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emerj_(prescrição e decadência) (2)

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EMERJ – CP I								 	 Direito Civil I
TEMA XVIII
Prescrição e Decadência I: Prescrição. Fundamento. Conceito. Teorias. Causas preclusivas: impedimento, suspensão e interrupção da prescrição. 
NOTAS DE AULA
1. PRESCRIÇÃO
Como já se mencionou, o CC orientou-se por três grandes diretrizes, a eticidade, a socialidade e a operabilidade. E foi em atenção à diretriz da operabilidade que o legislador do codex privado optou por apresentar uma separação legal entre os prazos prescricionais e os decadenciais. Destarte, nos artigos 205 e 206 do CC, são presentes os prazos prescricionais; em todos os demais artigos do CC que apresentam prazos, se trata de prazo decadencial.
“Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”
“Art. 206. Prescreve:
§ 1o Em um ano:
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.
§ 3o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.
§ 5o Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.”
Esta orientação só vale para o CC. Nos demais diplomas legais, os prazos que não são identificados devem ter sua natureza revelada pelo intérprete.
Outra questão que deve ser desde logo enfrentada é a que diz respeito ao fundamento da prescrição. Antes do CC, o direito privado era tratado pelas Ordenações, e lá havia regra expressa que estabelecia que a prescrição era uma punição ao credor inerte. Esta idéia, ilógica na raiz (pois resguarda o inadimplente e impõe punição ao credor que apenas se quedou inerte).
O fundamento, hoje, é muito mais coerente: a prescrição é um meio de garantir a estabilidade nas relações jurídicas, e, em última análise, a segurança jurídica. Se a pretensão não se extinguisse com o tempo, estariam eternizadas as potenciais lides, os potenciais conflitos por direitos violados.
A prescrição permite, durante o prazo previsto em lei, o surgimento de uma lide, que existe em estado potencial durante tal prazo. Com a consumação da prescrição, não se pune o credor: apenas se garante a estabilização da relação jurídica. Gustavo Tepedino, no entanto, defende que há, de fato, um caráter de punição na prescrição, reprovando-se a conduta daquele credor que quedou-se inerte com a perda do poder de pretender tal crédito.
Ainda outra questão a ser discutida é a nomenclatura prescrição aquisitiva, que se utiliza comumente para designar a usucapião. O legislador jamais se utiliza desse termo, e mais, diz que a prescrição é assunto da parte geral, enquanto a usucapião é da parte especial do CC. Em alguns ordenamentos, como o francês e o argentino, o legislador regula a prescrição genericamente, e dentro do tema trata das duas modalidades, o que seria anda mais um argumento contra a nomenclatura ser aplicável no Brasil.
Há ainda mais um argumento: o artigo 1.244 do CC estabelece que:
“Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.”
Se a usucapião fosse uma modalidade de prescrição, seria dispensável uma regra que estende a ela os institutos naturais da prescrição: já lhe seriam naturalmente aplicáveis.
Mesmo assim, a maior parte da doutrina entende ser perfeitamente cabível nomear a usucapião de prescrição aquisitiva.
1.1. TEORIAS CONCEITUAIS
	A primeira corrente, de Clóvis Bevillacqua e Silvio Rodrigues, defende que a prescrição é a perda do direito de ação. Ocorre que quem assim defende desconsidera a evolução do conceito do direito de ação, do processo civil. Da primeira teoria da ação, teoria imanentista, passando pela teoria da ação em concreto, pela teoria da ação em abstrato, da ação como direito potestativo, até chegar à teoria hoje reinante, a teoria eclética da ação. Nesta última, o direito de ação é um direito subjetivo, autônomo, abstrato e incondicionado, direito de obter do estado a entrega da prestação jurisdicional, consubstanciada em uma sentença (que sequer precisa ser de mérito).
	Hoje, portanto, simplesmente não existe hipótese alguma de perda do direito de ação. Um exemplo esdrúxulo de perda do direito de ação seria a não recepção, pelo distribuidor, pois o Estado estaria se recusando a realizar a prestação jurisdicional. Nem mesmo a perempção, pois há sentença extintiva sem resolução do mérito.
	A segunda corrente, defendida por Caio Mário, defende que a prescrição é a perda do próprio direito subjetivo. Esta teoria é adotada no direito italiano, mas até mesmo por lá é refutada por parte da doutrina. Assim fosse, e a própria estrutura do direito subjetivo, do débito e da responsabilidade, ficaria comprometida, por esta corrente. Veja: se a prescrição extingue o direito subjetivo, a renúncia à prescrição, feita pelo devedor, teria o poder de ressuscitar tal direito, o que se demonstra irascível. A outra crítica que se faz é que, se for o pagamento da dívida prescrita realizado de forma espontânea, em tese, este pagamento seria indevido, já que o credor não mais tem direito subjetivo ao crédito – estando autorizada, como conseqüência, a repetição de indébito. Ocorreque o artigo 882 do CC veda a repetição, neste caso, reconhecendo, portanto, que ainda subsiste o direito subjetivo de crédito relativo à dívida prescrita:
“Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.”
	Para a terceira corrente, teoria alemã, adotada pelo CC de 2002, a prescrição gera a perda da pretensão ou exigibilidade do direito subjetivo pela inércia do seu titular, dentro do prazo pré-estabelecido em lei, cujo termo inicial ocorre com a lesão ao direito subjetivo.
Mas deve haver uma explicação mais profunda deste conceito: o que é perder a pretensão? Segundo Barbosa Moreira, Gustavo Tepedino, Pontes de Miranda, etc, a perda da pretensão não é um efeito automático da prescrição. O que se cria com a prescrição é uma exceção, no sentido de defesa, do devedor perante o credor, que o devedor passa a poder opor ao credor, paralisando a eficácia da pretensão. A prescrição cria o direito de extinguir a pretensão (pelo quê alguns chegam a dizer que ela própria, prescrição, é um direito potestativo).
Os civilistas, por conta da adoção da teoria moderna pelo CC, da perda da pretensão, têm criticado a prescrição de ofício, introduzida pela Lei 11.280/06, porque esta defesa é uma faculdade do devedor, que envolve um direito disponível deste, não havendo qualquer razão para a substituição, pelo juiz, da vontade do interessado, verificando-a ex officio. A justificativa, para esta Lei 11.280, consiste no princípio processual da celeridade, mas isso vem em detrimento de toda a lógica do instituto.
Os processualistas têm defendido que deve, o juiz, respeitar o contraditório antes de pronunciar a prescrição, até porque pode haver uma causa suspensiva, interruptiva ou obstativa da prescrição que ele desconhece, e só pelo contraditório ficará exposta. Além disso, a prescrição de ofício faria impossível a possibilidade de renúncia à prescrição, caso o réu não fosse ouvido.
2. DECADÊNCIA
A decadência consiste na perda do próprio direito potestativo, pelo seu não exercício dentro de um prazo estabelecido em lei – decadência legal –, ou previsto pela vontade das partes – decadência convencional –, tendo por termo inicial o próprio momento em que nasce o direito potestativo.
	Veja que há a diferença inicial clara entre esta e a prescrição: aqui, não há qualquer lesão a determinar o início do prazo, tendo este o dies a quo exatamente no nascimento do próprio direito potestativo. Na prescrição, o prazo começa a correr da data em que houve a lesão ao direito subjetivo.
	
QUESTÃO 1 O ORDENAMENTO JURÍDICO PERMITE A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE?
RESPOSTA À QUESTÃO 1
	Lato sensu, o ordenamento permite, havendo no Direito Penal, no Direito do Trabalho e na Execução Fiscal. Em Direito Civil, especificamente, há um só caso: o artigo 202 do CC, no seu parágrafo único, prevê que a prescrição recomeça a correr do ato em que a interrompeu, ou do último ato para a interromper:
“Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
(...)
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.”
Entretanto, será a partir do termo judicial que foi praticado que se reiniciará o curso do prazo prescricional, e não do ato da parte. Quando o autor, intimado pessoalmente de decisão, fica inerte pelo tempo prescricional, até o momento da sentença, se a sentença for anterior ao fim do prazo, o processo é extinto sem resolução do mérito, por inércia do autor; se é posterior ao fim do prazo, a extinção é com resolução do mérito, calcada na prescrição.
O pressuposto da prescrição é o binômio inércia e tempo, podendo a inércia ocorrer antes de se provocar a jurisdição, não-exercício da pretensão, ou incidentalmente, pela paralisação do processo, que é o abandono da pretensão pelo seu titular. A lógica é que, se no curso do processo, se queda inerte, incidentalmente estará o autor abrindo mão de sua pretensão – configurando a exceção da prescrição a favor do réu (REsp 670.299, 855.264, e 853.371, e apelação cível 2005.001.5228-2, TJ/RJ).
No artigo 40 da LEP, há previsão expressa da prescrição intercorrente, que será também pronunciada de ofício.
QUESTÃO 2
Um pai vendeu imóvel de sua propriedade a "A", um de seus dois filhos, em fevereiro de 2003, sem obter anuência do filho "B". A escritura transcreveu-se no RGI. 
Em abril de 2005, "B" alega que o pai e o irmão praticaram ato ilícito e requer a nulidade do negócio, com a devolução do imóvel à herança do pai, agora falecido. 
Defende-se "A", alegando: 
a) que está extinto o direito alegado pelo autor. 
b) que o negócio foi entabulado na semana anterior à celebração, em reunião do pai com os dois filhos, e assim ocorreu concordância do ora insurgente. 
Diante do caso concreto, responda as seguintes questões: 
a) Estabeleça a diferença conceitual, em síntese, entre prescrição e decadência. 
b) Se a venda de ascendente a descendente, sem consentimento dos demais sujeita-se, em tese, a prescrição ou a decadência? Por quê? 
c) Se a concordância verbal atenderia à exigência do CC, 496? Por quê? 
d) Caso não exprima concordância, a venda seria nula ou anulável? Por quê? 
e) Se, inválida a compra e venda, "A" teria adquirido o domicílio com base no usucapião ordinário? Por quê? 
 
RESPOSTA À QUESTÃO 2
a) A prescrição consiste na perda da possibilidade de se exigir o comportamento de alguém, ou seja: é a perda da pretensão à exigência de um direito subjetivo. Somente são sujeitos à prescrição os direitos subjetivos relativos e patrimoniais; os absolutos e os pessoais são imprescritíveis. A decadência, por sua vez, consiste na perda do direito potestativo, ou seja, do próprio direito de haver a faculdade jurídica que se detinha. Decorrido o prazo decadencial, não pode mais o titular do direito potestativo exercê-lo.
A prescrição é um instituto de direito privado, pois somente se impõe contra os que sejam obrigados pelo direito subjetivo (o que ficou controvertido após a prescrição de ofício, hoje prevista). A decadência, ao contrário, é instituto de direito público, vez que não se limita a um obrigado direto pelo direito, mas sim ao próprio titular, e só a ele: o exercício do direito potestativo depende somente de seu titular, mas produz efeitos sobre todos os que estejam sob seu raio de afecção – por isso o interesse na decadência é público.
b) Sujeita-se à decadência, pois o direito de anular, genericamente, é um direito potestativo, apenas precisando de intervenção do Judiciário para fazer valer o estado de sujeição em que se encontra a parte oposta. 
Discutia-se no CC de 1916 se este ato, venda de ascendente a descendente sem anuência dos demais, era nulo ou anulável. O STF falava em nulidade, enquanto o STJ defendia a anulabilidade, pela natureza privada e disponível do direito envolvido. O artigo 496 do CC acolheu o entendimento de que é anulável, e não nulo, mas não estabeleceu prazo. Neste caso, em que o ato anulável não conta com prazo previsto, aplica-se o decadencial geral de dois anos, previsto no artigo 189 do CC.
A súmula 494 do STF, anterior ao CC de 2002, pouco técnica (vez que falava inclusive em prazo prescricional), assim previa: “A ação para anular venda de ascendente a descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em vinte anos, contados da data do ato, revogada a súmula 152”. Esta súmula não tem efeitos, hoje, a não ser que se esteja analisando ato praticado à época da vigência do CC de 1916, quando a ultratividade do diploma ressuscita a interpretação e aplicação da súmula.
c) A anuência a ser prestada no ato deve observar a mesma forma exigida para o negócio principal, de acordo com o artigo 220 do CC:
“Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato, provar-se-á do mesmo modo que este, e constará, sempreque se possa, do próprio instrumento.”
Supondo que o imóvel seja de valor superior a trinta salários-mínimos, se impõe a escritura pública para sua alienação, e portanto também se impõe a escritura pública à anuência. Como in casu a suposta anuência foi verbal, não em valor.
A título de curiosidade, a Lei 9.514/97, no artigo 38, permite a celebração de compra e venda por instrumento particular, no caso excepcional ali previsto. Fosse o caso, a anuência ou autorização também poderia ser formulada em ato particular.
d) Anulável, por expressa menção legal no artigo 496 do CC, e porque pode desinteressar aos herdeiros a impugnação do negócio.
e) Veja que há justo título, boa-fé e posse mansa, e, em tese, estando comprovados os requisitos, esta posse é ad usucapionem, podendo haver a aquisição. Contudo, in casu, simplesmente não correu o prazo aquisitivo, que é de cinco anos – não há usucapião.
Repare que, entre pai e filho menor, há uma causa suspensiva ou impeditiva do curso da prescrição, do artigo 197, II do CC, termo que se aplica à usucapião, na forma do artigo 1.244 do CC. Assim, se for filho menor, não corre o prazo, mas esta consideração não é relevante no caso.
TEMA XIX
Prescrição e Decadência II: Prazos de prescrição no Código Civil. Contagem do prazo da prescrição iniciada sob o império do Código de 16. Decadência. Conceito e diferenças em relação à prescrição quanto à essência e eficácia.
NOTAS DE AULA
1. DISTINÇÃO ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
	A primeira distinção é a topográfica, no CC, em que todos os artigos que previrem prazos e não forem o 205 ou o 206, o prazo é de decadência.
	Já as diferenças teóricas são as seguintes:
- Quanto à natureza do direito envolvido, prescrição é prazo para reclamar lesão a direito subjetivo, enquanto decadência é prazo para exercer direito potestativo. O direito subjetivo está sujeito à violação, pois o sujeito passivo tem um dever jurídico a cumprir, e se não o cumpre, está violado o direito do sujeito ativo. O direito potestativo não pode ser lesado, não está sujeito a violação, vez que não há dever jurídico a ser cumprido pelo sujeito passivo, e sim um estado de sujeição por parte desse ao direito do sujeito ativo.
- O prazo de prescrição admite renúncia, que pode ser expressa ou tácita, conforme o artigo 191 do CC:
“Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.”
	Para haver renúncia, há dois requisitos: o não prejuízo a terceiros�, e a consumação do prazo prescricional, a fim de se evitar renúncia antecipada (o que decerto se tornaria praxe em contratos de adesão, por exemplo). É necessária a consumação do prazo, pois se a renúncia for prévia ao termo final do prazo prescricional, não há prescrição ainda a ser renunciada – se estará renunciando a coisa que ainda não existe.
	A decadência convencional, criada pelas partes, trata de um direito disponível, pois só sobre direitos disponíveis podem as partes convencionar. Assim, para a decadência convencional, assim como para a prescrição, é possível a renúncia. Contudo, a decadência legal é irrenunciável, e sua ocorrência é nula, nulidade textual.
- A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pelo interessado, conforme o artigo 193 do CC:
“Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.”
	Surge uma questão: nos embargos infringentes, pode ser alegada a prescrição, não tendo esta sido alegada antes? Os embargos infringentes, o voto vencido é o limite para a discussão, ou seja, só pode haver mérito discutido a matéria “empatada” pelo voto vencido, junto à sentença de primeiro grau, conta os argumentos dos votos vencedores. Se naquele voto vencido não estiver empatada a questão da prescrição, esta não poderia ser argüida nos embargos infringentes. Contudo, com a entrada da prescrição de ofício, esta discussão caiu por terra: mesmo neste caso, de forma inaugural, poderá ser alegada a prescrição.
E em recursos excepcionais, pode ser alegada a prescrição de forma inaugural, sem prequestionamento? Seguindo a mesma lógica, a prescrição se tornou matéria de ordem pública, conhecível de ofício, e por isso não depende de prequestionamento para ser alegada. Todavia, a questão gera controvérsia, estando o STJ dividido quanto a sua possibilidade: para as Turmas de direito privado do STJ (terceira, quarta e quinta Turmas), conforme REsp 850.991, não é possível a alegação inaugural da prescrição em recursos excepcionais, pois a CRFB cria a competência do STJ, no seu artigo 105, para apreciar questões que tenham sido decididas em única ou última instância, sendo incompetente para conhecer matéria ali inaugurada. Este entendimento, que impede o conhecimento do STJ neste caso, esquece que a pronúncia da prescrição, hoje, é um dever do judiciário, pelo quê a sentença ou acórdão que a ignora, se transitada, pode ser alvo de uma ação rescisória, por direta violação à lei.
Para as Turmas de direito público do STJ, juntamente com toda a corrente processualista, entretanto, é permitido o reconhecimento da prescrição a qualquer tempo, não demandando o prequestionamento para tanto, nos recursos excepcionais, pois como dito a prescrição é questão de ordem pública, hoje. No entanto, criam um óbice: o recurso excepcional não poderá ser admitido única e exclusivamente pelo fundamento da prescrição, devendo a admissibilidade ser feita por um outro motivo qualquer, a gerar o efeito devolutivo amplo, que possibilita o conhecimento de qualquer matéria de ordem pública – quando então a prescrição será conhecível (AgR em Ag 817.251, e REsp 855.525).
- A prescrição, hoje, é declarada de ofício; o prazo de decadência legal deve ser pronunciado de ofício, mas o prazo de decadência convencional depende de provocação para ser reconhecido (o que é uma incongruência, vez que deveria acompanhar a prescrição, que também trata de direito indisponível)
- O prazo prescricional pode ser suspenso, interrompido ou obstado, nas hipóteses dos artigos 197, 198 199 e 202 do CC; a decadência não se interrompe nem se suspende, havendo duas exceções: o CDC, no artigo 26, § 2°, estabelece que a decadência se interrompe em suas hipóteses:
“Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
(...)
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.”
E o CC, no artigo 208, que remete ao artigo 198, I, estabelece que a decadência não corre contra o absolutamente incapaz:
“Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.”
“Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
(...)”
QUESTÃO 1 CASOS CONCRETOS
Tércio ajuizou ação de execução de alugueres em face de Tício, tendo por objeto o período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2001, quando ocorreu a desocupação do imóvel. A ação foi ajuizada em 05 de janeiro de 2004. Citado, Tício interpôs exceção de pré-executividade suscitando a prescrição da pretensão, ao argumento de que o prazo prescricional em tela é de três anos, consoante o disposto no artigo 206, §3º, inciso I, do CC. Você, como juiz, acolheria ou não a prescrição? Qual o fundamento? 
RESPOSTA À QUESTÃO 1
	O fato se passa na vigência do CC de 1916, e a prestação mais antiga data de janeiro de 2001. Até a entrada em vigor do CC de 2002, 11 de janeiro de 2003, decorreram dois anos, sendo que o prazo prescricional, à época, era de cinco anos, consoante o artigo 178 do antigo CC:
“Art. 178.  Prescreve:
(...)§ 10.  Em 5 (cinco) anos:
(...)
IV - Os alugueres de prédio rústico ou urbano;
(...)”
Como se passou menos da metade, o prazo que deve ser contado é o atualmente previsto, mesmo reduzido (pois é de três anos), conforme impõe o artigo 2.028 do CC atual:
“Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.”
	Entenda: todas as prestações venceram há menos de dois anos e meio, ou seja, menos da metade do prazo previsto no CC de 1916, na data da entrada em vigor do CC de 2002. Pelo artigo 2.028 do CC, deve ser aplicado neste caso o prazo novo, de três anos, revisto no artigo 206, § 3°, I:
“Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
(...”
	Ademais, o STJ já decidiu, e é posição pacífica, que o prazo novo deve ser contado desde a entrada em vigor do CC de 2002, 11/1/2003, e não da data da ocorrência do fato violador do direito subjetivo. In casu, o prazo termina em 11/1/2006. Como o ajuizamento da execução foi antes da prescrição, o prazo se interrompeu, segundo o artigo 202, I, do CC, e por isso a alegação de prescrição não deve ser acolhida.
QUESTÃO 2
Francisco da Silva efetuou, na Nacional Seguros S/A, o seguro do seu veículo que, no mês seguinte, foi furtado em frente a sua residência e, tendo postulado o pagamento na seguradora, não logrou êxito. 
Dessa forma, promoveu ação ordinária em face da empresa, pleiteando a sua condenação no valor correspondente ao preço de mercado do veículo, juros, sucumbência, além de verba indenizatória correspondente ao aluguel de automóvel similar ao de sua propriedade, desde o furto até o efetivo pagamento. 
Em sua defesa, argüiu a seguradora preliminar prescricional, sob a alegação de ter sido a ação proposta dois anos e meio após o termo inicial do prazo prescricional, não sendo aplicável ao caso o Código de Defesa do Consumidor. No mérito, aduz haver descumprimento de condição contratual a ensejar a improcedência do pedido. 
Decida a questão da prescrição, dando os fundamentos de fato e de direito aplicáveis à espécie, analisando-os sob à égide do CDC e do novo Código Civil.
RESPOSTA À QUESTÃO 2
	Na relação de seguro, o prazo prescricional é de um ano para a pretensão do segurado em haver da seguradora seu benefício, e vice-versa, nos termos do artigo 206, § 1°, II, do CC:
“Art. 206. Prescreve:
§ 1o Em um ano:
(...)
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
(...)”
	Se o seguro gerar uma pretensão do beneficiário contra a seguradora, ou do terceiro prejudicado, no caso de seguro obrigatório (DPVAT), o prazo é elevado a três anos, conforme o artigo 206, § 3°, IX, do CC:
“Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3o Em três anos:
(...)
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
 (...)”
	No caso proposto, sendo verdadeiros os fatos alegados na defesa, o prazo a ser observado é de um ano, pois é exatamente a situação do artigo 206, § 1°, II, “b”, do CC. Destarte, a prescrição ocorreu, e deve ser acolhida. 
Veja que não se trata de responsabilidade civil por fato do serviço, e sim do caso específico previsto, pelo quê não se aplica o artigo 27 do CDC, igualmente.
 “Artigo 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.”
	Fosse considerado o caso um acidente de consumo, decorrente de ausência de segurança no serviço da seguradora, seria aplicado o prazo deste artigo 27 do codex consumerista. Veja que há corrente doutrinária que entende que este seria o caso, defendendo que a falta de pagamento do benefício ao segurado é, em verdade, um fato do serviço do seguro, pelo quê seria regida a situação pelo CDC.
	Ocorre que há um detalhe no caso: há, além da violação contratual, que merece tutela pelo CC, o fato danoso alegado pelo requerente na alegação de danos materiais, consubstanciados no pedido de pagamento do aluguel de carro pelo período indisponível. Estes danos podem ser considerados fato do serviço, pelo quê se submeteriam ao CDC – não estando prescrito o prazo para sua exigibilidade, somente destes alugueis, portanto.
	Em síntese: não se confunde o pagamento da prestação, objeto do contrato de seguro, com o pagamento de danos materiais e morais decorrentes do fato do serviço. O primeiro segue a regra do CC; os danos oriundos do fato sujeitam-se ao CDC.
QUESTÃO 3
Tício foi atropelado em janeiro de 1990 por coletivo de Transportes Ômega Ltda., tendo ingressado com ação de indenização por perdas e danos em janeiro de 2004. Em sede de contestação, suscitou a ré preliminar de mérito - prescrição - sob duplo fundamento a) ação, tendo sido ajuizada na vigência do Novo Código Civil, obedeceria ao disposto no artigo 206, §3º, inciso V, do CC; b) quando muito, aplicar-se-ia o prazo estabelecido no artigo 27 da Lei nº 8078/90, estando irremediavelmente prescrito o direito de ação. Decida a questão. 
RESPOSTA À QUESTÃO 3
	Não ocorreu a prescrição. De 1990 a 2003, entrada em vigência do novo CC, correram treze anos, mais da metade do prazo anteriormente previsto para esta prescrição, que era de vinte anos. Tendo sido reduzido, como o foi, e tendo sido corrida mais da metade do prazo, seguindo-se a regra do artigo 2.028 do CC, vai ser aplicável o prazo da lei anterior. Aplicando-se o prazo antigo, a prescrição vintenária, tem-se que a prescrição só ocorrerá em 2010, e por isso ainda não se operou.
	Quanto à alegação da aplicabilidade do artigo 27 do CDC, menos razão ainda assiste à contestante, pois a relação não é consumerista. E mesmo que o fosse, o diálogo das fontes determinaria que fosse aplicável a regra mais benéfica à parte hipossuficiente, sendo ainda assim a vintenária.
� A renúncia à prescrição pode acabar prejudicando credores, pois faz exigível o débito que estaria prescrito, e por isso não pode ser feita, quando configurar-se fraude contra credores – daí esta previsão neste artigo do não prejuízo de terceiros.
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