Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão �Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Aula 01 Objetivos da aula: Os objetivos desta aula visam explanar acerca das formas de interação social. Para tal, pretende-se conceituar a idéia de negociação, diferenciando-a das demais soluções de conflitos. Por último, será apresentada a primeira lição para se depreender o ato de negociar: conhecer a si mesmo e ao seu interlocutor. Ao final desta aula, espera-se que você compreenda conceitos básicos de técnicas de negociação que possibilitam administrar conflitos no campo organizacional. 1. Formas de interação social Os processos de múltipla influência de relações interindividuais e intergrupais, que se formam sob a força de variados interesses, denominam- se interação social. A interação social apresenta-se sob as seguintes formas: a-) Cooperação (nesta, as pessoas estão envolvidas por um mesmo objetivo e valor, e, por isso conjugam seu esforço); b-) Competição (nesta, há uma disputa, uma concorrência, em que as partes buscam obter o que almejam, uma visando a exclusão da outra); c-) Conflito – se faz presente a partir do impasse, quando os interesses em jogo não logram uma solução pelo diálogo, e as partes recorrem à luta moral ou física, ou buscam então a mediação da justiça. É a oposição de interesses entre pessoas ou grupos, não conciliados pelas normas sociais; o Direito disciplina as formas de competição e cooperação quando houver relação potencialmente conflituosa. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão �Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno 2. Conceito de Negociação “Caracterizamos a negociação como um processo potencialmente oportunista de interação, pelo qual duas ou mais partes, partindo de algum grau de suposto conflito, procuram obter, mediante decisão comum, um resultado melhor do que teriam obtido por outros meios”. (LAX, David A. & SEBENIUS, James K. The manager as negotiator. Free Press, 1986.)1 Já Burbridge2 conceitua negociação como “o processo pelo qual duas ou mais pessoas se comunicam, buscando chegar a algum acordo sobre valores escassos e/ou ações controladas, total ou parcialmente, por ambas as partes, ou ainda por qualquer das partes envolvidas”. Todo negociador sempre deve negociar para ganhar, mas há duas formas de ganhar. A primeira, à custa da outra parte. A segunda consiste em chegar a um acordo em que os interesses relevantes das partes sejam atendidos. O ideal é a negociação ganha-ganha, ou seja, o problema do interlocutor também deve ser seu problema. 3. Diferenças entre negociação, mediação, conciliação e arbitragem 3.1 A Negociação A negociação ocorre quando as partes, espontaneamente, resolvem reunir-se para por fim a um ponto controvertido surgido entre elas. As partes podem tanto negociar sozinhas, sem a presença de terceiros, Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão �Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno como podem ser assistidas por um ou mais negociadores. O exemplo mais clássico de negociador é o advogado. Ele tem interesse em que a solução alcançada seja favorável para seu cliente. 3.2 A Mediação MEDIAÇÃO significa intervenção destinada a produzir um acordo. É a técnica de manter a negociação das partes litigantes sob controle de uma terceira pessoa, neutra e preparada. No processo de mediação, as partes têm mais ingerência e poder do que por meio de um processo judicial formal. O MEDIADOR se limita a traduzir, sugerir, advertir ou recomendar possíveis meios de resolver a disputa. Ele é um FACILITADOR. O melhor exemplo de mediador é o pai que tenta dirimir o conflito dos filhos. O mediador deve, portanto: - Imprimir tom positivo aos debates entre as partes; - Zelar pelo atendimento das normas comportamentais; - Considerar todos os pontos de vista inerentes à controvérsia; - Avaliar as atitudes e entendimentos de uma parte com relação à outra; - Encorajar o surgimento de proposições e sugestões; - Reduzir o número de propostas alternativas e encaminhar sua decisão; - Apresentar novas idéias e buscar diferentes formas de solução; - Na impossibilidade de acordo, deixar o caminho aberto para outra forma de solução; - Manter permanente posição de neutralidade e imparcialidade; - Evitar juízos de valor sobre questões ou pessoas; - Guardar a confidencialidade e privacidade das partes envolvidas; - Preservar a igualdade das partes; Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão �Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno - Proibir a prática de atos hostis durante a negociação. 3.3 A Conciliação A conciliação, via de regra, decorre de Lei (como no caso da audiência de conciliação na ação que segue o rito ordinário em Juízo). Na conciliação, as partes estão frente a frente e o conciliador tem a missão de tentar compor as opiniões contrárias existentes entre elas. A diferença com a mediação é que decorre de disposição legal. Exemplos de conciliadores são o Juiz de Direito e o Representante Sindical. 3.4 A Arbitragem A arbitragem pode ser entendida como jurisdição privada, doméstica, fundada em acordo de vontades cuja finalidade é solucionar controvérsias, dúvidas, problemas, e questões de ordem patrimonial. É, pois, instância jurisdicional oriunda de contrato (compromisso), ou pré-contrato (cláusula compromissória), por meio da qual aqueles envolvidos e interessados em determinada situação litigiosa elegem árbitros em quem louvam dirimi- la. 4. Primeira Lição do Negociador: Conhecer a Si Mesmo e ao Interlocutor A autocompreensão é o primeiro passo para poder administrar nossas reações, em qualquer situação.3 Portanto, o primeiro passo para ser um bom negociador é se perguntar Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão �Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno “Quem sou eu? Qual o meu estilo?”. Além disso, você deve conhecer o seu interlocutor, mormente as diferenças culturais.4 Segundo L. A. Costacurta Junqueira, em artigo intitulado “Negociação: qual o peso das diferenças culturais” , o autor conta algumas passagens interessantes, a saber: “Um executivo de construção civil canadense estava feliz por estar em Paris com sua filha que estudava francês na Sorbonne. Mais feliz, ainda, estava por ter acabado de negociar um contrato multimilionário com um potentado árabe. O jantar de comemoração estava em andamento. O canadense, como anfitrião, trouxe sua filha. O árabe entendeu tratar-se de um atraente presente. O acordo de negócios terminou, do lado canadense, com “os grosseiros avanços sexuais” feitos pelo árabe em relação à sua filha... Do lado árabe, o negócio acabou com o soco, nada convencional, que o canadense lhe aplicou no queixo. Em Londres, um grupo de homens de negócios americanos estava tentando acertar um difícil problema com um grupo de ingleses, em uma mesa de conferência. Ambos os grupos estavam ficando exasperados com seus adversários. Os ingleses insistiam que o problema fosse “colocado na mesa”. Os americanos, por sua vez, com igual ênfase se recusavam a fazê-lo. Só depois descobriram que em inglêslondrino “to table” quer dizer discutir e agir sobre um problema, enquanto em inglês americano, que dizer adiar o problema... Em Leningrado, um argentino, disposto a vender produtos agrícolas, foi levado a uma protocolar visita a monumentos da II. Guerra Mundial, antes de iniciar as negociações. Ele viu, ouviu e manifestou um interesse bem-educado. Depois que os russos esfriaram as negociações, por acaso descobriu que os estrangeiros devem manifestar inequívocos e profundos protestos de horror e solidariedade diante dos terríveis sofrimentos inflingidos aos russos durante a II. Guerra Mundial.” Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão �Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Portanto, negociadores devem, além de conhecer seu estilo e saber explorar o que têm de melhor, saber onde se manifestam as diferenças culturais e quais seus efeitos no processo de negociação. Além de conhecer as diferenças culturais (e até mesmo de linguagem) de seu interlocutor, o negociador deve saber o que ele quer e por que quer o quer. Em razão disso, Burbridge5 propõe considerar a seguinte tabela: Objetivo Implicações Para obter mais do que você tem Um objetivo aparentemente modesto pode desconsiderar a relação interpessoal, assim como os interesses daqueles que possam estar contando com o negociador para um melhor resultado. Isso pode ser obtido, mas tem um custo: criar um inimigo e respectivas implicações futuras. Para vencer Esta é a atitude do indivíduo com espírito competitivo no jogo da “soma zero” (um lado tem que perder para o outro ganhar). Já que a natureza do homem é competitiva, geralmente as pessoas confundem “ganhar” com o que deveria ser seu objetivo, isto é, obter o que eles querem o mais que puderem. Algumas negociações viáveis deixam de se concretizar porque uma das partes acha que não está ganhando. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão 10Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Para não perder Alguns profissionais, como advogados e auditores, são treinados para defender seus clientes, podendo tender a se concentrar em não perder. Essa é uma motivação poderosa, mesmo quando nos leva a ações contrárias aos nossos melhores interesses. Muitas vezes defendemos nossos valores limites com base em custos embutidos. Definindo “não perder” como tentar obter mais do que o outro lado, então a única política segura é ter certeza de que o outro lado fica com zero, mesmo se isso significar a eliminação dos benefícios potenciais para ambos os lados. Nesse caso, em vez de se dividir o dinheiro que está sobre a mesa, você prefere queimá-lo. Para obter o que você deseja Objetivo racional, baseado em saber claramente o que você deseja, e que pode não ser tão simples quanto parece. Contudo, se a relação interpessoal não for levada em consideração, poderá haver um alto custo a longo prazo. Se a relação interpessoal não for colocada em perspectiva, o resultado pode ser uma solução aquém da que seria ideal para o seu lado, isto é, usando o exemplo citado, deixar o dinheiro sobre a mesa em vez de ficar com ele. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão 11Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Para obter o máximo que você puder Se você não puder obter tudo que quer, a melhor opção seria obter o máximo que puder. E se você puder obter o que quer, a melhor opção é obter mais, isto é, tanto quanto você puder. Mas, em ambas as situações, você deve prestar atenção na relação interpessoal. Para obter tudo Em alguns casos, esse pode ser um objetivo viável a curto prazo. Entretanto, ele invariavelmente resulta, por parte do outro lado, ou em recusa de participar de futuras negociações ou no esforço deles para “acertar o placar”. Também pode afetar sua reputação com outras partes em outras negociações. As notícias se espalham rápido. Acertar as contas (vingança) Essa alternativa raramente produz benefícios, e geralmente maximiza as perdas para ambos os lados. Ainda assim, é muito comum. Um dos erros mais comuns e fatais de um negociador é subestimar a propensão para vingança por parte do outro lado. Uma solução mais proveitosa, ou que represente menos perda, pode vir a ser totalmente ignorada quando e se os ânimos se alteram. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 01 - In tr od uç ão 12Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Síntese A negociação é um processo oportunista de interação social. Negociar é uma arte que se inicia com o autoconhecimento e o conhecimento do interlocutor. Na próxima aula, aprofundaremos o que necessitamos conhecer do outro lado. A partir daí, estudaremos o gerenciamento de nossas emoções nas negociações. Bom estudo a todos. Referências Bibliográficas BURBRIDGE, R. Marc. Gestão da Negociação. São Paulo: Saraiva, 2005. COSTACURTA JUNQUEIRA, L. A. Negociação: qual o peso das diferenças culturais. Disponível em http://www.institutomvc.com.br/costacurta/ artla56_neg_difcult.htm; acesso em 01.07.2005. Legendas 1 - Apud, Burbridge, R. Marc. Gestão da Negociação. São Paulo: Saraiva, 2005, pág. 7. 2 - Op. Cit., pág. 8. 3 - Op. cit, pág. 11 4 - Disponível em http://www.institutomvc.com.br/costacurta/artla56_ neg_difcult.htm; acesso em 01.07.2005. 5 - Op. cit., págs. 20 e 21. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 13Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Aula 02 Objetivos da aula: Os objetivos desta aula visam desenvolver um estudo da necessidade de conhecimento por parte do interlocutor e do controle das emoções durante o processo de negociação. Ao final desta aula, você deverá estar apto a compreender como é importante manter o autocontrole durante o processo de comunicação com o interlocutor, bem como é também importante conhecer melhor as características do interlocutor com o qual se deseja comunicar e/ou negociar. As negociações sempre envolvem mais de um lado, implicando na existência de alguém que tenha interesses, necessidades e uma individualidade, que você necessita conhecer para obter sucesso. A melhor forma de se obter este conhecimento é passando para o outro lado, sem tornar-se, entretanto, parte deste outro lado, ou mesmo, não necessariamente gostando do outro lado, ou ainda concordando com o ponto de vista dele. O negociador costuma errar quando defende posições em vez de explorar os interesses. Burbridge 1 aconselha evitar posições, administrar seu tempo, ou seja, deixar claro quais são os seus interesses e esclarecer os interesses deles. A negociação é similar a uma partida de xadrez. É preciso conhecer o outro jogador, planejar cada ação com cuidado; usar estratégias e táticas para obter melhores posições, e, quase sempre, ceder peças para ganhar outras em troca. A grande diferença é que, numa negociação ideal, as partes envolvidas encerram o jogo igualmente vitoriosas. 2 A negociação bem sucedida passa, ainda, pelo conhecimento cultural.Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 14Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Segundo Fernando Dourado, em entrevista publicada no site da Federasul3, o mesmo esclarece: [...] 80% dos fracassos em negociações internacionais passam pela falta da compreensão cultural. [...] a parte visível de um processo de negociação nunca é esquecida, como o produto, as barreiras sanitárias e barreiras aduaneiras. “Mas se esquece da parte invisível do iceberg, que é a cultura”, enfatizou. No mundo, a cultura oriental é vista como a mais fechada pelos ocidentais. No entanto, o conhecimento de como cada povo age na hora de negociar ajuda para o bom andamento de contatos comerciais. No Japão, os contratos são praticamente decididos em ambientes descontraídos, à noite, depois da reunião realizada no escritório. É a técnica japonesa de negociar, informou Dourado. De dia, são ditas palavras para criar harmonia entre as partes. Os assuntos polêmicos ficam de lado nessa hora. Um ponto nebuloso somente será discutido no cair da noite, fora do escritório. “Normalmente depois de rodadas de sakê, porque qualquer coisa obtusa que se diga poderá ser atribuída ao álcool”, explicou Dourado. Na China, nem todo o contexto é verbal. Dourado contou que chineses costumam dar longas pausas depois de ouvir o interlocutor. Isso não quer dizer falta de apreço ou descaso. Pelo contrário, o chinês está valorizando o que foi dito. No mundo árabe, o negociador não pode entrar direto no assunto - ao contrário da Alemanha, quando a conversa informal sobre como foi a viagem, por exemplo, não dura mais do que dois minutos. Entre os povos árabes é prática começar a discorrer sobre a família, o país, a vizinhança, enfim, todo o tipo de assunto, até o anfitrião perguntar “o que lhe traz aqui?” Dourado informou que quem chega num país de população árabe para negociar precisa estar pronto para ficar mais do que um dia. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 15Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Outro aspecto a ser levado em conta, ainda segundo Burbridge, é não levantar hipóteses errôneas sobre o outro lado.4 Além disso, as emoções na negociação devem ser satisfatoriamente gerenciadas. A Revista VOCÊ S/A5 publicou artigo de José Eduardo Costa que contém importantes ensinamentos: SOB O DOMÍNIO DA ANSIEDADE Nada é mais prejudicial do que a ansiedade em uma mesa de negociação. Esta é a conclusão de Leonard Greenhalgh, professor de administração, gestão de relacionamentos e negociação na Tuck School of Business, nos Estados Unidos. Faz 25 anos que Greenhalgh estuda a influência dos aspectos emocionais em uma negociação. A novidade é que ele descobriu que, nessa hora, a ansiedade age de forma diferente em homens e mulheres. “Todos devem ser capazes de entender como a ansiedade afeta a personalidade. A melhor forma de administrá-la é evitar que dê lugar a reações intempestivas”, diz Greenhalgh. Veja as principais diferenças no comportamento deles e delas durante uma negociação: HOMENS MULHERES Angustiam-se quando percebem que estão a ponto de perder um bom acordo Se tiverem de partir para o confronto, ficam aflitas porque valorizam relacionamentos de longo prazo São mais competitivos e presos aos aspectos formais e visíveis envolvidos em uma negociação Conseguem identificar no gestual do interlocutor se ele está mais receptivo ou não a uma proposta Ficam aflitos quando surpreendidos por algo que não estava em seu script. Nessa hora, tendem a ficar mais agressivos ou evasivos A ansiedade toma conta delas quando percebem que os sinais do interlocutor são desencontrados ou se percebem que ele está jogando para obter vantagem ESTILO REGIONAL Além de estabelecer uma relação de confiança, você deve também prestar muita atenção na maneira como seu interlocutor negocia -- e mudar sua abordagem em função disso. O professor Eugênio Carvalhal, coordenador do curso de formação de negociadores da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, está finalizando um levantamento que traça o perfil do negociador brasileiro. O estudo, iniciado em junho de 2001, ouviu 823 executivos do país inteiro e dá uma idéia de como os brasileiros se comportam quando o assunto é negociação. O foco da pesquisa não foi o que os executivos falaram sobre si mesmos, mas o que os profissionais que sentaram do outro lado da mesa disseram sobre negociadores de diversas capitais. O professor apresentou aos executivos uma ficha com cem adjetivos, baseados em diferenças culturais conhecidas, que deveriam ser escolhidos de acordo com a origem do negociador avaliado. Confira: Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 16Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno RIO DE JANEIRO Extroversão e informalidade Os cariocas têm grande capacidade de adaptação. A informalidade excessiva, no entanto, pode soar como falta de compromisso com resultados e pouca capacidade de organizar idéias, especialmente diante de pessoas mais assertivas. BELO HORIZONTE Calma e desconfiança Tranqüilos e prudentes na hora de fechar um acordo, negociadores de Belo Horizonte também costumam ser bons de barganha. A desconfiança e o silêncio, porém, podem deixar a outra parte insegura, receosa de revelar informações importantes. CURITIBA Conservadorismo e frieza Os curitibanos são objetivos e focados no fechamento do negócio. Às vezes assumem uma postura muito formal, o que pode dificultar uma conversa mais aberta. Saiba respeitar o espaço pessoal. PORTO ALEGRE Altivez e franqueza Os gaúchos são objetivos e gostam das coisas ditas de forma direta, sem rodeios ou divagações. O xis da questão é que o orgulho e um certo excesso de auto-estima os deixa com fama de parciais e pedantes. SÃO PAULO Orgulho e ousadia O negociador paulistano é organizado, objetivo e trabalha por resultados. Pode parecer frio e sistemático. Usar um tom mais conciliador ajuda a diminuir as barreiras e até a acelerar o desfecho do negócio. RECIFE Criatividade e disponibilidade Os recifenses sempre usam sua criatividade para encontrar soluções que evitem o confronto direto. São também muito prestativos. É importante, no entanto, ser firme na defesa de suas propostas. Por outro lado, a comunicação não é apenas verbal, abrangendo também sinais não verbais como olhares, expressões faciais, gestos e posturas. Alguns especialistas chegam a afirmar que a maior parte do conteúdo comunicativo é não verbal, ou a linguagem do corpo manifesta, de modo inconsciente, nossas verdadeiras intenções. Você sabia que : 6 - Mão no queixo representa aceitação? Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 17Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno - Cabeça pendida para o lado representa atenção e aprovação? - Corpo pendido para frente quando a pessoa esta sentada representa interesse na conversa? - Gestos com as mãos enfatizam o ponto de vista? - Morder a caneta demonstra insegurança? - Testafranzida representa dúvida? - Pernas cruzadas representam defesa? - Olhar para o chão significa submissão? - Cabeça levantada como quem olha o horizonte significa domínio? - Roer unhas significa insegurança? Ressalta-se que o olhar é indispensável tanto como parte da comunicação, para que o negociador consiga extrair o máximo de seus sentidos, como na percepção do que ocorre com seus interlocutores, tirando disso proveito. É muito importante, ainda, o autocontrole. Nem preciso falar muito sobre isso após termos vivido e visto os depoimentos do Deputado Roberto Jefferson, que além do dom da oratória, possui autocontrole invejável. Não perde as estribeiras, fica impassível diante de agressões. Mario Persona, professor e consultor em administração e marketing, analisou o depoimento de Roberto Jefferson e seu autocontrole de uma forma muito interessante. Esta análise curiosa pode ser encontrada no seguinte endereço: http://www. mariopersona.com.br/blog/archives/00000105.htm, e que transcrevemos abaixo: 15/06/2005 “O que aprendi com Roberto Jefferson” O que aprendi com Roberto Jefferson Espere, não entenda mal. Este continua sendo um blog de comunicação e marketing. Não vou falar de política, nem comentar se procedem ou não as denúncias feitas pelo deputado ao Conselho de Ética da Câmara. Tampouco é minha intenção apresentar qualquer opinião contra ou a favor da questão política ou seus protagonistas. Muito pelo contrário. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 18Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Se você tentar encontrar algum teor político nestes comentários, vai se decepcionar. O objetivo não é este. Há outros blogs por aí comentando a questão política do depoimento com maior propriedade e conhecimento do que eu, portanto, vou apenas comentar o que aprendi dentro da área na qual atuo: comunicação. Como já atuei como negociador em grandes empresas, conheço um pouquinho das técnicas que o deputado utilizou em sua defesa. É inegável que o Roberto Jefferson deu um show de habilidade, oratória e comportamento em público. Hein? Ok, então leia “comportamento de comunicação”. Um jornal comentou que “por falta de um oponente à altura” — e eu acrescentaria, principalmente em comunicação e oratória — “Roberto Jefferson nadou de braçada”. Concordo. Se você for inteligente — e acredito que é — saberá que sempre existe algo para se aprender além daquilo que é a intenção principal de qualquer acontecimento. Neste caso, aprenda a falar em público com Roberto Jefferson. Ou comigo neste link, já que esta é uma de minhas atividades. Quem não se controla é como cidade sem muros (Pv 25:28) Primeira lição: autocontrole. Qualquer pessoa que pretenda falar em público deve ter autocontrole, ou ficará vulnerável. Embora alguns acreditem que a melhor e mais convincente estratégia seja o berro, isso só funcionará quando você se dirigir a acéfalos. Para pessoas inteligentes, o descontrole, ainda que ensaiado, é sinal de fraqueza na argumentação. Vi um deputado descontrolado assim, gritando que era homem e coisas do tipo. A princípio podia até parecer que ganhara a parada, no grito. Bastou a postura quieta de seu interlocutor, o deputado Roberto Jefferson, para apagar todo o fogo que havia acendido. A impressão que deu foi de ter ouvido um “shsssssss....” como faz o fogo quando se apaga com água. “Estar no poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar as pessoas que você é, você não é.” Margareth Thatcher Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 19Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Onde errou? Se exaltou demais, falou repetidas vezes de sua origem humilde, de que não precisava de dinheiro de “mensalão”, de que era homem honrado, de que tinha filhos, esposa e mais de 3 mil funcionários diante dos quais não iria engolir as acusações. Pode estar tudo correto, porém numa apresentação pública qualquer esforço de exagerar seus próprios predicados costuma ter efeito contrário. Se eu gritar aos quatro ventos, repetidas vezes, que sou honesto, estou dando margem para minha audiência desconfiar. Evite isso ao falar em público. Roberto Jefferson comete o mesmo erro de exagero nas repetições, porém para aparentemente inocentar o presidente Lula. Inconscientemente ou deliberadamente, não posso afirmar, o exagero da tônica mais atrapalhou do que ajudou a imagem de quem ele queria defender. Anote aí: sempre que você repetir demais algo, bater com insistência na mesma tecla, a única impressão que vai passar é a de que não está seguro daquela tecla. “Quem ri por último, ri melhor” Ditado popular Outro deputado apresentou todos os seus predicados de credibilidade antes de questionar se o “mensalão” não seria a mesma coisa do pagamento “à vista” que Roberto Jefferson afirmou ter recebido. Encerrou sua pergunta com a expressão de lutador satisfeito por levar o oponente ao corner. Não levou. A habilidade de negociação do deputado acusado o fez usar de um expediente muito útil nessas horas: o viés. Usando de bom-humor e sarcasmo, fez uma continha e rebateu, em tom de brincadeira, que talvez o outro deputado estivesse descontente por seu partido ter recebido um valor menor per capita e, ainda por cima, a prazo, enquanto ele teria recebido à vista. Todos riram com a brincadeira e estava desmontado o argumento do acusador. No filme “O Santo”, com Val Kilmer, há algo parecido quando o Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 20Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno mocinho — que no filme também é bandido — negocia com a máfia russa a contratação para um roubo e é ameaçado pelo gangster que afirma poder matá-lo ali mesmo, naquele local público e cheio de gente. O Santo é levado para o corner! O mocinho-bandido boceja, se espreguiça e convida: Que tal tomarmos um café? Aquilo quebrou o encanto, levou seu oponente a aceitar ir até a lanchonete e, chegando lá, é o Santo quem começa dando as cartas. Em uma negociação, bater de frente é algo que causa estrago demais para ser algo utilizado com freqüência. O viés é uma técnica importante para quem negocia. Roberto Jefferson usou mais de uma vez essa técnica e, às vezes, mesclada com elogios rasgados ao acusador, outra forma de desmontar seu poder ou ímpeto de acusação. Quem é elogiado costuma ter seus ânimos arrefecidos antes de fazer uma nova acusação. Aliás, parece ser uma técnica padrão entre os deputados, porque todos começavam seus discursos dando vazão a elogios rasgados à “Vossa Excelência” que pretendiam massacrar. Lembro-me de uma reunião de vereadores numa cidade vizinha onde um diálogo ocorreu mais ou menos assim: — Vossa Excelência é inconstante no que diz! Dá uma no cravo e outra na ferradura! — Também pudera; Vossa Excelência não pára de mexer o pé! “Aquilo que VOCÊ É soa tão alto que mal posso ouvir o que VOCÊ DIZ”. Ralph Waldo Emerson 1803-1882 Outros detalhes do comportamento de comunicação do deputado são importantes e servem de escola para quem quiser aprender a falar em público. A mão usada para gesticular aberta nunca era mantida assim por muito tempo. Esticava os dedos e logo fechavaa mão como se estivesse agarrando firme aquilo que acabara de falar. Seu gesto de linguagem corporal, além de sugerir à audiência que agarrasse também — e somos propensos a imitar gestos, como Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 21Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno quando alguém boceja — evitava demonstrar qualquer tremor que uma mão aberta poderia denunciar. O olhar treinado não se desviava em momento algum. Olhos que se viram para o alto, como quando fazemos para lembrar — canto superior direito da testa — ou para inventar — canto superior esquerdo — geram a impressão de insegurança. Daí o deputado olhar para frente e fixando os olhos ora numa câmera, ora noutra ou em alguém da platéia que queria impressionar. Não raro a mudança de foco do olhar ocorria durante uma pausa de impacto. O silêncio em meio a um discurso serve para sublinhar o que acaba de ser dito. “Uma mentira contada mil vezes, torna-se verdade”. Joseph Goebbels Outra técnica utilizada foi a do detalhe. Se eu disser a você que me encontrei com o Osama Bin Laden, vai parecer mentira, mas se eu falar de detalhes insignificantes, contar que o encontro foi próximo a um pipoqueiro quando eu estava indo à casa de minha tia que há poucos meses teve um problema gástrico e que pediu para eu comprar um remédio e blá blá blá, aumento a possibilidade de tornar minha história crível. O falso encontro com Bin Laden acaba diluído em um número enorme de pequenas verdades que não exigem comprovação que fará o pacote todo parecer real. Dramatizar a fala também foi uma técnica usada com liberalidade. Se for cassado, Roberto Jefferson pode exercer seu talento nos palcos — dizem que é bom de ópera — ou na próxima novela das 8:00. Porém sua média nesta disciplina foi menor por ter exagerado em algumas partes. Estaria bom para uma novela mexicana, talvez, mas não para uma negociação ou palestra. A dramatização em excesso pode parecer falsa ou piegas. “A farinha de mandioca esfria o quente, aumenta o pouco, engana a fome da gente e enche a barriga do caboclo” Sabedoria popular Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 22Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Outra habilidade que o orador demonstrou ter foi a de inserir elementos novos em seu discurso, sabendo costurar tudo com o que estava sendo dito. Refiro-me às informações que iam chegando e eram colocadas à sua frente por seu staff, com novas revelações sobre o que estava acontecendo lá fora. Qualquer orador deve ser flexível o suficiente para construir sua argumentação à medida que for apresentando. Pessoas que decoram discursos costumam se atrapalhar quando algum elemento novo e inesperado aparece na vizinhança. Foi a impressão que tive de alguns deputados e deputadas que liam as perguntas que anotaram de antemão por medo de errar. Quando a resposta do deputado retornava com algo de inesperado, seu interlocutor ficava mais perdido do que cachorro em dia de mudança, fazendo lembrar do robô de Perdidos no Espaço quando era confrontado com algo além de sua capacidade. Ele saía dizendo com voz de lata: “Não tem registro... Não tem registro...” Minha análise das técnicas de comunicação do deputado não é completa. Há outros detalhes que me fogem da memória agora, mas posso voltar aqui para comentá-los. Se você viu alguma outra técnica de oratória utilizada, acrescente seu comentário logo abaixo. Limite-se, porém, às técnicas de comunicação que forem úteis para falar em público e negociação. Outras técnicas foram vistas lá dos dois lados, porém não comento aqui porque para aplicá-las você poderia precisar de uma lona ou de um ringue. Os sentimentos, as emoções e os desejos permeiam todas as relações interpessoais. Discorrendo sobre a importância desses fatores para o contexto da negociação, Wanderley7 afirma que: “Os sentimentos que temos pelas pessoas determinam a nossa compreensão dos seus atos. Um mesmo ato pode ser considerado de várias formas. Se gostamos de alguém, nossa propensão é só ver seus pontos positivos e negar ou justificar seus pontos negativos. Ao Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 23Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno contrário, se não gostamos de alguém, tendemos a ser intolerantes e a ver apenas os seus defeitos. Assim, um mesmo fato pode ter interpretações extremamente diferentes. Tudo depende do tipo de relacionamento que as pessoas têm, dos sentimentos e emoções que fluem entre elas” (pp.51-52). Os valores internalizados (provenientes da família, da religião, da educação) de cada pessoa também influenciam os seus comportamentos de interação. A comunicação não verbal inclui8: 1. Modulação de voz (a altura da voz); 2. Entonação (a ênfase colocada em determinadas palavras); 3. Gestos (a maneira como suas mãos, braços e pernas se movimentam); 4. Contato dos olhos (o olhar, direto ou indireto, dirigido ao interlocutor); 5. Proximidade (a distância entre você e o interlocutor); 6. Expressão facial (um sorriso ou uma cara feia). Assim, o bom negociador é capaz de perceber se sua comunicação é eficaz e está sendo bem recebida pelo interlocutor. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 24Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Síntese Negociar requer que nos conheçamos, saibamos nossos objetivos e, principalmente, que conheçamos o outro lado, ou seja, o interlocutor. Para que isso seja possível, é importante termos o autocontrole, o controle das emoções e que saibamos reconhecer a linguagem do interlocutor, inclusive sua linguagem corporal, que nos ajuda a decifrar a linguagem verbal e, às vezes, diz mais do que ela. Na próxima aula, estudaremos o impacto das negociações sobre os outros, ou seja, levaremos em conta o “terceiro lado”. Bom estudo a todos. Referências Bibliográficas BARNES, G. Como negociar com sucesso. São Paulo: Market Books, 1999. BURBRIDGE, R. Marc. Gestão da Negociação. São Paulo: Saraiva, 2005. RANGEL, Simone Caliman. Artigo “Negociar é Preciso”. Disponível em http://www.sebraees.com.br/manualempresario/pag_det_ass_man_emp. asp?cod_assunto=96&ds_assunto=Negociar%20%C3%A9%20Preciso&c od_grupo=8 Acesso em 05/07/2005. WANDERLEY, J. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Editora Gente,1998. Legendas 1 - BURBRIDGE, R. Marc. Gestão da Negociação. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 30. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 02 - O qu e pr ec isa mo s s ab er d o ou tr o lad o 25Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno 2 - RANGEL, Simone Caliman. Negociar é Preciso. Disponível em: http://www.sebraees.com.br/manualempresario/pag_det_ass_man_emp. asp?cod_assunto=96&ds_assunto=Negociar%20%C3%A9%20Preciso&c od_grupo=8. Acesso em 05/07/2005. 3 - Disponível em http://www.federasul.com.br/tanamesa/2003/25jun03. html,acesso em 05/07/05. 4 - Op. cit., p. 31. 5 - Disponível em http://vocesa.abril.uol.com.br/edicoes/76/pgart_04_ 05102004_50914.shl; acesso em 05/07/05. 6 - Artigo “Imagem Corporal: onde os movimentos falam mais do que as palavras”. Disponível em http://spvisao.com.br/artigos/007%20- %20Lin guagem%20corporal,%20onde%20os%20movimentos%20falam%20mais %20que%20as%20palavras.doc; acesso em 05/07/05. 7 - WANDERLEY, J. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Editora Gente,1998. 8 - BARNES, G. Como negociar com sucesso. São Paulo: Market Book Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 13Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Aula Nº 03 – O Terceiro Lado Objetivos da aula: Os objetivos desta aula visam esclarecer a importância de certos estudos que permitam obter conhecimento de terceiros que estejam envolvidos ou sofram impactos em decorrência de determinada negociação. Ao final desta aula, você deverá estar apto a compreender como conhecer o Terceiro Lado é de fundamental importância para os administradores modernos. As negociações devem levar em conta interesses e o impacto que eles causam em terceiros. BURBRIDGE1 assevera que não podemos ignorar ou subestimar a ação de terceiros. Ou seja, os negociadores não podem olvidar que toda empresa tem uma responsabilidade social. Mas o que significa responsabilidade social, então? Responsabilidade social é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparência da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona, e também pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais2. Portanto, simplesmente pagar impostos, preservar o meio ambiente, respeitar o direito das pessoas não é responsabilidade social! A responsabilidade social consiste, sim, em ações voluntárias da empresa para a melhoria da qualidade de vida da comunidade. Por exemplo: quando uma empresa cuida de uma praça, subsidia uma creche, está agindo de forma socialmente responsável, pois não tem obrigação legal de fazê-lo, mas sabe que a melhoria da qualidade de vida da população é condição sine qua non para seu sucesso. Não poluir não é ser socialmente responsável, mas é ser legalmente responsável (pois há uma sanção da lei para quem polui). O Instituto Ethos considera a empresa socialmente responsável quando ela Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 14Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno vai “além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores.” 3 Uma definição de responsabilidade social é a proposta por Fernando Almeida: “Responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo”. 4 Patricia Almeida Ashley tem uma definição bem próxima à de Almeida: “Trata-se do compromisso contínuo nos negócios pelo comportamento ético que contribua para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, pressupondo a realização de decisões empresariais que sejam resultado da reflexão sobre seus impactos e sobre a qualidade de vida atual e futura de todos que sejam afetados pela operação da empresa”.5 Burbridge6 cita o caso de dois empresários que participam de uma licitação e saem vitoriosos. Eles formam um consórcio para a construção de um oleoduto e, ao comemorarem sua vitória, são surpreendidos pelo advogado que lhes diz que o oleoduto passa por uma reserva indígena (os índios cadomos) que se contrapõem à passagem do oleoduto por suas terras, tendo sido suspensa a licitação por este motivo. Como se vê, os negociadores esqueceram do terceiro lado e seu negócio acabou sendo prejudicado. No caso do consórcio, os negociadores estudam a possibilidade de uma mediação. O terceiro lado pode se manifestar de diversas formas, por meio das ADR (Alternative Dispute Resolution), ou seja, a arbitragem, a mediação e a negociação, elementos que mencionamos na aula 1. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 15Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Podemos dividir estas formas negociais em: a) meios auto-resolutivos: Por meio deles, não há poder ou interferência do terceiro, sendo a solução alcançada unicamente por força da vontade das partes. Neste grupo, encontra-se a negociação ou ajuste direto (sem a participação de terceiro) e também a negociação assistida (conciliação e mediação); b) meios impositivos: Neste grupo, há a característica da intervenção de terceiros, pois ele é dotado de poderes para resolver conflitos. (Ex: poder judiciário e arbitragem). A conciliação, via de regra, decorre de Lei (como no caso da audiência de conciliação na ação que segue o rito ordinário em Juízo). Na conciliação, as partes estão frente a frente e o conciliador tem a missão de tentar compor as opiniões contrárias existentes entre elas. A diferença com a mediação é que decorre de disposição legal. A negociação ocorre quando as partes, espontaneamente, resolvem reunir- se para por fim a um ponto controvertido surgido entre as mesmas. As partes podem tanto negociar sozinhas, sem a presença de terceiros, como podem ser assistidas por um ou mais negociadores. A mediação consiste em recorrer a um terceiro elemento de confiança das partes para conduzir um acordo, facilitando o interesse delas. O mediador deve, portanto: - imprimir tom positivo aos debates entre as partes; - zelar pelo atendimento das normas comportamentais; - considerar todos os pontos de vista inerentes à controvérsia; - avaliar as atitudes e entendimentos de uma parte com relação à outra; - encorajar o surgimento de proposições e sugestões; - reduzir o número de propostas alternativas e encaminhar a decisão; Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 16Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno - apresentar novas idéias e buscar diferentes formas de solução; - na impossibilidade de acordo, deixar o caminho aberto para outra forma de solução; - manter permanente posição de neutralidade e imparcialidade; - evitar juízos de valor sobre questões ou pessoas; - guardar a confidencialidade e privacidade das partes envolvidas; - preservar a igualdade das partes; - proibir a prática de atos hostis durante a negociação. A arbitragem é jurisdição privada, na qual as partes recorrem a um terceiro elemento de confiança de ambas, e o elegem para dirimir (resolver, decidir) a controvérsia existente entre elas. São elementos fundamentais da arbitragem: a) um contrato (compromisso arbitral), ou pré-contrato (cláusula compromissória), no qual as partes acordem a submissão ao pronunciamento de um terceiro (árbitro) que decidirá acerca de controvérsia existente entre ambas, afastando a intervenção do Estado-juiz; e, b) um litígio que verse,obrigatoriamente, sobre questões de ordem patrimonial, i.e., concernentes a direitos disponíveis, sobre os quais a lei admita a transação. O laudo arbitral (ou sentença arbitral - expressão utilizada pela Lei nº 9.307/96) é o documento que consubstancia a decisão proferida pelos árbitros escolhidos pelos interessados. A sentença arbitral é, por si só, executável, produzindo os mesmos efeitos da sentença de autoridade judiciária. A principal vantagem da arbitragem é que, em vez de se submeter a um ato de autoridade (Juiz), as partes BUSCAM a composição e se submetem, voluntariamente à decisão. Não há o animus de litigar (as partes quando se submetem às ADRs querem continuar parceiras) e o procedimento é rápido. Elaboramos, abaixo, um quadro que mostra as principais vantagens deste tipo de solução: ARBITRAGEM PODER JUDICIÁRIO Rapidez Até 180 dias De 3 a 10 anos Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 17Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Sigilo Documentos podem ser destruídos inviabilizando o conhecimento do conteúdo por terceiros Documentos arquivados na justiça comum ao alcance de todos Confiança Escolha do Tribunal Arbitral Imposição do Juiz pela Lei Escolha do Direito As partes podem optar por um julgamento por equidade ou por regras legais Somente regras legais (princípios gerais de Direito) Decisão Não depende do Poder Judiciário e da burocracia estatal Burocracia estatal Transferência Pode ser transformado num processo judicial Pode ser transformado num processo arbitral Facilidade Escritórios privados – boa infra-estrutura Fóruns e Tribunais – pouca infra-estrutura Custos Os custos são previamente conhecidos pelas partes Dificuldade de conhecer todos os custos envolvidos. Segundo Burbridge7, existe a alternativa de abordar a questão dos conflitos de uma forma pró-ativa, como algo que pode ser visto e evitado. Para tanto, as empresas podem realizar estudos e diagnósticos para resolução de conflitos, incluindo cláusulas arbitrais nos contratos ou, ainda, contratando ombudsperson. Como fazer para administrar melhor os conflitos? Devemos buscar suas causas. As causas de conflitos nem sempre estão nas opiniões e idéias, mas na maneira pelas quais os comportamos se manifestam em relação a elas. Tanto na transmissão como na reação às pessoas que estão transmitindo. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 18Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Gestos e frases que dizemos, em situações de divergência, são responsáveis em grande parte pela escalada de desentendimentos até culminar em conflito negativo e destrutivo. O profissional pró-ativo é aquele que se antecipa às situações. Ele tem conhecimentos sobre sua área de atuação, sabe como seus colegas trabalham e aproveita para adquirir experiências com eles, mesmo não tendo muito tempo. Ou seja, o pró-ativo tenta, em todas as situações, adquirir o máximo de conhecimentos (muitas vezes inconscientemente), o que lhe permite antecipar-se aos fatos. Há vários estilos de negociadores. Segundo Burbridge8, existem vários instrumentos para medir as preferências e estilos de negociadores, sendo o mais usado o Thomas-Kilmann Instrument (TKI), que enfoca cinco características fundamentais de um negociador: - acomodação; - acordo; - evasão; - colaboração; - competição. Os acomodados ficam satisfeitos em resolver os problemas das pessoas, e tendem a dar maior valor ao relacionamento. Os que possuem a característica do acordo vêem o acordo como uma missão que devem cumprir a qualquer custo. Já os evasivos têm alta predisposição para evitar conflitos e compromissos. Os colaboradores, por sua vez, são normalmente pessoas que solucionam problemas; gostam de negociar, e o conflito para eles não é visto como um problema. Por último, o competitivo tende a apreciar o fato de estar negociando, não por estar resolvendo o problema, mas por que isso lhe dá a oportunidade de ganhar, de alguma forma. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 19Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Síntese Negociar requer que nos conheçamos, ou seja, saibamos nossos objetivos, e que conheçamos o outro lado, ou seja, o interlocutor de modo que sejam previstas as conseqüências de nossos atos perante terceiros, pois devemos ser socialmente responsáveis. Portanto, é importante não só saber lidar com os conflitos, ao buscar alternativas para solucioná-los, mas, sobretudo, sermos mais pró-ativos no sentido evitarmos conflitos desnecessários. Na próxima aula, trataremos da negociação de valores. Bom estudo a todos. Referências Bibliográficas BARNES, G. Como negociar com sucesso. São Paulo: Market Books, 1999. BURBRIDGE, R. Marc. Gestão da Negociação. São Paulo: Saraiva, 2005. MELO NETO, Francisco Paulo de & FROES, César. Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial: a administração do terceiro setor. Rio de Janeiro: Qualititymark, 1999, p. 88. RANGEL, Simone Caliman. Artigo “Negociar é Preciso”. Disponível em http://www.sebraees.com.br/manualempresario/pag_det_ass_man_emp. asp?cod_assunto=96&ds_assunto=Negociar%20%C3%A9%20Preciso&c od_grupo=8 Acesso em 05/07/2005. WANDERLEY, J. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Editora Gente, 1998. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 20Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Legendas 1Burbridge, R. Marc. Gestão da Negociação. São Paulo: Saraiva, 2005, pág. 58. 2Definição obtida no site www.uniethos.org.br. Acesso em 06/07/05. 3INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. São Paulo, 2000. p. 07. Disponível em: <http://www.ethos.org.br>. Acesso em: 11/07/05. 4Fernando Almeida, citado por MELO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César. Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial: a administração do terceiro setor. Qualititymark : Rio de Janeiro, 1999. p. 88. 5Disponível em: http://www.alternex.com.br/~patiagpucrio/apresentação.html. Acesso em: 11/07/05 6Op. cit., pág. 57. 7Op. cit., pág. 60. 8Op. cit., pág. 15 Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 35Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Aula Nº 04 – Negociando Valores Objetivos da aula: Os objetivos desta aula visam compreender adequadamente certos conceitos universais que afetam a negociação. Ao final desta aula, você deverá estar apto a compreender alguns elementos imprescindíveis no campo da negociação, de modo que possa desempenhar melhor o seu papel de Administrador ao negociar valores e alternativas com as partes envolvidas em um determinado conflito. Segundo BURBRIDGE1 , as negociações envolvem valores e parâmetros que devem ser identificados pelos negociadores competentes. Tais parâmetros seriam o preço-alvo e o preço-limite. Para se chegar a estes parâmetros, é necessário: 1. Sempre ter um alvo e um limite em mente, antes de se iniciar uma negociação; 2. Nunca se agarrar a estesalvos e limites de maneira irracional e inflexível. Deve-se estimar, também: a) A Zona de Possíveis Acordos (ZOPA), trabalhando alvos e limites próprios e da outra parte; b) A melhor alternativa sem acordo (MASA). Há diversas maneiras de estimar o preço limite: a) Construindo confiança com a outra parte: tarefa que exige tempo e Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 36Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno paciência; b) Obtendo informações de terceiros (balanços de empresas, rede pessoal de contatos, referências comerciais, etc.); c) Utilizando a inteligência externa (comparação de pequenos fragmentos de informação). Além disso, a âncora (o primeiro lance, ou seja, quem faz primeiro a proposta) pode, também, influenciar muito o resultado final (o resultado da negociação, geralmente, não ficará melhor do que sua âncora). Com freqüência, os problemas que surgem em muitas negociações são conseqüências da falta de preparação de uma ou mais partes. Se ficar muito preso a suas posições, você limitará as muitas outras maneiras pelas quais pode ter seus interesses satisfeitos. Finalmente, há que se levar em conta o framing da negociação, que, está relacionado à forma pela qual apresentamos o objeto da negociação (o que seria a moldura da argumentação, ou seja, a forma de se vender). Além disso, deve-se ter em mente os pontos de referência, ou seja, o conjunto de experiências e conhecimentos prévios que nos permitem decidir se algo é bom ou ruim. Danny Ertel discorre sobre a fase de preparação da negociação de forma peculiar em um artigo intitulado “A Fase da Preparação”2 , que transcrevemos a seguir: A fase da preparação Os brasileiros costumam tirar nota dez em criatividade e improvisação ao negociar. Talvez, por isso, a maioria não considere a preparação fundamental e siga principalmente a intuição. Contudo, uma nova visão do processo de negociação, mais abrangente, está ganhando adeptos no país. Executivos e autoridades governamentais começam a misturar instinto e Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 37Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno preparação cuidadosa ao negociar assuntos complexos, reconhecendo que a sistematização prévia pode ser um ingrediente-chave no sucesso da empreitada. Ao que tudo indica, as pessoas não se preparam para uma negociação por três motivos: (1) Não acreditam suficientemente na eficácia da preparação (confiam mais na intuição); (2) Estão ocupadas demais para investir tempo nisso; e (3) Não sabem como se preparar de maneira produtiva. É, no último aspecto, que este artigo ajudará, e muito. Propondo as perguntas que devem ser respondidas e descrevendo os passos que precisam ser dados, os autores mostram em detalhe as três formas de preparação: rápida, por prioridades e completa. Um quadro destaca os sete elementos básicos que o negociador deve analisar muito bem antes de se sentar à mesa: suas alternativas caso a negociação não dê certo, os interesses de sua empresa e da outra parte, as opções de acordo, a legitimidade segundo parâmetros internos e externos, os compromissos por assumir, a qualidade da comunicação e o relacionamento de trabalho. A relação entre uma boa preparação e uma negociação de sucesso geralmente é mal-entendida e subestimada. Com freqüência, os problemas que surgem em muitas negociações são conseqüência da falta de preparação de uma ou mais partes. Uma boa preparação não precisa demorar muito. O pensamento claro e alguns minutos de concentração podem melhorar significativamente sua eficácia. Uma abordagem sistemática ajuda qualquer um a se sair bem nas negociações e entender plenamente o que está em jogo. A premissa básica de nossas recomendações é o fato de que, em qualquer negociação, há sete elementos básicos para serem considerados: alternativas, interesses, opções, legitimidade, compromissos, comunicação e relacionamento. O tempo sempre é um recurso escasso para o executivo. Por isso, classificamos nossas técnicas de preparação em três categorias: Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 38Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Preparação rápida: é uma rápida passada pelo mapa da negociação. Isso deve ajudá-lo a ter uma idéia do que trata a negociação e para onde ela pode caminhar. Preparação por prioridades: é útil quando você precisa se concentrar em apenas certos elementos da negociação. Preparação completa: é uma preparação abrangente, indicada para negociações complexas. PREPARAÇÃO RÁPIDA Esta forma de preparação tem como objetivo fornecer uma ajuda rápida, para quando você não dispuser de muito tempo para negociar ou mesmo para negociações breves. É uma boa maneira de iniciar uma preparação mais aprofundada e pode ser, por si só, suficiente para aquela negociação de cinco minutos pelo telefone. A preparação rápida exige apenas alguns minutos para que você sistematize seu pensamento e clareie as idéias em relação à negociação. Ela se concentra em quatro dos sete elementos de uma negociação - interesses, opções, legitimidade e alternativas -, respondendo a cinco perguntas básicas: Interesses: 1) Com que realmente me importo - meus desejos, necessidades, preocupações, esperanças e temores? 2) Com que, em minha opinião, a outra parte realmente se importa - seus desejos, necessidades, preocupações, esperanças e temores? Opções: 3) Quais são todos os acordos possíveis a que podemos chegar? Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 39Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Legitimidade: 4) Quais são os padrões externos ou precedentes que poderiam convencer um de nós ou a ambos de que um acordo proposto é justo? Alternativas: 5) O que posso fazer para obter o que quero de outra forma, se não conseguir chegar a um acordo? PREPARAÇÃO POR PRIORIDADES Nem toda negociação é igual. Os elementos que estão em jogo variam de importância conforme a situação. Há situações em que as partes desconfiam uma da outra e momentos que envolvem assuntos múltiplos e complexos. Em certos casos, pode ser útil concentrar o máximo possível de seu tempo de preparação em algumas áreas-chave, em vez de fazer uma análise completa dos sete elementos básicos da negociação. Um diagnóstico da negociação o ajudará a decidir como investir seu tempo e quais elementos priorizar. Sugerimos as seguintes perguntas para este processo: Interesses: Estamos brigando por causa de nossas posições? Por quê? Eu priorizei os assuntos? Estou confuso a respeito deles? Levei em consideração o que gostaria de obter se estivesse no lugar deles? Opções: A situação parece ser do tipo em que um tem de ganhar e o outro perder? Chegamos a um impasse? Os interesses são compatíveis? Deveríamos fazer um levantamento conjunto das possibilidades? Alternativas: Eu acho que deveríamos chegar a um acordo? Eu parto da suposição de que eles têm de fazer um acordo? Eu acho que um de nós tem mais força? Eu sei o que ambos faremos se não chegarmos a um acordo? Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 40Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Legitimidade:Estou preocupado em poder ser esfolado? Estou sendo tratado com justiça? Algum de nós vai ter de explicar a outros por que concordamos com o acordo, qualquer que seja ele? Comunicação: Estou pronto para ouvir atentamente o que eles disserem? Eu sei o que quero ouvir? Sei como falar de uma forma que faça com que eles queiram ouvir? Relacionamento: É provável que o relacionamento de trabalho seja difícil? Será que vai ser difícil falar de dinheiro com eles? Essa negociação poderia estragar nosso relacionamento? Compromissos: Está chegando a hora de tomar uma decisão? Há mais coisas que fazer depois de ambos dizerem sim? Está claro para mim quem tem autoridade para assumir um compromisso? Se uma ou mais destas perguntas parecerem fundamentais para a sua negociação, você deve concentrar sua preparação nos elementos que correspondem a elas. Você pode usar o processo descrito a seguir para ajudá-lo a se preparar com profundidade nos elementos que lhe parecerem mais relevantes. PREPARAÇÃO COMPLETA Quando o que está em jogo em uma negociação iminente é grande, a preparação assume uma importância ainda maior. No mínimo, recomendamos a preparação rápida ou a preparação por prioridades. Em alguns casos, entretanto, estas duas estratégias podem não ser suficientes, embora sejam um bom começo. Para negociações complexas, de alto risco e altos valores envolvidos, é essencial uma preparação minuciosa, com a análise em profundidade de cada um dos sete elementos básicos. Veja a seguir algumas diretrizes de uma preparação completa. Interesses Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 41Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Todo mundo que entra em uma negociação tem interesses. Os interesses são diferentes das posições - estas são apenas uma das maneiras de satisfazer os interesses. Se ficar muito preso a suas posições, você limitará as muitas outras maneiras pelas quais pode ter seus interesses satisfeitos. Portanto, discutir demais em torno de uma posição acaba por desviar a negociação do assunto principal: satisfazer os interesses de cada uma das partes. A maioria das pessoas se concentra em posições, em vez de interesses, fechando-se em uma exigência inicial. Esta exigência inicial se torna o foco das negociações, desviando as partes do objetivo real: seus interesses. Quando uma das partes pensa somente no que ela quer, provavelmente os interesses da outra parte não serão satisfeitos e ela não se sentirá incentivada a chegar a um acordo. Pensar nos interesses da outra parte contribui para que os dois lados cheguem a um acordo mutuamente aceitável. Três passos para se concentrar nos interesses 1) Para compreender melhor os interesses em jogo, comece identificando todas as partes envolvidas na negociação - direta ou indiretamente. Todas as pessoas e todos os grupos que sejam atingidos pelo processo, incluindo os amigos, a família, o chefe, etc., podem exercer alguma influência sobre seu desfecho. É bom, portanto, considerar estas pessoas e estes grupos desde o início, para evitar surpresas no futuro. 2) Após identificar todas as pessoas envolvidas, é hora de esclarecer os interesses de cada uma das partes - os seus, os deles e os de terceiros. Pergunte-se: “O que é importante para mim, para a outra parte e para os outros?”, mesmo como exercício de adivinhação, pois isto o ajudará a estabelecer os possíveis interesses das diferentes partes. Então, agrupe os interesses por afinidade. 3) Uma vez esclarecidos todos os interesses, estude cada um deles. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 42Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Para cada interesse individual, pergunte-se “por quê?” e “com que objetivo?”, até descobrir os interesses reais subjacentes. Atribua pontos a seus interesses, de 0 a 100, de acordo com sua importância relativa, e também aos da outra parte. Isto vai ajudá-lo a priorizar seus interesses e a imaginar o que o outro lado achará mais importante. Opções As opções são as diferentes maneiras ou soluções pelas quais é possível satisfazer os interesses. Em geral, o negociador se apega a uma posição e, assim, acaba despreparado para trazer à mesa de negociação idéias diferentes, que poderiam satisfazer seus interesses tão bem ou até melhor. Outro erro é ver as negociações como uma tentativa de resolver diferenças ou de se chegar a um consenso, levando as partes a soluções do tipo mínimo denominador comum. Perde-se, assim, o benefício que se poderia ter criado a partir das diferenças. Para evitar erros como estes, o negociador deve mudar seu posicionamento mental de como posso conseguir a maior parte para como poderíamos ganhar mais juntos. Ter uma compreensão clara dos interesses em jogo ajudará o negociador a criar mais valor e, conseqüentemente, melhores opções. Algumas maneiras de criar valor são: - Criar economias de escala, caso as partes compartilhem capacitações e recursos semelhantes; - Combinar capacitações e recursos diferentes para criar algo que nenhuma das partes conseguiria sozinha; - Levar em conta opções para benefício mútuo em todas as situações, ao contrário de benefício isolado ou independente. Algumas das diferenças que permitem a criação de valor são: Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 43Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Risco: Algumas pessoas cobram dinheiro para correr o risco; outras pagam para evitá-lo. Oportunidade ou timing: O que é caro hoje pode ser barato amanhã - depois da liquidação de Natal, por exemplo. Percepção: Manter um segredo e não criar um precedente pode encarecer a negociação. Valor marginal do mesmo item: Alguém que fabrica sapatos pode querer trocar um par extra de sapatos por comida, em vez de ter dúzias de pares e morrer de fome. Dois passos para criar melhores opções: 1) Crie opções que atendam aos interesses. Como negociador, você deve listar todos os interesses seus e da outra parte, em ordem de importância. Então, elabore possíveis opções que levem em consideração todos os interesses. 2) Maximize os ganhos conjuntos. Faça um levantamento de todas as capacitações e recursos que cada uma das partes possui e tente explorar tanto as semelhanças como as diferenças para criar valor, conforme mostrado acima. OS SETE ELEMENTOS BÁSICOS DE UMA NEGOCIAÇÃO 1) Alternativas. Alternativas são as possibilidades de caminho que cada parte tem se não se chegar a um bom termo. O acordo obtido à mesa sempre deve ser comparado às alternativas existentes fora da negociação. 2) Interesses. Interesses não são posições, uma vez que posições são exigências das partes. Subjacentes às posições estão as razões Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 44Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno pelas quais as partes exigem algo: suas necessidades, preocupações, esperanças, desejos e temores. Quanto mais um acordo satisfizer estes interesses das partes, melhor o negócio. 3) Opções. Opções são a gama completa de possibilidades pelas quais as partes poderiam teoricamente chegar a um acordo. As opções são, ou poderiam ser, colocadas na mesa. Um acordo é melhor se for a melhor de muitas opções, principalmente se explorar todo o ganho mútuo potencial da situação. 4) Legitimidade. Legitimidade serefere à percepção de quão justo é um acordo. Um acordo fará as duas partes se sentirem tratadas com justiça na medida em que se basear em parâmetros, critérios ou princípios externos, além da vontade de cada uma das partes. Estes parâmetros podem ser leis e regulamentações, normas do setor, a praxe habitual ou alguns princípios gerais como reciprocidade ou precedentes. 5) Compromissos. Os compromissos são declarações verbais ou escritas sobre o que uma das partes fará ou deixará de fazer. Eles podem ser feitos no decorrer de uma negociação ou incorporados ao acordo obtido no fim da negociação. Em geral, o acordo será melhor se as promessas feitas tiverem sido bem planejadas e bem arquitetadas de forma a ser práticas, duráveis, facilmente entendidas por aqueles que as forem cumprir, e ainda verificáveis, se necessário. 6) Comunicação. A qualidade da comunicação em uma negociação depende tanto do nível de entendimento mútuo como da eficiência do processo. Na comunicação de alta qualidade, as mensagens entendidas pelos receptores têm o sentido pretendido pelos emissores. Ou seja, as partes entendem uma à outra, mesmo que discordem. A comunicação de alta qualidade também é mais eficiente na medida em que os negociadores minimizam os recursos gastos para tomar a decisão final - seja ela a de chegar ao acordo ou desistir dele. 7) Relacionamento. As negociações mais importantes são com Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 45Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno pessoas ou instituições com quem já negociamos antes e negociaremos novamente. Em geral, um forte relacionamento de trabalho dá poder às partes para negociarem bem suas diferenças. Qualquer transação deve melhorar a capacidade das partes de trabalharem juntas novamente – jamais as priorizando. Alternativas Diferentemente das opções, as alternativas atendem aos seus interesses fora da negociação. Como nem sempre é possível chegar a um acordo, deixar a negociação optando-se pela alternativa é um desfecho que se deve levar em consideração. Uma alternativa pode ser melhor ou pior do que o acordo negociado. Por isso, um acordo negociado é bom se ele satisfaz seus interesses de forma melhor do que suas alternativas. Faz parte de uma boa preparação avaliar sua melhor alternativa em relação a um acordo negociado para determinar quanto ela satisfaz aos seus interesses. A maioria das pessoas tende a ignorar sua melhor alternativa e entra em uma negociação sem saber o que vai fazer se não chegar a um acordo. Outras supõem que sabem qual é sua melhor alternativa e perdem a chance de pensar de forma mais criativa acerca dela - como os sindicatos, que sempre pensam na greve como sua melhor alternativa e deixam de considerar outras iniciativas, como lobby, relações públicas, operação-tartaruga ou operação-padrão. A melhor alternativa pode ser uma ferramenta poderosa se utilizada corretamente. Conheça a sua melhor alternativa e leve em consideração a da outra parte. Isso o auxiliará a se concentrar naquilo que realmente quer e nas diferentes maneiras de consegui-lo, além de ser um alarme contra maus negócios. Embora você possa nunca saber ao certo qual é a melhor alternativa dos outros, é bom levá-la em conta, para entender melhor quais são as chances de eles abandonarem a negociação. Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 46Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno Quatro passos para entender suas alternativas 1) Pense em todas as suas alternativas para um acordo negociado. Enumere seus interesses e o que poderia satisfazê-los fora da negociação. É importante ponderar os prós e os contras de todas as possíveis alternativas. 2) Faça o mesmo para a outra parte. 3) Selecione a sua melhor alternativa entre aquelas listadas anteriormente. Escreva por que esta é a sua melhor alternativa e alguns passos concretos para melhorá-la antes de entrar na negociação. 4) Determine a melhor alternativa deles entre aquelas relacionadas por você. Escreva o que você faria no lugar deles. E pergunte-se como, de forma legítima, você poderia piorar a melhor alternativa deles. Legitimidade Uma vez que os interesses sejam inevitavelmente conflitantes, é aconselhável ter bons argumentos para entrar em uma negociação. Já está provado que é mais persuasivo ter argumentos justos do que simplesmente ser teimoso. O objetivo de utilizar argumentos justos não é fazer você parecer bonzinho; eles efetivamente funcionam como uma espada para persuadir e como um escudo para impedir que você seja tratado injustamente. Resultados justos são provenientes muitas vezes de padrões externos de justiça. Estes padrões externos dão legitimidade ao processo e evitam quedas-de-braço entre as partes. Eles também facilitam a explicação que os negociadores têm de dar àqueles que representam. Justo não significa necessariamente igualitário. Os processos justos são maneiras de decidir que possuem um apelo intrínseco para as duas partes, pois parecem evitar uma vantagem injusta para uma delas. Prepare-se para dar à outra parte padrões que também pareçam legítimos e persuasivos, de Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 47Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno forma que eles de bom grado cumpram o acordo. Três passos para aprimorar sua legitimidade 1) Descubra padrões externos que possam ser utilizados como espada e escudo. Enumere os principais assuntos em jogo e os possíveis padrões relacionados a cada um deles. Então, ordene os padrões do menos favorável ao mais favorável. Em seguida, liste outros padrões relevantes que exijam pesquisa posterior. 2) Se você não concordar com as respostas que receber, prepare-se para usar a justiça do processo como instrumento de persuasão. Experimente o teste da reciprocidade, analisando se é adequado aplicar os padrões de comportamento utilizados pela outra parte quando ela se encontra em uma situação semelhante à sua. 3) Ofereça-lhes uma forma atraente e argumentos para que possam explicar o acordo àqueles que eles representam. Comunicação Em uma negociação, a comunicação é a arte e a ciência de escutar e falar de maneira eficaz. Com uma boa comunicação, evitam-se os mal-entendidos, e as negociações se tornam mais fáceis e eficientes. Se gastarmos tempo pensando em maneiras eficientes e claras de transmitir nossas mensagens e de escutar as deles, a negociação provavelmente será mais rápida e simples. As pessoas tendem a decorar falas como preparação para a negociação, o que acaba tornando a comunicação mais rígida, o que desvia a atenção. Um erro é ignorar o impacto - diferente do pretendido -, que nossa mensagem, tanto em palavras quanto em atitudes, terá sobre os outros. Ninguém jamais conseguirá prever todas as possíveis reações à sua mensagem, mas estar ciente disso já é um grande passo. Em tese, todo negociador deveria se preparar para um processo de comunicação de mão dupla, mas freqüentemente ele negligencia a Ad mi nis tra çã o d e C on flit os e Té cn ica s d e N eg oc iaç ão Au la 03 - O te rc eir o lad o 48Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno preparação para ouvir. Assim, fica sem saber o que esperar da outra parte ou como reconhecer uma mensagem diferente que vá confirmar ou questionar suas premissas. Negociar é conversar,
Compartilhar