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Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgado não comentado em virtude de ter sido decidido com base em uma peculiaridade de uma espécie de recurso 
que não existe mais desde 2010. Por isso, sua utilidade prática e chance de ser cobrado em um concurso são mínimas: 
EREsp 1.414.755-PA. Se interessar, leia-o ao final deste Informativo. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
 Acesso do MPF a procedimentos do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB depende de prévia autorização judicial. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
TERRENOS DE MARINHA 
 Nulidade de contrato de compra e venda de imóvel localizado em terreno de marinha sem pagamento de 
laudêmio. 
 
DIREITO CIVIL 
FORÇA MAIOR 
 A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural pode ser considerada como força maior para 
evitar que o proprietário tenha que pagar dívida. 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 Legitimidade passiva de sociedade empresária proprietária de semirreboque em ação de reparação de danos. 
 
DPVAT 
 A intimação para perícia médica em ação de cobrança de DPVAT deve ser pessoal. 
 
COMPRA E VENDA 
 Nulidade de contrato de compra e venda de imóvel localizado em terreno de marinha sem pagamento de 
laudêmio. 
 
DIREITOS REAIS 
 Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time sharing. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
 Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela incorporadora imobiliária. 
 Abusividade de cobrança de SATI ao consumidor pelo promitente-vendedor de imóvel. 
 Legitimidade passiva ad causam de incorporadora imobiliária em demanda que objetiva restituição de comissão 
de corretagem e de SATI. 
 Prazo prescricional da pretensão de restituição de comissão de corretagem ou de SATI. 
 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO EMPRESARIAL 
CONTRATO DE LOCAÇÃO DE ESPAÇO EM SHOPPING CENTER 
 Legitimidade ativa para pleitear de empreendedor de shopping center indenização por danos causados ao 
estabelecimento. 
 
CÉDULA DE CRÉDITO RURAL 
 Invasão do MST e exigibilidade de cédula de crédito rural hipotecária. 
 
FALÊNCIA 
 Credor trabalhista possui legitimidade ativa para pedir falência de devedor. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
 Advogado pode ser obrigado a restituir os honorários advocatícios de sucumbência caso a sentença seja 
rescindida. 
 
RECURSOS 
 Se a parte interpõe o agravo do art. 1.042 em vez do agravo interno, o STJ não conhecerá do recurso e não mais 
aplicará o princípio da fungibilidade. 
 
EXECUÇÃO 
 Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time sharing. 
 As cotas de fundo de investimento" não são consideradas dinheiro (art. 835, I, do CPC). 
 Recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento. 
 
DIREITO PENAL 
TORTURA 
 Ausência de bis in idem na aplicação do art. 1º, § 4º, II, da Lei de Tortura em conjunto com a agravante do art. 61, 
II, "f", do Código Penal. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMPOSTO DE RENDA 
 Incide o IRPF sobre o valor do abono de permanência, mas somente a partir de 2010. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
Acesso do MPF a procedimentos do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB 
depende de prévia autorização judicial 
 
Importante!!! 
O acesso do MPF às informações inseridas em procedimentos disciplinares conduzidos pela 
OAB depende de prévia autorização judicial. 
O fundamento para esta decisão encontra-se no § 2º do art. 72 da Lei nº 8.906/94, que 
estabelece que a obtenção de cópia dos processos ético-disciplinares é matéria submetida à 
reserva de jurisdição, de modo que somente mediante autorização judicial poderá ser dado 
acesso a terceiros. 
STJ. Corte Especial. REsp 1.217.271-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/5/2016 (Info 589). 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
O Ministério Público federal instaurou procedimento administrativo para investigar determinado 
indivíduo, que é advogado. 
Diante disso, o Procurador da República requisitou do Conselho Seccional da OAB informações sobre todos 
os procedimentos disciplinares existentes contra este advogado. 
A requisição do MPF foi fundamentada no art. 8º, II, § 2º, da LC 75/93 (Estatuto do MPU): 
Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de 
sua competência: 
II - requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades da Administração Pública direta 
ou indireta; 
(...) 
§ 2º Nenhuma autoridade poderá opor ao Ministério Público, sob qualquer pretexto, a exceção de sigilo, 
sem prejuízo da subsistência do caráter sigiloso da informação, do registro, do dado ou do documento que 
lhe seja fornecido. 
 
A OAB recusou-se a cumprir a determinação afirmando que as informações requisitadas estão protegidas 
pelo direito à privacidade e pelo sigilo das informações. 
 
A recusa da OAB em fornecer as informações foi legítima? 
SIM. 
 
Estatuto da OAB garante o sigilo desses procedimentos 
Segundo o § 2º do art. 72 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB): 
Art. 72. (...) 
§ 2º O processo disciplinar tramita em sigilo, até o seu término, só tendo acesso às suas informações as 
partes, seus defensores e a autoridade judiciária competente. 
 
Há, no presente caso, um conflito aparente de normas entre o art. 8º, II, § 2º, da LC 75/93 e o art. 72, § 2º 
da Lei nº 8.906/94. 
Como não existe hierarquia entre lei complementar e lei ordinária, este conflito aparente deverá ser 
resolvido de forma a garantir a convivência harmônica entre os dois dispositivos no ordenamento jurídico, 
desde que observadas as limitações de cada uma. 
Desse modo, o STJ interpretou que o poder de requisição do MPF, previsto no Estatuto do MPU, não pode 
se sobrepor ao sigilo dos procedimentos disciplinares que tramitam na OAB. Assim, é como se o § 2º do 
art. 72 da Lei nº 8.906/94 fosse uma exceção (limitação) ao art. 8º, II, § 2º, da LC 75/93. 
 
Cláusula de reserva de jurisdição 
O STJ entendeu que a obtenção de cópia dos processos ético-disciplinares que tramitam na OAB é matéria 
submetida à reserva de jurisdição, de modo que pessoas estranhas ao processo somente poderão ter 
acesso mediante autorização judicial. 
O poder de requisição do Ministério Público encontra limites nas hipóteses em que o legislador 
expressamente afirmou que somente poderia haver a quebra do sigilo por decisão judicial. 
Assim, mesmo o MPF sendo órgão de persecução dotado de poderes de requisição somente poderá obter 
tais informações com autorização do Poder Judiciário. 
Para o STJ, é possível aplicar aqui o mesmo raciocínio construído para proibir o MP de requisitar 
diretamente (sem autorização judicial) informações protegidas pelo sigilo bancário: 
(...) Segundo entendimento desta Corte Superior, os poderes conferidos ao Ministério Público pelo art. 129 
da Carta Magna e pelo art. 8.º da Lei Complementar n.º 75/93, dentre outros dispositivos legais aplicáveis, 
não são capazes de afastar a exigibilidade de pronunciamento judicial acerca da quebra de sigilo bancário 
ou fiscal de pessoa física ou jurídica, mormente por se tratar de grave incursão estatal em direitos 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
individuais protegidos pela Constituição da República no art. 5º, incisos X e XII. (...) 
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 234.857/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/04/2014. 
 
A redação do art. 72, § 2º, da Lei nº 8.906/94 é muito clarae somente poderia ser autorizada a requisição 
diretamente pelo MP caso este dispositivo fosse declarado inconstitucional. Ocorre que não há 
inconstitucionalidade porque este sigilo legal é baseado na tutela da intimidade. 
 
Tal interpretação não inviabiliza o trabalho do MP 
O STJ ressaltou que não se está aqui de forma alguma inviabilizando a obtenção dos documentos e dados 
pelo Ministério Público, uma vez que é perfeitamente viável para o órgão requerer autorização judicial 
para obter estas informações. 
A exigência de autorização judicial, no caso, além de assegurar a plena vigência de um sistema de freios e 
contrapesos, próprios do regime republicano, também afasta o risco de que as informações sigilosas 
juntadas aos autos do procedimento instaurado no MP sejam no futuro consideradas nulas, contaminando 
todo o procedimento investigatório e uma eventual ação judicial. 
 
Resumindo: 
O acesso do MPF às informações inseridas em procedimentos disciplinares conduzidos pela OAB 
depende de prévia autorização judicial. 
O fundamento para esta decisão encontra-se no § 2º do art. 72 da Lei nº 8.906/94, que estabelece que a 
obtenção de cópia dos processos ético-disciplinares é matéria submetida à reserva de jurisdição, de 
modo que somente mediante autorização judicial poderá ser dado acesso a terceiros. 
STJ. Corte Especial. REsp 1.217.271-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/5/2016 (Info 589). 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
TERRENOS DE MARINHA 
Nulidade de contrato de compra e venda de imóvel 
localizado em terreno de marinha sem pagamento de laudêmio 
 
É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de propriedade da 
União quando ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a certidão da Secretaria do 
Patrimônio da União (SPU), ainda que o pacto tenha sido registrado no Cartório competente. 
Antes de o ocupante vender o domínio útil do imóvel situado em terreno de marinha, ele 
deverá obter autorização da União, por meio da SPU, pagando o laudêmio e cumprindo outras 
formalidades exigidas. Somente assim esta alienação será possível de ser feita validamente. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/8/2016 (Info 589). 
 
Veja comentários em Direito Administrativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
DIREITO CIVIL 
 
FORÇA MAIOR 
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural pode ser considerada 
como força maior para evitar que o proprietário tenha que pagar dívida 
 
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não é fato 
suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser analisada, 
concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto (necessariedade e 
inevitabilidade – art. 393, parágrafo único, do Código Civil). 
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da propriedade rural 
pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação. Deverá também provar 
que não havia meios de evitar ou impedir os seus efeitos. 
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o MST 
invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão constitui óbice 
intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios de evitar ou impedir os 
efeitos dessa ocupação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/8/2016 (Info 589). 
 
Títulos Rurais 
Existem alguns títulos de crédito que são gerais e mais conhecidos, como é o caso da letra de câmbio, 
duplicata, cheque etc. No entanto, a experiência mostrou que seria interessante que fossem criados títulos 
de crédito com características específicas, para facilitar as negociações envolvendo determinados setores 
da economia. 
Em suma, verificou-se a necessidade de se criarem títulos de crédito específicos para algumas transações 
empresariais. 
No caso da atividade rural, por exemplo, foram idealizados quatro títulos de crédito específicos, chamados 
de “títulos rurais”. São eles: 
a) cédula de crédito rural; 
b) cédulas de produto rural; 
c) nota promissória rural; 
d) duplicata rural. 
 
Cédula de crédito rural 
A cédula de crédito rural é uma promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real 
cedularmente constituída, sendo regulamentada pelo Decreto-Lei 167/67. 
Existem as seguintes modalidades de cédulas de crédito rural: 
I — cédula Rural Pignoratícia; 
II — cédula Rural Hipotecária; 
III — cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária; 
IV — nota de Crédito Rural. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
“XX” Agropecuária Ltda. é uma empresa que desenvolve atividades agropecuárias. 
Ela contraiu um empréstimo junto ao banco para financiar a implementação de um projeto agrícola em 
sua fazenda. Como garantia, foi emitida uma cédula de crédito bancário com garantia hipotecária, no valor 
de R$ 500.000,00, com vencimento para dois anos depois de sua emissão. 
 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Invasão da propriedade pelo MST 
Quando chegou a data do vencimento, a empresa não pagou o empréstimo e ajuizou contra o banco ação 
declaratória de inexistência de débito, argumentando que a fazenda onde o projeto era desenvolvido foi 
invadida pelo “Movimento dos Sem Terra” (MST). Com isso, ela ficou impossibilitada de produzir 
normalmente em sua propriedade e, por conseguinte, paralisou as atividades, não conseguindo angariar 
recursos para pagar suas obrigações, situação que caracteriza a hipótese de força maior, prevista no art. 
393 do Código Civil, apta a ensejar a extinção da obrigação: 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se 
expressamente não se houver por eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era 
possível evitar ou impedir. 
 
A invasão da propriedade pelo MST, por si só, é um evento que pode ser considerado como hipótese de 
força maior? 
NÃO. 
 
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não é fato suficiente para 
configurar o evento como de força maior, pois deve ser analisada, concretamente, a presença dos 
requisitos caracterizadores do instituto. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/8/2016 (Info 589). 
 
Requisitos caracterizadores 
O caso fortuito e a força maior são causas excludentes da responsabilidade. 
Para estarem presentes, no entanto, é necessário o preenchimento de dois elementos que os caracterizam: 
a) a necessariedade e 
b) a inevitabilidade. 
 
Necessariedade 
Necessariedade significa que o fato ocorrido tinha, no caso concreto, a aptidão (força) de impossibilitar o 
cumprimento da obrigação. 
Deve-se verificar se o acontecimento natural (ex: um furacão) ou o fato praticado por terceiro (ex: uma invasão) 
pode ser considerado, no caso concreto, como barreira intransponível para a execução da obrigação. 
O fato deve ser de tal ponto grave que gere a impossibilidade absoluta de cumprimento da prestação. 
Vale ressaltar que impossibilidade não se confunde com dificuldade ou onerosidade. Não basta que o fato 
tenha tornado mais difícil ou oneroso o cumprimento da obrigação. Ele deve ter tornado impossível. 
 
Inevitabilidade 
Inevitabilidade significa que o devedor não tinha, no caso concreto, meios para evitar ou impedir as 
consequências do evento. 
“O fato deve ser irresistível, invencível, atuando com força indomável e inarredável. O que se considera é 
se o evento não podia ser impedido nos seus efeitos. O fato resistível, que pode ser superado, não 
constituievento a autorizar a exoneração. É perfeitamente possível que o fato seja imprevisível, mas suas 
consequências evitáveis. Se o devedor não toma medidas para evitá-la, tipifica-se o inadimplemento e não 
a impossibilidade com apoio no caso fortuito ou força maior.” (VIANA, Marco Aurelio S. Curso de Direito 
Civil: direito das obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 399) 
 
Voltando ao exemplo dado: 
A empresa, na ação proposta, alegou que: 
a) houve invasão de sua propriedade rural por integrantes do MST; 
b) a invasão ocorreu exatamente na parte em que havia sido implementado o projeto agrícola; 
c) isso resultou na absoluta incapacidade de plantar e colher em virtude da depredação dos equipamentos; 
d) houve tentativa de retirada pacífica dos invasores das terras, mas sem êxito. 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Ocorre que, no caso concreto, a autora somente provou a afirmação contida na letra “a”, ou seja, que 
houve uma invasão de sua propriedade, não trazendo provas das demais alegações. 
 
Diante deste quadro probatório, o seu pedido deverá ser julgado procedente? 
NÃO. Não existem provas das alegações da autora e, portanto, não há comprovação de que o fato 
ocorrido (invasão) possa ser qualificado como força maior. 
A autora não provou que as autoridades policiais foram comunicadas sobre o ocorrido. Também não 
provou que ajuizou ação de reintegração de posse contra os invasores. 
Dessa forma, no caso concreto, não restou comprovado que a ocupação ilegal da propriedade rural pelo 
MST criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação. Também não se provou que não havia 
meios de evitar ou impedir os seus efeitos, nos termos do art. 393, parágrafo único, do Código Civil. 
Este ônus era da parte autora, razão pela qual cabia a ela juntar tais provas. 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
Legitimidade passiva de sociedade empresária proprietária 
de semirreboque em ação de reparação de danos 
 
A sociedade empresária proprietária de semirreboque pode figurar no polo passivo de ação de 
reparação de danos ajuizada em decorrência de acidente de trânsito envolvendo o caminhão 
trator ao qual se encontrava acoplado. 
A empresa proprietária de semirreboque é solidariamente responsável pelos danos 
causados em acidente envolvendo o caminhão trator, no qual se encontrava acoplado, 
devendo, assim, figurar no polo passivo de ação de indenização em razão dos prejuízos 
advindos daquele evento. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.202-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2016 (Info 589). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Um caminhão trator, acoplado em um semirreboque, colidiu com o carro de João. 
O caminhão trator era de propriedade da empresa “Transportes Ltda.”. 
O semirreboque, por sua vez, era alugado e pertencia à empresa “ABC Agenciamento de Transportes Ltda.” 
João ajuizou ação de indenização pelos prejuízos sofridos e indicou as duas empresas como requeridas no 
polo passivo da demanda. 
A empresa “ABC Agenciamento de Transportes Ltda.” suscitou a sua ilegitimidade passiva alegando que: 
1) segundo o contrato de aluguel firmado, a responsabilidade por danos causados é do locatário 
(Transportes Ltda.); 
2) sendo proprietária apenas do semirreboque que estava acoplado ao caminhão envolvido no sinistro, 
não há como ser responsabilizada pelo evento. Isso porque o acidente deve ter sido causado pela 
negligência ou imperícia do motorista do caminhão. O semirreboque não tem circulação autônoma. Ele só 
anda carregado por um caminhão, que é dirigido por alguém. Logo, o semirreboque não pode ter gerado 
sozinho o acidente. 
Em suma, alegou a empresa que, como o semirreboque não pode mover-se autonomamente, sem a 
tração do caminhão trator, a empresa proprietária do caminhão é que deverá ser responsável pelo evento. 
Para melhor ilustrar, veja uma imagem do que é um semirreboque: 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
 
 
O que decidiu o STJ? A empresa proprietária do semirreboque pode ser responsabilizada pelo acidente? 
SIM. 
 
A sociedade empresária proprietária de semirreboque pode figurar no polo passivo de ação de 
reparação de danos ajuizada em decorrência de acidente de trânsito envolvendo o caminhão trator ao 
qual se encontrava acoplado. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.202-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2016 (Info 589). 
 
Responsabilidade pelo fato da coisa 
No presente caso, temos a chamada “responsabilidade pelo fato da coisa”, que ocorre quando esta é a 
causa do evento danoso, mesmo que não tenha havido a interferência ou o comando direto do dono. Não 
se exige a constatação de conduta direta do dono ou de seus prepostos. É o uso, fruição, proveito de uma 
coisa, por qualquer meio, que acarreta a responsabilidade pelos danos que ela causar. 
 
Interesse comercial e fiscalização do locatário 
Existem dois fortes fundamentos para a responsabilização do proprietário do semirreboque: 
1º) O semirreboque estava sendo utilizado para fins comerciais, tendo sido locado para outra empresa 
desenvolver atividade econômica; 
2º) Cabia ao proprietário do semirreboque escolher melhor seus parceiros comerciais, podendo ter havido 
de sua parte culpa in eligendo (também chamada de “responsabilidade pela má eleição”). 
 
E o argumento de que o semirreboque não tem movimento próprio? 
Mesmo sem ter força motriz própria, o semirreboque é classificado como veículo e, como tal, é capaz de 
causar danos. Veja o que diz o art. 96 do Código de Trânsito: 
Art. 96. Os veículos classificam-se em: 
I - quanto à tração: 
a) automotor; 
b) elétrico; 
c) de propulsão humana; 
d) de tração animal; 
e) reboque ou semi-reboque; 
 
Os reboques e semirreboques são tracionados por outro veículo automotor. O que diferencia um do outro 
é a maneira como são acoplados àquele veículo: o reboque é engatado atrás de um veículo automotor; o 
semirreboque se apoia na unidade tratora ou é a ela ligada por meio de articulação. 
Assim, o cavalo mecânico e o semirreboque trabalham articuladamente. São dois veículos que, unidos, 
constituem partes de um terceiro e específico veículo, o CVC (combinação de veículo de carga), que 
somente existe a partir da junção dos dois primeiros. 
Por essa razão, não é possível que o proprietário do semirreboque seja isento de responsabilidade por ser 
aquele veículo desprovido de força motora própria, uma vez que essa característica não é suficiente ou 
decisiva para descaracterizá-lo como veículo. 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
O tema não é pacífico no STJ, mas existem outros precedentes no mesmo sentido: 
(...) A despeito de não possuir força motriz independente, quer dizer, aptidão para se movimentar 
autonomamente, o reboque da transportadora foi alugado para cumprir uma finalidade contratual e 
econômica de seu interesse, circunstância que não a exime de assumir as consequências pelo acidente 
causado por “cavalo mecânico” mal conservado. É o que conhecemos como o dever genérico de cuidado (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 453.882/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/09/2012. 
 
No mesmo sentido: STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1521006/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 
julgado em 06/10/2015. 
 
Responsabilidade solidária 
Dessa forma, tanto o proprietário do caminhão como o do semirreboque devem, em princípio, responder 
solidariamente pelos danos causados a terceiros, dada a existência de interesse comum na união para o 
desempenho da atividade. 
 
E o outro argumento da empresa, ou seja, o de que havia um contrato de aluguel entre a dona do 
semirreboque e a proprietária do caminhão no qual havia uma cláusula prevendo que a 
responsabilidadepor danos causados seria do locatário? Este contrato poderia ser invocado pela 
empresa dona do semirreboque para se isentar da obrigação de indenizar João? 
NÃO. O contrato é um ajuste que vale para as partes (res inter alios acta), não podendo, em regra, prevalecer 
contra terceiros. 
Assim, referido pacto somente é oponível para as partes que o assinaram e que por ele se 
responsabilizaram, não produzindo efeitos para terceiros estranhos ao ajuste, que, porventura, tenham 
sido prejudicados em decorrência do acidente. 
O que fica acordado entre o contratante e o contratado somente se impõe entre as partes envolvidas, não 
podendo ser imposto a terceiros. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1422471/PE, Rel. 
Min. Humberto Martins, julgado em 16/06/2015. 
 
 
 
DPVAT 
A intimação para perícia médica em ação de cobrança de DPVAT deve ser pessoal 
 
Em ação de cobrança de seguro DPVAT, a intimação da parte para o comparecimento à perícia 
médica deve ser pessoal, e não por intermédio de advogado. 
Não pode a intimação ser feita ao representante processual se o ato deve ser pessoalmente 
praticado pela própria parte, como é o caso. 
Recaindo a perícia sobre a própria parte, é necessária a sua intimação pessoal, não por 
meio do seu advogado, uma vez que se trata de ato personalíssimo. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.364.911-GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 1/9/2016 (Info 589). 
 
O que é o DPVAT? 
O DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestres) é um seguro obrigatório 
de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, 
transportadas ou não. 
Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou 
por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os 
motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. 
Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No 
 
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carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas 
morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão 
indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão 
indenização de DPVAT por invalidez. 
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os 
herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente. 
O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais. 
 
Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei? 
• no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima) 
• no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima) 
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima. 
 
Quem são os beneficiários do seguro DPVAT? Quem tem direito de receber a indenização? 
• no caso de morte: metade será paga ao cônjuge do falecido, desde que eles não fossem separados 
judicialmente, e o restante aos herdeiros da vítima, obedecida a ordem da vocação hereditária. Não 
havendo cônjuge nem herdeiros, serão beneficiários os que provarem que a morte da vítima os privou dos 
meios necessários à subsistência. 
• no caso de invalidez permanente: a própria vítima. 
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: a própria vítima. 
 
Como a pessoa obtém a indenização do DPVAT? 
A pessoa deverá procurar uma das empresas seguradoras que seja consorciada ao DPVAT e apresentar a 
documentação necessária. 
Para requerer o seguro DPVAT não é necessário advogado, despachante ou qualquer outra ajuda de 
terceiros. 
 
Caso a pessoa beneficiária do DPVAT não receba a indenização ou não concorde com o valor pago pela 
seguradora, ela poderá buscar auxílio do Poder Judiciário? 
Sim. A pessoa poderá ajuizar uma ação de cobrança contra a seguradora objetivando a indenização 
decorrente de DPVAT. 
 
Feita a devida revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética: 
João sofreu um acidente de carro e ficou inválido permanentemente. 
Apesar disso, a seguradora somente lhe pagou R$ 5 mil a título de indenização do DPVAT. 
Inconformado com o valor recebido, João ajuizou ação de cobrança contra a seguradora pedindo que fosse 
reconhecido que sua invalidez permanente é das mais graves previstas na tabela do DPVAT e que, 
portanto, ele teria direito de receber o valor máximo (R$ 13.500,00). 
O juiz designou perícia médica para examinar João e avaliar o seu grau de invalidez. 
O advogado de João foi intimado do dia da perícia, mas esqueceu de avisar seu cliente. 
Em virtude disso, ele não compareceu no exame e o juiz julgou o pedido improcedente por falta de provas. 
O autor recorreu alegando que deveria ter sido intimado pessoalmente da data do exame (e não por meio 
de seu advogado). 
 
A tese de João foi aceita pelo STJ? Ele deveria ter sido intimado pessoalmente? 
SIM. 
 
Em ação de cobrança de seguro DPVAT, a intimação da parte para o comparecimento à perícia médica 
deve ser pessoal, e não por intermédio de advogado. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.364.911-GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 1/9/2016 (Info 589). 
 
 
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A intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo (art. 269 do 
CPC/2015). 
O comparecimento em perícia médica é ato que deve ser necessariamente realizado pela parte 
interessada. Trata-se, portanto, de ato personalíssimo. Em razão disso, não se mostra suficiente a 
intimação por intermédio do advogado. 
Sobre o tema, ensina Humberto Theodoro Júnior: 
 "Não valem as intimações feitas à parte quando o ato processual a praticar deve ser do advogado. A 
contrario sensu, não pode ser a intimação feita ao representante processual, se o ato deve ser pessoalmente 
praticado pela parte." (Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 300. 
 
Existe outro precedente do STJ no mesmo sentido: 
(...) 1. Em regra, a intimação será encaminhada à pessoa a quem cabe desempenhar o ato 
comunicado. Tratando-se da prática de atos postulatórios, a intimação deve ser dirigida ao 
advogado; tratando-se da prática de ato personalíssimo da parte, ela deve ser intimada pessoalmente. 
2. Deve-se distinguir a intimação meramente comunicativa, que cria ônus ou faz fluir prazos, da 
intimação que ordena condutas e gera deveres para o intimado, como é o caso daquela para a parte se 
submeter a perícia médica, cujo não comparecimento "supre a prova que se pretendia obter com o 
exame" (CC, art. 232). 
3. Recaindo a perícia sobre a própria parte, é necessária a intimação pessoal, não por meio do seu 
advogado, uma vez que se trata de ato personalíssimo. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1309276/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/04/2016. 
 
 
 
COMPRA E VENDA 
Nulidade de contrato de compra e venda de imóvel 
localizado em terreno de marinha sem pagamento de laudêmio 
 
É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de propriedade da 
União quando ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a certidão da Secretaria do 
Patrimônio da União (SPU), ainda que o pacto tenha sido registrado no Cartório competente. 
Antes de o ocupante vender o domínio útil do imóvel situado em terreno de marinha, ele 
deverá obter autorização da União, por meio da SPU, pagando o laudêmio e cumprindo outras 
formalidades exigidas. Somente assim estaalienação será possível de ser feita validamente. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/8/2016 (Info 589). 
 
O que são terrenos de marinha? 
Terrenos de marinha são “todos aqueles que, banhados pelas águas do mar ou dos rios e lagoas 
navegáveis (estes últimos, exclusivamente, se sofrerem a influência das marés, porque senão serão 
terrenos reservados), vão até a distância de 33 metros para a parte da terra contados da linha do preamar 
médio, medida em 1831” (CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm, 
2013, p. 417). 
Os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). Isso se justifica por se tratar de uma 
região estratégica em termos de defesa e de segurança nacional (é a “porta de entrada” de navios 
mercantes ou de guerra). 
 
Enfiteuse (ou aforamento) 
José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, 
p. 1311) explica que, em algumas regiões, a União permitiu que particulares utilizassem, de forma privada, 
 
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imóveis localizados em terrenos de marinha. Como essas áreas pertencem à União, o uso por particulares é 
admitido pelo regime da enfiteuse (aforamento), que funciona, em síntese, da seguinte forma: 
 a União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil; 
 o particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma importância a título de foro 
ou pensão. 
 
O particular (enfiteuta) pode transferir para outras pessoas o domínio útil que exerce sobre o bem? 
SIM. Tome-se o seguinte exemplo: João reside em uma casa localizada dentro de um terreno de marinha, 
possuindo, portanto, apenas o domínio útil sobre o bem e pagando, anualmente, o foro. Ocorre que ele 
quer se mudar. Diante disso, poderá “vender” o domínio útil para outra pessoa. 
 
A pessoa que transferir o domínio útil do imóvel terá que pagar algum valor para a União? 
SIM. A legislação estabelece que a pessoa, antes de efetuar a transferência, deverá pagar 5% do valor do 
domínio útil à União. Assim, em nosso exemplo, João terá que recolher em favor da União 5% do valor do 
domínio útil de sua casa pelo simples fato de ela estar localizada em terreno de marinha. 
Esse valor é chamado de laudêmio e seu pagamento está previsto no art. 3º do Decreto-Lei nº 2.398/87: 
Art. 3º A transferência onerosa, entre vivos, do domínio útil e da inscrição de ocupação de terreno da 
União ou cessão de direito a eles relativos dependerá do prévio recolhimento do laudêmio, em quantia 
correspondente a 5% (cinco por cento) do valor atualizado do domínio pleno do terreno, excluídas as 
benfeitorias. 
 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: 
João reside em uma casa localizada dentro de um terreno de marinha, possuindo, portanto, apenas o 
domínio útil sobre o bem e pagando, anualmente, o foro. 
João decide vender sua casa para Pedro. 
Eles celebram um contrato de compra e venda de bem imóvel, mediante escritura pública no Tabelionato 
de Notas, e o levam para registro no cartório de Registro de Imóveis. 
Alguns meses depois, a União descobre que houve esta transação e ajuíza contra eles ação anulatória, 
argumentando que o negócio jurídico foi nulo porque não houve prévio pagamento do laudêmio nem 
observância das demais formalidades necessárias para a venda do domínio útil. 
Os requeridos se defendem argumentando que não houve nulidade porque se tratou de mera 
irregularidade formal, o que não atingiria a essencialidade do ato de compra e venda. Além disso, 
alegaram que o valor do laudêmio poderia ser cobrado posteriormente. Por fim, sustentaram que o 
negócio foi registrado em cartório, o que garante publicidade e autenticidade. 
 
Afinal de contas, o negócio jurídico realizado foi válido ou não? 
NÃO. 
 
É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de propriedade da União 
quando ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a certidão da Secretaria do Patrimônio da União 
(SPU), ainda que o pacto tenha sido registrado no Cartório competente. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/8/2016 (Info 589). 
 
Edificações particulares em terrenos de marinha 
Como vimos acima, os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). 
As edificações particulares existentes em terrenos de marinha são, portanto, edificações construídas em 
bens públicos. Tais bens públicos são da espécie “bens dominicais”. 
Os bens dominicais são aqueles bens públicos que não estão afetados a uma finalidade pública. 
Apesar de não estarem sendo utilizados para a realização de uma finalidade pública, o regime jurídico dos 
bens dominicais é híbrido, ou seja, é regido tanto por normas de direito público como de direito privado. 
 
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Portanto, o contrato de compra e venda de um bem dominical deve respeitar formalidades legais mais 
rígidas do que se fosse um bem de um particular. 
 
Certidão da SPU 
Antes de fazer o contrato, o vendedor deveria ter procurado a Secretaria do Patrimônio da União – SPU a 
fim de pedir autorização para a realização do negócio. 
A SPU analisa o pedido e somente irá autorizar a venda se o imóvel não se encontrar em área de interesse 
do serviço público. 
Caso autorize o negócio, a SPU irá fazer o cálculo do valor do laudêmio, mediante solicitação do interessado. 
Depois de pagar o laudêmio, o vendedor levará o comprovante à SPU. 
A SPU irá, então, analisar toda a documentação e, caso não exista nenhuma pendência relacionada com o 
vendedor (ex: não está devendo foro), ela irá emitir uma certidão declarando o cumprimento dos 
requisitos necessários para a venda do domínio útil. 
Desse modo, ao contrário do que alegam os particulares, o pagamento do laudêmio não é a única 
formalidade exigida antes da venda do domínio útil do terreno de marinha. 
Além do pagamento do laudêmio, é indispensável que haja uma autorização da União para a realização do 
negócio jurídico, por meio da SPU. 
 
Prévia autorização da SPU não é mera formalidade 
Segundo entende o STJ, a comunicação do negócio jurídico formalizado entre o ocupante e terceiro à SPU 
não se reveste de ato de mera formalidade, mas se constitui em medida de essencial importância e que 
produz efeitos jurídicos relevantes, uma vez que a União é a proprietária do terreno de marinha e, nessa 
qualidade, deverá estar sempre a par e consentir com a utilização de bem que lhe pertence (STJ. 1ª Turma. 
REsp 1201256/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 07/12/2010). 
 
O tabelião de notas poderia ter lavrado a escritura de compra e venda e o oficial do Registro de Imóveis 
poderia ter registrado este título sem a prova do pagamento do laudêmio? 
NÃO. É dever dos tabeliães e registradores, antes de lavrar ou registrar a escritura, exigir a certidão da 
SPU, na qual estará declarado que houve o pagamento do laudêmio e cumprimento das demais 
formalidades. Veja o que diz o DL 2.398/87: 
Art. 3º (...) 
§ 2º Os Cartórios de Notas e Registro de Imóveis, sob pena de responsabilidade dos seus respectivos 
titulares, não lavrarão nem registrarão escrituras relativas a bens imóveis de propriedade da União, ou que 
contenham, ainda que parcialmente, área de seu domínio: 
I - sem certidão da Secretaria do Patrimônio da União - SPU que declare: 
a) ter o interessado recolhido o laudêmio devido, nas transferências onerosas entre vivos; 
b) estar o transmitente em dia com as demais obrigações junto ao Patrimônio da União; e 
b) estar o transmitente em dia, perante o Patrimônio da União, com as obrigações relativas ao imóvel 
objeto da transferência; e 
c) estar autorizada atransferência do imóvel, em virtude de não se encontrar em área de interesse do 
serviço público; 
(...) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITOS REAIS 
Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time-sharing 
 
Importante!!! 
É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade 
(time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador 
do compartilhamento. 
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza 
jurídica de direito real, harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 
1.225 do Código Civil. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João 
Otávio de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589). 
 
Time-sharing (multipropriedade) 
- Time-sharing ocorre quando um bem 
- é dividido entre vários proprietários 
- sendo que cada um deles utilizará a coisa, 
- com exclusividade, 
- durante certo(s) período(s) de tempo por ano, 
- em um sistema de rodízio. 
 
Nomenclatura 
O time-sharing é também chamado de multipropriedade ou de regime de aproveitamento por turno. 
 
Origem 
O fenômeno da multipropriedade surgiu na França, por volta de 1967. 
No Brasil, as primeiras operações de multipropriedade começaram na década de 1980. 
 
Exemplo 
O time-sharing ocorre com frequência em imóveis destinados ao lazer. 
É o caso, por exemplo, de uma casa de praia. 
Em litorais mais caros do país, como na região dos Lagos (RJ) ou em Santa Catarina, é comum que sejam 
lançados empreendimentos em sistema de time-sharing. Normalmente, o imóvel é dividido em 52 cotas 
(número de semanas do ano). Daí, o indivíduo que compra uma cota, torna-se proprietário de 1/52 do 
imóvel e poderá utilizá-lo durante uma semana por ano. 
 
Finalidade 
Este modelo é adotado normalmente por indivíduos que querem usufruir de um imóvel apenas durante 
parte do ano e, por isso, não valeria a pena serem proprietários únicos do bem. Assim, com o sistema do 
time-sharing não precisam desembolsar o preço total do imóvel na aquisição e também não terão que 
arcar sozinhos com os custos da manutenção. 
 
Qual é a natureza jurídica da time-sharing: trata-se de direito real ou pessoal (obrigacional)? 
Existe grande divergência na doutrina acerca do tema. 
Uma primeira corrente defende que se trata de direito PESSOAL (obrigacional), pois afirma que os direitos 
reais são em número limitado (numerus clausus) e estão previstos taxativamente no art. 1.225 do CC. 
A time-sharing não se enquadra em nenhum deles. O integrante do time-sharing não pode ser considerado 
proprietário, considerando que este modelo possui inúmeras diferenças em relação ao direito de 
propriedade, podendo ser apontadas as seguintes: 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
1) no time-sharing, o direito de uso e gozo ocorre apenas em um período do ano, enquanto no direito de 
propriedade não existe esta limitação; 
2) não há liberdade quanto ao modo de uso, só podendo utilizar o bem para a finalidade com a qual ele foi 
criado (ex: se é um imóvel para lazer, não pode ser utilizado para fins comerciais); 
3) a pessoa integrante do time-sharing não pode efetuar modificações no imóvel, o que não ocorreria se 
ela fosse proprietária. 
 
O STJ, no entanto, seguindo o entendimento majoritário na doutrina, decidiu que se trata de direito real: 
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito 
real, harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio 
de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589). 
 
O time-sharing, também chamada de multipropriedade imobiliária, possui forte liame com o instituto da 
propriedade, sendo até mesmo considerada por alguns como uma expressão do direito de propriedade. 
Ao contrário do que afirma a primeira corrente, é possível que sejam admitidos como direitos reais não 
apenas aqueles que estão enumerados na lei, mas também outros que possam ser criados a partir da 
liberdade negocial. 
O Código Civil não traz nenhuma proibição de que sejam criados novos direitos reais a partir da convenção 
de vontades. Além disso, a time-sharing se harmoniza com os atributos dos direitos reais, considerando 
que o participante detém as faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem, ainda que 
objeto de compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e turnos fixos de tempo. 
 
Veja o que Maria Helena Diniz afirmou sobre o instituto: 
"O sistema time-sharing ou multipropriedade imobiliária é uma espécie condominial relativa aos locais de 
lazer, pela qual há um aproveitamento econômico de bem imóvel (casa, chalé, apartamento), repartido, 
como ensina Gustavo Tepedino, em unidades fixas de tempo, assegurando a cada co-titular o seu uso 
exclusivo e perpétuo durante certo período anual. (...) Trata-se de uma multipropriedade periódica, muito 
útil para desenvolvimento de turismo em hotéis, clubes e em navios (...) Há um direito real de habitação 
periódica, como dizem os portugueses, democratizando o imóvel de férias, cujo administrador (trustee) o 
mantém em nome de um clube, concedendo e organizando o seu uso periódico. Todos os adquirentes são 
comproprietários de fração ideal, sofrendo limitações temporais e condominiais, sendo que a relação de 
tempo repartido fica estabelecida em regulamento." (Curso de Direito Civil Brasileiro. 22ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2007, vol. 4, p. 243.) 
 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação adaptada: 
A empresa "XX" Incorporações e Negócios Ltda. é proprietária de uma casa de praia em Angra dos Reis e 
organizou um time-sharing deste imóvel. 
Para tanto, ela ofereceu 52 cotas para os interessados, que adquiriram, assim, frações ideais do bem para 
utilização periódica. 
Portanto, cada pessoa que comprou uma cota poderá utilizar a casa de praia uma semana por ano. 
Vale ressaltar que esta casa (nº 11-B) fica dentro de um condomínio fechado. 
A empresa "XX" deixou de pagar seis meses de taxa condominial, razão pela qual o condomínio ingressou 
com execução e conseguiu a penhora da casa nº 11-B. 
João, um dos que adquiriu uma cota da casa, ingressou com embargos de terceiro afirmando que, por ser 
detentora da propriedade de 1/52 avos da casa nº 11-B, é indevido o ato de penhora que recaiu sobre a 
totalidade do imóvel. Acrescentou que o referido imóvel está registrado na modalidade de time-sharing, 
tendo sido subdividido, antes da comercialização, em 52 frações ideais, pertencendo, portanto, a titulares 
diversos, o que, segundo afirma, evidencia a impossibilidade de ser mantida a constrição sobre a 
totalidade da casa. 
 
 
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Os embargos de terceiro foram julgados procedentes? A penhora sobre a totalidade da casa foi indevida? 
SIM. 
 
É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade (time-sharing) 
em decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do compartilhamento. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio 
de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589). 
 
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito 
real, harmonizando-se, portanto, com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil; 
e o multiproprietário, no caso de penhora do imóvel objeto de compartilhamento espaço-temporal(time-
sharing), tem, nos embargos de terceiro, o instrumento judicial protetivo de sua fração ideal do bem 
objeto de constrição. 
Assim, é insubsistente a penhora sobre a integralidade do imóvel submetido ao regime de 
multipropriedade na hipótese em que a parte embargante é titular de fração ideal do bem e nada tem a 
ver com a dívida. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela incorporadora imobiliária 
 
Importante!!! 
É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a 
comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma 
em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da 
aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 
(recurso repetitivo) (Info 589). 
 
O que é um contrato de corretagem? 
Pelo contrato de corretagem, o corretor obriga-se a obter para uma pessoa que o contrata (denominada 
“cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas. 
O contrato de corretagem está previsto, de forma genérica, nos arts. 722 a 729 do CC. 
Quando se fala neste contrato, normalmente as pessoas só se lembram da corretagem de imóveis. No 
entanto, existem outras espécies de corretagem, como é o caso do corretor de ações na Bolsa de Valores 
ou o corretor de mercadorias (bens móveis). 
No caso do corretor de imóveis, a profissão está regulamentada pela Lei n. 6.530/78 e pelo Decreto n. 
81.871/78. Para exercer a profissão de corretor de imóveis, exige-se a aprovação em curso técnico de 
Transações Imobiliárias ou curso superior em Gestão Imobiliária, com registro no Conselho Regional de 
Corretores de Imóveis (CRECI). 
 
Comissão de corretagem 
Como remuneração pelo serviço prestado, o corretor receberá o pagamento de uma quantia, que é 
chamada de “comissão de corretagem”. 
A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de 
mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes (art. 725). 
 
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Qual é o valor da comissão de corretagem? 
O valor da comissão de corretagem deverá estar previsto na lei ou no contrato firmado entre as partes. 
 
E se não estiver previsto na lei nem no contrato? 
Neste caso, este valor será arbitrado segundo a natureza do negócio e os usos locais (art. 724 do CC). 
Não há lei estipulando o valor da comissão de corretagem na venda de imóveis. Aplica-se, portanto, os 
usos e costumes. No dia-a-dia imobiliário, quando não há previsão contratual, deverá ser pago ao corretor 
6% sobre o valor do imóvel urbano vendido, conforme prevê a tabela do CRECI. 
 
Incorporação imobiliária 
É a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a 
construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, 
antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, 
vai construindo o projeto. 
Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, "a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do 
empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para 
construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial" (REsp 1.399.024-RJ). 
Normalmente, a pessoa que adquire unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, o faz de 
forma parcelada, por meio de um contrato de promessa de compra e venda. 
 
O que é uma promessa de compra e venda? 
A promessa de compra e venda (ou compromisso de compra e venda) é... 
- uma espécie de contrato preliminar 
- por meio do qual uma pessoa (promitente vendedor) se compromete a vender o seu bem 
- ao promissário comprador, após este pagar integralmente o preço que foi ajustado. 
 
Pagamento da comissão de corretagem na incorporação imobiliária 
Na prática, é extremamente comum que os contratos de promessa de compra e venda de incorporação 
imobiliária contenham uma cláusula prevendo que o promitente-comprador será o responsável pelo 
pagamento da comissão do corretor. 
 
Exemplo 
João, ao parar seu carro no semáforo, recebeu um panfleto de um novo edifício de apartamentos que estava 
sendo lançado “na planta”. Foi até o estande de vendas, sendo atendido por Luciana, corretora de imóveis. 
Decidiu na hora que iria comprar uma unidade. 
Foi, então, apresentado a ele um contrato de promessa de compra e venda com a imobiliária. 
Por meio do contrato, a imobiliária (promitente vendedora) comprometeu-se a vender a João a unidade 
1502, da Torre B, do Edifício “Morar Bem”. 
Em contrapartida, João obrigou-se a pagar o valor de R$ 1 milhão, parcelado em 60 meses. 
Além disso, havia uma cláusula (8.1) no contrato prevendo que João teria que pagar 6% do valor do imóvel 
para Luciana, a título de comissão de corretagem. 
Algum tempo depois, João ingressou com ação judicial pedindo que esta cláusula 8.1 fosse declarada nula 
de pleno direito porque seria abusiva já que ele, como consumidor, não poderia ser obrigado a pagar a 
corretora, a qual esta presta serviços no interesse da incorporadora, razão pela qual a empresa deveria 
arcar com este custo. 
 
A tese de João é aceita pelo STJ? É abusiva a cláusula prevista em promessa de compra e venda que 
transfira para o promitente-comprador a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem? 
NÃO. Esta cláusula não é abusiva. 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Corretagem na compra e venda de unidades autônomas em incorporação imobiliária 
Na venda de imóveis mediante incorporação imobiliária, a atuação do corretor tem ocorrido, em regra, da 
seguinte forma: o corretor é contratado pela incorporadora para ficar em estandes situados no próprio 
local onde será construído o edifício de apartamentos. Lá, esta equipe de corretores recebe os 
consumidores interessados, mostra a planta, as maquetes, as vantagens do empreendimento, tira dúvidas 
e concretiza o negócio. 
Alcançado êxito na intermediação, a incorporadora, ao celebrar o contrato de promessa de compra e 
venda, transfere para o promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem 
diretamente ao corretor, seja mediante cláusula expressa no instrumento contratual, seja por pactuação 
verbal ou mediante a celebração de um contrato autônomo entre o consumidor e o corretor. 
 
Não há prejuízo aos consumidores porque o custo disso já seria embutido no preço 
Entende-se que não há prejuízo aos consumidores nesta prática porque se a incorporadora pagasse a 
comissão de corretagem, ela iria embutir este custo no preço final do produto. 
Dessa forma, na prática, mostra-se irrelevante se o consumidor pagará diretamente ao corretor ou não, 
considerando que ele já arcaria com esse pagamento porque se trata de um dos custos do imóvel vendido 
e que comporia seu preço. 
Desse modo, em princípio, é válida a cláusula que transfere para o consumidor a obrigação de pagar a 
comissão de corretagem. 
São necessárias, contudo, algumas cautelas. 
 
Dever de informação 
O fornecedor possui o dever de informar o consumidor. Esse dever inclui que seja explicado o que o 
consumidor está efetivamente pagando. 
Por conta disso, é necessário que o contrato preveja de forma muito clara que a obrigação de pagar a 
comissão de corretagem será do promitente-comprador (consumidor). 
Dessa feita, a incorporadora deverá informar ao consumidor, antes do momento da celebração do 
contrato de promessa de compra e venda, o preço total de aquisição daunidade imobiliária, especificando 
o valor da comissão de corretagem, ainda que esta venha a ser paga destacadamente. 
 
Se a incorporadora não informar previamente 
Uma reclamação constante dos consumidores é a de que as incorporadoras não informam previamente os 
clientes de que eles são responsáveis pelo pagamento da comissão de corretagem. 
Os consumidores alegam que somente após celebrado o contrato, com o pagamento do sinal, é que são 
informados sobre este custo adicional. 
Essa prática de não explicar previamente viola os deveres de informação e de transparência que devem 
pautar as relações de consumo. 
Se isso acontecer, o consumidor poderá recusar-se a pagar a comissão de corretagem, exigindo o 
cumprimento da proposta pelo preço ofertado. 
Toda informação ou publicidade suficientemente precisa vincula o fornecedor, conforme expresso no CDC: 
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio 
de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a 
fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. 
 
Desse modo, a cláusula que transfere a obrigação de pagar a comissão para o consumidor é, a princípio, 
lícita, mas o promitente-vendedor, na fase pré-negocial, deverá informar, de forma clara e precisa, que 
haverá esta transferência. 
 
 
 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Tese fixada pelo STJ: 
É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão 
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de 
incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade 
autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 589). 
 
Sobre o tema, vale a pena relembrar o seguinte entendimento do STJ: 
De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do vendedor ou do comprador? 
• Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que efetivamente contrata o corretor 
(não importa se é o comprador ou o vendedor). 
• Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em sentido contrário, ou seja, 
poderá prever que comprador e vendedor irão dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556). 
 
 
 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
Abusividade de cobrança de SATI ao consumidor pelo promitente-vendedor de imóvel 
 
É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária 
(SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 
(recurso repetitivo) (Info 589). 
 
Serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI) 
Alguns contratos de compromisso de compra e venda possuem uma cláusula prevendo que o promitente-
comprador deverá pagar um percentual a título de serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI). 
A justificativa das incorporadoras é a de que este valor é pago para ressarcir os custos que ela tem com a 
manutenção dos serviços oferecidos no estande de vendas: funcionários para exame dos documentos, 
análise de crédito, para prestar esclarecimentos técnicos e jurídicos acerca das cláusulas do contrato, das 
condições do negócio etc. 
Desse modo, os serviços de assessoria técnico-imobiliária são esses serviços prestados antes do contrato 
de promessa de compra e venda de imóveis ser assinado e que algumas levam incorporadoras a cobrar 
dos promitentes-compradores um valor para ressarcir os custos de sua prestação. Esta quantia cobrada é 
conhecida, na prática imobiliária, como “taxa SATI”. Em geral, este valor corresponde a 0,88% sobre o total 
do bem. 
 
É válida a cobrança da taxa SATI (ou de valor equivalente, mas com outro nome)? 
NÃO. 
 
É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou 
atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 589). 
 
Essa atividade de “assessoria” prestada ao consumidor por técnicos vinculados à incorporadora constitui 
na verdade a prestação de um serviço inerente à celebração do próprio contrato. Trata-se de algo ínsito à 
celebração do contrato, sendo um dever de informação do fornecedor. Não consiste, portanto, em um 
serviço autônomo oferecido ao adquirente, como ocorre com a corretagem. 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
 
Por essa razão, a cobrança de mais esse valor (fora o preço que o consumidor já irá pagar pelo bem) 
configura flagrante violação aos deveres de correção, lealdade e transparência, impostos pela boa-fé 
objetiva. Em verdade, a imobiliária está cobrando para cumprir algo que já é seu dever prestar por força 
do próprio contrato celebrado. 
 
A cláusula contratual que impõe ao consumidor o pagamento da taxa SATI (ou qualquer outro nome que 
tenha a mesma natureza) viola o art. 51, IV, do CDC: 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de 
produtos e serviços que: 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem 
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; 
 
Ademais, essa assessoria é um serviço que envolve o elemento confiança (intuitu personae). 
 
Assim, se o consumidor necessitar realmente de alguma assessoria técnica ou jurídica para orientá-lo 
acerca do contrato ou de outros detalhes relativos à aquisição do imóvel, ele pode (e deve) contratar 
diretamente um profissional ou advogado de sua confiança (e não alguém vinculado à incorporadora). 
 
O próprio Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI) condena esta prática e, mediante a 
Resolução nº 1.256/2012, estatuiu a seguinte norma proibitiva: 
Art. 3º. É vedado aos inscritos no Regional cobrarem de seus clientes, para si ou para terceiros, qualquer 
taxa a título de assessoria administrativa jurídica ou outra, assim como devem denunciar ao Regional a 
cobrança de tais taxas quando feitas pelo incorporador, pelo construtor ou por seus prepostos. 
 
Manifesta, portanto, a abusividade de qualquer cláusula que estabeleça a cobrança desse serviço de 
assessoria técnico-imobiliária (SATI) ou atividade congênere. 
 
Observação final 
Ressalve-se, contudo, que a abusividade da SATI não deve implicar enriquecimento sem causa do 
consumidor de modo que eventual serviço específico prestado ao consumidor, como eventuais serviços de 
despachante ou a cobrança de taxas de serviços cartorários, podem ser efetivados. 
 
 
 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
Legitimidade passiva ad causam de incorporadora imobiliária em demanda que objetiva 
restituição de comissão de corretagem e de SATI 
 
Tem legitimidade passiva "ad causam" a incorporadora, na condição de promitente-vendedora, 
para responder a demanda em que é pleiteada pelo promitente-comprador a restituição dos 
valores pagos a título de comissão de corretagem e de taxa de assessoria técnico-imobiliária, 
alegando-se prática abusiva na transferência desses encargos ao consumidor. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.968-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 
(recurso repetitivo) (Info 589). 
 
Discussão judicial sobre a abusividade da comissão de corretagem e da taxa SATIVimos acima que, na prática, muitas incorporadoras exigem que o promitente-comprador pague a 
comissão de corretagem e o “serviço de assessoria técnico-imobiliária” (SATI). 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Inúmeros consumidores não se conformam com essa cobrança e a questionam no Poder Judiciário. 
Os consumidores ajuízam ações pedindo que seja declarada a abusividade de tais cláusulas e que, como 
consequência, a eles sejam restituídos (recebam de volta) os valores pagos a título de comissão de 
corretagem e de SATI. 
Ocorre que, ao serem citadas, as incorporadoras alegam a sua ilegitimidade passiva ad causam, 
argumentando que a comissão de corretagem é paga aos corretores e que a SATI é destinada aos 
profissionais que prestam a assessoria aos consumidores. Logo, como as incorporadoras não ficam com 
esse “dinheiro”, elas seriam parte ilegítima para figurar na ação em que se pede a devolução das quantias. 
 
Esse argumento foi aceito pelo STJ? A incorporadora é parte ilegítima para figurar no polo passivo de 
ação proposta por promitente-comprador exigindo de volta os valores pagos a título de comissão de 
corretagem e de SATI? 
NÃO. Não há ilegitimidade neste caso. Segundo decidiu o STJ: 
Tem legitimidade passiva "ad causam" a incorporadora, na condição de promitente-vendedora, para 
responder a demanda em que é pleiteada pelo promitente-comprador a restituição dos valores pagos a 
título de comissão de corretagem e de taxa de assessoria técnico-imobiliária, alegando-se prática 
abusiva na transferência desses encargos ao consumidor. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.968-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 589). 
 
Em linhas gerais, a alegação dos autores (promitentes-compradores) é a de que compareceram a um estande 
de vendas com o objetivo de comprar um imóvel e foram obrigados a arcar com os custos dos serviços de 
corretagem prestados e da taxa SATI prestados por profissionais escolhidos pela incorporadora. 
 
À primeira vista, poderia parecer que caberia ao corretor e aos demais profissionais figurarem no polo 
passivo da relação processual, pois foram eles quem receberam os valores pagos pelo consumidor. 
 
No entanto, os consumidores, nas ações propostas, não estão defendendo que tais profissionais não 
mereçam ser remunerados. O que eles questionam é que a responsabilidade para pagá-los é da 
incorporadora. 
 
Se eles estão alegando que a incorporadora é quem deve pagar, por óbvio, esta deve figurar no polo 
passivo da ação porque, se, ao final, esta for julgada procedente, a incorporadora sofrerá as 
consequências da condenação. 
 
Desse modo, o STJ decidiu que, por questões processuais, e com base na teoria da asserção, as 
incorporadoras devem figurar como requeridas nestas ações porque se busca condená-las a pagar valores. 
 
Importante esclarecer o julgado acima explicado (REsp 1.551.968-SP) tratou apenas da questão da 
legitimidade passiva das incorporadoras. Quanto ao mérito, conforme já vimos, o STJ entendeu, no (REsp 
1.599.511-SP, que: 
 É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão 
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de 
incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade 
autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 
 É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou 
atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. 
 
 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
Prazo prescricional da pretensão de restituição de comissão de corretagem ou de SATI 
 
Prescreve em 3 anos a pretensão do promitente-comprador de restituição dos valores pagos a 
título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou 
atividade congênere (art. 206, § 3º, IV, CC). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 
(recurso repetitivo) (Info 589). 
 
Discussão judicial sobre a abusividade da comissão de corretagem e da taxa SATI 
Vimos acima que, na prática, muitas incorporadoras exigem que o promitente-comprador pague a 
comissão de corretagem e o “serviço de assessoria técnico-imobiliária” (SATI). 
Inúmeros consumidores não se conformam com essa cobrança e a questionam no Poder Judiciário. 
Os consumidores ajuízam ações pedindo que seja declarada a abusividade de tais cláusulas e que, como 
consequência, a eles sejam restituídos (recebam de volta) os valores pagos a título de comissão de 
corretagem e de SATI. 
 
Divergência quanto ao prazo prescricional 
Os consumidores, como acabam demorando muito tempo para ajuizarem as demandas, sustentam a 
posição de que o prazo prescricional para propositura dessas demandas seria de 10 anos, com fulcro no 
art. 205 do CC, já que não haveria norma específica regulando a presente situação: 
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. 
 
Por seu turno, as incorporadoras, ao serem citadas, alegam que o prazo prescricional para esse tipo de 
ação é de 3 anos, com base no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil: 
Art. 206. Prescreve: 
(...) 
§ 3º Em três anos: 
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; 
 
Qual das duas posições prevaleceu no STJ? Qual é o prazo prescricional neste caso? 
3 anos. 
 
Prescreve em 3 anos a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou 
de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV, CC). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 589). 
 
A pretensão dos autores é a de serem ressarcidos pelos valores pagos a título de comissão de corretagem e 
de SATI, que teriam sido pagos indevidamente por serem, no seu entender, abusivas as cláusulas que 
atribuíram esse encargo aos consumidores. Desse modo, a alegação é de que ocorreu enriquecimento sem 
causa, sendo esse argumento a premissa fundamental para que ocorra repetição do indébito (devolução dos 
valores pagos). 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
CONTRATO DE LOCAÇÃO DE ESPAÇO EM SHOPPING CENTER 
Legitimidade ativa para pleitear de empreendedor de shopping center 
indenização por danos causados ao estabelecimento 
 
Foi firmado um contrato entre o sócio, enquanto pessoa física, e a administradora do shopping 
para a locação de um espaço para funcionamento de uma loja. 
O contrato foi, portanto, assinado pela pessoa física do sócio. 
Se esta loja sofrer prejuízos causados pelo shopping, a pessoa jurídica poderá ajuizar ação 
contra a administradora do shopping. 
Assim, ainda que no contrato de locação estabelecido com o empreendedor de shopping center 
conste como locatário apenas o sócio majoritário, a sociedade empresária possui legitimidade 
ativa ad causam concorrente para pleitear indenização por danos ao estabelecimento 
instalado no centro comercial. 
Em um contrato de shopping center, a sociedade empresária tem legitimidade ativa ad causam, 
em concorrência com o locatário (pessoa física), para demandar o empreendedor nas causas 
em que houver interesses relativos ao estabelecimento empresarial, desde que, no contrato 
firmado entre as partes, haja a expressa destinação do espaço para a realização das atividades 
empresariais da sociedade da qual faça parte. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.358.410-RJ, Rel. Min. Luis FelipeSalomão, julgado em 4/8/2016 (Info 589). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João Carvalho e Maria da Silva são sócios da "JM Comércio Ltda", cujo nome fantasia é "Morena Modas". 
Eles decidiram instalar uma loja da "Morena Modas" no shopping center "Iguateré". 
João, sócio majoritário, assinou, em nome próprio, o contrato de locação de espaço com a empresa 
administradora do shopping. 
Na parte relativa aos contratantes, constou a seguinte cláusula: 
1.1. "XXX" Administradora de Empreendimentos Ltda, pessoa jurídica de direito privado com sede na rua 
XX, inscrita no CNPJ sob nº XX, neste ato representada por seu Diretor, Pedro Pimentel, qualificação, 
doravante denominada simplesmente "LOCADORA". 
1.2. João Carvalho, brasileiro, casado, autônomo, domiciliado em ..........., ............., portador da Carteira de 
Identidade nº ....., inscrito no CPF/MF sob nº ...... doravante denominado simplesmente "LOCATÁRIO". 
 
A cláusula sobre o objeto do contrato foi assim redigida: 
4.1.O objeto deste contrato é a locação do espaço 104-G, localizado no nível 3 do "shopping Iguateré", 
com a área total de 40m2, para ali funcionar a loja de vestuário feminino "Morena Modas". 
 
Tudo corria bem e o negócio funcionava normalmente. Ocorre que houve uma chuva mais forte que 
causou inúmeras goteiras na loja, fazendo com que houvesse avaria de muitas mercadorias, além de uma 
rachadura no teto. Em virtude disso, as atividades da "Morena Modas" tiveram que ser suspensas. 
Tentou-se resolver a questão consensualmente, mas, como não houve acordo, a "JM Comércio Ltda", 
sociedade empresária, ingressou com ação de indenização por danos materiais e morais contra a empresa 
administradora do shopping. 
Em contestação, a ré suscitou a ilegitimidade ativa ad causam da autora alegando que o contrato de 
locação foi assinado entre João Carvalho e a administradora e a ação foi proposta por JM Comércio Ltda, 
sendo que a pessoa jurídica é distinta da física. 
 
A alegação da administradora do shopping deverá ser aceita? 
NÃO. 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
Ainda que no contrato de locação estabelecido com o empreendedor de shopping center conste como 
locatário apenas o sócio majoritário, a sociedade empresária possui legitimidade ativa ad causam 
concorrente para pleitear indenização por danos ao estabelecimento instalado no centro comercial. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.358.410-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/8/2016 (Info 589). 
 
"Societas distat a singulis" 
Existe um brocardo que apregoa societas distat a singulis, o que significa, em linhas gerais, que a pessoa 
jurídica tem existência distinta da dos seus membros. 
Esse brocardo tem grande aplicação sob o ponto de vista patrimonial. De fato, em regra, vigora o princípio 
da autonomia patrimonial, de forma que o patrimônio da pessoa jurídica é diferente do patrimônio de 
seus sócios. Como exceção a essa regra, temos as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica. 
 
Mitigação deste brocardo 
Estabelecimento (ou fundo de comércio) é o conjunto de bens (materiais e imateriais) e serviços que o 
empresário reúne e organiza com o objetivo de realizar a atividade empresarial e gerar lucros. Seu 
conceito legal está previsto no art. 1.142 do Código Civil: 
Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, 
por empresário, ou por sociedade empresária. 
 
Vimos acima que, sob o ponto de vista patrimonial, o princípio societas distat a singulis é aplicado de 
forma bem intensa. No entanto, sob a perspectiva do estabelecimento, há uma mitigação do referido 
axioma latim. 
Quando falamos em estabelecimento empresarial, existe uma absoluta sintonia de interesses da pessoa 
física com a jurídica, interesses que estão diretamente ligados ao aviamento. 
Aviamento é o conjunto de fatores pessoais, materiais e imateriais, que fazem com que um 
estabelecimento dê certo e gere lucros. 
O que se quer dizer com tudo isso é o seguinte: se a pretensão a ser defendida em juízo diz respeito ao 
estabelecimento (veja novamente o conceito acima), neste caso, a ação poderá ser proposta não apenas 
pela sociedade empresária (pessoa jurídica), mas também pelos seus sócios porque estes, como também 
almejam os mesmos objetivos, possuem interesses juridicamente protegidos capazes de habilitá-los como 
titulares de direito material, podendo, eventualmente, deduzi-los em juízo. 
 
Conceito de estabelecimento não abrange todos os bens da pessoa jurídica 
Vale ressaltar que o estabelecimento não abrange necessariamente todos os bens pertencentes à pessoa 
jurídica, mas apenas aqueles que estejam voltados para o exercício da atividade empresarial. Nesse sentido: 
"O estabelecimento, como conjunto de bens afetados ao exercício da atividade do empresário, pode não 
abranger a totalidade de seu patrimônio. É, tão somente, a parcela do patrimônio do empresário 
composta por aqueles bens por ele utilizados para o exercício de sua atividade. Outros bens que integrem 
o patrimônio do empresário sem tal destinação, não se enquadram na noção do estabelecimento. 
Assim, não se considera pertencente ao estabelecimento a casa de moradia do empresário individual, 
porque voltada para a finalidade distinta. Da mesma forma, um imóvel de uma sociedade empresária 
havido em pagamento de dívida e por ela mantido sem utilização econômica ou com destinação diversa 
daquela que diz respeito à sua atividade empresarial não se inclui entre os bens do seu estabelecimento." 
(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código 
Civil. São Paulo: RT, 2016, p. 647) 
 
Isso significa que o sócio não teria legitimidade ativa para defender em juízo um bem imóvel da pessoa 
jurídica que não compusesse o conceito de estabelecimento. De igual forma, a sociedade empresária só 
teria legitimidade para ajuizar ação defendendo um bem particular do sócio se este estivesse sendo 
utilizado para o exercício da atividade empresarial. 
 
Informativo 589-STJ (01/09/2016 a 15/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
No presente caso, a sociedade empresária tem legitimidade porque possui, assim como o sócio, o 
interesse de resguardar todo o complexo de bens que compõe o estabelecimento. 
 
Aplicação analógica da Lei nº 8.245/91 
A fim de corroborar a tese adotada, é possível aplicar ainda ao caso concreto o art. 51, §2º, da Lei nº 
8.245/91, que trata sobre as ações renovatórias: 
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, 
por igual prazo, desde que, cumulativamente: 
(...) 
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que 
faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido 
pelo locatário ou pela sociedade. 
 
 
 
CÉDULA DE CRÉDITO RURAL 
Invasão do MST e exigibilidade de cédula de crédito rural hipotecária 
 
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não é fato 
suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser analisada, 
concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto (necessariedade e 
inevitabilidade – art. 393, parágrafo único, do Código Civil). 
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da propriedade rural 
pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação. Deverá também provar 
que não havia meios de evitar ou impedir os seus efeitos. 
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o MST 
invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão constitui óbice 
intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam

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