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X Congreso Latinoamericano de Patología y XII Congreso de Calidad en la Construcción. CONPAT 2009. Valparaíso-Chile. 29 de Septiembre al 2 de Octubre MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM REVESTIMENTOS PÉTREOS DE FACHADA: PRÉDIOS DO JUDICIÁRIO FEDERAL EM PORTO ALEGRE, BRASIL A. B. Barbosa 1, Â. Borges Masuero 2. 1 Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Diretor da Divisão de Projetos e Obras de Edificações; Escola Técnica Parobé, professor do Curso de Edificações, Porto Alegre, BRASIL 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, Núcleo Orientado para a Inovação na Edificação (NORIE), Porto Alegre, BRASIL RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar três estudos de caso de aplicação de revestimentos pétreos em fachada, especificamente em prédios do Judiciário Federal em Porto Alegre, RS, Brasil, abordando aspectos relativos aos projetos , técnicas de execução aplicadas, manutenção preventiva e as manifestações patológicas construtivas observadas. Palavras-chave: patologia das edificações, revestimentos pétreos de fachada, rochas graníticas. ABSTRACT This work presents three cases about the use of rock slab coated façades, specifically in buildings of Judiciary Power in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil, regarding design details, building techniques, preventive maintenance and the building pathologic manifestations related to these factors. The adopted solution for each pathologic case, as well as the costs involved are presented. Key-words: pathology, façades, stones slabs, granite 1. INTRODUÇÃO A rocha, desde os primórdios da civilização, é um material de construção utilizado pela sua robustez e nobreza. Nos nossos tempos, além do aspecto de solidez e realeza, tem-se a convicção de sua vida útil elevada, maior em geral que a da própria edificação como um todo, o que não ocorre normalmente com outros revestimentos e acabamentos como pinturas, por exemplo. Além de se esperar, também, uma baixa manutenção preventiva restringindo-se usualmente a limpeza da superfície e recomposição de selante das juntas ao longo de sua vida útil. Neste artigo serão apresentadas as manifestações patológicas em revestimentos pétreos, em função dos detalhamentos de projeto, das técnicas construtivas adotadas, da escolha inadequada de materiais e do dimensionamento de juntas, começando pelo Edifício que fora Sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (e que atualmente é sede da Advocacia-Geral da União - AGU), pelo Edifício-Sede da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul (Justiça Federal), e culminando no caso do atual Edifício-Sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Embora um dos edifícios, o da Justiça Federal, tenha mármore branco revestindo os pilares de sua entrada, este artigo se restringirá aos granitos aplicados nas fachadas dos prédios, pois se trata do principal tipo de rocha adotado como material de revestimento, e que apresenta as manifestações patológicas que nos interessam analisar. 1.1 Tipo de Rocha Os revestimentos usados nas edificações que compõem este estudo são de granito, em variedades distintas. O granito é uma rocha fenocristalina, compacta, capaz de receber polimento, basicamente constituída por quartzo, feldspato e mica, sendo os dois primeiros os principais responsáveis pela tenacidade e resistência à abrasão da rocha, uma vez que apresentam dureza de 6 a 7 na escala de Mohs (Sabbatini et al, 2003). 1.2 Caracterização Tecnológica Segundo Frasca (2002), realiza-se a caracterização tecnológica de rochas por meio de ensaios e análises, com o objetivo de obter parâmetros petrográficos, químicos, físicos e mecânicos do material, que permitam a qualificação da rocha para uso no revestimento de edificações. As propriedades importantes para a escolha e utilização de rochas em revestimento de fachadas são: tipo de rocha, absorção de água, flexão, compressão, dilatação térmica, acabamento superficial e alterabilidade. A determinação dos ensaios necessários à adoção de uma determinada especificação de rocha para um projeto de fachada é função da agressividade do meio (marinho, industrial, rural), da técnica executiva, das dimensões das placas, do sistema de fixação ao substrato, do clima na região (seco/úmido), incidência de ventos, variações térmicas, entre outros. Os ensaios procuram representar as solicitações às quais a rocha estará submetida até seu uso final. A seguir apresenta-se um conjunto de ensaios, com breve descrição de sua finalidade. 1.2.1 Análise Petrográfica A análise petrográfica fornece a natureza, mineralogia e classificação da rocha. É importante para identificar aspectos que possam comprometer a resistência mecânica e química, e afetar sua durabilidade e estética (por exemplo, a presença de pirita, a qual está diretamente relacionada a manchas). 1.2.2 Índices Físicos Os índices físicos referem-se à massa específica, porosidade e absorção de água, permitindo avaliar o estado de alteração e de coesão das rochas. 1.2.3 Coeficiente de Dilatação Térmica Linear O coeficiente de dilatação térmica linear é determinado ao se submeter às rochas a variações de temperatura em um intervalo entre 0ºC e 50ºC. É importante para o dimensionamento do espaçamento das juntas em revestimentos. 1.2.4 Impacto de Corpo Duro O ensaio de impacto de corpo duro fornece a resistência da rocha ao impacto, através da determinação da altura de queda de uma esfera de aço, provocando o fraturamento da placa de rocha. Indica a tenacidade da rocha. 1.2.5 Resistência à Flexão O único ensaio rotineiro que é realizado obrigatoriamente em rocha beneficiada é o de resistência à flexão, simulando-se esforços fletores em placas de rocha, com espessura predeterminada, apoiadas em dois cutelos de suporte e com dois cutelos de carregamento (figura 1). É particularmente importante para dimensionamento de placas a serem utilizadas no revestimento de fachadas com o uso de sistemas de ancoragem metálica para a sua fixação (insertes). Figura 1: Corpo-de-prova de rocha beneficiada rompido após a aplicação de esforço fletor (fonte: curso de rochas ornamentais para projetos arquitetônicos e urbanísticos, III Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 2002). 1.2.6 Propagação de Ondas A determinação da velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais permite avaliar, indiretamente, o grau de alteração e de coesão das rochas. É realizada, complementarmente, nos corpos-de-prova destinados aos ensaios de compressão e tração, auxiliando na interpretação dos resultados desses ensaios. Em função do uso pretendido, nem todos os ensaios são requeridos. Contudo, para o uso das rochas como revestimento de fachada, é recomendável que se faça o maior número de ensaios disponíveis. 2. TÉCNICAS EXECUTIVAS Quanto à técnica executiva, os revestimentos pétreos podem ser classificados como aderentes e não aderentes (Sabbatini et al., USP 2006). Os revestimentos aderentes são aqueles fixados diretamente na base, por meio de argamassas. Essa classificação admite, em função do tipo de argamassa, duas outras subclassificações: se adotada para o assentamento da placa de rocha argamassa comum de cimento e areia, denomina-se de técnica da camada grossa (técnica tradicional; figura 2); se adotado assentamento com argamassa colante, espalhada sobre o substrato com desempenadeira metálica, chama-se de técnica da camada fina (figura 3). (a) Colocação da argamassa. (b) Posicionamento da rocha. Figura 2: Assentamento de rocha através da técnica da camada grossa (fonte: USP, 2003). Figura 3: Técnica da camada fina (fonte: USP, 2003). A técnica da camada grossa (sistema tradicional) assenta as placas de rocha na alvenaria ou na estrutura do edifício. A ligação rígida entre os dois elementos resultaem grande diferença de movimentação, devido aos diferentes coeficientes de dilatação térmica linear de cada material. Figura 4: Fachadas em revestimento pétreo fissuradas por tensões entre argamassa e placas. Dessa forma as tensões são transferidas da estrutura para o revestimento, provocando fissuras, descolamento de placas, entre outras manifestações patológicas (figura 4). Já os revestimentos não-aderentes, são aqueles fixados indiretamente na base, ou por meio de dispositivos, ou como parte de outros componentes, consistindo conforme Flain (1997), numa das tentativas de racionalizar mais esse serviço no setor de construção civil. Os dispositivos de fixação que mais vêm ganhando espaço no mercado ao longo das últimas duas décadas são os insertes metálicos (figura 5). Figura 5: Fixação indireta por meio de insertes metálicos. 2.1 Comparação entre Revestimentos Pétreos Aderentes e Não-Aderentes Sabbatini et al. (2003) apresentam, conforme pode ser visto no quadro 1, as diferenças existentes entre os revestimentos pétreos aderidos e não aderidos. REVESTIMENTOS PÉTREOS ADERENTES REVESTIMENTOS PÉTREOS NÃO-ADERENTES Mais tradicional (com camada grossa) Inovação relativamente recente (uso de insertes metálicos) Menor custo unitário de produção Custo unitário de produção superior Utilizado prioritariamente em áreas internas Utilizado quase que exclusivamente para áreas externas, em fachadas, apresentando melhor desempenho térmico e acústico. Uso externo limitado à restrição para alturas superiores a 15 m (NBR 13707) Uso exigido por norma quando o revestimento ultrapassar 15 m de altura Placas de menores dimensões Permite fixar placas de maior área; é mais racionalizado. Forte dependência da habilidade do aplicador Menor dependência da habilidade do aplicador Não se elabora projetos adequados Exige a confecção de um projeto para produção Maior ocorrência de manifestações patológicas Também pode sofrer manifestações patológicas Seqüência de execução com maior número de etapas (1–preparação da base; 2–preparação das placas; 3– aplicação da argamassa; 4–assentamento das placas; 5–rejuntamento). Seqüência de execução com redução de etapas (1–fixação dos insertes; 2–montagens das placas; 3–rejuntamentos). Quadro 1: Comparação entre as técnicas executivas de revestimento pétreo para fachadas 2.2 Técnica não-aderente (com insertes metálicos) A fixação do revestimento pétreo (placas de granito e outros tipos de rocha) com insertes metálicos em fachadas é relativamente nova na história da construção civil brasileira; seu início é dado pelos idos da década de 1980 (Paiva, 2003). Esse sistema passou a substituir gradativamente o sistema tradicional de assentamento com argamassa de cimento e areia, e consistem em peças de metais que se mantenham inalterados ao longo do tempo, como cobre e suas ligas, alumínio e suas ligas, aço carbono protegido e aço inoxidável, sendo este o utilizado nas maiorias das obras brasileiras. Os insertes metálicos podem ser utilizados tanto em estruturas de concreto armado quanto em estruturas metálicas (recebendo, evidentemente, o tratamento adequado que cada tipo de projeto requer). Quando usados para a fixação de rochas em fachadas, os insertes são ancorados na estrutura da edificação, suportando o peso da placa superior e travando a placa inferior (figura 6). Esse sistema absorve as tensões da dilatação térmica, pois a estrutura e as placas trabalham de forma independente. Figura 6: Diferentes tipos de insertes metálicos, conforme a função (fonte: USP, 2003). Do ponto de vista de umidade, a ação da água da chuva é muito mais comprometedora no sistema tradicional, pois o revestimento absorve umidade e a transmite até a argamassa e a alvenaria. Com o sistema de insertes criou-se o que ficou conhecido por fachada ventilada, pois o revestimento é afastado da estrutura da edificação, ficando um vazio entre ambas as superfícies por onde ocorre a ventilação, conseqüentemente secando mais rapidamente as placas que eventualmente absorveram água. Esse afastamento contribui para o isolamento termoacústico da edificação, melhorando o conforto interno, segundo os especialistas. O sistema de insertes metálicos também evoluiu e hoje o sistema mais utilizado é o de pinos cilíndricos (figura 7), que permite o uso de placas de espessuras de 2 a 2,5 cm. (a) inserte de suporte da placa superior e travamento da inferior (b) Vista geral de furos cilíndricos. (c) detalhe travamento lateral da placa junto ao peitoril. (d) insert fixado ao substrato viga de amarração da alvenaria. Figura 7: Detalhes de fixação insertes metálicos, do tipo pino (obra TRF 4ªRegião, 2002). Quando os insertes começaram a ser utilizados na década de 80, as placas de granito deveriam ter no mínimo 3 cm de espessura, a fim de que o rasgo realizado para fixar o inserte na rocha não a quebrasse (figura 8). O que sistematicamente acabava acontecendo (figura 9). Figura 8: Inserte metálico aplicado em rasgos realizados nas laterais das placas. Figura 9: quebra de placas na posição onde foram fixados os insertes (fonte: USP, 2003). 3. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM REVESTIMENTOS PÉTREOS DE FACHADA As manifestações patológicas que se encontram em revestimentos pétreos são devidas a três principais fatores: técnicas construtivas, características das rochas e ausência de projeto específico. As manifestações patológicas mais frequentes são: descolamentos, manchamentos, eflorescências, fissuras e falha dos selantes. 3.1 Descolamentos São conseqüências da má aderência ao substrato (figura 10), em geral associada ao processo de assentamento e à falta de controle da qualidade no processo de fixação. O processo de aderência das placas de rocha ao substrato fixado com argamassa é essencialmente mecânico, ou seja, depende de penetração da pasta da argamassa de assentamento com o aglomerante em dissolução no dorso da placa de rocha. Além disso, é fundamental ter extensão de aderência, ou seja, área de contato. (a) (b) Figura 10: (a) estufamento. (b) Descolamento de placas. 3.2 Manchamentos Esse é um tipo de manifestação patológica que pode estar associado a uma série de causas, sendo as principais manchamento por umidade, por alteração dos minerais constituintes, devido à ação dos selantes, principalmente os a base de silicone, ou por alteração por amarelamento de ceras ou materiais de limpeza empregados, ou por alteração no inserte de fixação. No primeiro caso a umidade decorre do fato da falha de estanqueidade da junta com grande absorção pelas bordas das placas e a elevada percepção destes manchamentos em rochas amarelas ou cinzas, conforme Fioretti (2007). Figura 11: Manchamento de placas por umidade. Também está relacionada a reações químicas na rocha, devido à presença de minerais que, quando alterados, perdem a coloração original, ou à presença de minerais ferrosos que, quando oxidados, produzem manchas. São minerais susceptíveis à alteração: o sulfeto de ferro, as granadas ferríferas, as magnetitas e minerais contendo traços de cobalto e manganês. A utilização de material para fixação, tal como grampos metálicos sem proteção anti-oxidante, também constitui fator de origem de manifestação patológica (figura 12). (a) Figura 12: Manchamento de placas por oxidação de elementos de fixação, no caso, grampos (fonte: USP, 2003). Segundo Tristão (1997), as manchas por umidade nos revestimentos com placas de granito se devem a vários outros fatores e não apenas à absorção de água total. No estudo desenvolvido observou-se que granitos brancos e cinzas apresentam maior taxa de absorçãode água inicial, mas são superados por outras variedades, como o amarelo e o vermelho, na absorção final. 3.3 Eflorescências Desenvolvidas em função do processo de assentamento ou fixação das placas, ocorrem devido ao excesso de umidade da argamassa, que transportada para a superfície, traz consigo sais solúveis que se cristalizam em contato com o ar (Quinalia, 2005). O resultado é a formação de sais de coloração normalmente esbranquiçada, de aspecto cristalino, pulverulento ou filamentoso sobre a superfície (figuras 13a e 13b). Normalmente as eflorescências são causadas pela lixiviação e precipitação do carbonato de cálcio (CaCO³) resultante da reação do gás carbônico (CO²), presente na atmosfera, com o hidróxido de cálcio (CaOH²) existentes nas argamassas empregadas nos sistemas aderentes, oriundos do cimento portland ou da cal, quando esta é utilizada na composição das argamassas de assentamento. (a) (b) Figura 13: Eflorescências com escorrimentos nas placas. 3.4 Fissuras Segundo Quinalia (2005) as fissuras são ocasionadas pela movimentação do revestimento por: (i) esforços adicionais; (ii) características e propriedades da rocha; (iii) deficiência no dimensionamento das juntas; e (iv) deficiência de projeto. Esta manifestação pode ser vista na figura 14. (a) (b) Figura 14: Fissuras nas placas (a) Vista Geral. (b) Detalhe sacada. 3.5 Falhas dos Selantes Os selantes têm a função de: (i) permitir a movimentação das placas de rocha em função das variações térmicas; (ii) garantir a estanqueidade da junta; (iii) manter suas funções sob ação da agressividade do meio ambiente, suportando os efeitos da radiação solar, dos ventos e das chuvas ácidas, por exemplo. Portanto a escolha do selante adequado associado ao dimensionamento correto da junta é fundamental para o bom funcionamento do sistema de fachada. Segundo Quinalia (2005): “A sujeira e a poluição podem impregnar as juntas das rochas protegidas por resinas à base de silicone. A falta de manutenção e troca da calafetação ocasiona manchas de tons escuros, onde o silicone age como impermeabilizante da superfície e impede as rochas de respirarem, mantendo um aspecto úmido no local.” 4 ESTUDO DE CASO: PRÉDIOS DO JUDICIÁRIO FEDERAL DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL 4.1 Edifício-sede da Advocacia-geral da União (antiga sede do TRF -Tribunal Regional Federal - da 4ª região) 4.1.1 Histórico da Obra Antigo prédio sede do TRF 4ª Região (figura 15), em Porto Alegre,RS, atualmente sede da Advocacia-Geral da União. (a) (c) Figura 15: Edifício-Sede da AGU – antiga sede do TRF da 4ª Região. (a) Vista geral do prédio; (c) Vista parcial fachada frontal. Trata-se de um prédio comercial construído com fachada em granito, vidro e pastilhas, cujas obras datam do final da década de 1980. O revestimento externo em granito foi assentado em argamassa de cimento e areia e a fixação das placas foi garantida utilizando-se grampos de arame galvanizados fixados com massa plástica no dorso da rocha em ranhuras previamente realizadas com disco de corte. 4.1.2 Manifestações patológicas observadas Inicialmente houve infiltração de água nos peitoris das janelas (balcões), gerando eflorescências a tal ponto de se observar a formação de estalactites (figura 17d); a água infiltrou após permanecer empoçada em razão do caimento zero adotado nos peitoris dos balcões. Além disso, os rejuntes entre as placas de rocha do peitoril apresentavam dimensões inadequadas, pois variavam de 1 a 3 mm, dificultando a aderência do selante às laterais da placa de rocha, e restringindo a movimentação em função das variações térmicas. No caso em tela houve problema com o detalhamento do projeto, pois os desenhos não indicavam caimentos e nem pingadeiras nos peitoris dos balcões, em um primeiro momento procurou-se manter o peitoril em granito agora com caimento e pingadeiras, mas acabou-se substituindo todo o revestimento em pedra por pastilha atentando para os caimentos e para os detalhes que funcionariam como pingadeira. Pode-se ver esta seqüência no desenho esquemático, mostrado na figura 16. (a) (b) (c) Figura 16: Detalhe em corte dos balcões (a) Em granito sem caimento e sem pingadeira nos peitoris. (b) Em pastilha com peitoril em granito com caimento e pingadeira. (c) Em pastilha inclusive no peitoril com detalhe no beirado superior e inferior para funcionar como pingadeira. Com o tempo o selante foi totalmente ou parcialmente expulso da junta, que sem o caimento recomendável, facilitou a entrada de água, deteriorando os processos e outros documentos que eram depositados nestes balcões abaixo das janelas. (a) (b) (c) (d) Figura 17: Antiga sede do TRF da 4ª Região – eflorescências nos balcões sob os peitoris. Mais adiante, essas movimentações térmicas associadas à pressão gerada pelo vapor d’água, sem o espaço necessário nas juntas para se realizarem, provocaram o descolamento das placas de granito da argamassa de assentamento, soltando algumas peças da fachada. (figura 18). (a) (b) Figura 18: Descolamento da placa da argamassa, com corrosão do grampo metálico. O grampo de arame galvanizado, que deveria garantir a fixação da peça de granito ao substrato, rompeu-se, pois estava totalmente corroído com seção útil praticamente nula (figura 19). Deve ter contribuído para a corrosão a umidade proveniente das juntas já completamente comprometidas. Figura 19: placas desprendidas da fachada da antiga sede do TRF (notar para os sulcos apontados, onde antes havia grampos de ancoragem à base). Se nos peitoris foi utilizado selante de silicone, nas empenas verticais e demais detalhes de granito da fachada foi utilizado rejunte de argamassa de cimento e areia com dimensão um pouco maior, ficando em torno de 5 mm. A junta preenchida com rejunte cimentício, não permitiu a correta movimentação das placas de granito, pois é muito rígida. Além disso, este tipo de rejunte é muito suscetível à fissuração, o que facilita a penetração de umidade para o parâmetro interno. 4.1.3 Solução Adotada A solução adotada foi de substituir a fachada em granito por pastilhas cerâmicas, mantendo-se os peitoris em granito com o reaproveitamento das placas removidas, só que garantindo a existência de caimentos e pingadeiras nestes peitoris, indispensáveis para a manutenção da estanqueidade das fachadas. Durante a execução dos trabalhos tornou-se difícil o reaproveitamento das placas de granito, pois uma grande quantidade dessas quebrou durante a remoção e por uma questão de custos, optou-se pela substituição dos mesmos, também, por pastilhas cerâmicas com caimento, rejuntes e juntas recomendadas, alem de detalhamento especifico para funcionar como pingadeira como visto no desenho esquemático da figura 16 ou abaixo na figura 20. (a) (c) Figura 20: Edifício-Sede da AGU – antiga sede do TRF da 4ª Região. (a) Vista inferior do balcão em pastilhas. (b) Vista parcial frontal da fachada. (c) Vista lateral do balcão. A figura 21 mostra uma vista geral do prédio em questão, onde foi adotado revestimento cerâmico ao invés de pétreo. (a) (c) Figura 21: fachada em revestimento cerâmico da sede atual da Advocacia-Geral da União (antiga sede do TRF da 4ª Região). 4.1.4 Custos da Solução Adotada A remoção do revestimento em granito e sua substituição por pastilhas cerâmicas resultaram, em agosto de 1999, em aproximadamente 0,22 CUB/m² de recomposição (CUB/RS agosto/1999: R$ 465,14; série histórica SINDUSCON- RS), equivalente a aproximadamente US$ 52/ m². 4.2 Edifício-sede da Seção Judiciária do RioGrande do Sul (Justiça Federal) Figura 22: Edifício-Sede da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul. 4.2.1 Histórico da Obra Prédio sede da Justiça Federal do Rio Grande do Sul (figura 22), em Porto Alegre, RS, de Nº 600 e área de aproximadamente 28.000 m². As fachadas, em granito cinza Mauá, foram executadas, da mesma forma que o antigo prédio do TRF da 4ª região (apresentado no item 4.1), sobre argamassa de cimento e areia com as placas fixadas a argamassa de assentamento com grampos de latão aplicados no dorso das mesmas com massa plástica, em rasgos previamente realizados nas rochas com disco de corte, conforme memorial descritivo de projeto. As juntas entre as peças de granito foram preenchidas com argamassa de cimento e areia, também, conforme especificação. Cabe ressaltar que o grampo de latão previamente colocado no dorso das placas, era amarrado a linhas de arame de latão fixados a alvenaria de tijolos da parede externa, procurando-se assim garantir a perfeita amarração das placas de granito ao substrato e reduzir a possibilidade de queda destas placas em caso de descolamento na interface da rocha com a argamassa de assentamento. Salienta-se que, a escolha pelo uso de arame de latão no lugar do galvanizado, utilizado no caso citado anteriormente (item 4.1), praticamente eliminaria a possibilidade da corrosão do elemento de fixação das placas e reduziria a possibilidade de queda do revestimento, mesmo com o descolamento da rocha da argamassa de assentamento. Antes da execução das empenas externas, a construtora sugeriu a substituição do rejunte em argamassa de cimento por silicone, o que não foi aceito na época, em função do impacto financeiro ao Contrato, apesar do parecer favorável da área técnica do Órgão. 4.2.2 Manifestações patológicas observadas Logo após a conclusão da obra, vários rejuntes cimentícios da fachada começaram a fissurar (figura 23a) devido a grande rigidez do material, que não permitia a movimentação térmica adequada das placas de rocha, que deveriam ter sido absorvidas pelo material aplicado na junta (falha do selante). (a) (b) Figura 23: Falhas do selante da fachada da Sede da Justiça Federal. (a) Rejunte cimentício fissurado. (b) Junta sem o rejunte cimentício A evolução do processo de fissuração do rejunte cimentício levou, em algumas regiões, ao seu destacamento (figura 23b), facilitando ainda mais a infiltração de umidade quando das precipitações pluviométricas. Conforme Recena (1998), por entre as falhas do rejunte o fluxo de umidade levou a migração de sais da argamassa de assentamento, dando origem ao aparecimento de eflorescências com aspecto de escorrimentos de coloração esbranquiçada nas placas (figura 24). Figura 24: Eflorescência na fachada da Sede da Justiça Federal. Internamente, a umidade propiciou a criação e o desenvolvimento de mofo em várias paredes da edificação, principalmente as voltadas para o sul, lado preferencial da incidência de chuva e vento. (figura 25). Figura 25: Manifestação patológica na pintura interna ocasionada pela infiltração de umidade pelo revestimento externo em granito cinza Mauá. O processo levou a deterioração da pintura base PVA e a desagregação do emboço de massa única com a lixiviação da cal, enfraquecendo a ligação dos grãos de agregado miúdo (areia) que poderia gerar no futuro o destacamento do revestimento interno da alvenaria. (figura 26). Figura 26: Inicio da desagregação do reboco interno. O trabalho de movimentação térmica das placas de granito que num primeiro momento provocou fissuração e expulsão de parte do rejunte cimentício, em um segundo causou o estufamento e posterior descolamento de algumas peças. Não houve queda de placas, pois os grampos de latão garantiram a estabilidade do revestimento. Figura 27: Placa de granito solta sendo removida da fachada após o corte do grampo de latão. 4.2.3 Solução adotada Por razões de segurança removeram-se as placas estufadas ou descoladas do substrato, cortando-se os grampos de latão (foto 27). Antes da abertura das juntas com disco de corte, e de seu preenchimento com novo selante, prenderam-se as placas de granito ao substrato com parafusos de aço galvanizados (parafusos do tipo pino HPS 5/16” x 3/8” com 12 cm de comprimento, 10 mícron de galvanização eletro-química e banho de zinco, com bucha de “nylon” em toda a sua extensão). Para substituição do rejunte foi escolhido selante à base de poliuretano (figura 28), mas para sua aplicação era necessário (i) remover todo o rejunte cimentício existente e (ii) garantir a estabilidade das placas. Todos os rejuntes foram cortados com disco de corte, ficando a dimensão das juntas em 7 mm para a posterior colocação de um limitador de profundidade, e preenchimento com selante a base de poliuretano na cor cinza. Figura 28: Substituição do selante da fachada da Sede da Justiça Federal. 4.2.4 Custos da solução adotada O serviço de remoção do rejuntamento cimentício com disco de corte, preenchimento das juntas com selante a base de poliuretano e a fixação das placas com parafusos galvanizados, resultou, em outubro de 2000, em aproximadamente 0,09 Cub/m² (CUB/RS outubro/2000: R$ 519,58; Série histórica SINDUSCON-RS,), equivalente a aproximadamente US$ 25/ m². 4.3 Atual edifício-sede do TRF da 4ª região Figura 29: Atual Edifício-Sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 4.3.1 Histórico da obra Trata-se de um prédio institucional construído com fachada de granito, vidro e alumínio composto, cujas obras ocorreram de 1998 até 2002. O revestimento externo de granito amarelo arabesco foi fixado com insertes metálicos na estrutura de concreto armado e em cintas, também em concreto armado, convenientemente dispostas nas alvenarias para essa finalidade. Importante salientar a preocupação com o detalhamento do projeto de fachada, com especial atenção aos peitoris, pingadeiras (figura 31), vergas e para as juntas abertas entre a placa de granito vertical e a horizontal que reveste a verga da janela, como pode-se observar na figura 30. O objetivo desta junta, não selada, é servir de válvula de escape para qualquer fluxo de água que eventualmente passe pelo revestimento pétreo de fachada. Figura 30: Detalhe verga em granito Edifício-Sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Figura 31: Detalhe pingadeira do peitoril em granito Edifício-Sede do TRF da 4ª Região. 4.3.2 Manifestações patológicas O revestimento, do ponto de vista de estabilidade e estanqueidade, apresentou um bom desempenho entretanto pela característica mineralógica da jazida de granito utilizada (variedade amarelo arabesco) ocorreu o manchamento de diversas placas, num tom marrom (figura 33). O fenômeno ocorreu devido à presença de biotita e granada (compostos com ferro) nas placas, de acordo com Iamaguti (2001), que, em contato com a água, se transformam em hidróxidos e óxidos de ferro (ferrugem), manchando a superfície da rocha. Em analise petrográfica, realizada Instituto de Geociências da UFRGS, RS, Brasil, em uma placa da rocha retirada da fachada verificou-se o microfissuramento da amostra (figura 32) que contribui de maneira muito significativa para acelerar o processo, pois facilita o ingresso da água e do oxigênio para a formação dos óxidos e hidróxidos de ferro que produzem o manchamento. Figura 32: Ensaio petrográfico mostrando as microfissuras e cristais de biotita em processo de oxidação. Biotita Microfissura (a) (b) (c) (d) Figura 33: Manchamento da fachada do TRF. (a) Vista parcial da fachada. (b) Detalhe mísula. (c) Placa manchada. (d) Detalhe cristais de biotita oxidados. 4.3.3 Solução adotada Como a única manifestação patológicaapresentada era de caráter estético, não se realizou até o momento nenhum procedimento corretivo da mesma. Desta forma, ainda não se tem nenhum custo atribuído e ainda não buscou-se alternativas para resolver ou atenuar os efeitos desta manifestação. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os revestimentos pétreos são muito utilizados em edifícios, em função da sua robustez, durabilidade e relativamente baixa manutenção apesar do seu custo inicial mais elevado. Quem especifica e utiliza placas de rocha possui a expectativa de uma fachada com grande vida útil, além de um apelo estético considerável, pois é considerado um material nobre. Na escolha da rocha para revestimentos pétreos de fachada, além dos aspectos estéticos muito valorizados pelos clientes e arquitetos projetistas, deve-se solicitar aos fornecedores, os ensaios que determinem as principais características da rocha como sua composição petrográfica, resistência à compressão, resistência à tração, resistência à flexão, resistência à abrasão e absorção de água para verificar a adequação ou não da rocha ao projeto e ao meio onde estará inserido. Cabe a nós profissionais da Construção Civil exigir a elaboração de projeto especifico de fachada aonde devem estar caracterizadas todos os detalhes como juntas de dilatação, caimentos de peitoris, e descontinuidades na fachada para corte do fluxo de umidade junto às empenas externas da edificação, e monitorar amiúde a execução dos serviços reduzindo as probabilidades de manifestações patologias construtivas mais adiante. Dentro da evolução da técnica de assentamento de placas de rocha recomenda-se o uso das fachadas ventiladas com insertes metálicos, que apesar dos custos iniciais mais elevados se tornam vantajosos em função da redução da probabilidade de ocorrer manifestações patológicas. Importante salientar que, o presente trabalho procura mostrar os problemas deparados por diversos construtores com as fachadas revestidas com placas de rocha, principalmente no sistema aderente, o que hoje já se reflete, inclusive, nas normas técnicas brasileiras, onde é preconizado limites de utilização dos sistemas aderentes e condicionando sua utilização a diversos cuidados na sua fixação e na aderência das placas à argamassa de assentamento. Pode-se afirmar que os sistemas aderentes estão praticamente em desuso nas fachadas dos edifícios de múltiplos andares no Brasil. 6. REFERÊNCIAS ARCOWEB. Revestimentos - pedras no revestimento de fachadas. Texto resumido a partir de reportagem de Cida Paiva, Publicada originalmente em FINESTRA, Edição 33, maio de 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Diversas normas técnicas. Rio de Janeiro, Brasil. 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