresentar correntes em favor ou con-
trárias a sua legalização, com posicionamentos em total antagonismo entre si, de modo que 
sua pacificação se mostra impossível de acontecer. 
A divergência de posicionamento gerada por tal instituto não se restringe apenas ao 
campo doutrinário, abrange, também, as determinações legais adotadas por cada ordenamento 
jurídico no mundo. Assim, na maioria dos países do globo a eutanásia não é legalizada, sendo, 
inclusive, considerada como crime, no entanto, corroborando para a controvérsia, há nações 
em que a eutanásia é considerada prática legal, como, por exemplo, na Holanda, Bélgica e 
Colômbia. 
Quando se analisado a fundo o tema observa-se o porquê de tamanho antagonismo 
entre defensores e opositores do instituto. A eutanásia apresenta o choque entre direitos fun-
damentais e, neste ponto, nasce toda a controvérsia entre aqueles que acham o direito à vida 
de caráter indisponível e outros que consideram que tal bem deve ser relativizado, quando em 
conflito com a liberdade, na forma de autonomia de vontade do ser humano. 
No Brasil, país de marcante influência católica, a eutanásia não possui qualquer regu-
lamentação específica, embora a doutrina majoritária e jurisprudência entendam que a prática 
de tal conduta se configura homicídio qualificado. É certo que a Constituição Federal de 1988 
trouxe de forma expressa a vida e aliberdade como direitos fundamentais, no entanto, para se 
discutir a possibilidade ou não da legalidade da eutanásia há de se analisar a hipótese em que 
estes direitos entram em conflito. 
Neste diapasão, é certo que não há no ordenamento jurídico brasileiro nenhum direito 
fundamental que possa vir a ser considerado absoluto, estes próprios se caracterizam por não 
estabelecer grau de hierarquia entre estes e apresentam o caráter relativo, como uma de suas 
particularidades gerais. Assim sendo, quando da ocorrência de conflito envolvendo direitos 
fundamentais, o constitucionalismo moderno vem utilizando o princípio da proporcionalidade 
10 
 
como forma de sopesar o caso concreto no qual exista tal celeuma, cuidando para que não 
haja desaparecimento total de um direito perante outro. 
Além da referida colisão entre direitos fundamentais e a supracitada técnica de pon-
deração entre tais direitos, é fundamental ressaltar a existência de outro importante compo-
nente nesta discussão, talvez o que venha a ter maior relevância nesta celeuma: a dignidade da 
pessoa humana. Tal princípio se destaca como sendo a base do direito brasileiro e o valor fun-
dante do ordenamento jurídico pátrio, se situando no núcleo dos direitos fundamentais, isto é, 
estes devem extrair sua legitimidade da dignidade da pessoa humana, não podendo contrariar 
tal valor. 
Desta forma, o debate jurídico a cerca da legalização da eutanásia no ordenamento 
jurídico brasileiro parece bastante válido, de modo que da ponderação do confronto envolven-
do os direitos à vida e à liberdade, em consonância com a dignidade da pessoa humana, nas-
cem inúmeras interrogações a serem respondidas pela análise constitucional dos aspectos que 
rodeiam este polêmico instituto jurídico. 
Ademais, ressaltando a importância de se debater o tema, é nítido que a eutanásia 
muitas vezes é incompreendida pela população em geral, vira alvo de uma série de tabus e, 
sucessivamente, acaba obtendo grande repercussão em toda sociedade, gerando discussões 
jurídicas, médicas, éticas, morais e religiosas. Tais questionamentos sempre atingem intensa 
controvérsia, principalmente quando do aparecimento de algum episódio em que um paciente 
clama por sua morte ou há proposta que regulamenta o instituto no ordenamento jurídico pá-
trio. Como exemplos da repercussão sobre o instituto em terras tupiniquins, pode-se citar a 
recente proposta de edição de um novo Código Penal, o Projeto de Lei n°236/2012, e a edição 
da Resolução nº 1805/2006, pelo Conselho Federal de Medicina, que autorizou a utilização da 
ortotanásia pelos médicos brasileiros, mas que gerou grande polêmica por ser confundida com 
a eutanásia e acabou sendo alvo de ação judicial. 
Diante de todo o exposto, o presente trabalho visa, primordialmente, analisar os as-
pectos constitucionais que rodeiam a eutanásia, entre eles o embate entre direitos fundamen-
tais, de modo a buscar uma resposta quanto à constitucionalidade ou não de uma possível le-
galização do instituto supracitado. Além disso, objetiva abordar o instituto em ordenamentos 
alienígenas, de modo a aprofundar melhor o tema e de se ter base de comparação através da 
experiência de países que consideram a prática da “boa morte” legal; e, por fim, abordar a 
possibilidade ou não da eutanásia vir a ser pleiteada por meio de testamento vital. 
Para atingir tais objetivos, a pesquisa é divida em cinco partes. A primeira se caracte-
riza como uma parte conceitual do trabalho, nesta seção o tema eutanásia será analisado de 
11 
 
forma mais ampla, destacando-se seu histórico, classificações quanto à forma e a vontade e 
sua distinção para com institutos que possuem relações estreitas com a eutanásia, como a orto-
tanásia, suicídio assistido e a distanásia. Outrossim, tópicos relacionados a pacientes terminais 
e a morte fazem parte deste capítulo de cunho conceitual para o melhor entendimento do as-
sunto central da pesquisa. 
Já o segundo, aborda os direitos fundamentais com um todo e algumas de suas espé-
cies que são vitais para o trabalho: como os direitos à vida e a liberdade, além de ser analisada 
a dignidade da pessoa humana. Nessa linha, são apresentados aspectos conceituais, históricos 
e jurídicos destes três pontos importantíssimos para se entender melhor a controvérsia relaci-
onada à legalização da eutanásia. 
O terceiro capítulo, por seu turno, apresenta um exame do instituto em ordenamentos 
jurídicos estrangeiros, destacando o tratamento que a eutanásia recebe em países que a consi-
deram uma prática legal, como Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Canadá e Colômbia, e a sua 
recepção em nações em que o instituto é considerado ilegal. Assim, a análise ao direito com-
parado mostra-se de vital importância para melhor se entender o instituto em apreço, princi-
palmente para observar o seu emprego em ordenamentos jurídicos que o consideram legal. 
Em seguida, a quarta parte se caracteriza como a principal seção deste estudo. Nesta, 
será apresentado um panorama atual do instituto tema do trabalho no ordenamento jurídico 
brasileiro. Ainda, como ponto primordial do capítulo e da pesquisa, os aspectos constitucio-
nais que se encontram no núcleo da problemática envolvendo a eutanásia são analisados de 
forma mais aprofundada, observando que a legalização de tal instituto se mostra em conso-
nância com a ordem constitucional pátria. Ademais, questões como: argumentos a favor e 
contrários à eutanásia; requisitos a serem preenchidos pelo paciente a fim de requerer a ante-
cipação da sua morte; e a possibilidade de o testamento vital vir a ser utilizado como forma de 
se garantir o direito à “boa morte” em enfermos que não mais possuem condições de declarar 
sua vontade; também são aduzidas nesta importante seção. 
Por fim, a última parte vem a encerrar o trabalho, nesta serão tratados os resultados 
obtidos na pesquisa de campo, realizada na forma de questionário com médicos das mais di-
versas áreas sobre a legalização da eutanásia. Com isso, busca-se saber também a opinião de 
profissionais, os quais estão diretamente ligados com o instituto jurídico, e reforçar o caráter 
interdisciplinar da temática pesquisada. 
 
 
12 
 
CAPÍTULO 1: EUTANÁSIA E SEUS PRINCIPAIS ASPECTOS 
 
A gigantesca controvérsia em torno da legalização da eutanásia é composta por inú-
meros fatores jurídico-constitucionais. No obstante, antes de se adentrar em tais aspectos, se 
faz necessário uma análise de conceitos, classificações, distinções e características sobre o 
instituto. 
Sendo assim, o primeiro capítulo desta pesquisa terá como enfoque o destaque de as-
pectos gerais sobre a eutanásia. 
 
1.1 – EUTANÁSIA 
 
1.1.1 Conceito 
 
O real significado do que seria eutanásia advém de tradução literal da junção de duas 
palavras gregas, “eu” e “thanatos”. A primeira expressão significa “boa” enquanto a última 
tem como significado o termo “morte”, motivo pelo qual este instituto também é chamado de 
“boa morte”. 
Ocorre que, o seu verdadeiro significado é muito mais complexo que uma simples 
tradução literal de outro idioma. O conceito deste controverso instituto vem sofrendo inúme-
ras modificações conforme o transcorrer do tempo, inclusive sendo empregado de modo dife-
rente do sentido que hoje se tem conhecimento, para se relatar a prática da eutanásia em perí-
odos anteriores à criação do próprio termo que, ao ser mencionado, causa alvoroço em toda a 
sociedade. 
O conceito de eutanásia, em que pese ter sentidos não tão distintos, não encontra to-
tal consenso entre a doutrina especializada. Apresentando definição sobre o instituto, Maria 
de Sá (2015, p. 86) ensina: 
 
É a conduta, através da ação ou omissão do médico,que emprega, ou omite, com 
consentimento da pessoa, meio eficiente para produzir a morte em paciente incurá-
vel e em estado de grave sofrimento, diferente do curso natural, abreviando-lhe a vi-
da (grifo nosso). 
 
Em sentido parecido, Pimentel (2012, p. 24) disserta: “Neste diapasão, eutanásia, pa-
ra os fins do presente trabalho é a provocação de morte piedosa, por ação ou inação de tercei-
ro, de que se determine encurtamento da vida, em caso de doença incurável que acometa paci-
ente terminal a padecer de profundo sofrimento”. 
13 
 
Assim, de modo geral, eutanásia pode ser entendida como o instituto jurídico que 
permite a pessoa, de acordo com sua autonomia de vontade, ter sua própria morte antecipada, 
mediante ação ou omissão médica, desde que seja paciente incurável ou apresente grave lesão 
irreversível ou já se encontrando em estado terminal, e esteja acometido de insuportável so-
frimento físico e/ou psicológico. 
Entretanto, um ponto de divergência entre alguns doutrinadores encontra-se quanto 
ao agente a realizar o procedimento da eutanásia. Nessa linha, uma corrente limita tal ativida-
de ao profissional de saúde médica enquanto outra opta por não limitar o agente. 
Com efeito, a corrente que defende limitar apenas ao médico a condição de agente 
que deve antecipar a morte do paciente incurável tem como objetivo a procura por resguardar 
ao máximo a dignidade da pessoa e lhe proporcionar uma morte digna. A maioria dos doutri-
nadores vem optando por conceituar a eutanásia neste sentido, entre eles destaca-se o profes-
sor Roberto Dias que pondera (2012, p. 148): 
 
Assim, eutanásia deve ser entendida como o comportamento médico que antecipa 
ou não adia a morte de uma pessoa, por motivos humanitários, mediante requeri-
mento expresso ou por vontade presumida – mas sempre em atenção aos interesses 
fundamentais – daquele que sofre uma enfermidade terminal incurável, lesão ou in-
validez irreversível, que lhe cause sofrimentos insuportáveis, do ponto de vista físico 
ou moral, considerando sua própria noção de dignidade (grifo nosso). 
 
No mesmo sentido de limitar a procedimento de aplicação da eutanásia ao médico, 
pode-se citar a lição da ilustre professora Maria de Sá (2015, p. 85) ao falar sobre o conceito 
deste instituto: 
 
Nos dias atuais, a nomenclatura eutanásia vem sendo utilizada como ação médica 
que tem por finalidade abreviar a vida de pessoas. É a morte de pessoa – que se en-
contra em grave sofrimento decorrente de doença, sem perspectiva de melhora – 
produzida por médico, com o consentimento daquela. (grifo nosso). 
 
Por outro lado, em sentido de não se limitar a eutanásia a atividade médica, de modo 
a abranger uma gama maior de procedimentos que vise a antecipar a morte de uma pessoa por 
motivos humanos, como a abreviação do sofrimento, encontramos uma segunda corrente em 
relação à conceituação da eutanásia. Neste sentido, Vieira (2009, p. 103) discorre: 
 
O conceito de eutanásia que se adota neste trabalho não se restringe aos atos de 
caráter médico, entendendo-se eutanásia como a conduta que, ativa ou passivamen-
te, mas sempre de forma intencional, abrevia a vida de um paciente, com o objetivo 
de por fim ao seu sofrimento (grifo nosso). 
 
O teólogo Lepargneur (1999, p. 43. apud VIEIRA, 2009, p. 103) também segue o en-
tendimento de que não se pode limitar o agente que pratica a eutanásia, definindo o instituto 
14 
 
como uma espécie de uso ou omissão de procedimento que venha a antecipar a morte de paci-
ente incurável, tendo como intuito por fim aos insuportáveis sofrimentos que o acometem. 
Conforme visto na apresentação dos dois conceitos, a distinção entre as correntes não 
se mostra gritante, basicamente a única diferença encontra-se no agente que antecipa a morte 
da pessoa doente com enfermidade incurável, uma vez que a essência do que seria a eutanásia 
é a mesma nas duas concepções. 
Não obstante, nota-se que na maior parte das vezes a eutanásia é relacionada com a 
parte médica e em função disso parece prosperar, e com razão, a primeira corrente ao limitar o 
médico como o agente que propiciará a “boa morte” à pessoa enferma. Desta forma, se garan-
te ao fato a ser realizado um grau maior de segurança médico-jurídica, pois cabe ao médico o 
diagnóstico da doença e observação do estágio que determinada enfermidade se encontra, e, 
ao limitá-lo como agente, assegura-se que através da eutanásia terá fim o sofrimento do paci-
ente de forma digna e indolor, pois é este o agente gabaritado e possuidor das técnicas e re-
cursos necessários para tal. 
Obviamente que quando a primeira corrente ganha destaque nesta pesquisa não se 
quer dizer que a segunda esteja totalmente equivocada, não é isso. O que se defende é que, em 
regra, a prática da eutanásia deva ser de competência do médico, mas em casos excepcionais o 
agente poderia vir a ser outra pessoa que não o profissional da área médica, sempre destacan-
do o caráter ainda mais extraordinário da situação, como uma situação de guerra, desastre da 
natureza ou casos similares. 
 
1.1.2 – Aspectos Históricos da Eutanásia 
 
A origem do termo eutanásia remonta ao século XVII, quando o filósofo inglês Fran-
cis Bacon o utilizou pela primeira vez. Entretanto, muitos são os doutrinadores que destacam 
a prática da eutanásia em períodos bem anteriores ao da criação desta expressão. 
Os exemplos apresentados pela doutrina são inúmeros, mas quase sempre não cor-
respondem com o real significado dado ao instituto nos dias de hoje ou mesmo pela própria 
tradução da palavra grega já apresentada no tópico acima, como se pode observar nas lições 
de Vieira (2009, p. 114): 
 
Porém, diversos doutrinadores apresentam registros históricos da prática da eu-
tanásia em épocas muito anteriores à criação do termo, ou à atribuição do sen-
tido que se lhe confere, alguns dos quais, no entanto não se compadecem com a 
concepção de eutanásia ora adotada,eis que não se destinam a pôr fim ao sofri-
15 
 
mento de um doente, mas, sim, a realizar determinados fins político-sociais, como, 
em algumas épocas, a eliminação daqueles que não se mostravam capazes de traba-
lhar nem de defender seu povo na guerra (grifo nosso). 
 
Os antecedentes históricos da eutanásia devem ser analisados com extremo cuidado, 
uma vez que a utilização de uma variada gama de exemplos deturpados certamente pode vir a 
produzir uma ideia tendenciosa, de modo a se associar à corrente contrária à eutanásia. O des-
taque de Vieira (2009, p. 114): “os espartanos jogavam os recém-nascidos deformados e os 
anciãos do alto do monte Taijeto, por não terem condições de defenderem Esparta”, é um dos 
exemplos que podem vir a atribuir sentido negativo à prática da eutanásia. 
Outro exemplo aterrorizante que tende a causar entendimento deturpado sobre a eu-
tanásia se dá quando erroneamente se adota o termo para designar práticas genocidas feitas 
pelos nazistas durante seu período de governo na Alemanha. Neste sentido, Singer (2006, p. 
225, apud DIAS, 2012, p. 145) explica: 
 
Os nazistas não tinham um programa de eutanásia no sentido específico do 
termo. O seu chamado “programa de eutanásia” não era motivado pela preo-
cupação com o sofrimento dos que eram mortos. Se assim fosse, por que os nazis-
tas teriam mantido as suas operações em segredo, enganado os parentes quanto à 
causa da morte das pessoas eliminadas e isentado do programa algumas classes pri-
vilegiadas, como veteranos das forças armadas ou parentes de membros das equipes 
que praticavam a eutanásia? A “eutanásia” nazista nunca foi voluntária e, na maior 
parte dos casos, era involuntária, nem mesmo não voluntária (grifo nosso). 
 
Estes exemplos errôneosde “eutanásia”, atribuídos por muitos doutrinadores, faz 
com que o assunto em estudo seja mal visto por parte da sociedade, por isso a necessidade de 
cuidado para a análise dos antecedentes históricos deste instituto. Feita esta pequena pondera-
ção a determinadas lições empregadas de forma equivocada, é necessário ir adiante quanto 
aos antecedentes históricos do tema pesquisado. 
Ora, uma das experiências que se mostra próxima ao entendimento atual sobre a eu-
tanásia se dá na idade média, quando os guerreiros utilizavam um punhal para antecipar a 
morte de outro combatente ferido em batalha e com isso impedir que o mesmo agonizasse até 
o fim da vida. Neste sentido, Sá (2015, p. 85) exemplifica: “Na Idade Média, dava-se aos 
guerreiros feridos um punhal afiadíssimo, denominado misericórdia, que lhes servia para evi-
tar o sofrimento prolongado da morte...”. Outro caso a ser destacado se deu na Índia antiga, 
quando se eram jogados ao Ganges os incuráveis de doença. 
Ao que pese estes antecedentes históricos, a eutanásia ganha um pouco mais de pro-
moção a partir da criação do termo pelo filósofo inglês Francis Bacon (século XVII), embora 
a discussão viesse a se intensificar ainda mais no decorrer do século XX. 
16 
 
Há relatos de propostas envolvendo a legalização da eutanásia no inicio do século 
XX, especificamente no estado de Ohio, Estados Unidos, entretanto a proposta não veio a ser 
aceita. Assim, coube ao Uruguai se tornar o primeiro país do mundo a tolerar a eutanásia em 
seu sistema jurídico, através do artigo 37 do Código Penal Uruguaio. Neste sentido, Vieira 
(2009, p. 118) explica: “Em 1934, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a abrir a 
possibilidade de descriminalização da eutanásia, liberando da ameaça de prisão o autor de 
‘homicídio piedoso’”. 
Outro marco importante do debate envolvendo a eutanásia ocorreu em 1935, quando, 
na Inglaterra, foi criada a EXIT, associação que tinha como objetivo a luta pela reivindicação 
do direito à morte com dignidade. Tal associação se espalhou para diversos países e sempre 
almejando a legalização da eutanásia. 
No obstante, as discussões acerca da eutanásia aparecem na crista da onda ao final do 
século XX, especificamente durante os anos 90. Importante destacar Jack Kevorkian, o doutor 
morte, que teve papel fundamental na intensificação do debate envolvendo a eutanásia nos 
Estados Unidos, suas ações geraram grande repercussão no cenário social, médico e jurídico. 
Nos primeiros anos do século XXI a eutanásia veio a ser legalizada em países como 
Holanda (GOLDIM 3, 2003), 2001, e Bélgica (GOLDIM 2, 2014), 2002. No Brasil, a eutaná-
sia causou maior impacto nas discussões jurídicas, a partir do fim do século passado, quando 
propostas que permitiam a realização do instituto foram rejeitadas pelo Congresso Nacional. 
Recentemente, novo projeto do Código Penal trouxe como proposta a positivação do instituto 
como crime, mas abre uma lacuna para que em determinado caso não haja penalização pela 
prática da eutanásia. 
 
1.1.3 – Classificações Dadas Pela Doutrina 
 
Inúmeras são as classificações doutrinárias a respeito da eutanásia. Algumas são uti-
lizadas por boa parte dos autores, outras, porém, apresentam viés mais específico. 
 
1.1.3.1 – Quanto à forma: Ativa ou Passiva 
 
Dentre todas as classificações adotadas pela doutrina acerca do tema, a em epígrafe 
se destaca como a que aparece nas lições de todos os autores que versem sobre a eutanásia. 
A eutanásia ativa é a forma mais controvertida a respeito deste instituto, certamente a 
que causa mais espanto para uma parte da sociedade. Entende-se por ativa a forma de eutaná-
17 
 
sia em que a antecipação da morte do paciente se dá por uma ação direta do médico (DIAS, 
2012, p. 149). 
A título de exemplificação, ocorre a forma ativa da eutanásia quando o médico, vi-
sando acabar com o sofrimento de um paciente com doença ou lesão incurável ou em estágio 
terminal, aplica dose letal de algum tipo de medicamento. Neste caso, a morte do paciente foi 
antecipada diretamente pela ação do médico e, por isso, se caracteriza como eutanásia ativa. 
Por seu turno, entende-se por passiva a forma de eutanásia em que a antecipação da 
morte do paciente se dá através de uma omissão do médico, ou seja, este deixa de aplicar de-
terminado tratamento para que o paciente possa, com a morte, ver seu sofrimento chegar ao 
fim. 
No obstante, cumpre destacar que tal conceito encontra polêmica dentre os autores ao 
ser relacionado com o que atualmente se chama de ortotanásia. Parte da doutrina, podendo até 
ser considerada corrente majoritária, afirma que a eutanásia passiva não é expressão sinônima 
de ortotanásia, separando tal classificação de acordo com a utilidade do tratamento para o 
prolongamento da vida que vem a ser omitido ou suspenso pelo médico, enquanto a outra 
corrente utiliza os dois institutos como expressões sinônimas. Defendendo seus respectivos 
posicionamentos, destacam-se os ensinamentos de Villas-Bôas (2008, p.67) e Sá (2015, p. 
87): 
 
A eutanásia passiva consiste na suspensão ou omissão deliberada de medidas que se-
riam indicadas naquele caso, enquanto na ortotanásia há omissão ou suspensão de 
medidas que perderam sua indicação, por resultarem inúteis para aquele indivíduo, 
no grau de doença em que se encontra. (Villas-Bôas – adepta da primeira corrente). 
 
A eutanásia passiva ou ortotanásia (do grego orthos, normal, correto e thanatos, 
morte) pode consistir tanto na não iniciação de um tratamento como na suspensão do 
mesmo. Também pode ser caracterizada pelo não tratamento de uma enfermidade ou 
complicação intercorrente, e a morte ocorrerá a seu tempo, sem o prolongamento 
desnecessário da vida (Sá – adepta da segunda corrente). 
 
A divergência entre as correntes apresentadas é de complicado esclarecimento, a li-
nha que separa a omissão de tratamento para antecipação da morte do paciente e a omissão ou 
supressão de tratamento para que o óbito ocorra em seu estado natural é muito tênue, talvez 
realmente não exista e, por este motivo, muitos adotam as expressões como sinônimas. Ques-
tionamento sobre tal dificuldade de distinção é realizado pelo professor Siqueira-Batista 
(2005, p. 114), que posteriormente opta por usar apenas um dos termos: 
 
Em outros termos, haveria um verdadeiro limite entre a eutanásia passiva – não in-
tervir e deixar de fato morrer – e a dita ortotanásia – deixar morrer no momento apa-
rentemente certo? A distinção se mostra conceitualmente precária, por vezes im-
possível de ser estabelecida – afinal, não entubar um paciente com uma neopla-
18 
 
sia em fase terminal, ou seja, negar-lhe a possibilidade de se manter vivo, seria 
deixar a morte chegar no tempo certo ou praticar de fato a eutanásia passiva? 
(grifo nosso) 
 
O exemplo dado pelo ilustre professor parece ser bastante razoável, pois encontrar 
este chamado “tempo certo de morrer” é realmente muito complicado e soa até mesmo impos-
sível. Porém, ao colocar a forma passiva de eutanásia como sinônimo de ortotanásia, haveria 
divergência quanto ao significado atribuído a este último vocábulo, pois, mesmo que indire-
tamente, estaria havendo uma antecipação da morte do paciente e não o “óbito no tempo cor-
reto”, como preceitua a sua definição. Talvez por isso predomine a corrente que distingue os 
institutos. 
Tal corrente aponta para uma divergência entre os termos, pois assim, na eutanásia 
passiva a omissão ou suspensão de tratamento seria responsável pela antecipação da morte do 
paciente, enquanto na ortotanásia a supressão seria de tratamento que prolongasse a morte, 
pois a enfermidade seria a responsável pelo óbito do paciente, o processo demorte já teria se 
iniciado, seria uma medida omissão para evitar a distanásia, como leciona Sanchez y Sanches 
e Seidl: (Sanchez y Sanchez e Seidl, 2013, p. 24): 
 
É importante ressaltar, também, a diferença entre ortotanásia e eutanásia passiva, 
conceitos que são frequentemente confundidos. Na ortotanásia, é a doença de base a 
responsável pela morte; na eutanásia passiva, a moléstia não é fatal, ou ainda não 
chegou ao ponto da terminalidade, da reta final da vida. A eutanásia passiva abrevia 
a vida e a ortotanásia permite a morte. 
 
Realmente a doutrina majoritária parece distinguir conceitualmente os institutos, no 
entanto, na prática mostra-se muito complicada observar esta distinção como bem asseverou 
Siqueira-Batista (2005). Assim, talvez a distinção destes termos seja uma criação doutrinária 
para se evitar todo o tabu social que envolve a expressão eutanásia. 
 
1.1.3.2 – Quanto à Vontade 
 
Esta classificação se mostra presente em basicamente todas as obras que tenham co-
mo tema central o instituto da eutanásia. No entanto, nem por isso deixa de ser controversa, 
pois é comum parte da doutrina estabelecer dois tipos de classificação quanto à vontade do 
paciente, entretanto, alguns apontam divisão distinta, acrescentando a espécie “não voluntá-
ria” às categorias voluntárias e involuntárias, já consagradas pela doutrina. 
Na forma voluntária, o procedimento de realização da eutanásia é consequência da 
vontade do paciente, ou seja, este pede para que sua morte seja antecipada. Tal classificação 
19 
 
encontra-se de acordo com o que a doutrina preceitua, uma vez que tal classificação é pacífica 
na doutrina, embora esta categoria esteja no centro da discussão que envolve o instituto da 
eutanásia. 
No obstante, a dúvida nasce quanto à distinção da forma involuntária e “não-
voluntária” da eutanásia, que alguns doutrinadores acham prudente ser feita. Parece que a 
divisão entre as três categorias é a ideia mais acertada, uma vez que possibilita uma melhor 
análise do quão importante foi a vontade do paciente para casos que podem ou não serem re-
lacionados à eutanásia. BARROSO e MARTEL (2010, p. 72) entendem que a eutanásia deve 
ser dividida nas formas voluntária, involuntária e “não-voluntária”. 
Em termos gerais, a forma involuntária aconteceria quando o paciente negasse a op-
ção da eutanásia, mas, desrespeitando a sua vontade, a vida do enfermo é abreviada. Por outro 
lado, a forma “não-voluntária” se caracteriza pela morte do paciente sem que a vontade do 
mesmo seja conhecida. Neste sentido, Barroso e Martel (2010, p.72) destacam: 
 
Diz-se que é voluntária quando há expresso e informado consentimento; não-
voluntária, quando se realiza sem o conhecimento da vontade do paciente; e in-
voluntária, quando é realizada contra a vontade do paciente. No que toca à eu-
tanásia involuntária, há um relevante e adequado consenso jurídico quanto ao seu 
caráter criminoso. Os casos mais comuns da eutanásia não-voluntária são os que 
envolvem pacientes incapazes (grifo nosso). 
 
Como bem destaca a citação acima, a espécie involuntária é alvo de críticas de todos 
os lados, seja de pessoas que se posicionam a favor ou contrários à legalização da eutanásia. 
Ora, quando a vontade do paciente é de não antecipar a sua morte e mesmo assim a sua vida é 
abreviada, não há o que se falar em eutanásia, pois este instituto presa pela vontade da pessoa 
em por fim ao seu sofrimento físico e psicológico, de modo que se exige a autonomia de von-
tade do enfermo para que se caracterize tal instituto. O que parte da doutrina chama de euta-
násia involuntária, na verdade, deveria ser chamado de homicídio, pois nada tem a ver com o 
instituto objeto desta pesquisa. 
Em que pese a denominada eutanásia “não-voluntária” não ser alvo de críticas tão a-
cirradas como a forma involuntária e não figurar sempre em evidência como a eutanásia vo-
luntária, a categoria “não-voluntária” deve ser observada com bastante cuidado, uma vez que, 
como a decisão pela realização da antecipação ou não da morte do paciente vai estar sobre as 
mãos de outra pessoa, neste caso seu representante legal, há de se analisar cuidadosamente 
aspectos que podem influenciar na importante decisão, principalmente quando questões finan-
ceiras estiverem ao redor do caso. 
 
20 
 
1.1.4 – Ortotanásia, Distanásia e Suicídio Assistido 
 
Embora distintos, a ortotanásia, distanásia e suicídio assistido sempre aparecem no 
meio de discussões e obras que tem a eutanásia como tema central. Não se pode confundir tais 
conceitos, de modo que faz-se necessário a abordagem destes temas 
 
1.1.4.1 – Ortotanásia 
 
Na tradução literal do grego, o termo ortotanásia significa “morte normal”, “morte 
correta” ou “morte ao tempo certo”, dentre outros utilizados pela doutrina. Em outras pala-
vras, em teoria, não há retardamento ou antecipação da morte do paciente com enfermidade, 
assim, a ortotanásia, para aqueles que a distinguem da eutanásia passiva, seria realizada com a 
não adoção ou paralisação de tratamento que não fosse útil para a saúde do paciente, ou sejá, 
não lhe desse sobrevida alguma, de modo que este fato não seja o responsável pela morte do 
paciente. Neste sentido, destaca Vieira (2009, p. 106): 
 
Constitui a “morte a seu tempo”, sem abreviações nem prolongamentos desarra-
zoados do processo de morrer, verdadeira “morte correta”, alcançada através da 
supressão ou limitação dos tratamentos fúteis e desproporcionados, diante da morte 
iminente do paciente, sem se objetivar apressar a morte deste (grifo nosso). 
 
Como já ressaltado em tópico anterior, há confusão e divergência quanto à separação 
ou não da ortotanásia e da eutanásia passiva. A corrente majoritária defende a distinção entre 
os termos, segundo eles, nesta última a morte do paciente é antecipada pela omissão de trata-
mento que poderia vir a prolongar a vida do enfermo, enquanto naquela a morte do paciente 
não é antecipada em razão da omissão ou suspensão de tratamento ao prolongamento, ocor-
rendo no tempo correto ou natural. Este é o sentido defendido por Vieira (2009, p. 106): 
 
Não se pode concordar, portanto, com aqueles que confundem a ortotanásia 
com eutanásia passiva, isto é, com a atitude de abreviar a vida do paciente através 
da supressão de tratamentos proporcionados e úteis, que poderiam propiciar o pro-
longamento da existência do doente de forma perfeitamente aceitável (grifo nosso). 
 
Com efeito, a questão parece impossível de se chegar a um consenso, muito por en-
volver aspectos complexos em cada ponto de divergência entre as correntes de pensamento. 
Ora, é difícil definir qual o momento correto para a realização da ortotanásia, sem que haja 
antecipação da morte, ou seja, basicamente o que se dispõe sobre a eutanásia passiva. Mas ao 
mesmo tempo, como já ressaltado, empregar a eutanásia passiva como sinônimo de ortotaná-
21 
 
sia acaba por cair em divergência para com a própria tradução e conceituação do que seria 
este instituto. 
Na hipótese de se delimitar a ortotanásia ao desligamento de aparelhos ou supressão 
de tratamentos em casos em que já haja início de morte cerebral, cair-se-ia na questão de que 
se constatada a morte cerebral, para o direito, não haveria mais vida, então o procedimento 
não teria contornos jurídicos, pois ele já estaria morto e, no fim, acabaria passando por todo o 
sofrimento que tinha a vontade de evitar. Talvez a ortotanásia seja restrita a supressão de tra-
tamentos de pacientes que ainda possuem vida encefálica, mas que encontram-se em estado 
vegetativo irreversível, mas ainda assim é difícil dizer se de fato não há abreviação da vida. 
Tais fatos mostram o porquê da dificuldadena pacificação desta celeuma em especí-
fico e permitem que se crie por conta dos entusiastas da eutanásia o questionamento sobre a 
verdadeira intenção por trás da criação do termo ortotanásia. Poderia, talvez, ser uma espécie 
de fuga do tabu que envolve a eutanásia, de modo a tentar não relacionar a forma passiva da 
eutanásia para com ortotanásia. Poderia ser a tentativa de não admissão da legalidade de uma 
forma de se abreviar a vida. Dias (2012, p. 200) escreve: 
 
Deve-se entender a interrupção de tratamentos fúteis como um tipo de eutanásia pas-
siva ou de ortotanásia. Com efeito, este entendimento é mais consentâneo com o 
conceito de eutanásia adotado neste trabalho, visto que, se a medicina tem meios de 
evitar a morte do paciente, ainda que impondo tratamento desumano ou degradante, 
a não adoção ou suspensão dessas condutas caracterize-se como uma antecipa-
ção da morte e, portanto, uma forma de eutanásia (grifo nosso). 
 
Além da diferença de conceituação, a ortotanásia se difere da distanásia por ser per-
mitida pelo ordenamento jurídico brasileiro e por ser defendida pela doutrina em geral, embo-
ra ainda haja quem seja contra. 
A Resolução 1805/2006 do Conselho Federal de Medicina autorizou o médico a rea-
lizar a ortotanásia, desde que esta seja a vontade do paciente ou seus representantes legais, 
conforme o disposto em seu art. 1°: “É permitido ao médico limitar ou suspender procedimen-
tos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e 
incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal” (CONSELHO FE-
DERAL DE MEDICINA, 2006). 
Destaca-se que tal resolução gerou imensa polêmica, sendo, inclusive, alvo de ação 
judicial por parte do Ministério Público Federal, a qual veio a ser julgada improcedente, tor-
nando, deste modo, a ortotanásia possível no Brasil. 
 
22 
 
1.1.4.2 – Distanásia 
 
A distanásia se caracteriza como um instituto totalmente diferente do que se entende 
por eutanásia. A palavra distanásia também é de origem grega, sendo que a doutrina utiliza 
alguns termos como tradução para a junção dos vocábulos “dys” e “thanatos”, como “morte 
adversa”, “morte má”, “morte sofrida”, dentre outros. Importante ressaltar que o termo dista-
násia não é utilizado em todo o globo, sendo que tal instituto também é chamado de medical 
futility ou Obstinação terapêutica. 
De modo geral, a distanásia é entendida como uma forma de se adiar ao máximo a 
morte do paciente, utilizando recursos e tratamentos que mantenham a “vida” artificial do 
enfermo, mesmo que tais tratamentos não ofereçam nenhuma chance de melhora do quadro de 
saúde, servindo apenas para prolongar seu sofrimento. Neste sentido, nos ensinam os profes-
sores Roberto Dias (2012, p. 196) e Maria Elisa Villas-Bôas (2008, p. 67), respectivamente: 
 
A distanásia é a morte lenta e com grande sofrimento. Trata-se do prolongamen-
to artificial da vida, à custa da agonia do paciente. É, em última análise, a transfor-
mação da pessoa em objeto da intervenção médica, com evidente prejuízo da digni-
dade do paciente (grifo nosso) (Roberto Dias). 
 
A prática da ortotanásia visa a evitar a distanásia que é, por sua vez, a morte lenta 
e sofrida, prolongada, distanciada pelos recursos médicos, à revelia do conforto e 
da vontade do indivíduo que morre. Decorre de um abuso na utilização desses recur-
sos, mesmo quando flagrantemente infrutíferos para o paciente, de maneira 
desproporcional, impingindo-lhe maior sofrimento ao lentificar, sem reverter, o 
processo de morrer já em curso (grifo nosso) – (Villas Bôas). 
 
Pode-se observar que há claro antagonismo entre eutanásia e a distanásia, enquanto 
aquela antecipa a morte do paciente buscando por fim ao seu sofrimento, esta visa adiar a 
morte o máximo possível, mesmo que de nada seja útil ao enfermo. Neste sentido, Sá (2015, 
p.88) ensina: 
 
Como se disse, na eutanásia o ato médico tem por finalidade acabar com a dor e a 
indignidade na doença crônica e, no morrer, eliminando o portador da dor. A preo-
cupação primordial é com a qualidade da vida humana na sua fase final. A distaná-
sia, por sua vez, dedica-se a prolongar, ao máximo, a quantidade de vida humana, 
combatendo a morte como grande e último inimigo. 
 
Por fim, destaca-se que tal instituto encontra forte posição contrária de toda a doutri-
na, seja favorável ou contrária a eutanásia. Prolongar o sofrimento do ser humano é um ato 
totalmente condenável, a própria Constituição Federal de 1988 proíbe ato de submeter ser 
humano a tratamento desumano ou degradante, conforme disposto no art. 5°, III. Além disso, 
o Código de Ética Médica, em seu capítulo I, inciso XXII, deixa clara a posição contrária à 
23 
 
distanásia: “Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de 
procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua 
atenção todos os cuidados paliativos apropriados” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 
2009). 
 
1.1.4.2 – Suicídio Assistido 
 
O suicídio assistido frequentemente vem relacionado com a eutanásia, alguns, equi-
vocadamente, o colocam, inclusive, como uma forma de eutanásia. Este instituto ganhou 
grande destaque através do doutor Jack Kevorkian, o qual construiu uma máquina de suicídio 
no fim da década de 80 e auxiliou dezenas de pessoas a acabar com seu sofrimento. 
No suicídio assistido, o paciente, contando com ajuda ou auxílio de um terceiro, põe 
fim ao seu próprio sofrimento ao retirar sua vida. Há semelhanças para com a eutanásia, mas 
nesta o ato ou omissão que antecipa a morte do paciente é praticado, de acordo com a defini-
ção utilizada por esta pesquisa, pelo médico e não pelo próprio paciente, como ocorre no sui-
cídio assistido. Neste sentido, ensina Rocha (2014, p. 148): 
 
O suicídio assistido é muitas vezes confundido com a eutanásia e, de fato, existem 
pontos semelhantes entre as duas situações uma vez que o suicídio assistido também 
se verifica diante de um paciente que, por ser portador de uma doença incurável, em 
estado terminal ou não, busca pôr termo ao seu sofrimento, provocando a própria 
morte. No entanto, apesar da similitude de ambas as situações, as práticas não 
se equivalem, pois, enquanto na eutanásia um terceiro age e desta ação advém, 
diretamente, a morte; no suicídio assistido, a morte não decorre diretamente da 
ação de terceiro. Ela é conseqüência de uma atitude do próprio paciente, sob a 
assistência de um terceiro, assistência esta que pode compreender uma orientação, 
o auxilio ou apenas a observação deste terceiro (grifo nosso). 
 
Em mesmo sentido, posiciona-se Sá (2015, p. 89): 
 
Próximo da eutanásia encontra-se o suicídio assistido. Contudo, não são figuras 
equivalentes: Na eutanásia o médico age ou omite-se. Dessa ação ou omissão sur-
ge, diretamente, a morte. No suicídio assistido, a morte não depende diretamente 
da ação de terceiro. Ela é consequência de uma ação do próprio paciente, que 
pode ter sido orientado, auxiliado ou apenas observado por terceiro (grifo nosso). 
 
Atualmente, tal instituto não é aceito no ordenamento jurídico brasileiro, sendo tipi-
ficado por nosso ordenamento penal, conforme o disposto no art. 122, Código Penal. No en-
tanto, vários países no mundo trazem a assistência ao suicídio como uma conduta legal, exis-
tindo, inclusive, uma clínica de auxílio ao suicídio chamada EXIT, em Zurique, Suíça, a qual 
recebe pessoas do mundo todo querendo acabar com seu sofrimento (OGLOBO, 2014). 
 
24 
 
1.1.5 – Paciente Terminal e Morte 
 
1.1.5.1 – Paciente Terminal 
 
Para melhor prosseguimento em desta pesquisa, há de se fazer alguns esclarecimen-tos quanto ao termo paciente terminal, tão presente na discussão envolvendo eutanásia, orto-
tanásia, suicídio assistido e distanásia. 
Costuma-se definir paciente terminal como o enfermo acometido de doença grave, 
que esteja em estágio avançado da enfermidade, de modo que não exista mais a possibilidade 
de cura e que, consequentemente, tenha grandes chances de vir à óbito, em um espaço de 
tempo relativamente curto. Neste sentido, Vieira (2009, p. 107) destaca: “é aquele cuja condi-
ção é irreversível, independentemente de ser tratado ou não, e que apresenta uma alta probabi-
lidade de morrer num período relativamente curto de tempo”. 
Em mesmo sentido, Gutierrez (2001) nos ensina: 
 
É quando se esgotam as possibilidades de resgate das condições de saúde do pa-
ciente e a possibilidade de morte próxima parece inevitável e previsível. O paci-
ente se torna "irrecuperável" e caminha para a morte, sem que se consiga reverter 
este caminhar (grifo nosso). 
 
Importante destacar que o tempo de vida curto é variável, entretanto, em geral consi-
dera-se um período de 3 a 6 meses, como dispõe a American College of Physians. Neste sen-
tido, destaca Villas-Bôas (2008, p. 79): 
 
Pacientes terminais cuja doença se encontra em fase que já não responde a qualquer 
tratamento curativo, de forma que a morte é evento inevitável, com ou sem a insti-
tuição de terapêutica, num prazo de três a seis meses (segundo define o American 
College of Physians) (grifo nosso). 
 
Assim, não há que se limitar o termo paciente terminal àquele enfermo que está a ho-
ras da morte. É elementar destacar que, na grande maioria dos casos, este período de estágio 
terminal da doença é acompanhado de dores insuportáveis, gerando grande sofrimento para o 
paciente. 
 
1.1.5.2 – Morte 
 
25 
 
A morte é um assunto pouco discutido na sociedade de hoje em dia, basicamente vi-
rou uma espécie de tabu entre parte da população do ocidente, que prefere não pensar sobre o 
fim da vida. Neste sentido, Pimentel (2012, p. 15) explica: 
 
O homem, especialmente aquele imerso na cultura ocidental contemporânea, embora 
tenha plena consciência de sua mortalidade, não parece estar devidamente prepara-
do, em termos psicológicos, para lidar com a ruptura que o fenômeno ― morte‖ re-
presenta. O pensamento sobre a finitude da vida e o conceito de morte como um es-
tado de inconsciência permanente, geralmente, o assusta e amedronta. 
 
Talvez por esta razão a eutanásia seja um assunto não tão debatido no Brasil. No obs-
tante, o conceito de morte já sofreu inúmeras mudanças com o transcorrer do tempo, isso de-
vido aos avanços da tecnologia. Assim, hoje, a morte é tida como a morte encefálica, como 
ensina Sá (2015, p. 82): 
 
Inicialmente, a morte era entendida como o cessar dos batimentos cardíacos, o que 
não mais é aceito. É vista hoje não mais como evento ou momento, mas como fe-
nômeno progressivo. Portanto, a revisão do conceito de morte definiu-a como 
morte encefálica. Tal revisão tornou-se necessária tendo em vista o desenvolvimen-
to da medicina, que abriu possibilidades de prolongamento indefinido da vida hu-
mana por meios artificiais. Referida definição também possibilitou a realização de 
cirurgias de transplante de órgãos (grifo nosso). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
CAPÍTULO 2: DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Visto os aspectos conceituais que caracterizam esta pesquisa, mostra-se fundamental 
a compreensão da base que vem a compor toda a divergência em torno da eutanásia: os direi-
tos fundamentais. 
Assim, é necessário o estudo acerca dos direitos fundamentais, observando sua teoria 
como um todo e, a partir deste ponto, desbravar de maneira adequada o direito à vida, à liber-
dade e também o princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
2.1– ASPECTOS GERAIS SOBRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
2.1.1 – Origem dos Direitos Fundamentais 
 
Muito se diverge em relação à verdadeira origem dos direitos fundamentais, alguns 
doutrinadores apontam a Magna Carta, de 1215, como fato histórico inicial para o seu surgi-
mento. Através da Magna Carta os poderes, outrora absolutos do rei da Inglaterra, João sem 
terra, passaram a ser limitados por tal diploma legal, incluindo uma série de liberdades para a 
população, especialmente para os barões ingleses. 
Em que pese tal ideia fazer sentido, a maior parte da doutrina destaca como grandes 
marcos da positivação dos direitos fundamentais a Virginia Bill of Rights, 1776, e, principal-
mente, a Revolução Francesa, através da Declaração dos Direitos do Homem, 1789, como 
aponta Vicente Paulo (2012, p. 98) ao citar ensinamentos do grande Canotilho sobre o tema: 
 
a positivação dos direitos fundamentais deu-se a partir da Revolução Francesa, 
com a Declaração dos Direitos do Homem (Déclaration dês Droits de l’Homme 
et duCitoyen, em 1789), e das declarações de direitos formuladas pelos Estados 
Americanos, ao firmarem sua independência em relação à Inglaterra (Virginia 
Bill of Rights, em 1776). Originam-se, assim, as Constituições liberais dos Estados 
ocidentais dos séculos XVIII e XIX (grifo nosso). 
 
O surgimento dos direitos fundamentais esteve ligado a crescente necessidade de 
proteção do homem em face do poder absoluto exercido pelo Estado na época. Diversas atro-
cidades eram cometidas sem que as pessoas tivessem quaisquer tipos de direitos. 
A primeira geração dos direitos fundamentais, de grande importância para o tema 
central desta pesquisa, trouxe a ideia de limitação do poder do Estado na vida do homem, tra-
zendo a positivação de inúmeras liberdades individuais, bem como impondo ao Estado o de-
ver de não atentar contra a liberdade, vida ou propriedade do homem. Neste sentido, Padilha 
(2014, p. 524) ensina: 
27 
 
 
A primeira dimensão de direitos fundamentais foi construída em 1789 com a re-
volução francesa e buscava impor limites à atuação do Estado e à criação de um 
Estado liberal; por isso, ficou conhecida como direito à prestação negativa (non fa-
cere) do Estado. São alguns exemplos os direitos à liberdade, à vida, à inviolabi-
lidade de domicílio, correspondência, telefônica, à propriedade e assim por dian-
te (grifo nosso). 
 
Os autores divergem quanto ao número de gerações de direitos fundamentais que se 
sucederam, embora a doutrina tradicional use os ideais da Revolução Francesa para destacar 
três gerações, correspondentes a liberdade, igualdade e fraternidade, respectivamente. 
Os direitos sociais ou de segunda geração derivaram das circunstâncias deixadas pela 
Revolução Industrial (século XIX), na qual grande parte da população era explorada por uma 
minoria, deixando aqueles em situações precárias. Tal fato fez crescer a necessidade de cria-
ção de direitos sociais que garantissem assistência social e melhores condições de trabalho. 
Neste caso, o Estado deveria agir para garantir que tais direitos fossem respeitados. 
A terceira geração, por sua vez, traz a positivação dos chamados direitos coletivos, 
destacando o direito à paz, meio ambiente, desenvolvimento e dentre outros. Tal geração é 
conhecida também por consagrar os ideais de fraternidade. 
Muitos autores apontam inúmeras outras gerações de direitos fundamentais, como a 
quarta geração referente aos direitos à engenharia genética, destacando os direitos a insemina-
ção artificial, congelamento do embrião, referentes às pesquisas de células tronco e outros 
mais. 
Como o foco desta pesquisa encontra-se, fundamentalmente, nos direitos individuais 
de primeira geração, a estes será dado maior ênfase, conforme se verá a seguir.. 
 
2.1.2 – Caráter Relativo dos DireitosFundamentais 
 
Conforme ensinamentos do professor Rodrigo Padilha (2014, p. 515), pode-se definir 
os direitos fundamentais como: “direitos considerados indispensáveis à manutenção da digni-
dade da pessoa humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e i-
gual”. 
A dignidade da pessoa humana encontra-se no núcleo de todo ordenamento jurídico 
brasileiro e com os direitos fundamentais não seria diferente, haja vista que este conjunto de 
direitos é o principal responsável por assegurar que tal condição seja respeitada. 
Para melhor analisar o instituto da eutanásia, faz-se necessário o conhecimento de al-
gumas das características que distinguem os chamados direitos fundamentais dos outros. Den-
28 
 
tre inúmeras características dos direitos fundamentais apontadas pela doutrina, como a histo-
ricidade, universalidade, imprescritibilidade, indivisibilidade e outros, de suma importância é 
a análise do caráter relativo de tais direitos. 
Os direitos fundamentais não apresentam, como característica, serem absolutos, na 
verdade, nenhum possui tal tendência. A teoria dos direitos fundamentais traz a relativização 
de tais direitos como uma de suas principais características, deixando claro, então, a não exis-
tência de um grau hierárquico entre as gerações ou mesmo entre os direitos fundamentais de 
mesma dimensão. 
Tal relatividade faz-se necessária, pois seria, neste sentido, de difícil resolução uma 
controversa em que um direito fundamental fosse contrário a outro, não haveria maneiras de 
se pacificar a celeuma caso esses direitos fossem de caráter absoluto. Como não há grau hie-
rárquico entre eles, não há como determinar de antemão qual direito fundamental prevalecerá 
em caso de antinomia para com outro, devendo-se utilizar o princípio da proporcionalidade, 
harmonização ou ponderação, tendo cuidado para que um direito fundamental não acabe sen-
do mitigado perante o ora conflitante. 
Neste sentido Cavalcante Filho explica: 
 
Nenhum direito fundamental é absoluto. Com efeito, direito absoluto é uma con-
tradição em termos. Mesmo os direitos fundamentais sendo básicos, não são absolu-
tos, na medida em que podem ser relativizados. Primeiramente, porque podem 
entrar em conflito entre si – e, nesse caso, não se pode estabelecer a priori qual 
direito vai “ganhar” o conflito, pois essa questão só pode ser analisada tendo 
em vista o caso concreto (grifo nosso) (CAVALCANTE FILHO, S/D). 
 
Importante destacar que este também é o entendimento jurisprudencial brasileiro, 
tanto do Supremo Tribunal Federal como dos outros Tribunais que compõe o Poder Judiciário 
pátrio. Nesse sentido, segue ementa em que fica claro o caráter relativo dos direitos funda-
mentais (BRASIL, TRT, 2014): 
 
DIREITO FUNDAMENTAL À PRODUÇÃO PROBATÓRIA 
(ART. 5º, XXXV E LV, CF/1988). RELATIVIDADE. CONVIVÊNCIA COM OS 
DEMAIS DIREITOS DE IDÊNTICA HIERARQUIA. 
Como todo direito fundamenta-lo direito a prova 
(art. 5º, XXXV e LV, CF/1988) não é absoluto, devendo, no caso concreto, ser 
sopesada a sua preponderância, a fim de conviver, harmonicamente, com di-
reitos de igual hierarquia, como, por exemplo, o direito fundamental a uma pres-
tação jurisdicional sem dilações indevidas (art. 5º, LXXVIII, CF/1988). Assim, 
concretizando este direito, a lei confere ao magistrado do trabalho ampla liberdade 
na direção do processo, devendo velar pelo andamento rápido das causas 
(art. 765, CLT c/c art. 125, CPC), lhe sendo facultado, inclusive, indeferir diligên-
cias inúteis ou meramente protelatórias (grifo nosso). 
TRT-5- RecOrd: 00014919120135050561 BA 0001491-91.2013.5.05.0561, Rela-
tor: MARIZETE MENEZES, 3ª. TURMA, Data de Publicação: DJ 04/04/2014.) 
 
29 
 
As posições destacadas são adotadas por esta pesquisa e são de grande importância 
para uma melhor análise acerca das divergências existentes no entorno da eutanásia, tais dis-
cordâncias serão debatidas mais a frente, principalmente quando se adentrar na celeuma en-
volvendo o direito à vida e seu caráter relativo perante o direito de liberdade e, principalmen-
te, em relação à dignidade da pessoa humana, todos estes consagrados pelo ordenamento jurí-
dico pátrio através da Constituição Federal de 1988. 
Destaca-se, por fim, que os direitos fundamentais encontram-se positivados especi-
almente no art. 5°, CF, embora o rol seja exemplificativo, conforme disposto no art. 5, § 
2°/CF, e haja a possibilidade de existência de outros direitos fundamentais fora do diploma 
constitucional. 
 
2.2 – DIREITO À VIDA 
 
Abordar a vida como tema de estudo é sempre uma tarefa árdua e extremamente 
complicada de se fazer, seja em qualquer área e, no direito, não é diferente, muito pelo contrá-
rio. Certamente a eutanásia é um assunto tão complexo de se debater e impossível de se che-
gar a um consenso entre as correntes, porque o direito à vida está no centro da discussão acer-
ca deste controverso instituto. 
 
2.2.1 – Noções Gerais do Direito à Vida 
 
Já ressaltado o histórico do direito à vida com o transcorrer da evolução de nossa ci-
vilização, cabe uma análise mais profunda sobre este bem que é protegido, pelo menos em 
teoria, por basicamente todos os ordenamentos jurídicos do mundo, seja este um país que ab-
sorva o instituto da eutanásia ou não. 
Qualquer tema relacionado à vida é sempre de difícil debate, mesmo uma conceitua-
ção do que seria este bem se mostra deveras complicada, sendo que esta problemática também 
atinge o direito e se mostra um dos pontos centrais da celeuma envolvendo a eutanásia. 
Obviamente não é um dos objetivos deste trabalho definir o que vem a ser a vida, 
mesmo porque seria muita prepotência diante da complexidade atribuída a tal bem jurídico. 
Entretanto, sem pelo menos uma noção do que seria a vida, mostrar-se-ia muito complicada à 
continuação desta pesquisa, razão pelo qual se apresenta necessária a observação das diferen-
tes concepções do significado da vida e, a partir deste ponto, entender melhor o significado 
deste bem para as ciências jurídicas. 
30 
 
Assim sendo, duas tendências se destacam entre as concepções do que seria vida. De 
um lado, uma corrente defende que a vida é um ciclo temporal e biológico, onde a vida teria 
aspecto físico-existencial com o nascimento, passando por todo seu desenvolvimento e culmi-
nando com a morte, o fim de sua existência. 
Por outra direção, a corrente que predomina na ciência jurídica é a que defende o ca-
ráter duplo da vida, este bem não só estaria apoiado no plano existencial da pessoa, mas tam-
bém numa gama bem maior de aspectos, que atribuam dignidade à vida, qualidade para a e-
xistência do ser humano. Nota-se a influência do princípio da dignidade humana no direito e 
consequentemente na vida como bem jurídico. 
Neste sentido, ensinam, respectivamente, os professores Vicente Paulo (2012, p. 120) 
e Roberto Dias (2012, p. 117) sobre o direito à vida no ordenamento jurídico brasileiro: 
 
Não se resume o direito à vida, entretanto, ao mero direito à sobrevivência físi-
ca. Lembrando que o Brasil tem como fundamento a dignidade da pessoa hu-
mana, resulta claro que o direito fundamental em apreço abrange, o direito a uma 
existência digna, tanto sob o aspecto espiritual quanto material (garantia do mí-
nimo necessário a uma existência digna, corolário do Estado Social Democrático) 
(grifo nosso). 
 
Pode-se dizer que a vida é muito mais do que o ciclo que se inicia em um certo 
momento e termina com a morte, pois a vida não é precisa. Viver é et cetera. A 
vida deve ser compreendida em sua complexidade e, principalmente, em sua 
qualidade, intensidade e dignidade, e não como um intervalo de tempo ou ape-
nas um fenômenobiológico (grifo nosso). 
 
O duplo caráter jurídico da vida é adotado pelo ordenamento legal brasileiro através 
da Constituição Federal de 1988, este bem é assegurado como direito de todas as pessoas, 
conforme disposto no caput do art. 5° combinado com o art. 1°, III, ambos da CF, dispositivo 
este que traz o princípio da dignidade da pessoa humana como ponto central do direito nacio-
nal. 
Para o direito, não basta uma pessoa simplesmente existir, tem de ser assegurada uma 
vida digna para cada ser humano. Com a positivação do direito à vida, o Estado não poderia 
atentar arbitrariamente contra a existência das pessoas, tendo, também, o dever de zelar para 
que cada indivíduo consiga elementos que garantam uma qualidade de vida digna. 
Esta questão envolvendo a qualidade de vida como objetivo da aplicação do princí-
pio da dignidade da pessoa humana no direito à vida é um dos principais pontos de embate na 
discussão envolvendo a eutanásia, como bem ressaltado por Sá (2015, p. 68): “A discussão 
que permeia a garantia do direito à vida versa, não raro, em relação à sua qualidade e dignida-
de como construção diária”. Mais acerca deste embate será colocado em breve, quando da 
análise específica em nosso ordenamento jurídico. 
31 
 
Outro ponto interessante e que certamente encontra-se em posição central na diver-
gência entre entusiastas e detratores da eutanásia diz respeito ao caráter relativo ou absoluto 
do direito à vida. Muitos doutrinadores defendem o caráter sagrado e absoluto deste bem, de 
modo que a prática da eutanásia seria totalmente ilegal e absurda. Por outro lado, defensores 
da legalização da eutanásia entendem que o direito à vida possui caráter relativo, tal como 
todos os outros direitos fundamentais, devendo-se harmonizar os direitos conflitantes de acor-
do com o caso concreto. 
Nem se pode dizer que a controvérsia está longe de ser solucionada, até porque tal 
celeuma jamais deve vir a ser pacificada em razão de pontos tão conflitantes. Parece que a 
corrente minoritária encontra-se com mais razão, uma vez que não devem existir direitos ab-
solutos no ordenamento jurídico brasileiro, inclusive pela manifestação do princípio da unida-
de da Constituição, que veda a antinomia entre direitos positivados na Constituição Federal de 
1988, devendo, nestes casos, tais direitos serem harmonizados, o que seria impossível com a 
existência de algum direito absoluto. 
Por fim, faz-se necessária uma breve explanação de como ordenamento jurídico bra-
sileiro acata a morte do ser humano. É sempre bom destacar que os critérios que identificam a 
morte de uma pessoa foram se modificando com o tempo, passando de parada cardíaca ou 
respiratória para, nos dia de hoje, ser utilizada a morte encefálica como critério para se identi-
ficar a morte de uma pessoa, conforme disposto no art. 3° da Lei 9.434/97 (BRASIL, 1997), a 
lei do transplante de órgãos. Neste sentido, posiciona-se Vieira (2009, p. 96): 
 
Tendo a própria legislação brasileira estabelecido como critério para definição da 
morte a ‘morte encefálica’, não há dúvidas de que, constatada esta, não há mais ra-
zão para a continuidade de aplicação de qualquer procedimento médico no paciente, 
que já então se encontra morto, apenas se justificando a manutenção dos sinais vitais 
para fins de realização de transplante, caso a família autorize a realização deste. 
 
2.2.2 – Histórico do Direito à Vida 
 
No mundo de hoje, a vida se destaca entre grande parte da doutrina como o principal 
bem a ser assegurado ao ser humano, tanto é que alguns conferem a este direito um caráter 
absoluto, posição esta que se mostra equivocada, uma vez que, como já destacado, os direitos 
fundamentais se caracterizam pela sua natureza relativa e não absoluta, como desejam deter-
minar esta parte da doutrina. 
32 
 
Mas, nos anais da humanidade nem sempre foi assim, na verdade, em grande parte da 
história do homem, a vida não esteve assegurada de forma direta pelos ordenamentos jurídi-
cos que regravam as sociedades existentes. Neste posicionamento se alia Sá (2015, p. 67): 
 
Mas, foi somente através dos séculos que o direito à vida passou a ser reconhecido e 
protegido como bem jurídico. Antes, o que existia era a origem humana e social des-
te direito. É que não havia qualquer formalização para garantia do direito à vi-
da, e sua proteção era feita de forma reflexa, no sentido de que, quem a desrespei-
tasse, atentando contra ela era punido. Passo a passo, com a evolução, que levou sé-
culos, chega-se nos dias atuais (grifo nosso). 
 
Um grande exemplo do retratado é o código de Hamurabi, onde se punia um eventual 
assassinato com a retirada da própria vida do infrator. Além disso, mesmo quando se era res-
guardado de forma indireta, tal proteção não abrangia a todos os homens e mulheres, até por-
que, infelizmente, nem sempre todos os seres humanos eram considerados como tal. 
Durante a idade média e idade moderna muitas foram as atrocidades atentadas contra 
inúmeros direitos que hoje são considerados fundamentais, entre eles o direito à vida. É pos-
sível citar as barbaridades cometidas durante as Guerras Santas ou as atrocidades empreendi-
das pelos reis absolutistas que, sem que seus poderes fossem limitados, perpetraram inúmeras 
violações contra a vida e a liberdade do homem. 
 A grande mudança de paradigma ocorrera com a eclosão da Revolução Francesa e 
consequente Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789. Como já retratado 
anteriormente, a diploma legal é um dos marcos da positivação dos direitos fundamentais, 
com ela deu-se origem ao que se chama de primeira geração dos direitos fundamentais, direi-
tos de natureza individual, e, entre eles, estava o direito à vida. 
Em que pese as barbáries cometidas contra a existência humana durante a Segunda 
Guerra Mundial, após a Declaração dos Direitos do Homem, de 1789, a vida passou a ser pro-
tegida nos ordenamentos jurídicos, impedindo o Estado de atentar contra este importante bem 
jurídico tutelado às pessoas. Após a guerra, com a onda crescente de tratados de direitos hu-
manos firmados entre as nações de praticamente todo o globo, o direito à vida passou a ter 
aspecto similar ao observado nos dias de hoje. 
 
2.3 – DIREITO À LIBERDADE 
 
A positivação da liberdade como direito fundamental é uma das maiores conquistas 
da história do direito. Como se sabe, tal como a vida, por muito tempo este direito fora supri-
33 
 
mido dos ordenamentos jurídicos vigentes, na melhor das hipóteses ele não era estendido a 
todos. 
Hoje, já positivado em praticamente todos os ordenamentos jurídicos vigentes, a li-
berdade é um dos direitos explicitamente envolvidos na grande controvérsia acerca da eutaná-
sia, por este motivo sendo de grande valia para a realização do presente estudo. 
 
2.3.1 – Aspectos Gerais do Direito à Liberdade 
 
Pode-se afirmar que o direito à liberdade foi a grande base para o advento da primei-
ra geração dos direitos fundamentais, uma vez que, na época, a procura por ações negativas 
por parte do Estado era imensa, resultando, consequentemente, no surgimento dos direitos de 
liberdade, como fora chamado o conjunto de conquistas que compõe a primeira geração dos 
direitos fundamentais. 
No obstante, o advento da liberdade não significou que tal direito fora assegurado a 
todos os seres humanos, muito pelo contrário, não são poucos os países em que o homem ti-
nha seu direito de ser livre negado. Podemos citar, como exemplo, o próprio Brasil, onde, até 
o final do século XIX, a escravização era considerada legal, apenas sendo revogada pela Lei 
Áurea (BRASIL, 1888). 
Tal como preceitua a teoria dos direitos fundamentais, a liberdade

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes