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Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 287 REFLEXÃO ÉTICA E EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE: UMA ANÁLISE CONTEXTUALIZADA NA SECCIONAL DE UBERLÂNDIA – CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL (CRESS) – 6 ª REGIÃO Maria Denize Santos Peixoto* Josefina Maria dos Reis** Resumo Este estudo teve como objetivo analisar a reflexão ética no exercício profissional do assistente social inscrito na Seccional de Uberlândia - Conselho Regional de Serviço Social – MG 6.ª Região. A pesquisa foi realizada com uma amostra de assistentes sociais inscritos na Seccional. Os dados secundários foram coletados em meio eletrônico, pesquisa bibliográfica e documental e os primários mediante a combinação de métodos qualitativos e quantitativos, através de questionário, entrevista não dirigida e observação assistemática. Os resultados além de evidenciarem a incidência de práticas conservadoras, com limites e possibilidades vinculados às instituições empregadoras, demonstram a prevalência da fragilidade da formação continuada, uma reflexão ética mediada por valores pessoais e, uma leitura descontextualizada da realidade total, retratando uma visão endógena. Sair deste padrão significa ter uma visão exógena, uma análise crítico-dialética das situações que permeiam o exercício profissional, o que torna fundamental repensar o processo de formação acadêmica e a capacitação dos profissionais inseridos no mercado de trabalho. Palavras-chave: Serviço Social. Reflexão Ética. Exercício Profissional. 1 INTRODUÇÃO A época atual evidencia alterações profundas à sociedade, em decorrência do fenômeno da globalização dos mercados e do avanço do projeto neoliberal que preconiza mudanças estruturais profundas ao mundo do trabalho, nas funções do Estado e a descentralização das políticas sociais. O impacto trazido por todo esse processo acarretou o redimensionamento das profissões afetando as condições e as relações do trabalho profissional. Neste contexto, insere-se o Serviço Social como profissão que tem a questão social e suas múltiplas expressões como objeto de trabalho, fundamentando-se na contradição da * Assistente Social, especialista em Gestão com Pessoas e Relações de Trabalho pelo Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia, Técnico Administrativo – Assistente Social na Universidade Federal de Uberlândia/UFU, na Divisão de Assistência ao Estudante. Email: denize_peixoto@hotmail.com. ** Professora orientadora, Assistente Social, Mestre em educação – Magistério Superior pelo Centro Universitário do Triângulo, professora do curso de Serviço Social da Faculdade Católica de Uberlândia. Email: josefinareis@terra.com.br. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 288 sociedade capitalista, na qual a produção e reprodução das desigualdades sociais criam tensões, vivenciadas por sujeitos que a elas resistem e se opõem. Para Iamamoto (2004 p.27) é nesta tensão entre rebeldia e resistência que trabalham os assistentes sociais, “situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, os quais não é possível deles abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade”. Daí a necessidade a partir de uma perspectiva crítica e refletir sobre a centralidade do trabalho na constituição dos indivíduos sociais e como categoria fundante do ser social, para compreensão dos fundamentos teórico-metodológicos e técnico-operativos do trabalho do assistente social, a partir de uma análise das categorias que mediam e conduzem à reflexão do exercício profissional. Na construção deste entendimento as categorias: trabalho e alienação, instrumentalidade e mediação, e cotidianidade, foram eleitas como base desta reflexão. O trabalho constitui-se em uma atividade fundamental através do qual o homem se afirma como ser social e cria meios de atender à satisfação de suas necessidades e a possibilidade de “poder produzir mais do que o necessário para reproduzir a si mesmo sob condições sócio-determinadas” (GUERRA, 2000, p. 8). Nesta perspectiva, surge a alienação por constituir-se em produto da história humana, resultante da reprodução social submetida aos padrões individualistas e mesquinhos da sociedade burguesa, na qual os homens não se reconhecem como sujeitos da ação e onde indivíduos de outra classe social apropriam-se da riqueza produzida através da classe trabalhadora. Para superar a alienação aborda-se a instrumentalidade buscando-se conduzir à reflexão do tema no exercício profissional do assistente social, não no que se refere aos instrumentos e técnicas que facultam o agir profissional, mas como um modo de ser adquirido e apropriado pela profissão, integrante do seu processo de trabalho que segundo Guerra (1999) é construído e reconstruído quotidianamente, e na abrangência de que as respostas às demandas postas e o alcance dos objetivos, pode atribuir ao Serviço Social uma possibilidade concreta de reconhecimento social como profissão. Neste sentido a instrumentalidade pode ser vista como uma mediação que permita a passagem de ações apenas instrumentais a uma prática profissional crítica e competente. Martinelli (1993, p. 137), numa reflexão sobre o tema mediação, considera que ela se expressa “pelo conjunto de instrumentos, recursos, técnicas e estratégias pelas quais a ação profissional ganha operacionalidade e concretude. São instâncias de passagem da teoria para a prática, vias de penetração nas tramas constitutivas do real”. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 289 Desta forma, a mediação possibilita ao profissional direcionar uma prática crítica ou alienada, produtiva ou reiterativa, que depende do projeto-político ao qual se vincula, à correlação das forças sócio-institucionais e da sua leitura conjuntural de realidade e, ainda, compreender as particularidades do exercício profissional e as singularidades do cotidiano. Colocar o cotidiano como categoria reflexiva para o exercício profissional, permite uma análise da realidade numa percepção crítica dos fatos da vida social com vistas às possibilidades de transformação da sociedade numa busca de uma práxis transformadora. Assim, ao apreender a realidade sócio-histórica, onde o homem deve ser visto como ser social dentro de uma perspectiva de totalidade compreende-se que as relações sociais realizam-se ligadas diretamente aos indivíduos e não são construídas isoladamente, obtendo- se, assim, uma visão ética da dinâmica social, onde a moral a ser refletido ontologicamente, segundo Barroco (2005), ultrapassa um conformismo e contribui para um posicionamento consciente dos indivíduos na efetivação da suas escolhas. Deste modo, o homem através de escolhas conscientes, projeta e objetiva finalidades de valor realizando a sua práxis, e a ética exercida como atividade emancipadora é manifestada através de expressões como moral, moralidade e reflexão ética, e como capacidade libertadora do ser social. Barroco (1999, p. 126) considera que: A reflexão ética possibilita a crítica à moral dominante pelo desvelamento de seus significados sócio-históricos, permite a desmistificação do preconceito, do individualismo e do egoísmo, propiciando a valorização e o exercício da liberdade. Nesse espaço, a moral também pode ser reavaliada em função de seu caráter legal, quando se indaga sobre a validade das normas e deveres, em sua relação com a liberdade, fundamento ético essencial. Neste aspecto, a reflexão ética nos remete ao enfrentamento das contradições postas ao Serviço Social e que demandam um posicionamento ético-políticoprofissional onde o dever ser retratado no Código de Ética, implícito no projeto profissional, expressa a consciência profissional e serve como mediação entre os saberes teórico-metodológicos e os limites da prática profissional. Percebe-se então, a necessidade do Assistente Social conhecer e articular as diversas mediações que permeiam o interior da dimensão ética da profissão, e na realidade trabalhada apreender as possibilidades de realizar e redirecionar as suas ações profissionais. As ações tanto podem ser limitadoras e gerar sentimentos de impotência perante uma dada situação de intervenção, ou podem tornar-se potencializadoras de uma direção emancipatória com base na Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 290 construção coletiva de um projeto societário da categoria e reforçar os princípios contidos no Código de Ética da profissão. Neste contexto surge a indagação de como o profissional se vê defrontado com as diversas expressões da questão social mediante a “necessidade de participar e investir na construção de propostas e políticas sociais públicas para o enfrentamento dos alarmantes níveis de miséria que vêm afetando parcelas cada vez mais expressivas da população brasileira” (IAMAMOTO, 2004 p. 104), o que gerou uma inquietação interna e o interesse em trabalhar esta temática na conclusão do Curso de Serviço Social, Considerando-se que a problematização da reflexão ética torna-se se um dos instrumentos para compreensão dos limites e possibilidades da “atuação profissional [...] na medida em que indaga sobre a realização objetiva dos valores que se assumem”, (Ibidem p. 122), levantou-se questionamentos sobre como é exercida esta reflexão no exercício profissional pelos assistentes sociais inscritos na Seccional Uberlândia - CRESS 6ª Região, estabelecendo-se assim, a problemática do estudo. Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo analisar a reflexão ética no exercício profissional dos (as) Assistentes Sociais inscritos na Seccional de Uberlândia - CRESS 6.ª Região. Os dados coletados apontaram para a confirmação da hipótese pois a mediação entre o saber teórico-metodológico e a dinâmica social no exercício profissional da maioria dos Assistentes Sociais inscritos na Seccional de Uberlândia – CRESS 6.ª Região, ocorre de forma fragmentada com uma visão parcial da realidade, o que faz com que a reflexão ética seja predominantemente permeada por valores pessoais, na satisfação das demandas aparentes e imediatas dos usuários e vinculada a uma prática comprometida com os critérios da instituição onde trabalha, devido ao entendimento parcial das dimensões do projeto ético-político do Serviço Social. 2. PERCURSO METODOLÓGICO A unidade de análise pesquisada foi a Seccional de Uberlândia – CRESS 6.ª Região, que tem como objetivo a defesa do projeto ético-político do Serviço Social de forma articulada com a categoria profissional e a sociedade, e como finalidade precípua à defesa do exercício profissional do assistente social e a representação dos interesses da categoria. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 291 A pesquisa foi realizada num primeiro momento por amostra probabilística estratificada não proporcional, e num segundo momento por amostra probabilística acidental onde foram pesquisados 20 (vinte) assistentes sociais numa coleta de dados efetuada com cinco profissionais por década de formação, a partir do ano de 1976 que se dispuseram a responder a pesquisa até perfazer o total da amostra. Os dados secundários foram coletados a partir de pesquisa documental nos arquivos da Seccional Uberlândia, na qual se buscou identificar a década de graduação da formação acadêmica dos pesquisados. Ainda foram utilizadas pesquisas bibliográficas e em meio eletrônico para maior fundamentação teórica do objeto de estudo. A coleta de dados primários, demarcada por dois momentos, desenvolveu-se mediante uma combinação de métodos quantitativos e qualitativos. No primeiro momento, em uma abordagem quantitativa, levantaram-se dados através de questionários onde foram levantadas as seguintes variáveis: sexo; idade; estado civil; ano da graduação profissional; instituição da formação; ano inscrição no CRESS; cursos realizados; ano do 1º emprego como assistente social; área de atuação atual; tempo de atuação na área; carga horária; últimos livros lidos da profissão; autores de referência do Serviço Social utilizados como base da prática profissional. Já o segundo momento foi desenvolvido através de método qualitativo, no qual foi utilizada a entrevista não dirigida para obtenção das representações referentes à questão em estudo, e a observação assistemática para percepção de expressões não verbais. Os dados foram colhidos através de depoimentos, gravados e transcritos, dos vinte profissionais que se dispuseram a responder a pesquisa. A análise e interpretação dos dados foram realizadas, através de exames do material obtido, originados dos documentos, dos dados obtidos através dos questionários e das transcrições das entrevistas, cujos conteúdos também foram analisados à luz da teoria estudada. 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E REFLEXÕES Na pesquisa realizada, os resultados encontrados revelaram que a maior parte dos entrevistados é do sexo feminino e na faixa etária de 45 a 55 anos, conforme gráficos 1 e 2 a seguir: Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 292 0 5 10 15 20 1Sexo N.º Ass. Sociais Feminino Masculino 0 5 10 1Faixa Etária Nº Ass. Sociais 25 |------ 35 anos 35 |------ 45 anos 45 |------ 55 anos 55 |------ 60 anos GRÁFICO 1: Distribuição dos dados segundo o sexo dos assistentes sociais GRÁFICO 2: Distribuição dos dados segundo a faixa etária. Na avaliação da mediação entre teoria e exercício profissional, tornando-a visível enquanto razão fundante para a qualidade do trabalho profissional, a formação continuada constitui-se como um grau de apropriação do referencial teórico-metodológico necessário “à busca de ruptura com práticas conservadoras, hegemônicas historicamente construídas na profissão”. (VASCONCELOS, 2003, p. 338). Nos dados colhidos, a maior parte (55%) dos assistentes sociais, afirmou ser importante e ou fundamental essa vinculação na construção do processo de trabalho; 25% dos assistentes sociais embora considerem importante não efetivam um processo de formação continuada, atribuído à falta de oportunidade devido ao dia a dia da profissão: “Importantíssima [...]”. (Dec. 70 - E.5). “Hoje só fica no mercado quem se qualificar”. (Dec. 2000 - E.4). “É importante [...].estamos na tarefa, deixamos de estudar”. (Dec. 70 - E.4). “Acho muito importante [...], eu realmente não tenho lido”. (Dec. 80 - E.2). “Formação continuada... como assim?” (Dec. 90 - E.5). Constatou-se também um número pouco significativo (10% cada) de profissionais que não compreendeu o significado de mediação e outros que consideram a “teoria e prática muito vaga” e a “teoria não tem nada a ver com a prática”, conforme depoimentos abaixo: “[...] dependendo do setor, da instituição que se trabalha fica um pouco vago essa coisa de teoria e prática”. (Dec. 70 – E.1). “Mediação como assim?” (Dec. 70 - E3) / (Dec. 80 - E.2). “A teoria não tem nada a ver com a prática”. (Dec. 90 - E.5). Quanto à visão de realidade, verificou-se que a maioria (40%) dos assistentes sociais compreende a realidade como um processo dinâmico e submetido às transformações do mundo moderno, mas não revelando uma crítica mais consistente sobre o momento atual. Osdados agrupados revelaram que a maior parte (60%) demonstra uma visão descontextualizada Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 293 e acrítica, contradizendo os dados obtidos quanto á necessidade de mediação entre teoria e prática e aos que consideram importante a formação continuada. 0 1 2 3 4 70 80 90 2000 Décadas N.º Ass. Sociais Realidade como processo dinâmico, visão crítica parcial Realidade restrita ao espaço ocupacional Realidade como processo dinâmico/ categoria despir-se de preconceitos Não compreenderam o questionamento Visão genérica negativa Formação acadêmica deficitária Categoria necessita de maior integração GRÁFICO 3: Distribuição dos dados segundo a visão de realidade. Em relação à percepção de demandas verificou-se que a maior parte evidenciou uma prática voltada para demandas aparentes e imediatas: “Acolhimento [...], marcação de consultas [...].” (Dec. 70 - E.4). “Encaminhamento interno ou externo [...].” (Dec. 80 - E.3). “Encaminhamentos por necessidades de atenção à saúde.” (Dec. 90 - E.1). “Fazer entregas de benefícios, de cesta básica [...].” (Dec. 2000 - E.2). Quanto ao motivo do não atendimento às demandas apresentadas pelos usuários, os limites institucionais têm predominância nas justificativas das respostas dos assistentes sociais, conforme depoimentos: “Não atende, não entrava recurso financeiro”. (Dec. 70 – E.1). “Não, por questões estruturais [...]”. (Dec. 80 - E.1). “A gente trabalha com recursos e nem sempre atende a todos”. (Dec. 90 – E.3). “Tem uma demanda prevista [...] não consegue atender a todos”. (Dec. 2000 - E.3). No que tange à percepção das bases para a reflexão ética, verificou-se que a maior parte dos assistentes sociais justificou a escolha baseando-se em valores pessoais e critérios morais numa ética pessoal na construção dessa reflexão: “[...] usar a minha ética pessoal, a minha formação”. (Dec. 70 - E1). “[...] posso extrair dos meus valores, dos meus princípios [...]”. (Dec. 70 - E.3). “A gente tem os valores que traz antes de ser profissional, enquanto pessoa comum [...] num atendimento envolve tudo”. (Dec. 2000 - E.2). Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 294 Numa perspectiva de entendimento do grau e de apropriação do projeto ético-político, buscou-se identificar a percepção dos assistentes sociais pesquisados, quanto à compreensão das dimensões constitutivas desse projeto. Neste sentido, verificou-se que a maior parte (65%) deles não tem conhecimento deste projeto. Dentre esses profissionais, os graduados nas décadas de 70 e 80 constituíram-se a maior parte, proporção gradualmente diminuída para as décadas seguintes. 21 4 1 4 3 2 3 0 2 4 6 Conhece Não conhece N.o. Assistentes Sociais 70 80 90 2000 GRÁFICO 4: Distribuição dos dados quanto ao conhecimento do projeto ético-político profissional. No que se refere à visão do papel exercido pelo Conselho Regional de Serviço Social - CRESS, percebeu-se que uma minoria fez referência ao seu papel educativo/informativo; apenas um percentual não significativo dos entrevistados compreende o foco da ação do órgão: “É de contribuição, de contribuição da mensalidade [...].” (Dec. 70 – E5). “Relação muito distante [...].” (Dec. 80 - E2). “[...] eles não fazem nada pra gente [...].” (Dec. 90 - E3). “[...] acho que o CRESS poderia tá [sic] vendo mais sobre essa questão assim das assistentes sociais que não fazem parte da saúde pública [...].” (Dec. 2000 - E4). Os dados constataram que a maior parte dos entrevistados não possui entendimento da dimensão político-organizativa do projeto ético-político profissional, nem do papel exercido pelo CRESS nessa dimensão, como órgão de representação da categoria profissional. As análises dos dados apontam para a confirmação da hipótese. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A reflexão ética, na prática profissional, não objetiva responder às necessidades imediatas, mas efetivar uma sistematização crítica do cotidiano, a fim de ampliar as Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 295 necessidades, além das ditadas pelo “eu”, desenvolvendo possibilidades dos indivíduos se realizarem como individualidades livres e conscientes, e tornarem-se sujeitos da ação. Liberdade entendida como princípio fundamental da ética e irrestrita a todos os homens. Significando também oportunidades de escolhas racionais no processo de trabalho, no qual o assistente social através da instrumentalidade dos processos de trabalho efetiva mediações que conduzem a novas formas de pensar e agir profissionais. A prática profissional com um caráter de complacência, bondade, e direcionada por um comportamento moral com o dever de garantir o mínimo, o possível, e não o necessário, fortalece a submissão e ao não reconhecimento do outro enquanto sujeito de direitos conduzindo a uma visão fragmentada da realidade por parte do profissional. Esta visão contribui para criar condições nas quais as mediações necessárias não se estabelecem, e a prática se reduz a ações pontuais, focalizadas e emergenciais e em total consonância com a política neoliberal atual. Assim, fica evidente que o trabalho do assistente social deve ser considerado como um processo, e como tal está implícito ao movimento dialético da realidade, portanto necessita a superação da visão fragmentada, através da apropriação teórica - metodológica crítica e do investimento na capacitação permanente. Assumir uma direção social voltada para o projeto ético-político profissional do Serviço Social significa um amadurecimento da categoria profissional para entender a construção das dimensões que o materializam, e envolvem a ampliação dos conhecimentos teórico-metodológicos, a organização da categoria, a reafirmação dos compromissos e princípios assumidos, e o amparo legal das ações em instrumentos jurídico-legais da profissão. Dimensões nas quais, as relações estabelecidas devem ser sempre permeadas pela reflexão ética. Neste sentido, superar o caráter de salvador do mundo, absorvido através da herança conservadora do Serviço Social, lutando contra a desigualdade, fazer o necessário, e não o apenas possível, ganha um aspecto mobilizador de possibilidades, frente aos interesses e necessidades dos segmentos majoritários da classe trabalhadora. Esta perspectiva acreditamos ser um caminho para romper com a visão endógena que ainda permeia a categoria, e a possibilidade de se pensar entre fazer o possível e o necessário. O necessário é possível e traz em si todas as possibilidades de realização. Diante do estudo realizado, ao responder os questionamentos levantados referentes à reflexão ética no exercício profissional, algumas considerações foram abordadas numa Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 287-296, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 296 tentativa de contribuir na reflexão do tema, dentre as quais podem se destacar o processo de formação profissional e ao papel do CRESS. No que se refere ao processo de formação profissional visualiza-se a necessidade premente de aprofundamento nas concepções teórico-metodológicas, ideológicas e políticas que norteiam e conduzem o projeto ético-político da categoria. A ênfase nas matrizes metodológicas, nas bases filosóficas da ética e na apreensão do homem como ser social inserido na totalidade se constitui em embasamento teórico necessário à construção do pensamento crítico dos processos de trabalho do Serviço Social na contemporaneidadee, à consolidação de um perfil profissional que atenda aos desafios impostos pela conjuntura atual. No que diz respeito ao papel desempenhado pelo CRESS há necessidade de dar maior visibilidade. Neste sentido, a ampliação da divulgação e maior sensibilização dos profissionais nos seus espaços ocupacionais, poderão contribuir para a clarificação das reais competências do CRESS e fortalecimento da unidade na categoria profissional. 5. Referências BARROCO, M.L.S. Os fundamentos sócio-históricos da ética. Capacitação em Serviço Social e política social: Crise contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília: CFESS: ABEPSS: CEAD: UNB, 1999, p. 119-136, 5 v. em v. 2. ______Ética e Serviço Social: Fundamentos Ontológicos. 3.ª ed. São Paulo: Cortez, 2005a. 222 p. GUERRA, Y. Instrumentalidade no trabalho do assistente social. Capacitação em Serviço Social e política social: O trabalho do assistente social e as políticas públicas. Brasília: CFESS: ABEPSS: CEAD: UNB, 1999, p. 51-63, 5 v. em v. 4. ______Instrumentalidade do processo de trabalho e Serviço Social. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo: Cortez, ano XXI, n.º 62, p. 5-34, mar. 2000. IAMAMOTO, M.V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004. 326 p. MARTINELLI, M.L. Serviço Social identidade e alienação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1993. 165 p. VASCONCELOS, A.M.de. A prática do Serviço Social: Cotidiano, formação e alternativas de saúde. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2003. 560 p.
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