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ESQUEMA DE AULA
Abril.2014
Profª Erika Bechara
A PROTEÇÃO DA FLORA
1. UTILIDADE DAS FLORESTAS E DEMAIS FORMAS DE VEGETAÇÃO
- utilidades: usos medicinais, industriais, alimentícios; valores estéticos; habitats de espécies da fauna, moradia para alguns povos (indianistas, silvícolas...); manutenção do equilíbrio ambiental; impedem erosões, desmoronamentos de encostas e assoreamento de cursos d’água etc.
2. CLASSIFICAÇÃO DAS FLORESTAS
( quanto à variabilidade das espécies
HOMOGÊNEAS - dominância de uma determinada espécie vegetal Ex: pinheirais.
HETEROGÊNAS - diversidade genética
( quanto à origem
NATIVA - espécies originárias da região em que floresce
EXÓTICA - espécies provenientes de outros ecossistemas ou regiões
( quanto ao florestamento
PRIMITIVA - florestamento primário/mata virgem. São sempre florestas nativas.
 SECUNDÁRIA - reflorestamento
vi.1. REGENERADAS - florestas nativas (mas não primitivas) e naturais
vi.2. PLANTADAS - formadas artificialmente pelo plantio de espécies 
3. PROTEÇÃO DAS FLORESTAS E DEMAIS FORMAS DE VEGETAÇÃO
Lei 12.651/2012 (novo Código Florestal)
Decreto 7.830/2012 (regulamenta o Código Florestal)
Lei 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica)
4. DIREITO DE PROPRIEDADE E FLORESTAS
Art. 2o do novo Código Florestal: “As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”
- o § 1o do art. 2º diz que as ações ou omissões contrárias às disposições desta Lei são consideradas uso irregular da propriedade)
5. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APPs)
Art. 3º, II do Código Florestal: define APP como “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”
5.1. LOCALIZAÇÃO 
Ex legis
Art. 4º do Código Florestal: florestas de preservação permanente ex vi legis - proteção das águas e do solo:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: 
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento; 
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; 
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.
§ 1o Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais
§ 4o Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama
Art. 5o Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana.
- Resolução Conama 302/02 (APPs de reservatórios artificiais) e 303/02 (parâmetros para as APPs)
 
Por ato declaratório
Art. 6o do Código Florestal. Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público; 
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. 
5.2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM ÁREAS URBANAS
(i) no antigo Código Florestal (Lei 4.771/1965):
Art. 2º, § único: “No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo” (redação dada pela Lei 7.803/89)
 “AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL EM CHÁCARA DE RECREIO. ALEGAÇÃO DE SITUAR-SE EM ZONA URBANA E ESCAPAR À INCIDÊNCIA DO CÓDIGO FLORESTAL. DESCABIMENTO. A TUTELA A NATUREZA NÃO DISTINGUE ENTRE MEIO AMBIENTE URBANO E RURAL. AMBOS MERECEM PROTEÇÃO POR SEU SIGNIFICADO E GARANTIA DA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO. APELO DOS RÉUS DESPROVIDO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEMARCAÇÃO DA RESERVA	LEGAL.	ALEGADA INSUBSISTÉNCIA DA OBRIGAÇÃO DIANTE DE CUIDAR-SE DE CHÁCARA DE LAZER	 EM ZONA URBANA. IRRELEVÃNCIA. POR SITUAR-SE EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, INDECLINÁVEL A NECESSIDADE DE RESERVA DE 20% DA ÁREA PARA A PROTEÇÃO DOS MANANCIAIS, DA BIODIVERSIDADE E DA SAUDÁVEL QUALIDADE DE VIDA. APELO DOS RÉUS DESPROVIDO. (Apelação Cível N° 377.274.5/3-00-ARARAQUARA, CâmaraEspecial de Meio Ambiente, Rel. Des. Renato Nalini)
(ii) no novo Código Florestal
“Art. 4º: Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:”
(o art. 4º deixa claro que as APPs incidem sobre áreas rurais E URBANAS)
5.3 SUPRESSÃO DE APP
a autorização para supressão é excepcional, e apenas em casos de utilidade pública, interesse social e baixo impacto ambiental
Utilidade pública
Art. 3º, VIII do Código Florestal: considera de utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;
Interesse social 
Art. 3º, IX do Código Florestal: considera de interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;
Baixo impacto ambiental 
Art. 3º, X do Código Florestal: considera de baixo impacto ambiental:
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;
Art. 52 do Código Florestal. A intervenção e a supressão de vegetação em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal para as atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental (exceto as atividades previstas nas alíneas b e g do art. 3º, X, quando desenvolvidas nas pequenas propriedades rurais), dependerão de simples declaração ao órgão ambiental competente, desde que esteja o imóvel devidamente inscrito no CAR.
Resolução CONAMA 369/2006: define os casos excepcionais em que o órgão ambiental pode autorizar a intervenção ou supressão de vegetação em APP para a implantação de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, ou para a realização de ações consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental:
Art. 11, § 1º Em todos os casos, incluindo os reconhecidos pelo conselho estadual de meio ambiente, a intervenção ou supressão eventual e de baixo impacto ambiental de vegetação em APP não poderá comprometer as funções ambientais destes espaços, especialmente:
I a estabilidade das encostas e margens dos corpos de água;
II - os corredores de fauna;
III - a drenagem e os cursos de água intermitentes;
IV - a manutenção da biota;
V - a regeneração e a manutenção da vegetação nativa; e
VI - a qualidade das águas.
§ 2º A intervenção ou supressão, eventual e de baixo impacto ambiental, da vegetação em APP não pode, em qualquer caso, exceder ao percentual de 5% (cinco por cento) da APP impactada localizada na posse ou propriedade.
§ 3º O órgão ambiental competente poderá exigir, quando entender necessário, que o requerente comprove, mediante estudos técnicos, a inexistência de alternativa técnica e locacional à intervenção ou supressão proposta.
5.3.4 Requisitos para a supressão
- o Código Florestal antigo exigia, para a supressão:
Que a utilidade pública ou interesse social fossem devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio; 
Que se provasse inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto;
Que fossem adotadas pelo empreendedor medidas mitigadoras e compensatórias (que, segundo a Res. Conama 369, seriam a efetiva recuperação ou recomposição de APP, na mesma sub-bacia hidrográfica, e prioritariamente: I - na área de influência do empreendimento, ou II - nas cabeceiras dos rios)
- a Resolução Conama 369/06 exige:
a averbação da Área de Reserva Legal; e
a inexistência de risco de agravamento de processos como enchentes, erosão ou movimentos acidentais de massa rochosa.
- o novo Código Florestal não repete nenhuma dessas exigências
Órgão competente para autorizar supressão de APP
Código Florestal de 2012: não diz qual o órgão (instância federativa) competente para autorizar a supressão de APP
Lei complementar 140/2011: diz competir à União aprovar a supressão de vegetação em atividades ou empreendimentos licenciados pela União (art. 7º, XV, “b”), aos Estados, a supressão de vegetação em atividades ou empreendimentos licenciados pelos Estados (art. 8º, XVI, “c”), aos Municípios, a supressão de vegetaçãoem atividades ou empreendimentos licenciados pelos Municípios (art. 9º, XV, “b”)
5.4 USO CONSOLIDADO EM APP (ATIVIDADES AGROSSILPASTORIS, ECOTURISMO E TURISMO RURAL)
Art. 61-A do Código Florestal. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008 (devendo essa situação ser informada no CAR e devendo o proprietário adotar técnicas de conservação do solo e da água que visem à mitigação dos eventuais impactos)
5.4.1 Recuperação das APPs, em caso de USO CONSOLIDADO (Art. 61-A)
(i) APP ao longo de cursos d’água naturais (art. 61-A, §1º a 4º)
IMÓVEIS RURAIS COM ATÉ 1 MÓDULO FISCAL: faixas marginais em 5 metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água. 
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 1 MÓDULO FISCAL, ATÉ 2 MÓDULOS FISCAIS: faixas marginais em 8 metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água. 
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 2 MÓDULOS FISCAIS, ATÉ 4 MÓDULOS FISCAIS: faixas marginais em 15 metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água. 
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 4 MÓDULOS FISCAIS: faixas marginais em pelo menos 20 metros e no máximo 100 metros, contados da borda da calha do leito regular.
APPs no entorno de nascentes e olhos d’água perenes (art. 61-A, §5º): obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros
APPs no entorno de lagoas e lagoas naturais: obrigatória a recomposição do raio mínimo de (art. 61-A, §6º): 
IMÓVEIS RURAIS COM ATÉ 1 MÓDULO FISCAL: 5 metros
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 1 MÓDULO FISCAL, ATÉ 2 MÓDULOS FISCAIS: 8 metros
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 2 MÓDULOS FISCAIS, ATÉ 4 MÓDULOS FISCAIS:15 metros
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 4 MÓDULOS FISCAIS: 30 metros
APPs em veredas: obrigatória a recomposição das faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a partir do espaço brejoso e encharcado, de largura mínima de (art. 61-A, §7º):
IMÓVEIS RURAIS COM ATÉ DE 4 MÓDULOS FISCAIS: 30 metros
IMÓVEIS RURAIS COM MAIS DE 4 MÓDULOS FISCAIS: 50 metros
5.4.2 Limites para a recuperação de APP em caso de USO CONSOLIDADO (Art. 61-B)
APP de imóveis de até 10 módulos fiscais (tamanho em 22 de julho de 2008): a recomposição não permitirá que a soma de todas as APPs do imóvel ultrapasse:
IMÓVEIS RURAIS COM ATÉ DE 2 MÓDULOS FISCAIS: 10% da área total do imóvel
IMÓVEIS RURAIS COM 2 a 4 MÓDULOS FISCAIS: 20% da área total do imovel
5.4.3 Outras regras
Será permitida a manutenção de residências e da infraestrutura associada às atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural, desde que não estejam em área que ofereça risco à vida ou à integridade física das pessoas.
O poder público, verificada a existência de risco de agravamento de processos erosivos ou de inundações, determinará a adoção de medidas mitigadoras que garantam a estabilidade das margens e a qualidade da água, após deliberação do Conselho Estadual de Meio Ambiente ou de órgão colegiado estadual equivalente
Em bacias hidrográficas consideradas críticas, o Chefe do Executivo poderá estabelecer metas e diretrizes de recuperação ou conservação da vegetação nativa superiores às definidas acima, ouvidos o Comitê de Bacia Hidrográfica e o Conselho Estadual de Meio Ambiente
5.5 USO CONSOLIDADO EM APP/MORRO
Art. 63 do Código Florestal: permite que nas APPs de morro, montanha, tabuleiros e áreas de alta altitude, sejam mantidas as atividades florestais, culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, bem como da infraestrutura física associada ao desenvolvimento de atividades agrossilvipastoris, vedada a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo.
DESMATAMENTO E OCUPAÇÃO IRREGULAR
Recuperação
Art. 7º, § 1o do Código Florestal: Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos nesta Lei.
Obrigação propter rem
Art. 2º, § 2o do Código Florestal: As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
Art. 7º, § 2o A obrigação prevista no § 1o tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
“RECURSO ESPECIAL. FAIXA CILIAR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. RESERVA LEGAL. TERRENO ADQUIRIDO PELO RECORRENTE JÁ DESMATADO. IMPOSSIBILIDADE DE EXPLORAÇÃO ECONÔMICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.OBRIGAÇÃO PROPTER REM. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA. (RESP 343741/PR).
Demolição
Art. 19 do Decreto 6.514/2008.  A sanção de demolição de obra poderá ser aplicada pela autoridade ambiental, após o contraditório e ampla defesa, quando:
I - verificada a construção de obra em área ambientalmente protegida em desacordo com a legislação ambiental; ou
II - quando a obra ou construção realizada não atenda às condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização. 
§ 1o  A demolição poderá ser feita pela administração ou pelo infrator, em prazo assinalado, após o julgamento do auto de infração, sem prejuízo do disposto no art. 112. 
§ 2o  As despesas para a realização da demolição correrão às custas do infrator, que será notificado para realizá-la ou para reembolsar aos cofres públicos os gastos que tenham sido efetuados pela administração. 
§ 3o  Não será aplicada a penalidade de demolição quando, mediante laudo técnico, for comprovado que o desfazimento poderá trazer piores impactos ambientais que sua manutenção, caso em que a autoridade ambiental, mediante decisão fundamentada, deverá, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, impor as medidas necessárias à cessação e mitigação do dano ambiental, observada a legislação em vigor.
Art. 112.  A demolição de obra, edificação ou construção não habitada e utilizada diretamente para a infração ambiental dar-se-á excepcionalmente no ato da fiscalização nos casos em que se constatar que a ausência da demolição importa em iminente risco de agravamento do dano ambiental ou de graves riscos à saúde. 
[…]
§ 3o  A demolição de que trata o caput não será realizada em edificações residenciais.
Crime ambiental (na Lei 9.605/1998):
Art. 38: “Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção”
PENA - detenção de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente
§único: se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 39: “Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente”
PENA - detenção de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente
Art. 44: “Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais
PENA - detenção de seis meses a um ano, e multa
Art. 48: “Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação”
PENA - detenção de seis meses a um ano e multa
Art. 50: “Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetoras de mangues, objeto de especial preservação”
PENA – detenção, de três meses a um ano, e multa
Infrações administrativas ambientais
Art. 43 do Decreto 6.514.  Destruir ou danificar florestas ou demais formas de vegetação natural ou utilizá-las com infringência das normas de proteção em área considerada de preservação permanente, sem autorização do órgão competente, quando exigível, ou em desacordo com a obtida: 
Multade R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), por hectare ou fração. 
Art. 44.  Cortar árvores em área considerada de preservação permanente ou cuja espécie seja especialmente protegida, sem permissão da autoridade competente: 
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por hectare ou fração, ou R$ 500,00 (quinhentos reais) por árvore, metro cúbico ou fração. 
Art. 45.  Extrair de florestas de domínio público ou áreas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Multa simples de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) por hectare ou fração. 
Art. 48.  Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas ou demais formas de vegetação nativa em unidades de conservação ou outras áreas especialmente protegidas, quando couber, área de preservação permanente, reserva legal ou demais locais cuja regeneração tenha sido indicada pela autoridade ambiental competente: 
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por hectare ou fração. 
Parágrafo único.  O disposto no caput não se aplica para o uso permitido das áreas de preservação permanente. 
Art. 49.  Destruir ou danificar florestas ou qualquer tipo de vegetação nativa, objeto de especial preservação, não passíveis de autorização para exploração ou supressão: 
Multa de R$ 6.000,00 (seis mil reis) por hectare ou fração. 
Parágrafo único.  A multa será acrescida de R$ 1.000,00 (mil reais) por hectare ou fração quando a situação prevista no caput se der em detrimento de vegetação primária ou secundária no estágio avançado ou médio de regeneração do bioma Mata Atlântica.
não aplicação de sanções administrativas para desmatamento de APP anterior a 22 de julho de 2008
Art. 59, § 4o do Código Florestal: No período entre a publicação desta Lei e a implantação do PRA em cada Estado e no Distrito Federal, bem como após a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.
suspensão das sanções aplicadas para desmatamento de APP anterior a 22 de julho de 2008
Art. 59, § 5o do Código Florestal: A partir da assinatura do termo de compromisso, serão suspensas as sanções decorrentes das infrações mencionadas no § 4o deste artigo e, cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no termo de compromisso para a regularização ambiental das exigências desta Lei, nos prazos e condições neles estabelecidos, as multas referidas neste artigo serão consideradas como convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais consolidadas conforme definido no PRA.
extinção da punibilidade para os crimes ambientais
Art. 60 do Código Florestal.  A assinatura de termo de compromisso para regularização de imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente, mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo estiver sendo cumprido.
§ 1o  A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§ 2o  Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista nesta Lei
5.7 INDENIZAÇÃO
Art. 1.228 do Código Civil. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas
áreas de preservação permanente do art. 4º (ex legis): NÃO CABE indenização - interdição natural 
 áreas de preservação permanente do art. 6º (criadas por ato específico): cabe indenização
6. RESERVA LEGAL
Art. 3º, III do Código Florestal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa
6.1 EXTENSÃO
Art. 12 do Código Florestal. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: 
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
§ 5o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá reduzir a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e por terras indígenas homologadas.
6.2 DISPENSA
Art. 12, § 6o do Código Florestal: Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
§ 7o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.
§ 8o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.
6.3 LOCALIZAÇÃO
Art. 14 do Código Florestal. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em consideração os seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico 
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
De acordo com § 1o do art. 14, caberá ao órgão estadual aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR
6.4 COMPENSAÇÃO COM AS APPs
Art. 15 do Código Florestal. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei.
§ 1o O regime de proteção da Área de Preservação Permanente não se altera na hipótese prevista neste artigo.
[...]
§ 4o É dispensada a aplicação do inciso I do caput deste artigo, quando as Áreas de Preservação Permanente conservadas ou em processo de recuperação, somadas às demais florestas e outras formasde vegetação nativa existentes em imóvel, ultrapassarem: 
I - 80% (oitenta por cento) do imóvel rural localizado em áreas de floresta na Amazônia Legal; 
6.5 RESERVA LEGAL EM ÁREAS URBANAS
Art. 19 do Código Florestal. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1o do art. 182 da Constituição Federal.
6.6 MANEJO SUSTENTÁVEL EM RESERVA LEGAL
Art. 17 do Código Florestal. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
§ 1o Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de acordo com as modalidades previstas no art. 20.
Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de autorização do órgão competente e deverá atender as seguintes diretrizes e orientações:
I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área;
II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;
III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.
Art. 23. O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comercial, para consumo no próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.
6.6.1 Coleta de produtos não madeireiros
Art. 21 do Código Florestal. É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar:
I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes.
6.6 RESERVA LEGAL NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL - CAR
definição
Art. 29 do Código Florestal: define o CAR como um “registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.”
inscrição
Art. 18 do Código Florestal:. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei.
Art. 29, §3º do Código Florestal: a inscrição do imóvel no CAR deve ser “requerida no prazo de 1 (um) ano contado da sua implantação, prorrogável, uma única vez, por igual período por ato do Chefe do Poder Executivo.”
descumprimento do prazo de inscriçãoo
Art. 78-A do Código Florestal. Após 5 anos da data de publicação desta lei [maio de 2017], as instituições financeiras só concederão crédito agrícola, em qualquer de suas modalidades, para proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR
dispensa de averbação
Art. 18, § 4o do Código Florestal: O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato.
Mas:
Art. 30 do Código Florestal: “Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na matrícula do imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e a localização da reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao órgão ambiental as informações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do § 1o do art. 29” (CAR), devendo, para tal dispensa, apresentar certidão de registro de imóveis onde conste a averbação da Reserva Legal ou termo de compromisso já firmado nos casos de posse.
6.6.1 Decreto 7.830/12: regulamenta o CAR
Art. 6º, § 1o  As informações são de responsabilidade do declarante, que incorrerá em sanções penais e administrativas, sem prejuízo de outras previstas na legislação, quando total ou parcialmente falsas, enganosas ou omissas.
§ 3o  As informações serão atualizadas periodicamente ou sempre que houver alteração de natureza dominial ou possessória. 
§ 4o  A atualização ou alteração dos dados inseridos no CAR só poderão ser efetuadas pelo proprietário ou possuidor rural ou representante legalmente constituído.
Art. 7o  Caso detectadas pendências ou inconsistências nas informações declaradas e nos documentos apresentados no CAR, o órgão responsável deverá notificar o requerente, de uma única vez, para que preste informações complementares ou promova a correção e adequação das informações prestadas. 
§ 1o  Na hipótese do caput, o requerente deverá fazer as alterações no prazo estabelecido pelo órgão ambiental competente, sob pena de cancelamento da sua inscrição no CAR. 
§ 2o  Enquanto não houver manifestação do órgão competente acerca de pendências ou inconsistências nas informações declaradas e nos documentos apresentados para a inscrição no CAR, será considerada efetivada a inscrição do imóvel rural no CAR, para todos os fins previstos em lei. 
§ 3o  O órgão ambiental competente poderá realizar vistorias de campo sempre que julgar necessário para verificação das informações declaradas e acompanhamento dos compromissos assumidos. 
6.7 PROTOCOLO DA DOCUMENTAÇÃO E SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
Art. 14, § 2o do Código Florestal: Protocolada a documentação exigida para a análise da localização da área de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental competente integrante do Sisnama, em razão da não formalização da área de Reserva Legal.
6.8 DESMEMBRAMENTO DA PROPRIEDADE
Art. 18 do Código Florestal: veda a alteração da destinação da Reserva Legal, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento
Art., 12, § 1o do Código Florestal: Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins do disposto do caput, a área do imóvel antes do fracionamento.
6.9 DESMATAMENTO DE RESERVA LEGAL
Reserva Legal desmatada com permissão da lei vigente à época do desmatamento
Art. 68 do Código Florestal:  Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são dispensados de promover a recomposição, compensação ou regeneração para os percentuais exigidos nesta Lei. 
§ 1o  Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais poderão provar essas situações consolidadas por documentos tais como a descrição de fatos históricos de ocupação da região, registros de comercialização, dados agropecuários da atividade, contratos e documentos bancários relativos à produção, e por todos os outros meios de prova em direito admitidos. 
§ 2o  Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais, na Amazônia Legal, e seus herdeiros necessários que possuam índice de Reserva Legal maior que 50% (cinquenta por cento) de cobertura florestal e não realizaram a supressão da vegetação nos percentuais previstos pelalegislação em vigor à época poderão utilizar a área excedente de Reserva Legal também para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental - CRA e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei. 
Reserva Legal desmatada antes de 22 de julho de 2008, em imóvel com até 4 módulos fiscais
Art. 67 do Código Florestal:  Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso alternativo do solo. 
Reserva Legal desmatada antes de 22 de julho de 2008, em imóvel com mais de 4 módulos fiscais
Art. 66 do Código Florestal:  O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes alternativas, isolada ou conjuntamente: 
I - recompor a Reserva Legal (em até 20 (vinte) anos, abrangendo, a cada 2 (dois) anos, no mínimo 1/10 (um décimo) da área total necessária) 
II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal; 
III - compensar a Reserva Legal. 
Obrigação propter REM
Art. 66, § 1o do Código Florestal: A obrigação prevista no caput tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural. 
“EMENTA: ADMINISTRATIVO. RESERVA FLORESTAL. NOVO PROPRIETÁRIO. LEGITIMIDADE PASSIVA.
O novo adquirente do imóvel é parte legítima passiva para responder por ação de dano ambiental, pois assume a propriedade do bem rural com a imposição das limitações ditadas pela Lei federal.
Cabe analisar, no curso da lide, os limites da sua responsabilidade.
Recurso provido”
(Resp. 222349/PR, STJ, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ 2/5/2000, seção 1, p. 105)
Reserva Legal desmatada após de 22 de julho de 2008
Art. 17, § 3o do Código Florestal: É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área de Reserva Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.
§ 4o Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado, nas áreas de que trata o § 3o deste artigo, o processo de recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data da publicação desta Lei, devendo tal processo ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental - PRA, de que trata o art. 59.
 
6.10 COMPENSAÇÃO DE RESERVA LEGAL
Art. 66, § 5o  do Código Florestal: A compensação de que trata o inciso III do caput deverá ser precedida pela inscrição da propriedade no CAR e poderá ser feita mediante: 
I - aquisição de Cota de Reserva Ambiental - CRA; 
II - arrendamento de área sob regime de servidão ambiental ou Reserva Legal; 
III - doação ao poder público de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público pendente de regularização fundiária; 
IV - cadastramento de outra área equivalente e excedente à Reserva Legal, em imóvel de mesma titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração ou recomposição, desde que localizada no mesmo bioma. 
§ 6o  As áreas a serem utilizadas para compensação na forma do § 5o deverão: 
I - ser equivalentes em extensão à área da Reserva Legal a ser compensada; 
II - estar localizadas no mesmo bioma da área de Reserva Legal a ser compensada; 
III - se fora do Estado, estar localizadas em áreas identificadas como prioritárias pela União ou pelos Estados. 
(o Código Florestal de 1965 permitia a compensação no mesmo ecossistema e na mesma microbacia, e, na impossibilidade, na mesma bacia hidrográfica e no mesmo Estado)
Art. 66, § 9o  As medidas de compensação previstas neste artigo não poderão ser utilizadas como forma de viabilizar a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo. 
6.11 INDENIZAÇÃO
Não cabe indenização pela existência de Reserva Legal no imóvel
6.12 RESERVA LEGAL E O DECRETO 6.514/08 – infração administrativa ambiental
 
Art. 48.  Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas ou demais formas de vegetação nativa em unidades de conservação ou outras áreas especialmente protegidas, quando couber, área de preservação permanente, reserva legal ou demais locais cuja regeneração tenha sido indicada pela autoridade ambiental competente:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por hectare ou fração. (redação dada pelo Decreto 6.686/08)
Art. 51.  Destruir, desmatar, danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de vegetação nativa ou de espécies nativas plantadas, em área de reserva legal ou servidão florestal, de domínio público ou privado, sem aprovação prévia do órgão ambiental competente ou em desacordo com a aprovação concedida, inclusive em planos de manejo florestal sustentável:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por hectare ou fração. (redação dada pelo Decreto 6.686/08)
Art. 55.  Deixar de averbar a reserva legal:
Penalidade de advertência e multa diária de R$ 50,00 (cinqüenta reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por hectare ou fração da área de reserva legal.
 
§ 1o  O autuado será advertido para que, no prazo de cento e oitenta dias, apresente termo de compromisso de regularização da reserva legal na forma das alternativas previstas na Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965.
 
§ 2o  Durante o período previsto no § 1o, a multa diária será suspensa.
 
§ 3o  Caso o autuado não apresente o termo de compromisso previsto no § 1o nos cento e vinte dias assinalados, deverá a autoridade ambiental cobrar a multa diária desde o dia da lavratura do auto de infração, na forma estipulada neste Decreto.
 
§ 4o As sanções previstas neste artigo não serão aplicadas quando o prazo previsto não for cumprido por culpa imputável exclusivamente ao órgão ambiental 
§ 5o  O proprietário ou possuidor terá prazo de cento e vinte dias para averbar a localização, compensação ou desoneração da reserva legal, contados da emissão dos documentos por parte do órgão ambiental competente ou instituição habilitada. 
§ 6o  No prazo a que se refere o § 5o, as sanções previstas neste artigo não serão aplicadas.
  
Art. 152.   O disposto no art. 55 entrará em vigor em 11 de junho de 2011. (Redação dada pelo Decreto nº 7.029, de 2009)
- na redação anterior, o prazo era 11 de dezembro de 2009. 
  
7. EXPLORAÇÃO DE FLORESTAS 
possível mediante licenciamento ambiental e aprovação de Plano de Manejo
Art. 31 do Código Florestal.  A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos nos arts. 21, 23 e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do Sisnama, mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a cobertura arbórea forme.
Art. 32.  São isentos de PMFS:
I - a supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo do solo;
II - o manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal;
III - a exploração florestal não comercial realizada nas propriedades rurais a que se refere o inciso V do art. 3o [pequena propriedade rural] ou por populações tradicionais.
desrespeito ao plano de manejo
Art. 51-A do Decreto 6.514/08.  Executar manejo florestal sem autorização prévia do órgão ambiental competente, sem observar os requisitos técnicos estabelecidos em PMFS ou em desacordo com a autorização concedida:
Multa de R$ 1.000,00 (mil reais) por hectare ou fração (acrescentado pelo Decreto 6.686/08)
7.1 PLANO DE SUPRIMENTO SUSTENTÁVEL
Art. 34 do Código Florestal.As empresas industriais que utilizam grande quantidade de matéria-prima florestal são obrigadas a elaborar e implementar Plano de Suprimento Sustentável - PSS, a ser submetido à aprovação do órgão competente do Sisnama.
§ 1o  O PSS assegurará produção equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pela atividade industrial.
§ 2o  O PSS incluirá, no mínimo:
I - programação de suprimento de matéria-prima florestal
II - indicação das áreas de origem da matéria-prima florestal georreferenciadas;
III - cópia do contrato entre os particulares envolvidos, quando o PSS incluir suprimento de matéria-prima florestal oriunda de terras pertencentes a terceiros.
[…]
§ 4o  O PSS de empresas siderúrgicas, metalúrgicas ou outras que consumam grandes quantidades de carvão vegetal ou lenha estabelecerá a utilização exclusiva de matéria-prima oriunda de florestas plantadas ou de PMFS e será parte integrante do processo de licenciamento ambiental do empreendimento.
7.2 EXPLORAÇÃO DA MADEIRA PELOS ÍNDIOS
Art. 231, §2º da CF: “As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes”
Fernando Mathias Baptista: “...é mister abordar a aplicabilidade das normas e restrições ambientais sobre povos indígenas de forma relativizada...
lnobstante a clareza da norma penal [art. 29 da LCA], há que se cotejar a aplicação dos dispositivos acima em terras indígenas. É sabido que a caça é atividade que proporciona a principal fonte de proteína animal de algumas etnias indígenas, como por exemplo os Xavante. Da mesma forma que se sabe que os indígenas caçam regularmente sem qualquer licença ou autorização do órgão ambiental competente, por se tratar de atividade que faz parte de sua cultura, de seus costumes, integra rituais de festas etc.
Da mesma forma, a pesca com timbó (espécie de aipó) é uma técnica largamente utilizada há várias gerações entre diversos povos Iindígenas, como os Araweté, por exemplo, e consiste em bater o timbó na água até que os peixes, asfixiados pela substância expelida pelo cipó, subam a superfície e sejam capturados. Trata-se de uma conduta plenamente aplicável ao tipo penal do art.35, II da Lei de Crimes Ambientais.
O sistema de rotatividade das roças dos povos indígenas no Alto Rio Negro (AM) obedece a parâmetros e técnicas de manejo que consistem, grosso modo, em utilizar determinada área de floresta para roça, durante um determinado tempo, e depois abandoná-Ia, deixando a capoeira crescer enquanto usam outras áreas. Completado o ciclo em um determinado período de tempo, voltam a usar a mesma área, já com a capoeira revigorada.
Colocados os três cenários, seria possível aplicar o disposto nos dispositivos da LCA nesses casos? Parece-nos que não, na medida em que as três condutas têm um elemento em comum: a tradicionalidade das atividades desenvolvidas, e a destinação aos frutos dessas atividades. Nos três casos, trata-se de atividades que integram o modo de vida desses povos desde há muito, e que foram passadas de geração a geração como conhecimento tradicional.
(...) A destinação final que se dá a esses produtos é de subsistência; no máximo é negociada por outros bens de consumo dos quais os indígenas dependem, como sal, açúcar etc. Entendemos que essas atividades não escapam ao âmbito da tradicionalidade dos povos indígenas, e portanto não devem ser atingidas pelas restrições impostas pela legislação ambiental.
Vejamos outra situação diferenciada: os Kaiapó mantém intenso comércio de madeira, principalmente de mogno, com diversas empresas madeireiras no estado do Pará, como principal forma de atividade econômica desse aguerrido povo indígena. Essa extração e comercialização de madeira não conta, na grande maioria das vezes, com autorização dos órgãos ambientais competentes. Seria possível aplicar-se os dispositivos da legislação ambiental nesse caso?
A resposta é afirmativa. A extração descontrolada de mogno nos territórios Kaiapó e sua comercialização com empresas madeireiras irregulares é fruto principalmente de um histórico processo de contato desses povos com a sociedade envolvente, que estabeleceu padrões de conduta dos indígenas que refoge ao seu modo de vida tradicional. Os Kaiapó passam, portanto, a desempenhar o papel de comerciantes, empenhando suas atividades para a acumulação de riquezas, muito embora mantenham ainda muito vivas suas tradições culturais.
Diante desse contexto, parece-nos que a legislação ambiental pode e deve ser aplicada, porquanto se trata de atividade que refoge o âmbito da tradicionalidade dos povos indígenas, e é contextualizada no mercado econômico da sociedade não indígena.
Portanto, o gozo do direito de usufruto exclusivo de seus recursos naturais não significa que podem os povos indígenas, a seu talante, devastar e destruir toda a flora e fauna de suas terras, à revelia das normas ambientais.
Na medida em que esta exploração se dê de acordo com os usos e costumes dos povos indígenas, não estão eles obrigados a cumprir com as normas e padrões ambientais exigidos para a população não indígena, pois a Constituição respalda seus usos e costumes como legítimos e reconhecidos pelo Estado brasileiro.
Caso passem a explorar seus recursos naturais de forma diversa do que dita suas tradições e costumes de manejo, então passariam a estar sob o crivo da legislação ambiental, devendo observar as restrições ambientais para cada atividade pretendida.
Talvez a produção em larga escala destinada ao mercado, o uso de mão de obra não indígena ou remunerada através das leis de mercado, ou a mecanização em substituição à artesania possam ser considerados indicadores iniciais de uma tendência ao afastamento das suas técnicas tradicionais. Afastando-se ao respaldo de sua cultura tradicional, afasta-se o povo indígena do respaldo também da Constituição no que tange seus direitos específicos, enquadrando-se na legislação ambiental, constitucional e ordinária aplicável a todo e qualquer cidadão. Tal circunstância deve obviamente ser analisada caso a caso, face à enorme sociodiversidade existente no país, que desautoriza qualquer tipo de generalização.
Não pretendemos aqui afirmar que seja defeso ou impróprio aos povos indígenas inserir-se no mercado econômico; isso depende da vontade de cada um deles. No entanto, a partir do momento em que o faz, está adstrito às normas e regulamentos que incidem sobre toda a sociedade, inclusive as normas ambientais, devendo adequar-se às mesmas como qualquer cidadão comum.” (A gestão dos recursos naturais pelos povos indígenas e o Direito Ambiental. In: LIMA, André (org). O Direito para o Brasil Socioambiental. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 2002: 185-6)

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