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2017 - 07 - 18 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016 SEGUNDA PARTE - PROCEDIMENTO COMUM DO PROCESSO DE CONHECIMENTO: FASE POSTULATÓRIA SEGUNDA PARTE - PROCEDIMENTO COMUM DO PROCESSO DE CONHECIMENTO: FASE POSTULATÓRIA (Autores) Luiz Rodrigues Wambier Eduardo Talamini Capítulo 3. O PROCEDIMENTO COMUM E SUAS FASES 3.1. Processo plurifásico Como visto no vol. 1 (cap. 14), o sistema processual civil brasileiro caracteriza-se por prever, em regra, que as diferentes espécies de atividade jurisdicional desenvolvem-se dentro de um mesmo processo. Assim, a fase cognitiva é normalmente sucedida pela fase de execução (cumprimento de sentença). Se a condenação for ilíquida, entre essas duas fases terá vez, ainda, a fase de liquidação. Se o executado opuser-se à execução, virá a estabelecer-se outra fase, de impugnação ao cumprimento de sentença. Por outro lado, se antes da instauração da fase de conhecimento, surgir uma situação de perigo de dano grave e de difícil ou impossível reparação, poderá estabelecer-se uma fase antecedente de urgência. Assim, o atual processo civil brasileiro é plurifásico. Em vez de se estabelecer uma nova relação processual para cada modalidade de atuação jurisdicional - como fazia, p. ex., o CPC/73, em sua redação original -, opta-se por uma sucessão de fases dentro da mesma relação processual. Mas, não bastasse isso, a própria fase de conhecimento é subdivida em diversas outras fases. Adiante, traça-se rápido panorama dessas várias fases, cujos respectivos conteúdos serão objeto de estudo detalhado nos capítulos seguintes. 3.2. O procedimento comum Procedimento comum é o nome que o CPC atribui ao rito padrão para a fase de conhecimento do processo. Se não houver a previsão de um procedimento especial para a ação de conhecimento, ela deverá seguir o procedimento comum. Além disso, como se verá adiante em mais de uma oportunidade, mesmo quando houver a previsão de procedimento especial para uma ação, ela em regra poderá ser processada pelo rito comum, especialmente para viabilizar a cumulação de pretensões em um mesmo processo, que se submeteriam, a princípio, a distintos tipos de procedimento. Tal opção pelo procedimento comum só ficará afastada quando a previsão do procedimento especial para determinada ação fundar-se em regras cogentes, estabelecidas no interesse da jurisdição, e não no do autor da demanda. 3.3. As fases do procedimento comum O procedimento comum desdobra-se nas seguintes fases: a) postulatória: é o momento em que as partes lançam suas alegações e defesas. Inicia- se com a propositura da demanda pelo autor, passa pela citação e contestação do réu e vai até a réplica (eventual resposta do autor à contestação); b) saneadora: tem início com a determinação de correção de defeitos processuais pelo juiz, que é sucedida pelo "julgamento conforme o estado do processo", em que o juiz verifica se é o caso de encerrar a fase cognitiva naquele próprio momento, com ou sem resolução de mérito, por já reunir fundamentos para isso (hipótese em que já se terá a fase decisória, inframencionada), ou de proferir a decisão de saneamento do processo, declarando não haver defeitos que impeçam a continuidade da fase de cognição, fixando as questões controvertidas de fato e de direito e definindo os meios de prova que serão a seguir produzidos (hipótese em que se tem a fase saneadora em sua íntegra); c) instrutória: é a etapa destinada à produção de provas. Começa com a determinação da produção de provas, ainda na decisão de saneamento do processo, e vai até a audiência de instrução e julgamento, oportunidade em que podem ser ouvidos os peritos e assistentes técnicos, as partes e testemunhas. Ainda na audiência, as partes, por seus advogados, em princípio apresentam verbalmente razões finais, manifestando-se sobre a prova produzida e os argumentos apresentados no curso do processo; d) decisória: dá-se com a prolação da sentença pelo juiz, seguida da resposta a eventuais embargos de declaração interpostos pelas partes; e) recursal: abrange tanto os recursos interpostos para o tribunal de segundo grau de jurisdição contra os pronunciamentos de primeiro grau, quanto os recursos subsequentes para os tribunais superiores (recurso especial e recurso extraordinário e outros recursos com eles relacionados). É fácil notar que essas fases não são estanques. Muitas vezes, o ato que encerra uma delas, inaugura a seguinte. Além disso, determinadas etapas podem tramitar simultaneamente. Por exemplo, se o juiz profere uma decisão parcial de mérito e determina a produção de provas em relação à parcela do mérito não decidida, teremos, se o derrotado interpuser recurso contra a decisão parcial de mérito, uma fase recursal e, paralelamente, a fase instrutória em primeiro grau de jurisdição. No mais, nem todas as etapas necessariamente ocorrem sempre: o juiz pode indeferir a petição inicial ou rejeitar liminarmente o pedido - hipótese em que não se terá fase de saneamento nem instrutória; ou, mesmo em outros casos, pode não haver a necessidade de provas para o julgamento do mérito, dispensando-se, assim, a fase instrutória; ou, ainda, a parte sucumbente não recorre da sentença, não havendo fase recursal - e assim por diante. Nos capítulos seguintes, cada uma dessas fases será detalhadamente examinada. Processo plurifásico Procedimento comum Fase postulatória Fase saneadora Fase instrutória Fase decisória Fase recursal Doutrina Complementar · Alexandre Freitas Câmara (O Novo Processo..., p. 187) explica que: "O processo de conhecimento se desenvolve através de diferentes procedimentos (isto é, diferentes 'caminhos', distintas sequências de atos processuais). Um destes procedimentos é estabelecido pelo CPC como um procedimento padrão. A ele se dá o nome de procedimento comum. Os demais, distintos do comum, são chamados de procedimentos especiais. Pois é exatamente por ser o procedimento comum o padrão, a ser usado como regra geral, é que o art. 318 estabelece que se aplica 'a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou lei'. O procedimento comum é, então, o modelo, o padrão, em outras palavras o standard dos procedimentos cognitivos. E por conta disso é minuciosamente regulado pela lei processual. Os demais, procedimentos especiais, são regulados apenas naquilo que tenham de diferente do comum e, por isso, há expressa disposição legal no sentido de que o procedimento comum é subsidiariamente aplicável aos especiais (art. 318, parágrafo único)". · Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 727) ilustra um esquema do procedimento comum: "(a) inicia-se pela petição inicial, com os requisitos do art. 319; (b) deferida a inicial, segue-se a citação do réu ou do interessado (art. 238), para comparecer à audiência de conciliação ou de mediação (art. 334), a partir da qual, sendo frustrada a autocomposição, começa o prazo do réu, para responder ao pedido do autor; (c) o terceiro estágio é reservado para a verificação da revelia e seus efeitos (arts. 344 e 345), ou para a tomada das providências preliminares (art. 347). Se o réu não contestar a ação, os fatos afirmados pelo autor serão reputados verdadeiros (art. 344), salvo as hipóteses do art. 345, que exigem a instrução do feito, mesmo quando o réu é revel. Se houver contestação, o juiz examinará as questões preliminares e determinará as providências necessárias para cumprir o contraditório, perante o autor, em relação a defesa (arts. 350 e 351). Determinará, ainda, a correção das irregularidades e dos vícios sanáveis constatados no processo (art. 352); (d) cumpridas as providências preliminares, ou não havendo necessidade delas, o juiz proferirá 'julgamento conforme o estado do processo' (art. 353). Essa decisão pode ser: (i) de extinção do processo, sem julgamento do mérito, caso o autor não tenha diligenciadoo saneamento das falhas apontas pelo juiz e ocorra alguma das hipóteses de sentença terminativa previstas nos arts. 485; (ii) de extinção do processo por ocorrência de decadência e prescrição (art. 487, II) ou por homologação de ato de autocomposição do litígio (art. 487, III) (art. 402); (iii) de julgamento antecipado do mérito, quando não houver necessidade de mais provas (art. 355); (iv) de saneamento e organização do processo, quando o processo deva prosseguir, por não ter sido objeto de extinção sem julgamento de mérito, nem de julgamento antecipado da lide (art. 357); (e) se o processo não foi extinto na fase do julgamento conforme o estado do processo, realiza-se a audiência de instrução e julgamento quando, numa só solenidade, se concentram a coleta de provas orais (art. 361), o debate oral (art. 364), e a prolação da sentença de mérito (art. 366)". · Luis Guilherme Aidar Bondioli (Breves..., p. 812) afirma que: "Subsiste no Código de Processo Civil um procedimento pensado para as situações ordinárias, que independem de atos ou ritos diferenciados para o exame e a satisfação do direito material trazido para o Poder Judiciário. Esse procedimento é caracterizado pela amplitude das garantias outorgadas às partes, das discussões permitidas no seu contexto, das provas que nele se podem produzir e dos meios disponibilizados para a impugnação das decisões proferidas no seu desenrolar. Trata-se aqui do chamado procedimento comum (art. 318 do CPC/2015; art. 271 do CPC/1973). Novidade significativa é a abolição da divisão do procedimento comum em sumário e ordinário (art. 272 do CPC/1973). Agora, há apenas um procedimento comum para a generalidade dos casos (art. 318, caput, do CPC/2015). Remanescem no Código de Processo Civil procedimentos especiais programados para melhor atender a peculiaridades do direito material objeto do processo, com a programação de atos ou ritos próprios e aderentes a essas peculiaridades (Título III do Livro I da Parte Especial do CPC/2015; Livro IV do CPC/1973). Também remanesce no Código de Processo Civil processo de execução, voltado à imediata deflagração de atos materiais de satisfação em favor de pessoa amparada por título executivo (Livro II da Parte Especial do CPC/2015; Livro II do CPC/1973). O procedimento comum permanece como fonte subsidiária de regulação para os procedimentos especiais e para o processo de execução (art. 318, parágrafo único, do CPC/2015; arts. 272, parágrafo único, e 598 do CPC/1973), sempre que não atritar com as regras próprias destes". · Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo curso..., vol. 2, p. 141) explicam que: "Em sua estruturação geral, o procedimento comum começa mediante o exercício da ação (art. 319). Estando em termos a petição inicial, o réu é citado para comparecer em audiência de conciliação ou de mediação (art. 334) ou para oferecer defesa (art. 335). Em sendo o caso, pode o juiz, antes ou depois da citação do réu, prestar tutela provisória à parte interessada (art. 294 e ss.). Logo em seguida, não sendo o caso de extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 354) ou de julgar imediatamente o pedido ou parcela do pedido ou dos pedidos (art. 355), tem o juiz de organizar o processo (art. 357 e ss.) a fim de viabilizar condições adequadas para a produção da prova (art. 369 e ss.) e para a decisão da causa (arts. 485 e ss.). Em sendo o caso, tem de determinar o cumprimento da sentença, determinando a prática de atos executivos (art. 513 e ss.). As decisões prolatadas no procedimento comum no primeiro grau de jurisdição podem ser controladas mediante recursos para o segundo grau de jurisdição (arts. 994 e ss.). As decisões tomadas pelo segundo grau de jurisdição podem ser objeto ainda de novos recursos para o Supremo Tribunal Federal e para o Superior Tribunal de Justiça (arts. 102, III, e 105, III, da CF). Nada obstante essa sequência legalmente estruturada, haja vista a adoção do princípio da adequação, o procedimento pode ser em grande medida adaptado pelo juiz (art. 139, VI) e pelas partes (art.190) para atender às necessidades evidenciadas pelo caso concreto. Por exemplo, o procedimento pode avançar com as comunicações dos atos processuais sendo realizadas oportunamente a cada ato ou com a dispensa de comunicações por prévio acordo (mediante a fixação de um calendário processual). A organização do processo pode ocorrer por escrito ou oralmente em audiência (art. 357). O ônus da prova, normalmente distribuído de maneira fixa pelo legislador, pode ser modificado pelo juiz (art. 373). A prova, que normalmente é colhida depois de organizado o processo, pode ser colhida de forma antecipada (art. 381 e ss.). Dependendo do caso, pode ou não ser necessária a realização da audiência de instrução e julgamento (art. 358 e ss.), pode ser necessária uma fase de liquidação da obrigação pecuniária em que condenado o réu (art. 509 e ss.) ou pode ser necessária uma fase de cumprimento da sentença (art. 513 e ss.). No procedimento comum, o juiz pode praticar atos de © desta edição [2016] conhecimento e atos de execução - daí a razão pela qual, aliás, é um equívoco teórico discipliná-lo dentro do processo de conhecimento. O juiz conhece das alegações das partes e das provas produzidas para, logo em seguida, dar razão a uma das delas, julgando procedente ou improcedente o pedido - não sendo o caso, é claro, de extinção do processo sem resolução de mérito. Se necessário, ainda, depois de prolatada sentença de procedência, pratica atos executivos a fim de promover o seu cumprimento". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 883) ilustram que: "O procedimento sumaríssimo foi excluído ainda durante a vigência do sistema do CPC/1973. A CF 98 I estabelece o procedimento sumaríssimo para as ações que se processem perante os juizados especiais. O procedimento comum, então, passou a se dividir em ordinário e sumário. No CPC, o procedimento sumário foi excluído. Seria interessante avaliar se a mudança se sustenta, em termos de celeridade das causas mais simples que não se enquadram no procedimento dos juizados especiais". Bibliografia Fundamental Alexandre Freitas Câmara, O novo processo civil brasileiro, São Paulo, Atlas, 2015; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processualcivil, 56. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2015. vol. 1; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimentocomum, São Paulo, RT, 2015. vol. 2; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao Código de Processo Civil, São Paulo, RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas (coord.), Brevescomentários ao Novo Código de Processo Civil, São Paulo, RT, 2015. Complementar Candido Alfredo Silva Leal Junior, Ação ordinária (procedimento comum ordinário), RDA 48/367; Jônatas Luiz Moreira de Paula, A unidade procedimental no processo de conhecimento, RePro 189/335; José Taumaturgo da Rocha, Procedimento ordinário: alguns aspectos da demanda, da resposta, do saneamento, RePro 22/169.
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