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Capítulo 2. MODALIDADES DE COGNIÇÃO

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2017 - 07 - 18 
Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016
PRIMEIRA PARTE - COGNIÇÃO JURISDICIONAL EXAURIENTE E SUMÁRIA
CAPÍTULO 2. MODALIDADES DE COGNIÇÃO
Capítulo 2. MODALIDADES DE COGNIÇÃO
2.1. Introdução
A cognição jurisdicional não segue sempre um mesmo e único padrão. As diferentes
necessidades de tutela jurisdicional levam o legislador a estabelecer diferentes
modalidades de atuação jurisdicional cognitiva.
Como a atividade cognitiva dá respaldo às decisões que o órgão jurisdicional tomará, é
de se supor que ela seria sempre a mais completa e aprofundada possível. E,
tendencialmente, ela assim o é. Esse é o modelo padrão de cognição jurisdicional, que
busca, assim, assegurar decisões justas. No entanto, há outros valores igualmente
relevantes, que justificam eventuais limitações à cognição, tais como a efetividade da
tutela jurisdicional e a duração razoável do processo.
Alude-se à sumariedade da cognição para indicar alguma limitação imposta à atividade
de conhecimento, em vista desses outros objetivos.
As variações de cognição põem-se basicamente em dois planos. Um deles, chamado
"vertical", concerne ao grau de profundidade com que podem ser investigadas as questões
postas para conhecimento do julgador. O outro, dito "horizontal", diz respeito à própria
delimitação das questões que podem ser conhecidas pelo julgador. As variações nesses
dois planos, ademais, podem combinar-se.
2.2. Plano vertical: cognição exauriente e cognição superficial
No plano vertical, a cognição pode ser exauriente ou superficial.
Cognição exauriente é aquela que se produz em um procedimento que permite a ampla
investigação por parte do julgador. Nesse modelo de cognição, o julgamento do mérito é
precedido da possibilidade de ampla e aprofundada instrução probatória (como ocorre no
procedimento comum, que será objeto de estudo nos capítulos seguintes deste volume) ou
então, havendo a limitação de meios de prova, o julgador apenas está obrigado a se
pronunciar sobre o mérito quando for possível formar sua convicção quanto aos fatos da
causa valendo-se apenas daqueles meios probatórios ali permitidos (é o que se passa, p.
ex., no mandado de segurança: se o juiz reputar que a prova documental é suficiente para
a comprovação dos fatos da causa, ele julga o mérito, fundado em cognição exauriente; se
não for possível elucidar tais fatos apenas com documentos, o juiz profere decisão
negativa de resolução de mérito).
Já a cognição é superficial (sumária, no plano vertical) quando se estabelece para o
julgador uma limitação de meios investigatórios e, simultaneamente, se exige dele que,
mesmo assim, profira uma decisão sobre o mérito, amparado nos elementos que aquela
investigação limitada proporciona. O juiz decide, então, com base em meros juízos de
plausibilidade. É o que ocorre na decisão sobre tutela da urgência ou da evidência (cap.
42, adiante); na fase inicial da ação monitória (vol. 4, cap. 11); no exame do pedido de
liminar nas ações possessórias (vol. 4, cap. 4). Nesses casos, a limitação da profundidade
da cognição funda-se na exigência de efetividade da tutela (é o que ocorre na tutela da
urgência e na liminar possessória: não seria possível aguardar-se todos os passos da
cognição exauriente para só depois se decidir, pois então o dano que se pretendia evitar já
se poderia ter concretizado) ou no princípio da duração razoável do processo (é o que se
passa na tutela da evidência e na ação monitória: dispensa-se a cognição aprofundada
para a concessão da tutela jurisdicional, diante da existência de elementos veementes,
ainda que não definitivos, favoráveis a uma das partes - transferindo-se à outra o peso da
demora do processo).
Note-se que a cognição não é definida como exauriente ou superficial conforme o
efetivo grau de cognição do juiz, mas sim conforme o que o procedimento permite ao juiz
investigar conjugadamente com o que o sistema exige que ele, em tal momento decida.
Como dito acima, a decisão do juiz sobre um pedido de tutela urgente antecipada
formulado liminarmente (i.e., no início do processo, antes da citação do réu) ampara-se
em cognição sumária. Mas o caso pode dizer respeito a uma situação que o juiz já
enfrentou em sentença dezenas, ou talvez centenas de vezes, que já está razoavelmente
assente nos tribunais - e assim por diante. O juiz profere então uma decisão deferindo ou
indeferindo a tutela antecipada, investido de plena convicção pessoal. Nem por isso o caso
deixa de ser de cognição sumária, pois o que importa é que se exija do juiz uma decisão
naquele momento (fase inicial do processo, anterior ao aperfeiçoamento do contraditório
e toda fase instrutória), tenha ele essa convicção íntima ou não. Por outro lado, ao final do
procedimento comum, em que todos os meios de prova estiveram ao dispor do juiz - e ele
empregou todos os que eram adequados ao caso - pode ocorrer de o juiz permanecer
imerso em dúvidas quanto à existência de determinados fatos relevantes da causa. Ele
proferirá sentença, se for o caso, aplicando até as regras de ônus da prova (n. 13.4.8,
adiante). E, a despeito de sua absoluta falta de convicção íntima, a sentença que ele
proferir será de cognição exauriente. Isso porque ela terá sido antecedida de
procedimento que permitiu ao juiz a ampla investigação probatória. Vale dizer: foram
dadas às partes amplas oportunidades de provar suas alegações e ao juiz, todas as chances
de formar seu convencimento. É o que caracteriza a cognição como exauriente.
A cognição sumária não é apta a produzir coisa julgada material, como se verá melhor
adiante (cap. 40).
2.3. Plano horizontal: cognição total e parcial
No plano horizontal a cognição pode ser total ou parcial.
Ela é dita total quando não se submete a nenhuma limitação de questões passíveis de
alegação, debate, instrução e decisão. Novamente cabe como exemplo o procedimento
comum, em que não se impõe, nem ao autor um limite de questões ou matérias na
formulação de sua pretensão, nem ao réu na sua defesa.
Cognição parcial é a que se desenvolve em processos em que o ordenamento impõe um
limite de questões passíveis de enfrentamento. Faz-se como que um recorte na lide,
selecionando-se apenas alguns aspectos dela que poderão ser alegados, investigados e
decididos. Os demais são remetidos a outro processo, que a parte interessada poderá
instaurar futuramente. Tomem-se como exemplo as ações possessórias sobre imóveis (vol.
4, cap. 4). Nelas, em princípio, as partes apenas podem discutir a posse sobre o bem. As
pretensões ou defesas fundadas no direito de propriedade, em regra, devem ser objeto de
outro processo. Outro exemplo tem-se com a impugnação ao cumprimento de sentença: há
um rol específico de matérias alegáveis pelo executado (vol. 3, cap. 20).
2.4. A conjugação das modalidades de cognição
Como dito acima, as diferentes modalidades de cognição podem ser combinadas entre
si.
Por exemplo, a sentença no procedimento comum deriva de cognição total (todas as
pretensões e defesas podiam ser formuladas, sem limitações de matérias) e exauriente
(possibilidade de ampla instrução probatória).
Já a decisão sobre tutela antecipada ou cautelar proferida incidentalmente ao
procedimento comum, ainda que decorrendo também de cognição total, é superficial
(funda-se na plausibilidade do direito).
A sentença nas ações possessórias ampara-se em cognição exauriente, pois não há
limitações probatórias nessa ação especial. No entanto, a cognição é parcial: restringe-se,
normalmente, às questões possessórias.
A decisão sobre a medida urgente na ação possessória ("liminar"), por sua vez, deriva
de cognição parcial (a restrição à posse também aqui se põe) e superficial (juízo de
plausibilidade).
Introdução
Modalidades de cognição
 Plano vertical
 Exauriente
 Superficial
 Plano horizontal
 Total
 Parcial
Conjugação das modalidades
de cognição
Sentençano procedimento comum → total e exauriente
Tutela provisória → total e superficial
Ações possessórias → parcial e exauriente
Medida urgente na ação possessória → parcial e
superficial
Doutrina Complementar
· Alexandre Freitas Câmara(O Novo Processo..., p. 185)demonstra que "A cognição
precisa ser analisada em dois planos distintos: horizontal e vertical. Chama-se plano
horizontal o da amplitude da cognição. É que há processos de cognição plena (aqueles em
que qualquer questão que venha a ser suscitada terá de ser examinada e resolvida) e
processos de cognição limitada (em que há restrições ao objeto da cognição, havendo
matérias que não podem ser objeto de apreciação pelo juiz). (...) O plano vertical é o da
profundidade da cognição. Como regra geral, no processo de conhecimento, busca-se
produzir decisão baseada em cognição exauriente. Pode a cognição, porém, ser menos
profunda, sumária. E há, ainda, casos excepcionalíssimos em que se admite a prolação de
decisão baseada em cognição superficial. A cognição exauriente é aquela que permite ao juiz
proferir uma decisão baseada em juízo de certeza. Exige a mais profunda análise de
alegações e provas, capazes de chegar ao ponto de permitir que sejam exauridas todas as
possibilidades, levando o juiz a encontrar a decisão correta para a questão que lhe tenha
sido submetida. Esta decisão, baseada na mais profunda cognição possível, é capaz de se
tornar - desde que observadas algumas exigências legais, (...) - imutável e indiscutível (por
força de um fenômeno conhecido como coisa julgada). (...) Nas decisões baseadas em
cognição sumária, (...), não haverá a afirmação judicial da existência (ou inexistência) do
direito material. Em tais decisões simplesmente se afirmará que o direito provavelmente
existe. Não é por outra razão, aliás, que o art. 300 estabelece que a tutela de urgência será
concedida 'quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito'. Casos há,
porém, em que se permite a prolação de decisão baseada em cognição superficial. Esta é a
menos profunda de todas as modalidades de cognição, e permite a prolação de decisões
fundadas em juízo de verossimilhança".
· Fredie Didier Jr. (Curso..., vol. 1, p. 445) ilustra que: "Em primeiro lugar, o plano
horizontal (extensão), que diz respeito à extensão e à amplitude das questões que podem
ser objeto da cognição judicial. Aqui se definem quais as questões que podem ser objeto da
cognição judicial. Aqui se definem quais as questões que podem ser examinadas pelo
magistrado. A cognição, assim, pode ser: a) plena: não há limitação ao que o juiz conhecer;
b) parcial ou limitada: limita-se o que o juiz pode conhecer. O procedimento comum é de
cognição plena, na medida em que não qualquer restrição da matéria a ser posta sob
apreciação; (...). A limitação da cognição normalmente favorece a razoável duração do
processo, daí a razão de muitos procedimentos especiais terem por característica
exatamente a limitação cognitiva. Em segundo lugar, o plano vertical (profundidade), que
diz respeito ao modo como as questões serão conhecidas pelo magistrado. (...) A cognição
poderá ser, portanto, exauriente ou sumária, conforme seja completo (profundo) ou não o
exame. Somente as decisões fundadas em cognição exauriente podem estabilizar-se pela
coisa julgada. Daí poder afirmar-se que a cognição exauriente é a cognição das decisões
definitivas. Combinam-se estas modalidades de cognição para a formação dos
procedimentos".
· Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo curso...,
vol. 1, p. 542) lecionam que "a cognição judicial pode ser encarada a partir de dois planos
distintos: o plano horizontal, que concerne aos pontos e às questões que podem ser objeto
de cognição, e o plano vertical, que atine à profundidade com que podem ser decididos. No
plano horizontal, a cognição pode ser plena ou parcial. No plano vertical, exauriente ou
sumária. Interessa nesse momento saber quais são os pontos e as questões que as partes
podem debater e o juiz deve enfrentar para prestar tutela jurisdicional. Vale dizer:
interessa o plano horizontal da cognição. Nesse plano podem ser debatidas entre as partes
duas ordens de questões: questões processuais e questões de mérito. Dentre as questões
processuais alocam-se os chamados pressupostos processuais. Dentre as questões de
mérito, aquelas concernentes à causa de pedir, ao pedido e à defesa, inclusive aquelas
ligadas à legitimidade para a causa e ao interesse processual, quando não decididas in
status assertionis".
Bibliografia
Fundamental
Alexandre Freitas Câmara, O novo processo civil brasileiro, São Paulo, Atlas, 2015;
Fredie Didier Jr., Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
© desta edição [2016]
parte geral e processo de conhecimento, 17. ed., Salvador, Jus Podivm, 2015; Luiz
Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo curso de processo
civil: teoria do processo civil, São Paulo, RT, 2015, vol. 1.
Complementar
Alcides A. Munhoz da Cunha, Correlação lógica entre cognição, preclusão e coisa
julgada, RePro 163/359; Eduardo Cambi, Coisa julgada e cognição secundum eventum
probationis, Doutrinas Essenciais de Direito Civil 2/135; Eduardo José da Fonseca Costa,
Sentença cautelar, cognição e coisa julgada reflexões em homenagem à memória de
Ovídio Baptista, RePro 191/357; Fernando Horta Tavares e Elder Gomes Dutra, Técnicas
diferenciadas de sumarização procedimental e cognição exauriente: das providências
preliminares, julgamento "antecipado" do processo e do procedimento monitório, RePro
181/59; Fritz Baur, Da importância da dicção "iuria novit curia", RePro 3/169; Luiz
Guilherme Marinoni, Conceito de prova escrita e extensão da cognição no procedimento
monitório, Soluções Práticas - Marinoni 1/371; _____, Considerações acerca da tutela de
cognição sumária, Doutrinas Essenciais de Processo Civil 2/825; Mônica Martinelli Ortiz,
Âmbito da cognição das questões de ordem pública nos tribunais superiores e exigência
de prequestionamento, RePro 128/175; Teresa Arruda Alvim Wambier, A influência do
contraditório na convicção do juiz: fundamentação de sentença e de acórdão, Doutrinas
Essenciais de Processo Civil 6/531; _____, O juiz aplica a lei à verdade dos fatos?, RePro
216/425; Thadeu Augimeri de Goes Lima, Iura novit curia no processo civil brasileiro: dos
primórdios ao novo CPC, RePro 251.

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