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AT 1 CERTIFICAÇÃO SÉRIE ISO 9000 - GESTÃO DA QUALIDADE 2 3 S U M Á R IO 2 3 UNIDADE 1 - Introdução 6 UNIDADE 1 - Normas técnicas 6 1.1Definição, evolução e objetivos 7 1.2Princípios e benefícios da normalização 8 1.3Sistema internacional de normatização e a dinâmica da certificação 11 UNIDADE 2 - Gestão da qualidade 11 2.1 Evolução do conceito “qualidade” 12 2.2Da inspeção formal à gestão estratégica da qualidade 17 UNIDADE 3 - Certificação série NBR ISO 9000 17 3.1A NBR ISO 9000:1987 – o começo 20 3.2 As revisões 21 3.3 A norma ISO 9001:2015 25 3.4A implantação da ISO 9001:2015 em 10 passos 26 3.5NBR ISO 9004:2010 30 UNIDADE 4 - Certificação ISO/TS 16949:2009 35 UNIDADE 5 - Entidades Certificadores 37 REFERÊNCIAS 40 GLOSSÁRIO 2 33 UNIDADE 1 - Introdução As organizações, sejam elas das mais variadas naturezas e com os mais diversos objetivos, têm buscado a melhoria con- tínua do seu desempenho, sendo quase impossível nos dias atuais ir em direção a essa melhoria sem levar em conta e desen- volver com seriedade os vários sistemas de gestão existentes (qualidade, meio am- biente, responsabilidade social, segurança e saúde no trabalho, além da segurança da informação). Esses sistemas de gestão são jovens, assim como as normas nas quais se funda- mentam. No caso da gestão da qualidade, por exemplo, e foco deste estudo, a sua primeira versão publicada data de 1987, tem pouco mais de 25 anos, nem por isso deixamos de perceber que seu impacto so- bre a realidade das organizações já é gran- de e positivo. Segundo a Associação Brasileira de Nor- mas Técnicas (ABNT), a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade represen- ta a obtenção de uma poderosa ferramen- ta que possibilita a otimização de diversos processos dentro da organização. Além destes ganhos, fica evidenciada também a preocupação com a melhoria contínua dos produtos e serviços fornecidos. Certificar o Sistema de Gestão da Qua- lidade garante uma série de benefícios à organização. Além do ganho de visibilidade frente ao mercado, surge também a possi- bilidade de exportação para mercados exi- gentes ou fornecimento para clientes que queiram comprovar a capacidade que a or- ganização tem de garantir a manutenção das características de seus produtos. Pois bem, como já dito, nosso foco é estudar detalhes da certificação da quali- dade pertencente à série ISO 9000. Para tanto, o caminho que percorreremos passa por definirmos normas técnicas, seus obje- tivos, os princípios e benefícios. Apresen- taremos o sistema internacional de nor- malização e as normas da série ISO antes de entrarmos propriamente na série 9000. Evidentemente que precisamos con- ceituar qualidade, mostrar a evolução do conceito, indo da inspeção formal à gestão estratégica, mesmo porque, grosso modo, são íntimas as relações entre qualidade e avaliação. Avaliar ocupa lugar de destaque no gerenciamento das organizações, tanto pelo esforço para criar um modelo adequa- do para a Gestão da Qualidade inserida em ambientes competitivos, quanto pelo de- sempenho para desenvolver estratégias que viabilizem o próprio processo de ava- liação. Sobre a certificação ISO 9000, especi- ficamente, também passaremos por seu surgimento, evolução até os dias atuais. A certificação ISO/TS 16949 será igualmen- te contemplada, assim como as entidades certificadoras. Ao final, disponibilizamos um glossário importante para aqueles que irão trabalhar com essa normalização. Justificamos novamente que devido os mercados estarem se tornando cada vez mais exigentes, um certificado de confor- midade pode contribuir e muito, alavan- cando crescimento e evolução. Certificar um produto ou serviço signifi- ca comprovar junto ao mercado e aos clien- tes que a organização possui um sistema 4 5 de fabricação controlado, garantindo a confecção de produtos ou a execução dos serviços de acordo com normas específi- cas, garantindo a diferenciação face aos concorrentes. Segundo a ABNT, o governo federal tam- bém preocupado em promover a qualida- de, aumentar a competitividade e melho- rar a produtividade do setor de construção civil, promoveu a criação de Programas de Qualificação Evolutivos que se baseiam na implantação gradativa do Sistema de Ges- tão da Qualidade, conforme os requisitos da Norma ABNT NBR ISO 9001, permitindo que as organizações deste setor incorpo- rem de maneira gradual, os requisitos sis- têmicos. Os benefícios dessa incorporação são a redução do desperdício, acarretando me- nores custos e incremento da qualidade dos produtos e serviços, além de padroni- zar as operações que envolvem o setor. Em nível Federal, foi criado o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H. Seguindo a orientação do Governo Federal, alguns Estados e Mu- nicípios criaram Programas de Qualidade, como por exemplo, QUALIOP – Programa de Qualidade de Obras Públicas do Governo do Estado da Bahia; QUALIPAV – RIO – Pro- grama Municipal da Qualidade em Obras de Pavimentação, Obras de Arte Especiais e Obras de Drenagem Urbana do Município do Rio de Janeiro; QUALIHAB – Programa da Qualidade da Construção Habitacional do Estado de São Paulo; e PARÁ OBRAS – Pro- grama da Qualidade e da Produtividade em Obras Públicas do Estado do Pará. Em relação à certificação de processos, ainda é a ABNT quem nos direciona ao aler- tar que em todos os setores da sociedade, a demanda pelo desenvolvimento de pro- dutos relacionados à Tecnologia da Infor- mação é cada dia mais intensa e promotora de uma busca acirrada pelo dueto competi- tividade e qualidade. A qualidade do software produzido é um fator preponderante e de influência dire- ta para que as empresas desenvolvedoras sejam mais lucrativas e competitivas. E a qualidade de um produto de software está fortemente relacionada com a qualidade do processo de software seguido pela or- ganização que o desenvolve. Nesse sentido, a família ISO/IEC 29.110 tem como público-alvo pequenas enti- dades fornecedoras de software, as VSE (Very Small Entity). Essas normas estabe- lecem referências para os processos a apli- car no desenvolvimento e fornecimento de software e são explicitamente elaboradas para atender às necessidades e caracte- rísticas das VSE que são organizações com até 25 pessoas envolvidas com desenvol- vimento de software. A conformidade com a ABNT NBR ISO/IEC 29110-4-1, primeira norma ISO certificável para desenvolvimento de software, visa assegurar que mesmo uma pequena or- ganização seja capaz de fornecer softwa- re de acordo com os requisitos do cliente, atendendo às suas necessidades, no prazo pretendido e com o custo acordado. Segundo Ribeiro Neto, Tavares e Hof- fmann (2008), os sistemas de gestão da qualidade, em conformidade com a norma ISO 9001, vêm crescendo ano após ano, já ultrapassaram o número total de 1 milhão de certificações e estão disseminados por organizações, de pelo menos, 176 países, o número de certificações dos sistemas de gestão ambiental, responsabilidade social 4 5 e segurança e saúde no trabalho também aumenta a taxas expressivas. Para fechar essa apresentação, lembre- mos que a expressão ISO 9000 se refere a um grupo de regras técnicas que estabe- lecem um modelo de gestão da qualidade para diversos tipos de organização, seja qual for o seu tipo ou dimensão. Vale citar que a sigla ISO se refere à denominação de igualdade, já que o sistema prevê que os produtos tenham um mesmo processo produtivo para todas as peças. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamen- te e outras somente consultadas, princi-palmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso que na atualidade está bem facilitado e até mesmo democrático, ajudam sobremanei- ra para enriquecimentos, para sanar ques- tionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 2) Deixamos bem claro que esta com- posição não se trata de um artigo original , pelo contrário, é uma compilação do pensa- mento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, ape- sar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aque- la capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja se- parado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Por uma questão ética, a empresa/ instituto não defende posições ideológico- -partidária, priorizando o estímulo ao co- nhecimento e ao pensamento crítico. 4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da acade- mia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os te- mas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 5) Deixaremos em nota de rodapé, sem- pre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao as- sunto, visto que esta última está em cons- tante atualização. Caso esteja com mate- rial digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encon- trará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso es- teja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 1- Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares 1 6 7 UNIDADE 1 - Normas técnicas 6 Falar em normas técnicas nos remete de imediato à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e à Organização Interna- cional para Padronização (ISO - Internatio- nal Organization for Standardization). Sobre a ABNT é importante saber: foi fundada em 1940, é o órgão res- ponsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base necessária ao de- senvolvimento tecnológico brasileiro; é uma entidade privada, sem fins lu- crativos, reconhecida como único Foro Nacional de Normalização através da Re- solução n.º 07 do CONMETRO (Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), de 24.08.1992; é membro fundador da ISO (Interna- tional Organization for Standardization), da COPANT (Comissão Panamericana de Normas Técnicas) e da AMN (Associação Mercosul de Normalização); a ABNT é a única e exclusiva represen- tante no Brasil das seguintes entidades internacionais: ISO (International Organi- zation for Standardization), IEC (Interna- tional Electrotechnical Commission); e das entidades de normalização regional CO- PANT (Comissão Panamericana de Normas Técnicas) e a AMN (Associação Mercosul de Normalização). Quanto à ISO, em 1946, em Londres, In- glaterra, representantes de vinte e cinco países decidiram criar uma organização in- ternacional com o objetivo de facilitar, em nível mundial, a coordenação e a unificação de normas industriais. Essa organização, com sede em Genebra, Suíça, começou a funcionar oficialmente em 23 de fevereiro de 1947, com a denominação International Organization for Standardization (ISO), ou Organização Internacional de Normaliza- ção. A ISO é uma organização não governa- mental internacional, que hoje reúne mais de uma centena de organismos nacionais de normalização. Representando países que respondem por cerca de 95% do PIB mundial, tem por objetivo promover o de- senvolvimento da padronização de ativi- dades correlacionadas, de forma a possi- bilitar o intercâmbio econômico, científico e tecnológico em níveis mais acessíveis aos aludidos organismos (MARSHALL JR., 2001). 1.1 Definição, evolução e objetivos Normalização pode ser definida como uma atividade que estabelece, em rela- ção a problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva, com vistas à obtenção do grau ótimo de ordem, em um dado contexto. O contexto da normalização não se res- tringe à modernidade. Ao contrário, há mui- to tempo, na história da evolução humana, a normalização é uma constante. Pesos e medidas, dinheiro, leis, expressões gráfi- cas para representar números e letras são exemplos de normalização fundamentais para a vida em coletividade. Segundo Ribeiro Neto, Tavares e Hof- fmann (2008), foi em fins do século XVIII 6 77 que tivemos uma concepção moderna de normalização, de caráter técnico e científi- co, exatamente quando foi criado o sistema métrico de medidas e surgiu, na indústria, o conceito de produção em série, com a con- sequente necessidade de intercambialida- de de componentes. A percepção dos be- nefícios decorrentes da intercambialidade de peças, não só em uma mesma fábrica, mas entre diferentes fábricas, estimulou em alguns países o desenvolvimento dos primeiros organismos de normalização. São objetivos da normalização: comunicação – proporciona os meios necessários para a troca adequada de in- formações entre clientes e fornecedores, com vista a assegurar a confiança e um entendimento comum nas relações comer- ciais; simplificação – reduz as variedades de produtos e de procedimentos, de modo a simplificar o relacionamento entre pro- dutor e consumidor; proteção ao consumidor – define os requisitos que permitam aferir a qualidade dos produtos e serviços; segurança – estabelece requisitos técnicos destinados a assegurar a prote- ção da vida humana, da saúde e do meio ambiente; economia – diminui o custo de produ- tos e serviços mediante a sistematização, racionalização e ordenação dos processos e das atividades produtivas, com a con- sequente economia para fornecedores e clientes; eliminação de barreiras – evita a existência de regulamentos conflitantes, sobre produtos e serviços, em diferentes países, de forma a facilitar o intermédio comercial. 1.2 Princípios e benefícios da normalização O processo de elaboração de normas técnicas está apoiado em princípios, que são fundamentais para que todos os ob- jetivos da normalização sejam atendidos e para que ela seja eficaz na sua aplicação e reconhecida por todos. Princípio da Voluntariedade – a participação em processo de normalização não é obrigatória e depende de uma deci- são voluntária dos interessados. Essa von- tade de participar é imprescindível para que o processo de elaboração de normas ocorra. Outro aspecto que fundamenta a voluntariedade do processo de normaliza- ção é o fato de que o uso da norma também não é obrigatório, devendo ser resultado de uma decisão em que são percebidas mais vantagens no seu uso do que no não uso. Princípio da Representatividade – é preciso que haja participação de especia- listas cedidos por todos os setores – pro- dutores, organizações de consumidores e neutros (outras partes interessadas, tais como universidades, laboratórios, institu- tos de pesquisa, órgãos do governo), de modo que a opinião de todos seja conside- rada no estabelecimento da norma. Dessa forma, ela de fato reflete o real estágio de desenvolvimento de uma tecnologia em um determinado momento, e o entendi- mento comum vigente, baseado em expe- riências consolidadas e pertinentes. Princípio da Paridade – não basta apenas a representatividade, é preciso que8 9 as classes (produtor, consumidor e neutro) estejam equilibradas, evitando-se assim a imposição de uma delas sobre as demais por conta do maior número de represen- tantes. Assim, deve-se buscar assegurar o equilíbrio das diferentes opiniões no pro- cesso de elaboração de normas. Princípio da Atualização – a atuali- zação do processo de desenvolvimento de normas, com a adoção de novos métodos de gestão e de novas ferramentas de tec- nologia da informação, contribui para que o processo de normalização acompanhe evolução tecnológica. Esse princípio de atualização deve ser constantemente per- seguido para que a normalização atenda à intensa demanda considerando que uma norma defasada tecnologicamente fatal- mente cairá no desuso. Princípio da Transparência – todas as partes interessadas devem ser dispo- nibilizadas, a qualquer tempo, as informa- ções relativas ao controle, atividades e decisões sobre o processo de desenvolvi- mento de normas técnicas. Princípio da Simplificação – o pro- cesso de normalização deve ter regras e procedimentos simples e acessíveis, que garantam a coerência, a rapidez e a quali- dade no desenvolvimento e implementa- ção das normas. Princípio do Consenso – para que uma norma tenha seu conteúdo o mais próximo possível da realidade de aplicação, é necessário que haja consenso entre os participantes de sua elaboração. Consenso é processo pelo qual um Projeto de Norma deve ser submetido, compreendendo as etapas de análise, apreciação e aprovação por parte de uma comunidade, técnica ou não. A finalidade desse processo de con- senso é o de atender aos interesses e às necessidades da coletividade, em seu pró- prio benefício. Não é uma votação, mas um compromisso de interesse mútuo, não de- vendo, portanto, ser confundido com una- nimidade. Quanto aos inúmeros benefícios, citan- do apenas alguns, a normalização ajuda a: organização do mercado; constituição de uma linguagem única entre produtor e consumidor; melhorar a qualidade de produtos e serviços; orientar as concorrências públicas; aumentar a produtividade, com con- sequente redução dos custos de produtos e serviços, a contribuição para o aumento da economia do país e o desenvolvimento da tecnologia nacional. 1.3 Sistema internacional de normatização e a dinâ- mica da certificação Um conjunto de partes coordenadas para realizar um conjunto de finalidades é chamado de sistema, o qual trabalha de maneira coordenada, embora cada uma destas partes tenha objetivos próprios. Em se tratando de sistemas de gestão, com foco na ISO 9001, estes são baseados em 2- As normas da família ISO devem passar, geralmente a cada cinco anos, por processo de revisão, a fim de definir se elas devem ser mantidas, aprimoradas ou canceladas. A ISO 9000, por exemplo, que está em vigor, foi publicada em 30 de setembro de 2015, com validade a partir de 30 de outubro do mesmo ano. A ISO 14001, por sua vez, teve a primeira publicação em 1996 e foi revisada em 2004. No ano de 2011 começou um novo processo de revisão que resultou na ISO 14001:2015. Em dezembro de 2010, a ABNT lançou no Brasil a norma ISO 26000:2010, com as diretrizes sobre responsabilidade social. 2 8 9 normas internacionais, ou seja, em espe- cificações estabelecidas em consenso e aprovadas por um organismo específico composto por membros de vários países (FERREIRA, 2012). Segundo a ABNT (2008), dentre alguns dos objetivos da normalização, tem-se a possibilidade de uma melhor comunicação entre o cliente e o fornecedor (melhoran- do a confiabilidade das relações comerciais e de serviços) e a eliminação de barreiras técnicas e comerciais (evitando a existên- cia de regulamentos conflitantes em dife- rentes países). Assim, observa-se que a normalização está presente em diversas áreas, sendo que, com isso, são geradas várias normas internacionais de gestão que, devido à ne- cessidade das organizações em atender à demanda de diversos grupos de interesse, vêm sendo amplamente adotadas (ZUT- SHI; SOHAL, 2005 apud VITORELI, 2011). De acordo com Fortes (2007, p. 47 apud OLIVEIRA et al., 2009, p. 18-9), a ISO é con- siderada a maior instituição do mundo que trata das “questões de desenvolvimento de padrões voltados à área técnica”, e afir- ma ainda que “a utilidade dos padrões se estende aos ambientes de produção, tan- to privados quanto públicos, tornando-os mais seguros, eficientes e transparentes”. Tais padrões podem ser utilizados “como base técnica para as questões legais que envolvam a saúde, o ambiente e a segu- rança”. A ABNT foi o órgão nacional responsável por produzir traduções referentes a essas normas. Até dezembro de 2005, haviam sido conferidas 776.608 certificações ISO 9001 em todo o mundo (FNQ, 2006 apud OLIVEIRA et al., 2009) . A sobrevivência das organizações em tempos de globalização e competitividade passa pela garantia de produtos e serviços com uma qualidade beirando a excelência. Pois bem, a solução encontrada pelas em- presas é investir em um sistema de quali- dade, conforme os requisitos normativos da ISO 9001. De acordo com Carpinetti et al. (2007 apud STAINO et al., 2011), em alguns casos, essas certificações são necessárias uma vez que são exigidas pelo próprio cliente, em outras situações, mesmo que isso não ocorra, a implementação criteriosa dos re- quisitos de gestão estabelecidos na norma elevará a eficácia e eficiência da empresa, tornando-a mais competitiva. Para a implantação de sistemas de ges- tão da qualidade, conforme as normas da série ISO, é necessário atentar para os princípios estabelecidos pela norma, como foco no cliente, liderança, abordagem fac- tual para a tomada de decisão, abordagem sistêmica, abordagem por processos, rela- ção benéfica com fornecedores e melhoria contínua. As empresas devem tomar decisões ba- seadas em fatos e dados, os quais podem ser obtidos por meio das ferramentas da qualidade. Para identificar os processos chave de uma organização, deve ser rea- lizado um estudo de todas as atividades que fazem parte da rotina de trabalho da empresa, de forma crítica e sem omissões (STAINO et al., 2011). Segundo Marshall JR. (2001), a ISO tem por objetivo promover o desenvolvimento da padronização e de atividades correla- 3 3- Números recentes de 2015 apontam certificações numa média de 200 países alcançando 1.029.746 certificações (http://www.iso.org/ iso/home/standards/certification/iso-survey.htm). 10 1110 cionadas de forma a possibilitar o inter- câmbio econômico, cientifico e tecnológico em níveis mais acessíveis aos aludidos or- ganismos. Também são classificadas como audito- rias de primeira parte (auditoria interna), de segunda parte (cliente-fornecedor) e de terceira parte (sem relação comercial, feita por um organismo independente) (MAGALHÃES, 2009). Sendo foco de estudo, a dinâmica da série ISO 9000 terá logo após apresentar- mos a gestão da qualidade, uma unidade totalmente dedicada a ela. 10 11 UNIDADE 2 - Gestão da qualidade 11 2.1 Evolução do conceito “qualidade” Vamos fazer um recorte no tempo e no espaço para tratarmos da evolução do con- ceito de qualidade, tomando como nosso ponto de partida o início do século XX, mas lembrando e não desmerecendo que quali- dade remonta à antiguidade, desde o Egi- to antigo quando a história nos conta que o embalsamento de cadáveres já era efi- ciente, tanto que várias múmias chegaram intactas até os dias de hoje. Esse processo quer dizer qualidade! Através da padronização do produto, da linha de montagem, do conceito de ritmo de produção e da economia de escala, Hen- ry Ford conseguiu, no início do século XX, fabricar um carro popular baixando o custo do automóvelde US$ 3.600,00 para US$ 360,00, ou seja, a 1/10 do valor inicial. No final da década de 1920, suas 90 empresas empregavam 140 mil pessoas e produziam 2 milhões de carros por ano. Em 1931, o estatístico Walter Shewhart lançou os conceitos básicos da moderna engenharia de Qualidade no livro Economic Control of Quality of Manufactured Pro- ducts. Ele percebeu que o operário era ca- paz de entender e controlar a sua produção, e criou técnicas para isso. Daí surgiram dois importantes conceitos: o Controle Estatís- tico de Processos (CEP) e, principalmente, o Ciclo de Melhoria Contínua, o conhecido PDCA (planejar, executar, verificar e agir). Dentre as várias possíveis abordagens para qualidade, temos: como processo de ordenação das ati- vidades organizacionais (quanto mais uma empresa ordena sua atividade mais apre- senta qualidade); como atributo do produto (quanto mais atributos intrínsecos ao produto, quan- do comparado aos produtos concorrentes em mesma faixa de consumo, quanto mais agradável ao consumidor final, quanto mais barato em comparação com os produtos concorrentes em mesma faixa de consumo e quanto mais aprimorado o processo pro- dutivo que dá origem a produto, então, tan- to maior será a qualidade); e, qualidade pode ser abordada como uso de ferramenta de gestão, pelo uso de programas característicos como os 5’s; Ci- clo PDCA; Sigma, dentre outro (MORAES, 2004). De maneira simplificada, pode-se inferir que “um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de for- ma confiável, acessível, segura e no tempo certo, às expectativas do cliente” (LAET, 1998 apud BALSANELLI; JERICÓ, 2005, p. 398). A melhoria da qualidade tem como ca- racterística ser um processo contínuo, gra- dual e permanente que acontece por meio de sua avaliação, a qual só tem sentido na medida em que serve para tomar decisões concretas. Avaliação, nesse sentido, é entendi- da como diagnosticar uma realidade para poder estabelecer a interven- ção, sendo um poderoso instrumento de mudança social que serve de las- tro para uma ação modernizadora (...) (BONATO, 2007, p. 60). 12 13 Quando a qualidade é percebida como noção de excelência, estamos pensando no que há de mais apurado e primoroso que se possa ter ou fazer. Ou que qualidade é o que há de melhor performance em uma categoria ou ainda é o que há de melhor quando comparado a similares de merca- do ou de condições de produção (MORAES; FRANCO; SILVA, 2010). Quando a noção se reporta a valor, qua- lidade é o atributo inerente àquilo que é mais caro em sua produção. Materiais ou processos mais caros ou raros dão quali- dade ao objeto ou processo. Qualidade é o atributo intrínseco daquilo que, em função de seu valor atribuído, tem o preço mais elevado em comparação com seus simila- res concorrentes. O que é único, raro e mais desejável tem maior qualidade. Qualidade é o atributo intrínseco tido como minima- mente aceitável e maximamente desejável em função do quanto se pode pagar. A ex- clusividade de um produto ou serviço que faz com que este seja desejável, raro e caro lhe confere maior qualidade. Quando a noção se reporta a especifica- ções, a determinação especificada daquilo que se deseja produzir ou servir confere maior qualidade ao produto ou serviço. A característica de definição pormenorizada de um projeto de produto ou serviço faz com que o mesmo tenha maior qualidade (MORAES; FRANCO; SILVA, 2010). Quando a noção se reporta a confor- midade – qualidade é a condição de execução de um serviço ou a produ- ção de um bem na maior consonância e concordância possível a seu projeto. Se estamos falando de regularidade – qualidade é a capacidade de repro- duzir um bem ou serviço sempre do mesmo modo e com os mesmos pre- dicativos em conformidade com um padrão. Em se tratando de adequação ao uso – qualidade é condição de uso de um produto em concordância à utilização que tem para o mesmo ou efetivação de um serviço em consonância com o que se espera do mesmo. Por fim, em termos de satisfação – qualidade é a virtude de um produto ou serviço que satisfaz, ou agrada a quem dele se serve. Qualidade é a virtude de um produto ou serviço que satisfaz, ou agrada a quem o realiza seja por satisfação pessoal ou por re- muneração. Qualidade é a virtude de um produto ou serviço em atender de modo pleno (e mesmo exacerbado) às expectativas de quem o consome (MORAES; FRANCO; SILVA, 2010). Enfim, de maneira simplificada, qualida- de é entendida como um conjunto de ativi- dades por meio das quais uma organização pro¬cura adequação ao uso, não importan- do em que parte do sistema essas tarefas sejam executadas. 2.2 Da inspeção formal à gestão estratégica da quali- dade Conforme Garvin (1992), Caravantes et al. (1997) e Maximiano (2000), o desenvol- vimento da qualidade caracteriza-se nas seguintes eras: era da inspeção for¬mal; era do controle estatístico do processo; era da garantia da qualidade e era da ges- 12 13 tão estratégica da qualidade. Vejamos cada uma delas. a) Era da inspeção formal Com a Revolução Industrial e a consolida- ção do sistema fabril, surgiram estratégias adicionais, tais como as especificações e as mensurações escritas, os instrumentos de medição e os laboratórios para testes e padronização. A era da inspeção formal surgiu com o aparecimento da produção em massa e a necessida¬de de peças in- tercambiáveis. Nessa época, consolida-se o sistema tayloriano-fordista que se caracteri- zava num [...] método de racionalizar a produção, logo, de possibilitar o au- mento da produtividade do trabalho ‘economizando tempo’, suprimin¬do gestos desnecessários e compor- tamentos supérfluos no interior do processo produtivo (RAGO; MOREIRA, 1988, p. 10). Esse sistema proporcionou o aperfei- çoamento da divisão social do trabalho e a introdução do siste¬ma fabril, asseguran- do definitivamente o controle do tempo de operação do trabalhador. Partindo dessa mesma concepção, Ford buscou o aumento da produtividade e ra- cionalização do tra¬balho por meio da ra- cionalização da produção. Para Faria (1992, p. 72): [...] enquanto Taylor buscava a obten¬- ção de rendimentos intensivos através do estudo da decomposição do tra¬ba- lho, Ford buscou a disposição dos empre- gados em ordem de operações, parce- lando o trabalho em etapas sucessivas e sequenciais, no que ficou conhecido como linha de montagem. As contribuições de Taylor e Ford, para obten¬ção de ganhos de produtividade e redução dos custos, são indiscutíveis, mas, por outro lado, a pressão sobre os traba- lhadores para alcançar a eficiência máxima não deve ser esquecida. Para Ballestero-Alvarez (2001), as pri- meiras ações reais desenvolvidas no sen- tido da qualidade surgem nos Estados Uni- dos, em 1920. Em 1922, Radford publica The control of quality in manufacturing, procurando abordar alguns princípios de qua¬lidade centrados principalmente na inspeção. Em 1924, a Western Electric Co. cria um Departamento de Engenharia e Inspeção que, posteriormente, iria se tor- nar um Departamento de Garantia da Qua- lidade dos Laboratórios Bell. Do ponto de vista do controle de quali- dade, a principal conquista foi a criação de um sistema racional de medidas, gabaritos e acessórios. Contudo, os produtos ainda eram inspecionados um a um, fazendo com que a inspeção encontrasse os defeitos, mas não produzisse qualidade preventiva- mente. Nessa época, o controle da qualida- de era feito apenas por inspeção final, em que eram separados os produtos bons dos defeituosos. b) Era do controle estatístico do processo Com a expansão do comércio e o aumen- to da tecnologia, conceitos e ferramentas adicionais foram inventadosa fim de assis- tir o gerenciamento da qualidade. Os prin- cipais são a verificação por amostragem e as garantias de qualidade nos contratos de venda. Com a verificação por amostragem, cria-se um depar¬tamento especializado no controle de qualidade e na localização 14 15 de defeitos. Conforme Maximiano (2000) e Balles- tero-Alvarez (2001), por volta de 1924, foram introdu¬zidos, por W. A Shewart, procedimentos estatísticos para controlar os processos produtivos, por intermédio da aplicação de cartas de controle e amos- tragens colhidas ao longo da produção. A produção em massa criou a necessidade de peças e componentes padroni¬zados em larga escala, fazendo com que a inspe- ção 100% se tornasse inviável e, muitas vezes, impossível de ser executada. Por esse motivo, a partir de 1930, passou- -se a adotar a inspeção e amostragem ao logo do processo produtivo. Em 1931, W. A. Shewhart publica Economic control of quality of manufactured product, atribuin- do, pela primeira vez, cunho científico aos estudos da qualidade. Foram, então, cria- dos métodos para amostragem e gráficos de controle de processos para assegurar a qualidade do produto final. A inspeção não foi abolida, mas ficou limitada a pe¬quenas amostragens do todo. c) Era da garantia da qualidade Nesta era vimos a abrangência de qua- tro novos elementos, que são: os custos da qualidade (Juran), o controle da Qualidade Total (Feigenbaum), a engenharia de con- fiabilida¬de e o defeito zero. De acordo com Slack et al. (1996) e Ballestero-Alva- rez (2001), Crosby acreditava que a Filoso- fia de zero defeito reduziria o custo total da qua¬lidade. Para disseminar sua Filosofia, institui 14 princípios fundamentais para a implementação da aborda¬gem. São eles: a) Dedicação da alta gerência e compro- metimento por meio da elaboração de um documento com a política e os objetivos da empresa. b) Constituição de equipes de melhorias coordenadas pelos gerentes. c) Medição dos resultados. d) Avaliação dos custos da qualidade. e) Comunicação dos resultados aos su- pervisores e operários. f) Reunião para identificação dos pro- blemas. g) Estabelecimento de um comitê infor- mal para a divulgação do programa. h) Treinamento da gerência e supervi- são. i) Instauração do dia Zero Defeitos, a divulgação dos resultados e o reconheci- mento a todos os participantes do progra- ma. j) Estabelecimento dos objetivos a se- rem seguidos. k) Consulta aos operários sobre a origem dos problemas. l) Recompensa àqueles que atingirem seus objetivos. m) Formação dos conselhos de qualida- de. n) Faça tudo de novo (etapa final). De acordo com Ballestero-Alvarez (2001), com as transformações na concep- ção de qualidade a partir de 1950, o mun- do toma conhecimento oficialmente dos estudos que estavam sendo realizados em relação à qualidade. Nessa época, os estu- dos caracterizavam-se pela preocupação do padrão estabelecido, atendendo assim aos requisitos necessários para a produ- ção em massa. Surgiram, então, os grandes 14 15 movimentos pela padronização dentro do processo produtivo, o contro¬le estatísti- co dos processos e os trabalhos de inspe- ção desenvolvidos no chão da fábrica. Maximiano (2000) destaca que Fei- genbaum, em 1951, no livro Quality con- trol, defendeu a ideia de que as empresas deveriam criar um departamento para cui- dar exclusivamente da qualidade. Esse de- partamento assumiria atribuições de pes- quisa, assessoria, incentivo, treinamento e controle principalmente por meio da co- ordenação de ações vol¬tadas para a ma- nutenção e o aprimoramento da qualidade. Com isso, surgia a ideia do “fazer certo da primeira vez”, alterando o foco da correção para a prevenção dos defeitos – essência do moderno sistema de qualidade. d) Era da gestão estratégica da qualidade Inclui os aspectos anteriores, mas com maior abrangência e preocupação com a qualidade em to¬dos os níveis da empre- sa. Maximiano (2000) descreve que, entre as décadas de 1950 e 1970, Eiji Toyoda e Taiichi Ohno concluíram que o sistema Ford não poderia funcionar na Toyota. Nesse período, foram aplicados práticas e princí- pios que formou a base do Sistema Toyota de Produção, entre eles estão, a elimina- ção de desperdícios e a produção de veícu- los com qualidade. Na década de 1970, presenciou-se a im- pactante crise do petróleo nos negócios e suas consequências. O dinheiro torna-se escasso, e as empresas passam a preocu- par-se com os custos de seus produtos. Nesse momento, cria-se um ambiente favorável ao desenvolvimento do Siste- ma Toyotista, e aparecem os Círculos de Controle da Qualidade (CCQ) e as sete fer- ramentas: folha de coleta de dados, análi- se de Pareto, diagrama de causa e efeito, fluxograma, histograma, diagrama de dis- per¬são e gráficos de controles. Na década de 1980, surge a garantia da qualidade e a famosa frase: sua satisfação garantida ou seu dinheiro de volta. Nesse sentido, não interessa mais controlar so- mente o produto, mas elaborar um con- trole altamente sofisticado de atividades e processos. Além disso, a excelência é garantida por intermédio da aplicação de ferramentas de gestão orien¬tadas princi- palmente pelo sistema de certificações da qualidade (BALLESTERO-ALVAREZ, 2001). Conforme Machado (1997, p. 12), “[...] a busca pela melhoria da qualidade e pro¬- dutividade hoje, além de ser o caminho para melhorar a competitividade, tornou- -se uma questão de sobrevivência das em- presas”. Nos anos 1990, a Administração pas- sa a ser vista como Gestão de Políticas e o estabelecimento de alianças estratégi- cas. Outro fator que também impul¬siona as organizações em direção à qualidade é a glo¬balização. As empresas vêm sendo pressionadas por uma disputa acirrada de mercado, sendo forçadas a aprimorar cada vez mais seus padrões de qualidade. Assim, num contexto marcado pela globalização, o diferencial entre o sucesso e o fracasso das empresas está cada vez mais centra- do na gestão de recursos hu¬manos. Com isso, percebe-se que, quando se discute qualidade, abordam-se também questões que envol¬vem pessoas. Machado (1997) afirma que fica difícil imaginar a satisfação dos clientes externos dissociada da satis- fação das pessoas no trabalho. 16 1716 Dessa forma, salienta-se que, durante as últimas décadas, empresas brasileiras e de todo o mundo pas¬sam a introduzir, de forma mais acentuada, os siste¬mas parti- cipativos de gestão, com o objetivo princi- pal de aumentar a produtividade e apoiar os programas de qualidade, mas não bus- car realmente a participação dos emprega- dos, conforme verificado nas pesquisas de Mônaco e Guimarães (2000). Albuquer¬que e França (1998, p. 40), ressaltam que: [...] o ambiente empresarial brasilei- ro vem se tornando intensamente competitivo em virtude das profun- das mudanças que vêm ocorrendo na economia mundial, nas relações sociais e polí¬ticas, na tecnologia, na organização produtiva, nas relações de trabalho e na própria inserção do elemento humano no tecido social e produtivo. Na visão de Neves (1993), as novas po- líticas de gestão do trabalho ocorreram num contexto de exigên¬cia no nível do mercado internacional, com a entrada no mercado dos produtos japoneses, visan- do o desenvol¬vimento de estratégias de mercado mais competitivas. Portanto, vê- -se que a lógica da qualidade está baseada num cenário no qual o ritmo da inovação é acelerado, o ciclo de vida dos produtos é pequeno e os consumido¬res mais exigen- tes demandam cada vez mais qualida¬de, confiabilidade e entrega rápida e certa. Em síntese, a Gestão da Qualidade é uma fer¬ramenta de administração aperfeiço- ada no Japão, a partir de ideias americanas introduzidas logo após a SegundaGuerra Mundial, com a missão de conseguir, por intermédio de novos padrões de gestão e de pro¬dução, um nível satisfatório de competitividade para as empresas diante da velocidade de competição do mercado. Isso passa a exigir das pessoas adaptação a uma série de mudanças que visam acom- panhar as mutações de um mercado globa- lizado e as exigências de excelência orga- nizacional. Essa corrida das empresas pela quali- dade come¬çou principalmente em virtu- de de fatores, tais como: baixos índices de produtividade, elevado número de produ- tos com defeito, perdas de fatias de mer- cado, pressões dos mercados interno e externo e do Gover¬no. Essas pressões fi- zeram com que, principalmente, a partir da década de 1980 surgisse uma “febre pela ex¬celência” mediante utilização de sis- temas de qualida¬de como ferramenta de gestão (MÔNACO; MELLO, 2007). 16 17 UNIDADE 3 - Certificação série NBR ISO 9000 17 3.1A NBR ISO 9000:1987 – o começo A família ou série ISO 9000, lançada em 1987, tratava da implantação, manutenção e certificação de sistemas de gestão da qualidade. A certificação é utilizada para demonstrar a capacidade da empresa em atender os requisitos normativos e aque- les relacionados ao seu Sistema de Gestão de Qualidade (...). Essa certificação foi cria- da para comprovar o padrão de qualidade de uma empresa, através da eliminação de desperdícios, aumento da produtividade, eficiência e um maior nível de organização interna da empresa (PALADINI & CARVA- LHO, 2005 apud PALADINI, 2011). É a norma que define os requisitos para colocar um sistema de gestão da qualidade em vigor, ajudando a empresa a aumen- tar sua eficiência e a satisfação do cliente (ABNT, 2015). As normas ISO 9000, são normas aplicá- veis em situações contratuais que exijam a qualidade do produto ou serviço, sendo de fundamental importância para as organi- zações que querem conseguir destaque no cenário nacional e internacional. A série ISO 9000 objetiva: 1º. Atingir e manter a qualidade de seu produto ou serviço. 2º. Prover confiança à administração das organizações. 3º. Prover com confiança a clientes de que a qualidade pretendida está sendo atingida a produtos e serviços. A série de normas ISO 9000, em sua primeira versão, a de 1987, era compos- ta pelas normas ISO 9001, ISO 9002 e ISO 9003:1994, certificáveis, e só foi publica- da no Brasil em junho de 1990. Todas vieram passando por atualizações que levaram a novas normas ou cancela- mentos. Grosso modo, podemos classificar as normas em tipo Guia ou tipo Modelo de Conformidade, a saber: As normas tipo Guia são normas que não ditam tópicos a serem seguidos, mas dão sugestões e esclarecimentos sobre as- suntos relacionados à gestão da qualida- de. Seu objetivo é guiar a organização em um dos modelos sugeridos pelas normas, enquanto as normas tipo Modelo de Con- formidade, diferentemente das normas tipo Guia, são modelos que precisam ser seguidos à risca caso a empresa queira se certificar. Ditam os tópicos que devem ser cumpridos, e o descumprimento de um de- les acarreta em uma não certificação. a) ISO 9000 Norma do tipo Guia. Fornece uma base para a seleção, uso e aplicação das outras normas da série. Esclarece algumas dife- renças e relações sobre o conceito de qua- lidade. b) ISO 9001 Norma do tipo Modelo de Conformidade. Dita normas para a garantia de qualidade em processos de desenvolvimento, produ- ção, instalação e assistência técnica. ISO mais conhecida da série das 9000, e tam- bém mais abrangente. 18 19 c) ISO 9002 Norma do tipo Modelo de Conformidade. Dita normas para a garantia da qualidade nos processos de produção, instalação e assistência técnica. d) ISO 9003 Norma do tipo Modelo de Conformidade. Dita normas para a garantia da qualidade no monitoramento, inspeção, revisão e en- saio geral. É a norma mais simples da série. e) ISO 9004 Norma do tipo Guia. Fornece um rumo à empresa para a implantação do sistema de qualidade levando em conta os diversos fatores que afetam a realidade da empre- sa: técnico, econômico, administrativo e humano. Resumidamente: Norma ISO 9000: apresenta os funda- mentos e vocabulários . Norma ISO 9001: garantia da qualida- de em projetos/desenvolvimento, produ- ção, instalação e assistência técnica. Norma ISO 9002: garantia da qualida- de na produção, instalação e assistência técnica . Norma ISO 9003: garantia da qualida- de na inspeção e ensaio final . Norma ISO 9004 : fornece orientações sobre como alcançar o sucesso contínuo com o seu sistema de gestão da qualidade. Segundo Morejón (2005), a ISO 9000 constitui basicamente uma metodologia proponente de um modelo de implemen- tação de sistemas da qualidade, aplicável a qualquer tipo de empresa, em qualquer parte do mundo. Tem como enfoque a ga- rantia da qualidade e forma um conjunto consistente e uniforme de procedimentos, elementos e requisitos para a garantia da qualidade. É uma ferramenta de trabalho e não produz resultados mágicos; sua maior ou menor efetividade depende da habili- dade daqueles que a estão utilizando. A mais nova versão 9001:2015 trouxe mudanças estruturais na forma de encarar um sistema de gestão, ou seja, não se tra- ta mais da elaboração de documentos, mas sim de uma mudança de postura. Sobre elas, teremos um tópico adiante. O INMETRO é quem credencia os orga- nismos brasileiros de certificação de sis- temas da qualidade, como as normas da família ISO 9000. Os dois mais conhecidos são a Associação Brasileira de Normas Téc- nicas (ABNT), fundada em 1940, e respon- sável pela normalização técnica no país, e a Fundação Carlos Alberto Vanzolini (FCAV). Opcionalmente, no entanto, as empre- sas brasileiras podem também se valer de outros organismos como, por exemplo, American Bureau Shipping (ABS), Bureau Veritas Quality International (BVQI, ingle- sa), Det Norske Veritas (DNV, norueguesa), Germanischer Lloyd (alemã), Société Gé- nérale de Surveillance, 6 7 5 8 4 4- Validada em 30/10/2015, https://www.abntcatalogo.com.br/ norma.aspx?ID=345040 5-Cancelada em 29/01/2001. 6-Cancelada em 29/01/2001. 7- Hoje está em vigor a ISO 9001:2015, validada a partir de 30/10/2015. https://www.abntcatalogo.com.br/norma.as- px?ID=345041 8-O INMETRO possui acordo de reconhecimento com os membros do International Accreditation Forum (IAF) para certificar sistemas da qualidade (ISO 9000), Sistemas de Gestão Ambiental (ISO 14001) e diversos produtos e serviços. 18 19 (SGS, suíça), Instituto Brasileiro da Qua- lidade Nuclear (IBQN) e União Certificadora (UCIEE). Os principais organismos interna- cionais de certificação costumam manter escritórios no Brasil (MOREJÓN, 2005). Ao final da apostila temos uma lista com enti- dades certificadoras. A certificação de uma empresa, de acordo com as normas ISO, não garante a qualidade de seus produtos, mas sim que tanto um processo industrial quanto um conjunto de serviços seguem detalhados padrões, preestabelecidos por escrito. As normas ISO, em suma, constituem apenas uma valiosa ferramenta para a TQM, a Gerência da Qualidade Total. Entre- tanto, convém ressaltar algumas diferen- ças significativas entre um e outro sistema e fazer uma rápida reflexão sobre o fato de que muitos caminhos levam à qualidade. Quatro itens fundamentais distinguem um sistema da qualidade baseado nas nor- mas ISO 9000: 1) Os padrões em si mesmos. 2) Uma interface entre o pessoal e os métodos bem documentados para garantir a qualidade. 3) Uma missão ou propósito central (e não uma lista de objetivos). 4) Métodos e sistemas bem definidos. A família ISO 9000, que já foi fortemen- te baseada na documentação, recomenda- va o usode quatro níveis de documentos: 1) Manual da Qualidade. 2) Os procedimentos. 3) As instruções de trabalho. 4) Os registros da qualidade. O primeiro nível – Manual da Qualida- de – é estratégico. Interliga o organograma da empresa com o planejamento da quali- dade. Estabelece objetivos do sistema de gestão da qualidade, inclui detalhes e jus- tificativas para eventuais exclusões, res- salta a documentação dos procedimentos e descreve a interação entre os vários pro- cessos. O Manual da Qualidade é o guia para o sis- tema da qualidade e pode ser usado como um veículo de treinamento e referências para os funcionários. Todos têm obrigação de ler e assimilar o manual, pois ele serve como um padrão no qual o auditor acessa o cumprimento e o funcionamento correto do sistema da qualidade. Possui caracterís- ticas diferentes dos demais documentos e tem caráter mais duradouro. Somente após sua divulgação ocorre a implementa- ção total do sistema e ele é um documento fundamental para a certificação. O Manual da Qualidade, portanto, deve ser elaborado com uma linguagem simples e clara, que não o condene ao desuso; ao mesmo tempo, precisa cumprir toda a for- malidade requerida, ser de fácil atualiza- ção e classificação, bem como conter prá- tica numeração dos capítulos (MOREJÓN, 2005). De todo modo, a estrutura do Manual da Qualidade pode apresentar diversas for- mas e cada instituição irá elaborar aquela que melhor atender às suas expectativas de praticidade. O segundo nível – procedimentos – detalha como a empresa deve trabalhar para cumprir cada requisito da norma; os procedimentos constituem uma forma es- pecificada de executar uma atividade ou processo. Em geral, respondem às ques- 20 21 tões: o quê, quem, quando, onde, por quê? O terceiro nível – instruções de tra- balho – trata basicamente de elucidar a maneira como as atividades e operações são realizadas. As instruções de trabalho formam um documento de caráter ope- racional, com instruções específicas que respondem à questão: como executar a atividade? As instruções de trabalho de- vem primar pela clareza e não precisam ser extensas ou detalhadas demais, mas con- ter as orientações gerais necessárias para todos os casos vindouros. O treinamento garantirá seu efetivo funcionamento e aplicabilidade (MOREJÓN, 2005). É pelo treinamento, por exemplo, que os funcionários aprenderão a dar correta- mente prioridade a algumas tarefas quan- do interpostas a outras. Assim, por exem- plo, não há dúvida quanto à importância de guardar imediatamente, no local exato, algum produto que acabou de chegar, pois a protelação pode gerar desordem após algum tempo; mas essa atitude pode não ser prioritária em relação ao atendimento de um cliente que espera ao telefone. O treinamento pode conscientizar os funcio- nários quanto à necessidade de estabele- cerem prioridades, no dia-a-dia, e não se tornarem meros repetidores de ações; mas tudo isso pressupõe conhecimentos técni- cos e operacionais de cada um para o cor- reto estabelecimento de prioridades. Os registros e dados da qualidade, per- tencentes ao quarto nível, constituem um documento comprobatório de toda ação estabelecida nos dois níveis anteriores, mantendo um histórico do desempenho passado. Esse nível confirma que as instru- ções foram seguidas. O processo é multifásico, envolvendo revisão de documentação, aprovação, au- ditoria, ação corretiva, reconhecimento e, finalmente, a certificação. Para que a empresa se sinta segura neste trajeto, re- comendam-se algumas regras, tais como conhecer as leis, escrever os procedimen- tos, capacitar os funcionários e ter instru- mentos de controle. Por ser multifásico, o processo pode ser dividido em etapas agrupadas nos três grandes grupos para a implementação: análise, implementação e desenvolvimento (MOREJÓN, 2005). 3.2 As revisões Como acontece a cada cinco anos, de acordo com as diretivas da ISO, as suas nor- mas passam por um processo de revisão para determinar se devem ser mantidas, alteradas ou descontinuadas. Relembrando, em 1987, a ISO lançou a família de normas ISO 9000, fortemente baseadas nas normas britânicas da quali- dade e nas experiências e contribuições de especialistas e representantes de diversos países, e que conseguiram superar diver- gências quanto à terminologia, conceitos e práticas e chegar a um resultado que pode ser considerado um marco histórico na evolução da garantia e da gestão da qua- lidade. A partir desse momento, as normas começaram a evoluir. Em 1994, foi realizada a primeira revisão geral, para melhorar sua interpretação e garantir a inclusão dos aspectos preventi- vos da garantia da qualidade. Essa revisão foi considerada superficial, pois foram fei- tas apenas pequenas adequações formais, visando a antecipar as grandes alterações previstas para o ano 2000. 20 21 Em 2000, ocorreu a segunda revisão, mais significativa, tendo maior ênfase não só os aspectos industriais como também os de serviços. De modo geral, grande par- te das normas requer revisões periódicas. Vários fatores provocam a sua obsolescên- cia, como, por exemplo, a evolução tecno- lógica, novos métodos e materiais, novos requisitos de qualidade e segurança, entre outros. Levando em consideração esses fatores, a ISO estabeleceu que as normas devessem ser revisadas em intervalos in- feriores a cinco anos. Essas revisões periódicas provocam uma constante adaptação nas atividades de certificação, pois as organizações certi- ficadas precisam adaptar e melhorar seus sistemas de gestão para incluir os novos requisitos que são inseridos nas normas de referência. A certificação passa, então, a ser uma atividade dinâmica, que propor- ciona à organização oportunidades de me- lhoria consideráveis. A norma ISO 9001:2008 passou por esse processo em 2011 e, conforme a von- tade manifestada pelos países membros do Comitê Técnico ISO/TC176, foi alterada em 2015. Algumas entidades têm promovido en- contros, cursos e outros serviços alertan- do para a necessidade de as organizações se adequarem às novas mudanças basea- dos em informações de fontes desconhe- cidas pelo ABNT/CB-25. A ISO é um fórum internacional de nor- malização composto por países associados, entre os quais se inclui o Brasil, que produz suas normas baseadas em amplo consenso entre esses países. A ABNT é a entidade brasileira que nos representa oficialmente na ISO. O Comitê Brasileiro da Qualidade – CB-25 da ABNT – é o representante exclu- sivo do Brasil no ISO/TC176, encarregado das Normas de Gestão da Qualidade da ISO e, portanto, a única fonte oficial de infor- mações sobre o processo de revisão das normas. Nenhuma outra entidade tem a atribuição de representar nosso país nos fóruns internacionais da ISO. 3.3 A norma ISO 9001:2015 O objetivo-chave para a ISO 9001:2015 foi, evidentemente, a sua atualização para refletir as práticas empresariais modernas, as mudanças do ambiente de negócios, o uso intensivo da tecnologia da informação e a nova terminologia dos negócios. Vejamos as mudanças que se deram na nova norma, de acordo com o site da ABNT: a) Estrutura e terminologia A estrutura das seções foi alterada para melhorar o alinhamento com outras nor- mas de sistemas de gestão, que a partir de agora, com exceção do capítulo 08, pos- suem textos idênticos. Apesar das normas ISO serem muito pa- recidas em termos estruturais, elas não são exatamente padronizadas, o que di- ficulta um pouco a vida das empresas que desejam implementar sistemas de gestão integrados, como a ISO 9001 + ISO 14001, por exemplo. Diante desse fato, a ISO decidiu adotar um padrão para criação e revisão dos sis- temas de gestão, o famoso Apêndice SL, documento queharmoniza texto, termos e definições. A nova estrutura é: introdução; 22 23 escopo; referência normativa; termos e definições; contexto da organização; liderança; planejamento; apoio; operação; avaliação de desempenho; melhoria. b) Produtos e serviços A revisão da linguagem usada é impor- tante para evitar dúvidas clássicas. Por exemplo, a ISO 9001 utiliza o termo “pro- duto” para se referir a um serviço ou pro- duto. Muitos empresários que trabalham com prestação de serviços ficavam com dúvidas se a ISO 9001 é aplicável a suas empresas, pois a norma não mencionava serviços, somente produtos. Agora, essa dúvida fica esclarecida, pois a norma co- meçou a mencionar “produtos e serviços” para todos os tipos de saídas, seja um pro- duto tangível, serviços, software e mate- riais processados. A inclusão específica de “serviços” tem a intenção de enfatizar as diferenças entre produtos e serviços na aplicação de alguns requisitos. A característica de serviços é que pelo menos parte da saída é realiza- da na interface com o cliente. Isso signifi- ca, por exemplo, que conformidade com requisitos não pode necessariamente ser confirmada antes da entrega do serviço. c) Entendendo as necessidades e ex- pectativas das partes interessadas A ISO 9001:2015 especifica requisitos para a organização determinar as partes interessadas que sejam pertinentes para o sistema de gestão da qualidade e os requi- sitos dessas partes interessadas. O conceito de partes interessadas se es- tende além de um foco exclusivamente no cliente. As partes interessadas pertinen- tes são aquelas que fornecem risco signifi- cativo para a sustentabilidade organizacio- nal se as suas necessidades e expectativas não forem atendidas. Não há requisito nesta Norma para a or- ganização considerar partes interessadas onde ela decidiu que aquelas partes não são pertinentes para seu sistema de ges- tão da qualidade. Cabe à organização deci- dir se um requisito particular de uma parte interessada pertinente é pertinente para seu sistema de gestão da qualidade. d) Mentalidade de risco O conceito de mentalidade de risco tem estado implícito até à versão 2008 por meio de requisitos para planejamento, análise crítica e melhoria. A versão 2015 especifica requisitos para a organização entender seu contexto e determinar riscos com uma base para o planejamento. Isto representa a aplicação da mentalidade de risco ao planejamento e implementação dos processos do sistema de gestão da qualidade e vai auxiliar na determinação da extensão de informação documentada. Um dos propósitos chave de um sistema de gestão da qualidade é atuar como uma ferramenta preventiva. Consequentemen- te, a seção sobre ação preventiva deixa de 22 23 existir na versão 2015. O conceito de ação preventiva é expresso por meio do uso de mentalidade de risco na formulação de re- quisitos de sistema de gestão da qualida- de. Porém, apesar da norma especificar que a organização deve planejar ações para abordar riscos, não há uma indicação de métodos formais para gestão de riscos ou um processo de gestão de risco documen- tado. As organizações podem decidir de- senvolver ou não uma metodologia de ges- tão de risco mais extensiva que o requerido por esta Norma, por exemplo, através da aplicação de outra norma ou diretriz. e) Aplicabilidade Esta Norma não se refere a “exclusões” em relação à aplicabilidade dos seus requi- sitos ao sistema de gestão da qualidade. Todavia, uma organização pode analisar criticamente a aplicabilidade de requisitos devido ao porte ou complexidade da or- ganização, ao modelo de gestão que ela adota, à variedade das atividades da orga- nização e à natureza dos riscos e oportuni- dades que ela encontra. Os requisitos para aplicabilidade são abordados no item escopo, os quais defi- nem condições sob as quais uma organi- zação pode decidir que não é possível apli- car um requisito a qualquer dos processos dentro do escopo de seu sistema de gestão da qualidade. A organização pode somente decidir que um requisito não seja aplicável se sua decisão não for resultar em falha em alcançar conformidade de produtos e ser- viços. f) Informação documentada Como parte do alinhamento com outras normas de sistema de gestão, um capítulo comum sobre “informação documentada” foi adotada sem alteração ou acréscimo significativos em relação à ISO 9001:2008. Consequentemente, “informação docu- mentada” é usada para todos os requisitos de documento, dos quais a ISO 9001:2008 usou terminologia específica como “docu- mento” ou “procedimentos documenta- dos”, “manual da qualidade” ou “plano da qualidade”, esta edição desta Norma defi- ne requisitos para “manter informação do- cumentada”. A ISO 9001:2008 usou o termo “regis- tros” para denotar documentos necessá- rios para prover evidência de conformida- de com requisitos, isso agora é expresso como um requisito para “reter informação documentada”. A organização é respon- sável por determinar qual informação do- cumentada precisa ser retida, o período de tempo pelo qual ela deve ser retida e o meio a ser usado para sua retenção. Um requisito para “manter” informação documentada não exclui a possibilidade de que a organização possa também pre- cisar “reter” essa mesma informação docu- mentada para um propósito particular, por exemplo, reter versões anteriores dela. Esta Norma se refere à “informação” em vez de “informação documentada”, não há requisito para que essa informação seja documentada. Nessa situação, a organiza- ção pode decidir se é ou não necessário ou apropriado manter informação documen- tada. 24 25 g) Conhecimento organizacional A versão 2015 da ISO 9001 aborda a necessidade de determinar e gerenciar o conhecimento mantido pela organização para assegurar que ela pode alcançar con- formidade de produtos e serviços. Requisitos relativos ao conhecimento organizacional foram introduzidos com o propósito de salvaguardar a organização de perdas de conhecimento e encorajar a organização a adquirir conhecimento. h) Controle de processos, produtos e serviços providos externamente Todas as formas de produtos e serviços providos externamente, como a compra de um fornecedor, um arranjo com uma com- panhia associada, processos de terceiriza- ção para um provedor externo são aborda- das na nova versão. A terceirização sempre tem a caracte- rística essencial de um serviço, uma vez que ela terá pelo menos uma atividade desempenhada necessariamente na in- terface entre o provedor e a organização. Os controles requeridos para provisão ex- terna podem variar largamente dependen- do da natureza dos produtos e serviços. A organização pode aplicar mentalidade de risco para determinar o tipo e extensão de controles apropriados para provedores externos e produtos e serviços providos externamente particulares (ABNT, 2015; ALBUQUERQUE, 2016). Segundo a ABNT (2015), são benefícios da nova ISO 9001:2015 para o sistema de gestão de qualidade: avaliar o contexto geral da sua empre- sa para definir quem é impactado por sua atividade e o que eles esperam de você. Isto permitirá que você defina seus obje- tivos de forma clara e identifique novas oportunidades de negócios; colocar seu cliente em primeiro lugar, garantindo a satisfação de suas necessi- dades de forma consistente e superando suas expectativas. O que pode resultar em retorno de clientes, novos clientes e, portanto, o aumento de negócios para sua empresa; trabalhar de maneira eficiente, visto que todos os seus processos estarão ali- nhados e entendidos por todos na empre- sa. Isso leva ao aumento de produtividade e eficiência, reduzindo assim os custos in- ternos; atenderaos requisitos legais e regula- mentares; expandir para novos mercados, uma vez que alguns setores e clientes exigem a ABNT NBR ISO 9001 antes de iniciar um relacionamento comercial; identificar e tratar riscos associados à sua empresa. Comparativamente, vejamos como ficou a norma de 2015 em relação à de 2008: 24 25 3.4 A implantação da ISO 9001:2015 em 10 passos O processo de implantação da ISO 9001:2015, assim como qualquer proje- to de mudança em uma empresa, precisa compreender etapas importantes para ga- rantir que todos os resultados esperados sejam alcançados. Optamos por utilizar os 10 passos propostos pela Q2 Management elaborados com muita didática e que aten- de aos nossos propósitos: 1) Avaliar o sistema de gestão atu- al da empresa – esse passo inicial é im- portante para dimensionar o nível de ade- quação da gestão da empresa em relação aos requisitos da ISO 9001:2015. Todos os “gaps” identificados nessa etapa serão incorporados ao plano de ação elaborado para a implantação ou transição para essa nova versão da norma. 2) Definir a equipe de implantação – uma vez identificadas as lacunas da ges- tão, é hora de definir a equipe responsável pela condução desse projeto. Embora não exista uma regra, é importante que cada membro da equipe conheça a estrutura e processos da empresa, bem como, possua um nível adequado de liderança para ga- rantir o bom andamento das ações. 3) Capacitar a equipe de implanta- ção e outros facilitadores – após defi- nição da equipe, dá-se início ao processo de capacitação desse grupo e outros pos- síveis facilitadores do projeto. O principal foco deste treinamento é apresentar a nova ISO 9001:2015 aos participantes e abordar as principais dúvidas que podem ocorrer durante a realização do projeto de implantação. 4) Elaborar um plano de ação para a implantação – nessa fase todas as ações necessárias para a adequação aos requisi- tos da nova ISO 9001:2015 são abordadas e devem ser alinhadas em um plano de ação que apresente ao menos as atividades de implantação, responsáveis e prazos. 5) Acompanhar o desenvolvimento do projeto de implantação – a execução das atividades estabelecidas no plano de ação deve ser acompanhada pela equipe de implantação periodicamente através de reuniões que buscam alinhar possíveis ne- cessidades identificadas no trabalho. 6) Planejar e realizar a auditoria in- terna – após execução do plano de ação definido anteriormente, a implantação ESTRUTURA ISO 9001:2008 ESTRUTURA ISO 9001:2015 1. Escopo 1. Escopo 2. Referências normativas 2. Referências normativas 3. Termos e definições 3. Termos e definições 4. Sistema de Gestão de Qualidade 4. Contexto da organização 5. Responsabilidade da Direção 5. Liderança 6. Gestão de Recursos 6. Planejamento 7. Realização do produto 7. Suporte 8. Medição, análise e melhoria 8. Operação 9. Avaliação e desempenho 10. Melhoria 26 27 deve avançar para a reta final com as ativi- dades de planejamento e execução da au- ditoria interna conforme requisitos da ISO 9001:2015. Essa etapa é importante para garantir que os processos definidos duran- te o projeto de implantação produzam os resultados esperados pela empresa e tam- bém àqueles previstos pela própria norma. 7) Definir o plano de ação da audito- ria interna – possíveis desvios identifica- dos durante a auditoria interna devem ser analisados e um novo plano de ação, desta vez voltado para a correção dos problemas identificados durante a auditoria interna, deve ser elaborado e acompanhado pela equipe responsável até que os resultados pretendidos sejam alcançados. 8) Definir a certificadora da empresa – com o plano de ação concluído ou quase finalizado, chegou a hora de escolher a cer- tificadora mais adequada para a empresa. Essa escolha pode considerar diversos fa- tores, mas principalmente a disponibilida- de de auditores externos em sua região, a experiência desses auditores em seu negócio e a reputação da certificadora no mercado e em organismos como o INME- TRO. 9) Solicitar a pré-auditoria de cer- tificação – embora não seja obrigatória, a realização da pré-auditoria pode ser um passo importante para garantir antes do processo de certificação que realmente todos os processos estão em conformida- de com a ISO 9001:2015 e também ter um contato antecipado com a abordagem de auditoria adotada por sua certificadora. 10) Realizar a certificação – esse é o último passo para garantir sua certificação e sua principal atividade aqui é demonstrar como sua empresa incorporou os requisi- tos da norma em cada um dos processos de negócio (http://q2management.com. br/10-passos-para-a-implantacao-da-i- so-90012015/). 3.5 NBR ISO 9004:2010 A ISO 9004:2010, denominada Gestão para o Sucesso Sustentável de uma Organi- zação – Uma abordagem da Gestão de Qua- lidade, tem como objetivo fornecer orien- tações e diretrizes para as organizações obterem o sucesso sustentável em um am- biente exigente, em constante mudança e incerto, nos quais vivemos atualmente nas nossas organizações (ABNT, 2010). A ISO 9004:2009 foi publicada em maio de 2010 e corrigida em julho do mesmo ano. Ela pode ser encontrada na íntegra em file:///D:/Downloads/NBR%20ISO%20 9004-2010.pdf. Mas afinal, o que é sucesso sustentável? A abordagem adotada de sustentabili- dade pela norma é um pouco diferente do que estamos acostumados a correlacionar. Sempre ao ouvirmos ou lermos a palavra sustentabilidade, automaticamente pro- jetamos algo relacionado com questões éticas e ambientais para mantermos um mundo “mais verde” para nossas futuras gerações. Ao estudar a norma ISO 9004, percebe-se que este conceito possui uma dimensão muito maior que isto. O sucesso sustentado é o resultado da capacidade da organização em alcançar seus objetivos em longo prazo com análise equilibrada das necessidades e expectativas das partes interessadas. Vendo através deste concei- to, percebe-se que está ligado a questões ambientais, mas também está relacionado a um universo de outras questões, muitas 26 27 vezes esquecidas, referentes as partes interessadas envolvidas com a nossa or- ganização e o desafio de atender as suas necessidades e expectativas não somente no curto e médio prazo (HAULI, 2012). O sucesso sustentável de uma organiza- ção depende muito de sua capacidade de monitorar seu ambiente externo e respon- der de forma adequada questões como: oportunidades; mudanças; tendências e riscos. Esta norma sugere que a organização deverá desenvolver e manter a capacidade de aprender, mudar e inovar como respos- ta aos resultados desse monitoramento ambiental. Desenvolvida para manter consistência com a norma popularmente conhecida ISO 9001, mas também para ser utilizada in- dependentemente, a norma fornece dire- trizes para aprimorar o Sistema de Gestão da qualidade, inclusive abordando temas extremamente importantes como recur- sos financeiros, inovação e aprendizagem que não estão descritos na ISO 9001, além de proporcionar diretrizes para cada orga- nização desenvolver uma ferramenta de autoavaliação para medir o grau de matu- ridade do seu sistema de gestão. Segue então a dica para quem está sem- pre buscando melhorias na sua empresa e no seu Sistema de Gestão. As orientações e diretrizes estabelecidas nesta norma determinam a base para uma organização sustentável e podem ser de grande utilida- de para aprimorar o conhecimento da sua organização (HAULI, 2012). Benefícios proporcionados pela implan- tação da ISO 9001: O sistema de qualidade de uma empresa compõe-se, basicamente, de procedimen- tos que orientam como executar determi- nada tarefa, detalhando os processos e as responsabilidades a eles associados. A ma-nutenção de registros que comprovem se e como determinada atividade foi executa- da é um fator importante para melhorar os processos. Basta, portanto, que a empresa documente o que faz, como faz e compro- ve a execução através de registros, que se- rão mais tarde usados para melhorar todo o sistema de qualidade. Entre os diversos benefícios proporcio- nados pela implantação da ISO 9001, po- de-se destacar: redução de não-conformidades de bens e serviços; eliminação do retrabalho e do custo; aumento da competitividade; maior sustentação em disputas judi- ciais; melhoria de imagem e reputação; aumento da participação no mercado nacional e em mercados internacionais; melhor relacionamento técnico e co- mercial com o cliente; maior integração entre os processos e setores da empresa; melhor desempenho organizacional pela promoção do treinamento, da qualida- de e da certificação do pessoal. O cliente e a sociedade também obtêm benefícios, entre os quais se destacam: melhor relacionamento técnico e co- mercial com o fornecedor; 28 29 aumento da segurança, da confiabili- dade e da disponibilidade dos bens ou ser- viços adquiridos; mais proteção para o consumidor; menor desperdício e poluição; promoção do incremento no desen- volvimento tecnológico da empresa. A ISO 9001 forma com a ISO 9004 um par coerente de normas de sistema de gestão da qualidade, tendo sido elaboradas para se complementarem. Quando a norma ISO 9004 é combinada com a ISO 9001, os objetivos de satisfação do cliente e qualidade do produto são am- pliados para considerar a satisfação das partes interessadas (clientes, acionistas, colaboradores, fornecedores e sociedade) e o desempenho da organização. A ISO 9004 fornece orientação para um sistema de gestão da qualidade com obje- tivos mais amplos, principalmente em re- lação à melhoria contínua do desempenho global de uma organização e sua efetivida- de. Inclui preocupação com saúde, segu- rança e meio ambiente, formando o que se chama de um sistema integrado de gestão. As diretivas da ISO estabelecem que suas normas devem passar por um proces- so chamado “revisão sistemática”, no míni- mo, a cada 5 anos para saber se devem ser: confirmadas; emendadas ou revisadas; descartadas. Desde então, as normas ISO 9000 já fo- ram revisadas 4 vezes. Principais destaques das revisões ante- riores: 1987 – elementos isolados com três níveis de requisitos; 1994 – tendência de norma única, convergência para a ISO 9001; 2000 – norma única de requisitos, gestão por processo; 2008 – pequenas alterações – emen- da para melhorar a clareza; 2015 – trouxe mudanças estruturais na forma de encarar um sistema de gestão, ou seja, não se trata mais da elaboração de documentos, mas sim de uma mudança de postura. A ISO 9001:2008 entrou no processo de revisão sistemática em 15/10/2011 com um período de votação de 5 meses. A revisão sistemática da ISO 9001:2008 indicou a vontade da maioria (simples) dos países membros, incluindo o Brasil, pela sua revisão. Votos: 22 confirmar (sem alterações); 34 emendar/revisar; 0 descartar; 3 abstenções. Para aprovação de uma Norma ISO, pelo menos 2/3 dos membros devem votar fa- voravelmente sem mais de ¼ dos votos contrários. Desde a última revisão da ISO 9001, em 2008, o TC176 vem preparando a revisão de suas normas. Para a revisão da ISO 9001 foram consi- derados, entre outros, os seguintes inputs: diretivas ISO/IEC Parte 1, Anexo SL, Apêndice 2 “High level structure, identical 28 29 core text, common terms and core defini- tions”; pesquisa mundial em 2010 sobre as necessidades de usuários atuais e poten- ciais das normas de gestão da qualidade; revisão dos Princípios de Gestão da Qualidade: - lições aprendidas de projetos de revi- sões anteriores; - resultados do processo de interpreta- ções da ISO 9001; - conceitos futuros de gestão. a) O processo de revisão – Anexo SL Resolução ISO/TMB 18/2012 (15 e 16 de fevereiro de 2012) – estabeleceu o anexo SL para as Normas de Sistemas de Gestão da ISO (MSS) O Anexo SL, Apêndice 2 das Diretivas ISO estabelece: – estrutura comum de Alto Nível (HLS); – texto comum para as normas de siste- mas de gestão (MSS); – principais termos e definições comuns de Sistemas de Gestão. Qualquer futura norma de gestão (nova ou revisada) deve, em princípio, seguir a estrutura e as diretrizes incluídas no Ane- xo SL, Apêndice 2, permitindo-se desvios sob a condição de que sejam relatados ao TMB, com justificativas detalhadas. O Anexo SL (ex-ISO Guia 83) foi votado e aprovado, com comentários, por 68% dos países membros da ISO, inclusive pelo Bra- sil. O TMB determinou que cada Comitê de gestão avalie o impacto do anexo SL sobre suas normas. Essa decisão afeta as normas de gestão da ISO de maneira diferente, a depender do seu estágio de desenvolvi- mento ou revisão, como: energia; qualidade; meio ambiente; segurança do tráfego rodoviário; segurança da informação; segurança alimentar; segurança societária. A decisão será determinante para o fu- turo das normas ISO 9001, ISO 14001 e para a futura norma ISO de Saúde Ocupa- cional e Segurança, base dos ditos siste- mas de gestão integrados (NASCIMENTO, 2013). 30 31 UNIDADE 4 - Certificação ISO/TS 16949:2009 30 A ISO/TS 16949 é uma especificação técnica ISO que alinha as normas dos siste- mas de qualidade automotiva existentes – brasileira, americana, alemã, francesa e italiana – dentro da indústria automotiva global. Ela especifica os requisitos do siste- ma da qualidade para projeto/desenvolvi- mento, produção, instalação e assistência técnica de produtos relacionados à indús- tria automotiva (BSI, 2014). A indústria automotiva global requer ní- veis de classe mundial para a qualidade de produto, produtividade e competitividade, bem como para a melhoria contínua. Para atingir esta meta, muitos fabricantes de veículos insistem que fornecedores ado- tem às rígidas especificações técnicas es- tabelecidas em uma norma de sistema de gestão da qualidade para fornecedores do setor automotivo, conhecida como ISO/TS 16949. Segundo Gonzalez e Martins (2007), a ISO/TS 16949 é o único padrão reconheci- do mundialmente relacionado à gestão da qualidade que se aplica a qualquer organi- zação ativa no fornecimento da cadeia au- tomotiva e de motocicletas. Baseia-se nos oito princípios da gestão da qualidade (to- dos fundamentais para as boas práticas do negócio): 1) Foco no Cliente; 2) Liderança; 3) Envolvimento das Pessoas; 4) Aborda- gem de Processo; 5) Abordagem Sistêmica; 6)Melhoria Contínua; 7) Tomada de Deci- sões Baseada em Fatos, Relações Mutua- mente Benéficas com Fornecedores; 8) No cumprimento dos requisitos específicos de clientes. Esta norma, juntamente com os requisi- tos específicos aplicáveis de cada cliente, define os requisitos fundamentais do sis- tema de gestão da qualidade para aqueles que adotam este documento. Esta norma pretende evitar múltiplas auditorias de certificação e fornecer uma abordagem comum para um sistema de gestão da qua- lidade para organizações de produção au- tomotiva e peças de reposição pertinen- tes. Assim, com a certificação, a empresa as- segura que seu processo produtivo é con- fiável e está organizado em conformidade com as exigências de seus clientes, bem como valoriza sua marca no mercado. É uma norma para quaisquer empresas que queiram e precisem melhorar os pro- cedimentos internos e que precisam se manter competitivas com processos e pro- dutos de alta qualidade, produzidos dentro de um sistema de gestão que atende aos requisitos internacionalmente reconheci- dos para
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