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Capítulo 19. AÇÕES PROBATÓRIAS

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2017 - 07 - 18 
Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016
QUARTA PARTE - PROVAS
CAPÍTULO 19. AÇÕES PROBATÓRIAS
Capítulo 19. AÇÕES PROBATÓRIAS
19.1. Ações probatórias e direito autônomo à prova
As provas constituem elemento instrumental na disputa processual relativa a um
litígio. Produzir provas não é a razão de ser do processo. Nem mesmo "descobrir a
verdade" o é. O processo destina-se a solucionar o conflito (ou a aperfeiçoar um ato, na
jurisdição voluntária), mediante a definição das normas jurídicas incidentes no caso. A
produção probatória, como elemento adequado para a reconstrução dos fatos pretéritos
(etapa imprescindível para se definir quais normas incidiram no caso), é uma importante
etapa no exercício da função jurisdicional, mas é um meio, e não fim. Isso está bastante
ligado à ideia de que a atividade jurisdicional não se destina à mera eliminação de
dúvidas hipotéticas, questões acadêmicas e simples fatos.
No entanto, em determinadas oportunidades, a prova assume o papel principal. Sua
relevância para o processo, somada à necessidade de que uma definição a respeito dela
vincule as partes e se torne definitiva e imutável, justificam que, uma vez observados
determinados pressupostos, a prova se torne o próprio objeto de um processo
jurisdicional. Em outros termos: o ordenamento reconhece que um conflito pode
estabelecer-se em torno da própria prova - e reputa importante resolvê-lo em caráter
principal, e não como simples providência incidental no bojo do processo para o qual essa
prova seja útil.
Nesses casos, temos aquilo que poderíamos denominar "ações probatórias". A
admissibilidade de tais ações não é fenômeno moderno. De há muito, os ordenamentos
processuais reconheciam, em certas hipóteses, a possibilidade de processos que tivessem
por objeto a imposição de produção ou a veracidade da prova. São esses, ainda no direito
atual, os escopos das ações probatórias.
Mas, modernamente, a disciplina legal, o estudo e a aplicação concreta das ações
probatórias são enriquecidos pela constatação - essa sim, bem mais recente - da existência
de um direito autônomo à prova. Supera-se a noção de que as provas têm por destinatário
único o juiz, não dizendo respeito às partes. Reconhece-se que as partes têm, em relação às
provas, não apenas uma faculdade estritamente instrumental e interna ao processo,
atinente ao exercício da ação e da defesa. Mais do que isso, as partes têm direito à
produção ou à aferição da veracidade da prova, antes e independentemente do processo,
por uma série de razões: avaliar suas chances efetivas numa futura e eventual disputa
litigiosa, estimar os custos de tal disputa, verificar as possibilidades e termos de um
possível acordo com o adversário - e assim por diante. Como se vê, esses objetivos
guardam relação instrumental com uma possível disputa litigiosa, em que aquela prova
poderia vir a ser usada. Mas essa disputa litigiosa não é apenas futura, mas eventual. Pode
vir a não existir. Mais do que isso, o resultado da ação probatória pode ser decisivo para
que ela não ocorra. Evidencia-se assim que a prova, ainda que não perdendo seu caráter
de instrumentalidade, não se destina apenas à demonstração de fatos dentro de um
específico processo. Tem um papel que vai muito além disso, ao fornecer previamente
balizas para as partes, como acima destacado.
O ordenamento processual civil brasileiro contempla basicamente três ações
probatórias: a produção antecipada de prova, a exibição de documento e a arguição de
falsidade.
19.2. Produção antecipada de prova
1
Os art. 381 e seguintes disciplinam a produção antecipada de provas como medida
autônoma. Nesses casos, o processo em que se porá a pretensão ou defesa para a qual a
prova é relevante é algo futuro e eventual.
19.2.1. Natureza jurídica
A produção antecipada de provas é ação (veicula um pedido de tutela jurisdicional)
geradora de processo próprio. Não se trata de simples "jurisdição voluntária". Insere-se no
contexto de um conflito, ainda que não tenha por escopo diretamente o resolver. É medida
com procedimento sumário (a ponto de excluir contestação e recursos) e cognição sumária
horizontal (o juiz averigua superficialmente o pressuposto para antecipar a prova) e
vertical (o juiz não se pronuncia sobre o mérito da pretensão ou defesa para a qual a
prova poderá futuramente servir).
19.2.2. Funções (hipóteses de cabimento)
Como dito na introdução deste capítulo, a ação em exame presta-se a proteger o direito
processual à prova, em casos em que se põe interesse jurídico para que tal direito seja
exercido autonomamente (i.e., não dentro do processo em que se põe a pretensão ou
defesa para a qual a prova é relevante).
Portanto, a ação de produção antecipada é utilizável apenas quando não houver
processo em curso (no qual se vá usar a prova). Se tal processo já estiver em curso, e
houver a necessidade da antecipação de uma prova (i.e., sua produção antes da fase
instrutória), aplica-se o art. 139, VI, que confere ao juiz o poder de alterar a ordem de
produção dos meios de prova.
Embora o direito à prova assuma relevância autônoma, sua proteção em processo
próprio e específico justifica-se sempre sob a perspectiva de uma possível pretensão (ou
defesa) relativa a outro direito. Promove-se a medida de antecipação da prova: (I) por
razões urgentes, para ser usada em uma possível subsequente ação de qualquer natureza
(referente a outra pretensão); ou (II) para auxiliar na solução extrajudicial de um conflito
(referente a outra pretensão); ou (III) para permitir a avaliação das possibilidades de
promover-se uma ação (referente a outra pretensão). Essa pretensão pode ser futura e
meramente eventual, mas é indispensável sua indicação para que se ponha a proteção
autônoma do direito à prova.
Assim, a produção antecipada pode assumir papel de tutela urgente (cautelar), pois,
entre outras hipóteses, cabe seu emprego quando houver a perspectiva da impossibilidade
ou excessiva dificuldade de sua produção no futuro processo (art. 381, I).
Mas existem também finalidades alheias à urgência. No CPC, consagra-se
expressamente o emprego da produção antecipada em situações não cautelares. São
explicitadas duas outras finalidades para a prova antecipada: (a) como elemento
facilitador da solução extrajudicial de um litígio (art. 381, II) e (b) como subsídio para a
definição da viabilidade de uma possível ação (art. 381, III). Essas duas hipóteses são
bastante largas - e podem justificar até a concessão da medida requerida com fundamento
na urgência, quando o juiz reputar que essa não se apresenta ou não é tão intensa. Há
fungibilidade entre os fundamentos da produção antecipada.
A ação de produção antecipada pode ainda servir para inventariar e documentar uma
universalidade de bens (CC/2002, arts. 90 e 91 - ex., uma biblioteca, um rebanho de gado,
em espólio etc.) - como prevê o art. 381, § 1.º. Já quando o que se pretende é mais do que
identificação e documentação dos bens, buscando-se também de algum modo apreendê-
los ou limiar sua disponibilidade, deve-se empregar a via geral da tutela provisória
cautelar (art. 301 - v. cap. 42, adiante).
A produção antecipada presta-se também a viabilizar a providência que
tradicionalmente se denomina de "justificação" (art. 381, § 5.º). A justificação não se
concentra apenas na produção de uma prova, em si, mas na reunião de um conjunto
probatório que permita justificar dada posição jurídica, conferindo-lhe plausibilidade. A
qualificação jurídica dos fatos não será feita dentro do processo em que se faz a
justificação, pois, nele, o juiz nem sequer avalia a prova e muito menos emite juízos
jurídicos. No entanto, toda a instrução probatória é desenvolvida tendo em vista essa
determinada qualificação jurídica que se pretenderá sustentar depois - e que já é, de
antemão, anunciada. Tanto quanto nos demais casos de produção antecipada, ajustificação tem natureza contenciosa, quando realizada nas hipóteses dos incisos do art.
381 ou em outras situações a essas equiparáveis. Já quando se procede à justificação para
meros fins comprobatórios não litigiosos, tem-se medida de jurisdição voluntária.
De resto, o elenco do art. 381 não exaure as hipóteses em que se põe autonomamente o
direito à prova. É apenas exemplificativo. Justifica-se a produção antecipada da prova
sempre que seu requerente demonstrar possuir interesse jurídico para tanto, ainda que
em hipóteses não arroladas no art. 381 (p. ex., o requerente pode pretender produzir
antecipadamente a prova para pré-constituí-la, e assim poder usá-la em futuro processo
que, por razões procedimentais, só admita prova escrita - como é o caso do mandado de
segurança ou da fase inicial da ação monitória - ou usá-la como fundamento para a
obtenção de tutela da evidência, na hipótese do art. 311, II e IV).
19.2.3. O empréstimo da prova produzida antecipadamente
Como dito, nem sempre a prova antecipada será depois utilizada em algum processo.
Porém, quando utilizada em processo subsequente, a prova antecipada lá ingressa como
prova emprestada (art. 372). Nesse segundo processo, a prova emprestada tem a forma
documental, mas é apta a preservar o seu valor originário (de prova pericial, testemunhal
etc.). Lembre-se que, para que se admita seu empréstimo, a prova precisa ter sido
produzida perante autoridade jurisdicional e a parte contra a qual se pretende utilizá-la
tem de haver podido participar, em regime contraditório, de sua produção (v. n. 13.9,
acima).
Esses aspectos devem ser considerados na aferição do interesse de agir e da
legitimidade passiva na medida de produção antecipada de prova. Ou seja, se já se tem em
vista utilizar a prova em um futuro processo contra determinada pessoa, essa precisa
figurar como ré da produção antecipada, para que possa participar do procedimento
probatório - o que viabilizará o futuro empréstimo da prova.
19.2.4. Aplicabilidade a todos os meios de prova
Em princípio, todo meio de prova comporta produção antecipada. O art. 381 não faz
nenhuma ressalva ou limitação. Assim, pode ser empregada para antecipar-se prova
pericial, ouvida de testemunhas e mesmo tomada de depoimento das partes.
A inspeção judicial é providência instrutória que se presta a assegurar a imediação -
fazendo com que o juiz que vai decidir tenha contato direto com locais ou objetos
relevantes para os fatos da causa (art. 481 e ss. - v. cap. 18, acima). Mas isso não obsta sua
antecipação. Apenas, se for usada em processo futuro, conduzido por outro juiz, ela não
terá como manter, necessária e absolutamente, o seu valor originário (o que, de todo
modo, acontece sempre que o juiz que inspeciona não vem a ser o mesmo que
sentencia...).
O depoimento pessoal da parte também pode ser antecipado. Apenas não caberá
extrair-se dele a confissão, pois, como se vê adiante, a valoração da prova não é feita no
processo da sua antecipação. Se for o caso, ela será valorada no processo subsequente em
que vier a ser usada. Nesse processo é que caberá ao juiz verificar se aquilo que a parte
afirmou constitui confissão.
A exibição de documento, se requerida no curso de um processo, dá origem a um
procedimento específico, examinado adiante (n. 19.3). No entanto, caso se pretenda sua
antecipação, a ação em exame é o veículo para tanto.
19.2.5. Competência
Para fins de competência, sob o aspecto territorial, toma-se em conta o local em que a
prova deve ser produzida - privilegiando-se a eficiência na sua produção.
Alternativamente, é também competente o foro do domicílio do réu. Havendo a
perspectiva de produção probatória em diferentes localidades, há concorrência de foros -
podendo o autor optar por qualquer deles. Caso o autor opte pelo domicílio do réu,
aplicam-se as regras dos arts. 46, §§ 1.º a 4.º, e 53, III, a a c, do CPC/2015 (v. cap. 6 do vol. 1).
Em princípio, pode haver a incidência de cláusula de eleição de foro (art. 63).
No que tange à competência funcional, deve ser considerada a natureza das partes e da
matéria relativa à pretensão ou defesa para a qual a prova será relevante. Se a produção
probatória que se quer antecipar é pertinente para um atual ou potencial litígio
trabalhista, a competência para a medida é da Justiça do Trabalho (CF/1988, art. 114). Se a
providência é requerida por (ou em face da) União, autarquia ou empresa pública federal,
em princípio, a competência é da Justiça Federal (CF/1988, art. 109, I). Para a justificação
sem caráter contencioso, permanece aplicável a Súm. 32 do STJ.
Todavia, nas produções antecipadas promovidas em face da União ou de autarquias ou
empresas públicas federais, se no local em que a prova deve ser produzida não há vara
federal, a ação pode ser proposta perante o órgão de primeiro grau da Justiça Estadual. A
regra do art. 381, § 4.º, do CPC ampara-se na permissão dada pelo art. 109, § 3.º, parte
final, da CF/1988. Mas os recursos serão de competência do TRF (CF/1988, art. 109, § 4.º).
O CPC prevê expressamente que a medida de produção antecipada não previne a
competência do juízo para a ação que eventualmente se venha a propor com utilização da
prova antes produzida. Essa norma é compreensível em face: (a) do caráter não
constritivo da medida; (b) da ausência de juízo, nem mesmo sumário, sobre o mérito da
pretensão principal; (c) da eventualidade de uma ação principal. Tal diretriz, já
consolidada sob a égide do CPC/1973 (TFR, Súmula 263), é ainda mais justificável diante da
ênfase à autonomia da tutela à prova no CPC/2015.
19.2.6. Legitimidade
A legitimidade ativa recai sobre todo aquele que justifique a utilidade da produção da
prova à luz de uma possível e eventual pretensão ou defesa. Para legitimar-se ativamente
para a produção antecipada, é irrelevante a posição que o sujeito ocuparia no eventual e
futuro processo em que usaria a prova: autor, réu, terceiro interveniente.
Deve ser incluído no polo passivo, como réu, todo aquele contra o qual se possa
pretender futuramente, de algum modo, utilizar a prova. Por mais incerto e eventual que
seja o uso futuro da prova em outro processo, cabe observar esse parâmetro. A prova
produzida sem a presença do adversário é despida de valor, não sendo admissível no
processo subsequente (v. n. 19.2.3, acima).
Mesmo quando o escopo da produção antecipada não for o de assegurar ou pré-
constituir a prova, mas sim o de incentivar a autocomposição ou permitir a avaliação de
chances de eventual demanda, é relevante a participação do adversário: sua presença no
procedimento probatório antecipado qualifica a prova, ampliando as chances de que ela
cumpra essas funções. Uma vez que se reconhece o direito autônomo à prova (n. 19.1,
acima), cabe reconhecê-lo em sua plenitude, i.e., em sua dimensão bilateral,
intersubjetiva.
Na hipótese de justificação para simples documentação sem caráter contencioso (art.
381, § 5.º - v. n. 19.2.2, acima), não haverá legitimado passivo (art. 382, § 1.º, parte final).
Essa regra, que constitui exceção, merece interpretação restritiva. Basta a potencialidade
de conflito para que se imponha a citação de réus na produção antecipada - sob pena de
inocuidade da prova ali produzida.
19.2.7. Intervenção de terceiros
Não cabem chamamento ao processo e denunciação da lide, pois não há julgamento da
pretensão principal na produção antecipada. Se o requerente da medida pretende
formular denunciação ou chamamento em posterior processo em que a prova vai ser
usada, cabe-lhe desde logo incluir o futuro chamado ou denunciado no polo passivo. Se é o
réu da produção antecipada quem pretende provocar depois tais modalidades
interventivas, cumpre-lhe requerer ao juiz que desde logo cite o futuro chamado ou
denunciado.
É possível a assistência na produção antecipada. O terceiro que tem a perspectiva de
assistir uma das partes, no futuro processo principal,pode igualmente assisti-la no
processo de antecipação da prova.
Assim também é cabível participação de amicus curiae (art. 138): o terceiro pode
intervir, provocada ou espontaneamente, para apresentar subsídios técnico-científicos
relevantes para a produção probatória.
A produção antecipada pode servir para reunir subsídios para respaldar pleito de
desconsideração de personalidade societária a realizar-se incidentalmente em futuro
processo (art. 133 e ss.). Mas nesse caso, o sócio e a pessoa jurídica que seriam atingidos
pela desconsideração devem participar desde logo da medida de produção antecipada -
sob pena de a prova não poder ser depois utilizada.
19.2.8. O contraditório na produção antecipada
O art. 382, § 4.º, estabelece que "não se admitirá defesa" no processo de produção
antecipada. Tal dispositivo exige interpretação que o salve da inconstitucionalidade
(CF/1988, art. 5.º, XXXVI, LIV e LV). Não há dúvidas de que o juiz detém poder para, mesmo
de ofício, controlar (i) defeitos processuais, (ii) a ausência dos pressupostos da antecipação
probatória e (iii) a admissibilidade e validade da prova. Logo, o requerido tem o direito de
provocar decisão do juiz a respeito desses temas. A suposta proibição de defesa deve ser
compreendida apenas como: (a) ausência de uma via específica para formulação de
contestação e (b) não cabimento de discussão sobre o mérito da pretensão (ou defesa) para
a qual a prova pode servir no futuro.
Entre as questões processuais que o juiz tem o dever de controlar de ofício, está a
incompetência absoluta (CPC/2015, art. 64, § 1.º) - cabendo provocação de exame do tema
pela parte interessada. Quanto à incompetência relativa (inclusive a derivada do
desrespeito ao art. 381, § 2.º) o réu, na falta de estipulação específica, terá o prazo geral de
cinco dias para argui-la (art. 218, § 3.º), sob pena de prorrogação de competência (art. 65).
De resto, o réu tem direito de participar de todo o procedimento probatório, desde a
proposição da prova.
Ele tem ainda o direito de aproveitar o procedimento instaurado para também
requerer, justificadamente, a produção de provas. Não se trata de apenas controlar ou
completar a produção probatória pleiteada pelo autor. Confere-se ao réu poder autônomo
de iniciativa probatória: ele pode "requerer a produção de qualquer prova" (art. 382, §
3.º). Mas há limites: (i) a prova deve versar sobre o mesmo fato que é objeto da prova do
autor; (ii) a produção conjunta não pode implicar excessiva demora.
19.2.9. As regras do procedimento probatório
Aplicam-se, no que couber, as regras do procedimento comum do processo de
conhecimento, relativas ao meio de prova cuja antecipação requer-se. Os limites a essa
aplicação subsidiária derivam:
(i) da simplicidade (sumariedade) procedimental da medida de antecipação. Por
exemplo, ao citar o requerido, o juiz deve já determinar a formulação de quesitos e
indicação de assistente técnico para a perícia objeto da antecipação;
(ii) da ausência de valoração da prova. Caberá ao juiz de eventual processo em que a
prova seja usada valorá-la. Mas pode haver dificuldades na precisa definição daquilo que
concerne à admissibilidade (ou regularidade) e o que se refere à avaliação da prova.
Tome-se, por exemplo, o art. 447, § 4.º: o juiz apenas admitirá a ouvida da testemunha
menor, impedida ou suspeita, se "necessário" (v. n. 16.3, acima). Tal necessidade é definida
pela possível relevância da prova para uma mais clara reconstrução dos fatos. Ou seja,
para admitir tal prova, o juiz precisa avaliar o resto do material probatório já existente.
Isso é inviável na produção antecipada. Em casos como esse, o juiz da antecipação deve
privilegiar a ampla admissibilidade da prova - cabendo ao juiz do processo em que se
venha a pretender usá-la desconsiderá-la, se for o caso.
19.2.10. A decisão final - Efeitos, recorribilidade e estabilidade
A sentença que encerra o procedimento (art. 203, § 1.º) declara a regularidade da prova
produzida e constitui (pré-constitui) a prova para eventual uso subsequente. Não se valora
a prova produzida nem se emite nenhum juízo sobre o mérito do litígio para cuja
composição a prova poderá ser depois utilizada. No eventual processo subsequente, o juiz
dará à prova o seu valor. Sempre mediante decisão fundamentada, poderá até determinar
seu complemento, esclarecimento ou, quando possível e estritamente necessário, sua
repetição.
Proíbe-se recurso contra qualquer decisão no processo de produção antecipada, seja
interlocutória, seja a própria sentença - exceção feita à decisão que indefere integralmente
a antecipação probatória (art. 382, § 4.º). O duplo grau de jurisdição não é, em si mesmo,
garantia constitucional (v. cap. 23). Pode não ser previsto em lei, desde que isso não
implique modelo desarrazoado de processo, ofensivo à garantia do due process (CF/1988,
art. 5º, LIV). Pareceu ao legislador do CPC/2015 ser esse o caso da medida de antecipação
de prova, dada a limitação de seu objeto. Todavia, caberá mandado de segurança contra as
decisões que violem direito líquido e certo de qualquer das partes (CF/1988, art. 5.º, LXIX;
Lei 12.016/2009, art. 5º, II).
Não há coisa julgada quanto ao mérito da (possível) pretensão principal, pois nem cabe
pronunciamento sobre ela. Mas também a própria regularidade da prova, atestada na
sentença, é passível de revisão em futuro processo em que aquela venha a ser usada. A
prova antecipada não é meramente provisória. Porém, é incompleta: a aferição definitiva
de sua validade e sua valoração apenas poderão ocorrer no concreto contexto do processo
em que ela venha a ser utilizada. Por outro lado, quem pediu e obteve a antecipação da
prova não pode repetir a medida de produção antecipada, senão para outro objeto
probatório ou para o desenvolvimento de outros meios probatórios. Falta interesse
processual para tal reiteração. Já se a medida de antecipação foi indeferida, não há o que
impeça nova demanda, dada a sumariedade da cognição que ampara o pronunciamento
denegatório.
19.2.11. O destino dos autos e o emprego da prova depois do fim do processo
A prova produzida antecipadamente não é do exclusivo interesse do autor da medida.
O requerido também tem o direito de utilizá-la - e não apenas quando tiver também
requerido provas nos termos do art. 382, § 3.º. Vigora o princípio da comunhão da prova
(v. n. 13.4.2).
Por isso, depois de encerrado o processo de antecipação, os autos apenas são entregues
ao autor depois de permanecerem em cartório por pelo menos um mês, para extração de
cópias e certidões por interessados (réus ou terceiros).
É possível que alguém que não participou do processo de produção antecipada use a
prova ali obtida contra alguma ou ambas as partes de tal processo. Isso é possível desde
que aquele contra quem a prova vai ser utilizada tenha participado da produção
probatória em regime de contraditório. Mas o terceiro eventualmente pode não ter acesso
aos autos da produção antecipada nos trinta dias que antecedem sua entrega ao autor. Se
já tiver havido a entrega dos autos, o terceiro poderá requerer que eles sejam exibidos
pelo autor da antecipação (v. n. 19.3, a seguir), que só se eximirá de exibi-los nas hipóteses
do art. 404. Aliás, o mesmo direito à exibição tem o requerido da produção antecipada, se
por qualquer razão deixar de obter cópias e certidões no prazo de trinta dias.
Por outro lado, se o processo de antecipação da prova seguir a forma eletrônica, não há
razão para não se manter no ofício judicial o arquivo eletrônico dos autos - sem prejuízo
de o autor receber cópia eletrônica ou impressa dos autos. Afinal, a única razão para os
autos serem entregues ao autor é diminuir o volume de material arquivado em cartório -
problema que não se põe com os autos eletrônicos.
19.3. Exibição de documentos
19.3.1. Exibição incidental e exibição autônoma
Como visto, em regra, o requerimentoe a produção da prova documental são
simultâneos: a própria parte já junta o documento que pretende utilizar como prova (v. n.
15.9, acima). A exceção ocorre quando o documento não está em poder de quem requer
sua produção, mas sim com a parte adversária ou com terceiro.
Nesse caso, haverá a necessidade de se obter, da outra parte ou do terceiro, a exibição
do documento.
Quando a pretensão de exibição do documento for exercida independentemente de um
processo em curso, como expressão do direito autônomo à prova, ela será processada na
forma da produção antecipada de prova, como visto acima.
Nesse tópico, vai se examinar a exibição como incidente interno a um processo em
curso - e não como medida autônoma.
19.3.2. Documento ou "coisa"
As regras em questão tratam da "exibição de documento ou coisa". Mas, como já visto
no cap. 15, em termos processuais, qualquer objeto corpóreo (coisa) que traga em si
alguma forma de representação de um fato, constitui prova documental. Portanto,
"documento" já abrange "coisa" - basta referir-se ao primeiro para que esteja incluído o
segundo.
Por outro lado, tanto o documento quanto seu modo de exibição podem ser eletrônicos.
O art. 13 da Lei 11.419/2006 estabelece expressamente que o magistrado poderá
determinar que sejam realizados por meio eletrônico a exibição e o envio de dados e de
documentos necessários à instrução do processo.
19.3.3. Fundamentos do dever de exibir o documento
Tanto as partes quanto terceiros têm o dever de colaborar com o desenvolvimento da
atividade jurisdicional - de que a instrução probatória é um dos aspectos essenciais. Nos
termos do art. 378, "ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para
o descobrimento da verdade".
O art. 379 prevê que incumbe à parte praticar o ato que lhe for determinado pelo juiz -
o que abrange exibir documentos. É bem verdade que esse dispositivo também contém
uma ressalva: "preservado o direito de [a parte] não produzir prova contra si própria".
Mas como se verá adiante, os motivos pelos quais a parte pode recusar-se legitimamente a
exibir o documento são bastante restritos.
Ao terceiro impõe-se explicitamente o dever de "exibir coisa ou documento que esteja
em seu poder" (art. 380, II).
19.3.4. A distinção entre a exibição de documento pela parte e por terceiro
Mas o dever não se põe em termos exatamente idênticos para a parte e para o terceiro.
Melhor dizendo, em relação à parte, o dever - indiscutivelmente presente - faz-se ainda
acompanhar de um ônus de exibição do documento, como se verá adiante. Além disso,
para a parte, os limites do dever e do ônus de exibição são também subordinados à
conduta por ela adotada no processo (art. 399, II).
Por outro lado, em termos processuais e procedimentais, há uma diferença
significativa derivada do fato de que, quando o documento está em poder do terceiro, a
pretensão de sua exibição volta-se contra alguém que ainda não participa da relação
processual e, portanto, não integra o contraditório ali desenvolvido.
Assim, o incidente de exibição assume contornos parcialmente distintos, conforme a
pretensão se volte contra alguém que já é parte no processo ou é terceiro.
19.3.5. Legitimidade
A legitimidade ativa é da parte que pretende produzir a prova documental, mas não
está na posse do documento. Destaque-se: o legitimado ativo sempre já detém a condição
de parte em um processo em curso (pois, reitere-se, estamos aqui tratando da exibição
incidental de documento).
Pode ser a parte principal e originária ou qualquer terceiro interveniente que assumiu
a condição de parte (chamado ao processo, denunciado à lide, assistente litisconsorcial...).
O assistente simples, diante da inércia do assistido, pode requerer a exibição de
documento. Mas desaparece sua legitimidade se houver expressa manifestação do
assistido contrária à exibição (v. vol. 1, n. 19.5.1.1). O amicus curiae não assume a condição
de parte - e não detém, portanto, legitimidade para requerer a exibição. O que ele pode
fazer é apontar ao juiz a existência de um documento relevante, a fim de que esse,
reputando tal prova imprescindível à instrução da causa, determine de ofício sua exibição
(art. 396).
A legitimidade passiva recai sobre aquele que supostamente estiver na posse do
documento cuja exibição se requer - seja ele parte do processo em curso, seja terceiro.
Quando já é parte no processo, o legitimado passivo tanto pode ser, em relação à
demanda principal, adversário quanto litisconsorte daquele que está requerendo a
exibição. Pense-se no caso de litisconsórcio simples, em que os interesses dos litisconsortes
são divergentes. Eventualmente, um dos litisconsortes detém documento que não lhe
serve como prova, ou até lhe é desfavorável, mas que interessa a outro dos litisconsortes.
Nessa hipótese a exibição poderá ser requerida por um dos litisconsortes contra o outro.
19.3.6. Procedimento do pedido de exibição dirigido à parte
O juiz detém o poder de ordenar a qualquer das partes no processo a exibição de
documento ou coisa até mesmo de ofício (art. 396).
Mas quando o pedido de exibição é feito por uma das partes em face de outra, cabe-lhe
(i) descrever, individualizar, do modo mais completo possível, o documento ou coisa; (ii)
indicar a finalidade da prova, apontando os fatos determinados, relevantes e
controvertidos que poderão vir a ser comprovados pelo documento coisa a exibir-se; (iii)
expor as circunstâncias que levam o requerente a afirmar que o documento ou a coisa
existe e se acha em poder da parte contrária (art. 397). Esses aspectos são essenciais para o
juiz aferir o cabimento da prova, a existência do dever (e ônus) de exibição e as
consequências de eventual descumprimento de tal dever (e ônus).
O requerido será intimado para em cinco dias apresentar o documento ou responder
(art. 398). A intimação será feita na pessoa de seu advogado, constituído nos autos. Mas a
intimação terá de ser pessoal ao requerido, se ele for revel no processo (mesmo nesse
caso, o requerimento de exibição pode justificar-se, se não tiver ocorrido o efeito principal
da revelia, sendo, por isso, necessária a produção de provas).
Na resposta que apresentar, o requerido negar-se a exibir o documento sob o
fundamento de que o documento não existe ou que não está consigo ou que, embora
exista e esteja consigo, ele não tem o dever nem o ônus de exibi-lo.
Se necessária, haverá instrução probatória a respeito de qualquer desses aspectos, e
em seguida o juiz decidirá o incidente.
19.3.7. Procedimento do pedido de exibição dirigido ao terceiro
O requerimento de exibição de documento em poder de terceiro terá basicamente o
mesmo conteúdo do requerimento formulado contra a parte (art. 397).
O terceiro será citado e terá quinze dias para apresentar desde logo o documento ou se
defender (art. 401).
Quanto à defesa do terceiro, terá basicamente os mesmos fundamentos antes
indicados, relativamente à exibição requerida contra a parte. Ou seja, ele poderá negar
que o documento exista ou que esteja com ele ou ainda negar que tenha o dever de exibi-
lo.
Em qualquer desses casos, se necessário, proceder-se-á à instrução probatória,
inclusive com designação de audiência especialmente destinada ao incidente. Nessa
audiência, poderão ser ouvidas as partes do processo originário, o requerido no incidente
de exibição, testemunhas etc. (art. 402).
Em seguida, o juiz decidirá o incidente.
19.3.8. O ônus da prova
Caso o requerido (seja ele parte no processo, seja terceiro) negue que o documento
exista, caberá ao requerente provar que tal negativa é falsa. O mesmo se diga quando o
requerido defender-se afirmando que não está na posse do documento. O art. 398,
parágrafo único, é explícito nessa atribuição do ônus, ao tratar do requerimento em face
da parte. Mas é essa também a diretriz no incidente de exibição envolvendo terceiro.
Em síntese,é ônus do requerente da exibição provar que o documento existe e está em
poder do requerido. Esse ônus pode ser atenuado por presunções: em certos casos, todas
as circunstâncias concretas permitem ao juiz presumir que o documento de fato existe e
está em poder do requerido.
Já quando o requerido (seja parte ou terceiro) defender-se afirmando que não tem o
dever de apresentação do documento, será ônus seu comprovar os fatos que embasariam
tal exclusão do dever (v. a seguir).
19.3.9. Ausência do dever de exibição
Como dito, o requerido pode, embora admitindo a existência e posse do documento,
recusar-se a apresentá-lo sob o argumento de que não está obrigado a tanto.
As hipóteses em que a recusa pode vir a ser considerada legítima estão previstas no art.
404. Tanto a própria parte quanto o terceiro escusam-se de exibir o documento se:
(I) for concernente a negócios da própria vida da família, ou seja, documento atinente à
intimidade familiar;
(II) sua apresentação puder violar dever de honra;
(III) sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus
parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau, ou lhes representar perigo de ação
penal (note-se que o simples risco de produzir prova contra si mesmo, no processo civil,
não é motivo legítimo para a escusa de exibir);
(IV) sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo respeito, por estado ou
profissão, devam guardar segredo (p. ex., sigilo médico, dever de confidencialidade do
árbitro etc.). Nesse caso, não se trata apenas de ausência de dever de exibir ou de direito
de não exibir, mas de um dever de não tornar público o documento;
(V) subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz,
justifiquem a recusa da exibição. Essa regra confere caráter exemplificativo ao elenco de
hipóteses ora em exame. Confere-se ao juiz o poder-dever de, à luz das circunstâncias
concretas, identificar outras situações em que a não exibição é legítima. Não se trata de
atividade discricionária do juiz (no sentido de pautada em simples razões de conveniência
e oportunidade). O juiz terá de fundamentadamente demonstrar que as razões
justificadoras da não exibição são concretamente mais relevantes, em termos jurídico-
axiológicos, do que os bens jurídicos que seriam tutelados pela determinação de exibição
(art. 489, § 2.º);
(VI) houver qualquer outra disposição legal que justifique a recusa da exibição.
Seja como for, a possibilidade de recusa tem limites. Nos termos do art. 399, a recusa
será inadmissível:
(a) se houver a obrigação legal de o requerido exibir (p. ex., o dever de exibição dos
livros societários ao sócio);
(b) se o documento foi mencionado pelo próprio requerido no processo, como meio de
prova a seu favor. Repudia-se o venire contra factum proprium (i.e., alguém voltar-se
contra uma anterior conduta sua). Se o próprio requerido já invocou o documento em
questão sem seu favor, não pode negar-se a apresentá-lo, quando o adversário o requer.
Essa é uma hipótese que não se põe para o terceiro, que, afinal, não vinha antes
participando do processo;
(c) se o documento for comum às partes (ex. instrumento de contrato realizado entre o
requerido e o requerente).
Em todos os casos, o juiz terá de ponderar, em concreto, os bens jurídicos em conflito
(i.e, os que seriam atingidos pela exibição e os que seriam afetados pelo impedimento de
produção dessa prova), para definir a solução mais proporcional e razoável, mediante
decisão fundamentada (art. 489, § 2.º).
A ponderação dos valores envolvidos pode inclusive conduzir a soluções
intermediárias, tal como a determinação de exibição parcial do documento em cartório
(art. 404, parágrafo único).
19.3.10. Consequências da indevida recusa de exibição pela parte
O juiz determinará a exibição do documento pela parte se: (a) ela não houver
formulado defesa alguma; (b) ou se, tendo formulado, ela tiver sido rejeitada (p. ex.,
constatou-se que documento existe, está na posse do requerido e esse não tem nenhum
fundamento para legitimamente negar-se a exibi-lo).
Não sendo mesmo assim apresentado o documento pela parte, passará a haver
presunção de veracidade dos fatos que o requerente pretendia provar através do
documento (art. 400).
Trata-se de presunção relativa, a ser considerada no contexto do material instrutório.
Comporta prova em contrário (n. 13.11, acima).
Aliás, não apenas ela é relativa, como ainda é provisória. Imagine-se que a parte nega-
se a exibir o documento, e o juiz considera ilegítima a recusa, surgindo a presunção de que
os fatos são verdadeiros. Posteriormente, a parte requerida volta atrás (talvez até em face
dessa consequência negativa da presunção) e apresenta tardiamente o documento. O
documento deverá ser considerado na decisão do mérito, se houver chegado a tempo para
tanto. A decisão baseada na efetiva prova é muito mais consistente e desejável do que a
fundada em simples presunção. E isso se fará sem prejuízo de eventualmente se condenar
o requerido por sua litigância de má-fé.
A consequência da presunção de veracidade enfatiza a dimensão de ônus em que se
constitui, para a própria parte do processo, a exibição do documento. Sob essa
perspectiva, se a parte não exibe, ela não seria punida. Apenas sofreria uma consequência
processual que lhe seria desfavorável.
Essa dimensão não está presente na exibição por terceiro, como se vê a seguir.
Mas exibir o documento não é apenas um ônus para a parte. É também um dever -
integrante do dever geral de cooperar com o desenvolvimento da atividade jurisdicional
(art. 6.º) e especificamente com a instrução probatória (art. 378). Bem por isso, o Código
não se limita a estabelecer a presunção de veracidade como consequência da indevida
recusa de exibição.
Aliás, em muitos casos concretos, a presunção é inaplicável ou inócua: há situações em
que não se pode predefinir com precisão o que o documento seria apto a comprovar; há
outros casos em que o acesso ao documento não é diretamente relevante para a
comprovação de um fato, mas sim para a identificação de outras fontes de prova
(documentos, testemunhas etc.), que, essas sim, poderão comprovar os fatos. Nessas
hipóteses, é inviável a aplicação da presunção de veracidade "dos fatos que a parte
pretendia provar"... Pode haver também casos de litisconsórcio unitário, em que o
requerimento de exibição é dirigido a apenas um dos litisconsortes, que está na posse do
documento. Diante de sua recusa ilegítima em exibir, não haverá como aplicar a
presunção de veracidade a todos os litisconsortes (art. 117) nem como imputá-la
destacadamente apenas a ele. Vários outros exemplos dessa ordem poderiam ser dados.
Assim, mais do que a presunção - ou independentemente dela - autoriza-se o emprego
de mecanismos sancionatórios destinados a fazer com que a parte cumpra o dever de
exibição (art. 400, parágrafo único). O juiz poderá expedir ordem (pronunciamento
mandamental) para o requerido, que, se descumprida, implicará inclusive a configuração
de crime de desobediência; poderá cominar medidas coercitivas (multa, p. ex.) ou sub-
rogatórias (p. ex., busca e apreensão, pelo oficial de justiça) - e assim por diante.
19.3.11. Consequências da indevida recusa de exibição por terceiro
Caso provado que o documento existe e está com o terceiro e que a recusa dele em
exibi-lo é ilegítima, incide o art. 403. O terceiro recebe prazo adicional de cinco dias para
exibir o documento, ficando o requerente condenado a pagar as despesas geradas pelo
incidente.
Se, mesmo depois desse prazo, ele insiste em não exibir o documento, caberá a sua
busca e apreensão, inclusive com o apoio de força policial, se necessário. Além disso, o
terceiro deverá receber a ordem judicial de exibição, que, se descumprida, poderá
configurar crime de desobediência. Caberá, de resto, o emprego de meios coercitivos,
como a multa diária, por exemplo(art. 403, parágrafo único).
De resto, e ainda que o art. 403 não o indique, o terceiro poderá até ser
responsabilizado civilmente, tendo de indenizar o prejudicado pelos danos gerados pela
impossibilidade de utilização do documento no processo.
Mas obviamente não se extrairá da recusa do terceiro nenhuma presunção de
veracidade do fato que se pretendia provar documentalmente. Não haveria sentido em
uma das partes ser prejudicada pela conduta do terceiro.
19.3.12. Natureza do incidente e de sua decisão final - Recorribilidade
A questão da natureza do incidente de exibição e do pronunciamento que o resolve foi
sempre controvertida sob a égide do CPC/1973. Doutrina e jurisprudência controverteram
intensamente quanto ao cabimento de apelação ou agravo de instrumento contra a
decisão do incidente.
O CPC/2015 parece ter empregado disposições mais claras para a definição do tema.
Se o requerimento de exibição volta-se contra uma parte do processo, tem-se simples
incidente probatório com disciplina específica. Não há nova ação nem novo processo, mas
apenas uma disputa entre as partes a respeito da produção de uma prova. O
pronunciamento que o resolve consiste em decisão interlocutória (art. 203, § 2.º).
Quando o requerimento de exibição é dirigido contra terceiro, tem-se o exercício de
uma ação probatória, ainda que em caráter incidental. O terceiro, a partir de então, torna-
se parte dessa demanda exibição - ainda que se mantenha como terceiro em relação à
ação principal. O terceiro é "citado", passa a integrar o processo, exercendo o contraditório
relativamente à ação probatória. Mas não há um novo processo (e, nesse ponto, o
CPC/2015 parece ter adotado posição diversa da que se extraía do diploma anterior). Há
uma ação incidental ao processo em curso. O terceiro, requerido na demanda probatória,
intervém no processo, ainda que limitadamente a tal ação. Logo, o pronunciamento que
resolve o pedido de exibição não constitui sentença. Não há o fim da fase cognitiva nem do
processo como um todo. Trata-se também de decisão interlocutória, ainda que resolva o
mérito da ação de exibição (art. 203, § 2.º). Ou seja, é uma decisão interlocutória de mérito
(figura hoje, de resto, admitida em termos gerais no art. 356 - v. n. 12.5, acima).
Em qualquer dos casos - volte-se o requerimento contra uma parte do processo, volte-se
contra terceiro - a decisão final do incidente é passível de agravo de instrumento, nos
termos do art. 1.015, VI.
19.4. Arguição de falsidade
2
19.4.1. Falsidade material e falsidade ideológica
Falsa é toda prova que não retrata a realidade (i.e., aquilo que melhor se pode apurar
como tal).
Como visto no cap. 15, documento é um objeto sensorialmente perceptível (fato
representativo) que traz em si a representação de um fato pretérito (fato representado). O
documento é falso quando o fato nele representado não corresponde à realidade.
A não correspondência à realidade pode derivar de um defeito na própria
representação do fato (art. 427, parágrafo único, I). O documento traz uma representação
que não é verdadeira (p. ex., afirma que é solteiro alguém que é casado; certifica que
estava num dado lugar, hora e data alguém que lá não estava nesse momento etc.). Essa é
a falsidade ideológica.
Em outros casos, o defeito está no próprio fato representativo, no próprio documento,
que foi adulterado (art. 427, parágrafo único, II): apagou-se a original afirmação de que
alguém era casado, fazendo-se agora constar que ele é solteiro; rasurou-se e modificou-se a
data em que se certificava a presença de uma pessoa em dado lugar etc. É a falsidade
material.
19.4.2. Objeto e função da arguição de falsidade
Tradicionalmente, é a essa última que se destina o mecanismo ora examinado. O
incidente de arguição de falsidade documental presta-se a averiguar a existência de
deturpações, rasuras, adulterações, deteriorações materiais no documento. Por isso, sua
instrução probatória cingir-se-ia ao "exame pericial" (art. 432). A ideia é de que a falsidade
ideológica deve ser provada por qualquer meio no normal curso da instrução probatória.
Mas essa concepção não é pacífica. A tese tradicional pressupõe que todo documento
seria juntado aos autos na fase postulatória - o que daria à parte interessada sempre a
chance de provar a falsidade ideológica na fase instrutória. Todavia, a prova documental
pode ser produzida depois disso, mesmo em fase recursal - seja em casos expressamente
autorizados em lei (art. 435), seja pela tendência jurisprudencial de atenuação da
preclusão em matéria probatória (v. n. 15.9). Nessa hipótese, há de assegurar-se à parte
interessada a oportunidade de se provar inclusive a falsidade ideológica do documento.
Daí a tendência não só de se admitir o incidente de arguição de falsidade ideológica, como
ainda não se restringir sua instrução probatória à perícia. Assim, embora o art. 432 aluda
apenas à perícia, o 431 sugere o contrário, ao referir-se aos "meios com que provará o
alegado".
Seja como for, a arguição de falsidade tem por resultado possível apenas o
reconhecimento de que o documento é falso ou a negativa de tal reconhecimento. Não se
presta a desconstituir consequências jurídico-materiais de manifestações de vontade que
tenham veiculado ou se amparado em falsidade ideológica. Para tanto, é preciso uma
demanda anulatória própria, a ser proposta autonomamente ou, se presentes os requisitos
(p. ex., da reconvenção), em caráter incidental.
O incidente de arguição de falsidade é aplicável a documento de qualquer espécie,
escrito ou não. É possível a inclusive a arguição da falsidade do documento produzido
eletronicamente ou digitalizado (CPC/2015, arts. 439-441; Lei 11.419/2006, art. 11, § 2.º).
Mas tal incidente cinge-se à prova documental. A falsidade de provas de outra natureza
deve ser demonstrada, por todos os meios, no curso da instrução probatória. Caso
excepcionalmente se admita a produção de prova oral ou pericial depois de fase
instrutória, deve-se igualmente se dar à parte contra quem se utilizará tal prova o direito
de demonstrar-lhe a falsidade, por todos os meios.
19.4.3. Natureza - A eventual formulação de ação declaratória incidental
A arguição de falsidade também pode ser objeto de uma demanda principal, geradora
de um processo próprio. Tem-se nesse caso uma ação declaratória autônoma, respaldada
no art. 19, II. Mas, em tal hipótese, a medida não se revestirá de nenhuma especialidade.
Seguirá as regras do procedimento comum. Já no presente tópico, examinam-se se regras
peculiares da arguição de falsidade formulada no próprio curso do processo em que se
pretende utilizar como prova o documento que é objeto da arguição.
Arguida a falsidade, dentro do processo e no momento oportuno, instaura-se um
incidente (i.e., um episódio procedimental específico, dentro do processo em curso)
destinado à averiguação da veracidade do documento. Não há autuação em apartado. A
arguição é processada nos próprios autos em que se desenvolve o resto do processo.
Nesse caso, em princípio, a arguição será resolvida como simples questão interna ao
processo, meramente instrumental à decisão final. Ou seja, caso repute o documento
autêntico ou falso, isso consistirá em mera avaliação da prova, como outra qualquer que
se faz no processo. Tal juízo ficará restrito à fundamentação da decisão sobre o mérito da
causa.
Diferentemente, no CPC/1973, o incidente de falsidade sempre consubstanciava uma
ação declaratória incidental (CPC/1973, art. 4.º, II, c/c art. 5.º). No Código atual, cabe à parte
escolher se fará simples arguição, a ser dirimida incidentalmente na motivação da
sentença, ou se requererá que a questão da falsidade seja decidida em caráter principal
(arts. 430, parágrafo único, e 433). Se a parte não o requerer expressamente, a questão
será resolvida apenas de modo meramente instrumental.
Já se houver o requerimento expresso deseu enfrentamento como questão principal, a
arguição de falsidade terá a natureza de ação declaratória incidental sobre a veracidade
do documento. A formulação dessa demanda não exige quaisquer requisitos formais
adicionais. Basta o inserir-se na arguição pleito nesse sentido.
Todavia, quando arguida a falsidade no curso da execução ou do cumprimento de
sentença (e não em embargos ou impugnação ao cumprimento), não é possível requerer o
julgamento da questão em caráter principal, pois não haverá, nesses processos, nenhum
julgamento de mérito.
19.4.4. Sede e fase de cabimento
O incidente de arguição é admissível em todas as fases processuais e graus de
jurisdição. Mesmo no STF e STJ, quando a futura decisão deva levar em conta a prova
documental, cabe a arguição.
É cabível também no processo de execução e no de embargos de executado, nas fases
de liquidação, de cumprimento de sentença e de impugnação ao cumprimento, bem como
no processo instaurado apenas com pedido de tutela provisória antecedente.
Cabe ainda em procedimentos especiais, desde que neles a instrução não seja limitada
à prova escrita (ex.: inventário, art. 612; Mandado de Segurança, Lei 12.016/2009 etc.).
19.4.5. Momento
Se o documento é juntado com a inicial (ou em qualquer momento antes da citação), a
arguição de sua falsidade deve fazer-se na contestação. Se juntado na contestação, a
arguição deve ser formulada dentro da réplica (art. 430). Se juntado na inicial executiva
ou no requerimento de cumprimento de sentença, a arguição deve fazer-se na petição de
embargos de executado e de impugnação ao cumprimento, respectivamente. Deve ser
formulada logo na petição inicial da oposição, se o documento já está nos autos do
processo principal quando o opoente propõe sua demanda. Nos demais casos, cabe arguir
a falsidade em quinze dias contados da intimação da juntada (art. 430). Aplicam-se a esse
prazo os arts. 180, 183, 186 e 229, quando for o caso. Ele também pode ser ampliado pelo
juiz, a requerimento da parte e em decisão fundamentada, em vista da quantidade ou
complexidade dos documentos (art. 437, § 2.º).
Mas a ausência de arguição tempestiva não imuniza o documento de ter sua
veracidade questionada. A falsidade da prova enseja até a rescisão da coisa julgada (art.
966, VI) e pode configurar litigância de má-fé (arts. 77 e 80) e crime (CP, art. 296 e ss.). Deve
ser averiguada mesmo de ofício pelo juiz no curso do processo (arts. 139, III, e 370). Logo,
a parte que deixa de arguir tempestivamente a falsidade apenas perde o direito à
instauração do incidente específico, com instrução própria e prioritária (art. 432), e a
possibilidade de requerer a resolução da questão em caráter principal (arts. 430,
parágrafo único, e 433). Mas pode, a todo tempo, enquanto o processo admitir juízos de
fato, apontar e provar a falsidade.
19.4.6. Legitimidade e interesse processual
O incidente de falsidade pode ser instaurado por iniciativa: (a) de qualquer das partes
do processo (inclusive o opoente, que é autor da ação de oposição - art. 682 e ss.); (b) do
Ministério Público (mesmo quando atua apenas como custos legis - mas, nessa hipótese,
pode apenas suscitar o incidente e, não, requerer o julgamento da questão em caráter
principal); (c) de terceiros que, ao intervir, assumiram a condição de parte (assistente
litisconsorcial, denunciado, chamado ao processo e o trazido ao processo por força da
desconsideração da personalidade jurídica); (d) do assistente simples, no caso de inércia
do assistido, mas não na hipótese em que esse se manifesta contrariamente à arguição. O
amicus curiae terá seus poderes concretamente definidos na decisão que o admitir no
processo (art. 138, § 2.º), mas seus poderes jamais equivalerão aos de parte - nem
subsidiariamente -, não estando legitimado para arguir falsidade documental. Contudo,
ele poderá fundamentadamente suscitar a dúvida quanto à veracidade do documento,
passível de investigação ex officio pelo juiz.
A legitimidade passiva recai sobre a parte que tende a beneficiar-se da prova gerada
pelo documento falso. Não é necessariamente quem o juntou aos autos, pois ele pode ter
sido juntado pelo juiz de ofício, por auxiliar do juízo, por terceiro, pela própria parte
arguente da falsidade (v. n. 19.2.6, acima).
Não há interesse processual para a arguição de falsidade quando o documento é
irrelevante para a solução da causa. Por outro lado, não se pode descartar que a própria
parte que juntou o documento tenha interesse jurídico de arguir-lhe a falsidade (p. ex.: o
documento por ela juntado contém partes que a favorecem e outras que a prejudicam, e
ela pretende demonstrar que são falsas apenas essas últimas).
19.4.7. Competência
Em princípio, a competência recai sobre o mesmo órgão jurisdicional perante o qual
está tramitando o resto do processo. Mas se o documento é juntado depois de publicada a
sentença (p. ex., nas razões ou contrarrazões de apelação), a arguição, ainda quando
apresentada em primeiro grau, será de competência do tribunal (por força da regra do art.
494).
Quando for de competência do tribunal, caberá ao relator presidir seu processamento
(art. 932, I). Ele atua por delegação do colegiado competente, de modo que suas decisões
no curso do incidente são passíveis de agravo interno (art. 1.021). Por outro lado, se
necessário, a coleta de prova pode ser requisitada ao juiz de primeiro grau.
19.4.8. Forma do requerimento de arguição
A arguição não se reveste de nenhuma especial formalidade, seja quando formulada
em peça própria, seja quando inserida em outra petição (contestação, réplica etc.). Basta
ao arguente: (a) apontar o documento ou parte dele cuja falsidade argui-se; (b) expor os
motivos pelos quais reputa haver falsidade (não se admite arguição genérica de falsidade);
(c) especificar os meios de prova (v. n. 19.4.2, acima); e (d) eventualmente pleitear que a
questão seja resolvida em caráter principal (arts. 430, parágrafo único, e 433 - v. n. 19.4.13,
adiante).
19.4.9. A participação do arguido
Instaurado o incidente de falsidade - seja em que fase processual for e haja ou não
pedido de resolução da questão em caráter principal - o processamento da arguição é
prioritário. As providências previstas no art. 432 terão preferência, de modo que os
demais atos do processo, ressalvados os urgentes, serão deixados momentaneamente em
segundo plano. Ou seja, formulada a arguição, prontamente se ouvirá o réu e se produzirá
a prova para verificação da veracidade do documento. O CPC/1973 chegava a aludir à
"suspensão do processo". Mas era "suspensão imprópria", pois não sustava o processo
integralmente, apenas retardando seu curso (v. vol. 1, n. 25.2.2). Por isso, o CPC/2015 não
fala em "suspensão". De resto, o poder de modulação procedimental concedido ao juiz (art.
139, VI) autoriza-o a motivadamente atenuar a tramitação prioritária da arguição de
falsidade.
Dado o caráter incidental da medida, a intimação para resposta do arguido faz-se na
pessoa do advogado da parte, mesmo quando o arguente requerer o julgamento como
questão principal (ação incidental - n. 19.4.3, acima). Mas se o arguido for revel, sem
advogado constituído nos autos, relativamente à demanda principal, e tiver sido
formulada ação declaratória incidental de falsidade (suponha-se, p. ex., que não se
configurou o efeito principal da revelia e o documento foi trazido de ofício aos autos),
caberá nova citação pessoal da própria parte.
O arguido tem prazo de quinze dias para apresentar resposta. A ele se aplicam a regras
de prazo em dobro dos arts. 180, 183, 186 e 229, quando for o caso (v. vol. 1, n. 30.7). Se a
documentação - e a consequente aferição da veracidade - for extensa ou complexa, o juiz
pode ampliar o prazo, em decisão motivada (art. 139, VI).
Se tiver sido formulada ação declaratória incidental de falsidade, a ausência de
resposta do arguido caracteriza revelia relativamentea tal demanda. Mas não ocorrerá
necessariamente a presunção de veracidade dos fatos narrados pelo autor (art. 344 - v. n.
10.4): em regra, a tal presunção contrapor-se-á outra, a presunção de veracidade do
documento. Por isso, independentemente de haver efetiva resposta do arguido, o art. 432,
caput, manda o juiz promover de ofício o exame pericial. Por outro lado, se o arguido
estiver representado por advogado no processo, ainda que revel no que tange à arguição,
seu patrono será intimado dos atos desse incidente.
19.4.10. Ônus da prova da falsidade
Em princípio, o ônus de provar a falsidade recai sobre o arguente (arts. 373, I, e 429, I).
É possível sua redistribuição judicial ou convencional (art. 373, §§ 1.º a 4.º). Mas não se
pode afirmar que, como cumpre ao juiz determinar de ofício o exame pericial (art. 432),
não se poria ônus da prova no incidente de falsidade.
Por um lado, quando se tratar de falsidade ideológica, outros meios de prova podem
ser necessários. Por outro, mesmo na arguição de falsidade material, a perícia pode ser
inconclusiva ou impossível - hipótese em que o juiz considerará o ônus probatório como
"regra de julgamento" (v. n. 13.4.8, acima), decidindo contrariamente ao onerado.
19.4.11. A prova pericial
Como já indicado, o juiz deve determinar de ofício a realização de exame pericial do
documento (art. 432, caput). A regra justifica-se no âmbito da arguição de falsidade
material - aferível precipuamente por perícia. Mas não faz sentido na hipótese de
falsidade ideológica.
As partes podem escolher consensualmente o perito que fará o exame, observados os
limites e condições do art. 471 (v. n. 17.5, acima).
Em qualquer caso, não se descarta a realização de uma segunda perícia, se a primeira
for inconclusiva ou pouco satisfatória (art. 480 - v. n. 17.8.8, acima).
Se a aferição da adulteração do documento independer de conhecimento técnico
especializado, for impraticável ou for desnecessária por conta de outra prova colhida
antes no processo (p. ex., confissão da parte), não se fará exame pericial (art. 464, § 1.º).
Ainda, se a verificação da veracidade documental revestir-se de menor complexidade,
de ofício ou a pedido das partes, a perícia poderá ser substituída pela prova técnica
simplificada, com a simples inquirição de um especialista (art. 464, §§ 2.º a 4.º - v. n. 17.2,
acima).
Ou, então, o exame pericial pode ainda ser dispensado se ambas as partes trouxerem,
com a arguição e a resposta, laudos técnicos e documentos que o juiz repute suficientes
para elucidar o caso (art. 472 - v. n. 17.2, acima).
19.4.12. A retirada do documento dos autos
Se o próprio arguido foi quem trouxe o documento para os autos, ele pode propor-se a
retirá-lo e assim encerrar o incidente, sem produção probatória e decisão sobre a alegação
de falsidade. Não se trata de confissão da falsidade nem de reconhecimento da
procedência do pedido do arguente - hipóteses em que o juiz julgaria procedente a
arguição. O arguido apenas desiste da produção da prova documental.
No CPC/1973 explicitava-se a necessidade de o arguente concordar com a retirada do
documento. No silêncio do CPC/2015, ela é necessária? Se com a arguição formulou-se ação
declaratória incidental de falsidade (art. 430, parágrafo único), a concordância do
arguente é indispensável: ele pode preferir levar adiante o incidente para obter
declaração de falsidade com coisa julgada material, que lhe servirá inclusive em outros
litígios ou processos em face do adversário. Nessa hipótese, se a arguição foi formulada
em litisconsórcio, é preciso o assentimento de todos os litisconsortes. Por outro lado, se
não houve o pedido de resolução da questão de falsidade em caráter principal, a
concordância do arguente é em princípio prescindível, uma vez que ele não obterá com a
decisão meramente incidental de falsidade mais do que conseguiria com a retirada do
documento: sua simples não utilização como meio de prova naquele processo. Mas não
cabem respostas absolutas. Suponha-se que uma parte do documento, não impugnada
quanto à veracidade, favoreça o impugnante. Nessa hipótese, está também configurado
seu interesse jurídico para opor-se ao desentranhamento.
E o juiz, em face do consenso entre as partes na retirada do documento, pode insistir
em sua permanência nos autos e na realização da perícia? Ainda que não se possa adotar
solução radicalmente privatista, deve-se, na medida do possível, preservar a liberdade das
partes na busca de um procedimento mais simples e racional, toda vez que isso não
prejudicar a qualidade do resultado do processo nem lesar terceiros.
Daí podem ser definidos alguns vetores: (a) o juiz pode reputar o documento
indispensável para a formação do seu convencimento e, diante da indefinição sobre sua
falsidade (concordância em retirar não significa reconhecimento de que é falso), pode
insistir no exame pericial, mediante decisão fundamentada: se a perícia apontar para a
veracidade do documento, o juiz poderá considerá-lo como prova; (b) o juiz também pode
negar o desentranhamento, se houver claros indícios de que isso se presta a lesar terceiro
(art. 142); (c) de todo modo, nesses dois casos, se havia sido formulada ação declaratória
incidental (art. 430, parágrafo único), essa não poderá ser mantida contra a vontade das
partes: a questão da falsidade só poderá ser resolvida incidentalmente - e não mais como
questão principal, se as partes concordaram em retirar o documento dos autos; (d) se o
documento não foi juntado aos autos por uma das partes - e sim de ofício ou por um
terceiro, mediante requisição ou autorização do juiz - também se reduz a margem de
disponibilidade delas relativamente a tal prova: elas ainda podem acordar sua retirada
dos autos, mas terão o ônus de demonstrar que o documento é dispensável para a
instrução da causa e que sua retirada não lesa terceiros; (e) o CPC admite com largueza
negócios processuais celebrados antes ou no curso do processo (art. 190): a retirada do
documento pode inserir-se no contexto de uma convenção dessa natureza (p. ex., pacto
limitando a prova à espécie documental), que, se presentes seus pressupostos objetivos e
subjetivos, deve ser respeitada pelo juiz; (f) aliás, o consenso entre as partes quanto à
retirada do documento é, em si mesmo, um negócio processual (v. vol. 1, cap. 27); (g) a
circunstância de a falsidade documental constituir crime não é por si só fundamento para
o juiz negar o desentranhamento: se o caso for grave e houver sérios indícios de
falsificação, o juiz pode, ainda que permitindo a retirada do documento dos autos, oficiar
ao Ministério Público, para que apure eventual crime.
19.4.13. A resolução da arguição: natureza, efeitos e autoridade
Quanto o incidente de arguição é suscitado sem a propositura da ação declaratória
incidental (i.e., sem o pedido de resolução da questão como principal), a definição da
questão será simples etapa da fundamentação da decisão de mérito da causa. Ou seja,
integrará a motivação da sentença (ou da decisão interlocutória de mérito). Sob esse
aspecto, não se terá propriamente uma decisão sobre a questão: a decisão será sobre o
mérito da causa; a autenticidade do documento será enfrentada na motivação dessa
decisão.
Já quando houver o pleito de que a arguição seja resolvida como questão principal, a
sua resolução constituirá um capítulo decisório próprio, que se apresentará na parte
dispositiva da decisão da causa, ao lado do capítulo relativo ao mérito.
Mas eventualmente a arguição da falsidade será objeto de decisão interlocutória. A
arguição de falsidade pode ser reputada inadmissível desde logo, antes mesmo que se
profira a sentença sobre a demanda principal. Tem-se então decisão interlocutória (art.
203, § 2.º). A arguição pode ainda ser acolhida ou rejeitada (reputando-se o documento
falso ou verdadeiro), na fase de saneamento do processo, por não necessitar mais de
provas. Tambémaí se terá decisão interlocutória.
A decisão que rejeita no mérito a ação declaratória incidental de falsidade tem
essencialmente eficácia declaratória negativa: ela afirma não haver o direito à declaração
da falsidade do documento. A decisão que acolhe essa demanda incidental é
preponderantemente declaratória: reconhece-se um fato preexistente, a falsidade do
documento. Mas tem também certa carga constitutiva negativa: desconstitui-se a eficácia
probatória do documento declarado falso.
Quando encartada na sentença, a resolução da arguição de falsidade - tenha ou não
havido ação declaratória incidental, seja ou não de mérito - é recorrível por apelação (art.
1.009). Já quando decidida antes, em decisão interlocutória, a recorribilidade subordina-se
à seguinte distinção: (a) se houve ação declaratória incidental, a sua resolução em decisão
interlocutória é recorrível mediante agravo de instrumento, tenha ou não havido
julgamento do mérito (arts. 354, parágrafo único, 356, § 5.º, e 1.015, II e XIII), sob pena de
preclusão e consequente coisa julgada formal e, no caso de decisão de mérito, material
(art. 502); (b) se houve a simples arguição de falsidade, desacompanhada do pedido de
julgamento como questão principal, a decisão interlocutória que a resolve é
autonomamente irrecorrível (art. 1.015), podendo ser pleiteado seu reexame em
preliminar de eventual apelação contra a sentença ou nas respectivas contrarrazões (art.
1.009, § 1.º).
A declaração da falsidade do documento, assim como a rejeição da arguição, só
constituirá um comando sentencial apto a fazer coisa julgada quando a parte arguente
houver formulado o oportuno pleito nesse sentido (art. 433). Não incide o art. 503, § 1.º, de
modo à resolução incidental da questão fazer coisa julgada independentemente de
demanda, pois a falsidade ou veracidade do documento não constitui questão prejudicial
em sentido estrito, mas questão de fato.
Se não tiver havido ação declaratória incidental (art. 430, parágrafo único, c/c art. 19,
II), aplica-se à resolução da questão de falsidade o art. 504, II: ela será resolvida apenas
incidentalmente na motivação da sentença, sem autoridade de coisa julgada.
Já se tiver havido a ação declaratória incidental, a resolução da questão integrará a
parte dispositiva da sentença, constituindo um comando sentencial. Sendo a arguição
solucionada em seu mérito, com o trânsito em julgado haverá coisa julgada material.
Formando-se a coisa julgada material, em qualquer outra disputa entre as mesmas
partes, inclusive em outros processos judiciais, já não se poderá mais controverter sobre a
falsidade do documento declarada ou rejeitada: nenhum juiz mais poderá considerá-lo
veraz, no ponto em que declarado falso; nenhum juiz poderá afirmá-lo falso por aquele
mesmo fundamento já repelido no comando sentencial anterior. Se a declaratória
incidental de falsidade foi julgada improcedente, o documento só poderá ser considerado
falso por um motivo diverso ou num ponto distinto daquele apreciado antes. Quando isso
ocorrer, estar-se-á respectivamente diante de nova causa de pedir ou de novo pedido,
configuradores de nova demanda, alheia aos limites da anterior coisa julgada. Ademais,
terceiros, que não tiveram a oportunidade de participar do incidente de falsidade, não
serão atingidos pela coisa julgada (art. 506).
Ações probatórias e direito autônomo à prova
Produção antecipada de
prova
  Natureza
jurídica
  Medida com procedimento
sumário
 Cognição sumária horizontal e
vertical
 Hipóteses de cabimento
 Empréstimo da prova produzida antecipadamente
 Aplicabilidade a todos os meios de prova
 Competência
 Legitimidade
 Intervenção de terceiros
 Contraditório
  Regras do procedimento comum do processo de
conhecimento - aplicação subsidiária
 Sentença - Efeitos, recorribilidade e estabilidade
 Emprego da prova depois do fim do processo
Exibição de
documentos
 Exibição incidental e exibição autônoma
 Documento ou "coisa"
 Fundamentos do dever de exibir o documento
 Exibição de documento pela parte - Dever e ônus
 Exibição de documento por terceiro - Dever
 Legitimidade
 Procedimento
 Ônus da prova
 Ausência o dever de exibição - art. 404 do CPC/2015
 Indevida recusa de exibição pela parte e por terceiro
 Natureza jurídica
  Parte - incidente probatório:
decisão interlocutória
  Terceiro: ação incidental: decisão
interlocutória de mérito
Arguição de falsidade
Falsidade material e falsidade ideológica
Objeto e função
Deturpações
Rasuras
Adulterações
Deteriorações materiais
Natureza
Sede e fase de cabimento
Momento
Legitimidade e interesse processual
Competência
Forma do requerimento
Contraditório
Ônus da prova
Prova pericial
Retirada do documento dos autos
Natureza: questão principal ou questão incidental
Doutrina Complementar
Produção antecipada de prova
·          Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira (Curso...,
v. 2, p. 145) entendem que "o § 4.º do art. 382 do CPC dispõe que, no procedimento da
produção antecipada de prova, não se admitirão defesa e recurso (salvo contra a decisão
que indeferir totalmente a produção da prova pleiteada pelo requerente originário). É
certo que o processo de produção antecipada de prova, por restringir-se à produção da
prova, é bem simples e, em razão dessa simplicidade, o contraditório realmente não
poderia ter a extensão que costuma ter no procedimento comum. Mas daí a dizer, como o
faz no § 4.º do art. 382, que neste procedimento não haverá defesa nem recurso é um salto
que o legislador infraconstitucional não poderia dar. Além de revelar incoerência; afinal,
no mesmo art. 382 há determinação de citação de todos os interessados, até mesmo de
ofício. Citação para ser mero expectador do processo é inconcebível; cita-se para que o
interessado participe do processo; e a participação no processo dá-se pelo exercício do
contraditório, como se sabe. Parece mais razoável compreender o dispositivo de modo não
literal. Há, sim, contraditório reduzido, mas não zerado: discute-se o direito à produção da
prova, a competência do órgão jurisdicional (se há regras de competência, há
possibilidade de o réu discutir a aplicação delas, obviamente; a alegação de incompetência
é matéria de defesa), a legitimidade, o interesse, o modo de produção da perícia
(nomeação de assistente técnico, possibilidade de impugnação do perito etc.) Não se
admite discussão em torno da valoração da prova e dos efeitos jurídicos dos fatos
probandos - isso será objeto do contraditório em outro processo".
·          Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 912) assevera que "dá-se
a antecipação de prova propriamente quando a parte não tem condições de aguardar o
momento processual reservado à coleta dos elementos de convicção necessários à
instrução da causa pendente ou por ajuizar. São hipóteses em que o litigante exerce a
'pretensão à segurança da prova', sem contudo antecipar o julgamento da pretensão de
direito substancial. O interesse que autoriza a medida se relaciona apenas com a
obtenção, preventiva, da 'documentação de estado de fato que possa vir influir, de futuro,
na instrução de alguma ação'. (...) A sentença que o juiz profere nas ações de antecipação
de prova é apenas homologatória, isto é, refere-se tão somente ao reconhecimento da
eficácia dos elementos coligidos, para produzir efeitos inerentes à condição de prova
judicial. Não se pronunciará, contudo, acerca da ocorrência ou da inocorrência do fato,
bem como sobre as respectivas consequências jurídicas (art. 382, § 2º). Não há qualquer
declaração sobre sua veracidade e suas consequências sobre a lide. Não são ações
declaratórias e não fazem coisa julgada material. Apenas há documentação judicial de
fatos. E nesse sentido merece acolhida a lição de Pontes de Miranda,que considera essa
espécie de ação como constitutiva por pré-constituir prova judicial para os interessados.
(...) A antecipação de prova não é medida restritiva de direito nem constritiva de bens. É,
outrossim, medida completa, isto é, que não se destina a converter-se em outra medida
definitiva após o provimento final de mérito. O processo principal se utilizará dela tal
como se acha, sem necessitar transformá-la em outro tipo de ato processual. Se, ademais, o
fim da prova é a demonstração da verdade de um fato, uma vez feita tal demonstração, a
eficácia produzida é, necessariamente, perpétua. A verdade é una, imutável e eterna. O
tempo, portanto, não a afeta. Não se trata, portanto, de medida que se sujeita a perder
eficácia por falta de ajuizamento de ação principal, no prazo previsto no regulamento das
ações provisórias de urgência processadas em caráter antecedente (NCPC, art. 309, II)".
·                  Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery (Comentários..., p. 1.012)
sustentam que "o risco de se perderem os vestígios necessários à comprovação da
existência de fatos que sejam de vital importância no deslinde de questão a ser levada a
juízo justifica o pedido de produção antecipada de prova, a ser feito por quem tenha
legítimo interesse na demanda principal. (...) Permitir a efetiva produção de provas em
ação, em curso ou que virá a ser intentada, é a finalidade desta medida. O interesse da
parte pode justificar seu ajuizamento em período anterior ao da ação principal, quando
então terá caráter nitidamente preparatório; ou durante o curso de ação de conhecimento,
quando a prova deverá ser produzida, desde que justificada a impossibilidade de a parte
aguardar o momento processual próprio de produção probatória ou a possibilidade de
acelerar ou engendrar a autocomposição (...). Admitida a existência de interesse e
legitimidade para o autor postular a medida de urgência, o momento processual do
interrogatório da parte, de inquirição de testemunha e do exame pericial se transmuda da
fase probatória da ação de conhecimento para o da fase probatória da ação preparatória.
Assim sendo, tudo que é relativo à produção dessas três espécies de prova deve ser
observado na produção antecipada de provas, durante a colheita destas, que é sua
finalidade".
·                  Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo
Curso..., v. 2, p. 310): entendem que "habilita-se a postular a obtenção antecipada de prova
qualquer pessoa que tenha simples interesse jurídico na colheita dessa prova, seja para
emprega-la em processo futuro, seja para fins de precaver-se de um eventual processo
judicial, seja para subsidiá-lo na decisão de ajuizar ou não uma demanda, seja ainda para
tentar, com base nessa prova, obter uma solução extrajudicial de seu conflito. Note-se, por
isso, que sequer é necessário que o interessado indique para qual 'eventual demanda
futura' essa prova se destina. Basta que apresente, em seu requerimento, razão suficiente
(amoldada a um dos casos do art. 381) para a obtenção antecipada da prova. Por isso,
qualquer pessoa que possa apontar uma das causas do art. 381, tem legitimidade para
postular a medida em estudo, seja ou não parte em outra demanda judicial futura".
Arguição de falsidade
·          Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira (Curso...,
v. 2, p. 235) afirmam que "o incidente tanto se presta à arguição de falsidade quanto à
formação do documento (falsidade material), como, quando ele contiver declarações
narrativas, à impugnação do seu conteúdo, nos casos em que os fatos nele representados
não forem condizentes com a realidade (falsidade ideológica). A falsidade ideológica,
contudo, somente pode ser arguida por meio deste incidente quando se tratar de
documento testemunhal (aquele que contém declaração narrativa), não quando contiver
declarações de vontade, porque aí há instrumentos próprios para a sua desconstituição (p.
ex., as ações judiciais de invalidação)".
·                  Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 961) assevera que
"consiste o incidente de falsidade numa verdadeira ação declaratória incidental, com que
se amplia o thema decidendum: o juiz, além de solucionar a lide pendente, terá de declarar
a falsidade ou não do documento produzido nos autos. E o efeito da res iudicata atingirá
não só a resposta ao pedido como também a questão incidental da falsidade".
·                  Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery  (Comentários..., p. 1.051)
argumentam que "ainda que não tenha sido arguida a tempo a autenticidade da
assinatura ou a veracidade de texto de documento particular, na forma deste artigo, como
o determinava o CPC/1973 372, a contrario sensu, não é eficaz a admissão do documento se
se provar que ele foi obtido por coação, dolo ou erro. Mas, tendo em vista que não houve
repetição, no CPC, do disposto no CPC/1973 372 parágrafo único, não se pode presumir que
o erro, dolo ou coação levem à invalidade automática do documento, mas que sustentem
pedido nesse sentido formulado pela parte prejudicada".
·                  Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo
Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 710),
asseveram que "a arguição de falsidade deve ser sempre fundamentada. Com efeito, não é
suficiente a alegação genérica da falsidade pela parte interessada, sendo sempre
necessário expor os fundamentos pelos quais entende que o documento não é autêntico.
Demais, nos termos do art. 429 do NCPC, o ônus da prova incumbe à parte que arguir a
falsidade de documento. Não se trata, porém, de exceção à regra geral contida no art. 373
do NCPC, de modo que o magistrado pode concluir pela imposição dinâmica do ônus da
prova, especialmente, quando houver dificuldade excessiva, ou evidente facilidade na sua
produção pela outra parte".
Exibição de documento ou coisa
·          Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira (Curso...,
v. 2, p. 232) explicam que "nada impede que o juiz se utilize, para buscar o cumprimento
da ordem de exibição, de medidas coercitivas diretas ou indiretas, em lugar da presunção
de veracidade, ou em apoio a ela. Isso é possível não só nos casos em que essa presunção é
inadmissível como também, mesmo sendo ela admissível, quando o juiz estiver em busca
de um melhor convencimento acerca dos fatos envolvidos na causa. De todo modo, a
presunção de veracidade que então se erige é iuris tantum, podendo ceder em face de
prova contrária. Assim, pode o juiz, fundamentadamente, afastá-la por considerar que há
nos autos outras provas que se mostram incompatíveis com as alegações de fato cuja
veracidade se pretendia demonstrar. Além disso, como toda presunção relativa, ela opera
a inversão do ônus da prova, podendo a parte prejudicada produzir prova no sentido de
desconstitui-la".
·                  Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 936) afirma que "do
dever que incumbe às partes e aos terceiros de colaborar com o Poder Judiciário 'para o
descobrimento da verdade' (NCPC, arts. 378 a 380), decorre para o juiz o poder de
determinar a exibição de documento ou coisa que se ache na posse das referidas pessoas,
sempre que o exame desses bens for útil ou necessário para a instrução do processo".
·          José Carlos Barbosa Moreira (O novo processo..., 29. ed., p. 60) ensina que, "de
ofício ou a requerimento de qualquer das partes, constante da petição inicial ou
posteriormente formulado, pode o juiz determinar a exibição, pela outra parte, de
documento ou coisa que se supõe estar em seu poder". E conclui: "Quanto a documento ou
coisa que se suponha estar em poder de terceiro, dá o Código ao pedido de exibição
estrutura de verdadeira ação incidente (o terceiro é citado: art. 360; o juiz profere
sentença, em certos casos mediante a realização de audiência:

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