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BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS. “Somos todos escravos da lei, para que possamos ser livres.” Marco Túlio Cícero A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS - COBRAPOL, pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ/MF sob o n.º 37.050.804/0001-05, com sede no SCS, n.º 30, Quadra 01, Bloco G, sala 703 - Edifício Baracat - Brasília - Distrito Federal - CEP.: 70.309-900, neste ato representado por seu Presidente, JÂNIO BOSCO GANDRA, brasileiro, casado, agente de polícia, portador da Cédula de Identidade RG. n.º 4663527 (SSP\AM), inscrito no CPF/MF sob o n.º 111.916.352-87, com domicilio na sede da Confederação; por seus advogados devidamente constituídos [procurações em anexo (Doc.1)], bem como atos constitutivos e documentos pessoais dos outorgantes (Doc.2)], vem, perante esta Egrégia Corte de Justiça, com fundamento no inciso IX, do artigo 103 da Constituição da República Federativa do Brasil; no inciso VII do artigo 60, e alínea “a” do inciso VIII do art. 46, ambos da Constituição do Estado de Goiás; bem como no inciso I, do artigo 9º-B do RITJGO, com o respeito de costume, propor a presente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE com pedido de TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, sancionada pelo Governador do Estado de Goiás, que cria os cargos de escrivão de polícia substituto e agente de polícia substituto, nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil e altera a Lei Estadual n.° 16.901, de 26 de janeiro de 2010, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos. U R G E N T E PEDIDO LIMINAR BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 2 1. DOS FATOS: A presente ação direta de inconstitucionalidade, tem como principal fundamento a manifesta ilegalidade contida nas determinações do texto da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, que ao criar os cargos de escrivão de polícia substituto e agente de polícia substituto, nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil, alterando a Lei Estadual n.° 16.901, de 26 de janeiro de 2010; por desvio de finalidade da norma, e ainda por ferir: a) o princípio da irredutibilidade de subsídios, prevista no artigo 92, inciso XVII, e artigo 95, II, ambos da Constituição do Estado de Goiás, bem como no artigo 37, inciso XV, da Constituição Federal; b) o princípio da isonomia, uma vez que cria cargos na carreira da Polícia Civil, sem identificar sua função específica, o que levaria a situação de servidores desenvolvendo a mesma função, mas com remuneração distinta, sendo uma muita aquém da outra; c) os critérios de remuneração estabelecidos nos incisos I, II e III, do §1º, do artigo 94, da Constituição do Estado de Goiás; e d) o direito à aposentadoria, prevista no inciso XVI, do artigo 95, da Constituição do Estado de Goiás, uma vez que ao prolongar a carreira que antes era de 20 anos, para 24 anos, diminuirá a possibilidade de o servidor se aposentar no topo da carreira. Ademais, a título de argumentação, importante registrar que a Lei, ora em discussão, se justifica no argumento de hipotético aumento do efetivo de policiais, para reforço dos trabalhos de Segurança Pública em nosso Estado. Contudo, não há, em verdade, criação de novas vagas para incremento dos quadros de Agentes e Escrivães da Polícia Civil do Estado de Goiás, mas tão somente um remanejamento de vagas, com a condenável finalidade de reduzir os gastos com a Segurança Pública, com a contratação de mão de obra barata, para a prestação de serviço público de tamanha importância, quando a imperiosa necessidade é que medida inversa fosse tomada. Vejamos. A Lei Estadual n.° 16.901/2010, com a antiga redação dada pela Lei Estadual n.º 17.902, de 27 de dezembro de 2012, previa em seu artigo 99, inciso IV, 490 (quatrocentos e noventa) cargos de Escrivão Policial de 3ª classe; assim como em seu artigo 100, inciso IV, 936 (novecentos e trinta e seis) cargos de Agente de Polícia de 3ª classe. Contudo, com a nova redação dada pelo artigo 2º da Lei Estadual sob análise, ao artigo 99, inciso IV, esse quantitativo passou a ser de apenas 270 (duzentos e setenta) cargos de Escrivão Policial de 3ª classe; e ao artigo 100, inciso IV, esse quantitativo passou a ser de apenas 656 (seiscentos e cinquenta e seis) cargos de Agente de Polícia de 3ª classe. Ou seja, a alteração legislativa, imposta pela Lei Estadual, ora em discussão, representou uma diminuição de 220 (duzentos e vinte) cargos de Escrivão Policial de 3ª classe; e de 280 (duzentos e oitenta) cargos de Agente de Polícia de 3ª Classe. Acontece, que a mesma Lei Estadual (que encontra-se sob análise desta Ação Direta de Inconstitucionalidade) que alterou a Lei Estadual n.° 16.901/2010, para modificar o inciso IV, do artigo 99, para reduzir em 220 (duzentos e vinte) cargos, o efetivo de Escrivão Policial de 3ª classe; e modificar o inciso IV, do artigo 100, para reduzir em 280 (duzentos e oitenta) cargos, o efetivo de Agente de Polícia de 3ª classe; criou 220 (duzentos e vinte) cargos de Escrivão de Polícia Substituto, e 280 (duzentos e oitenta) cargos de BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 3 Agente de Polícia Substituto, através da inclusão do inciso V, ao artigo 99, e da inclusão do inciso V, ao artigo 100, ambos da Lei Estadual n.° 16.901/2010. O que demonstra, de forma cristalina, que a bem da verdade, a malfada Lei Estadual, não acrescenta um único novo cargo ao efetivo da Polícia Civil, se limitando, tão somente, a um manejo legislativo, com o único objetivo de diminuir a remuneração dos policiais civis, e assim reduzir os gastos do Governo do Estado de Goiás com a Segurança Pública. Como dito acima, a Lei ora impugnada tem como intenção, tão somente, a redução dos subsídios dos Policiais Civis do Estado. Uma vez que serão reduzidos os cargos de Agente e Escrivão de Polícia de 3ª Classe, para contratação, de Agente e Escrivão de Polícia Substitutos, a uma remuneração, muito abaixo, dos policiais que encontram-se já em efetivo serviço público, tornando notório o desvio de finalidade da presente Lei. Destarte, o artigo 4º da norma legal impugnada, prevê um subsidio de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) aos Policiais Civis Substitutos, o que é astronomicamente menor do que o adotado hoje aos policiais em início de carreira (3ª classe). O Estado quer, através da norma em exame, impingir um subsidio menor a um Policial que já tem seus subsídios previstos em Lei. Isto fará com que ocorra a paradoxal existência de funcionários que exercem as mesmas atribuições, no mesmo local de trabalho, com as mesmas ferramentas e grau de instrução, todavia, com subsidio quase 50% inferior aos demais. De outro lado, estende indevidamente em mais quatro anos, arrastando para baixo o piso de uma carreira que já é, por sua natureza, estressante e que causa inúmeros problemas de saúde, sem adentrar à questão de que estão hodiernamente submetidos a iminente risco de morte em prol da ordem pública e da repressão ao crime, zelando pelo fiel eabsoluto cumprimento das normas positivadas. O Estado de Goiás pretende, ao arrepio da Constituição Federal e Estadual, reduzir o efetivo de Agentes e Escrivães de Polícia de 3ª Classe, para a implantação dessa nova categoria funcional, com a intenção meramente de redução de gastos, resultando, desta forma, em claro desvio de finalidade na criação da Lei, evidenciando flagrante afronta a princípios básicos e cediços da administração pública encontradiços na Carta Política Estadual e Federal. Assim, a entidade sindical, ora Requerente, representante máximo da categoria, ora prejudicada, se viu sem alternativa, que não fosse a propositura da presente Ação Direta de Inconstitucionalidade, para preservação dos interesses e direitos dos Policiais Civis do Estado de Goiás. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 4 2. DO DIREITO: 2.1 PRELIMINAR AO MÉRITO: 2.1.1 Da competência: O controle de constitucionalidade tem como finalidade precípua a garantia da supremacia da Constituição sobre as normas infraconstitucionais, que possui procedimento próprio para alteração, supressão ou adição no texto constitucional, mais laborioso do que o processo legislativo para a criação das leis ordinárias, que devem se submeter aos ditames maiores, adequando-se à Constituição, sob pena de ser removida do ordenamento jurídico pátrio. Sendo assim, o controle de constitucionalidade impõe ao legislador infraconstitucional a necessária atenção aos preceitos contidos na Magna Carta, seja a do Constituinte originário, seja a do Constituinte secundário, fazendo com que essas Cartas Políticas sejam o parâmetro de validade para as leis ordinárias, não dando sorte a qualquer alteração legislativa capaz de suprimir ou alterar direito decorrente da Constituição. Se a Lei Estadual ou Federal infringir, materialmente ou formalmente, dispositivo previsto na Constituição Federal, esta jamais sucumbirá àquela. Da mesma forma, se Lei Estadual ou Municipal ofender texto da Constituição Estadual, esta certamente sucumbirá àquela. Para tanto, cabe ao Poder Judiciário, conforme imperativo do Constituinte (Originário ou Derivado), processar e julgar as Ações Diretas de Constitucionalidade. No plano do controle abstrato, cabe ao STF processar e julgar atos ou Leis Estaduais e Federais frente à Carta Política Federal de 1988; e ao Tribunal de Justiça, inquirir sobre a inconstitucionalidade de ato ou Lei Municipal ou Estadual que afrontem à Constituição Estadual. Neste sentido, o artigo 125, §2º da Constituição Federal, fixa a competência dos Estados para instituir controle de constitucionalidade, conforme transcrito ipsis litteris abaixo: Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. Nesta toada, quando se diz que “cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos” significa que é de competência dos Estados a instituição de controle abstrato e concentrado de BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 5 constitucionalidade em âmbito estadual, devendo prever em sua Carta Política a ADI, a ser julgada pelo respectivo Tribunal de Justiça.1 Neste diapasão, prevê a Carta Política do Estado de Goiás, em seu artigo 46, inciso VIII, alínea “a”, assevera conforme in verbis: Art. 46 Compete privativamente ao Tribunal de Justiça: (...) VIII - processar e julgar originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade e a ação direta de constitucionalidade de lei ou ato estadual e municipal, em face da Constituição do Estado, e o pedido de medida cautelar a ela relativo; Infere-se, destarte, que é competente este Egrégio Tribunal de Justiça processar e julgar esta Ação Direta de Inconstitucionalidade, pois a Lei Estadual ora em discussão, está em flagrante desrespeito às normas entabuladas na Constituição do Estado de Goiás, não podendo conservar-se na órbita jurídica estadual, segundo sobrará solidificado. 2.1.2 Da legitimidade ativa: O controle abstrato de constitucionalidade de atos e\ou leis foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro através da Emenda n.º 16\1965 e tem rígida delimitação, porquanto tem como única e inarredável função, a de defender a supremacia da Constituição, não havendo interesses subjetivos e\ou particulares entre o legitimado a figurar no polo ativo da demanda e o ato ou lei impugnada frente aos ditames da Lei Maior, seja Federal ou Estadual. Difere-se, deste modo, da legitimidade para figurar no polo ativo da demanda no controle difuso, onde todo e qualquer cidadão pode arguir a inconstitucionalidade de Lei ou ato normativo em defesa de interesse próprio. É o que brilhantemente explicam os d. professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, in verbis: Ao contrário do modelo incidental, em que qualquer interessado pode suscitar a controvérsia constitucional relacionada a um caso concreto discutido em juízo, no controle via ação direta o direito de propositura é limitado aos órgãos ou entidades constitucionalmente legitimados.2 Por conta disso, o Constituinte Originário da Magna Carta Política da República Federativa do Brasil de 1988, no art. 103, trouxe o rol taxativo dos entes 1 Direito Constitucional descomplicado \ Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. – 11.ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO: 2013. Pág. 926 2 Direito Constitucional descomplicado \ Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. – 11.ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO: 2013, pag. 829. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 6 legitimados a propor Ação Direta de Inconstitucionalidade, visto sua importância para o Estado Democrático de Direito. Por seu turno, o Constituinte Secundário da Constituição do Estado de Goiás trouxe, em reprodução obrigatória ao disposto no artigo supracitado, em seu artigo 60, o mesmo rol taxativo dos entes legitimados. Vejamos o disposto no art. 60 da Constituição Estadual, ipsis litteris: Art. 60. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais, contestados em face desta Constituição: I – o Governador do Estado, ou a Mesa da Assembleia Legislativa; II – o Prefeito, ou a Mesa da Câmara Municipal; III – o Tribunal de Contas do Estado; IV – o Tribunal de Contas dos Municípios; V – o Procurador-Geral de Justiça; VI – a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Goiás; VII – as federações sindicais ou entidades de classe de âmbito estadual; VIII – os partidos políticos com representação na Assembleia Legislativa, ou, em se tratando de lei ou ato municipais, na respectiva Câmara Municipal. Nota-se, que o rol de legitimados a propor Ação Direta de Inconstitucionalidade tem como similitudes a característica de representação da coletividade, seja no âmbito representativo político oufuncional e órgãos do Poder Público. Noutra toada, são entes dotados do dever de executar e fiscalizar o fiel cumprimento da Constituição e da defesa do Estado de Direito. A Confederação é formada pela reunião de, ao menos, 3 Federações (art. 535 da CLT) e é o órgão confederativo de instância superior máxima, devendo representar os interesses das federações regionais e, por via reflexa, os interesses das classes imediatamente vinculadas a ela. Por conta dessa natureza representativa, tem legitimidade para propor ADI (art. 103, IX, da CF\88), pela importância na defesa dos interesses específicos dos trabalhadores a ela vinculados, uma vez que a Constituição Estadual de Goiás e, principalmente, a Constituição Federal prevê inúmeros direitos indisponíveis de trabalhadores, aplicados neste caso aos servidores públicos. Vale salientar que, embora a Constituição Estadual legitime as federações sindicais ou entidades de classe de âmbito estadual, para propor Ação Direta de Inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, a Confederação, por ser ente legitimado a propor Ação Direta de Inconstitucionalidade junto ao STF impugnando Lei federal, será também, em decorrência da máxima do direito in eo quod plus est semper inest et minus “quem pode mais, pode menos”, legitimado a impugnar Lei Estadual junto ao Egrégio Tribunal de Justiça respectivo. Assim, estando a CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS agasalhado indiretamente pelo inciso VII do art. 60 da Carta Política Estadual e diretamente pelo inciso IX do art. 103 da BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 7 Constituição da República, é legítimo para propor a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade perante este Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. 2.1.3 Da pertinência temática: Noutro vértice, imperioso destacar que a jurisprudência do STF diferenciou, em parte, os legitimados ativos da ADI constantes no rol alhures mencionado, passando a existir, deste modo, aqueles legitimados chamados de universais e os considerados especiais. Os primeiros têm como propriedade o poder de impugnar qualquer Lei ou ato sem, necessariamente, ter que demonstrar interesses específicos ou liame entre as funções, atividades ou fins institucionais com o tema contraditado. Já o segundo, são aqueles que, para impugnar Lei ou ato que afronte a Constituição, dependem da manifesta conexão entre suas funções ou fins institucionais e a matéria contestada, ou seja, depende da pertinência temática. A Suprema Corte criou este simples pressuposto para alguns legitimados específicos para a propositura de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, principalmente por levar a efeito características próprias de cada ente, principalmente no que se refere à representatividade, uma política, outra de classes. Em atenção ao entendimento emanado do Supremo Tribunal Federal, o Constituinte Derivado editou a Emenda à Constituição Estadual n.º 46, de 09 de setembro de 2010, que acrescentou ao art. 60 o §7º, que dispõe, ipsis litteris: Art. 60. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais, contestados em face desta Constituição: (...) § 7º Os legitimados constantes nos incisos II, III, IV e VII do “caput” deste artigo deverão demonstrar que a pretensão por eles aduzida guarda relação de pertinência direta com os seus objetivos institucionais. Logo, sendo a confederação, à luz da jurisprudência da Suprema Corte, um dos legitimados especiais, mister se faz demonstrar seu interesse de agir perante a afronta encontradiça na Lei Estadual, ora em debate, sobretudo aos Policiais Civis do Estado de Goiás. Para tanto, imperioso se faz tecer considerações iniciais acerca da pertinência temática, requisito que deve ser superado pelo ente legitimado antes de ingressar no mérito da causa. Sendo assim, a Pertinência Temática é, em suma, a relação entre a matéria outrora impugnada com a finalidade ou função do ente legitimado, devendo existir uma ligação clara e objetiva entre um e outro, sob pena de ser declarada a ilegitimidade ad causam daquele ente Requerente por não ter interesse para agir. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 8 Assim, aquele legitimado especial que tem por objetivo a defesa dos interesses inerentes a uma certa classe de trabalhadores tem legitimidade para impugnar Lei ou Ato que altere ou suprima direitos daquela específica classe, pois ficará patente seu real interesse em impugnar aquele ato ou Lei. No caso em análise, a CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS (COBRAPOL) guarda total relação com a matéria contraditada, tendo em vista que a Lei Estadual, ora impugnada, atinge diretamente, direitos e interesses dos Policiais Civis do Estado de Goiás, representados no Estado de Goiás, pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (SINPOL-GO), entidade filiada à COBRAPOL, ora Requerente. Noutro vértice, a COBRAPOL, conforme os incisos do art. 4º de seu Estatuto, tem como finalidades precípuas a unificação e organização representativa da categoria de policiais civis, em nível nacional; unir todos os policiais civis na luta por seus direitos e reivindicações para a melhoria da classe no âmbito político, econômico e social; dentre outras inúmeras finalidades para o desenvolvimento e progresso da classe de Policiais Civis. Nota-se que a COBRAPOL tem vínculo evidente com a classe de Policiais Civis, cuja categoria está tendo, in casu, seus direitos claramente violados, mormente a irredutibilidade do salário, pois, conforme será demonstrado linhas adiante, a Lei ora rechaçada não cria mais cargos, não visa aumentar o efetivo policial (não obstante era o que efetivamente deveria ser), mas tão somente substitui um cargo melhor remunerado por Lei, por outro com subsidio inferior. Deste modo, resta demonstrado a pertinência temática entre o ente legitimado, ora Requerente, com a matéria objurgada, qual seja, a Lei Estadual ora em debate. E havendo a pertinência temática, é de se inferir pela legitimidade da COBRAPOL para figurar no polo ativo desta demanda o que desde já se requer. 2.1.4 Da Tutela Provisória de Urgência Cautelar com pedido Liminar: A tutela de urgência, prevista nos artigos 294 c\c 300, ambos do Código de Processo Civil, pressupõe a existência inconteste da probabilidade do direito (fumus boni iuris) e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (periculum in mora). Logo, em havendo casos em que há fundado receio de ocorrência de dano grave ou risco de resultado útil do processo, cumulado com a probabilidade do direito, a medida liminar deve ser concedida, fazendo cessar o dano ou tutelando o resultado válido da demanda. No presente caso, por tratar-se de Lei Estadual que ‘cria’ cargos a serem preenchidos, é evidente que a suspensão da eficácia normativa da mesma é medida que se impõe, visto que em se chegando na conclusão de que há vícios formais e materiais que invalidam a norma posterior aos tramites legais, e se já tiver iniciado certame para provimento daqueles cargos com a remuneração prevista na norma em debate, ou até mesmo se encerrado, poderá gerar grave dano ao erário, vez que tendo em vista que não houve estudo prévio sobre o impacto nas finanças do Estado, é certo que resultará em grave abalopara os próprios serviços públicos, BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 9 tendo em vista que os subsídios dos policiais contratados terão que ser readequados ao valor legal, ou certame terá que ser anulado, o que por certo levará em reparação cível. Mas para tanto, necessário demonstrar a existência do periculum in mora e do fumus boni iuris que justificam a concessão da tutela provisória requerida. 2.1.4.1 Do periculum in mora: O perigo da demora, consubstanciado no risco de grave dano ou ameaça à solução válida do processo judicial deve ser analisada com ponderação, com o fim de evitar que a decisão tomada traga consequências graves a ambas as partes. No presente caso, há de se observar primeiramente que não há criação de cargos, mas tão somente uma transferência de vagas de um cargo melhor remunerado para outro que tem subsidio absurdo! Conforme restará demonstrado, o objetivo desta malfadada Lei Estadual é dar ares de legalidade a verdadeira afronta à Constituição Estadual e à Federal, consubstanciada principalmente na redutibilidade de subsídios. Por isso, se faz necessário a concessão da medida liminar, ora requerida, suspendendo in totum a eficácia da Lei em questão. Posto que se produzir efeitos poderá gerar grave prejuízo ao erário público em função da ausência de planejamento e estudo socioeconômico da repercussão desta Lei no orçamento público. Também porque, não obstante a Lei não estar efetivamente criando cargos, mas tão somente transferindo vagas, será necessário a realização de concurso público para provimento das vagas criadas para os ‘cargos’ de Agente de Polícia Substituto e Escrivão de Polícia Substituto. Esse certame fundamentando-se em Lei inconstitucional, não terá, por certo, validade, e assim, o trabalho com a elaboração do edital, preparativos para as provas e demais fases do certame serão um desperdício de dinheiro público, o que não se pode anuir. Ainda, pode-se cogitar acerca da conclusão deste certame e consequente contratação destes servidores, o que no caso de ulterior declaração da inconstitucionalidade da Lei, gerará, com meridiana clareza, um tumulto no Estado, com crescimento das demandas neste Egrégio Tribunal, pois os aprovados dentro do número de vagas constantes no edital vão intentar ocupar sua respectiva vaga. Num outro vértice, há se de considerar também os efeitos desta Lei aos policiais e escrivães que já se encontram em pleno serviço público, ocupantes dos cargos de 3ª Classe, níveis I, II e III, visto que estes terão também um prolongamento indevido na carreira em decorrência da diminuição de vagas na respectiva classe, infringindo o princípio da isonomia. Enfim, a Lei impugnada gera inúmeros efeitos, de modo que a sua suspensão, de inicio, é a melhor solução para se resguardar propensos problemas tanto quanto a gastos desnecessários e procedimentos que são, desde o princípio, desprovidos de legalidade. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 10 2.1.4.2 Do fumus boni iuris: O fumus boni iuris é a conclusão não exaustiva da probabilidade e viabilidade do direito invocado, frente aos elementos jungidos aos autos que demonstrar de forma contundente a titularidade do direito e\ou sua existência. Deste modo, em havendo indícios de que o Requerente tem razão em seu pleito, existe assim o fumus boni iuris, apto a ensejar a concessão da medida provisória de urgência, requerida liminarmente, pois em conjunto com os argumentos lançados alhures que atestam a existência de perigo de grave dano e\ou de inutilidade do provimento final após o decorrer da marcha processual, é medida imperativa a supradita concessão. Isto porque a norma estadual em debate, ao criar os cargos de escrivão de polícia substituto e agente de polícia substituto, nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil, alterando a Lei Estadual n.° 16.901, de 26 de janeiro de 2010, cometeu desvio de finalidade da norma, e ainda feriu: a) o princípio da irredutibilidade de subsídios, prevista no artigo 92, inciso XVII, e artigo 95, II, ambos da Constituição do Estado de Goiás, bem como no artigo 37, inciso XV, da Constituição Federal; b) o princípio da isonomia, uma vez que cria cargos na carreira da Polícia Civil, sem identificar sua função específica, o que levaria a situação de servidores desenvolvendo a mesma função, mas com remuneração distinta, sendo uma muita aquém da outra; c) os critérios de remuneração estabelecidos nos incisos I, II e III, do §1º, do artigo 94, da Constituição do Estado de Goiás; e d) o direito à aposentadoria, prevista no inciso XVI, do artigo 95, da Constituição do Estado de Goiás, uma vez que ao prolongar a carreira que antes era de 20 anos, para 24 anos, diminuirá a possibilidade de o servidor se aposentar no topo da carreira. Conforme será demonstrado, a Lei viola também os princípios da legalidade, isonomia, proporcionalidade e razoabilidade, principalmente se se analisar a forma da referida Lei, as omissões presentes referentes à atribuições e responsabilidades, a clara e inconteste discrepância entre os valores dos subsídios entre os cargos ‘criados’ e os já existentes dentro do plano de carreira daqueles cargos, a disparidade entre as atribuições presumidas dos cargos ‘criados’ com o valor de seu particular subsidio e a ilegal diferenciação de direitos entre os servidores públicos que já encontram-se na ativa com os que ainda vão ingressar na carreira. Ademais, o artigo 95, inciso II assevera que é direito dos servidores públicos estaduais a irredutibilidade dos subsídios, consistentes na vedação da redução da contraprestação devida ao ocupante de cargos públicos. No caso ora em debate, é de fácil percepção a redutibilidade salarial. Primeiramente, a discrepância entre o subsidio do cargo tido como inicial da carreira (cargo de 3ª Classe, nível I) com os ‘criados’, que chega ao vultuoso valor de R$ 2.478,19 (dois mil, quatrocentos e setenta e oito reais e dezenove centavos), de diferença. Claro e incontestável a redutibilidade de subsídios. Na mesma esteira, o §1º do art.94 da Carta Política Estadual determina que os cargos devem ter subsídios condizentes com “a natureza, o grau de BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 11 responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; e as peculiaridades dos cargos” (incisos I e III do dispositivo supracitado). De início, cabe frisar que para a criação de qualquer cargo, mister se faz expor pormenorizadamente as atribuições e peculiaridades deste cargo que possam justificar o valor do subsidio, ausente in casu. A Lei Estadual em discussão foi elaborada sob a competência do Governador do Estado de Goiás, nos termos do art. 37, XII da Constituição Estadual e, por isso, deveria de fato ‘criar’ um cargo e não transferir vagas, maquiando a real intenção já devidamente explorada. Assim, demonstrada a probabilidade do direito concernente à inconstitucionalidade material e formal da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, em decorrência das sucessivas transgressões à Lei Máxima, tanto Federal, quanto e Estadual, bem como a princípios norteadores do direito e da atuação da administração pública, a concessão da medida liminar pleiteada como fim de suspender, até julgamento final desta Ação Direta de Inconstitucionalidade, a eficácia da Lei Estadual em discussão, proibindo, assim, a realização de qualquer certame público para provimento dos cargos de Agente e Escrivão de Polícia Substituto, sob pena de grave prejuízo ao erário público e, via reflexa, à supremacia do interesse público. 2.2 DO MÉRITO: A inconstitucionalidade material de uma norma legal é aquela que decorre da desconformidade do conteúdo do ato legislativo com algum princípio constitucional ou direito lá constante. Assim, Lei que viole direito adquirido ou princípio emanado da Lei Maior do Estado, deve ser expungido do universo jurídico de forma urgente. O controle de Constitucionalidade, neste ponto, tem relevância ímpar, além de objetivo claro e direto, que é a de consolidar o princípio da supremacia da Constituição e do próprio interesse público, tendo em vista que é de caráter cogente o cumprimento absoluto da Lei Maior, seja Federal, seja Estadual, resultando na guarda diuturna ao interesse público. Nesta vertente, o interesse público deve ser garantido por medidas que evidenciem a inconstitucionalidade da norma não somente no âmbito formal, mas também no material. Normas que, abstratamente, obedecem aos ditames para sua regular elaboração, mas que preveem medidas absurdas, devem ser eliminadas da órbita jurídica, garantindo a eficácia da Constituição e do próprio sentimento de justiça. A presente ação direta de inconstitucionalidade, tem como principal fundamento a manifesta ilegalidade contida nas determinações do texto da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, que ao criar os cargos de escrivão de polícia substituto e agente de polícia substituto, nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil, alterando a Lei Estadual n.° 16.901, de 26 de janeiro de 2010; por desvio de finalidade da norma, e ainda por ferir: a) o princípio da irredutibilidade de subsídios, prevista no artigo 92, inciso XVII, e artigo 95, II, ambos da Constituição do Estado de Goiás, bem como no artigo 37, inciso XV, da BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 12 Constituição Federal; b) o princípio da isonomia, uma vez que cria cargos na carreira da Polícia Civil, sem identificar sua função específica, o que levaria a situação de servidores desenvolvendo a mesma função, mas com remuneração distinta, sendo uma muita aquém da outra; c) os critérios de remuneração estabelecidos nos incisos I, II e III, do §1º, do artigo 94, da Constituição do Estado de Goiás; e d) o direito à aposentadoria, prevista no inciso XVI, do artigo 95, da Constituição do Estado de Goiás, uma vez que ao prolongar a carreira que antes era de 20 anos, para 24 anos, diminuirá a possibilidade de o servidor se aposentar no topo da carreira. O que será melhor esmiuçado nos tópicos seguintes. 2.2.1 Do desvio de finalidade da norma atacada: A norma estadual, ora atacada, afirma que dispõe acerca da criação de novos cargos nas respectivas carreiras de Policial Civil e Escrivão de Polícia da Delegacia-Geral da Polícia Civil do Estado de Goiás. In casu, a norma combatida tem em sua ementa o seguinte: Cria os cargos de Escrivão de Polícia Substituto e Agente de Polícia Substituto nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil e altera a Lei n. 16.901, de 26 de janeiro de 2010. Extrai-se do Ofício Mensagem n.º 34, de março de 2016, enviado à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, que o ilustre Governador do Estado afirma que “a propositura anexa busca criar 220 (duzentos e vinte) cargos de Escrivão de Polícia Substituto e 280 (duzentos e oitenta) cargos de Agente de Polícia Substituto. ” Contudo, insta salientar que existe uma importante ressalva, de que a Lei visa “reduzir, na mesma proporção, os quantitativos hoje existentes para os cargos de Escrivão de Polícia de 3ª Classe e Agente de Polícia de 3ª Classe, de modo que não há previsão de impacto orçamentário financeiro em decorrência de sua aprovação e posterior conversão em Lei”. [grifo e negrito não original] Não ocorrerá efeitos orçamentários financeiros ao erário de forma negativa e imediata, pois a finalidade da Lei não é a de criar novos cargos, mas sim de transferir vagas de um cargo para outro com a nefasta intenção de dar aparência de legalidade a um ato que afronta flagrantemente a Constituição Estadual, no que se reporta à irredutibilidade de subsídios dos servidores públicos estaduais. Se de fato a intenção fosse a de constituir novos cargos, não haveria a manifesta transferência de vagas de uma classe melhor remunerada para outra com proventos vergonhosos e desproporcionais frente ao servidor público que exercerá as mesmas funções. O que demonstra, de forma cristalina, que a bem da verdade, a malfada Lei Estadual, não acrescenta um único novo cargo ao efetivo da Polícia Civil, se limitando, tão somente, a um manejo legislativo, com o único objetivo de diminuir a remuneração dos policiais civis, e assim reduzir os gastos do Governo do Estado de Goiás com a Segurança Pública. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 13 A Lei Estadual n.° 16.901/2010, com a antiga redação dada pela Lei Estadual n.º 17.902, de 27 de dezembro de 2012, previa em seu artigo 99, inciso IV, 490 (quatrocentos e noventa) cargos de Escrivão Policial de 3ª classe; assim como em seu artigo 100, inciso IV, 936 (novecentos e trinta e seis) cargos de Agente de Polícia de 3ª classe. Contudo, com a nova redação dada pelo artigo 2º da Lei Estadual sob análise, ao artigo 99, inciso IV, esse quantitativo passou a ser de apenas 270 (duzentos e setenta) cargos de Escrivão Policial de 3ª classe; e ao artigo 100, inciso IV, esse quantitativo passou a ser de apenas 656 (seiscentos e cinquenta e seis) cargos de Agente de Polícia de 3ª classe. Ou seja, a alteração legislativa, imposta pela Lei Estadual, ora em discussão, representou uma diminuição de 220 (duzentos e vinte) cargos de Escrivão Policial de 3ª classe; e de 280 (duzentos e oitenta) cargos de Agente de Polícia de 3ª Classe. Acontece, que a mesma Lei Estadual (que encontra-se sob análise desta Ação Direta de Inconstitucionalidade) que alterou a Lei Estadual n.° 16.901/2010, para modificar o inciso IV, do artigo 99, para reduzir em 220 (duzentos e vinte) cargos, o efetivo de Escrivão Policial de 3ª classe; e modificar o inciso IV, do artigo 100, para reduzir em 280 (duzentos e oitenta) cargos, o efetivo de Agente de Polícia de 3ª classe; criou 220 (duzentos e vinte) cargos de Escrivão de Polícia Substituto, e 280 (duzentos e oitenta) cargos de Agente de Polícia Substituto, através da inclusão do inciso V, ao artigo 99, e da inclusão do inciso V, ao artigo 100, ambos da Lei Estadual n.° 16.901/2010. É certo que é de competência do Governador do Estado a inciativa de Projeto de Lei que trate do provimento ou extinção de cargos públicos estaduais (inciso XII, art. 37 da Constituição Estadual de Goiás). Todavia, o termo ‘prover’ significa abastecer, munir, fornecer e guarnecer, não transferir, transladar e\ou deslocar. Logo, é evidente que há uma clara inconstitucionalidade e desvio de finalidade da Lei, que tenta sorrateiramente a redução dos subsídios da classe de Policiais Civis do Estado de Goiás. Como dito acima, a Lei ora impugnada tem como intenção, tão somente, a redução dos subsídios dos Policiais Civis do Estado. Uma vez que serão reduzidos os cargos deAgente e Escrivão de Polícia de 3ª Classe, para contratação, de Agente e Escrivão de Polícia Substitutos, a uma remuneração, muito abaixo, dos policiais que encontram-se já em efetivo serviço público, tornando notório o desvio de finalidade da presente Lei. A Lei n.º 4.717, de 29 de junho de 1965, que regula a ação popular, retrata para fins meramente didáticos e instrutivos o que se entende por desvio de finalidade, em seu artigo 2º, alínea “e”, e também na alínea “e”, de seu parágrafo único, o que será também demonstrado para fins de se deixar exposto o desvio de finalidade da Lei ora impugnada, in verbis: Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...) e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 14 (...) e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. [grifo e negrito não originais] Nota-se que os atos perpetrados pelo administrador público, seja em suas competências típicas ou atípicas, que tenham em suas raízes propósitos que não sejam os previstos pela Constituição ou Leis infraconstitucionais, obedecida à hierarquia das normas, devem ser anulados (leia-se: retirados do mundo jurídico por manifesta inconstitucionalidade e\ou ilegalidade). No caso sub judice, é de competência do Governador do Estado iniciativa de Lei que disponha sobre os servidores públicos, criação ou extinção de cargos e seus respectivos subsídios. É o que dispõe a alínea b, do inciso II do §1º do artigo 20, assim como no inciso XII do artigo 37, ambos da Constituição do Estado de Goiás: Art. 20. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão da Assembleia Legislativa, ao Governador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Procurador-Geral de Justiça e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta e na Constituição da República. § 1º São de iniciativa privativa do Governador as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) b) Os servidores públicos do Estado, seu regime jurídico, a criação e o provimento de cargos, empregos e funções na administração direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo, a estabilidade e aposentadoria, e a fixação e alteração de sua remuneração ou subsídio; (...) Art. 37 - Compete privativamente ao Governador do Estado: (...) XII – prover e extinguir os cargos públicos estaduais, na forma da lei; Muito embora, seja competência do Governador do Estado de Goiás a iniciativa de leis que disponham sobre os servidores públicos, assim como o provimento e a extinção de cargos públicos, e ainda conste da referida Lei, a “criação” de cargos, restou demonstrado que a finalidade de tal norma, é outra, a saber, a redução de gastos com a remuneração de policiais civis em início de carreira. Desse modo, não afigura-se, na norma legal questionada qualquer razoabilidade, tampouco proporcionalidade, diante da gritante redução salarial e da aviltante extensão da carreira, de uma classe tão importante para toda a coletividade, devendo esta ser melhor remunerada e gratificada pelo esmero em seu labor cotidiano, além de merecer melhor tratamento pelo Estado em retribuição às BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 15 consequências físicas ao ser humano policial que encontra-se diuturnamente enfrentando o perigo em prol do cidadão. Mais a mais, questiona-se o motivo pelo qual a legislação prevê a redução da classe inicial dos respectivos cargos da Lei anterior (3ª Classe, nível I), transferindo em número exato as vagas para os cargos ‘criados’ pela supradita Lei. Se houvesse realmente interesse do Poder Público em prover, municiar ou abastecer de funcionários públicos a serem lotados na Polícia Civil, auxiliando destarte a população a obter um melhor e mais efetivo serviço de segurança pública, não haveria supressão daquelas vagas. Assim, tendo havido desvio de finalidade, da norma atacada, a sua inconstitucionalidade se aflora cristalina. 2.2.2 Da inconstitucionalidade decorrente da afronta ao princípio da irredutibilidade de subsídios, prevista no artigo 92, inciso XVII, e artigo 95, II, ambos da Constituição do Estado de Goiás, bem como no artigo 37, inciso XV, da Constituição Federal: Os Policiais Civis e Escrivães de Polícia exercem um mister fundamental para a garantia da paz social, principalmente no que se refere à investigação de delitos, prezando sempre pela boa e fiel aplicação da Lei penal ao caso concreto, visando sempre reprimir o infrator e dar segurança ao sujeito de bem, trabalhador, o que demonstra que a criação destes ‘novos cargos’ e com a previsão salarial do art. 4º não guarda qualquer proporcionalidade e é, de fato, uma vergonha. O regime jurídico dos servidores públicos até pode ser alterado, desde que preservado o valor global da sua remuneração, o que significa dizer que não cabe ao administrador público simplesmente elaborar uma Lei com o fim específico de diminuir o quantitativo de um determinado cargo com remuneração já prevista, para a incorporação em outro cargo, criado para exercer as mesmas atribuições funcionais, percebendo subsidio ínfimo. O que deixa claro e evidente a desvirtuação da Lei e, via de consequência, a infração ao valor global da remuneração do servidor, lesionando frontalmente os preceitos da Constituição Estadual, mormente aos princípios implícitos da proporcionalidade, razoabilidade, isonomia e o princípio explicito da irredutibilidade de subsídios. A Lei, ora em discussão, se justifica no argumento de hipotético aumento do efetivo de policiais, para reforço dos trabalhos de Segurança Pública em nosso Estado. Contudo, não há, em verdade, criação de novas vagas para incremento dos quadros de Agentes e Escrivães da Polícia Civil do Estado de Goiás, mas tão somente um remanejamento de vagas, com a condenável finalidade de reduzir os gastos com a Segurança Pública, com a contratação de mão de obra barata, para a prestação de serviço público de tamanha importância, quando a imperiosa necessidade é que medida inversa fosse tomada. Contudo, conforme já demonstrado acima, a malfada Lei Estadual, não acrescenta um único novo cargo ao efetivo da Polícia Civil, se limitando, tão somente, a um manejo legislativo, com o único objetivo de diminuir a remuneração dos policiais civis, e assim reduzir os gastos do Governo do Estado de Goiás com a BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 16 Segurança Pública. Uma vez que serão reduzidos os cargos de Agente e Escrivão de Polícia de 3ª Classe, para contratação, de Agente e Escrivão de Polícia Substitutos, a uma remuneração, muito abaixo, dos policiais que encontram-se já em efetivo serviço público. O artigo 4º, da norma estadual sob ataque, prevê como subsidio para os Agentes e Escrivães de Polícia, substitutos, nos quadros da Polícia Civil do Estado de Goiás, o valor de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Vejamos: Art. 4º O subsidio dos cargos de Escrivães de Polícia Substituto e Agente de Polícia Substituto éfixado em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Contudo, é de se assustar a discrepância entre o valor acima citado com o subsidio dos policiais da antiga classe inicial de Agentes e Escrivães Policiais que é de R$ 3.978,19 (três mil, novecentos e setenta e oito reais e dezenove centavos), ou seja, é uma diferença de R$ 2.478,19 (dois mil, quatrocentos e setenta e oito reais e dezenove centavos) para cargos que, nos termos da omissão encontradiça na referida norma, exercerão as mesmas funções e atribuições, com a mesma importância na guarda dos interesses sociais da segurança pública. É uma desproporcionalidade monstruosa com as atribuições e a natureza de risco dos cargos de Agente e Escrivão Policial que diuturnamente estão sujeitos à morte em defesa da paz social e da ordem pública. Essa desproporcionalidade só evidencia que a finalidade da Lei é a de reduzir o valor dos subsídios, dificultar a promoção e o avanço na carreira, bem como para ampliar a carreira policial, definindo um tempo que destoa da natureza jurídico-social dos cargos de Policial Civil e Escrivão de Polícia. Nesta toada, evidencia-se que não existe realmente a criação de cargos, mas tão somente a transferência de vagas de uma classe melhor remunerada, Agente Policial e Escrivão de Polícia de 3ª Classe – com subsidio máximo de R$ 3.978,19 (três mil, novecentos e setenta e oito reais e dezenove centavos), para uma classe de remuneração pífia, no valor de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). É em razão desta situação, que, mais do que manifestou o Excelentíssimo Senhor Governador do Estado, sobre os efeitos para o orçamento estatal, o que haverá é a sua ampliação, com a redução dos gastos com a remuneração dos policiais civis em inícios de carreira. É inequívoco direito dos servidores públicos estaduais, com fundamento nos objetivos fundamentais do Estado e no art. 95, II, da Carta Política Estadual, a irredutibilidade dos subsídios. Senão, vejamos: Art. 95. São direitos dos servidores públicos do Estado, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) II - irredutibilidade dos vencimentos, proventos ou subsídios, observado o inc. XVII, do art. 92; BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 17 Ademais, há de ressaltar que constitui objetivos fundamentais do Estado de Goiás “contribuir para uma sociedade livre, justa, produtiva e solidária” (art, 3º, I, da Constituição Estadual), e “promover o desenvolvimento econômico e social, erradicando a pobreza e a marginalização e reduzindo as desigualdades regionais e as diferenças de renda” (art. 3º, II, da Constituição Estadual). A medida tomada pelo Governador do Estado de Goiás, ao editar a Lei, em discussão, que prevê subsidio de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) a um Policial Civil constitui franca violação aos objetivos fundamentais acima citados. Destarte, os incisos do §1º do art. 94 da Constituição do Estado de Goiás, (cópias dos incisos do §1º do art. 39 da Magna Carta), asseveram o seguinte: Art. 94 - O Estado e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. § 1º - A fixação dos padrões de vencimentos e dos demais componentes do sistema remuneratório observará: I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; II – os requisitos para a investidura; III – as peculiaridades dos cargos. Todavia, os critérios impostos pela norma Constitucional, para a fixação dos padrões de vencimentos e dos demais componentes do sistema remuneratório, foram flagrantemente ignorados, na fixação da remuneração dos Agentes e Escrivães de Polícia Substitutos. Não se pode olvidar que cabe ao administrador público criar métodos capazes de poupar o erário, mormente ante a atual situação da economia brasileira. Porém, o que se vê é a redução do efetivo da Polícia Civil do Estado de Goiás, para a criação de cargos pior remunerados, o que configura indubitável redução salarial da categoria, o que inexoravelmente inviabiliza a eficácia, da citada norma estadual, por afronta direta à Constituição do Estado de Goiás, conforme já exaustivamente demonstrado. 2.2.3 Da inconstitucionalidade decorrente da afronta ao princípio da isonomia, bem como aos critérios de remuneração estabelecidos nos incisos I, II e III, do §1º, do artigo 94, da Constituição do Estado de Goiás: O princípio da isonomia ou também chamado de princípio da igualdade é o pilar de sustentação de qualquer Estado Democrático de Direito. O sentimento de igualdade na sociedade moderna pugna pelo tratamento justo aos que ainda não conseguiram a viabilização e a implementação BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 18 de seus direitos mais básicos e fundamentais para que tenham não somente o direito a viver, mas para que também possam tem uma vida digna. Este princípio remonta as mais antigas civilizações e esteve sempre embutido, dentro das mais diversas acepções de justiça mesmo que com interpretações diferentes, umas mais abrangentes outras nem tanto, ao longo da história. O Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943, mais conhecido como Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), embora não seja aplicável ao caso, do ponto de vista didático, nos traz interessante conceito de isonomia: Art. 461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade. No tocante, ao serviço público, a eminente Ministra Cámem Lúcia, em julgamento da ADI n.º 4303, no colendo Supremo Tribunal Federal, assim consignou: Servidores que ocupam os mesmos cargos, com a mesma denominação e na mesma estrutura de carreira, devem ganhar igualmente (princípio da isonomia). (ADI 4303, Rela. Mina. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 05/02/2014, DJe 28/08/2014). Neste sentido, os incisos do §1º do art. 94 da Constituição do Estado de Goiás, (cópias dos incisos do §1º do art. 39 da Magna Carta), asseveram o seguinte: Art. 94 - O Estado e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. § 1º - A fixação dos padrões de vencimentos e dos demais componentes do sistema remuneratório observará: I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; II – os requisitos para a investidura; III – as peculiaridades dos cargos. Constata-se, em percepção não exaustiva, que o Constituinte derivado impôs a necessidade de fixação de particularidades dos cargos pertencentes ao funcionalismo público, de modo que cabe ao administrador público, exercendo sua competência exclusiva para criar cargos públicos, descrever de forma pormenorizada quais são as peculiaridades do cargo, “a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos” daquela carreira. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 19 Cabe, outrossim, ao elaborador da Lei de criação decargos, fazer constar, impreterivelmente, quais são as atribuições e obrigações do cargo, de modo que sua remuneração\subsidio deverá guardar consonância com a natureza, importância e grau de complexidade da profissão, além de não dar sorte a qualquer usurpação de outro cargo já definido anteriormente, ferindo, assim, a isonomia do cargo. No caso em tela, não há qualquer discriminação de atribuição ou função dos Agentes de Polícia Substitutos e Escrivães de Polícia Substituto, fazendo, destarte, presumir que estes irão possuir as mesmas atribuições dos Policiais e Escrivães de Classes superiores. Nesta toada, vejamos o que dispõe a Lei contraditada, in verbis: Art. 1º. Ficam criados, nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil, da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária, os cargos de Escrivão de Polícia Substituto e Agente de Polícia Substituto, com quantitativos de 220 (duzentos e vinte) e 280 (duzentos e oitenta) unidades, respectivamente. O artigo supramencionado não dispõe, nem de forma sutil, quais serão as atribuições do cargo de Escrivão e Agente de Polícia Substitutos. Prevê, de forma genérica e abstrata, a hipotética “criação” daqueles cargos nas respectivas carreiras da Delegacia-Geral da Polícia Civil. Em sendo assim, é evidente que a Lei é inconstitucional, neste sentido, visto que era impositivo ao legislador prever as delimitações, atribuições e responsabilidade dos cargos criados, sob pena de dar sorte a usurpação de cargos, nos termos já expostos acima. Desta toada, além da possibilidade de os Agentes e Escrivães de Polícia Substitutos vierem a exercer atividades que são atribuídas a outros cargos, ficará patente o desvirtuamento consequente dessa norma legal quanto à desproporcionalidade de subsídios, onde funcionários públicos de uma mesma unidade ou órgão, exercerão as mesmas atividades e atribuições, com subsídios que variam, no mínimo, em R$ 2.478,19 (dois mil, quatrocentos e setenta e oito reais e dezenove centavos). Insta salientar, ainda, que o presente caso se destoa de forma relevante dos casos julgados acerca da criação de cargos comissionados. Aqui, trata-se de cargos de caráter efetivo, que foram criados com fim de tão somente reduzir os salários dos servidores públicos, estendendo a carreira policial que é de risco, o que gerará efeitos devastadores tanto à saúde física e mental dos policiais e escrivães, quanto na dotação orçamentária do Estado de Goiás a longo tempo. Há de se destacar ainda que é dever do Estado a organização de seus serviços públicos essenciais e de utilidade pública (art. 5º, V, da Constituição Estadual) com o fim de se manter a segurança e a ordem pública (art. 5º, XI, da Constituição Estadual). Porém, a criação de um dito novo cargo que não prevê qualquer discriminação de suas específicas atribuições, fazendo presumir que são as mesmas dos Policiais Civis e Escrivães de Polícia de 3ª Classe, chega-se ao entendimento de que não se vislumbrou qualquer das obrigações estatais acima BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 20 descritas como finalidade norteadora da elaboração da Lei impugnada, mas tão somente um interesse econômico ilegal, que não observou, nem em primeiro momento, o interesse público e a obrigação de agregar maiores meios para se chegar a uma melhor Segurança Pública no nosso querido Estado de Goiás. Desta forma, diante da flagrante afronta ao princípio da isonomia, bem como ao entabulado nos incisos do §1º, do artigo 94, da Constituição do Estado de Goiás, mais uma vez a inconstitucionalidade norma discutida se impõe. 2.2.4 Da inconstitucionalidade decorrente do prolongamento da carreira policial, em mais quatro anos: A carreira de Agente e Escrivão da Polícia Civil do Estado de Goiás, até então, dividida em quatro classes (3ª Classe, 2ª Classe, 1ª Classe, e Classe Especial), e 10 níveis, demandava em torno de 20 (vinte) anos para alcance do topo. Contudo, com as alterações trazidas, pela Lei ora questionada, aumentou-se mais quatro anos para tal intento, com a criação das classes de Agente de Polícia Substituto e Escrivão de Polícia Substituto. Destaca-se que a Lei em debate faz menção a criação de um cargo, e, em alteração substancial das respectivas carreiras, tendo em vista que há previsão também de alteração quanto ao prazo de permanência naqueles cargos que passam a constituir as classes iniciais das respectivas carreiras (parágrafo único do art. 54 da Lei 16.901, de janeiro de 2010 c\c e incisos do art. 3º da norma atacada). Após a vigência da norma questionada, a carreira policial foi absurdamente alterada, aumentando o tempo necessário para que Agentes e Escrivães de Polícia cheguem ao merecido topo da carreira, com subsídios proporcionais e razoáveis diante da incontestável importância e da experiência do agente público obtidas durante tantos anos na frente da defesa dos cidadãos. Em virtude do que dispõe o art. 3ª da referida lei, os novos servidores públicos que ocuparão os ‘cargos’ de Escrivão e Agente de Polícia Substitutos terão que permanecer na ativa por pelo menos 24 (vinte e quatro) anos. E acabará fazendo jus, por consequência, nos termos da legislação referente à matéria que regula a concessão de aposentadoria especial a policiais e escrivães de polícia (Lei Complementar 59, de 13 de novembro de 2006 c\c art. 53 da LC 77, de 22 de janeiro de 2010), ao necessário pagamento do abono de permanência (art. 1º da Lei Complementar Estadual n.º 118, de 06 de novembro de 2015, que altera a Lei Complementar Estadual n.º 77, de 22 de janeiro de 2010, que dá expresso direito ao abono de permanência ao Policial Civil que, preenchidos os requisitos para aposentar-se, continua na ativa), além de que em razão do desgaste natural da profissão, aumentará a quantidade de pedidos de licença médica e outros consectários lógicos, o que, evidentemente, levará a um gasto astronômico para o erário. Ademais, não houve o necessário estudo, conforme em linhas pretéritas exposto, sob o efeito desta medida na previdência social no que se refere ao benefício do abono de permanência a longo prazo. BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 21 Não se pode deixar de salientar que com a redução do número de vagas de Agente e Escrivão de 3ª Classe, haverá também maior dificuldade para as promoções, em virtude da escassez de vagas, levando os policiais a permanecer por maior tempo em uma determinada classe. Assim, evidencia-se novamente que a norma sob censura foi elaborada não com intuito de manter a segurança e a ordem pública (art. 5º, XI, da Constituição Estadual), agregando maior força policial aos quadros da Polícia Civil do Estado de Goiás, mas sim com intuito de estender a carreira, de uma categoria que por sua natureza é estressante, perigosa e que expõe o funcionário público a intemperes que pode leva-lo à morte, violando, consequentemente o princípio da dignidade da pessoa humana (inciso XII do art. 5º da Lei Maior do Estado). Portanto, diante do ilegal prolongamento da carreira policial, sem estudos dos impactos desta medida na previdência do Estado, a sua inconstitucionalidade, novamente, se impõe. 3. DOS PEDIDOS: Ante ao exposto, diante dos argumentos lançados acima, que expõem inúmeras irregularidades, formais e materiais da norma impugnada, demonstrando flagrante desrespeito à hierarquia das normas jurídicase aos princípios da isonomia, dignidade da pessoa humana, eficiência, moralidade pública, razoabilidade e proporcionalidade, é que requer o que segue: I. A concessão da tutela de urgência cautelar pleiteada, liminarmente, com o fim de se fazer suspender a eficácia da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, tendo em vista os efeitos prejudiciais aos funcionários públicos diretamente atingidos e os efeitos reflexos para o erário; II. A intimação do douto Procurador-Geral de Justiça para manifestar- se no feito, nos termos do art. 60, §2º da Constituição Estadual; III. A intimação do ilustre Procurador-Geral do Estado para os fins previstos no §3º do art. 60 da Lei Maior Estadual; IV. A declaração da inconstitucionalidade material da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, decorrente de manifesto desvio de finalidade da norma, e ainda por ferir: a) o princípio da irredutibilidade de subsídios, prevista no artigo 92, inciso XVII, e artigo 95, II, ambos da Constituição do Estado de Goiás, bem como no artigo 37, inciso XV, da Constituição Federal; b) o princípio da isonomia, uma vez que cria cargos na carreira da Polícia Civil, sem identificar sua função específica, o que levaria a situação de servidores desenvolvendo a mesma função, mas com remuneração distinta, sendo uma muita a aquém da outra; c) os critérios de remuneração estabelecidos nos incisos I, II e III, do §1º, do artigo 94, da Constituição do Estado de Goiás; e d) o direito à aposentadoria, BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 22 prevista no inciso XVI, do artigo 95, da Constituição do Estado de Goiás, uma vez que ao prolongar a carreira que antes era de 20 anos, para 24 anos, diminuirá a possibilidade de o servidor se aposentar no topo da carreira. V. A declaração da inconstitucionalidade formal da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, decorrente ausência de discriminação das responsabilidades, atribuições e funções dos cargos ditos criados, em infração aos ditames do §1º, do artigo 94, da Carta Politica Estadual; VI. A declaração de total inconstitucionalidade da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, por afronta aos princípios constitucionais, da razoabilidade, proporcionalidade e isonomia; VII. A declaração de total inconstitucionalidade da Lei Estadual n.º 19.275 de 28 de abril de 2016, por afronta aos objetivos, princípios e dispositivos da Constituição Estadual, mormente os arts. 3º, I e II; e 5º, V, XI e XII. VIII. A oportunidade para sustentação oral na apreciação desta Ação Direta de Inconstitucionalidade por esta Egrégia Corte. Sem mais para o momento, são estes os termos que, cumpridas as formalidades legais, aguarda-se o mais célere deferimento, para que se preste justa homenagem à Constituição da República, à Doutrina, à Jurisprudência e ao Direito, tornando-se a respeitável decisão a ser proferida, um instrumento de expressão da tão desejada justiça! Goiânia/GO, 02 de maio de 2016 Bruno Aurélio Rodrigues da Silva Pena OAB/GO n.º 33.670 Wilson Alexandre da Mata e Silva OAB/GO n.º45.847 BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - contato@brunopena.adv.br Página 23 Anexos: Doc.1 - Procuração; Doc.2 - Atos constitutivos e documentos pessoais dos outorgantes; Doc.3 - Cópia do Diário Oficial n.º 22.315, de 02.05.2016, no qual foi publicada a Lei Estadual n.º 19.275, de 28.04.2016; Doc.4 - Cópia do Processo Legislativo que tramitou na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás.
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