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1 2 APRESENTAÇÃO 5 AULA 1: PENSAMENTO FILOSÓFICO E APRENDIZAGEM 6 INTRODUÇÃO 6 CONTEÚDO 7 CONCEPÇÕES DO SENSO COMUM SOBRE APRENDIZAGEM 7 CONCEITUANDO APRENDIZAGEM 8 ENSINO E SISTEMATIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM 10 ENSINO E EDUCAÇÃO: O PAPEL DA UNIVERSIDADE 11 TEORIAS DA APRENDIZAGEM 12 INFLUÊNCIA DA FILOSOFIA NA APRENDIZAGEM 13 TEORIAS E ESCOLAS NO CAMPO DA APRENDIZAGEM 15 ATIVIDADE PROPOSTA 17 REFERÊNCIAS 18 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 19 AULA 2: ELEMENTARISMO E ESTRUTURALISMO 25 INTRODUÇÃO 25 CONTEÚDO 25 ABORDAGENS PSICOLÓGICAS: CRIAÇÃO DE PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 25 PSICOLOGIA ESTRUTURAL E ELEMENTARISTA 26 ASSOCIACIONISMO 27 TEORIA BEHAVIORISTA 27 CONTRIBUIÇÕES DO BEHAVIORISMO 29 GESTALTISMO: OUTROS CAMINHOS PARA A EDUCAÇÃO 31 PRINCÍPIOS DA PSICOLOGIA DA FORMA 34 CONTRIBUIÇÕES DO GESTALTISMO 35 ATIVIDADE PROPOSTA 36 REFERÊNCIAS 37 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 37 AULA 3: CONSTRUTIVISMO E INTERACIONISMO 40 3 INTRODUÇÃO 40 CONTEÚDO 41 TEORIAS ULTRAPASSADAS 41 PRINCÍPIO DA TRANSFORMAÇÃO 41 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA 43 CONSTRUTIVISMO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR 45 CONSTRUTIVISMO E EDUCAÇÃO: PAPEL DO PROFESSOR 47 CONSTRUTIVISMO E EDUCAÇÃO: PAPEL DO ALUNO 48 ATIVIDADE PROPOSTA 50 CRÍTICAS AO CONSTRUTIVISMO 50 INTERACIONISMO: INTERAGIR É PRECISO 51 CONSTRUTIVISMO X INTERACIONISMO 52 INTERACIONISMO E EDUCAÇÃO: PAPEL DO PROFESSOR 52 REFERÊNCIAS 53 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 54 AULA 4: RELAÇÕES ENTRE APRENDIZAGEM E CULTURA 57 INTRODUÇÃO 57 CONTEÚDO 58 SER HUMANO = SER SOCIAL 58 CONCEITUANDO CULTURA 59 CULTURA E APRENDIZAGEM 61 SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 62 ATIVIDADE PROPOSTA 1 63 PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO 64 POSTURA DO PROFESSOR 65 ATIVIDADE PROPOSTA 2 65 REFLETINDO SOBRE A DOCÊNCIA 65 REFERÊNCIAS 66 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 67 CHAVES DE RESPOSTA 70 AULA 1 70 ATIVIDADE PROPOSTA 70 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 70 4 AULA 2 72 ATIVIDADE PROPOSTA 72 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 73 AULA 3 74 ATIVIDADE PROPOSTA 74 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 74 AULA 4 75 ATIVIDADE PROPOSTA 1 75 ATIVIDADE PROPOSTA 2 76 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 76 CONTEUDISTA 78 5 Algumas teorias da aprendizagem são reconhecidas historicamente e possuem grande importância para o processo de ensino e aprendizagem. Através deste estudo, você conhecerá algumas delas e compreenderá as bases da prática de construção do saber. A ideia é que você possa aprimorar seus conhecimentos para, quem sabe, atuar na área de Docência do Ensino Superior. Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: 1. Reconhecer as relações entre as origens do pensamento filosófico e as teorias da aprendizagem, para fins de compreensão do processo de ensino e aprendizagem; 2. Definir e diferenciar os conceitos de ensino, aprendizagem e educação; 3. Relacionar a constituição sócio-histórica do sujeito e a construção ativa do conhecimento. 6 Introdução Nesta aula, estudaremos as origens do pensamento filosófico e o conceito de aprendizagem, bem como sua implicação no Ensino Superior. Para darmos início à discussão sobre o processo de aprendizagem e a construção do conhecimento, é importante entender a relação entre essa noção e outros conceitos, tais como os de Psicologia, ciência, senso comum, aprendizagem, educação etc. Afinal, essas concepções estão imersas no cotidiano de professores e alunos. Por fim, destacaremos o papel da universidade – instituição que relaciona, constantemente, a ciência com a vida em sociedade. Objetivos 1. Definir conceitos relacionados ao processo de aprendizagem; 2. Estabelecer as relações entre as origens do pensamento filosófico e as teorias da aprendizagem. 7 Conteúdo Concepções do senso comum sobre aprendizagem Antes de iniciarmos este estudo, você saberia responder o que é APRENDIZAGEM? Normalmente, em nosso cotidiano, associamos esse termo à mudança de um estado de conhecimento para outro, quando há um ganho quantitativo de informação. Essa é a visão baseada no senso comum1. No entanto, para a Psicologia2, a aprendizagem não é algo tão simples de se compreender e definir. Vamos nos ater à compexidade dessa concepção... Digamos que você receba uma punição, um castigo ou ingira alguma substância – como um medicamento, por exemplo – e esteja emocionalmente abalado. Nesse caso, seu comportamento pode se modificar, sem que, com isso, afirmemos que houve aprendizagem. Da mesma forma, repetir listas de pronomes, poesias, fórmulas matemáticas e textos completos não implica aprender/entender seu sentido ou obter conhecimento acerca desses conteúdos. 1 Senso comum De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), trata-se do conhecimento acumulado no cotidiano, de caráter intuitivo, espontâneo, que é obtido por tentativas de acertos e de erros, e passa de geração para geração, com status de verdade, sem questionamentos sobre sua utilidade e veracidade. 2 Psicologia De acordo com Lefrançois (2012, p. 3), trata-se da “[...] ciência que estuda o comportamento e o pensamento humanos, aquela que busca saber como a experiência: Afeta o pensamento e a ação; Explora os papéis da biologia e da hereditariedade; Examina a consciência e os sonhos; Acompanha a transformação de crianças em adultos; Investiga as influências sociais”. Basicamente, essa área do conhecimento tenta explicar como as pessoas pensam, agem e sentem. 8 Muitas vezes, somos obrigados a decorar determinados assuntos sem que tenhamos a noção completa de sua serventia em nosso dia a dia, em nossa realidade, no contexto em que nos encontramos. Isso certamente já deve ter acontecido com você em algum momento de sua vida. Quantas vezes você memorizou um conteúdo para fazer uma prova? Lembra-se, ainda, desse tema? Provavelmente, não! Nenhuma dessas ações – de memorização ou decodificação de significados – contempla a conceituação de aprendizagem. Mas, então, que aspectos estão por trás dessa definição? Vamos descobri-los a seguir! Conceituando aprendizagem O conceito de aprendizagem toma como base as mudanças efetivas ou potenciais de comportamento que perduram por um tempo relativamente longo. De acordo com Lefrançois (2012, p. 6), essas transformações: “[...] resultam da experiência, mas não são causadas por cansaço, maturação, drogas, lesões ou doença”. 9 Trata-se, portanto, de um processo que só podemos observar a partir de suas evidências. Tais mudanças – potenciais ou não – de comportamento nem sempre são aparentes, mas referem-se à capacidade de fazer algo. Vejamos um exemplo: “Em um experimento clássico, Buxton (1940) manteve, por várias noites, ratos em grandes labirintos. Havia caixas na entrada e na saída (sem alimento). Após algumas noites no labirinto, não havia evidência de que os ratos tinham aprendido algo. Mais tarde, Buxton colocou uma pequena porção de comida nas caixas de saída e posicionou os ratos nas caixas de entrada. Mais da metade deles correu direto para as caixas de saída sem cometer nenhum erro! Isso indicou que os ratos tinham aprendido bastante durante as primeiras noites no labirinto. No entanto, era uma aprendizagem mais latente do que efetiva, ou seja, ela não ficou evidente no desempenho até que houve uma mudança nas disposições – no caso, na motivaçãopara atravessar o labirinto”. Fonte: Lefrançois, 2012, p. 6. Essa é a típica aprendizagem que decorre da experiência. O resultado foi a aquisição de conhecimento mediado pela vivência de uma situação específica! 10 Ensino e sistematização da aprendizagem Até este momento, conseguimos definir a noção de aprendizagem, mas existem outros conceitos que envolvem essa ideia, tais como os de ensino e educação. Vejamos como eles se inter-relacionam, começando pelo primeiro. Você já deve ter ouvido a expressão popular “Eu aprendo com a vida!”. Facilmente, afirmamos que aprendemos em diversos locais – seja junto de nossa família, seja em encontros religiosos, no ambiente de trabalho ou, até mesmo, através de um grupo de amigos. Mas quais seriam as diferenças entre a aprendizagem que ocorre nesses espaços informais e aquela que acontece nas escolas, nas universidades ou nos centros de ensino? É possível traçarmos uma linha de raciocínio nesse sentido... A primeira distinção entre as aprendizagens formal e informal refere-se ao tipo de saber priorizado nos contextos a que nos referimos. Nos espaços educativos, enfatizamos o conhecimento científico3. A segunda nos remete à forma/organização dos temas a serem aprendidos, ou seja, à sistematização do conteúdo e do ambiente em que é desenvolvido. Nesse caso, os assuntos tratados devem tanto provocar situações que 3 Conhecimento científico Diferente do senso comum, o saber originado da ciência implica uma atividade reflexiva – motivo pelo qual é explorado nos espaços organizados e sistematizados para provocar situações de aprendizagem. De acordo com Bock, Furtado e Teixeira, (2008, p. 20), trata-se do: “[...] conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade – que chamamos de objeto de estudo –, expresso por meio de linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade”. 11 possam gerar mudanças efetivas quanto criar necessidades no público-alvo: os alunos. Em outras palavras, é preciso motivar o estudante nesses espaços e incentivar o educador ao ato de ensinar, de instruir e orientar, que pode estar aliado ou não ao processo de aprendizagem. Partindo dessa premissa, Becker (2012) afirma: O ensino é o exercício da docência por excelência. Ensino e educação: o papel da universidade Defendemos, aqui, que o ato de ensinar não pode se opor ao ato e ao desejo de aprender. Ensino e aprendizagem devem andar juntos, valorizando a ação do sujeito como responsável por seu aprendizado e a constituição de sua identidade no meio social. No caso do Ensino Superior, a universidade é, hoje, uma das mais importantes instituições que mediam essa relação do indivíduo com a sociedade. De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), é esse espaço educativo que: Transmite cultura; Reproduz modelos de comportamento e de valores morais; Favorece a troca de padrões do cotidiano por outros pertencentes ao grupo ao qual o aluno almeja fazer parte. 12 Nesse contexto, aplica-se o conceito de educação: “[...] processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano” (HOLANDA, 2010). Em outras palavras, trata-se do processo de aquisição de conhecimento que se deve basear em conceitos pertinentes àquele que se desenvolve: o aluno. Por isso, considerando tal definição, a universidade não pode ser uma instituição isolada da sociedade tampouco segregar os estudantes desse meio. Pelo contrário: ela se constitui como um importante local de troca, de obtenção de informação, em que o grau de cultura adquirido é atestado não só pelo diploma mas também pela qualidade da atuação profissional de seus egressos. Teorias da aprendizagem Agora que já definimos conceitos importantes, vamos compreender como as teorias4 da aprendizagem foram formuladas ao longo da história. Tais vertentes teóricas buscam explicar não só a noção de aprendizagem em si mas também POR QUE e COMO o indivíduo aprende, na tentativa de entender o comportamento humano e suas mudanças. Seu objetivo é prever e planejar situações que possam provocar ou potencializar a capacidade de aprendizado do sujeito, além de descobrir regularidades e esclarecer de que forma são contruídas. 4 Teorias De acordo com Moreira (1999, p. 12), teoria é a: “[...] tentativa humana de sistematizar uma área de conhecimento, uma maneira particular de ver as coisas, de explicar e prever observações, de resolver problemas”. 13 De acordo com Marcondes (2008), o surgimento dessas teorias está associado à criação da Filosofia, na Grécia antiga, por volta do século VI a.C., com Tales de Mileto. Foi a partir do pensamento filosófico e da problemática em torno do saber científico que elas começaram a ser traçadas. Vamos entender melhor, a seguir, a influência dessa área do conhecimento na criação das teorias da aprendizagem. Influência da Filosofia na aprendizagem O nascimento da Filosofia é marcado pelo desejo de rompimento com o pensamento mítico5, que fundamentava a origem do mundo em aspectos sobrenaturais. Por expressar grande insatisfação com os mitos sobre o real, o pensamento filosófico passou a basear suas teorias a respeito da fonte da vida no naturalismo6 – pautado na ciência. Conforme aponta Marcondes (2008), no período inicial de desenvolvimento do método científico – conhecido como Pré-Socrático –, a grande preocupação era a formulação de doutrinas sobre a realidade natural. 5 Pensamento mítico De acordo com Marcondes (2008, p. 20), trata-se da: “[...] forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive – a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos [...]. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado e à magia”. 6 Naturalismo Na Filosofia, trata-se da única forma efetiva de investigar a realidade. De acordo com a visão dos naturalistas, os fenômenos e as hipóteses descritas como sobrenaturais não existem. Todos podem ser estudados pela mente humana através de métodos científicos. Portanto, qualquer fato denominado como tal inexiste ou, simplesmente, equivale a algo natural. Adaptado de: <http://www.notapositiva.com/pt/trbestsup/psicologia/antropologia/naturalismo.htm>. 14 Após esse momento marcado pela discussão sobre a procedência dos fenômenos da natureza, dois filósofos se destacaram e trouxeram contribuições importantes para a questão da aprendizagem. São eles: Sócrates Sócrates (469 a.C. - 399 a.C.) inaugurou a Filosofia Clássica e inseriu a problemática ético-política como questão fundamental para a sociedade da época. Platão Platão (428 a.C. - 347 a.C.) trouxe a discussão sobre o conhecimento e sobre a metodologia de acesso ao saber. Para ele, a Filosofia teria essencialmente uma função crítica e o objetivo de superar o senso comum. Essa superação nos permitiria entender COMO é possível, através de métodolos criteriosos e reflexivos, obter tal acesso. Foi esse filósofo que elaborou a teoria do conhecimento, quepressupõe a possibilidade de elaborar outros matizes teóricos sobre a realidade. De acordo com Lefrançois (2012), a influência desses teóricos – principalmente a de Paltão – foi tão significativa que, a partir dela, estabelecemos as regras básicas do método científico atual: 15 1. Realizar perguntas claras e passíveis de respostas; 2. Fazer um levantamento de hipóteses que possam ser testadas; 3. Coletar observações relevantes capazes de negar ou confirmar as hipóteses criadas; 4. Aplicar a testagem propriamente dita; 5. Desenvolver conclusões. Atenção As teorias que foram – e são – elaboradas até hoje fundamentam-se nesses cinco requisitos. No entanto, ao tentar compreender o comportamento humano e as transformações provocadas pelas experiências vividas pelo sujeito, cada um tentará explicar o processo de aprendizagem a partir da forma como concebe e define o homem. Teorias e escolas no campo da aprendizagem Finalmente, após o período de discussões acerca das noções que envolviam o conhecimento, as teorias da aprendizagem 7 foram produzidas, acompanhadas da criação da Psicologia Científica. Essa conquista diferenciou a nova ciência da Filosofia e impulsionou estudiosos e pesquisadores à produção de conhecimento. Rapidamente, houve um crescimento de investigações na área, um aumento da diversidade 7 Teorias da aprendizagem De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008) e Lefrançois (2012), as teorias da aprendizagem têm sua origem marcada pela criação, em 1879, de um laboratório psicológico em Leipzig, na Alemanha, por Wilhelm Wundt – médico, filósofo e psicólogo que influenciou o desenvolvimento da Psicologia como ciência, tornando-se um dos fundadores da moderna psicologia experimental. Adaptado de: <http://caminhodapsicologia.webnode.com.pt/wundt/>. 16 de temas de estudo e a expansão econômica de diversos países – principalmente os Estados Unidos. As novas formas de ver o mundo e os objetos a seu redor favoreceu o surgimento das Escolas de Psicologia, que forneceram conteúdo para as primeiras teorias da aprendizagem. Vamos conhecer, a seguir, aquelas que são difundidas até hoje... Atualmente, muitas teorias e escolas foram sendo criadas, de onde podemos extrair diversas contribuições importantes para a compreensão do campo da aprendizagem. São algumas delas: Escola associacionista Para este grupo, a aprendizagem ocorria por associação de ideias, e a produção de conhecimento devia pautar-se na utilidade do saber para a vida do sujeito. A partir desta escola, foram elaboradas as teorias sobre o condicionamento humano. Escola estruturalista Este grupo se preocupava com as estruturas de funcionamento do sistema nervoso central e a compreensão dos estados elementares da consciência. Trata-se da escola fundada por Wilhelm Wundt, que deu origem ao gestaltismo8 – assunto sobre o qual discutiremos mais adiante, na aula seguinte. 8 Gestaltismo De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), trata-se de um sistema teórico, criado na Europa, que surge como negação e tentativa de superação da fragmentação das ações e dos processos humanos – aquele que postula a necessidade de compreensão do homem como uma totalidade. Seus teóricos buscaram construir uma psicologia que levasse em consideração as formas da percepção, procurando apreender como as pessoas compreendem seu entorno. 17 Escolas interacionista e construtivista Estes grupos estavam preocupados, basicamente, em descobrir COMO os seres se desenvolviam para, por conseguinte, identificar COMO aprendiam. As informações sobre o desenvolvimento humano lhes permitiram observar e interpretar melhor o comportamento do indivíduo bem como suas formas de aprendizagem. Na próxima aula, apresentaremos, mais detalhadamente, as contribuições desses grupos para o campo da aprendizagem. Atividade proposta Algumas pesquisas sobre práticas pedagógicas realizadas em escolas e universidades apresentam dados positivos em termos de interesse e entusiasmo pela aprendizagem por parte de alunos jovens e adultos. Esses estudantes respondem prontamente às perguntas de professores, oferecem-se para realizar atividades em sala de aula, realizam tarefas propostas etc. O fato de tais educandos demonstrarem gosto pelas aulas e valorizarem as experiências vivenciadas podem apontar para a necessidade de pensarmos em várias maneiras de ensinar. Considerando essas questões, indique de que forma as teorias estudadas podem auxiliar a atuação docente, refletindo sobre o desafio atual do processo de ensino e aprendizagem. 18 Aprenda mais Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula: Assista ao curta-metragem Mestrado da vida; Leia o texto Aprendizagem humana: ciência e teoria – In: Lefrançois, 2008. cap. 1. Referências BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. LEFRANÇOIS, G. R. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cencage Tearming, 2008. MARCONDES, D. Iniciação à história da Filosofia: dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. HOLANDA, A. B. de H. F. Minidicionário Aurélio da língua portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010. MOREIRA, M. A. Teorias da aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999. 19 Exercícios de fixação Questão 1 Refletindo sobre o conhecimento da realidade e os tipos de saberes que existem, analise as frases a seguir: I. O conhecimento utilizado no nosso cotidiano é intuitivo, espontâneo, obtido por tentativas de acertos e de erros. II. A ciência abstrai a realidade para negá-la e construir a única forma do conhecimento verdadeiro: o saber científico. III. A ciência compõe-se de uma atividade eminentemente reflexiva e de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade – expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Entre as afirmativas anteriores, está(ão) CORRETA(S): a) I e II b) II e III c) I e III d) I, II e III e) Somente I Questão 2 Com base nos conceitos de senso comum e de conhecimento científico, relacione as colunas a seguir: 1 - Senso comum ( ) Acrítico 2 - Conhecimento científico ( ) Assistemático ( ) Sistemático ( ) Superficial ( ) Objetivo 20 Questão 3 Sabemos que o conceito de aprendizagem não se relaciona à repetição de ideias e de comportamentos. Essa concepção nos obriga a elaborar novas práticas educativas. Partindo desse princípio, é CORRETO afirmar que, atualmente, no Ensino Superior: a) Os conteúdos informativos e técnicos devem ser priorizados. b) O papel do professor é ensinar apenas os conceitos teóricos de cada disciplina isoladamente. c) As universidades representam centros teóricos de formação de especialistas, nos quais os educadores têm de ensinar práticas cotidianas de cada profissão. d) Os centros universitários precisam favorecer uma boa formação teórico-prática, facilitando o acesso às novas tecnologias, a aprendizagem efetiva e o futuro profissional dos alunos. Questão 4 O trabalho docente requer do professor – particularmente quanto à natureza do conteúdo ensinado – a escolha demétodos que provoquem uma relação efetiva entre o ensino e a aprendizagem. Sobre a forma e a organização do tema a ser tratado no espaço acadêmico, podemos afirmar que: a) Para assumir uma posição dominante em sala, o professor precisa se valer de aulas baseadas no diálogo. b) As aulas têm de incentivar tanto estudantes quanto educadores, associando o ato de ensinar ao processo de aprendizagem. c) As aulas devem-se restringir a uma exposição dialogada, pois essa é a única possibilidade de favorecer as colocações dos alunos e a organização do conteúdo. d) N.R.A. 21 Questão 5 Ao longo de sua história, as instituições escolares foram se transformando. Acompanhadas por mudanças culturais, políticas e sociais, essas entidades sofreram modificações em termos de identidade, de função e de objetivos educativos. No caso do Ensino Superior, não é diferente. Por isso, é CORRETO afirmar que: a) A universidade é um local de impedimento das trocas de padrões do cotidiano com o espaço acadêmico. b) A universidade não pode ser vista como local de transmissão de cultura das classes menos favorecidas. c) A universidade é um espaço de práticas sociais e históricas importante para o crescimento das sociedades. d) N.R.A. Questão 6 Platão elaborou a teoria do conhecimento, que pressupõe a possibilidade de desenvolver concepções sobre a realidade. Os pensamentos desse teórico se refletem, até os dias de hoje, em estudos que envolvem o saber. Como vimos ao longo desta aula, foi a partir de sua influência que estabelecemos as regras básicas da metodologia científica, dentre as quais estão: I. Realizar muitas perguntas, visando ao maior número de respostas possíveis; II. Fazer um levantamento de hipóteses; III. Coletar observações relevantes capazes de negar ou confirmar as hipóteses criadas. 22 Entre os itens anteriores, estão CORRETOS: a) I, II e III b) I e II c) I e III d) II e III e) N.R.A. Questão 7 Analise a seguinte situação... Ao ser questionada sobre as possibilidades de fracasso por parte de seus alunos, certa professora afirma: “Esses jovens não aprendem porque não prestam atenção às aulas!” A fala dessa docente aponta uma visão muito comum entre os educadores – aquela que: a) Inclui, na avaliação do professor, fatores sociais e culturais. b) Implica uma visão ampliada do processo de ensino e aprendizagem. c) Valoriza o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem. d) Associa, indevidamente, o processo de aprendizagem às condições exclusivas dos alunos. 23 Questão 8 As teorias da aprendizagem foram formuladas ao longo da história, buscando explicar a aprendizagem em si e, também, POR QUE e COMO aprendemos. Entre seus objetivos, estão: a) Previsão e controle. b) Organização e controle. c) Previsão e planejamento. d) Organização, previsão e controle. Questão 9 A criação da Psicologia Científica favoreceu a organização de teorias da aprendizagem diferentes da Filosofia e impulsionou estudiosos e pesquisadores à produção de conhecimentos, aumentando a diversidade de temas investigados. Uma das escolas que surgem nesse momento, principalmente nos Estados Unidos, cujas bases defendem o saber prático, denomina-se: a) Estruturalista b) Associacionista c) Construtivista d) Interacionista 24 Questão 10 Para construir relações positivas em sala de aula, o educador precisa conhecer as teorias de aprendizagem. No que diz respeito à prática educativa, é INCORRETO afirmar que tais vieses teóricos: a) Melhoram a qualidade da relação entre professor e aluno no processo de ensino e aprendizagem. b) Colaboram, de forma mecânica, para que o docente compreenda as relações estabelecidas em sala de aula. c) Possibilitam mudanças de atitudes que podem aumentar o sucesso dos alunos no espaço escolar ou acadêmico. d) Contribuem para evitar que o educador, muitas vezes, reproduza as relações de coação que aumentam a dificuldade de aprendizagem e, por consequência, os índices de evasão e reprovação – sejam estes escolares ou universitários. 25 Introdução Nesta aula, você vai conhecer duas das principais correntes filosóficas da Psicologia que muito influenciaram a educação: o elementarismo e o estruturalismo. A partir dessas correntes, surgiram as teorias da aprendizagem behavioristas, e, contrárias a estas, o gestaltismo, que trouxe contribuições significativas para as práticas educativas brasileiras. Aqui, vamos estudar, de forma breve, cada um desses temas, de modo que você possa entender sua importância no contexto acadêmico atual. Objetivo Identificar os principais pressupostos teórico-metodológicos do elementarismo e do estruturalismo nas correntes de aprendizagem contemporâneas. Conteúdo Abordagens psicológicas: criação de pressupostos teóricos Na aula anterior, entendemos que as teorias expressam um conjunto de valores, conceitos e princípios que representam visões de mundo em que nos baseamos para compreender a realidade. Devido à diversidade humana, esses pontos de vista podem divergir ou mesmo se complementar. Foi justamente a partir de concepções distintas e, por vezes, opostas que as correntes teórico-explicativas foram criadas – assunto sobre o qual discutiremos aqui. 26 Aliada ao grande avanço econômico da sociedade, no início do século XX, a característica diversa da Psicologia passou a mobilizar as primeiras abordagens da área. No momento que essa ciência se estabeleceu, diversas correntes se formaram, criando o que podemos chamar de bandeiras de luta ou pressupostos teórico-metodológicos 9 . Isso ocorre quando qualquer saber científico é firmado. Com base, então, nessas escolas, inúmeras teorias foram elaboradas. Vamos conhecer, a seguir, algumas delas! Psicologia estrutural e elementarista Entre as correntes teóricas criadas a partir das abordagens psicológicas, estão o elementarismo e o estruturalismo, que buscam compreender o comportamento humano e a aprendizagem através dos elementos básicos que os compõem. Tanto para a psicologia estrutural quanto para a elementarista, o que importa é estudar os fatores psíquicos e as condutas do homem – aqueles que podem ser observados, medidos e decifrados por meio de investigações em laboratório. Nesse caso, não se enfatizam as características cognitivas do indivíduo, mas as explicações objetivas quanto a suas atitudes diante de situações diversas. 9 Pressupostos teórico-metodológicos Estimativas ou probabilidades teóricas que são testadas e avaliadas na prática cotidiana. As diversas ciências estabelecem seus pressupostos, mas, com a evolução tecnológica e social, eles podem ser refutados ou confirmados. Por isso, algumas teorias se mantêm, outras podem ser ultrapassadas e negadas, sem que, com isso, sejam consideradas sem valor para a história científica em si. 27 De acordo com tais vertentes teóricas, os comportamentos devem ser entendidos a partir da troca entre o sujeito e o meio em que está inserido. Em outras palavras, todo comportamento precisa ser examinado e avaliado com base nas respostas a determinados estímulos. Disso resultou o surgimento da psicologia E-R – Estímulo-Resposta! Associacionismo Na Psicologia, a corrente teórica que representou, a princípio,a concepção apresentada anteriormente foi o associacionismo 10 , cujo primeiro representante chamava-se Edward L. Thorndike11. Esse estudioso elaborou a primeira teoria de aprendizagem: a lei do efeito, pautada em um princípio utilitarista e não filosófico. De acordo com ela, todo comportamento tende a se repetir caso seja recompensado imediatamente após sua emissão. Em caso contrário, essa conduta não acontece. Teoria behaviorista Seguindo a linha de raciocínio anterior e avançando na criação de correntes teórico-explicativas sobre o comportamento humano, surgiu o 10 Associacionismo De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 42): “O termo associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias – das mais simples às mais complexas. Assim, para aprender um conteúdo complexo, a pessoa precisaria, primeiro, aprender as ideias mais simples, que estariam associadas àquele conteúdo”. 11 Edward L. Thorndike Psicólogo e pedagogo norte-americano, um dos pais da psicologia da aprendizagem. De acordo com esse estudioso, podemos reduzir o processo de aprendizagem a várias leis, tais como a da disposição, a do exercício ou do uso e desuso, e a do efeito – a mais importante entre todas essas. Adaptado de: <http://www.biografiasyvidas.com/biografia/t/thorndike.htm>. 28 behaviorismo12. O principal e mais reconhecido teórico dessa vertente de estudo é Burrhus Frederic Skinner13. Às vezes mal compreendido, Skinner desenvolveu seus pressupostos a partir de estudos de behavioristas contemporâneos – entre eles Ivan Pavlov14, Thorndike e John Broadus Watson15. Mas, ao contrário do que se difunde, ele não aceitou uma psicologia E-R simplista e descontextualizada. Skinner defendia que o homem é um ser em constante evolução, que influencia o ambiente e é por ele influenciado. Para o estudioso, a dualidade do condicionamento clássico – E-R – não explica a complexidade de comportamentos humanos. Por isso, ele classificou 12 Behaviorismo De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 58): “O termo behaviorismo foi inaugurado pelo americano John B. Watson, em artigo publicado em 1913, que apresentava o título Psicologia: como os behavioristas a veem. O termo inglês behavior significa comportamento. Por isso, para denominar essa tendência teórica, usamos o termo behaviorismo – além de comportamentalismo, teoria comportamental, análise experimental do comportamento e análise do comportamento”. 13 Burrhus Frederic Skinner Um dos psicólogos de maior influência na América, que baseia seu trabalho nos comportamentos observáveis das pessoas e dos animais. Influenciado pelas ideias de Watson, de Pavlov e de Torndike, Skinner desenvolveu uma nova corrente behaviorista: a análise científica do comportamento. Adaptado de: <http://www.oocities.org/eduriedades/skinner1.html>. 14 Ivan Pavlov Fisiologista e médico russo, criador da teoria dos reflexos condicionados – que influenciou a compreensão do papel do condicionamento na psicologia do comportamento. Adaptado de: <http://www.algosobre.com.br/biografias/ivan-pavlov.html>. 15 John Broadus Watson Um dos psicólogos mais influentes do século XX, autor fundamental da psicologia comportamental. Para Watson, a Psicologia não devia ter nenhum tipo de preocupação introspectiva, filosófica ou motivacional, mas apenas e simplesmente os comportamentos objetivos, concretos e observáveis. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$john-broadus-watson>. Acesso em: 11 fev. 2014. 29 as condutas de maneira deliberada, voluntária, ativa – aquelas capazes de produzir mudanças sobre o ambiente de operantes16. Saiba, adiante, de que forma essas concepções contribuíram para as práticas educativas. Aprenda mais Para saber mais sobre a relação entre condicionamentos e comportamentos operantes bem como refletir sobre seu poder no cotidiano do ser humano, sugerimos que assista ao filme O show de Truman. Contribuições do behaviorismo Todas as teorias são criadas e difundidas dentro de um contexto sócio-histórico. Partindo dessa premissa, vamos entender como as teorias behavioristas iniciais influenciaram a atuação docente. 16 Operantes Sobre a prevalência do comportamento operante, Lefrançois (2012) afirma: “Skinner acreditava que a maioria dos comportamentos importantes nos quais as pessoas se envolvem é operante. Caminhar até a escola, escrever uma carta ou um texto, responder uma pergunta, sorrir para um estranho, coçar a orelha do gato, pescar, limpar a neve com uma pá, esquiar e ler são todos exemplos de comportamentos operantes. Mesmo pensar é operante – uma forma oculta (interna) de comportamento verbal. Embora possa haver estímulos conhecidos e observáveis que, seguramente, levem a alguns desses comportamentos, o ponto crucial é que eles não são centrais em qualquer aprendizagem que ocorrer. O que é central são as consequências das respostas”. 30 No momento de sua elaboração, a Psicologia – enquanto ciência – buscava o reconhecimento desses vieses teóricos. Por isso, eles se disseminaram e ganharam importância. De acordo com Moreira (2011) e Gamez (2013), as ideias originadas do behaviorismo dominaram, durante muito tempo, as atividades didático- pedagógicas – principalmente nas décadas de 1960 e 1970 –, tomando como base a seguinte associação: assim como No ambiente educacional da época, também havia forte necessidade de organizar ações pedagógicas que pudessem sistematizar e potencializar a atuação dos professores, a partir da universalização do ensino. Alguns teóricos engajados na onda behaviorista, principalmente nos Estados Unidos, defendiam que, para reconhecê-la, seria fundamental abandonar a introspecção – olhar para dentro de si –, ou seja, a visão subjetiva dos fatos. Em seu lugar, eles pregavam a importância de seguir as regras do método científico, definindo objetos de estudo claros e precisos, e utilizando procedimentos objetivos de observação e controle. Veja alguns fatores relevantes que fizeram dessa corrente um fundamento tecnológico importante para a área da educação: COMPREENSÃO DO COMPORTAMENTO EDUCADOR ESTUDO DA CÉLULA MÉDICO 31 A seriedade e o rigor metodológico com que os conceitos foram tratados; A busca de explicações objetivas para o comportamento humano; As técnicas criadas e testadas de forma exaustiva. Não podemos nos esquecer de que o comportamento é muito influenciado pelas características do meio e por ele condicionado e moldado. Por isso, ainda hoje, os reflexos do pensamento behaviorista são percebidos no cotidiano de professores e alunos, em situações diversas dentro das quais desejamos manter condutas que favoreçam a aprendizagem. Basta lembrar um pouco de sua própria trajetória educacional: Quantas vezes você foi recompensado ao tirar uma boa nota na escola? Quais eram os prêmios de que você mais gostava? Quais eram aqueles que se empenhava muito para receber? Toda essa metodologia de ensino baseada em estímulos e respostas fundamenta-se nessa corrente teórica! Gestaltismo: outros caminhos para a educação As ideias behavioristas receberam muitas críticas, principalmente devido à ênfase dada à técnica em detrimento do valor humano. Algumas teorias se colocaram declaradamentecontrárias a seus princípios, como é o caso do gestaltismo17. 17 Gestaltismo Também chamado de psicologia da Gestalt ou psicologia da forma. 32 Preocupados em compreender os processos psicológicos que envolviam a ilusão de ótica, alguns teóricos iniciaram estudos sobre a percepção. Entre eles, estão: Max Wertheimer Psicólogo alemão que defendia que a explicação para os fenômenos psíquicos estaria fundamentada na descrição do campo fenomenal. Disponível em: <http://www.knoow.net/ciencsociaishuman/psicologia/wertheimermax.htm>. Acesso em: 11 fev. 2014. Wolfgang Köhler Psicólogo norte-americano que conduziu novos conceitos sobre a percepção, a aprendizagem e a inteligência animal. Disponível em: <http://www.biografiasyvidas.com/biografia/k/kohler_wolfgang.htm>. Acesso em: 11 fev. 2014. Christian Von Ehrenfels Psicólogo e filósofo austríaco que pregava que, para haver apreensão de um objeto, todos os seus componentes deveriam ser percebidos em conjunto. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$ehrenfels>. Acesso em: 11 fev. 2014. Os experimentos nessa área os levaram à fundamentação e ao questionamento de preceitos do behaviorismo. A crítica principal dos gestaltistas a essa corrente teórica referia-se à ideia de que o comportamento estudado de forma isolada do contexto pode perder seu significado. De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), e Burow e Scherpp (1985), para os adeptos do gestaltismo, toda conduta humana deve ser 33 compreendida sempre em seus aspectos mais globais para que possam favorecer bons insights18. Em outras palavras, é a forma como percebemos os estímulos que determina nosso comportamento. O modo como os elementos são organizados dita a qualidade (ou não) desse entendimento. Para que tais aspectos sejam bem avaliados, é necessário: Equilíbrio; Simetria; Estabilidade; Simplicidade. Somente assim, alcançamos o que eles chamam de boa forma – único princípio simples que governa a percepção e o pensamento. Conheça melhor as bases desse princípio a seguir! 18 Insight Fenômeno definido pela psicologia gestáltica como uma compreensão aparentemente imediata, uma espécie de entendimento interno. De acordo com Lefrançois (2012, p. 205), trata-se da: “[...] percepção das relações entre os elementos de uma situação-problema, o que significa solucionar uma dificuldade pelo conhecimento dessas relações. [Por isso, o insight configura-se como um] tipo de pensamento relacional [...]”. 34 Atenção Apesar de essa teoria não apresentar princípios de aprendizagem tão simples e claros quanto os do behaviorismo de Skinner, muitos experimentos da Gestalt foram empregados na área pedagógica. Mas, conforme aponta Lefrançois (2012), essa vertente de estudos da Psicologia: “[...] não é tão facilmente aplicada às firulas das práticas educacionais dentro das salas de aula”. Isso não significa, contudo, que suas implicações sejam irrelevantes. Princípios da psicologia da forma Alguns preceitos gestálticos sobre os estímulos a nossa percepção com vistas à boa forma devem ser respeitados na organização do conteúdo de uma aula, disciplina ou curso e na maneira de apresentá-lo aos alunos. Toda experiência perceptiva ou cognitiva é governada por quatro desses preceitos. São eles: 1. Proximidade – os elementos mais próximos tendem a ser agrupados; 2. Semelhança ou similaridade – os elementos semelhantes são agrupados; 3. Fechamento – os elementos que faltam para garantir a compreensão do conteúdo tendem a ser completados; 35 4. Continuidade – os fenômenos perceptivos tendem a ser percebidos como contínuos. Também há uma orientação aos educadores e pais, por exemplo, nesse sentido: eles devem rejeitar problemas que levem os estudantes à tentativa de resolver questões de inúmeras formas, o que, de acordo com essa corrente teórica, levaria à memorização e à solução por ensaio e erro. Percebemos, então, que a psicologia da forma trouxe grandes contribuições para a educação. Conheça algumas delas adiante. Contribuições do gestaltismo De acordo com Lefrançois (2012, p. 213): “As situações de aprendizagem deveriam ser estruturadas de forma que os aprendizes pudessem ter um insight”. Essa orientação originada do gestaltismo é bastante significativa e deu suporte ao que hoje chamamos de construtivismo19. Ela só reafirma a ideia de que a Gestalt preocupou-se, fundamentalmente, com: A percepção; A consciência; A solução de problemas. Além disso, por ter rejeitado o behaviorismo, os princípios dessa corrente de pensamento abriram espaço para novos questionamentos e posicionamentos 19 Construtivismo De acordo com Lefrançois (2012, p. 214): “As abordagens construtivistas são métodos altamente centrados no aprendiz e refletem a crença de que a informação significativa é construída por ele, e não dada a ele [...]. Os métodos do construtivismo encorajam a aprendizagem pela descoberta, as abordagens cooperativas dentro da sala de aula e a participação ativa do aluno no processo de ensino e aprendizagem”. 36 teóricos – principalmente aqueles que pretendiam valorizar uma aprendizagem mais significativa e menos quantitativa. Na próxima aula, discutiremos mais sobre o construtivismo, mas, agora, vamos aprofundar nossos estudos através de um exercício! Atividade proposta Antes de finalizarmos esta aula, vamos fazer uma atividade! Primeiro, leia os quadrinhos a seguir: Fonte QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Como você percebeu, a professora de Mafalda parece seguir uma das teorias de aprendizagem estudadas ao longo do conteúdo. Identifique-a, justificando sua resposta. 37 Referências BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. GAMEZ, L. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: LTC, 2013. LEFRANÇOIS, G. R. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cencage Tearming, 2008. MOREIRA, M. A. Teorias da aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999. Exercícios de fixação Questão 1 A teoria comportamental ou behaviorista possui vários pressupostos, todos baseados na prevalência do meio sobre as ações do indivíduo. Assim, assinale aquele que mais expressa estes pressupostos: a) O ambiente dá condições de a criança aprender, mas não promove nenhuma modificação em seu comportamento. b) Nem tudo pode ser aprendido – considerando que a criança já nasce com uma determinação biológica, é esta que vai preponderar sobre o ambiente. c) Quando educamos uma criança, temos de levar em conta suas tendências, aptidões e influências genéticas, pois apenas isso é determinante para seu desenvolvimento. d) Tudo pode ser aprendido – crianças saudáveis e bem formadas estão aptas para o treino, o que pouco interfere em suas tendências, aptidões e em suas influências genéticas. 38 Questão 2 Os behavioristas apresentam diversos estudos que comprovam suas teorias. Os mais significativos são aqueles que envolvem estudos com gêmeos. Veja um exemplo: Jonas e João são gêmeos idênticos. Ao nascerem, foram separados e enviados a ambientes diferentes. Depois de alguns anos, compararam seuscomportamentos e ficou comprovado que o menino que estivera submetido ao ambiente mais estimulante apresentava rendimento escolar superior ao de seu irmão, que fora exposto a um ambiente pouco incentivador. Em função do que estudamos, os behavioristas admitem que o rendimento escolar dos gêmeos resultou de: a) Mutação genética. b) Determinação hereditária. c) Desenvolvimento embrionário. d) Predomínio dos fatores ambientais sobre os herdados. Questão 3 A escola behaviorista foi criada nos Estados Unidos, no século XIX, e tinha como objetivo estudar o comportamento humano e as possibilidades de aprendizagem. Muitos conceitos importantes fazem parte dessa teoria, que tem forte aplicação na prática educativa. Entre eles, destacamos a noção de reforço, pensada a partir da lei do efeito, que se pode definir da seguinte forma: a) Forma de extinguir o comportamento, adotando sempre a punição como procedimento. 39 b) Recompensa pelos bons comportamentos humanos, que deve ser aceita universalmente pela população. c) Apresentação de um estímulo agradável ou desagradável, recompensador ou aversivo, que aumenta ou reduz a frequência de algum comportamento. d) Estímulo que utiliza algumas sanções dolorosas para o aumento da produtividade nas empresas e para a aprendizagem de comportamentos adequados no espaço educativo. Questão 4 De acordo com a psicologia da Gestalt, nossa percepção é organizada a partir de alguns princípios básicos que podem facilitar ou prejudicar a apreensão da realidade. Assinale o princípio que NÃO corresponde àqueles descritos por essa abordagem: a) Proximidade b) Semelhança c) Incongruência d) Fechamento Questão 5 Para a psicologia da Gestalt, a forma como percebemos os estímulos determina nosso comportamento, e a maneira pela qual os elementos são organizados dita a melhor qualidade (ou não) de nossa percepção. A esse princípio, os gestaltistas denominaram: a) Insight b) Proximidade c) Boa forma d) Semelhança 40 Introdução Até este momento, você já conheceu algumas teorias importantes para a prática pedagógica. Nesta aula, vamos destacar aquelas que contribuíram para a evolução do trabalho docente. Sendo assim, você estudará as vertentes teóricas da aprendizagem de base construtivista e interacionista. Essas abordagens apoiam muitas práticas de sucesso, pois consideram essenciais os vários atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem e, acima de tudo, a participação ativa de alunos e professores para alcançar um aprendizado efetivo e de qualidade. Objetivo Identificar e descrever os princípios teóricos básicos do construtivismo e do interacionismo, enquanto filosofias e ciências, que embasam a proposta metodológica de uma prática docente de qualidade, atualizada com as mudanças constantes da sociedade e do mercado de trabalho. 41 Conteúdo Teorias ultrapassadas Na primeira aula, conhecemos os principais conceitos em que se baseiam as discussões sobre a área da educação. Na segunda, identificamos os princípios elementaristas e estruturalistas de aprendizagem, bem como duas importantes correntes teóricas que fundamentaram – e ainda fundamentam – muitas práticas educativas: o behaviorismo e o gestaltismo. Para darmos continuidade a nosso estudo, propomos a seguinte reflexão: Quais são, para você, as características que descrevem os bons alunos? Você acredita que seria possível ensiná-las? Como? As teorias que vimos anteriormente foram muito criticadas por diversos teóricos das mais diversas áreas do conhecimento. Em todas as críticas, expressa-se a insatisfação com um modelo que considera o ser humano passivo diante do mundo – o meio em que vive – ou de suas características herdadas – a priori. No lugar dessas vertentes teóricas, enfatiza-se outro viés cujas bases modificam tais paradigmas ultrapassados. Vejamos, a seguir, em que parâmetros essa nova visão se ancora. Princípio da transformação Atualmente, as pessoas tendem a rejeitar teorias que não expressem uma visão de mundo dinâmica – com características que englobem o princípio da transformação do ser e do universo. 42 De acordo com Becker (2001, p. 111): “[...] todo o universo, nos níveis micro e macro, está em movimento. Se ele está em movimento, está se constituindo, está se construindo”. Esse princípio da transformação está na essência do próprio indivíduo. Portanto, é necessário buscar e construir teorias que exprimam essa ideia. Na Psicologia, um importante representante dessa abordagem teórica foi Jean Piaget20 (1896-1980). Esse estudioso construiu um corpo teórico-filosófico extremamente relevante para a área pedagógica, denominado epistemologia genética21, sobre o qual estudaremos a partir de agora. 20 Jean Piaget Um dos mais importantes pesquisadores de educação e pedagogia, que se especializou em psicologia evolutiva e no estudo de epistemologia genética. Suas pesquisas sobre pedagogia revolucionaram a educação, bem como derrubaram várias visões e teorias tradicionais relacionadas à aprendizagem. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/piaget/>. Acesso em: 18 fev. 2014. 21 Epistemologia genética De acordo com Becker (2001, p. 112), na ciência denominada epistemologia genética, Piaget busca demonstrar: “[...] como o homem, logo que nasce, apesar de trazer uma fascinante bagagem hereditária que remonta a milhões de anos de evolução, não consegue emitir a mais simples operação de pensamento ou o mais elementar ato simbólico. [...] no meio social, por mais que sintetize milhares de anos de civilização, [ele] não consegue ensinar a esse recém-nascido o mais elementar conhecimento objetivo. Isto é, o sujeito humano é um projeto a ser construído; o objeto é, também, um projeto a ser construído. Sujeito e objeto não têm existência prévia, a priori: eles se constituem, mutuamente, na interação. Eles se constroem”. 43 Epistemologia genética O princípio básico da teoria piagetiana afirma que, assim como os objetos do mundo, o sujeito é um projeto a ser construído, sem existência prévia. Ambos – sujeito e objeto – constituem-se, formam-se e complementam-se mutuamente pela INTERAÇÃO. O mundo de hoje é dinâmico de tal forma que os conceitos, as relações, as tecnologias, os intrumentos utilizados pelo homem estão em constante transformação e evolução. A mudança obriga o indivíduo a repensar, com frequência, sobre si mesmo, sobre seus relacionamentos, suas aquisições e seus valores. 44 Em função da reflexão anterior, concluímos que todo o conhecimento do homem é construído/produzido a partir das próprias relações e trocas que estabelece com o mundo. Mas como se dá essa construção? Vejamos... HOMEM – AÇÃO – MEIO A partir do momento em que nasce, o homem atua sobre o meio ambiente em que está inserido: chora, dorme, sorri, manipula os objetos a sua volta. E é através dessas trocas com pessoas e objetos que ele vai conhecendo o mundo. DESEQUILÍBRIO Quando se depara com situações desconhecidas, o indivíduo “sai de sua zona de conforto” e entra em um estado que chamamos de DESEQUILÍBRIO. ADAPTAÇÃO O estado de desequilíbrio, por sua vez, obriga o sujeito a buscar respostas, a “correr atrás do prejuízo” ou, teoricamente falando, a buscara ADAPTAÇÃO ao meio. Esse processo consiste em tentar compreender o mundo com os instrumentos e conhecimentos de que se dispõe. ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO Ao perceber que os saberes que possui são insuficientes para lidar com o novo, o homem passa pela etapa de ASSIMILAÇÃO. Sendo assim, ele busca outros conceitos, outros objetos até encontrar aqueles que permitam uma 45 boa relação com esse novo. Nesse contexto, o sujeito entra em um estado de ACOMODAÇÃO. Atenção De acordo com Becker (2001, p. 112): “O sujeito age sobre o objeto, assimilando-o: essa ação assimiladora transforma o objeto. O objeto, ao ser assimilado, resiste aos instrumentos de assimilação de que o sujeito dispõe no momento. Por isso, o sujeito reage, refazendo esses instrumentos ou construindo novos instrumentos, mais poderosos, com os quais se torna capaz de assimilar, isto é, de transformar objetos cada vez mais complexos. Essas transformações dos instrumentos de assimilação constituem a ação acomodadora”. EQUILIBRAÇÃO Por fim, ao mesmo tempo em que encerra uma etapa, o estado de acomodação apronta o indivíduo para novas aprendizagens em um processo dinâmico e constante, denominado EQUILIBRAÇÃO. Construtivismo: educar para transformar A partir da compreensão da relação HOMEM-MEIO, é possível perceber que, para o construtivismo, a aprendizagem é um processo dinâmico, ativo, que instiga o sujeito a adquirir novos conhecimentos. Por isso: CONHECER = TRANSFORMAR O OBJETO E A SI MESMO 46 De acordo com a teoria construtivista, o processo educacional implica a transformação dos indivíduos e do próprio mundo. É por meio das interações que mantém com os que estão a sua volta, com sua cultura, que o homem se transforma e pode modificar a si e ao meio a seu redor. Em outras palavras, a construção do conhecimento e a transformação do mundo dependem diretamente das condições inerentes ao sujeito e do meio em que está inserido. No filme “Vem dançar”, por exemplo, podemos destacar algumas personagens que mediante novos conhecimentos e compreensão interpretação da realidade tiveram certas posturas que nos permite fazer a ligação entre suas ações e conceitos importantes da teoria construtivista. Assista ao filme e tente identificar. A concepção construtivista derruba a crença de que o saber é dado a priori – hereditariamente – ou pelo meio – empiricamente. Afinal, de acordo com essa visão: O conhecimento é construção! Conforme aponta Becker (2001), essa ideia afeta o pensamento humano, em particular, e a noção de humanidade como um todo, além de modificar toda a forma de conceber a educação. Se o conhecimento não está pronto, se o sujeito é parte intrínseca da produção e reprodução desse saber, há infinitas possibilidades de adquiri-lo. Esse ponto de vista renova a forma de enxergarmos a nós mesmos, às pessoas a nossa volta, às questões sociais e políticas. 47 Mas por que essa teoria ganhou tanta expressão no contexto educacional? Quais são suas influências no cotidiano acadêmico e de que forma modifica as relações pedagógicas? Atenção Nas palavras de Becker (2012, p. 113-114): “Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem; não é um projeto escolar; é, sim, uma teoria que permite (re)interpretar todas essas coisas [...]. Por isso, se parece esquisito dizer que um método é construtivista, dizer que um currículo é construtivista parece mais ainda; e ainda mais esquisito é afirmar que uma escola é construtivista”. Construtivismo e educação: papel do professor A primeira mudança provocada pelo novo paradigma de formação humana do construtivismo diz respeito à tomada de consciência do professor, que precisa ampliar sua reflexão sobre a prática docente. Suas atitudes devem levar à apropriação de sua própria atuação, construindo e reconstruindo saberes e ações pedagógicas. Ao instaurar a postura crítica sobre sua prática em sala de aula, o profissional da educação passa a preparar a si mesmo e aos sujeitos-alunos para os novos desafios da sociedade, dos relacionamentos e do mundo corporativo. 48 Ele se torna desafiador, provocando desequilíbrios, tirando os estudantes das zonas de conforto alienantes, além de incentivador e mediador do processo de construção de conceitos e de criação de sentidos. Logo, com base na concepção construtivista da aprendizagem, as atividades educativas devem-se voltar para a resolução de projetos e estar contextualizadas com a vida do aluno, com suas necessidades. O ensino passa a ser, então, um processo compartilhado, permeado por significados orientados para a autonomia do estudante. Construtivismo e educação: papel do aluno Como vimos anteriormente, no contexto educacional, a teoria do construtivismo prega que todo o conhecimento precisa ser significativo e funcional para estimular o desejo do aluno em aprender. Nesse caso, o estudante torna-se um sujeito ativo, orientado pelo professor a atentar tanto para o processo de aprendizagem quanto para o conteúdo alvo de estudo. Por isso, a filosofia do aprender a aprender é tão fundamental! 49 Seguindo essa lógica, educador e educando configuram-se como pesquisadores, atores criativos, questionadores e participantes desse processo. Além disso, as competências do aprendiz, relativas à filosofia do ser e fazer, são estimuladas, bem como a autonomia para governar-se, pensar e decidir por si mesmo. Dessa forma, ele identifica e assume direitos e obrigações tanto diante de si quanto do grupo ao qual pertence, o que estimula a responsabilidade por ele próprio, por seus atos e pelo meio a sua volta. Atenção A partir dos pressupostos construtivistas, a finalidade da avaliação também se altera, tornando-se qualitativa e progressiva. Afinal, considera-se toda a dinâmica envolvida no processo de aprendizagem. 50 Atividade proposta Antes de prosseguirmos neste estudo, vamos testar seus conhecimentos sobre a teoria do construtivismo? Observe os quadrinhos a seguir: Fonte QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Refletindo sobre as implicações dos pressupostos teóricos construtivistas no ensino, elabore uma crítica sobre o conteúdo de leitura dado à Mafalda. Críticas ao construtivismo O construtivismo, enquanto filosofia, recebeu algumas críticas por negligenciar a função das interações sociais – negligência essa que, talvez, tenha-se originado de uma escolha metodológica. De acordo com La Taille, Oliveira e Dantas (1992), a teoria construtivista contentou-se em afirmar que há influências e determinações sociais sobre a inteligência humana. Mas, conforme já apontamos, as divergências teóricas são comuns em áreas tão diversas quanto as Ciências Humanas – principalmente a Psicologia. 51 Não é diferente com o construtivismo, que comporta, inclusive, o desdobramento de uma base interacionista, cujos pressupostos afirmam que o homem é um ser eminentemente social. A partir de seus ideais, outros teóricos aprofundaram a relação entre o sujeito e o meio em que vive, dando-lhe a devida importância, sem, contudo, quebrar o paradigma construtivista filosófico. Interacionismo: interagir é preciso Você acredita que possa haver um homem isolado, independente das influências dos diversos grupos aos quaispertence e dos vários espaços que frequenta? O homem pode estar imune aos legados da história e da tradição? De acordo com Gamez (2013), o interacionismo defende uma visão de desenvolvimento baseada na concepção de um ser humano ativo, cujo pensamento é construído, gradativamente, em um ambiente histórico e, por essência, social. Nesse caso, enfatiza-se o referido meio e as inter-relações humanas. No Brasil, um teórico interacionista que vem sendo muito estudado é o russo Lev Semenovich Vygotsky22 (1896-1934). O ponto de partida de sua obra são os processos específicos dos seres humanos: a linguagem e a cultura, que compreendem o desenvolvimento do homem a partir de uma perspectiva histórico-cultural. Para essa abordagem, o processo de conhecimento se dá por meio da interação. 22 Lev Semenovich Vygotsky Pensador importante e pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e de suas condições de vida. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/vigotski/>. Acesso em: 18 fev. 2014. 52 Mas que mudanças essa perspectiva teórica trouxe com relação à abordagem construtivista? Construtivismo X interacionismo Para o construtivismo, o processo de aquisição do conhecimento ocorre a partir da relação direta entre sujeito e objeto. Já para a abordagem interacionista, esse processo se dá, primeiro, pela troca de experiências entre indivíduos, o que lhes permite ter acesso ao objeto. Conforme ressaltam Lefrançois (2008) e Gamez (2013), essa perspectiva enfatiza o papel da cultura e da interação social no desenvolvimento humano, na consciência de si e do mundo. Já La Taille, Oliveira e Dantas (1992) destacam que, ao ratificar a importância dos fatores culturais, do papel da linguagem e das interações na construção dos significados pelo homem, Vygotsky valoriza a relação entre professor e aluno, bem como todas as relações sociais como essenciais para o desenvolvimento da cognição. Dentro dessa visão, a evolução humana seguiria do plano interpessoal para o intrapessoal. Qual seria, portanto, a tarefa do educador nesse contexto? Interacionismo e educação: papel do professor De acordo com a teoria interacionista de Vygotsky, o professor deve ser um bom mediador, facilitador das relações entre o aluno e sua cultura. Desse modo, ele favorece a internalização dos conceitos difundidos nas inter- relações socioculturais e históricas. Seguindo tal ponto de vista, a educação precisa centrar-se em atividades que promovam a aprendizagem a partir de interações sociais. 53 O objetivo principal é compreender os conteúdos sobre os quais se discute no cotidiano acadêmico para atuar, de maneira produtiva, em sociedade – temas esses que têm de ser definidos em função das necessidades concretas do contexto vivenciado pelo indivíduo. Nesse caso, a relação entre educando e educador se firma da seguinte forma: A abordagem interacionista nos remete diretamente a reflexões sobre a cultura na formação humana e sobre seu papel nas práticas educativas. Trataremos, mais especificamente, desse assunto, na aula seguinte! Referências BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. GAMEZ, L. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: LTC, 2013. LA TAILLE, I.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. PROFESSOR = Mediador da relação entre aluno e conhecimento ALUNO = Sujeito concreto e ativo ALUNO + PROFESSOR = Sujeitos políticos responsáveis por transformações sociais 54 LEFRANÇOIS, G. R. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. MAGGI, L. Estudo aponta cinco características dos bons alunos. (2013). Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/. Acesso em: 17 fev. 2014. Exercícios de fixação Questão 1 A ideia de que os seres humanos constroem seus conhecimentos, ativa e socialmente, a partir de suas relações sociais com outros da mesma espécie, está relacionada à seguinte corrente de pensamento: a) Inatismo – aquela que se baseia em possibilidades naturais. b) Ambientalismo – aquela que se baseia na relação com o meio ambiente. c) Interacionismo – aquela que se baseia na relação com o ambiente histórico-cultural. d) Behaviorismo – aquela que se baseia em fatores ambientais e em suas consequências. Questão 2 Leia a seguinte situação: “A professora Sabrina dividiu sua turma em grupos de quatro alunos e deu a cada um uma folha com exercícios sobre o conteúdo discutido em sua disciplina. A educadora montou os grupos de maneira que, em todos eles, houvesse um estudante que dominasse muito o conteúdo, outros com algumas dúvidas e, pelo menos, um com muita dificuldade de aprendizagem. 55 Em seguida, ela pediu que todos trocassem informações, apoiando uns aos outros antes de responder as questões”. Com base no que estudamos ao longo desta aula, podemos afirmar que a docente fundamentou essa atividade na seguinte teoria da aprendizagem: a) Behaviorismo b) Construtivismo c) Ambientalismo d) Interacionismo Questão 3 De acordo com a concepção de Piaget, o homem é guiado pela busca do equilíbrio com o ambiente em que está inserido. Nessa relação, a adaptação – capacidade do indivíduo de assimilar e acomodar novos conteúdos – é o mecanismo que permite ao sujeito ter condutas eficientes para atender a suas necessidades e adquirir novos conhecimentos. Portanto, para o estudioso, a inteligência é a adaptação adequada ao meio. Dentre as teorias da aprendizagem estudadas, aquela que representa essa ideia é a seguinte: a) Inatismo b) Ambientalismo c) Construtivismo d) Sociointeracionismo 56 Questão 4 Com base nesta aula, podemos afirmar que a concepção interacionista da aprendizagem defende a ideia de que o ensino: a) Não é prioridade se for contextualizado de acordo com as necessidades do grupo social. b) É um processo de construção compartilhada de significados orientados para a autonomia do estudante. c) Deve-se preocupar pouco com o significado e a funcionalidade dos temas tratados e das atividades propostas, pois o foco não é a relação entre diferentes conteúdos curriculares e a sociedade em que o sujeito está inserido. d) N.R.A. Questão 5 Tanto o paradigma construtivista quanto o interacionista defendem a concepção de que, na relação entre educador e educando: a) O professor sempre merece lugar de destaque por saber mais do que o aluno. b) O aluno é um sujeito concreto, ativo e questionador de seu próprio conhecimento. c) O professor é um sujeito apolítico e, por isso, pouco poder tem sobre as transformações sociais. d) O professor é aquele que detém mais experiência e que intervém na aprendizagem do aluno. 57 Introdução Na aula 1, refletimos sobre o tipo de conhecimento que deve ser priorizado nos espaços educativos e sobre sua sistematização. Na aula 2, baseamos nosso estudo em conhecimentos teóricos e metodológicos tradicionais, que não devem ser esquecidos, mas ressignificados, revalidados e atualizados. Já na aula 3, identificamos que a construção do conhecimento crítico fundamenta-se em uma relação situadaem um momento histórico e social, que também deve ser constantemente reavaliada. Vamos terminar esta etapa de seu aprendizado discutindo sobre um tema muito importante para os educadores: o conceito de cultura e sua relação com a aprendizagem. Nesta aula, você verá que a diversidade cultural pode instituir o que é correto dentro de diversas comunidades sociais, o que nos faz refletir sobre as noções culturais que envolvem o meio no qual estamos inseridos. São essas noções que contribuem para a construção do fenômeno da aprendizagem, cujos processos afetam diretamente as instituições educacionais. Objetivo Reconhecer as relações entre aprendizagem e cultura. 58 Conteúdo Ser humano = ser social Você acredita que há uma natureza humana ou somos fruto daquilo que o ambiente em que vivemos determina como certo, errado, bom ou ruim? Será que os grupos com os quais convivemos definem o que devemos aprender? Em caso positivo, cabe questionar, então, quanto ao que é importante ensinar. Muitos estudiosos já tentaram naturalizar o comportamento humano, mas suas tentativas foram em vão: os fatos e a análise do cotidiano invalidaram suas ideias. A verdade é que os seres humanos variam em função das condições sociais, econômicas, políticas e históricas, enfim, do contexto em que estão imersos. De acordo com Chauí (2002), não há, portanto, fundamento científico, filosófico e empírico para a crença de que haveria um gênero humano natural e universal. Todos nós somos fruto do meio em que vivemos, ou seja, todos nós somos influenciados pelos aspectos culturais que nos circundam. Mas o que seria, então, cultura? Você saberia definir essa noção? Vejamos, a seguir, os conceitos de cultura difundidos na sociedade. 59 Conceituando cultura A definição do termo cultura é muito diversa. Vamos conhecer os inúmeros sentidos atribuídos a essa palavra: Cultura = nível de saber Cultura pode ser sinônimo de posse de conhecimentos ou propriedade de alguns indivíduos. Por isso, em algum momento de sua vida, você já deve ter ouvido alguém dizer: “Essa pessoa tem muita cultura, fala muitas línguas!” Nesse caso, atribuímos prestígio e respeito a quem a possui. Cultura = arte Cultura também pode caracterizar uma atividade artística, como, por exemplo, a música popular, a dança folclórica etc. Cultura = característica de um grupo social Podemos, ainda, definir cultura como a qualidade, a característica de um grupo. Disso resultam as expressões: Cultura americana; Cultura indígena; Cultura brasileira etc. Cultura = característica de uma classe social Por fim, a cultura pode estar associada à ideia de que, em uma mesma coletividade, há aspectos que representam classes sociais distintas. Por isso, as denominações: Cultura das elites; Cultura dos pobres; Cultura da massa etc. 60 Diante da diversidade de conceitos apresentados anteriormente, Chauí (2002, p. 293) atribui dois significados básicos para a noção de cultura e importantes para nossa discussão. São eles: 1. Aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido amplo, ou seja, “as obras humanas que se exprimem em uma civilização”; 2. “Relação que os humanos, socialmente organizados, estabelecem com o tempo e com o espaço, com os outros humanos e com a natureza – relações que se transformam e variam”. O que estaria, então, por trás das inúmeras noções mencionadas? É simples: a ideia de que não há um determinismo biológico23, muito menos geográfico, que caracteriza o ser humano. Em outras palavras, as diferenças geográficas24 e genéticas não definem as distinções culturais. Nós nos moldamos ao meio em que vivemos de acordo com a capacidade de que dispomos para tal. Nesse contexto, a aprendizagem é fundamental! 23 Determinismo biológico De acordo com Laraia (2006, p. 17): “Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada, desde o início, em situação conveniente de aprendizado [...]. Se transportarmos para o Brasil, logo após seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seus irmãos de criação”. 24 Diferenças geográficas De acordo com Laraia (2006, p. 22): “[...] existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais [...]. Os esquimós constroem suas casas (iglus) cortando blocos de neve e amontoando-os em formato de colmeia [...]. Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de peles de rena [...]. A aparente pobreza glacial não impede que os esquimós tenham uma desenvolvida arte de esculturas em pedra-sabão [...]”. 61 Cultura e aprendizagem O comportamento humano depende, basicamente, de aprendizado e da maior ou menor capacidade de adequação do sujeito ao meio em que está inserido. Afinal, apesar de suas limitações físicas, o indivíduo interage e atua, constantemente, com o espaço geográfico que está a seu redor, podendo modificá-lo e ir além de suas fronteiras. Logo, os fatores que marcam a evolução humana correspondem a sua capacidade de aprendizagem e de adaptação – noções em que podemos nos ancorar para refletir sobre o conceito de cultura. Conforme aponta Laraia (2006), a cultura é como uma lente através da qual o homem percebe o mundo. Esse modo de ver a realidade influencia as: Concepções de vida; Experiências de ordem moral e valorativa; Diferentes condutas sociais; Posturas corporais25. O ser humano seria, então, o resultado do meio em que foi socializado. Mas se o homem é fruto do ambiente em que está imerso, reflexo de numerosas gerações que o antecederam, onde se encaixam as inovações e criações do mundo? Como ocorre a evolução humana? Vamos refletir sobre isso... 25 Posturas corporais De acordo com Laraia (2006, p. 70): “[...] todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente, depende de um aprendizado, e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo”. 62 Atenção De acordo com Laraia (2006, p. 24): “As diferenças existentes entre os homens [...] não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas por seu aparato biológico ou por seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana está em romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isso porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura”. Sociedade do conhecimento O mundo atual está em constante ebulição. Estamos passando por um momento de intensas transformações mundiais. Os especialistas afirmam, inclusive, que a sociedade moderna está fragmentada, pois os indivíduos estão descentrados de seu lugar no mundo social e cultural por influência do fenômeno da globalização 26 e da facilidade de acesso a novas tecnologias – possibilitada pelo surgimento da internet. 26 Globalização De acordo com McGrew (1992 apud HALL, 2004), a globalização é um grande complexo de processos
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