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Bourdieu, Pierre. Capítulo VIII: A força do direito, elementos para uma sociologia de campo. In: O Poder simbólico. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 1989, P. 209-254.

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Bourdieu, Pierre. Capítulo VIII: A força do direito, elementos para uma sociologia de campo. In: O Poder simbólico. Rio de Janeiro. 
Bertrand Brasil, 1989, P. 209-254.
Josué Andrade Martins[0: Graduando do Programa de Ciências Jurídicas na Universidade Federal do Oeste do Pará (PCJ/Ufopa).]
Universidade Federal do Oeste do Pará
Segundo Pierre Bourdieu, Ciência rigorosa do direito toma a ciência jurídica como objeto, assim se afasta de dois extremos: do formalismo, que prega a autonomia do direito em relação ao mundo social, e do instrumentalismo, que denomina o direito como mero instrumento nas mãos da classe dominante. Dessa forma, essa primeira ciência estuda o direito sem cair em nem um dos pensamentos antagônicos, mas tenta olhar criticamente para o Direito.
Bourdieu, mostra, portanto, que é possível romper com essas ideologias se considerado aquilo que nenhuma das duas visões consideram, qual seja, a existência de um universo social onde é possível exercer e criar autoridade jurídica sem pressões externas. Acrescenta ainda que é forma da violência simbólica monopolizada pelo Estado. Nesse sentido, as práticas jurídicas são produtos relações de forças que lhe conferem a estrutura, e das obras jurídicas que dão fronteira ao espaço dos possíveis (Bourdieu, 1989, p. 211). O campo jurídico seria então um espaço social.
Assim, no campo jurídico, encontra-se uma luta pelo monopólio do direito de dizer o direito, e de interpretar o corpus de textos que consagram a visão legítima do mundo social. Surge então a cisão entre profanos e profissionais que trabalham para fazer com que o sistema das normas jurídicas se mostre totalmente independente das relações de força que ele sanciona e consagra, tanto para aqueles que impõem as normas, quanto para aqueles que estão sujeitos a elas, criando uma ingênua sensação de equidade.
Dessa forma, tudo caminha para um reconhecimento jurídico de legalidade, de juridicidade. Nesse sentido, a concorrência entre esses interpretes e delimitada por textos unanimemente reconhecidos e produzidos pelas esferas que por assim dizer cria as regras do jogo - resolução de conflitos. 
Destarte, na lógica do campo jurídico,a fim de conduzir todos os personagens da hierarquia jurídica uma coesão social e equidade, apela-se para a língua jurídica e seus efeitos, qual sejam, neutralização, obtido através da construção de frases impessoais e objetivas, e universalização, alcançada por meio de instrumentos gramaticais que abrem pouco espaço a variações individuais.
Essa pretensão à universalização é produto, justamente, de uma divisão de trabalho que cria personagens antagonistas e ao mesmo tempo complementares. A exemplo disso, Bourdieu expõe que há uma diferença clara entre a visão dos agentes jurídicos que trabalham mais intensivamente com a teoria e a dos que trabalham com a prática, por isso, disserta que os produtores de lei e regras devem contar sempre com a resistência da corporação jurídica que podem pôr a sua competência ao serviço de algumas categorías da sua clientela (BOURDIEU, 1989, p. 217).
Apesar disso, o cânone jurídico, afirma o autor, é um reservatório de autoridade que garante a legalidade dos atos jurídicos, que não ganhariam tal status sem a primeira. Ou seja, ainda que em parte antagônicos, os juízes de primeira instância, por exemplo, estariam ligados aos teóricos de direito puro.
A partir dessas relações, o ilustre Pierre Bourdieu parte em uma reflexão acerca do processo de formação de decisão judicial. Ele nota que o juiz tenta unir a norma ao caso concreto, ou seja, avaliar esse caso concreto e sentenciar a partir do que o ordenamento jurídico e todo o processo de interpretação lhe informaram. 
Nesse sentido, é importante destacar o processo de interpretação pelo motivo de que o juíz, não parte de interpretação exegética do lei, mas ele usa de sua autonomia para sentenciar. Ele usa de lógica para chegar aos valores próximos dos que estão nos textos. Desta feita, situações que aparentemente deveriam ganhar determinada sentença, não a ganham. Assim, é buscada o que é denominada de voluntas legis, não simplesmente a vontade do juiz, nem a exegese da norma.
Desta forma, esse trabalho de racionalização confere à decisão judicial a eficácia exercida por toda a ação quando é reconhecida legítima. 
Continuando a analisar o sistema jurídico, Bourdieu parte de que, para se “jogar” no jogo do direito, deve-se conhecer as regras e quem não as conhece permanecem excluídas dele por não poderem operar a conversão de todo o espaço mental que supõe a entrada neste espaço social. E isso atrapalha a realização da equidade.
O autor toca também no sentido de que a linguagem e as exigências de comportamento são diferentes e tais requisitos para que o jogo seja jogado acaba por causar estranheza àqueles não-especialistas.
Expõe também que situação judicial funciona como um lugar neutro, já que opera uma neutralização, como põe o autor, evita a defrontação pondo os interessados em diálogo entre mediadores. Assim, transforma conflitos inconciliáveis em diálogo racional de peritos e processo, converte-os em debates jurídicos entre profissionais que atuam por procuração e que tem comum conhecer e reconhecer do jogo jurídico. Desta forma, ao entrar nesse jogo jurídico, aceita-se suas regras, renunciando tanto a violência física quanto a simbólica; e construção da verdade. 
Nesse sentido, Bourdieu parte para a análise do poder de nomeação. Ele disserta que nessa luta de visões de mundo que pleiteiam pelo reconhecimento e é nesse ínterim que surge o veredito que é a manifestação da vontade do Estado - o que monopoliza a violência simbólica legítima- que transcende as vontades particulares. Assim, ele difere de simples insultos lançados por um particular, na medida que estes não possuem eficácia simbólica. 
Desta forma, percebe-se que o direito é a forma por excelência do poder simbólico de nomeação que cria coisas nomeadas [...] ele faz o mundo social (BOURDIEU, 1989, p. 237), e acrescentando, como o autor escreve, é feito por este. Isso significa dizer que o direito tem o poder de constituir algo como socialmente aceitável e o que é legitimo no mundo real, ou seja, ele consagra como instituição instituída, como representação do justo, aquilo que enuncia. Assim, os enunciados jurídicos são capazes produzir efeitos.
 Bourdieu afirma também que a legitimidade das normas jurídicas não nasce da aparente universalidade desses enunciados, mas sim de uma adesão inevitavelmente obtida por aquilo que não passaria de um registro do estado dos costumes [...] dos interesses dominantes (BOURDIEU, 1989, p. 240). Assim, para perceber-se quão pesado é essa sentença mais a frente o autor expõe que é no interior deste universo de relações que se definem os meios, os fins e os efeitos específicos que são atribuídos à acção jurídica. Ou seja, ele torna formal o interesse dos agentes que participam da criação jurídica. Desta forma, o direito só pode exercer eficácia se oculta a parte de arbitrariedade existente.
Ainda nesse sentido, a codificação serve de instrumento link entre passado e presente a medida que favorece a lógica do precedente, ou seja, as decisões do presente são imagens das decisões passadas que foram tomadas justamente por grupos dominantes e serão pensadas e ditas na linguagem da conformidade com o passado (BOURDIEU, 1989, p. 245).
Assim, a ordem simbólica, através da racionalização e da sistematização, garante o selo de universalidade, fator que tem eficaz efeito sobre o mundo social. Desse modo, a universalidade prática, ao longo do tempo, se torna natural dentro da comunidade e pode passar a ser reconhecida como útil. Essa universalização, portanto, compreende um grande instrumento de dominação.
Deste modo, ao codificar, está-se a por uma previsibilidade, uma racionalidade nas relações sociais. Essa codificação, introduz a debate o efeito de homologação, isto é, permitem todos a falarem a mesma língua, permite aos diferentes locutores associaro mesmo sentido ao mesmo som percebido (BOURDIEU, 1989, p. 250). 
Contudo, essa homologação funciona plenamente apenas para aqueles que estão no mesmo patamar no universo do formalismo jurídico, o que não se pode dizer quanto ao resto - que estão destinados a aguentar a força da forma.
Assim, surge uma lógica de homologia, quer dizer, surgem vendedores e compradores de serviços jurídicos.
O autor, nota então, que o campo social do direito, quando possui conflitos, estes são mais resolvidos pelas forças externas. Dessa forma, a hierarquia da divisão do trabalho varia, no decorrer do tempo, por causa das mudanças nas relações de força no campo social. E, nessa luta, vence quem possui mais força. Quanto mais força e representação os dominados têm, mais a diferenciação do campo jurídico caminha ao aumento.
Assim, cria-se uma luta paradoxal, na qual, os mesmos que defendem um culto ao texto, recusam a apreensão científica da realidade, ao passo que os dominados só podem encontras uma reflexão crítica se enxergar o direito como uma ciência com metodologia própria e firmada na realidade histórica - por intermédio da análise jurisprudencial. De forma paradoxal, os textos autônomos devem ser confrontados com a realidade.
Assim, o direito vai entrando em conflito, em “crise”, e ao mesmo tempo em manutenção de sua ordem simbólica.

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