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2017 - 07 - 18 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016 SEGUNDA PARTE - PROCEDIMENTO COMUM DO PROCESSO DE CONHECIMENTO: FASE POSTULATÓRIA CAPÍTULO 8. CONTESTAÇÃO Capítulo 8. CONTESTAÇÃO 8.1. Noção e princípios norteadores A contestação é o meio por excelência de exercício do direito de defesa (que foi estudado no cap. 12 do vol. 1). Essa peça processual veicula tanto as defesas processuais (art. 337 do CPC/2015) - excetuada a arguição de impedimento e suspeição, que deve ser formulada em incidente próprio (art. 146 do CPC/2015) - quanto as defesas de mérito (art. 336). Representa, para o réu, aquilo que a petição inicial representa para o autor, pois, na contestação, compete ao réu alegar "toda a matéria de defesa" (art. 336 do CPC/2015). 8.1.1. Concentração da defesa Por conta desse princípio da concentração da defesa na contestação, essa tem caráter relativamente preclusivo. Uma vez ofertada a contestação, em princípio se tem por consumado o direito de defesa, não podendo o réu deduzir novas alegações. As exceções a tal regra preclusiva concernem às defesas fundadas em fato ou direito superveniente e àquelas concernentes a questões de ordem pública, que o juiz poderia conhecer de oficio e a qualquer tempo (art. 342 do CPC/2015). Tais defesas que podem ser conhecidas mesmo de ofício são chamadas de objeções (v. vol. 1, n. 12.5.4). Elas podem ser materiais (como o pagamento, a prescrição, a decadência legal etc.) ou processuais (aquelas previstas no § 5.º do art. 337 do CPC/2015). 8.1.2. Eventualidade A concentração da defesa implica ainda outra decorrência: a eventualidade. Como, em princípio, a apresentação da contestação gera preclusão consumativa e a não apresentação gera preclusão temporal, o réu tem de deduzir todas as defesas de que disponha, ainda que em caráter sucessivo e mesmo que rigorosamente essas sejam incompatíveis entre si. Se a primeira dessas defesas não é acolhida, o juiz passa à análise da subsequente - e assim sucessivamente. A isto a doutrina denominou princípio da eventualidade. Por exemplo, em uma ação de cobrança, nada impede que o réu alegue que a dívida está paga e, na eventualidade de rejeição dessa alegação, afirme que houve novação. A doutrina alemã apresenta um exemplo caricato, didaticamente muito apropriado para a compreensão da eventualidade: "Primeiro, você não me entregou dinheiro nenhum; segundo, já o devolvi, faz um ano; terceiro, v. me disse que era um presente; quarto, a dívida já prescreveu". Obviamente, ninguém chegará a esse ponto, no exercício da eventualidade, pois uma argumentação nesses termos, ainda que admissível, seria muito pouco convincente. Mas o exemplo serve para evidenciar que incumbe ao réu dizer na contestação tudo o que pretenda dizer. Em regra, não lhe será dado apresentar apenas depois a defesa sucessiva - ressalva feita, novamente, às defesas que poderiam ser conhecidas mesmo de ofício (mas a apresentação tardia dessas defesas pode caracterizar, a depender das circunstâncias concretas, litigância de má-fé). 8.1.3. Forma da contestação A regra é que a contestação seja produzida em petição escrita - ressalvada a hipótese de contestação oral nos Juizados Especiais Cíveis, prevista no art. 30 da Lei 9.099/1995. 8.2. Conteúdo da contestação Na contestação, o réu alega tanto defesa processual (dilatória ou peremptória) como defesa de mérito (direta ou indireta).1 Reitere-se que, em função do princípio da concentração, ainda que existam fortes razões para supor que a defesa processual será acatada, não deve a contestação deixar de conter defesa de mérito, porque, se ela não for exercida, em princípio, ocorre preclusão. Todavia, aquela deve anteceder a esta. A petição da contestação deve seguir a mesma ordem estrutural da petição inicial, traçada no art. 319. É dirigida ao juiz da causa, ainda que venha o réu a alegar incompetência (absoluta ou relativa, como preliminar de contestação), porque o juiz é, em um primeiro momento, competente para julgar sobre a sua (in)competência (princípio da competência-competência). Seguem-se os nomes das partes, sendo desnecessária a qualificação, se entender o réu como correta a constante da petição inicial. Caso haja algum dado incorreto (a profissão ou o endereço de qualquer das partes, por exemplo), esse é o momento para corrigi-lo. O art. 77, V, do CPC/2015 impõe às partes e aos seus procuradores o dever de informar, na primeira oportunidade para falar nos autos (que pode ser a contestação ou a audiência de mediação ou conciliação, conforme o caso), o endereço residencial ou profissional onde serão recebidas as intimações, atualizando esta informação sempre que ocorrer modificação temporária ou definitiva. O parágrafo único do art. 274 do CPC/2015 confere ainda mais relevância ao ônus de a parte informar e manter atualizado, no processo, o próprio endereço. Conforme o dispositivo, "presumem- se válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que não recebidas pessoalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou definitiva não tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir da juntada aos autos do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço". 8.2.1. Defesas preliminares Em seguida, se houver, devem constar as defesas preliminares. Denominam-se preliminares as matérias previstas no art. 337 do CPC/2015, porque logicamente sua análise precede à análise do mérito. São as defesas processuais. Assim, antes de contestar o mérito, cabe ao réu alegar: a) inexistência ou nulidade de citação. Não existindo ou sendo nula a citação, a relação processual não se terá formado integralmente (v. vol. 1, n. 15.2.3), e a eventual sentença proferida em processo sem citação válida, a que o réu não tenha comparecido (i.e, tenha ficado "revel"), não produzirá efeito. Se o réu comparece e alega falta ou nulidade de citação em preliminar de contestação e consequentemente já produz a defesa, comparecendo dentro do prazo, o vício está sanado, com o comparecimento espontâneo (art. 239, § 1.º, do CPC/2015). Se, todavia, o réu alegar a falta ou nulidade de citação, em preliminar de contestação, comparecendo fora do prazo, sendo reconhecida a nulidade, a revelia estará afastada (art. 239, § 2.º, do CPC/2015); b) incompetência absoluta e relativa. A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição (art. 64, § 1.º, do CPC/2015). Todavia, porque é nulo todo e qualquer ato decisório proferido por juiz absolutamente incompetente, deve o réu, por economia processual e respeitando o dever de lealdade processual, arguir a incompetência absoluta, se existente, já na contestação. A incompetência relativa, por outro lado, deve necessariamente ser alegada pelo réu como questão preliminar de contestação, sob pena de prorrogar-se a competência (art. 65 do CPC/2015 - v. vol. 1, n. 6.8). Quando o réu alegar incompetência, poderá protocolar a contestação no foro de seu domicílio, devendo o juiz da causa ser imediatamente comunicado desse fato (art. 340 do CPC/2015). Obviamente, essa regra apenas é aplicável quando o réu pretende sustentar a competência do foro do seu domicílio. Trata-se de um modo de impedir que o ajuizamento da ação em foro incompetente prejudique o direito defesa do réu (imagine-se que o réu é domiciliado no interior do Rio Grande do Sul e o autor, indevidamente, ajuíza a ação no interior do Pará, seria muito difícil e oneroso para o réu defender-se numa comarca distante e de difícil acesso). Nesse caso, o réu pode apresentar a contestação nos autos da carta precatória, caso se tenha utilizado tal via para a sua citação (art. 340, § 1.º, segunda parte, do CPC/2015) - o que significa que a carta precatória não deve ser devolvida ao juízo deprecante senão depois de decorrido o prazo de contestação. Se a citação não houver sido feita por precatória, a contestaçãodeverá ser apresentada ao juízo que, no foro do seu domicílio, deteria a competência para a causa - distribuindo-se a peça de defesa mediante sorteio (i.e., "livre distribuição"), se forem vários os juízos em tese competentes (art. 340, § 1.º, primeira parte, do CPC/2015). Seja como for, a contestação será apresentada sempre no mesmo "ramo" da justiça (Justiça Estadual ou Federal) em que tramita o processo. O protocolo da contestação no foro do domicílio do réu, em certa medida, tem eficácia suspensiva no processo: não se realizará a audiência de conciliação e mediação até que se decida a questão sobre a competência (art. 340, §§ 3.º e 4.º, do CPC/2015). Se for acolhida arguição de incompetência relativa, será prevento o juízo para o qual foi distribuída a contestação (art. 340, § 2.º, do CPC/2015). Já se se tratar de reconhecimento de incompetência absoluta (quando, além do foro incorreto, a ação foi também ajuizada na Justiça Estadual, quando o certo era a Federal, ou vice-versa), o processo será remetido ao juízo dotado de competência absoluta; c) incorreção do valor da causa. A teor do que dispõe o art. 293 do CPC/2015, em preliminar de contestação, pode o réu impugnar o valor atribuído à causa pelo autor. Se não o fizer neste exato momento processual, ocorre a preclusão. É que esse valor tem reflexo importante para o réu. Primeiro, porque o autor em princípio adianta as custas do processo (art. 82 do CPC/2015) - e essas normalmente são calculadas de acordo com o valor da causa. Então, se o autor atribui à causa um valor menor do que o verdadeiro, ele paga custas menores. Uma vez corrigido o valor da causa, ele deverá pagar a diferença (art. 292, § 3.º, do CPC/2015). Por outro lado, o art. 85 estabelece que a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor - e esses, em regra, têm por base de cálculo o valor da causa (art. 85, § 2.º, do CPC/2015). Por isso, a impugnação ao valor da causa integra a defesa do réu, no sentido amplo, afinal, na hipótese de ele vir a ser derrotado na demanda, tem o direito de se defender quanto às verbas de sucumbência, no caso de o valor da causa ter sido superdimensionado; se o réu for vencedor, interessa-lhe que o valor da causa não esteja subdimensionado. O juiz decidirá a respeito da impugnação ao valor da causa e, se for o caso, determinará a alteração do valor atribuído pelo autor (art. 293 do CPC/2015). Caso contrário, mantê-lo- á; d) inépcia da petição inicial. A petição inicial é inepta quando lhe faltar pedido ou causa de pedir, o pedido for indeterminado (excetuadas as hipóteses legais de pedido genérico), da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão ou contiver pedidos incompatíveis entre si (art. 330, § 1.º - v. cap. 6, acima). Se o juiz não indeferir liminarmente a petição inicial inepta (art. 330, I, do CPC/2015), poderá o réu arguir, na contestação, a inépcia, objetivando a extinção do processo sem resolução do mérito; e) perempção. É a proibição de o autor intentar novamente a ação, contra o mesmo réu e com o mesmo objeto, se deu causa, por três vezes, à extinção do processo, por não promover os atos e diligências que lhe competiam (art. 486, § 3.º, e art. 485, III e V, do CPC/2015 - v. vol. 1, n. 15.8.2). Todavia, como a perempção apenas atinge o direito de ação, mas não o direito material, fica ressalvada ao autor a possibilidade de alegar seu direito como matéria de defesa, caso venha a ser acionado; f) litispendência e coisa julgada. Os dois fenômenos foram examinados no vol. 1, no n. 15.4. A coisa julgada volta a ser examinada, de modo mais detalhado, adiante, no cap. 40. Embora tais matérias, como pressupostos processuais, possam ser conhecidas de ofício, elas também constituem defesas a serem alegadas pelo réu antes do mérito; g) conexão. Trata-se de defesa processual dilatória, porque a conexão, se verificada, não extingue o processo, mas apenas ocasiona a modificação da competência relativa ou define o juízo prevento, quando na comarca ou seção judiciária havia uma pluralidade de varas com igual competência para a ação (v. vol. 1, cap. 6). Constatada a conexão, reúnem- se dois ou mais processos para que sejam julgados simultaneamente (art. 55, § 1.º, do CPC/2015). Nesse caso, a fixação da competência dá-se por prevenção. Embora não haja expressa menção no art. 337, VIII, do CPC/2015, também a continência poderá ser alegada, pois, se verificada, a consequência é idêntica à da conexão, ou seja, reunião de processos (art. 57 do CPC/2015); h) incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de autorização. São pressupostos de admissibilidade da tutela jurisdicional, cuja falta pode implicar decisão negativa de resolução do mérito. Alegado o vício, o juiz suspenderá o processo, marcando prazo razoável para que o defeito seja sanado (art. 76, caput, do CPC/2015 - v. vol. 1, cap. 16). Caso o autor não cumpra a determinação no prazo assinalado, a fase cognitiva será extinta, sem resolução do mérito (art. 76, § 1.º, I, do CPC/2015); i) convenção de arbitragem. Como visto (vol. 1, nn. 4.5.4 e 15.8.1), é possível que as partes pactuem que litígios atuais ou futuros entre elas não serão resolvidos pelo Judiciário, mas por uma ou várias pessoas, particulares (i.e., que não são agentes estatais), por elas escolhidas. Nessa hipótese, em princípio, cabe às partes observar o que pactuaram e, portanto, não é admissível processo judicial que tenha por objeto litígio submetido à arbitragem. Se as partes convencionaram a arbitragem e, mesmo assim, o autor propôs a ação, cabe ao réu alegar a existência do pacto, em preliminar de contestação. Como também já se viu, a existência da convenção de arbitragem, seja cláusula compromissória, seja compromisso arbitral, é matéria que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz, cabendo ao réu alegá-la (art. 337, X e § 5.º, do CPC/2015 - v. vol. 1, n. 15.8.1). A falta de alegação neste exato momento processual acarreta a aceitação da jurisdição estatal e a resilição (distrato) da convenção arbitral especificamente no que tange à lide posta naquele processo judicial (art. 337, § 6.º, do CPC/2015 - que alude, de modo pouco técnico, à "renúncia ao juízo arbitral").2 Por outro lado, uma vez arguida oportunamente a existência da convenção arbitral, cumpre ao juiz apenas averiguar a existência material dessa pactuação e, sendo positiva tal aferição, extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 485, VII, do CPC/2015). Nesse momento, o juiz não pode aprofundar-se no exame da existência jurídica, validade e eficácia da convenção arbitral. Cabe ao tribunal arbitral primeiramente essa tarefa (art. 8.º, parágrafo único, da Lei 9.307/1996 - princípio da competência-competência). Depois de prolatada a sentença arbitral, o Poder Judiciário, uma vez acionado pela parte interessada, poderá rever o entendimento adotado pelo juízo arbitral (arts. 32 e 33 da Lei 9.307/1996 - v. também n. 21.4.6, adiante); j) ausência de legitimidade ou de interesse processual. Faltando qualquer dessas condições da ação (v. vol. 1, cap. 10), não será possível resolução do mérito (art. 485, VI, do CPC/2015). Se o réu alegar ausência de legitimidade passiva, incumbe-lhe indicar quem ele reputa ser o correto legitimado passivo, sempre que tiver conhecimento - sob pena de arcar com as despesas processuais e indenizar o autor pelos danos decorrentes da sua inércia (art. 339 do CPC/2015). Haja ou não tal indicação pelo réu, o juiz deve conceder ao autor a oportunidade de correção do polo passivo, no prazo de quinze dias (art. 338 do CPC/2015). Caberá ao autor decidir se prefere insistir na demanda contra o réu originário, assumindo o risco de que o juiz venha a acolher a alegação de ilegitimidade passiva, ou se procederá à mudança do réu. Nessa segunda hipótese, caberá ao autor reembolsar as despesas e pagar os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixadosem parâmetros mais módicos do que os que seriam impostos se, ao final do processo, o autor fosse derrotado quanto à questão da legitimidade passiva (art. 338, parágrafo único, do CPC/2015); k) falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar. Há casos em que a lei exige, para a propositura da ação, que o autor preste caução, como ocorre, por exemplo, quando o autor residir fora do Brasil, ou dele se ausentar na pendência da demanda, e não tiver, no País, bens imóveis suficientes para garantir o pagamento das custas e honorários advocatícios da parte contrária (art. 83 do CPC/2015); l) indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. Se o benefício da justiça gratuita é concedido ao autor antes da citação do réu, a arguição do seu não cabimento deve ser formulada em preliminar de contestação. Se, todavia, a concessão do benefício for superveniente, a sua impugnação pelo adversário deverá ser apresentada no prazo de quinze dias, por meio de simples petição (art. 100 do CPC/2015). Ao impugnar a concessão do benefício, a parte deve demonstrar a falta dos pressupostos legais para sua concessão. 8.2.2. Regime jurídico aplicável às preliminares Com exceção da convenção de arbitragem e da incompetência relativa, toda a matéria tratada no art. 337 do CPC/2015 deve ser conhecida de ofício pelo juiz (art. 337, § 5.º, do CPC/2015). O art. 486, §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015 prevê que, se a extinção sem resolução do mérito ocorrer em razão de litispendência, indeferimento da petição inicial, ausência de pressupostos de existência e de validade do processo, ausência de legitimidade ou interesse processual ou de existência de convenção de arbitragem, a repetição da ação estará condicionada à correção do vício e a nova petição inicial somente será processada pelo juiz após a comprovação do pagamento ou depósito do valor das custas e honorários de advogado do processo anterior. 8.2.3. Defesas de mérito Após as preliminares, incumbe ao réu formular, na contestação, a defesa de mérito, que tanto pode ser direta, se o réu nega os fatos alegados na inicial ou as consequências jurídicas pelo autor pretendidas, como indireta, hipótese em que o réu afirma a ocorrência de fatos capazes de impedir, modificar ou extinguir o direito do autor. Sobre o tema, veja-se o vol. 1, n. 12.5.3. Reitere-se que, pelo princípio da eventualidade, o réu tem o ônus de formular alegações de defesa sucessivas, mesmo que, em tese, incompatíveis entre si, para que o juiz analise a subsequente, na hipótese de rejeição da antecedente (v. n. 8.1.2, acima). 8.2.4. Especificação de provas e outras providências Finalmente, deve o réu especificar as provas que pretende produzir (art. 336, última parte, do CPC/2015), e juntar à contestação os documentos destinados a provar suas alegações (art. 434 do CPC/2015). A esse respeito, vejam-se também os nn. 13.12.2 e 15.9). Também deve acompanhar a contestação a procuração outorgada pelo réu ao advogado (art. 104 do CPC/2015). 8.3. Ônus da impugnação específica O art. 341, caput, do CPC/2015 expressa o ônus que tem o réu de impugnação específica dos fatos narrados na petição inicial. Nas alegações da contestação, cabe ao réu manifestar-se precisa e especificamente sobre cada um dos fatos alegados pelo autor, pois são admitidos como verdadeiros aqueles não impugnados. Disso resulta não ser admissível contestação por negativa geral, em que o réu apenas afirma que os fatos alegados pelo autor não são verdadeiros. O ônus da impugnação específica exige que o réu, além de manifestar-se precisamente sobre cada um dos fatos, expresse fundamentação em suas alegações, ou seja, cumpre ao réu dizer como os fatos ocorreram e porque nega os fatos apresentados pelo autor. Trata-se de um ônus simétrico àquele que se impõe ao autor, ao apresentar a causa de pedir na petição inicial. Não impugnados os fatos narrados na petição inicial, sobre eles não haverá necessidade de produção de provas, por se tornarem fatos incontroversos (art. 374, III, do CPC/2015). Os exatos limites de incidência dessa regra são examinados no n. 13.6.2, adiante. A regra da impugnação específica não se aplica: - em relação aos fatos inadmissíveis de serem confessados (arts. 341, I, e 392 do CPC/2015 - v. n. 14.2.3 e 14.2.4, adiante); - se a petição inicial estiver desacompanhada de instrumento público que a lei considere como da substância do ato (art. 341, II - v. n. 15.6, adiante); - quando os fatos não impugnados estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto (art. 341, III, do CPC/2015) - ou seja, em caso em que, embora não havendo a impugnação específica de determinados fatos, todo o contexto da contestação é incompatível com aqueles fatos (p. ex., ainda que sem impugnar os fatos descritos na inicial, o réu apresenta uma detalhada versão fática que exclui por completo aquela que o autor havia apresentado); - quando os fatos não impugnados forem manifestamente inverossímeis ou ainda quando houver indícios de conluio entre as partes para fins fraudulentos, hipóteses em que não ficará excluída a instrução probatória (v. n. 13.6.2, adiante); - em relação ao advogado dativo, ao curador especial e ao defensor público (art. 341, parágrafo único, do CPC/2015). Justifica-se a dispensa, nessas hipóteses, porque esses profissionais atuam defendendo o interesse de revéis (art. 72, II, do CPC/2015), de pessoas com limitação jurídica ou prática de capacidade (art. 72, I e II, do CPC/2015) ou economicamente hipossuficientes (art. 185 do CPC/2015). O advogado dativo é figura a que o Código alude uma única vez, precisamente na disposição ora comentada. Trata-se de profissional designado pelo juiz para representar uma parte que não tem recursos para contratar advogado, em localidades em que não há serviço de defensoria pública organizada. Portanto, sua função equivale à do defensor público. 8.4. Prazo para o oferecimento Em regra, o prazo para o oferecimento de contestação é de quinze dias úteis (art. 335, caput, do CPC/2015). Mas o prazo é contado em dobro quando: não sendo eletrônicos os autos, os vários réus tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos (art. 229 do CPC/2015); quando se tratar defensor público (art. 186 do CPC/2015); ou quando for parte a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público (art. 183 do CPC/2015) ou o Ministério Público (art. 180 do CPC/2015). O termo inicial do prazo varia conforme a causa comporte ou não audiência de conciliação ou mediação. Nas causas que admitem autocomposição e, portanto, comportam audiência de conciliação ou mediação, serão observadas as seguintes regras quanto ao termo inicial do prazo para contestar: a) o prazo começa a fluir da data da audiência de conciliação ou de mediação (quando não houver autocomposição) ou quando alguma das partes não comparecer à audiência (art. 335, I, do CPC/2015); b) se ambas as partes manifestarem desinteresse na composição consensual, o prazo correrá do protocolo do pedido formulado pelo réu de cancelamento da audiência de mediação ou conciliação (art. 335, II, do CPC/2015). Se houver litisconsórcio passivo, o prazo para cada um dos réus correrá do seu respectivo pedido de cancelamento da audiência (art. 335, § 1.º, do CPC/2015). Lembre-se que, nesse caso, o desinteresse na solução consensual precisará ser manifestado por todos os litisconsortes passivos, além do autor (art. 334, § 6.º, do CPC/2015). Caso contrário, haverá audiência, aplicando-se o exposto na letra "a", acima. Se a petição de manifestação de desinteresse for protocolada durante o recesso forense, o prazo apenas se iniciará depois de seu término (art. 219 do CPC/2015). Quando se tratar de direito que não admita autocomposição, o início do prazo para contestação observará as regras do art. 231 do CPC/2015, quesão as seguintes: a) quando a citação for pelo correio ou por oficial de justiça, o prazo conta-se a partir da juntada aos autos do aviso de recebimento ou do mandado de citação cumprido (art. 231, I e II, do CPC/2015); b) nos casos em que for possível a citação por meio eletrônico (art. 231, V, do CPC/2015 e arts. 6.º c/c 5.º e 9.º da Lei 11.419/2006 - v. v. 1, n. 26.4, e n. 29.1.8), o prazo correrá (i) da data do efetivo acesso ao teor da citação acompanhada da íntegra eletrônica dos autos ou (ii) do primeiro dia útil seguinte a tal acesso, se ele ocorrer em dia não útil, ou, ainda, (iii) não havendo acesso à citação em dez dias contados do envio dela para o portal eletrônico, do decurso de tal prazo (reiterando-se que a citação eletrônica depende do prévio cadastramento do jurisdicionado junto ao Poder Judiciário); c) quando a citação for por edital, o prazo correrá do dia útil seguinte ao aperfeiçoamento da citação, que se dá com o encerramento do prazo do edital (art. 231, IV, do CPC/2015), ou seja, aquele fixado pelo juiz como de validade do edital (art. 257, III, do CPC/2015), que pode variar de vinte a sessenta dias. Este prazo (chamado de prazo de dilação) tem início a partir da publicação única do edital ou, havendo mais de uma, a partir da data da primeira; d) quando a citação ocorrer por carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória, o prazo é contado da juntada do comunicado ao juízo requerente do cumprimento do ato ou, não havendo esse comunicado, da juntada da carta aos autos, devidamente cumprida (art. 231, VI, do CPC/2015); e) quando a citação ocorrer por ato do escrivão ou do chefe de secretaria, o prazo começa a fluir da realização do ato em si (art. 231, III, do CPC/2015). Se qualquer desses eventos ocorrer durante o recesso forense, o prazo somente começa a fluir no primeiro dia útil seguinte ao feriado ou às férias (art. 219 do CPC/2015). Por outro lado, se houver litisconsórcio passivo, o prazo será contado do último evento havido, entre os ora arrolados (art. 231, § 1.º, do CPC/2015). Por exemplo, se os três réus são citados por via postal, o prazo começará, para todos, a partir da juntada aos autos do último aviso de recebimento; se há dois réus e um é citado por oficial de justiça e outro por edital, o prazo começará a correr a partir do que acontecer por último, a juntada aos autos do mandado cumprido ou o encerramento do prazo do edital - e assim por diante. Se houver litisconsorte(s) passivo(s) citado(s) e o autor desistir da ação contra aquele(s) ainda não citado(s), o prazo para contestar será contado a partir da data da intimação da decisão que homologar a desistência do autor (art. 335, § 2.º, do CPC/2015). Lembre-se ainda que a falta ou a nulidade da citação são supridas pelo comparecimento espontâneo do réu (v. vol. 1, n. 29.1.4). Em tal caso, corre a partir dessa data o prazo para a apresentação da contestação (art. 239, § 1.º, do CPC/2015) - a não ser que ainda haja litisconsorte(s) passivo(s) não citado(s), hipótese em que também se aplicará o art. 231, § 1.º, do CPC/2015 acima referido. Direito de defesa Princípios norteadores Concentração da defesa Eventualidade Forma Escrita - exceção (art. 30 da Lei 9.099/1995) Conteúdo Defesa processual Dilatória Peremptória Defesa material Direta Indireta Preliminares de mérito - art. 337 do CPC/2015 Inexistência ou nulidade de citação Incompetência absoluta e relativa Incorreção do valor da causa Inépcia da petição inicial Perempção Litispendência e coisa julgada Conexão Incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de autorização Convenção de arbitragem Ausência de legitimidade ou de interesse processual Falta de caução ou de outra prestação Indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça Regime jurídico aplicável às preliminares Defesas de mérito Diretas ou indiretas Princípio da eventualidade Especificação de provas e outras providências Ônus da impugnação específica Exceções - art. 341, incisos e parágrafo único, do CPC/2015 Prazo 15 dias Termo inicial Doutrina Complementar · Arruda Alvim (Manual..., 16. ed., p. 820) leciona que "o réu, contestando o mérito, ou seja, o pedido formulado pelo autor, não enriquece ou aumenta juridicamente a lide, ou, segundo terminologia também difundida entre nós, o objeto litigioso. Todavia, deve impugnar especificamente os fatos, sob pena de incidir o art. 302 do CPC/1973 [art. 341 do CPC/2015], ressalvando-se, contudo, as exceções expressamente previstas em seus incisos I, II e III, quais sejam: se não for admissível, a seu respeito, a confissão; se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato; e, finalmente, se os fatos estiverem em contradição com a defesa em seu conjunto". E, mais adiante: "A contestação, no mérito, contrapõe-se à essência da petição inicial, sob um ou dois aspectos: 1.º) juridicamente será sempre contrária à inicial, pois, se não o fosse, contestação deixaria de ser; 2.º) a sua conclusão jurídica contrária (pelo menos praticamente) à inicial poderá também ser antecedida de um relato de fatos diversos dos constantes da inicial (art. 302 [art. 341 do CPC/2015]), ou não, pois poderá haver concordância quanto aos fatos, total ou parcialmente, e haverá sempre de expressar discordância quanto às consequências jurídicas que se pretende sejam deles extraídas". No que se refere ao conceito de questão de fato ou de direito e à indicação dos meios de prova, explica: "na medida em que sejam contestados os fatos, há questões de fato a serem, a final, resolvidas pelo juiz, em função da prova a ser produzida (art. 131 [art. 371 do CPC/2015]), ou, se inocorrente, a produção da prova, ou, com resultado negativo em relação à posição que essa prova sustentaria, o juiz decidirá, tendo em vista a regra do ônus da prova (art. 333 [art. 373 do CPC/2015]). Na contestação deve haver indicação dos meios de prova. A falta de indicação dos meios de prova, ou seja, da especificação das provas, que o réu pretende produzir, em princípio, autoriza o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330 do CPC [arts. 355 e 356 do CPC/2015], pois é injustificável a realização da audiência, sem que haja provas a produzir, porque não tenha sido solicitada a respectiva produção. Ressalve-se a hipótese de o autor ter protestado por provas e terem estas cabimento, quando, então, não ocorrerá julgamento antecipado. Ainda, já se admitiu que o juiz, ao sanear o processo, pode facultar às partes a especificação de provas, numa tendência liberalizadora, que não temos por rigorosamente correta, a ser erigida em regra. No entanto, as questões poderão ser, tão somente, de direito, quando o réu aceitar a narração do autor e discutir, num plano exclusivamente jurídico, os fundamentos da inicial (causa petendi) - fatos e fundamento(s) jurídico(s) - e se insurgir contra a(s) respectiva(s) conclusão(ões), pretendida(s) pelo autor. Se as questões forem também de fato, mas dirimíveis por documentação, mesmo que suscitadas de lado a lado, ainda assim deverá haver julgamento antecipado da lide (art. 330, I [art. 355, I, do CPC/2015], aplicáveis, previamente, os arts. 326 e 327, à luz da regra do art. 328 [arts. 350 a 353 do CPC/2015], conforme o caso). Estas questões denominam-se questões de fundo, ou de mérito, e se distinguem das questões processuais, de trâmite ou de rito, que lógica e cronologicamente antecedem àquelas". · Fredie Didier Jr. (Curso..., 17. ed., v. 1, p. 641) entende que, de acordo com o art. 340 do CPC/2015, "não é apenas a alegação de incompetência que é formulada perante o juízo do domicílio do réu: toda a contestação tem de ser apresentada neste momento. Note, ainda, que essa regra precisa ser harmonizada com outra regra, a que impõe a realização da audiência preliminar demediação e conciliação. É que, tendo sido marcada a audiência preliminar, a contestação somente seria oferecida se não se chegasse à autocomposição - o prazo de resposta começaria a correr da audiência, conforme visto. Como réu pode oferecer contestação no foro de seu domicílio, onde não está tramitando o processo, caso alegue incompetência, será preciso cancelar a audiência preliminar, marcada para realizar-se no foro onde tramita o processo. Perceba, então, que esta contestação, em cujo bojo se alega a incompetência é apta para adiar a audiência preliminar. A contestação não equivale ao pedido de cancelamento de audiência, que o réu poderia ter formulado, pois é possível que ele tenha interesse na autocomposição, mas apenas não aceita que a audiência preliminar se realize no foro que ele, réu, alega ser competente. Não é fácil, como se vê, compatibilizar as duas regras: permitir que o réu alegue incompetência em seu domicílio e impor uma audiência preliminar antes do oferecimento da contestação, em cujo bojo a alegação de incompetência deve ser formulada". · Heitor Vitor Mendonça Sica (Breves..., p. 914) explica que "nos casos em que o réu for citado para comparecer à audiência de conciliação ou mediação, o uso da faculdade prevista no art. 340 do CPC/2015pressupõe que a contestação (munida de alegação de incompetência relativa) seja apresentada perante o foro reputado pelo réu como competente, antes do termo inicial do prazo fixado na forma do art. 335, I ou II, do CPC/2015 acima comentado. No foro indicado pelo réu, a peça será distribuída livremente (nos casos de citação por via postal, eletrônica ou editalícia) ou por dependência ao juízo que cumpriu a carta precatória expedida para citação, ensejando o cancelamento da audiência de conciliação ou mediação que haja sido designada. Na sequência, a peça será remetida ao juízo por onde tramita o processo para análise da alegação. Se o réu alegou incompetência relativa e essa matéria foi acolhida, o processo será remetido, por prevenção, ao juízo que recebeu e encaminhou a contestação (art. 340, § 2.º, do CPC/2015), a quem caberá redesignar a audiência de conciliação ou mediação. Contudo, se o réu alegou incompetência absoluta, e a matéria for acolhida, o processo não será remetido ao juízo que recebeu a contestação, mas sim será enviado ao órgão judiciário reputado competente. Se a alegação (seja de competência absoluta, seja de competência relativa) for rejeitada, o próprio juízo original da causa se incumbirá de redesignar a audiência de conciliação ou mediação que havia sido anteriormente cancelada. O réu que optou pelo benefício do art. 340 do CPC/2015 não poderá, depois de contestar, manifestar desinteresse pela audiência de conciliação ou mediação e tampouco completar as razões de contestação. Por fim, caso a audiência não seja cabível em face da indisponibilidade dos direitos em disputa (art. 334, § 4.º, II, do CPC/2015), o réu terá que contar o prazo para contestar na forma do art. 335, III, c.c. art. 231, do CPC/2015, mesmo que tenha se valido do disposto no art. 340". · Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 788) afirma que "O direito de ação, como direito subjetivo público, autônomo e abstrato, que visa à tutela jurisdicional do Estado, não cabe apenas ao autor. Assim como este o exercita, por meio da petição inicial, o réu, da mesma forma, também o faz mediante contestação; pois, tanto no ataque do primeiro como na defesa do segundo, o que se busca é uma só coisa: a providência oficial que há de pôr fim à lide, mediante aplicação da vontade concreta da lei à situação controvertida". Sobre o ônus da impugnação, assevera que, "além do ônus de defender-se, o réu tem, no sistema de nosso Código, o ônus de impugnar especificadamente todos os fatos arrolados pelo autor. Pois dispõe o art. 341 do CPC/2015 que 'incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fatos constantes da petição inicial', sob pena de presumirem-se verdadeiras 'as não impugnadas'. É, de tal sorte, ineficaz a contestação por negação geral, bem como 'a que se limita a dizer não serem verdadeiros os fatos aduzidos pelo autor'. Diante do critério adotado pela legislação processual civil, os fatos não impugnados precisamente são havidos como verídicos, o que dispensa a prova a seu respeito. Quando forem decisivos para a solução do litígio, o juiz deverá, em face da não impugnação especificada, julgar antecipadamente o mérito, segundo a regra do art. 355, I, do CPC/2015". · José Carlos Barbosa Moreira (O novo processo..., 29. ed., p. 38) conceitua: "Contestação é a modalidade de resposta em que o réu impugna o pedido do autor (art. 300 do CPC/1973 [art. 336 do CPC/2015]), isto é, se defende no plano do mérito. Essa defesa pode ser: a) direta, quando o réu nega o fato constitutivo do suposto direito alegado pelo autor (v.g., sustenta que não concluiu o contrato de que se originaria a dívida cobrada), ou admite o fato, mas nega que ele produza o efeito jurídico pretendido (v.g., sustenta que a cláusula contratual invocada pelo autor não tem na verdade o sentido e as consequências que este lhe atribui); b) indireta, quando o réu, sem negar qualquer das afirmações contidas na inicial, argui, por sua vez, outro fato, supostamente impeditivo (v.g., alega que era absolutamente incapaz ao contratar), modificativo (v.g., alega que, mediante acordo posterior, se parcelou a dívida, por isso ainda inexigível in totum), ou extintivo (v.g., alega que já pagou a dívida, ou que o autor a remitiu) do direito deduzido, ou ao menos suscetível de tolher eficácia, em caráter temporário ou definitivo, à pretensão do autor (v.g., alega que este não pode exigir o cumprimento da obrigação porque ainda não cumpriu a que lhe toca, ou que ocorreu decadência convencional: art. 211 do Código Civil). A este último tipo de defesa indireta correspondem as chamadas exceções materiais ou substanciais (nos exemplos figurados, respectivamente, exceção de contrato não cumprido e exceção de decadência), as quais não devem ser confundidas com as exceções processuais, as únicas a que o Código reserva tal denominação (art. 304 do CPC/1973 [sem correspondência no CPC/2015])". Sobre a forma da contestação (p. 40), entende que, "se bem que omisso o Código, hão de observar-se, na contestação, os requisitos do art. 282, I e II, do CPC/1973 [art. 319, I e II, do CPC/2015], dispensando-se, porém, a qualificação das partes, se corretamente feita na inicial. Especificar-se-ão também as provas que o réu pretenda produzir (art. 300, fine, do CPC/1973 [art. 336 do CPC/2015]); em se tratando de documentos, devem eles instruir, em princípio, a própria contestação (art. 396 do CPC/1973 [art. 434 do CPC/2015]). Acompanhará igualmente a contestação, se antes desta não houver sido juntada aos autos a procuração outorgada ao advogado do réu, salvo nos casos excepcionais em que a lei não a exige. O advogado, ou a parte quando postular em causa própria, deve indicar na contestação o endereço em que receberá intimação (art. 39, I, do CPC/1973 [art. 106 do CPC/2015])". · Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo Curso..., v. 2, p. 180) argumentam que "a regra da eventualidade revela ainda outra tema de relevo, que diz respeito à coerência da defesa. Desse modo, não obstante seja exigível a apresentação de toda a matéria de defesa na contestação, há de guardar ela, em seu conjunto, certa homogeneidade e compatibilidade. Assim, certamente, não terá condição o réu de sustentar, em sua defesa, a inexistência da dívida e seu pagamento, já que uma certamente exclui, por questão de lógica, a viabilidade da outra. É a lógica - e os deveres de boa-fé e de veracidade que todos os participantes do processo têm no processo civil (art. 5.º do CPC/2015) - que determinará quais as defesas que, dentro de um padrão racional,podem ser utilizadas e quais devem ser descartadas, não compondo o contexto da defesa do réu. O processo civil não é, ao contrário do que já se supôs - um espaço 'livre de moralidade' ('moralinfrei'). A apresentação de defesa incoerente constitui abuso do direito processual de defesa". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 925), ao explanarem sobre o princípio da eventualidade, sustentam que, "por este princípio, o réu deve alegar, na contestação, todas as defesas que tiver contra o pedido do autor, ainda que sejam incompatíveis entre si, pois, na eventualidade de o juiz não acolher uma delas, passa a examinar a outra. Caso o réu não alegue, na contestação, tudo o que poderia, terá havido preclusão consumativa, estando impedido de deduzir qualquer outra matéria de defesa depois da contestação, salvo o disposto no art. 342 do CPC/2015". No que respeita às preliminares, explicam que "as matérias enumeradas no art. 337 do CPC/2015 são denominadas preliminares de contestação, isto é, que devem ser arguidas e examinadas antes do mérito, que é a questão final. As preliminares são defesas indiretas de mérito e, salvo a incompetência relativa (art. 337, II, do CPC/2015) e a alegação de existência de convenção de arbitragem (art. 337, X, do CPC/2015), são matérias de ordem pública, insuscetíveis de preclusão, que devem ser examinadas de ofício pelo juiz a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (arts. 337, § 5.º e 485, § 3.º, do CPC/2015)". Sobre o conteúdo da contestação, asseveram dividir-se "em duas partes: preliminares e mérito. As preliminares são de natureza processual e devem, lógica e cronologicamente, ser examinadas antes do mérito. O exame do mérito pode dividir-se em preliminares de mérito e mérito em sentido estrito. A prescrição e a decadência (art. 487, II, do CPC/2015), bem como as exceções substanciais (de direito material), são preliminares de mérito. A impugnação do pedido é o mérito em sentido estrito". · Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 598) sustentam que, "salvo a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, todas as defesas processuais elencadas no art. 337 do CPC/2015 podem ser conhecidas ex officio pelo juiz (art. 337, § 5.º, do CPC/2015). Mas também há defesas de mérito que ao juiz compete conhecer de ofício (identificadas como objeções substanciais). É o que se dá com a decadência (art. 210 do CC) e a prescrição (art. 193 do CC). E, justamente porque o juiz pode conhecer dessas defesas a qualquer tempo e independentemente de provocação, sejam as processuais (art. 337 do CPC/2015), sejam as de mérito (prescrição e decadência), é que nada impede que o réu possa argui-las após a contestação, inclusive em 2.º grau de jurisdição, em embargos de declaração". Enunciados do FPPC N. 34.(Art. 311, I, CPC/2015) Considera-se abusiva a defesa da Administração Pública, sempre que contrariar entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa, salvo se demonstrar a existência de distinção ou da necessidade de superação do entendimento. N. 42.(Art. 339, CPC/2015) O dispositivo se aplica mesmo a procedimentos especiais que não admitem intervenção de terceiros, bem como aos juizados especiais cíveis, pois se trata de mecanismo saneador, que excepciona a estabilização do processo. N. 44. (Art. 339 do CPC/2015) A responsabilidade a que se refere o art. 339 do CPC/2015 é subjetiva. N. 116.(Arts. 113, § 1.º, e 139, VI, CPC/2015) Quando a formação do litisconsórcio multitudinário for prejudicial à defesa, o juiz poderá substituir a sua limitação pela ampliação de prazos, sem prejuízo da possibilidade de desmembramento na fase de cumprimento de sentença. N. 152.(Art. 339, §§ 1.º e 2.º, CPC/2015) Nas hipóteses dos §§ 1.º e 2.º do art. 339 do CPC/2015, a aceitação do autor deve ser feita no prazo de 15 dias destinado à sua manifestação sobre a contestação ou sobre essa alegação de ilegitimidade do réu. N. 238.(Art. 64, caput e § 4.º, CPC/2015) O aproveitamento dos efeitos de decisão proferida por juízo incompetente aplica-se tanto à competência absoluta quanto à relativa. N. 239.(Arts. 85, caput, 334 e 335, CPC/2015) Fica superado o enunciado n. 472 da súmula do STF ("A condenação do autor em honorários de advogado, com fundamento no art. 64 do Código de Processo Civil, depende de reconvenção"), pela extinção da nomeação à autoria. N. 248.(Arts. 134, § 2.º, e 336, CPC/2015) Quando a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, incumbe ao sócio ou a pessoa jurídica, na contestação, impugnar não somente a própria desconsideração, mas também os demais pontos da causa. N. 272.(Art. 231, § 2.º, CPC/2015) Não se aplica o § 2.º do art. 231 do CPC/2015 ao prazo para contestar, em vista da previsão do § 1.º do mesmo artigo. N. 274.(Art. 272, § 6.º, CPC/2015) Aplica-se a regra do § 6.º do art. 272 do CPC/2015 ao prazo para contestar quando for dispensável a audiência de conciliação e houver poderes para receber citação. N. 282.(Arts. 319, III, e 343, CPC/2015) Para julgar com base em enquadramento normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta previsto no art. 10. N. 286.(Arts. 5.º, e 322, § 2.º, do CPC/2015) Aplica-se o § 2.º do art. 322 à interpretação de todos os atos postulatórios, inclusive da contestação e do recurso. N. 296.(Arts. 338 e 339, CPC/2015) Quando conhecer liminarmente e de ofício a ilegitimidade passiva, o juiz facultará ao autor a alteração da petição inicial, para substituição do réu, nos termos dos arts. 339 e 340 do CPC/2015, sem ônus sucumbenciais. Bibliografia Fundamental Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, 16. ed., São Paulo: Ed. 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Ilegitimidade passiva ad causam do Estado, devendo a demanda que impugna recomendações do Ministério Público para que municípios se abstenham da prática de nepotismo ser proposta em face do Ministério Público, RePro 149/328; Luis Guilherme Aidar Bondioli, Concentração das respostas do réu e ampliação dos limites objetivos da lide no Projeto de Lei 166/2010, do Senado Federal (Novo Código de Processo Civil), RePro 195/369; Luiz Guilherme Marinoni, Novas linhas do processo civil, 2. ed., São Paulo: Malheiros, 1996; Manoel Antonio Teixeira Filho, Petição inicial e resposta do réu, São Paulo: LTr, 1996; Marcelo Abelha Rodrigues, Elementos de direito processual civil, 2. ed., São Paulo: Ed. 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Flávio Luiz Yarshell e Camilo Zufelato (orgs.). São Paulo: Malheiros, 2013.
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