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2017 - 07 - 18 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016 APRESENTAÇÃO DA 16.ª EDIÇÃO Apresentação da 16.ª edição Passado o período inicial de intensas reflexões sobre o Código de Processo Civil de 2015, que correspondeu à vacatio legis de um ano, e feita, portanto, a necessária transição entre o sistema de 1973 e o novo Código, a Editora Revista dos Tribunais e os autores oferecem ao público leitor um novo Curso Avançado de Processo Civil. A 16.ª edição é um livro novo, escrito em função do novo Código, e fruto do amadurecimento das reflexões havidas, tanto no período em que o anteprojeto e os projetos que se lhe seguiram foram discutidos no parlamento e entre os estudiosos e profissionais do direito, quanto nessa fase de "acomodação" correspondente ao período de vacância da lei nova. É essa a função da vacatio legis. Permitir que o intérprete - seja ele cientista, seja profissional da área jurídica - conheça, compreenda e medite sobre a novidade. Serve para evitar precipitações, soluções impensadas e mesmo a mera repetição, mais ou menos maquiada, de ideias que serviam para o direito anterior e já não servem mais. A preocupação da Editora e dos autores foi a de oferecer aos leitores, que há mais de dezessete anos se servem do Curso Avançado de Processo Civil, uma obra completa e, acima de tudo, escrita sem pressa, mas como resultado do processo de compreensão do novo sistema processual civil, a que todos nos dedicamos nos últimos tempos. O novo Código não é um "conjunto de alterações", como alguns preconizam. Nem é uma revolução de paradigmas, como querem outros. É o Código possível, fruto do embate democrático nas duas Casas do Parlamento (Senado e Câmara) e fruto do intenso e profícuo debate acadêmico de que muitos participaram, ao longo dos últimos seis anos. É um Código ligado ao seu tempo e à necessidade de simplificar, modernizar e democratizar os meios de prestação da tutela jurisdicional. Como toda obra humana, o CPC de 2015 não está imune às críticas, sejam elas corretas ou não, decorrentes de intensa reflexão ou do inexorável jogo de vaidades em maior ou menor grau inerentes à natureza de todos nós, na discussão acadêmica e na vida. Essas críticas têm diferentes origens. Para alguns advogados o CPC 2015 aumenta os poderes dos juízes; juízes não gostam da regra que detalha como deve e como não deve ser fundamentada a decisão judicial; professores dizem que não foram ouvidos; doutrinadores afirmam que o Código de 2015 foi pensado só para desafogar STF e STJ; esses tribunais superiores, por sua vez, anunciam que se tornarão operacionalmente inviáveis com as inovações havidas (...). Muitas dessas observações podem proceder. Mas a grande questão, agora, é, por um lado, encontrar um modo de superar os eventuais problemas que de fato se ponham e, por outro, aproveitar ao máximo as vantagens, os avanços que o novo sistema proporciona. De resto, as críticas são o preço a ser pago pelo debate democrático, que houve até mesmo antes do primeiro esboço de anteprojeto. A Comissão de Juristas designada pelo Senado Federal fez audiências públicas e ouviu professores e representantes das profissões jurídicas, para colher sugestões para que a construção do anteprojeto fosse fruto do pensamento de setores representativos da sociedade. Sob a forma de Projeto, o texto foi discutido pelos Senadores, com auxílio de outra Comissão de Juristas. Aprovado no Senado, o Projeto foi para a Câmara. Lá houve longa e democrática discussão, tanto entre deputados quanto entre professores, juízes, advogados, promotores, defensores e procuradores, que foram ouvidos pela Comissão para tanto criada. Depois de sua aprovação na casa revisora, voltou o Projeto ao Senado, para análise das alterações feitas pela Câmara. Mais uma vez, a comunidade acadêmica e os operadores das profissões jurídicas foram chamados. Nossas expectativas são otimistas - ou melhor, revestem-se de um "realismo esperançoso", na expressão célebre de Ariano Suassuna. O Código de Processo Civil de 2015 não transformará a realidade como num passe de mágica, mas tem suficiente potencialidade para servir de método capaz de racionalizar, modernizar e, acima de tudo, democratizar em profundidade a prestação do serviço jurisdicional. E há, em seu texto, exemplos contundentes dessa afirmação. Entre eles, destacamos o incidente de resolução de demandas repetitivas. Houve, nos últimos trinta anos, a multiplicação de ações ajuizadas por diferentes sujeitos, que se encontram em situações análogas. Tais ações veiculam pedidos igualmente análogos, derivados da mesma causa de pedir remota, sobrecarregando o trabalho dos juízes. Houve milhares de ações contra os bancos, motivadas pelos desarranjados planos de estabilização da economia, anteriores ao bem sucedido Plano Real que resgatou a estabilidade da economia brasileira. Houve ações contra as concessionárias dos serviços de telefonia, também aos milhares, tratando de tarifação, por exemplo. Igualmente, multiplicaram-se as demandas análogas de contribuintes, pensionistas, servidores públicos. Enfim, houve a consolidação das chamadas demandas de massa, com a chegada de uma nova, expressiva e interessada multidão de reivindicantes, ávida por ver suas afirmações de direito conhecidas e decididas pelo Poder Judiciário. Com os mecanismos de julgamento de causas e recursos repetitivos, não haverá mais a multiplicação descontrolada das ações de massa, pois o Poder Judiciário definirá o direito aplicável a tais casos, antes da existência de exagerado número de processos sobre o mesmo tema e estancará a avalanche de processos. Ao STJ e ao STF, portanto, chegarão recursos representativos da controvérsia, para a definição das respectivas teses de direito federal e de direito constitucional. Além disso, a existência de um incidente único para a resolução da questão repetitiva auxilia na eliminação ou diminuição da "assimetria" no litígio. A expressão é usada para retratar o fato de que, em muitos casos, tem-se um litigante habitual, com vastos recursos e informações, para quem aquele conjunto de conflitos homogêneos, na totalidade, representa um grande valor econômico; do outro lado, tem-se uma pluralidade de litigantes inabituais, que se inibirão com os custos do processo ou não terão informações suficientes para conduzi-lo em todas as fases e graus de jurisdição. A concentração da decisão em um incidente permite que instituições e entidades representativas atuem como amici curiae (e aqui está outro instituto que mereceu especial atenção no CPC/2015), apresentando subsídios em favor da tese dos litigantes inabituais. A regra constitucional que assegura a todos o direito à fundamentação das decisões judiciais, emblemática num Estado de Direito, assume feições claras, por força da regra constante no art. 489 § 1.º, do CPC/2015. Outro exemplo, não menos importante: a ampla liberdade que o CPC/2015 atribui às partes para que celebrem convenções tendo por objeto a alteração do procedimento e do © desta edição [2016] processo. São os negócios jurídicos processuais. O novo Código não os limita a hipóteses específicas. Consagra a possibilidade de negócios processuais atípicos - em uma regra sem igual no direito comparado. Há, enfim, um novo CPC e com ele se inicia a experiência, nova, para muitos, do processo sob o regime da cooperação entre todos os seus sujeitos. Nos últimos anos os estudos de processo civil se encaminharam para a definição de novos meios de participação de todos na construção da decisão judicial. O art. 10, que expande o contraditório a limites outrora impensados, é fruto da compreensão de que decisões "surpresa", inesperadas, não mais se coadunam com a democracia, método de gestão da vida da sociedade sob o Estado que consideramos insuperável e verdadeiramente adequado para atender aos anseios sociais por liberdade, responsabilidade, participação, voz, segurançae previsibilidade. Nosso novo Curso Avançado de Processo Civil, que parte do "zero", com o CPC de 2015, tem, nesta 16.ª edição, o compromisso de trazer aos estudantes e profissionais que dele se servirem, com simplicidade e adequação, os meios necessários para que esse novo sistema seja compreendido e aplicado com sucesso. Luiz R. Wambier Eduardo Talamini
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