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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas demais verbas recebidas 
por tais profissionais. 
 
DIREITO CIVIL 
VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO 
 Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução 
para a pessoa física. 
 
CONTRATO DE SEGURO 
 Embriaguez ao volante e agravamento do risco. 
 
SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO 
 Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião. 
 
DIREITOS AUTORAIS 
 Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial com permissão do proprietário, mas sem 
autorização do autor do projeto. 
 Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais. 
 
POSSE 
 Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência 
no local? 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
 Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por 
deficiente físico. 
 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
 Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco. 
 
DIVÓRCIO 
 Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
 Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro. 
 
FRAUDE À EXECUÇÃO 
 Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução 
para a pessoa física. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
 
REINTEGRAÇÃO DE POSSE 
 Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha reintegração de posse. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PRISÃO 
 Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao tráfico, mas já desfeita, 
pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
ARROLAMENTO FISCAL 
 Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco. 
 
IMPOSTO DE RENDA 
 Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado para pagamento de 
parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente 
 
PIS/PASEP E COFINS 
 Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS. 
 Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras pessoas jurídicas integram a base de 
cálculo do PIS/PASEP e COFINS. 
 
CONTRIBUIÇÕES 
 Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
PENSÃO POR MORTE 
 Possibilidade de conferir pensão por morte aos avós que criaram o falecido como se fosse filho. 
 
PREVIDÊNCIA PRIVADA 
 Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de cessação do vínculo do 
participante com o ente federado patrocinador. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira 
e nas demais verbas recebidas por tais profissionais 
 
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do 
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional 
nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo 
determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais 
vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas 
nas legislações locais. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 594). 
 
Piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação infantil 
A Constituição Federal, com o objetivo de valorizar os professores da rede pública de ensino, determinou 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
que a lei deveria fixar um piso salarial nacional para os profissionais da educação pública. Em outras palavras, 
ordenou que lei estipulasse um "salário" mínimo nacional específico para os profissionais da educação da 
rede pública de ensino, valor que deve ser respeitado pela União, Estados, DF e Municípios. Veja: 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
(...) 
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei 
federal. (Incluído pela EC 53/2006) 
 
Cerca de dois anos depois, foi editada a Lei nº 11.738/2008 regulamentando o art. 206, VIII, da CF/88 e 
fixando o piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação básica, sendo esse o 
valor mínimo a ser observado pela União, pelos Estados, o Distrito Federal e os Municípios quando da 
fixação do vencimento inicial das carreiras. 
Confira o que diz a Lei nº 11.738/2008: 
Art. 1º Esta Lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público 
da educação básica a que se refere a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias. 
 
Art. 2º O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica 
será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na 
modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as 
diretrizes e bases da educação nacional. 
§ 1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e 
os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação 
básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais. 
§ 2º Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham 
as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, 
planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das 
unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima 
determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional. 
(...) 
 
Art. 5º O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, 
anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009. 
Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo 
percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino 
fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. 
 
Desse modo, o piso salarial é o valor mínimo que os professores da rede pública, em início de carreira, 
devem receber. A quantia é atualizada anualmente. Esses profissionais devem ter formação em magistério 
em nível médio (ou antigo “curso normal”) e carga horária de trabalho de 40h semanais, e atuar em 
estabelecimentos públicos de ensino na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio. 
 
ADI 4167 
Os Governadores de alguns Estados ingressaram com uma ADI no STF contra a Lei nº 11.738/2008 
afirmando, dentre outros argumentos, que a mencionada lei seria desproporcional e não teria amparo 
orçamentário. A ação foi julgada improcedente, tendo o acórdão sido vazado nos seguintes termos: 
(...) 2. É constitucional a norma geral federal que fixou o piso salarial dos professores doensino médio com 
base no vencimento, e não na remuneração global. Competência da União para dispor sobre normas 
gerais relativas ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de modo a utilizá-lo como 
mecanismo de fomento ao sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
instrumento de proteção mínima ao trabalhador. 
3. É constitucional a norma geral federal que reserva o percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos 
docentes da educação básica para dedicação às atividades extraclasse. Ação direta de 
inconstitucionalidade julgada improcedente. (...) 
STF. Plenário. ADI 4167, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/04/2011. 
 
Modulação dos efeitos da ADI: Lei nº 11.738/2008 só produziu efeitos a partir de 27/04/2011 
Antes do julgamento da ADI, a Lei nº 11.738/2008 estava suspensa por força de uma decisão liminar. Em 
razão disso, o STF, ao declará-la inconstitucional, decidiu fazer a modulação temporal dos efeitos, 
declarando que o pagamento do piso do magistério como vencimento básico inicial da carreira, nos 
moldes como estabelecido na Lei nº 11.738/2008, deveria ser aplicável somente a partir de 27/04/2011 
(data do julgamento do mérito da ADI): 
(...) A Lei 11.738/2008 passou a ser aplicável a partir de 27.04.2011, data do julgamento de mérito desta 
ação direta de inconstitucionalidade e em que declarada a constitucionalidade do piso dos professores da 
educação básica. Aplicação do art. 27 da Lei 9.868/2001. (...) 
STF. Plenário. ADI 4167 ED, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/02/2013. 
 
Ações judiciais pedindo a implementação do piso salarial 
Mesmo com a decisão do STF declarando a lei constitucional, alguns Estados e Municípios não cumpriram 
a determinação e deixaram de implementar o piso salarial. Isso motivou a propositura de uma série de 
ações individuais dos professores e também de ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público. 
O Poder Judiciário condenou os entes recalcitrantes a implementarem o piso salarial. 
 
Abrangência do piso salarial nos vencimentos dos professores 
Surgiram, no entanto, dúvidas sobre a abrangência dos efeitos da implementação do piso salarial. 
Os vencimentos dos professores, muitas vezes, são compostos por diversas parcelas. Exemplo: 
a) vencimento básico: R$ 900,00; 
b) gratificação "X": R$ 700,00; 
c) adicional "Y": R$ 400,00. 
Total dos vencimentos: R$ 2.000,00. 
 
Além disso, na maioria dos Estados e Municípios, a carreira do magistério é dividida em classes. Assim, 
temos professores em início de carreira que recebem vencimentos básicos menores que os das classes 
mais elevadas, segundo um Plano de Carreira. Exemplo hipotético: Professor classe 3 recebe R$ 500,00 de 
vencimento básico; Professor classe 2, R$ 1.000,00; Professor classe 1, R$ 1.500,00. 
Ao ser implementado o piso salarial mínimo, os vencimentos dos professores nos Estados e Municípios 
aumentaram. Isso porque o piso fixado pela lei nacional foi maior, em regra, do que o vencimento básico 
que era previsto nas leis locais. Esse aumento provocado pela lei nacional do piso salarial restringe-se 
apenas ao vencimento básico ou possui reflexos também nas demais verbas recebidas? Ex: no Estado “X”, 
o vencimento básico era R$ 500,00. Suponhamos que o piso nacional foi fixado em R$ 1.000,00. Logo, para 
os professores do Estado “X” que recebiam vencimento básico houve um aumento de 100%. Esse 
percentual de aumento irá refletir sobre as demais parcelas que compõem a remuneração dos 
professores, ou seja, o Estado “X” também terá que aumentar 100% das gratificações e adicionais que os 
professores recebem? 
Outra pergunta: esse aumento abrange todos os integrantes da carreira ou fica restrito aos professores 
que recebem o vencimento inicial básico? Ex: entrou em vigor o teto nacional fixando o valor mínimo de 
R$ 1.000,00. O Professor classe 3, que tinha vencimento básico de R$ 500,00 terá agora que receber R$ 
1.000,00, ou seja, um aumento de 100%. Os professores das demais classes terão direito a esse aumento, 
mesmo que já recebam vencimento acima do piso nacional? 
A resposta para as perguntas acima é NÃO. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Piso salarial refere-se ao vencimento inicial básico 
A Lei nº 11.738/2008 limitou-se a estabelecer o piso salarial, ou seja, o valor mínimo a ser pago pela 
prestação do serviço de magistério, abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 
não poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica. 
A expressão "piso" não pode ser interpretada como "remuneração global", devendo ser entendida como 
"vencimento básico inicial". Assim, não abrange outras vantagens pecuniárias pagas a qualquer título. 
Repetindo: piso = vencimento básico inicial. 
Desse modo, a Lei nº 11.738/2008 não garantiu um reajuste geral para toda a carreira do magistério. Ela 
não determinou a incidência escalonada com aplicação dos mesmos índices utilizados para a classe inicial 
da carreira. Em outras palavras, só teve direito ao aumento quem estava na classe inicial e este aumento 
só teve reflexo no vencimento básico. 
Isso significa que apenas aqueles profissionais que, a partir de 27/04/2011 recebessem valores inferiores 
ao piso legalmente fixado foram beneficiados pela Lei nº 11.738/2008. Esta Lei não trouxe qualquer 
repercussão para os demais professores que, naquela data, já recebiam vencimento básico superior ao 
piso fixado na Lei. 
Da mesma forma, não há que se falar em reflexo imediato sobre as vantagens temporais, adicionais e 
gratificações. 
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, apenas determinou que o vencimento inicial das carreiras do 
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo 
vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo qualquer determinação de 
reescalonamento de toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações. 
 
Leis estaduais e municipais podem dispor de forma diferente 
O que foi explicado acima é a regra geral, que foi estipulada pela Lei nº 11.738/2008. No entanto, nada 
impede que as leis estaduais e municipais, ao instituírem plano de carreira do magistério nos seus entes, 
prevejam que as demais classes da carreira (classes mais elevadas) também serão remuneradas com base 
no vencimento básico. Consequentemente, sempre que o piso salarial aumentar, isso refletirá em toda a 
carreira. 
O mesmo ocorre com as demais vantagens e gratificações. Se na lei local existir a previsão de que a 
vantagem possui como base de cálculo o vencimento inicial, sempre que houver um aumento do piso 
salarial, isso repercutirá nas demais vantagens. Ex: a lei do Estado "X" afirma que os professores de todas 
as classes têm direito ao adicional "Z", que corresponde a 50% do vencimento inicial. 
 
Tese fixada pelo STJ 
O tema acima exposto foi apreciado pelo STJ em sede de recurso repetitivo, tendo sido fixada a seguinte tese: 
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério 
público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a 
fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática 
em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente 
ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) 
(Info 594). 
 
Valor atual 
Em 2017, o piso salarial nacional dos professores sofreu um reajuste de 7,64% em relação ao valor que era 
previsto em 2016. Com isso, o vencimento inicial dos professoresda educação básica da rede pública 
passou de R$ 2.135,64 para R$ 2.298,80. Lembrando mais uma vez: se o Professor já recebe R$ 3.000,00, 
por exemplo, ele não terá direito a 7,64% de aumento. Da mesma forma, este percentual de aumento não 
terá impacto nas demais verbas recebidas pelos professores, salvo se a legislação estadual/municipal 
assim determinar. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
 
Somente os professores têm direito a este piso? 
NÃO. A Lei n. 11.738/2008 regulamenta o piso salarial profissional nacional para “os profissionais do 
magistério público da educação básica”. 
A lei diz que essa categoria compreende, além daqueles que desempenham as atividades de docência, 
como os professores, também “os profissionais que atuam no suporte pedagógico à docência, exercendo 
atividades de direção, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, 
exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, 
com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional” 
(art. 2º, § 2º da Lei). 
Dessa forma, o piso salarial nacional deve ser o vencimento inicial para professores, diretores, 
coordenadores, inspetores, supervisores, orientadores e planejadores escolares em início de carreira, com 
formação em magistério ou normal e carga horária de 40 horas semanais. 
Segundo entendimento majoritário, a merendeira, o auxiliar administrativo e outros profissionais que 
trabalham na escola, mas não no suporte pedagógico, não possuem direito ao piso salarial. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO 
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica 
e do redirecionamento da execução para a pessoa física 
 
Importante!!! 
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à 
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente 
proposta em face da pessoa jurídica. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594). 
O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015? 
Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova 
regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data 
da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração:
Art. 792 (...) § 3º Nos casos de 
desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte 
cuja personalidade se pretende desconsiderar. 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO 
Embriaguez ao volante e agravamento do risco 
 
Importante!!! 
No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização 
securitária se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado? 
• Em regra: NÃO. 
• Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar 
que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando 
o causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, 
salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa 
circunstância. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594). 
 
O que é o contrato de seguro? 
No contrato de seguro, “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse 
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados” (art. 757 do CC). 
Em outras palavras, no contrato de seguro, uma pessoa física ou jurídica (chamada de “segurada”) paga 
uma quantia denominada de “prêmio” para que uma pessoa jurídica (“seguradora”) assuma determinado 
risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos de “sinistro”), a seguradora deverá fornecer à segurada 
uma quantia previamente estipulada (indenização). 
Ex.: João celebra um contrato de seguro do seu veículo com a seguradora X e todos os meses paga R$ 
100,00 como prêmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora deverá pagar R$ 30 mil 
a título de indenização para o segurado. 
 
Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro 
 Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex.: risco de morte. 
 Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex.: morte. 
 Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora, no qual estão previstos os 
riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for 
o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. 
 Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago 
depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva 
em consideração os riscos cobertos. 
 Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro). 
 
Risco, mutualidade e boa-fé 
O contrato de seguro é baseado no risco, na mutualidade e na boa-fé, que constituem seus elementos 
essenciais. Vejamos cada um deles: 
 Risco: relaciona-se com os fatos e as situações da vida real que causam probabilidade de dano e com 
as características pessoais de cada um, aferidas comumente no perfil do segurado. Ex: em um contrato 
de automóvel, o risco é maior em uma grande capital do que em uma pequena cidade do interior; o 
risco é maior para um motorista de 18 a 24 anos do que para um condutor com idade acima disso. 
 Mutualidade: significa dizer que existe uma solidariedade econômica entre os segurados. Isso porque o 
dinheiro pago pelos segurados forma uma espécie de "poupança coletiva" ou um fundo, que será utilizado 
para cobrir os prejuízos que possam advir dos sinistros. Em outras palavras, é a distribuição dos custos do 
risco comum (socialização das perdas). Ademais, a contribuição de cada um será proporcional à gravidade 
do risco a que está sujeito, obtida por meio de dados estatísticos e cálculos atuariais. 
 Boa-fé: é a veracidade, a lealdade, de ambas as partes, que devem agir reciprocamente isentas de dolo 
ou engano. No contrato de seguro, a boa-fé assume maior relevo, pois tanto o cálculo do risco como a 
manutenção do mutualismo dependem das afirmações da pessoa que contrata o seguro. A 
seguradora, utilizando-se das informações prestadas pelo segurado, como na cláusula de perfil, chega 
a um valor de prêmio conforme o risco garantido e a classe tarifária enquadrada, de modo que 
qualquer risco não previsto no contrato ou o seu incremento intencional desequilibra o seguro 
economicamente, dado que não foi incluído no cálculo atuarial nem na mutualidade contratual (base 
econômica do seguro). 
 
 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
A empresa transportadora "Transporte Bem" fez um contrato de seguro para cobrir possíveis sinistros em 
seus veículos. 
João, motorista da transportadora, estava conduzindo um caminhão da empresa, quando envolveu-se em 
um acidente e tombou o veículo, causando a perda total do bem segurado. 
A transportadora acionou o seguro pedindo o pagamento da indenização prevista no contrato. 
A seguradora recusou-se a pagar a indenização alegando que houve agravamento intencional do risco do 
objeto contratado. Isso porque ficou constatado pela Polícia Rodoviária Federal que João estava 
embriagado no momento do fato, o que foi determinante para a ocorrência do acidente. 
A transportadora ingressou comação de cobrança contra a seguradora afirmando que, quando entregou 
seu veículo ao motorista, este estava em plenas condições de dirigir, de forma que não foi ela 
(transportadora) que gerou o agravamento intencional de risco. Alegou também que o motorista é 
considerado "terceiro" nesta relação jurídica entre a transportadora e a seguradora, de forma que o ato 
cometido por este terceiro não pode ser equiparado a fato imputável ao próprio segurado. 
 
No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização 
securitária quando o causador do sinistro foi terceiro condutor (preposto da empresa segurada) que 
estava em estado de embriaguez? 
 Em regra: NÃO. 
 Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o 
acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado. 
 
Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o 
causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o 
segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594). 
 
Agravamento do risco e perda da indenização 
O art. 768 do Código Civil prevê: 
Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. 
 
Assim, havendo agravamento do risco, o segurado perde o direito à indenização. 
O segurado deverá, por dolo ou culpa grave, ter praticado algum ato que aumente o risco que havia sido 
combinado. 
Ex: Pedro faz um seguro de automóvel; isso significa que o risco objeto do contrato, assumido pela 
seguradora, é o de garantir a indenização ao segurado caso aconteça danos ao automóvel; no entanto, a 
seguradora calcula e assume esse risco levando em consideração que o condutor vá dirigir o veículo 
sóbrio; se o motorista resolve dirigir alcoolizado, ele está aumentando (agravando) intencionalmente o 
risco que foi combinado com a seguradora; o prêmio cobrado pela seguradora é baseado em estatísticas 
sobre a probabilidade do sinistro; se o condutor dirige embriagado, a probabilidade do sinistro é bem 
maior que sóbrio. 
 
Conduta praticada pelo segurado 
Vale ressaltar que, para ser considerado "agravamento do risco", é necessário que a conduta tenha sido 
praticada pelo próprio segurado. 
O segurado deverá, com dolo ou culpa grave, ter praticado algum ato que aumente o risco que havia sido 
combinado. 
 
 
 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Ingestão de álcool e agravamento do risco 
É cientificamente comprovado que a ingestão de bebida alcoólica reduz o discernimento, os atos reflexos, 
o processamento de informações no cérebro, entre outras consequências danosas, mesmo em pequenas 
doses, o que torna o motorista menos apto a dirigir, aumentando sensivelmente o risco de o sinistro 
acontecer. Assim, há clara relação entre o consumo consciente de bebida alcoólica e a majoração da taxa 
de acidentalidade, demonstrada, inclusive, por dados estatísticos. 
Em outros termos, a bebida alcoólica é capaz de alterar as condições físicas e psíquicas do motorista, que, 
combalido por sua influência, acaba por aumentar a probabilidade de produção de acidentes e danos no 
trânsito. Assim, a direção do veículo por um condutor alcoolizado representa agravamento essencial do 
risco combinado. 
Por essas razões, a cláusula contratual excluindo a cobertura do seguro no caso de embriaguez não é 
abusiva, pelo contrário, legítima. Deve, contudo, estar prevista de forma expressa e clara. 
O seguro de automóvel não pode servir de estímulo para a assunção de riscos imoderados que, muitas 
vezes, beiram o abuso de direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social do contrato de 
seguro de automóveis é servir como um instrumento de valorização da segurança viária, devendo, por 
isso, estar de acordo com as leis penais e administrativas que punem a embriaguez ao volante. 
O segurado, quando ingere bebida alcoólica e assume a direção do veículo, frustra a justa expectativa das 
partes contratantes na execução do seguro, pois rompe-se com os deveres anexos do contrato, como os 
de fidelidade e de cooperação. 
 
Embriaguez ao volante e presunção de que o risco foi aumentado 
Uma vez constatado que o condutor do veículo estava sob influência do álcool quando se envolveu em 
acidente de trânsito, haverá uma presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, o que 
ensejará a aplicação da pena do art. 768 do CC. 
Por outro lado, a indenização securitária deverá ser paga se o segurado demonstrar que o infortúnio 
ocorreria independentemente do estado de embriaguez. Ex: o segurado poderá provar que a culpa foi do 
outro motorista, que houve falha do próprio automóvel, imperfeições na pista, animal na estrada etc. 
 
Ônus da prova 
Seguradora: precisa comprovar que o motorista estava embriagado. A partir daí surge a presunção de que 
houve o agravamento do risco e a indenização não será, em princípio, devida. 
Segurado: poderá comprovar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado. 
Se não conseguir provar isso, perderá o direito à indenização. 
 
E se o indivíduo que estava dirigindo embrigado não era aquele que contratou o seguro? 
A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado 
na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e 
prepostos). Isso porque o agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo 
quanto a culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever de escolha 
adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). Se o segurado não escolhe de forma 
correta a quem entrega o veículo ou não o fiscaliza adequadamente, incide em culpa. 
O segurado deve se portar e tomar todos os máximos cuidados como se não tivesse feito o seguro. A isso 
se chama de princípio do absenteísmo, isto é, ele tem o dever de se abster de tudo que possa incrementar, 
de forma desarrazoada, o risco contratual. 
Logo, a pessoa que fez o seguro deve tomar todos os cuidados possíveis quando for entregar o veículo 
segurado para alguém dirigir. 
Desse modo, o simples fato de o indivíduo que estava dirigindo não ser aquele que contratou o seguro não 
serve como argumento para que a indenização deixe de ser paga. Como explica a doutrina: 
"(...) não fosse assim e admitido o entendimento acima exposto, bastaria ao proprietário do 
veículo nunca conduzi-lo, fazendo sempre uso do subterfúgio de registrar o bem em nome de 
terceiro, de esposa, de filhos, pois se imunizaria frente às consequências contratuais do mau uso 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
que vier a fazer do bem. 
Seria como que um salvo-conduto para que se conduzisse o veículo sob influência de álcool, 
impregnando o contrato de seguro com uma exegese frontalmente contrária à função social 
mencionada no art. 421 do CC e à boa-fé preconizada no art. 422 do mesmo diploma legal. 
(...) 
Ao se entender que o dispositivo do art. 768 do CC deve ser interpretado literalmente e que a 
disposição contratual acerca da inexistência de cobertura por condução de veículo sob influência 
de álcool destina-se unicamente ao próprio segurado, se está emprestando ao contrato de seguro 
de veículos automotores uma exegese, a nosso ver, contrária à sua função social e com efeitos 
nefastos a toda a sociedade." 
(FERNANDES, Marcus Frederico B. Seguro de Automóvel - perda de direito decorrente de 
condução por terceiro sob efeito de álcool. In: Direito dos Seguros, MIRAGEM, Bruno e CARLINI, 
Angélica (org.), São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014,p. 459) 
 
Dessa forma, o principal condutor do veículo, se não for o próprio segurado, equipara-se a ele, o que 
afasta qualquer caracterização de terceiro eventual, trazendo-lhe, portanto, a obrigação de observar as 
mesmas condições e cautelas na direção do veículo, para assim não aumentar intencionalmente o risco do 
objeto contratado. 
 
Voltando ao exemplo hipotético: 
O caminhão da empresa segurada sofreu perda total após ter se envolvido em acidente (tombamento 
sozinho na pista). 
Ficou provado que o motorista estava embriagado e com sonolência no momento do sinistro, sendo 
evidente o agravamento do risco objeto do contrato. 
Além disso, havia cláusula contratual expressa que excluía o direito de cobertura quando o condutor 
estivesse sob o estado de ebriedade. 
O fato de o veículo ter sido conduzido por empregado da segurada (e não por seu dirigente ou sócio) não 
impede a aplicação da penalidade prevista no art. 768 do CC, porquanto a empresa não agiu com a cautela 
necessária ao contratar o motorista (culpa in vigilando e in eligendo) que, intencionalmente, embriagou-se 
antes de ter pegado a direção, colocando diretamente em risco a segurança no trânsito, tanto que 
culminou na ocorrência do sinistro. 
A empresa não conseguiu provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor estivesse sóbrio. 
Logo, não há como afastar a culpa grave da empresa, devendo ela perder o direito à indenização 
securitária por agravamento intencional do risco contratado. 
 
 
 
SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO 
Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião 
 
O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está 
afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, 
imprescritível (insuscetível de usucapião). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 1994, João adquiriu uma casa da Caixa Econômica Federal, vinculada ao Sistema Financeiro de 
Habitação, combinando o pagamento das parcelas em 30 anos. 
Em 1996, João “vendeu” esta casa para Pedro. Como João não podia juridicamente vender o bem, eles 
fizeram um chamado “contrato de gaveta”, ou seja, um ajuste que somente valia entre eles, mas sem 
efeitos perante a CEF. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Em 2016, Pedro deixa de pagar as prestações da casa e ingressa com ação de usucapião alegando que 
detém a posse mansa e pacífica do imóvel pelo tempo exigido em lei. 
 
É possível a aquisição por usucapião de imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação e de 
titularidade da Caixa Econômica Federal? 
NÃO. 
O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado 
à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível 
(insuscetível de usucapião). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594). 
 
Segundo o art. 98 do Código Civil: 
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público 
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. 
 
Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não poderia ser 
considerado como bem público considerando que a Caixa Econômica é uma empresa pública federal 
(pessoa jurídica de direito privado). 
 
No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele pertencente à 
pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço público, quando este bem estiver 
vinculado à prestação dessa atividade. Nesse sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito 
Administrativo. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 391. 
 
Esta orientação é acolhida pela jurisprudência, conforme aconteceu quando o STF reconheceu que os bens 
dos Correios (empresa pública federal) são impenhoráveis: 
Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são impenhoráveis, e a 
execução deve observar o regime de precatórios. 
STF. 1ª Turma. RE 393032 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27/10/2009. 
 
Especificamente quanto à Caixa Econômica Federal, o Decreto-Lei 759⁄69, que autorizou sua instituição, 
estabelece como uma de suas finalidades a de “operar no setor habitacional, como sociedade de crédito 
imobiliário e principal agente do Banco Nacional de Habitação, com o objetivo de facilitar e promover a 
aquisição de sua casa própria, especialmente pelas classes de menor renda da população” (art. 2º, alínea “c”). 
Inclusive, o Estatuto da instituição financeira prevê, dentre os objetivos: “atuar como agente financeiro 
dos programas oficiais de habitação e saneamento e como principal órgão de execução da política 
habitacional e de saneamento do Governo federal, e operar como sociedade de crédito imobiliário para 
promover o acesso à moradia, especialmente para a população de menor renda” (art. 5º, XII, do Anexo 
aprovado pela Lei 7.973⁄2013). 
Daí porque a Caixa Econômica Federal é referida na Lei 4.380/64 – que trata dos contratos imobiliários de 
interesse social – como um dos agentes intermediadores da intervenção do Governo Federal no setor 
habitacional (art. 2º, III), integrando o Sistema Financeiro de Habitação (art. 8º, III). 
O Sistema Financeiro de Habitação, por sua vez, compõe a política nacional de habitação e planejamento 
territorial do governo federal e visa “a facilitar e promover a construção e a aquisição da casa própria ou 
moradia, especialmente pelas classes de menor renda da população” (arts. 1º e 8º, caput), de modo a 
concretizar o direito fundamental à moradia. 
A Caixa Econômica Federal integra o Sistema Financeiro de Habitação, que, por sua vez, compõe a política 
nacional de habitação e planejamento territorial do governo federal e visa a facilitar e promover a 
construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da 
população, de modo a concretizar o direito fundamental à moradia. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
 
Assim, apesar de ser uma empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, a Caixa 
Econômica Federal, ao atuar como agente financeiro dos programas oficiais de habitação e órgão de 
execução da política habitacional, presta serviço público, de relevante função social, regulamentado por 
normas especiais previstas na Lei nº 4.380/64. 
Logo, o imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à prestação de serviço 
público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião). 
Obs: no caso concreto, também não estavam presentes os requisitos da usucapião, mas o objetivo 
principal desta explicação era demonstrar que o imóvel em questão era considerado bem público. 
 
 
 
DIREITOS AUTORAIS 
Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial 
com permissão do proprietário, mas sem autorização do autor do projeto 
 
O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros 
públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um 
todo, faz jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da 
representação por terceiros de sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e 
indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência do proprietário da obra. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Luiz é arquiteto e foi o autor do projeto arquitetônico de um imóvel pertencente a João. 
O que chama atenção no imóvel é a sua fachada,que é belíssima. 
A empresa “S”, indústria de tintas, gostou da arquitetura da fachada e entrou em contato com João 
pedindo autorização para que a imagem da frente do imóvel fosse utilizada em suas propagandas. 
Foi, então, celebrado um contrato entre a empresa e João, tendo este sido pago para autorizar a utilização 
das imagens da fachada de seu imóvel. 
Quando Luiz soube que imagens da fachada que ele projetou foram utilizadas nas propagandas da 
indústria, ficou inconformado porque entendeu que ele é quem deveria ter sido consultado para saber se 
autorizava ou não. Além disso, reputou que foi injusto o fato de nas peças publicitárias não constar seu 
nome como sendo o autor do projeto da fachada. 
Diante disso, Luiz ajuizou ação de indenização por uso indevido de imagem de obra arquitetônica contra a 
indústria de tintas. 
A empresa apresentou contestação em que sustentou que não houve violação dos direitos autorais 
porque o proprietário do imóvel autorizou o uso das imagens. Pugnou pela denunciação da lide do 
proprietário do imóvel. 
 
A questão chegou até o STJ? Neste caso concreto, Luiz tem direito à indenização? 
SIM. Vamos entender os principais aspectos da decisão. 
 
O projeto arquitetônico é considerado como obra intelectual? 
SIM. O projeto, o esboço e a obra arquitetônica são considerados como obra de criação intelectual e, por 
conta disso, o autor goza de proteção da Lei nº 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais). Confira: 
Das Obras Protegidas 
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas 
em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: 
(...) 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, 
paisagismo, cenografia e ciência; 
 
O autor do projeto possui direitos autorais sobre a obra já pronta? O arquiteto que projetou a fachada 
do imóvel goza de direitos autorais em relação a essa fachada? 
SIM. A edificação construída é a materialização em meio físico do projeto arquitetônico. Logo, o autor do 
projeto goza de direitos autorais sobre isso, já que o art. 7º, X, da Lei fala que o projeto é protegido 
enquanto obra intelectual, não importando o suporte em que ele esteja expresso. Isso significa que o 
projeto possui proteção enquanto está no papel, mas também quando já se encontra pronto. 
É de se concluir, portanto, que a proteção ao direito autoral, no caso, do arquiteto, abrange tanto o 
projeto e o esboço, como a obra em si, materializada na construção edificada. 
 
Utilização da imagem da obra arquitetônica 
A utilização (no caso, com finalidade lucrativa) da imagem da obra arquitetônica, representada por 
fotografias, em propagandas e latas de tintas fabricadas pela empresa dependia, necessariamente, de 
autorização do autor. 
 
Quando o arquiteto celebrou contrato com o proprietário do imóvel para que ele fizesse o projeto, pode-
se dizer que ele transmitiu os direitos autorais sobre o projeto? Luiz, ao ser pago pelo projeto, transmitiu 
seus direitos autorais a João? 
NÃO. O contrato celebrado entre o arquiteto e o encomendante do projeto arquitetônico, proprietário do 
imóvel em que a obra veio a se materializar, não tem o condão de transmitir a este, por si, os direitos do 
autor. 
Os direitos morais e patrimoniais sobre a obra pertencem exclusivamente ao seu autor. A Lei nº 9.610/98, 
em seu art. 27, afirma, inclusive, serem inalienáveis e irrenunciáveis os direitos morais sobre a obra. 
Permite-se, assim, a transferência apenas dos direitos autorais de natureza patrimonial, em sua totalidade 
ou em parte, e a título singular ou universal (ou seja, para determinada modalidade de utilização da obra 
ou para todas aquelas previstas no art. 29), a depender dos expressos termos avençados. 
Desse modo, a extensão dos direitos autorais (de natureza patrimonial) a serem transferidos deverá estar 
devidamente delimitada no contrato de licenciamento, concessão, cessão ou outro admitido em lei, 
adotando-se, como norte hermenêutico, sempre uma interpretação restritiva (art. 4º) e, via de 
consequência, favorável ao criador da obra intelectual. 
Assim, quando a pessoa encomenda um projeto arquitetônico, isso não significa que lhe estejam sendo 
transmitidos os direitos autorais do autor do projeto, salvo expressa disposição nesse sentido no contrato. 
O art. 37 da Lei n. 9.610/98 é claro nesse sentido: 
Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos 
direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei. 
 
Adquirente poderá utilizar o projeto para as finalidades relacionadas com a sua aquisição 
O adquirente do projeto terá o direito de materializar a obra arquitetônica em uma construção, ou seja, 
terá o direito de construir aquele projeto. 
Além disso, poderá utilizar o projeto para finalidades relacionadas com a sua aquisição. Ex: poderá tirar 
fotos de sua casa, postá-las em redes sociais etc, mesmo sem autorização do autor. Outras formas de 
utilização da obra que não intrínsecas à finalidade de aquisição dependerão, necessariamente, de sua 
autorização. Isso é analisado no caso concreto. 
 
Utilização da imagem da fachada não está relacionada diretamente com as finalidades da aquisição 
O proprietário da edificação, pelo simples fato de ter adquirido o projeto, não possui o direito de utilizá-lo, 
em forma de imagem, para fins comerciais. Nesse sentido: 
“O arquiteto, quando contratado para criar um projeto, implicitamente já autorizou a edificação do 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
projeto (o que implica em reproduzi-la nos termos lançados no papel e por consequência em executá-la), 
mas o proprietário não está autorizado à reprodução, quer em nova edificação, quer em fotografia. 
Portanto, não pode o encomendante do projeto arquitetônico ou de engenharia utilizar o mesmo para 
outra finalidade senão aquela estritamente autorizada pelo autor do projeto. No silêncio contratual, 
presume-se que o autor transferiu os direitos autorais para a construção de uma única edificação. Em 
situações como essa, o proprietário não pode, sem anuência do autor, utilizar o mesmo projeto, ou parte 
dele, em outra edificação.” (FLÔRES, Leandro Vanderlei Nascimento. Arquitetura e Engenharia com 
Direitos Autorais. São Paulo: Editora Pillares, 2013. São Paulo, p. 110-112) 
 
Voltando ao exemplo hipotético: 
Como o contrato entre Luiz e João era silente, deve-se entender que proprietário do imóvel, adquirente da 
obra arquitetônica, não incorporou em seu patrimônio jurídico o direito autoral de representá-la por meio 
de fotografias, com fins comerciais, tampouco o de cedê-lo a outrem, já que, em regra, a forma não lhe 
pertence e o aludido modo de utilização refoge da finalidade de aquisição. 
Assim, a autorização dada por João para a indústria não tem validade jurídica porque os direitos autorais 
continuam pertencendo ao arquiteto. 
 
As fotografias da fachada do imóvel foram tiradas da rua (logradouro público). Isso interfere no direito 
do arquiteto? Pelo fato de terem sido tiradas da rua, é possível sua utilização sem autorização? 
NÃO. Sobre o tema, a Lei de Direitos Autorais afirma: 
Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas 
livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais. 
 
Em razão de as obras situadas permanentemente em logradouros públicos integrarem de modo 
indissociável o meio ambiente, a comporem a paisagem como um todo, sua representação (por meio de 
pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais), por qualquer observador, não configura, 
em princípio,violação ao direito autoral. 
A obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em propriedade privada, sendo possível 
visualizá-la a partir de um local público, integra, de igual modo, o meio ambiente e a paisagem como um 
todo, a viabilizar, nesse contexto (paisagístico) a sua representação, o que, também, não conduziria à 
violação do direito do autor. 
A hipótese, todavia, não é de mera representação da paisagem, em que inserida a obra arquitetônica, 
mas sim de representação unicamente da obra arquitetônica, com a finalidade lucrativa. 
Em outras palavras, no exemplo dado, a fachada do imóvel não foi meramente representada, como se 
compusesse uma paisagem. Não se trata de mera representação da paisagem em que inserida a obra 
arquitetônica. No caso concreto, houve a representação unicamente da obra arquitetônica, com finalidade 
lucrativa. Dessa forma, a hipótese não se enquadra no referido art. 48, que não abrange representação 
por terceiro de obra arquitetônica com finalidade comercial. 
 
Resumindo: 
O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros 
públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz 
jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de 
sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido 
aquiescência do proprietário da obra. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594). 
 
 
 
 
 
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DIREITOS AUTORAIS 
Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais 
 
Importante!!! 
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como 
encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme 
interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98. 
Assim, ocorrendo a utilização indevida da obra encomendada, sem a devida autorização, 
caberá à pessoa jurídica contratada pleitear a reparação dos danos sofridos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa “Publi Editora Ltda.” produz e comercializa revistas e livros. 
A “Publi” pediu a João (fotógrafo e design) que fizesse a capa da revista anual de 2016. 
O contrato de prestação de serviços foi celebrado entre a “Publi” e a “Design Criação Visual Ltda.” 
(sociedade empresária que tem João como um dos sócios). 
O problema foi que a “Publi” utilizou novamente a arte confeccionada na revista anual de 2017, sendo que 
o contrato somente autorizava na publicação de 2016. 
Diante disso, a pessoa jurídica “Design” ingressou com ação de indenização contra a “Publi”. 
Na contestação, a ré arguiu a ilegitimidade da autora, afirmando que o titular dos direitos autorais seria 
João e não a pessoa jurídica. 
 
A questão jurídica é, portanto, a seguinte: a pessoa jurídica pode ser titular de direito autoral? 
SIM. 
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na 
relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme interpretação do art. 11, parágrafo 
único, da Lei nº 9.610/98. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594). 
 
Veja o que preconiza a Lei nº 9.610/98 sobre o tema: 
Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. 
Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos 
nesta Lei. 
 
É necessário que se faça uma distinção entre dois institutos parecidos, mas diferentes, da Lei dos Direitos 
Autorais. São eles: a autoria e a titularidade. 
 
Autoria = pessoa física 
Toda obra intelectual tem uma autoria, ou seja, é criada por alguém. Este alguém é um ser humano que 
exterioriza suas ideias, sua arte etc. (LEITE, Eduardo Lycurgo. Direito de autor. Brasília: Brasília Jurídica, 
2004, p. 50). 
A autoria é sempre da pessoa física que criou a obra. Ele possui a titularidade originária dos direitos de 
autor. O autor é sempre uma pessoa física, conforme prevê o caput do art. 11 da Lei nº 9.610/98. 
 
Titularidade dos direitos do autor = pessoa física ou jurídica 
O autor, em regra, é também o titular dos direitos do autor. Assim, em regra, a pessoa física que criou a 
obra será o autor e o titular. No entanto, isso nem sempre acontece. 
A pessoa jurídica pode ser titular de “direitos de autor”. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
A pessoa física poderá transferir para a pessoa jurídica os direitos de autor. 
Assim, podemos dizer que a pessoa jurídica pode, pela via derivada, titularizar direitos oriundos da criação 
de obras intelectuais. 
Dessa feita, não há dúvidas de que a pessoa jurídica possa assumir a titularidade dos direitos autorais, 
ainda mais quando se tratar de contratos de encomenda. 
 
 
 
POSSE 
Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias 
para defender a sua permanência no local? 
 
Importante!!! 
1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: 
não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos 
possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção. 
2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro 
PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos 
possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a 
disputa será relativa à posse. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João mora em uma chácara há 20 anos. Ele ajuizou ação de reintegração de posse contra Pedro alegando 
que o requerido invadiu metade do terreno em que vive. 
O Distrito Federal pediu a sua intervenção no feito alegando que a chácara em que João mora pertence ao 
Poder Público, em nome de quem está registrada. Trata-se, portanto, de bem público e, sendo assim, não 
pode ser objeto de proteção possessória por parte do particular. Isso porque o particular que ocupa um 
bem público não tem a posse deste imóvel, mas sim a mera detenção. 
 
A tese do Distrito Federal foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. O STJ entendeu que: 
É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). 
 
Posse 
Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes 
inerentes à propriedade (art. 1.196). Isto é, para se ter posse, basta o exercício de um dos atributos do 
domínio, sendo possuidor quem, em seu próprio nome, exterioriza alguma das faculdades da propriedade, 
seja ele proprietário ou não. 
 
Bem público ocupado por particular 
A jurisprudência sempre entendeu que se o particular ocupa um bem público, não se pode falar, neste 
caso, em posse, havendo mera detenção. Existem diversos julgado do STJ neste sentido: 
A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, é mera detenção, 
que não gera os direitos, entre eles o de retenção, garantidos ao possuidor de boa-fé pelo Código Civil. 
STJ. 2ª Turma. REsp 900.159/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/09/2009. 
 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Em suma, o ocupante de bem público é considerado mero detentor da coisa e, por conseguinte, não há 
que sefalar em proteção possessória nem em indenização por benfeitorias ou acessões realizadas, por 
configurar desvio de finalidade (interesse particular em detrimento do interesse público), além de violação 
aos princípios da indisponibilidade do patrimônio público e da supremacia do interesse público. 
Em razão disso, é juridicamente impossível que um particular que esteja ocupando irregularmente um 
bem público ajuíze ação de reintegração ou de manutenção de posse contra o Poder Público, por exemplo. 
Sobre o tema: 
Conforme precedentes do STJ, a ocupação irregular de terra pública não pode ser reconhecida como 
posse, mas como mera detenção, caso em que se afigura inadmissível o pleito da proteção possessória 
contra o órgão público. 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1200736/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 24/05/2011. 
 
Bem público ocupado por particular e disputa possessória entre dois particulares 
A posição acima exposta possui uma exceção: se dois particulares estão litigando sobre a ocupação de um 
bem público, o STJ passou a entender que, neste caso, é possível que, entre eles, sejam propostas ações 
possessórias (reintegração, manutenção, interdito proibitório). 
Assim, para o entendimento atual do STJ, é cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de 
invasor de terra pública desde que contra outros particulares. 
Existem decisões das duas Turmas do STJ nesse sentido: 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). 
 
Duas situações 
Importante destacar mais uma vez que são duas situações que devem ter tratamentos diferentes: 
1) particular invade imóvel público e deseja 
proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: 
2) particular invade imóvel público e deseja proteção 
possessória em face de outro PARTICULAR: 
Não terá direito à proteção possessória. 
Não poderá exercer interditos possessórios 
porque, perante o Poder Público, ele exerce mera 
detenção. 
Terá direito, em tese, à proteção possessória. 
É possível o manejo de interditos possessórios em 
litígio entre particulares sobre bem público 
dominical, pois entre ambos a disputa será relativa 
à posse. 
 
A interpretação que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a regra que veda o 
reconhecimento da usucapião nos bens públicos (Súmula 340 do STF; arts. 183, § 3º e 192 da CF/88; art. 
102 do CC), permitindo se concluir que, apenas um dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - é que será 
limitado, devendo ser mantida, no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo 
particular. Em outras palavras, se o particular estiver litigando contra outro particular, pode-se reconhecer 
a posse de um deles sobre o bem público. No entanto, esta "posse" nunca dará direito à usucapião. 
Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial do bem, que continuará nas mãos do Estado, 
mantendo sua natureza pública. No entanto, na contenda entre particulares, a relação será 
eminentemente possessória, e, por conseguinte, nos bens do patrimônio disponível do Estado, despojados 
de destinação pública, será plenamente possível - ainda que de forma precária -, a proteção possessória 
pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. 
Conclui-se, portanto, que "a disputa entre particulares, relativa a bem público, também não impede o 
manejo e utilização dos interditos possessórios, até porque o reconhecimento da natureza pública do bem 
confere a titularidade dominial ao poder público, mantendo incólume sua posição de titular"; desta feita, 
"os particulares terão apenas a detenção em relação ao Poder Público, mas como os vícios da posse são 
relativos, entre os contendores, a disputa será relativa à posse, pois entre ambos não terá cabimento a 
exceção, por tratar-se de res extra commercium. Este argumento caberá ao ente estatal e não aos 
particulares" (ARAUJO, Fábio Caldas de. Posse. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 263). 
 
 
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Função social 
À luz do texto constitucional e da inteligência do novo Código Civil, a função social é base normativa para a 
solução dos conflitos atinentes à posse, dando-se efetividade ao bem comum, com escopo nos princípios 
da igualdade e da dignidade da pessoa humana. 
Nos bens do patrimônio disponível do Estado (dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a 
proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. 
A ocupação por particular de um bem público abandonado/desafetado - isto é, sem destinação ao uso 
público em geral ou a uma atividade administrativa -, confere justamente a função social da qual o bem 
está carente em sua essência. 
 
Voltando ao exemplo dado. O argumento invocado pelo Distrito Federal não poderá ser acolhido e o juiz 
decidirá qual dos dois particulares têm a posse: João ou Pedro. No entanto, se o DF ajuizar uma ação 
possessória contra João, este poderá invocar que tinha a posse e pedir indenização ou a retenção das 
benfeitorias realizadas no local? 
NÃO. Isso porque, conforme vimos acima, se o litígio for contra o Poder Público, a ocupação de área 
pública pelo particular será considerada mera detenção, que não gera direitos de indenização ou retenção, 
não havendo proteção possessória ao particular, neste caso. 
Assim, o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção 
possessória. 
 
Para relembrar. Em que consiste o bem público dominical? 
O art. 99 do Código Civil classifica os bens públicos de acordo com a sua destinação (ou afetação): 
a) bens de uso comum do povo b) bens de uso especial c) bens dominicais 
São aqueles destinados à 
utilização geral pelos indivíduos, 
podendo ser utilizados por todos 
em igualdade de condições, 
independentemente de 
consentimento individualizado 
por parte do Poder Público (uso 
coletivo). 
Exs: ruas, praças, rios, praias etc. 
São aqueles utilizados pela 
Administração para a prestação 
dos serviços administrativos e 
dos serviços públicos em geral, 
ou seja, utilizados pela 
Administração para a satisfação 
de seus objetivos. 
Exs: prédio onde funciona um 
órgão público. 
São aqueles que não estão 
sendo utilizados para nenhuma 
destinação pública (estão 
desafetados), abrangendo o 
denominado domínio privado do 
Estado. 
Exs: terras devolutas, terrenos 
de marinha, prédios públicos 
desativados, móveis inservíveis, 
dívida ativa etc. 
 
 
 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos 
instalados no carro para permitir a direção por deficiente físico 
 
Importante!!! 
Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com 
aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los 
quando houver o descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). 
 
Conceito de alienação fiduciária 
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, 
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de 
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: 
Método, 2012, p. 565). 
 
Alienação fiduciária de automóveis 
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69. 
Ex: Antônio quer comprarum carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco 
“X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do 
empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. 
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do 
automóvel é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a 
propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-
se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João celebrou com o Banco "X" contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária para a 
compra de um Honda Civic. 
Ocorre que, no curso do contrato, o devedor fiduciante deixou de pagar as parcelas. 
O Banco enviou notificação extrajudicial para João informando que ele se encontrava em débito (Súmula 
72-STJ), mas este não fez a purgação da mora. 
Diante disso, a instituição financeira ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do 
bem, conforme autoriza o art. 3º do DL 911/69: 
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 
2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem 
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário. 
 
O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de João e foi entregue ao Banco. 
 
Pedido para retirada dos aparelhos para direção por deficiente físico 
O DL 911/69 prevê que, após a execução da liminar, ou seja, depois da apreensão do bem, o devedor tem 
a possibilidade de apresentar uma resposta (uma espécie de contestação). 
Em sua resposta, João informou o seguinte: realmente estou devendo e não tenho condições de continuar 
a pagar as prestações. Pode ficar com o carro. No entanto, depois que eu celebrei o contrato com o banco 
e comprei o veículo eu instalei nele aparelhos de adaptação para condução do carro por pessoas com 
deficiência. Isso porque eu possuo deficiência física (sou cadeirante) e precisava instalar esses aparelhos 
para conseguir dirigir. Esses aparelhos (acelerador e freio para mãos) não vêm com o veículo e eu quero 
retirá-los para utilizar em outro carro quando eu for comprar. 
O banco contra-argumentou afirmando que estes aparelhos são bens acessórios e que os acessórios 
seguem a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). Assim, como a posse e a propriedade do 
veículo (bem principal) consolidou-se em nome da instituição financeira, ela também adquiriu os bens 
acessórios que estão no carro. 
 
João terá direito de retirar os aparelhos do veículo? 
SIM. 
Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos 
para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o 
descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). 
 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Os equipamentos que permitem a condução do veículo por pessoa com deficiência física, se instalados 
em automóvel, são considerados bens acessórios do carro? 
SIM. 
 
Então, por que eles não seguem a sorte do principal? 
Porque estes equipamentos são classificados como pertenças, uma espécie peculiar de bens acessórios 
que, em regra, não seguem a sorte do principal. Vamos entender. 
 
O que são pertenças? 
A definição legal está no art. 93 do Código Civil: 
Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, 
ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. 
 
Veja o que diz a doutrina: 
"O novo Código Civil incluiu, no rol dos bens acessórios, as pertenças, ou seja, os bens móveis que, 
não constituindo partes integrantes (como o são os frutos, produtos e benfeitorias), estão 
afetados por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados 
a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de decoração de uma residência, 
por exemplo." (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro. Vol. 1, 10ª ed., São Paulo: 
Saraiva, 2012, p. 289. 
 
"(...) a pertença (CC, art 93) é bem que se acresce, como acessório, à coisa principal, daí ser res 
annexa (coisa anexada). Portanto, é coisa acessória sui generis, destinada, de modo duradouro, a 
conservar ou facilitar o uso, ou prestar serviço, ou, ainda, servir de adorno do bem principal, sem 
ser parte integrante" (DINIZ, Maria Helena. Curso de direito brasileiro. Teoria geral do direito civil. 
v.1. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 395) 
 
Exemplos de pertenças: aparelho de ar condicionado, telefone do escritório, elevadores, bombas de água, 
instalações elétricas, estátuas, espelhos, tapetes, máquinas da fábrica, tratores, instrumentos agrícolas etc. 
 
Pertenças são bens acessórios sui generis 
As pertenças têm como objetivo dar uma maior qualidade, utilidade ou vantagem a um bem principal. Por 
isso, as pertenças são classificadas como bens acessórios. No entanto, são bens acessórios sui generis 
porque mantêm sua individualidade e autonomia, não se incorporando no bem principal. 
Assim, a pertença, em regra, não é alcançada pelo negócio jurídico que envolver o bem principal, a não ser 
que haja imposição legal, expressa manifestação das partes ou decorrer das circunstâncias do caso 
concreto. Trata-se de exceção à regra de que o acessório segue o principal. Isso está previsto 
expressamente no art. 94 do Código Civil: 
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o 
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. 
 
Voltando ao exemplo 
No caso concreto, há um bem principal (automóvel) e existem as pertenças, que são os aparelhos de 
adaptação para direção por deficiente físico. Por serem pertenças, não se aplica a elas o princípio da 
gravitação jurídica, mas sim a regra do art. 94 do CC acima transcrito. Relembrando: as pertenças, em 
regra, não seguem o destino do bem principal a que se vinculam. 
O carro, tem "vida" absolutamente independente dos aparelhos de aceleração e frenagem manuais. Estes 
equipamentos são acoplados tão somente para viabilizar a direção por condutor com condições físicas 
especiais. Se retirados tais aparelhos, o veículo continua sendo veículo, ou seja, não perde a sua função. 
Ao contrário, ao retirar tais equipamentos, o carro irá recuperar a sua originalidade, isto é, a forma como é 
vendido de fábrica. 
 
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Situação diferente ocorreria, por exemplo, com os pneus do automóvel. Os pneus são partes integrantes, cuja 
separação promoveria sua destruição ou danificação, devendo, portanto, seguir o destino do principal. 
 
Solidariedade social e direito à mobilidade 
Além dos argumentos acima expostos, o direito de retirada dos equipamentos se fundamenta também: 
 na solidariedade social (art. 3º, I, da CF/88); 
 na Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que previu o direito ao transporte e à 
mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; e 
 no princípio que veda o enriquecimento sem causa. 
 
 
 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco 
 
A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de 
financiamento imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacionalse encontrava 
quitada, viola os deveres contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o 
gravame perante o adquirente. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/12/2016 (Info 594). 
 
Apartamento dado em garantia ao banco pela construtora 
Quando uma construtora/incorporadora lança um empreendimento imobiliário na planta, é comum que 
obtenha recursos emprestados junto ao banco para conseguir pagar as despesas necessárias com a construção. 
Em geral, os bancos exigem, como garantia, que as unidades habitacionais que estão sendo construídas 
lhes sejam dadas em hipoteca. Em outros casos, em vez de hipoteca, as instituições financeiras exigem que 
as unidades habitacionais fiquem em nome do banco, com base em um contrato de alienação fiduciária. 
Ex: a construtora irá construir um edifício com 200 apartamentos. Vários desses apartamentos serão 
dados em garantia ao banco (hipoteca ou alienação fiduciária). Quando o cliente que comprou o 
apartamento fizer o pagamento integral das parcelas, o dever da construtora é informar isso ao banco, 
pagando uma parte do empréstimo. Em contrapartida, o banco levanta a hipoteca ou, se for o caso de 
alienação fiduciária, retira o bem de seu nome. 
 
Imagine agora a seguinte situação: 
A incorporadora “Habibem” lançou um edifício de apartamentos. 
As vendas foram um sucesso e já na primeira semana havia inúmeras unidades vendidas. 
Após o mês de lançamento, a construtora obteve o financiamento junto ao banco e indicou, como 
garantia, 100 apartamentos. Dentre eles, a incorporadora deu em garantia a unidade 1502. O contrato 
celebrado entre a construtora e o banco foi um mútuo com garantia de alienação fiduciária. Isso significa 
que todos esses apartamentos ficaram em nome do banco. 
Ocorre que o apartamento 1502 já havia sido comprado e integralmente pago por um cliente. Logo, a 
incorporadora não poderia tê-lo dado em garantia. 
Assim que percebeu o erro cometido, a construtora comunicou o equívoco ao banco, mas este se recusou 
a substituir a garantia. 
Com isso, o adquirente do apartamento 1502 ficou impedido de registrar o imóvel em seu nome. 
Diante deste cenário, o cliente ajuizou ação contra a incorporadora e o banco. 
O STJ decidiu que: 
A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento 
imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/12/2016 (Info 594). 
 
Mas o banco não tem nenhuma relação jurídica com o adquirente. Mesmo assim ele é parte legítima 
para a ação e tem o dever de levantar a garantia? 
SIM. O princípio da função social do contrato, além de produzir efeitos entre as partes, alcança também 
terceiros, especialmente como neste caso em que há uma evidente conexão entre a alienação fiduciária 
em garantia e o contrato de compra e venda de unidade imobiliária, de modo que essa interconexão entre 
os contratos não pode ser ignorada pelas partes. 
Trata-se da eficácia transubjetiva da função social do contrato. 
O princípio da função social do contrato impõe deveres de conduta às partes contratantes, inclusive em 
relação a terceiros com interesse na relação negocial entre eles celebrada. 
No caso concreto, ao menos um desses deveres (o de informação) não veio a ser cumprido, por culpa da 
construtora e por negligência do banco, impondo-se a ineficácia do gravame perante o terceiro adquirente 
do imóvel. 
De outra parte, sob o prisma da boa-fé objetiva, observa-se que o banco faltou com o dever de 
cooperação, pois, mesmo depois de saber que as unidades habitacionais estavam quitadas, recusou-se a 
substituir a garantia. 
Não se quer dizer, com isso, que o banco tenha a obrigação de substituir garantias que lhe tenham sido 
prestadas, mas apenas que, no caso dos autos, era exigível a substituição, pois o próprio banco foi 
negligente ao aceitar como garantia unidades habitacionais quitadas. 
Conclui-se, portanto, com fundamento nos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva, 
que, no caso concreto, a alienação fiduciária em garantia é ineficaz em relação ao autor da demanda, 
adquirente da unidade habitacional. 
 
 
 
DIVÓRCIO 
Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão 
deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha 
 
Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas 
societárias à ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não 
àquele em que estabelecido acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.107-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial de bens. 
Em 2005, quando ainda estavam juntos, João tornou-se sócio de um hospital, com 50% do capital social, 
sendo a outra metade titularizada por um colega médico. 
Em 2013, João se apaixonou perdidamente por uma residente e decidiu se divorciar. Como estava com 
muita pressa, João e Maria se divorciaram, mas não realizaram, nesta ocasião, a partilha de bens. Eles 
fizeram apenas um acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial, estabelecendo 
que seriam partilhados em momento futuro. 
 
É possível fazer o divórcio sem a partilha de bens? 
SIM. Quando um casal está se divorciando, são muitos os conflitos que surgem envolvendo os mais 
diversos aspectos da vida da pessoa: a questão sentimental, a guarda dos filhos, a discussão acerca da 
alteração ou manutenção do patronímico e, como não se pode esquecer, há também o debate sobre o 
patrimônio e a divisão (partilha) dos bens, de acordo com o regime matrimonial adotado. 
 
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Algumas vezes, a vontade do casal de se divorciar é muito intensa e eles querem que isso ocorra logo. No 
entanto, a discussão sobre a divisão dos bens pode ser complexa e acabar atrasando a formalização do 
divórcio. 
Diante deste problema da vida prática, o Código Civil previu a possibilidade de os cônjuges realizarem o divórcio 
e que a discussão sobre a divisão dos bens fique para ser resolvida em um momento posterior. Confira: 
Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens. 
 
Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio de três caminhos 
(Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 1.075): 
 nos próprios autos da ação de divórcio; 
 em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara de família); 
 por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007). 
 
Mancomunhão 
Quando um casal se divorcia sem realizar a imediata partilha dos bens do patrimônio comum, eles 
continuarão mantendo uma relação jurídica em torno desses bens. 
A doutrina afirma que, neste caso, surge um estado de “mancomunhão” (também chamado de 
“condomínio de mão única ou fechada”). 
Mancomunhão não é o mesmo que condomínio. No condomínio as pessoas são proprietárias de “partes 
ideais” do bem, podendo aliená-las. Na mancomunhão não se fala em metades ideais, pois o que se 
constata é a existência de uma verdadeira unidade patrimonial, fechada, e que dá acesso a ambos ex-
cônjuges, à totalidade dos bens. 
Veja o que diz a doutrina: 
“Os bens não partilhados após a separação ou divórcio, pertencem ao casal, semelhante ao que 
ocorre com a herança, entretanto, nenhum deles pode alienar ou gravar seus direitos na 
comunhão antes da partilha,

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