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Capítulo 8. CONTESTAÇÃO

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2017 - 07 - 18 
Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016
SEGUNDA PARTE - PROCEDIMENTO COMUM DO PROCESSO DE CONHECIMENTO:
FASE POSTULATÓRIA
CAPÍTULO 8. CONTESTAÇÃO
Capítulo 8. CONTESTAÇÃO
8.1. Noção e princípios norteadores
A contestação é o meio por excelência de exercício do direito de defesa (que foi
estudado no cap. 12 do vol. 1). Essa peça processual veicula tanto as defesas processuais
(art. 337 do CPC/2015) - excetuada a arguição de impedimento e suspeição, que deve ser
formulada em incidente próprio (art. 146 do CPC/2015) - quanto as defesas de mérito (art.
336). Representa, para o réu, aquilo que a petição inicial representa para o autor, pois, na
contestação, compete ao réu alegar "toda a matéria de defesa" (art. 336 do CPC/2015).
8.1.1. Concentração da defesa
Por conta desse princípio da concentração da defesa na contestação, essa tem caráter
relativamente preclusivo. Uma vez ofertada a contestação, em princípio se tem por
consumado o direito de defesa, não podendo o réu deduzir novas alegações.
As exceções a tal regra preclusiva concernem às defesas fundadas em fato ou direito
superveniente e àquelas concernentes a questões de ordem pública, que o juiz poderia
conhecer de oficio e a qualquer tempo (art. 342 do CPC/2015). Tais defesas que podem ser
conhecidas mesmo de ofício são chamadas de objeções (v. vol. 1, n. 12.5.4). Elas podem ser
materiais (como o pagamento, a prescrição, a decadência legal etc.) ou processuais
(aquelas previstas no § 5.º do art. 337 do CPC/2015).
8.1.2. Eventualidade
A concentração da defesa implica ainda outra decorrência: a eventualidade.
Como, em princípio, a apresentação da contestação gera preclusão consumativa e a não
apresentação gera preclusão temporal, o réu tem de deduzir todas as defesas de que
disponha, ainda que em caráter sucessivo e mesmo que rigorosamente essas sejam
incompatíveis entre si. Se a primeira dessas defesas não é acolhida, o juiz passa à análise
da subsequente - e assim sucessivamente. A isto a doutrina denominou princípio da
eventualidade.
Por exemplo, em uma ação de cobrança, nada impede que o réu alegue que a dívida
está paga e, na eventualidade de rejeição dessa alegação, afirme que houve novação. A
doutrina alemã apresenta um exemplo caricato, didaticamente muito apropriado para a
compreensão da eventualidade: "Primeiro, você não me entregou dinheiro nenhum;
segundo, já o devolvi, faz um ano; terceiro, v. me disse que era um presente; quarto, a
dívida já prescreveu". Obviamente, ninguém chegará a esse ponto, no exercício da
eventualidade, pois uma argumentação nesses termos, ainda que admissível, seria muito
pouco convincente. Mas o exemplo serve para evidenciar que incumbe ao réu dizer na
contestação tudo o que pretenda dizer. Em regra, não lhe será dado apresentar apenas
depois a defesa sucessiva - ressalva feita, novamente, às defesas que poderiam ser
conhecidas mesmo de ofício (mas a apresentação tardia dessas defesas pode caracterizar,
a depender das circunstâncias concretas, litigância de má-fé).
8.1.3. Forma da contestação
A regra é que a contestação seja produzida em petição escrita - ressalvada a hipótese de
contestação oral nos Juizados Especiais Cíveis, prevista no art. 30 da Lei 9.099/1995.
8.2. Conteúdo da contestação
Na contestação, o réu alega tanto defesa processual (dilatória ou peremptória) como
defesa de mérito (direta ou indireta).1 Reitere-se que, em função do princípio da
concentração, ainda que existam fortes razões para supor que a defesa processual será
acatada, não deve a contestação deixar de conter defesa de mérito, porque, se ela não for
exercida, em princípio, ocorre preclusão. Todavia, aquela deve anteceder a esta.
A petição da contestação deve seguir a mesma ordem estrutural da petição inicial,
traçada no art. 319. É dirigida ao juiz da causa, ainda que venha o réu a alegar
incompetência (absoluta ou relativa, como preliminar de contestação), porque o juiz é, em
um primeiro momento, competente para julgar sobre a sua (in)competência (princípio da
competência-competência). Seguem-se os nomes das partes, sendo desnecessária a
qualificação, se entender o réu como correta a constante da petição inicial. Caso haja
algum dado incorreto (a profissão ou o endereço de qualquer das partes, por exemplo),
esse é o momento para corrigi-lo. O art. 77, V, do CPC/2015 impõe às partes e aos seus
procuradores o dever de informar, na primeira oportunidade para falar nos autos (que
pode ser a contestação ou a audiência de mediação ou conciliação, conforme o caso), o
endereço residencial ou profissional onde serão recebidas as intimações, atualizando esta
informação sempre que ocorrer modificação temporária ou definitiva. O parágrafo único
do art. 274 do CPC/2015 confere ainda mais relevância ao ônus de a parte informar e
manter atualizado, no processo, o próprio endereço. Conforme o dispositivo, "presumem-
se válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que não
recebidas pessoalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou definitiva não
tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir da juntada aos
autos do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço".
8.2.1. Defesas preliminares
Em seguida, se houver, devem constar as defesas preliminares. Denominam-se
preliminares as matérias previstas no art. 337 do CPC/2015, porque logicamente sua
análise precede à análise do mérito. São as defesas processuais. Assim, antes de contestar
o mérito, cabe ao réu alegar:
a) inexistência ou nulidade de citação. Não existindo ou sendo nula a citação, a relação
processual não se terá formado integralmente (v. vol. 1, n. 15.2.3), e a eventual sentença
proferida em processo sem citação válida, a que o réu não tenha comparecido (i.e, tenha
ficado "revel"), não produzirá efeito.
Se o réu comparece e alega falta ou nulidade de citação em preliminar de contestação e
consequentemente já produz a defesa, comparecendo dentro do prazo, o vício está sanado,
com o comparecimento espontâneo (art. 239, § 1.º, do CPC/2015). Se, todavia, o réu alegar a
falta ou nulidade de citação, em preliminar de contestação, comparecendo fora do prazo,
sendo reconhecida a nulidade, a revelia estará afastada (art. 239, § 2.º, do CPC/2015);
b) incompetência absoluta e relativa. A incompetência absoluta pode ser alegada em
qualquer tempo e grau de jurisdição (art. 64, § 1.º, do CPC/2015). Todavia, porque é nulo
todo e qualquer ato decisório proferido por juiz absolutamente incompetente, deve o réu,
por economia processual e respeitando o dever de lealdade processual, arguir a
incompetência absoluta, se existente, já na contestação. A incompetência relativa, por
outro lado, deve necessariamente ser alegada pelo réu como questão preliminar de
contestação, sob pena de prorrogar-se a competência (art. 65 do CPC/2015 - v. vol. 1, n. 6.8).
Quando o réu alegar incompetência, poderá protocolar a contestação no foro de seu
domicílio, devendo o juiz da causa ser imediatamente comunicado desse fato (art. 340 do
CPC/2015). Obviamente, essa regra apenas é aplicável quando o réu pretende sustentar a
competência do foro do seu domicílio. Trata-se de um modo de impedir que o ajuizamento
da ação em foro incompetente prejudique o direito defesa do réu (imagine-se que o réu é
domiciliado no interior do Rio Grande do Sul e o autor, indevidamente, ajuíza a ação no
interior do Pará, seria muito difícil e oneroso para o réu defender-se numa comarca
distante e de difícil acesso). Nesse caso, o réu pode apresentar a contestação nos autos da
carta precatória, caso se tenha utilizado tal via para a sua citação (art. 340, § 1.º, segunda
parte, do CPC/2015) - o que significa que a carta precatória não deve ser devolvida ao juízo
deprecante senão depois de decorrido o prazo de contestação. Se a citação não houver
sido feita por precatória, a contestaçãodeverá ser apresentada ao juízo que, no foro do
seu domicílio, deteria a competência para a causa - distribuindo-se a peça de defesa
mediante sorteio (i.e., "livre distribuição"), se forem vários os juízos em tese competentes
(art. 340, § 1.º, primeira parte, do CPC/2015). Seja como for, a contestação será apresentada
sempre no mesmo "ramo" da justiça (Justiça Estadual ou Federal) em que tramita o
processo. O protocolo da contestação no foro do domicílio do réu, em certa medida, tem
eficácia suspensiva no processo: não se realizará a audiência de conciliação e mediação
até que se decida a questão sobre a competência (art. 340, §§ 3.º e 4.º, do CPC/2015). Se for
acolhida arguição de incompetência relativa, será prevento o juízo para o qual foi
distribuída a contestação (art. 340, § 2.º, do CPC/2015). Já se se tratar de reconhecimento de
incompetência absoluta (quando, além do foro incorreto, a ação foi também ajuizada na
Justiça Estadual, quando o certo era a Federal, ou vice-versa), o processo será remetido ao
juízo dotado de competência absoluta;
c) incorreção do valor da causa. A teor do que dispõe o art. 293 do CPC/2015, em
preliminar de contestação, pode o réu impugnar o valor atribuído à causa pelo autor. Se
não o fizer neste exato momento processual, ocorre a preclusão. É que esse valor tem
reflexo importante para o réu. Primeiro, porque o autor em princípio adianta as custas do
processo (art. 82 do CPC/2015) - e essas normalmente são calculadas de acordo com o valor
da causa. Então, se o autor atribui à causa um valor menor do que o verdadeiro, ele paga
custas menores. Uma vez corrigido o valor da causa, ele deverá pagar a diferença (art. 292,
§ 3.º, do CPC/2015). Por outro lado, o art. 85 estabelece que a sentença condenará o
vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor - e esses, em regra, têm por base de
cálculo o valor da causa (art. 85, § 2.º, do CPC/2015). Por isso, a impugnação ao valor da
causa integra a defesa do réu, no sentido amplo, afinal, na hipótese de ele vir a ser
derrotado na demanda, tem o direito de se defender quanto às verbas de sucumbência, no
caso de o valor da causa ter sido superdimensionado; se o réu for vencedor, interessa-lhe
que o valor da causa não esteja subdimensionado.
O juiz decidirá a respeito da impugnação ao valor da causa e, se for o caso, determinará
a alteração do valor atribuído pelo autor (art. 293 do CPC/2015). Caso contrário, mantê-lo-
á;
d) inépcia da petição inicial. A petição inicial é inepta quando lhe faltar pedido ou
causa de pedir, o pedido for indeterminado (excetuadas as hipóteses legais de pedido
genérico), da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão ou contiver
pedidos incompatíveis entre si (art. 330, § 1.º - v. cap. 6, acima). Se o juiz não indeferir
liminarmente a petição inicial inepta (art. 330, I, do CPC/2015), poderá o réu arguir, na
contestação, a inépcia, objetivando a extinção do processo sem resolução do mérito;
e) perempção. É a proibição de o autor intentar novamente a ação, contra o mesmo réu
e com o mesmo objeto, se deu causa, por três vezes, à extinção do processo, por não
promover os atos e diligências que lhe competiam (art. 486, § 3.º, e art. 485, III e V, do
CPC/2015 - v. vol. 1, n. 15.8.2).
Todavia, como a perempção apenas atinge o direito de ação, mas não o direito material,
fica ressalvada ao autor a possibilidade de alegar seu direito como matéria de defesa, caso
venha a ser acionado;
f) litispendência e coisa julgada. Os dois fenômenos foram examinados no vol. 1, no n.
15.4. A coisa julgada volta a ser examinada, de modo mais detalhado, adiante, no cap. 40.
Embora tais matérias, como pressupostos processuais, possam ser conhecidas de ofício,
elas também constituem defesas a serem alegadas pelo réu antes do mérito;
g) conexão. Trata-se de defesa processual dilatória, porque a conexão, se verificada,
não extingue o processo, mas apenas ocasiona a modificação da competência relativa ou
define o juízo prevento, quando na comarca ou seção judiciária havia uma pluralidade de
varas com igual competência para a ação (v. vol. 1, cap. 6). Constatada a conexão, reúnem-
se dois ou mais processos para que sejam julgados simultaneamente (art. 55, § 1.º, do
CPC/2015). Nesse caso, a fixação da competência dá-se por prevenção.
Embora não haja expressa menção no art. 337, VIII, do CPC/2015, também a
continência poderá ser alegada, pois, se verificada, a consequência é idêntica à da
conexão, ou seja, reunião de processos (art. 57 do CPC/2015);
h) incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de autorização. São
pressupostos de admissibilidade da tutela jurisdicional, cuja falta pode implicar decisão
negativa de resolução do mérito.
Alegado o vício, o juiz suspenderá o processo, marcando prazo razoável para que o
defeito seja sanado (art. 76, caput, do CPC/2015 - v. vol. 1, cap. 16). Caso o autor não cumpra
a determinação no prazo assinalado, a fase cognitiva será extinta, sem resolução do mérito
(art. 76, § 1.º, I, do CPC/2015);
i) convenção de arbitragem. Como visto (vol. 1, nn. 4.5.4 e 15.8.1), é possível que as
partes pactuem que litígios atuais ou futuros entre elas não serão resolvidos pelo
Judiciário, mas por uma ou várias pessoas, particulares (i.e., que não são agentes estatais),
por elas escolhidas. Nessa hipótese, em princípio, cabe às partes observar o que
pactuaram e, portanto, não é admissível processo judicial que tenha por objeto litígio
submetido à arbitragem. Se as partes convencionaram a arbitragem e, mesmo assim, o
autor propôs a ação, cabe ao réu alegar a existência do pacto, em preliminar de
contestação.
Como também já se viu, a existência da convenção de arbitragem, seja cláusula
compromissória, seja compromisso arbitral, é matéria que não pode ser conhecida de
ofício pelo juiz, cabendo ao réu alegá-la (art. 337, X e § 5.º, do CPC/2015 - v. vol. 1, n. 15.8.1).
A falta de alegação neste exato momento processual acarreta a aceitação da jurisdição
estatal e a resilição (distrato) da convenção arbitral especificamente no que tange à lide
posta naquele processo judicial (art. 337, § 6.º, do CPC/2015 - que alude, de modo pouco
técnico, à "renúncia ao juízo arbitral").2
Por outro lado, uma vez arguida oportunamente a existência da convenção arbitral,
cumpre ao juiz apenas averiguar a existência material dessa pactuação e, sendo positiva
tal aferição, extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 485, VII, do CPC/2015).
Nesse momento, o juiz não pode aprofundar-se no exame da existência jurídica, validade e
eficácia da convenção arbitral. Cabe ao tribunal arbitral primeiramente essa tarefa (art.
8.º, parágrafo único, da Lei 9.307/1996 - princípio da competência-competência). Depois de
prolatada a sentença arbitral, o Poder Judiciário, uma vez acionado pela parte interessada,
poderá rever o entendimento adotado pelo juízo arbitral (arts. 32 e 33 da Lei 9.307/1996 -
v. também n. 21.4.6, adiante);
j) ausência de legitimidade ou de interesse processual. Faltando qualquer dessas
condições da ação (v. vol. 1, cap. 10), não será possível resolução do mérito (art. 485, VI, do
CPC/2015).
Se o réu alegar ausência de legitimidade passiva, incumbe-lhe indicar quem ele reputa
ser o correto legitimado passivo, sempre que tiver conhecimento - sob pena de arcar com
as despesas processuais e indenizar o autor pelos danos decorrentes da sua inércia (art.
339 do CPC/2015).
Haja ou não tal indicação pelo réu, o juiz deve conceder ao autor a oportunidade de
correção do polo passivo, no prazo de quinze dias (art. 338 do CPC/2015). Caberá ao autor
decidir se prefere insistir na demanda contra o réu originário, assumindo o risco de que o
juiz venha a acolher a alegação de ilegitimidade passiva, ou se procederá à mudança do
réu. Nessa segunda hipótese, caberá ao autor reembolsar as despesas e pagar os
honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixadosem parâmetros mais
módicos do que os que seriam impostos se, ao final do processo, o autor fosse derrotado
quanto à questão da legitimidade passiva (art. 338, parágrafo único, do CPC/2015);
k) falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar. Há casos em
que a lei exige, para a propositura da ação, que o autor preste caução, como ocorre, por
exemplo, quando o autor residir fora do Brasil, ou dele se ausentar na pendência da
demanda, e não tiver, no País, bens imóveis suficientes para garantir o pagamento das
custas e honorários advocatícios da parte contrária (art. 83 do CPC/2015);
l) indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. Se o benefício da justiça
gratuita é concedido ao autor antes da citação do réu, a arguição do seu não cabimento
deve ser formulada em preliminar de contestação. Se, todavia, a concessão do benefício
for superveniente, a sua impugnação pelo adversário deverá ser apresentada no prazo de
quinze dias, por meio de simples petição (art. 100 do CPC/2015). Ao impugnar a concessão
do benefício, a parte deve demonstrar a falta dos pressupostos legais para sua concessão.
8.2.2. Regime jurídico aplicável às preliminares
Com exceção da convenção de arbitragem e da incompetência relativa, toda a matéria
tratada no art. 337 do CPC/2015 deve ser conhecida de ofício pelo juiz (art. 337, § 5.º, do
CPC/2015).
O art. 486, §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015 prevê que, se a extinção sem resolução do mérito
ocorrer em razão de litispendência, indeferimento da petição inicial, ausência de
pressupostos de existência e de validade do processo, ausência de legitimidade ou
interesse processual ou de existência de convenção de arbitragem, a repetição da ação
estará condicionada à correção do vício e a nova petição inicial somente será processada
pelo juiz após a comprovação do pagamento ou depósito do valor das custas e honorários
de advogado do processo anterior.
8.2.3. Defesas de mérito
Após as preliminares, incumbe ao réu formular, na contestação, a defesa de mérito,
que tanto pode ser direta, se o réu nega os fatos alegados na inicial ou as consequências
jurídicas pelo autor pretendidas, como indireta, hipótese em que o réu afirma a
ocorrência de fatos capazes de impedir, modificar ou extinguir o direito do autor. Sobre o
tema, veja-se o vol. 1, n. 12.5.3.
Reitere-se que, pelo princípio da eventualidade, o réu tem o ônus de formular
alegações de defesa sucessivas, mesmo que, em tese, incompatíveis entre si, para que o
juiz analise a subsequente, na hipótese de rejeição da antecedente (v. n. 8.1.2, acima).
8.2.4. Especificação de provas e outras providências
Finalmente, deve o réu especificar as provas que pretende produzir (art. 336, última
parte, do CPC/2015), e juntar à contestação os documentos destinados a provar suas
alegações (art. 434 do CPC/2015). A esse respeito, vejam-se também os nn. 13.12.2 e 15.9).
Também deve acompanhar a contestação a procuração outorgada pelo réu ao
advogado (art. 104 do CPC/2015).
8.3. Ônus da impugnação específica
O art. 341, caput, do CPC/2015 expressa o ônus que tem o réu de impugnação específica
dos fatos narrados na petição inicial. Nas alegações da contestação, cabe ao réu
manifestar-se precisa e especificamente sobre cada um dos fatos alegados pelo autor, pois
são admitidos como verdadeiros aqueles não impugnados. Disso resulta não ser
admissível contestação por negativa geral, em que o réu apenas afirma que os fatos
alegados pelo autor não são verdadeiros. O ônus da impugnação específica exige que o
réu, além de manifestar-se precisamente sobre cada um dos fatos, expresse
fundamentação em suas alegações, ou seja, cumpre ao réu dizer como os fatos ocorreram
e porque nega os fatos apresentados pelo autor. Trata-se de um ônus simétrico àquele que
se impõe ao autor, ao apresentar a causa de pedir na petição inicial.
Não impugnados os fatos narrados na petição inicial, sobre eles não haverá
necessidade de produção de provas, por se tornarem fatos incontroversos (art. 374, III, do
CPC/2015). Os exatos limites de incidência dessa regra são examinados no n. 13.6.2,
adiante.
A regra da impugnação específica não se aplica:
- em relação aos fatos inadmissíveis de serem confessados (arts. 341, I, e 392 do
CPC/2015 - v. n. 14.2.3 e 14.2.4, adiante);
- se a petição inicial estiver desacompanhada de instrumento público que a lei
considere como da substância do ato (art. 341, II - v. n. 15.6, adiante);
- quando os fatos não impugnados estiverem em contradição com a defesa, considerada
em seu conjunto (art. 341, III, do CPC/2015) - ou seja, em caso em que, embora não
havendo a impugnação específica de determinados fatos, todo o contexto da contestação é
incompatível com aqueles fatos (p. ex., ainda que sem impugnar os fatos descritos na
inicial, o réu apresenta uma detalhada versão fática que exclui por completo aquela que o
autor havia apresentado);
- quando os fatos não impugnados forem manifestamente inverossímeis ou ainda
quando houver indícios de conluio entre as partes para fins fraudulentos, hipóteses em
que não ficará excluída a instrução probatória (v. n. 13.6.2, adiante);
- em relação ao advogado dativo, ao curador especial e ao defensor público (art. 341,
parágrafo único, do CPC/2015). Justifica-se a dispensa, nessas hipóteses, porque esses
profissionais atuam defendendo o interesse de revéis (art. 72, II, do CPC/2015), de pessoas
com limitação jurídica ou prática de capacidade (art. 72, I e II, do CPC/2015) ou
economicamente hipossuficientes (art. 185 do CPC/2015). O advogado dativo é figura a que
o Código alude uma única vez, precisamente na disposição ora comentada. Trata-se de
profissional designado pelo juiz para representar uma parte que não tem recursos para
contratar advogado, em localidades em que não há serviço de defensoria pública
organizada. Portanto, sua função equivale à do defensor público.
8.4. Prazo para o oferecimento
Em regra, o prazo para o oferecimento de contestação é de quinze dias úteis (art. 335,
caput, do CPC/2015). Mas o prazo é contado em dobro quando: não sendo eletrônicos os
autos, os vários réus tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos
(art. 229 do CPC/2015); quando se tratar defensor público (art. 186 do CPC/2015); ou
quando for parte a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público (art. 183 do CPC/2015) ou o Ministério Público
(art. 180 do CPC/2015).
O termo inicial do prazo varia conforme a causa comporte ou não audiência de
conciliação ou mediação.
Nas causas que admitem autocomposição e, portanto, comportam audiência de
conciliação ou mediação, serão observadas as seguintes regras quanto ao termo inicial do
prazo para contestar:
a) o prazo começa a fluir da data da audiência de conciliação ou de mediação (quando
não houver autocomposição) ou quando alguma das partes não comparecer à audiência
(art. 335, I, do CPC/2015);
b) se ambas as partes manifestarem desinteresse na composição consensual, o prazo
correrá do protocolo do pedido formulado pelo réu de cancelamento da audiência de
mediação ou conciliação (art. 335, II, do CPC/2015). Se houver litisconsórcio passivo, o
prazo para cada um dos réus correrá do seu respectivo pedido de cancelamento da
audiência (art. 335, § 1.º, do CPC/2015). Lembre-se que, nesse caso, o desinteresse na
solução consensual precisará ser manifestado por todos os litisconsortes passivos, além do
autor (art. 334, § 6.º, do CPC/2015). Caso contrário, haverá audiência, aplicando-se o
exposto na letra "a", acima.
Se a petição de manifestação de desinteresse for protocolada durante o recesso forense,
o prazo apenas se iniciará depois de seu término (art. 219 do CPC/2015).
Quando se tratar de direito que não admita autocomposição, o início do prazo para
contestação observará as regras do art. 231 do CPC/2015, quesão as seguintes:
a) quando a citação for pelo correio ou por oficial de justiça, o prazo conta-se a partir
da juntada aos autos do aviso de recebimento ou do mandado de citação cumprido (art.
231, I e II, do CPC/2015);
b) nos casos em que for possível a citação por meio eletrônico (art. 231, V, do CPC/2015
e arts. 6.º c/c 5.º e 9.º da Lei 11.419/2006 - v. v. 1, n. 26.4, e n. 29.1.8), o prazo correrá (i) da
data do efetivo acesso ao teor da citação acompanhada da íntegra eletrônica dos autos ou
(ii) do primeiro dia útil seguinte a tal acesso, se ele ocorrer em dia não útil, ou, ainda, (iii)
não havendo acesso à citação em dez dias contados do envio dela para o portal eletrônico,
do decurso de tal prazo (reiterando-se que a citação eletrônica depende do prévio
cadastramento do jurisdicionado junto ao Poder Judiciário);
c) quando a citação for por edital, o prazo correrá do dia útil seguinte ao
aperfeiçoamento da citação, que se dá com o encerramento do prazo do edital (art. 231, IV,
do CPC/2015), ou seja, aquele fixado pelo juiz como de validade do edital (art. 257, III, do
CPC/2015), que pode variar de vinte a sessenta dias. Este prazo (chamado de prazo de
dilação) tem início a partir da publicação única do edital ou, havendo mais de uma, a
partir da data da primeira;
d) quando a citação ocorrer por carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória, o
prazo é contado da juntada do comunicado ao juízo requerente do cumprimento do ato
ou, não havendo esse comunicado, da juntada da carta aos autos, devidamente cumprida
(art. 231, VI, do CPC/2015);
e) quando a citação ocorrer por ato do escrivão ou do chefe de secretaria, o prazo
começa a fluir da realização do ato em si (art. 231, III, do CPC/2015).
Se qualquer desses eventos ocorrer durante o recesso forense, o prazo somente começa
a fluir no primeiro dia útil seguinte ao feriado ou às férias (art. 219 do CPC/2015).
Por outro lado, se houver litisconsórcio passivo, o prazo será contado do último evento
havido, entre os ora arrolados (art. 231, § 1.º, do CPC/2015). Por exemplo, se os três réus
são citados por via postal, o prazo começará, para todos, a partir da juntada aos autos do
último aviso de recebimento; se há dois réus e um é citado por oficial de justiça e outro
por edital, o prazo começará a correr a partir do que acontecer por último, a juntada aos
autos do mandado cumprido ou o encerramento do prazo do edital - e assim por diante. Se
houver litisconsorte(s) passivo(s) citado(s) e o autor desistir da ação contra aquele(s) ainda
não citado(s), o prazo para contestar será contado a partir da data da intimação da decisão
que homologar a desistência do autor (art. 335, § 2.º, do CPC/2015).
Lembre-se ainda que a falta ou a nulidade da citação são supridas pelo
comparecimento espontâneo do réu (v. vol. 1, n. 29.1.4). Em tal caso, corre a partir dessa
data o prazo para a apresentação da contestação (art. 239, § 1.º, do CPC/2015) - a não ser
que ainda haja litisconsorte(s) passivo(s) não citado(s), hipótese em que também se
aplicará o art. 231, § 1.º, do CPC/2015 acima referido.
Direito de defesa
Princípios
norteadores
Concentração da defesa
Eventualidade
Forma Escrita - exceção (art. 30 da Lei 9.099/1995)
Conteúdo
Defesa processual
Dilatória
Peremptória
Defesa material
Direta
Indireta
Preliminares de
mérito - art. 337 do
CPC/2015
Inexistência ou nulidade de citação
Incompetência absoluta e relativa
Incorreção do valor da causa
Inépcia da petição inicial
Perempção
Litispendência e coisa julgada
Conexão
Incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de
autorização
Convenção de arbitragem
Ausência de legitimidade ou de interesse processual
Falta de caução ou de outra prestação
Indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça
Regime jurídico aplicável às preliminares
Defesas de mérito
Diretas ou indiretas
Princípio da eventualidade
Especificação de provas e outras providências
Ônus da
impugnação específica Exceções - art. 341, incisos e parágrafo único, do CPC/2015
Prazo
15 dias
Termo inicial
Doutrina Complementar
·          Arruda Alvim (Manual..., 16. ed., p. 820) leciona que "o réu, contestando o mérito,
ou seja, o pedido formulado pelo autor, não enriquece ou aumenta juridicamente a lide,
ou, segundo terminologia também difundida entre nós, o objeto litigioso. Todavia, deve
impugnar especificamente os fatos, sob pena de incidir o art. 302 do CPC/1973 [art. 341 do
CPC/2015], ressalvando-se, contudo, as exceções expressamente previstas em seus incisos I,
II e III, quais sejam: se não for admissível, a seu respeito, a confissão; se a petição inicial
não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do
ato; e, finalmente, se os fatos estiverem em contradição com a defesa em seu conjunto". E,
mais adiante: "A contestação, no mérito, contrapõe-se à essência da petição inicial, sob um
ou dois aspectos: 1.º) juridicamente será sempre contrária à inicial, pois, se não o fosse,
contestação deixaria de ser; 2.º) a sua conclusão jurídica contrária (pelo menos
praticamente) à inicial poderá também ser antecedida de um relato de fatos diversos dos
constantes da inicial (art. 302 [art. 341 do CPC/2015]), ou não, pois poderá haver
concordância quanto aos fatos, total ou parcialmente, e haverá sempre de expressar
discordância quanto às consequências jurídicas que se pretende sejam deles extraídas".
No que se refere ao conceito de questão de fato ou de direito e à indicação dos meios de
prova, explica: "na medida em que sejam contestados os fatos, há questões de fato a
serem, a final, resolvidas pelo juiz, em função da prova a ser produzida (art. 131 [art. 371
do CPC/2015]), ou, se inocorrente, a produção da prova, ou, com resultado negativo em
relação à posição que essa prova sustentaria, o juiz decidirá, tendo em vista a regra do
ônus da prova (art. 333 [art. 373 do CPC/2015]). Na contestação deve haver indicação dos
meios de prova. A falta de indicação dos meios de prova, ou seja, da especificação das
provas, que o réu pretende produzir, em princípio, autoriza o julgamento antecipado da
lide, nos termos do art. 330 do CPC [arts. 355 e 356 do CPC/2015], pois é injustificável a
realização da audiência, sem que haja provas a produzir, porque não tenha sido solicitada
a respectiva produção. Ressalve-se a hipótese de o autor ter protestado por provas e terem
estas cabimento, quando, então, não ocorrerá julgamento antecipado. Ainda, já se admitiu
que o juiz, ao sanear o processo, pode facultar às partes a especificação de provas, numa
tendência liberalizadora, que não temos por rigorosamente correta, a ser erigida em
regra. No entanto, as questões poderão ser, tão somente, de direito, quando o réu aceitar a
narração do autor e discutir, num plano exclusivamente jurídico, os fundamentos da
inicial (causa petendi) - fatos e fundamento(s) jurídico(s) - e se insurgir contra a(s)
respectiva(s) conclusão(ões), pretendida(s) pelo autor. Se as questões forem também de
fato, mas dirimíveis por documentação, mesmo que suscitadas de lado a lado, ainda assim
deverá haver julgamento antecipado da lide (art. 330, I [art. 355, I, do CPC/2015],
aplicáveis, previamente, os arts. 326 e 327, à luz da regra do art. 328 [arts. 350 a 353 do
CPC/2015], conforme o caso). Estas questões denominam-se questões de fundo, ou de
mérito, e se distinguem das questões processuais, de trâmite ou de rito, que lógica e
cronologicamente antecedem àquelas".
·          Fredie Didier Jr. (Curso..., 17. ed., v. 1, p. 641) entende que, de acordo com o art.
340 do CPC/2015, "não é apenas a alegação de incompetência que é formulada perante o
juízo do domicílio do réu: toda a contestação tem de ser apresentada neste momento.
Note, ainda, que essa regra precisa ser harmonizada com outra regra, a que impõe a
realização da audiência preliminar demediação e conciliação. É que, tendo sido marcada
a audiência preliminar, a contestação somente seria oferecida se não se chegasse à
autocomposição - o prazo de resposta começaria a correr da audiência, conforme visto.
Como réu pode oferecer contestação no foro de seu domicílio, onde não está tramitando o
processo, caso alegue incompetência, será preciso cancelar a audiência preliminar,
marcada para realizar-se no foro onde tramita o processo. Perceba, então, que esta
contestação, em cujo bojo se alega a incompetência é apta para adiar a audiência
preliminar. A contestação não equivale ao pedido de cancelamento de audiência, que o
réu poderia ter formulado, pois é possível que ele tenha interesse na autocomposição, mas
apenas não aceita que a audiência preliminar se realize no foro que ele, réu, alega ser
competente. Não é fácil, como se vê, compatibilizar as duas regras: permitir que o réu
alegue incompetência em seu domicílio e impor uma audiência preliminar antes do
oferecimento da contestação, em cujo bojo a alegação de incompetência deve ser
formulada".
·          Heitor Vitor Mendonça Sica (Breves..., p. 914) explica que "nos casos em que o réu
for citado para comparecer à audiência de conciliação ou mediação, o uso da faculdade
prevista no art. 340 do CPC/2015pressupõe que a contestação (munida de alegação de
incompetência relativa) seja apresentada perante o foro reputado pelo réu como
competente, antes do termo inicial do prazo fixado na forma do art. 335, I ou II, do
CPC/2015 acima comentado. No foro indicado pelo réu, a peça será distribuída livremente
(nos casos de citação por via postal, eletrônica ou editalícia) ou por dependência ao juízo
que cumpriu a carta precatória expedida para citação, ensejando o cancelamento da
audiência de conciliação ou mediação que haja sido designada. Na sequência, a peça será
remetida ao juízo por onde tramita o processo para análise da alegação. Se o réu alegou
incompetência relativa e essa matéria foi acolhida, o processo será remetido, por
prevenção, ao juízo que recebeu e encaminhou a contestação (art. 340, § 2.º, do CPC/2015),
a quem caberá redesignar a audiência de conciliação ou mediação. Contudo, se o réu
alegou incompetência absoluta, e a matéria for acolhida, o processo não será remetido ao
juízo que recebeu a contestação, mas sim será enviado ao órgão judiciário reputado
competente. Se a alegação (seja de competência absoluta, seja de competência relativa) for
rejeitada, o próprio juízo original da causa se incumbirá de redesignar a audiência de
conciliação ou mediação que havia sido anteriormente cancelada. O réu que optou pelo
benefício do art. 340 do CPC/2015 não poderá, depois de contestar, manifestar desinteresse
pela audiência de conciliação ou mediação e tampouco completar as razões de
contestação. Por fim, caso a audiência não seja cabível em face da indisponibilidade dos
direitos em disputa (art. 334, § 4.º, II, do CPC/2015), o réu terá que contar o prazo para
contestar na forma do art. 335, III, c.c. art. 231, do CPC/2015, mesmo que tenha se valido do
disposto no art. 340".
·          Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 788) afirma que "O direito
de ação, como direito subjetivo público, autônomo e abstrato, que visa à tutela
jurisdicional do Estado, não cabe apenas ao autor. Assim como este o exercita, por meio da
petição inicial, o réu, da mesma forma, também o faz mediante contestação; pois, tanto no
ataque do primeiro como na defesa do segundo, o que se busca é uma só coisa: a
providência oficial que há de pôr fim à lide, mediante aplicação da vontade concreta da lei
à situação controvertida". Sobre o ônus da impugnação, assevera que, "além do ônus de
defender-se, o réu tem, no sistema de nosso Código, o ônus de impugnar
especificadamente todos os fatos arrolados pelo autor. Pois dispõe o art. 341 do CPC/2015
que 'incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fatos
constantes da petição inicial', sob pena de presumirem-se verdadeiras 'as não
impugnadas'. É, de tal sorte, ineficaz a contestação por negação geral, bem como 'a que se
limita a dizer não serem verdadeiros os fatos aduzidos pelo autor'. Diante do critério
adotado pela legislação processual civil, os fatos não impugnados precisamente são
havidos como verídicos, o que dispensa a prova a seu respeito. Quando forem decisivos
para a solução do litígio, o juiz deverá, em face da não impugnação especificada, julgar
antecipadamente o mérito, segundo a regra do art. 355, I, do CPC/2015".
·                  José Carlos Barbosa Moreira (O novo processo..., 29. ed., p. 38) conceitua:
"Contestação é a modalidade de resposta em que o réu impugna o pedido do autor (art.
300 do CPC/1973 [art. 336 do CPC/2015]), isto é, se defende no plano do mérito. Essa defesa
pode ser: a) direta, quando o réu nega o fato constitutivo do suposto direito alegado pelo
autor (v.g., sustenta que não concluiu o contrato de que se originaria a dívida cobrada), ou
admite o fato, mas nega que ele produza o efeito jurídico pretendido (v.g., sustenta que a
cláusula contratual invocada pelo autor não tem na verdade o sentido e as consequências
que este lhe atribui); b) indireta, quando o réu, sem negar qualquer das afirmações
contidas na inicial, argui, por sua vez, outro fato, supostamente impeditivo (v.g., alega que
era absolutamente incapaz ao contratar), modificativo (v.g., alega que, mediante acordo
posterior, se parcelou a dívida, por isso ainda inexigível in totum), ou extintivo (v.g., alega
que já pagou a dívida, ou que o autor a remitiu) do direito deduzido, ou ao menos
suscetível de tolher eficácia, em caráter temporário ou definitivo, à pretensão do autor
(v.g., alega que este não pode exigir o cumprimento da obrigação porque ainda não
cumpriu a que lhe toca, ou que ocorreu decadência convencional: art. 211 do Código Civil).
A este último tipo de defesa indireta correspondem as chamadas exceções materiais ou
substanciais (nos exemplos figurados, respectivamente, exceção de contrato não cumprido
e exceção de decadência), as quais não devem ser confundidas com as exceções
processuais, as únicas a que o Código reserva tal denominação (art. 304 do CPC/1973 [sem
correspondência no CPC/2015])". Sobre a forma da contestação (p. 40), entende que, "se
bem que omisso o Código, hão de observar-se, na contestação, os requisitos do art. 282, I e
II, do CPC/1973 [art. 319, I e II, do CPC/2015], dispensando-se, porém, a qualificação das
partes, se corretamente feita na inicial. Especificar-se-ão também as provas que o réu
pretenda produzir (art. 300, fine, do CPC/1973 [art. 336 do CPC/2015]); em se tratando de
documentos, devem eles instruir, em princípio, a própria contestação (art. 396 do
CPC/1973 [art. 434 do CPC/2015]). Acompanhará igualmente a contestação, se antes desta
não houver sido juntada aos autos a procuração outorgada ao advogado do réu, salvo nos
casos excepcionais em que a lei não a exige. O advogado, ou a parte quando postular em
causa própria, deve indicar na contestação o endereço em que receberá intimação (art. 39,
I, do CPC/1973 [art. 106 do CPC/2015])".
·                  Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo
Curso..., v. 2, p. 180) argumentam que "a regra da eventualidade revela ainda outra tema
de relevo, que diz respeito à coerência da defesa. Desse modo, não obstante seja exigível a
apresentação de toda a matéria de defesa na contestação, há de guardar ela, em seu
conjunto, certa homogeneidade e compatibilidade. Assim, certamente, não terá condição o
réu de sustentar, em sua defesa, a inexistência da dívida e seu pagamento, já que uma
certamente exclui, por questão de lógica, a viabilidade da outra. É a lógica - e os deveres de
boa-fé e de veracidade que todos os participantes do processo têm no processo civil (art. 5.º
do CPC/2015) - que determinará quais as defesas que, dentro de um padrão racional,podem ser utilizadas e quais devem ser descartadas, não compondo o contexto da defesa
do réu. O processo civil não é, ao contrário do que já se supôs - um espaço 'livre de
moralidade' ('moralinfrei'). A apresentação de defesa incoerente constitui abuso do direito
processual de defesa".
·                  Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 925), ao
explanarem sobre o princípio da eventualidade, sustentam que, "por este princípio, o réu
deve alegar, na contestação, todas as defesas que tiver contra o pedido do autor, ainda que
sejam incompatíveis entre si, pois, na eventualidade de o juiz não acolher uma delas,
passa a examinar a outra. Caso o réu não alegue, na contestação, tudo o que poderia, terá
havido preclusão consumativa, estando impedido de deduzir qualquer outra matéria de
defesa depois da contestação, salvo o disposto no art. 342 do CPC/2015". No que respeita às
preliminares, explicam que "as matérias enumeradas no art. 337 do CPC/2015 são
denominadas preliminares de contestação, isto é, que devem ser arguidas e examinadas
antes do mérito, que é a questão final. As preliminares são defesas indiretas de mérito e,
salvo a incompetência relativa (art. 337, II, do CPC/2015) e a alegação de existência de
convenção de arbitragem (art. 337, X, do CPC/2015), são matérias de ordem pública,
insuscetíveis de preclusão, que devem ser examinadas de ofício pelo juiz a qualquer
tempo e em qualquer grau de jurisdição (arts. 337, § 5.º e 485, § 3.º, do CPC/2015)". Sobre o
conteúdo da contestação, asseveram dividir-se "em duas partes: preliminares e mérito. As
preliminares são de natureza processual e devem, lógica e cronologicamente, ser
examinadas antes do mérito. O exame do mérito pode dividir-se em preliminares de
mérito e mérito em sentido estrito. A prescrição e a decadência (art. 487, II, do CPC/2015),
bem como as exceções substanciais (de direito material), são preliminares de mérito. A
impugnação do pedido é o mérito em sentido estrito".
·          Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da
Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 598) sustentam que, "salvo
a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, todas as defesas processuais
elencadas no art. 337 do CPC/2015 podem ser conhecidas ex officio pelo juiz (art. 337, § 5.º,
do CPC/2015). Mas também há defesas de mérito que ao juiz compete conhecer de ofício
(identificadas como objeções substanciais). É o que se dá com a decadência (art. 210 do CC)
e a prescrição (art. 193 do CC). E, justamente porque o juiz pode conhecer dessas defesas a
qualquer tempo e independentemente de provocação, sejam as processuais (art. 337 do
CPC/2015), sejam as de mérito (prescrição e decadência), é que nada impede que o réu
possa argui-las após a contestação, inclusive em 2.º grau de jurisdição, em embargos de
declaração".
Enunciados do FPPC
N. 34.(Art. 311, I, CPC/2015) Considera-se abusiva a defesa da Administração Pública,
sempre que contrariar entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no
âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou
súmula administrativa, salvo se demonstrar a existência de distinção ou da necessidade de
superação do entendimento.
N. 42.(Art. 339, CPC/2015) O dispositivo se aplica mesmo a procedimentos especiais que
não admitem intervenção de terceiros, bem como aos juizados especiais cíveis, pois se
trata de mecanismo saneador, que excepciona a estabilização do processo.
N. 44. (Art. 339 do CPC/2015) A responsabilidade a que se refere o art. 339 do CPC/2015
é subjetiva.
N. 116.(Arts. 113, § 1.º, e 139, VI, CPC/2015) Quando a formação do litisconsórcio
multitudinário for prejudicial à defesa, o juiz poderá substituir a sua limitação pela
ampliação de prazos, sem prejuízo da possibilidade de desmembramento na fase de
cumprimento de sentença.
N. 152.(Art. 339, §§ 1.º e 2.º, CPC/2015) Nas hipóteses dos §§ 1.º e 2.º do art. 339 do
CPC/2015, a aceitação do autor deve ser feita no prazo de 15 dias destinado à sua
manifestação sobre a contestação ou sobre essa alegação de ilegitimidade do réu.
N. 238.(Art. 64, caput e § 4.º, CPC/2015) O aproveitamento dos efeitos de decisão
proferida por juízo incompetente aplica-se tanto à competência absoluta quanto à
relativa.
N. 239.(Arts. 85, caput, 334 e 335, CPC/2015) Fica superado o enunciado n. 472 da
súmula do STF ("A condenação do autor em honorários de advogado, com fundamento no
art. 64 do Código de Processo Civil, depende de reconvenção"), pela extinção da nomeação
à autoria.
N. 248.(Arts. 134, § 2.º, e 336, CPC/2015) Quando a desconsideração da personalidade
jurídica for requerida na petição inicial, incumbe ao sócio ou a pessoa jurídica, na
contestação, impugnar não somente a própria desconsideração, mas também os demais
pontos da causa.
N. 272.(Art. 231, § 2.º, CPC/2015) Não se aplica o § 2.º do art. 231 do CPC/2015 ao prazo
para contestar, em vista da previsão do § 1.º do mesmo artigo.
N. 274.(Art. 272, § 6.º, CPC/2015) Aplica-se a regra do § 6.º do art. 272 do CPC/2015 ao
prazo para contestar quando for dispensável a audiência de conciliação e houver poderes
para receber citação.
N. 282.(Arts. 319, III, e 343, CPC/2015) Para julgar com base em enquadramento
normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de
consulta previsto no art. 10.
N. 286.(Arts. 5.º, e 322, § 2.º, do CPC/2015) Aplica-se o § 2.º do art. 322 à interpretação de
todos os atos postulatórios, inclusive da contestação e do recurso.
N. 296.(Arts. 338 e 339, CPC/2015) Quando conhecer liminarmente e de ofício a
ilegitimidade passiva, o juiz facultará ao autor a alteração da petição inicial, para
substituição do réu, nos termos dos arts. 339 e 340 do CPC/2015, sem ônus sucumbenciais.
Bibliografia
Fundamental
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Didier Jr., Curso de Processo Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
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Júnior, Cursodedireitoprocessualcivil, 56. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2015, vol. 1; José
Carlos Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro, 29. ed., Rio de Janeiro: Forense,
2012; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo curso de
processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, São Paulo: Ed. RT, 2015, v.
2; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao código de processo civil,
São Paulo: Ed, RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo
Talamini e Bruno Dantas (coords.), Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil,
São Paulo: Ed. RT, 2015; _____, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva
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Complementar
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lide pelo juiz, RJ 296/58; Antonio Scarance Fernandes, Prejudicialidade, São Paulo: Ed. RT,
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§ 5.º do art. 219 do CPC, RePro 143/11; _____, Tratado de direito processual civil, 2. ed.,São
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pedido contraposto e ação dúplice), Dialética 9/24; Djanira M. Radamés de Sá, Teoria geral
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e ampliação dos limites objetivos da lide no Projeto de Lei 166/2010, do Senado Federal
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Oliveira, Delimitação conceitual de exceção substancial e distinção entre exceções e
objeções substanciais, RePro 193/27.
© desta edição [2016]
FOOTNOTES
1
Quanto à classificação das modalidades de defesa, veja-se o vol. 1, n. 12.5.
2
Sobre o tema, ver Eduardo Talamini, Convenção arbitral: impedimento processual (e não
pressuposto negativo de validade). In: Quarenta anos de teoria geral do processo no Brasil. Flávio
Luiz Yarshell e Camilo Zufelato (orgs.). São Paulo: Malheiros, 2013.

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