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Lucilene da Silva Santos Petrucci
EVOLUÇÃO DA LEI PENAL NA POLÍTICA DE COMBATE ÀS DROGAS E O TRATAMENTO DADO AO USUÁRIO
1
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2016
Lucilene da Silva Santos Petrucci
EVOLUÇÃO DA LEI PENAL NA POLÍTICA DE COMBATE ÀS DROGAS E O TRATAMENTO DADO AO USUÁRIO
Trabalho de Conclusão de Curso (monografia jurídica) apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de pós-graduação em Direito do Trabalho à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo sob a orientação do Prof. Ms. Thiago de Barros Rocha
1
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2016
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Prof. 
________________________________
Prof. 
________________________________
Prof.
Araçatuba, ___ de __________ de 2016.
Resumo
Esta monografia para conclusão do Curso de Direito foi realizada através de pesquisas bibliográficas (em livros e artigos na internet) e pesquisas jurisprudenciais. Tem como objetivo apresentar os principais aspectos de um tema de extrema importância jurídica e social: a lei de drogas (Lei nº 11.343/06) e os seus efeitos práticos na vida social e no combate às drogas, no intuito de respondermos à seguinte indagação: as novas políticas públicas sobre drogas instituídas no ano de 2006 têm surtido o efeito esperado pelo legislador e pela própria sociedade? 
Palavras chaves: direito – direito penal – lei de drogas. 
Abstract
This monograph to the conclusion Law Course was conducted through literature searches (in books and articles on the internet) and case studies. Aims to present the main aspects of a topic of extreme legal and social importance: the drug law (Law No. 11,343 / 06) and its practical effects on social life in order to answer the following question: the new public policy drug introduced in 2006 have produced the expected by the legislator, and society itself effect? 
Key words: law - criminal law - drug law.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	07
1. EVOLUÇÃO NA LEI PENAL NA POLÍTICA DE COMBATE ÀS DROGAS	09
1.1. Evolução no combate às drogas sob a perspectiva da legislação internacional	09
1.2. Evolução no combate às drogas sob a perspectiva da legislação nacional	13
1.3. O Sistema Nacional de Política Públicas Sobre Drogas – SISNAD	16
	1.3.1. Finalidades	17
	1.3.2. Objetivos	18
	1.3.3. Princípios	21
2. AVANÇOS E RETROCESSOS PROPORCIONADOS PELA LEI 11.343/2006	24
2.1. Avanços e retrocessos no controle, prevenção e repressão ao controle do
consumo e trafico de drogas	24
2.2. Impactos no sistema prisional brasileiro causado pela nova lei 11.343/2006	25
3. AS ALTERAÇÕES NA POLÍTICA SOBRE DROGAS REALIZADAS PELA
LEI Nº 11.343 DE 2006	27
3.1. A elevação da pena por tráfico, inafiançabilidade e a liberdade provisória	27
3.2. O usuário	32
3.3. Medidas de atenção e de reinserção social de usuários ou dependentes de drogas	35
3.4. Definição de droga e norma penal em branco	38
4. OS RESULTADOS PRÁTICOS OBTIDOS PELA NOVA LEI DE DROGAS	40
4.1. Estatísticas sobre os crimes que envolvem drogas	41
4.2. Estatísticas sobre as prisões em decorrência de crimes que envolvem drogas	42
4.3. Considerações sobre os dados coletados nos planos legislativos e jurisprudenciais	43
CONCLUSÃO	45
REFERÊNCIAS	47
INTRODUÇÃO
	Desde o seu descobrimento pela humanidade, as drogas sempre estiveram presentes nos seios sociais das mais diversas civilizações, mas apenas recentemente, mais precisamente, após o século XX, começou a ser tratada como problema de saúde pública e um problema do Direito penal. 
	Através de mecanismos jurídicos o Estado passou a tratar da questão das drogas, que atualmente tem flagelado a sociedade brasileira, seja pelo fomento da criminalidade, seja pela destruição de vidas e famílias através do vício. 
	O mais novo e atual desses instrumentos, no direito brasileiro, é a Lei nº 11.343 de 2006, popularmente conhecida como ‘nova lei de drogas’, que buscou instituir uma nova política criminal de drogas no país. 
É essa lei, e os resultados práticos por ela apresentados desde o ano de sua promulgação, que são o objeto deste estudo: isto é, o trabalho do legislador ordinário foi ou não bem sucedido? 
Inicialmente, abordaremos as políticas sobre drogas em seu contexto histórico, tratando de seu surgimento e da prática numa perspectiva internacional e nacional, respectivamente, bem como, do atual Sistema de Política Públicas Sobre Drogas – SISNAD, elaborado no âmbito da Lei nº 11.343/06, apresentando suas finalidades, seus princípios e objetivos.
No terceiro capítulo, examinaremos especificamente as alterações na política sobre drogas realizadas pela Lei nº 11.343/06.
 Trataremos da elevação da pena por tráfico de drogas, de sua inafiançabilidade e da questão da liberdade provisória; do usuário e do novo tratamento jurídico que é dado a essa figura, que rompe diametralmente com o tratamento anterior; de medidas de atenção e de reinserção social de usuários ou dependentes de drogas; da definição de ‘droga’ e do conceito de norma penal em branco. 
Finalmente, no quarto e último capítulo desta monografia, analisaremos os resultados práticos obtidos pela nova política de drogas estabelecida pela atual legislação.
 
Apresentaremos e trataremos das estatísticas sobre os crimes que envolvem drogas; das estatísticas sobre prisões em decorrência dos crimes que envolvem drogas e realizaremos algumas considerações acerca dos dados coletados nos planos legislativos e jurisprudenciais.
1. EVOLUÇÃO DA LEI PENAL NA POLITICA DE COMBATE AS DROGAS
Diante do problema de criminalidade e violência gerado e alimentado pelo tráfico de drogas, do problema da dependência química sobre os usuários, que afeta as pessoas que os rodeiam, diante da situação de abarrotamento das prisões e dos cemitérios pelos jovens marginalizados recrutados pelo narcotráfico, o problema da droga no século XX adquire importância tal que não pode ser ignorado por setor nenhum da sociedade civil.
 Sendo o direito e o aparato penal os principais instrumentos (extremamente custosos) utilizados nas políticas públicas no combate ao tráfico, devem eles prestar contas da sua correção e eficácia. 
Em outros termos, o que a sociedade exige do combate às drogas é que seu resultado seja uma sociedade melhor, obtida por meios justos. Vale salientar que essa preocupação não é um factoide atual gerado pela modernidade de nossa sociedade. Tal situação vem se desenvolvendo e ganhando contornos catastróficos no cenário mundial. Problemas relacionados ao abuso de certas substâncias narcóticas já têm ocorrido desde o fim do século passado e já era preocupação internacional. 
1.1 A Evolução do combate às drogas sob a perspectiva da legislação internacional
Com o tempo, além das questões de segurança, o fenômeno das drogas passou a ser discutido internacionalmente no contexto da saúde, com a atuação decisiva da Organização Mundial da Saúde. Sendo assim, por muito tempo o mundo reagiu a este fenômeno com uma política proibicionista severa, centrada na redução da oferta das drogas, na proibição e ostensiva repressão do uso e do tráfico. 
É recente na história do sistema internacional de controle de drogas a abordagem direcionada à área da saúde internacional, numa perspectiva da redução da demanda, em que se leva em conta a prevenção do uso de drogas, o tratamento e a reinserção social, como possíveis soluções para o seu controle. Desse modo, as ações internacionais sobre drogas materializam-se por meio de acordos bilaterais, ou seja, iniciativas de cooperação pontuais entre países como, por exemplo, visando à proteção de fronteiras e a repressão ao tráfico de drogas. 
Deve-se ressaltar que nas ações bilaterais, as diferenças de poder entre os dois lados envolvidos muitas vezes afetam o resultado final deste processo e possibilitam a ocorrência de acordos “ganha-perde”,ou a imposição de condições pelo país que possui mais poder frente ao que tem menos condições de impor sua vontade durante as negociações. Há também as ações multilaterais, envolvendo muitos países e também as organizações internacionais.
Nesse sentido, historicamente foram celebrados vários acordos/tratados multilaterais sobre o fenômeno das drogas. Embora, naquela época, o número de substâncias disponíveis com potencial para uso problemático fosse bem menor, o reconhecimento da necessidade de um controle internacional dessas substâncias levou à realização da primeira entre tantas conferências e convenções sobre drogas conforme seguem abaixo (IMESC, 2015):
	1909
	Conferência de Shangai 
Reuniu 13 países para tratar do problema do ópio indiano infiltrado na China não produzindo resultados práticos.
	1911
	Primeira Conferência Internacional do Ópio (Haia)
	1912
	Primeira Convenção Internacional do Ópio 
Resultante da Conferência de 1911 e popularmente conhecida como a "Convenção do Ópio", regulamentou a produção e a comercialização da morfina, heroína e cocaína. Foi prejudicada em sua execução pela Primeira Guerra Mundial, entrando em vigor apenas em 1921.
	1921
	Criação da Comissão Consultiva do Ópio e Outras Drogas Nocivas 
Sucedida pela Comissão das Nações Unidas sobre Drogas Narcóticas (CND - Commission on Narcotic Drugs) por conseqüência da criação da Sociedade das Nações cuja Convenção constitutiva (art. 23,c) reconheceu a atribuição de elaborar acordos sobre o tráfico de ópio e outras drogas nocivas.
	1924
	Conferência de Genebra
Ampliação do conceito de substância entorpecente e instituição do sistema de controle do tráfico internacional por meio de certificados de importação e autorização de exportação.
	1925
	Acordo de Genebra
Surgido da Conferência vinculada à Sociedade das Nações de 1924, torna realidade os dispositivos da Conferência de Haia de 1912.
	1931
	Conferência de Bangkok 
Revisão do acordo de Genebra de 1925.
	1931 e 1936
	Duas novas Conferências realizadas em Genebra. Estabelecimento da obrigação dos estados participantes tomarem as providências para proibirem, no âmbito nacional, a disseminação do vício.
	1946
	Assinado protocolo atualizando acordos anteriores sob convocação da ONU (Organização das Nações Unidas)
	1948 (Paris)
1953 (Nova Iorque)
	Firmam-se outros protocolos. O de Nova Iorque restringiu a produção de opiáceos na fonte, permitindo sua destinação apenas para uso médico.
	30/03/1961
	Firma-se a Convenção Única de Nova Iorque sobre Entorpecentes 
Composta de cinqüenta e um artigos relaciona os entorpecentes, classificando-os segundo suas propriedades em quatro listas. Estabelece as medidas de controle e fiscalização prevendo restrições especiais aos particularmente perigosos; disciplina o procedimento para a inclusão de novas substâncias que devam ser controladas; fixa a competência das Nações Unidas em matéria de fiscalização internacional de entorpecentes; dispõe sobre as medidas que devem ser adotadas no plano nacional para a efetiva ação contra o tráfico ilícito, prestando-se aos Estados assistência recíproca em luta coordenada, providenciando que a cooperação internacional entre os serviços se faça de maneira rápida; traz disposições penais, recomendando que todas as formas dolosas de tráfico, produção, posse etc., de entorpecentes em desacordo com a mesma, sejam punidas adequadamente; recomenda aos toxicômanos seu tratamento médico e que sejam criadas facilidades à sua reabilitação.
	21/02/1971
	Firma-se a Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas (Viena) que passa a controlar a preparação, uso e comércio de psicotrópicos.
	25/03/1972
	Firma-se, em Genebra, o Protocolo de Emendas à Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, modificando-a e aperfeiçoando-a. Altera a composição e as funções do Órgao Internacional de Controle de Entorpecentes, amplia as informações que devem ser fornecidas para controle da produção de entorpecentes naturais e sintéticos e salienta a necessidade de tratamento que deve ser fornecido ao toxicômano.
	1977
	Convocação pela Secretaria Geral das Nações Unidas da Conferência Internacional sobre o Abuso de Drogas e Tráfico Ilícito para rever o documento "Comprehensive Multidisciplinary Outline". 
Esse documento consiste de quatro capítulos, dois deles referindo-se ao controle do fornecimento e à supressão do tráfico ilícito. Faz sugestões práticas sobre o planejamento de programas efetivos para a supressão do tráfico ilícito em todos os níveis (nacional, regional e internacional).
	20/12/1988
	Conclusão da Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas (Viena)
	11/11/1990
	Entra em vigor internacional a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas que complementa as Convenções de 1961 e 1972, acrescentando, entre outras coisas, o éter etílico e acetona no rol das substâncias controladas.
Os esforços multilaterais realizados desde a criação da Comissão de Xangai, fundada em 1909 para lidar com a questão do ópio na China, geraram resultados limitados, uma vez que nem todos os países ligados às drogas estavam envolvidos nas discussões e em busca de uma alternativa conjunta. 
Esse engajamento da comunidade internacional foi somente consolidado após 1945, com a criação da ONU, organização que assumiu a responsabilidade de unir os esforços mundiais para lidar com o fenômeno das drogas, incentivando a elaboração de tratados sobre o tema, como os Protocolos do Ópio celebrados em 1946, 1948, e 1953. 
Em 1961 foi aprovada a Convenção Única sobre Entorpecentes, considerada um marco na área de drogas, pois propôs a sistematização das medidas de controle e estabeleceu as primeiras diretrizes de fiscalização internacional das substâncias narcóticas. Posteriormente, em 1971, a Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, complementou a Convenção de 1961 buscando atingir a diversificação de novas drogas. 
A Convenção também incluiu medidas gerais sobre o tráfico e o abuso de drogas. Em 1988, a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas propôs medidas abrangentes contra o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e o fortalecimento do controle de precursores químicos. Em 1998, durante a Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre o problema mundial das drogas aprovou-se a Declaração dos Princípios orientadores da Redução da Demanda, que estimulou os países a coordenarem esforços para a redução da demanda e a redução da oferta de drogas, por meio de uma estratégia integrada. Delimitou-se, assim, a estratégia de cooperação global para a redução da demanda de drogas. 
Após sua celebração, os acordos bilaterais e multilaterais acima mencionados sobre drogas ilícitas são analisados e, se aprovados internamente, em cada um dos países, são implementados por meio de leis e políticas públicas.
1.2 	A Evolução do Combate às drogas sob a perspectiva da legislação nacional.
Ao longo da história, o foco principal das políticas antidrogas era a de repressão aos traficantes, definido atualmente na Lei 11.343/06 como os indivíduos que: importam, exportam, remetem, preparam, pr
oduzem, fabricam, adquirem, vendem, expõem à venda, oferecem, tem em depósito, transportam, trazem consigo, guardam, prescrevem, ministram, entregam a consumo ou fornecem drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. 
No Brasil, determinados elementos punitivos podem ser verificados nas Ordenações Filipinas. Mais tarde, com a Codificação da República, regulamentaram-se vários crimes contra a saúde pública, dentre eles, o artigo 159 do Código de 1890, proibia “expor à venda ou ministrar substâncias venenosas sem legítima autorização e sem as formalidades prescritas nos regulamentos sanitários”, sendo que a pena para tal delito era a de multa. 
A partir de 1932, as Leis Penais passam a tratar com maior rigor os delitos contraa saúde pública e é acrescentado um total de 12 parágrafos ao artigo 159, do Código de 1890. Assim, além da pena de multa, a prisão cautelar é acrescida. A expressão “substâncias venenosas” foi substituída por “substâncias entorpecentes”, aumentaram-se os verbos criminalizadores, penas de prisão foram acrescidas e a “venda e subministração” de entorpecentes foram determinadas pelo Departamento Nacional de Saúde Pública. 
O início da formação do sistema penalizador brasileiro de drogas ocorre com a autonomia das leis criminais e seu ingresso no modelo internacional de controle as drogas - Convenção de Genebra de 1936, regulando a produção, consumo e a comercialização de substâncias entorpecentes, bem como determinando quais as substâncias permitidas e quais as proibidas. Com o Código Penal estabelecido pelo Decreto-Lei 2.848/40, a criminalização se deu pela venda clandestina ou pela facilitação do uso de drogas. Neste Código buscou-se poupar a penalização junto às regras gerais de aplicação da lei e interpretação.
No entanto, iniciou-se um processo de descodificação, havendo como consequência o parcial descontrole da sistematização da matéria criminal com o Decreto-Lei 4.720/42, referente ao cultivo de drogas e posteriormente com a Lei 4.451/64, a qual diz respeito à plantação de plantas utilizadas para a fabricação de entorpecentes. Entre as décadas de 50 e 60, havia a preocupação de que o Brasil se tornasse rota internacional do tráfico de drogas: Registram temores, de que o Brasil em futuro próximo, seja o país visado para a fixação das rotas internacionais, por apresentar condições geográficas propícias ao tráfico de drogas e um campo adequado para a disseminação de tóxicos, dada a sua extensão territorial, o seu desenvolvimento, os hiatos populacionais em grandes trechos, suas condições geográficas e as dificuldades de policiamento ao longo da costa. 
Assim, nesta época, com a pressão de outros países, a necessidade de repressão às drogas ilegais passa a ser amplamente discutida e, após a Ditadura Militar, com a aprovação e promulgação da Convenção Única sobre Entorpecentes pelo Decreto 54.216/64, ocorre oficialmente à entrada do Brasil no combate internacional às drogas. 
Para NILO BATISTA (2012. p. 47), o Brasil acatou o discurso “histérico e cego” dos Estados Unidos que se colocou como país-vítima, pois sempre importou a droga e acabava por pressionar os chamados países agressores da America Latina, pois estes exportavam a droga ou facilitavam o tráfico. Percebe-se que a base da política proibicionista vem dos Tratados realizados pela ONU. 
Tais acordos visam à proibição das drogas, e se caracterizam por serem normas de repercussão mundial baseadas em “tolerância zero”, as quais proíbem práticas relacionadas a mais de 200 (duzentas) substâncias entorpecentes listadas nos Tratados de 1961 e 1971. Após a adequação das normas internas do Brasil com as ordenações internacionais, foi editado o Decreto-Lei 159/67, o qual buscou igualar substâncias capazes de determinar dependência física e psíquica. 
Porém, com o Decreto-Lei ocorreu o rompimento com as políticas internacionais e com o discurso de diferenciação existente, penalizando o usuário de entorpecentes da mesma forma que o traficante de drogas. Nenhuma providência tomada até então foi considerada suficiente e, na visão dos analistas e pela leitura das estatísticas oficiais, o consumo de drogas só fazia aumentar, motivo pelo qual o Congresso Nacional brasileiro, em 1971, promulgou a Lei 5.726, a qual promoveu modificações na política antidrogas do Brasil na medida em que modificou o rito processual e as hipóteses criminalizadoras, bem como inovou as técnicas de repressão existentes, não mais considerando os dependentes como criminosos. A Lei nº. 5.726, foi criada com o objetivo de diminuir o consumo e o tráfico de drogas, a partir da previsão de medidas preventivas e repressivas e como solução para este problema impunha a internação dos dependentes de drogas. 
Ocorre que a quantidade de “viciados” era bastante alta e o Estado não contava com a infraestrutura necessária, nem hospitais que suportassem tal quantidade de dependentes. Com a Lei 6.368/76, elaborada na constância da ditadura militar de 1964, o modelo repressivo definitivamente é mantido, criminalizando a venda, exposição, porte, e novamente o uso, prevendo a aplicação do tratamento toxicômano coercitivo, caracterizando a chamada “Justiça Terapêutica”. No período em que esta lei ficou em vigência as ações governamentais tinham um enfoque repressivo e tentavam controlar o tráfico e o uso de drogas através da redução da oferta das substâncias. Assim, eram enviados à prisão tanto usuários, quanto traficantes. A ideologia, durante a vigência da Lei nº. 6.368/76 era a de diferenciação moralizadora, onde usuários eram tratados como doentes e os traficantes como delinquentes. 
Percebe-se que todas as estratégias promovidas pelo governo brasileiro tiveram a finalidade de demonstrar à comunidade internacional que o combate às drogas era prioridade do governo. Entende-se ainda, que todas as políticas e legislações atinentes à questão das drogas tiveram viés repressivo. 
A entrada em vigor da Constituição de 1988 manteve o tratamento repressivo ao traficante, haja vista que a Carta Magna determina essa conduta como crime inafiançável e insuscetível de graça ou indulto. Com a edição da Lei dos Crimes Hediondos – Lei nº. 8.072 de 1990 foram vedadas a concessão de liberdade provisória aos acusados por tráfico de drogas. Pode-se compreender a existência de duas fases de políticas antidrogas no Sistema Brasileiro. 
A primeira, que vai até 1988, gira em torno dos Conselhos de Entorpecentes (Federal Estadual e Municipal). Estes conselhos possuem o papel de propor e aplicar políticas públicas, mas por não serem suficientes para produzir mudanças no sistema antidrogas, permaneceu a resposta repressiva. 
 A segunda política antidroga diz respeito à Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), criada em 1998, e às secretarias correlatas nos âmbitos Estadual e Municipal, extinguindo os conselhos existentes por meio de medida provisória. Referida Secretaria teve sua direção entregue ao comando militar, este atrelado ao Gabinete de Segurança Institucional da República, continuando a seguir a resposta repressiva. Em 2002, com a entrada em vigor da Lei nº. 10.409, o legislador brasileiro criou mais uma lei sobre o tema, prevendo nova regulamentação sobre a prevenção, o tratamento, a fiscalização, o controle e a repressão à produção, ao uso e ao trato ilícito de produtos, substâncias ou drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica. 
Complementar a essa lei, editou-se em 08 de outubro de 2006, a Lei nº. 11.343 com a finalidade de instituir o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, o qual prevê, dentre outras ações: articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com a prevenção do consumo indevido de drogas, bem como objetiva promover a reinserção social de usuários e dependentes de drogas.
 Como já mencionado, as mais variadas estratégias foram criadas pelo governo brasileiro, instituídas por diversos documentos, no entanto, a política antidrogas no Brasil sempre se concentrou na repressão e mais que isso, na punição de viciados e pequenos traficantes. 
1.3. O Sistema Nacional de Política Sobre Drogas - SISNAD
	A Lei nº 11.343 de 23 de Agosto de 2006, popularmente conhecida como ‘nova lei de drogas’ (e que atualmente não é tão nova assim) traz em suas disposições preliminares as justificativas de sua elaboração e os objetivos que pretende alcançar quando posta em vigência:
Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.
	Como podemos ver, a lei institui um Sistema Nacionalde Políticas Públicas sobre Drogas, denominado SISNAD, o que vai de encontro a uma nova política no tratamento das drogas no país. 
	Conforme explicita o ex-presidente da Câmara dos Deputados, DEPUTADO MARCO MAIA (2012, p. 07):
Ao criar o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), a Lei nº 11.343 de 23 de Agosto de 2006, dotou a sociedade brasileira dos instrumentos legais de que precisa para vencer a luta contra uma das mais graves ameaças ao desenvolvimento socioeconômico das nações. As drogas, verdadeiro martírio para os que dela são dependentes, arruínam o presente e comprometem o futuro de um povo, pela sedução ardilosa com que viciam e matam. 
(...)
Outrora a regra era a repressão. Sem que se procedesse à necessária distinção entre fornecedores e usuários, traficantes e dependentes, todos eram inseridos na vala comum da transgressão e do crime. Hoje, o Sisnad estabelece a diferença entre criminosos e vítimas, entre os que merecem a força da lei e da Justiça e os que têm direito ao tratamento médico, ao apoio psicológico e à assistência social – meios para se recuperar, se reabilitar e se reinserir na sociedade. 
Segundo ALICE BIANCHINI (2013, p. 29) “a criação de tal Sistema vai ao encontro de uma política criminal de drogas mais consentânea com aquelas modernamente recomendadas”.
	1.3.1. Finalidades
As finalidades do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas estão listadas no artigo 3º e incisos da Lei nº 11.343/2006.
In verbis: 
Art. 3o  O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com:
I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.
Com o novel sistema, o legislador quis realizar a articulação, integração, organização e coordenação de duas atividades: a preventiva e a repressiva. 
A primeira se destina ao consumidor da droga, seja ele dependente ou não; e a segunda, que cuida da produção e tráfico ilícito de drogas. 
Tanto a atividade preventiva quanto a repressiva devem ser desenvolvidas em consonância com onze princípios, listados no artigo 4º da Lei 11.343/06 e que serão mais adiante examinados, bem como, as mesmas atividades devem ter como objetivos os listados no artigo 5º da mesma lei, que também serão analisados adiante. 
1.3.2. Objetivos
A Lei nº 11.3143/06 também estabeleceu certos objetivos a serem alcançados pelo sistema nacional de políticas públicas sobre drogas, e em quatro incisos de seu artigo 5º.
In verbis: 
Art. 5o  O Sisnad tem os seguintes objetivos:
I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados;
II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país;
III - promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios;
IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que trata o art. 3o desta Lei.
Os objetivos listados pelo legislador se referem especificamente à prevenção e repressão às drogas. 
No inciso I, ressalta-se a necessidade de “inclusão social do cidadão” com a pretensão de diminuir sua vulnerabilidade ao envolvimento com as drogas, seja o uso, tráfico ilícito ou “outros comportamentos relacionados”.
Sobre esse objetivo, discorre ALICE BIANCHINI (2013, p. 50): 
Muito acertado tal objetivo, na medida em que estudos sobre consumo, produção e comercialização de drogas demonstram que eles estão estreitamente vinculados a fatores de vulnerabilidade do indivíduo. São denominados fatores de risco, representados por ‘circunstâncias sociais ou características da pessoa que a tornam mais vulneráveis a assumir comportamentos arriscados, como usar drogas” e que se contrapõem aos fatores de proteção, que são “aqueles que contrabalançam as vulnerabilidades, tornando a pessoa com menos chance de assumir esses comportamentos”. Tanto um quanto o outro são comuns aos indivíduos, na família, junto aos amigos, no trabalho, na escola, enfim, na comunidade que habita ou frequenta. 
SANDRA SCIVOLEITO et alli (2004) citam alguns fatores que significam risco ou proteção, fatores esses que podem estar relacionados à pessoa do próprio indivíduo ou a grupos sociais, como o escolar. 
No primeiro caso, tratando-se de fatores de proteção ligados ao próprio indivíduo, temos as habilidades sociais, cooperação, habilidades para resolver problemas, vínculos positivos com pessoas, instituições e valores, autonomia e autoestima desenvolvida. 
Já no âmbito escolar, por exemplo, há fatores mais específicos, que embora não deixem de estar ligados aos indivíduos, também têm relação direta com o meio ambiente de onde emergem. 
Identificados esses fatores que influenciam positiva ou negativamente na iniciação no mundo das drogas, do uso ao tráfico ilícito, cumpre ao Estado e à Sociedade atuar preventivamente (de acordo com a finalidade preventiva do sistema nacional de proteção) para inibir os de risco e fomentar os de proteção. 
Sobre essa atuação, diz ALICE BIANCHINI (2013, p. 52) as medidas de inclusão “devem ser, prioritariamente, realizadas nas zonas consideradas de risco e são tão mais eficazes quanto mais próximos os agentes públicos ou privados ligados às ações preventivas estiverem do grupo vulnerável.” 
Em passagem mais adiante, arremata com maestria a autora supramencionada (ALICE BIANCHINI, 2013, p. 53): 
No lugar de buscar a imunização do sujeito às drogas, por obstáculo ou castigo, a Lei elege como um dos objetos de prevenção torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco, numa demonstração de maior consistência acerca dos aspectos que envolvem o tema. 
Em relação ao segundo objetivo traçado pelo legislador penal, que é o de ‘promover a construção e socialização do conhecimento sobre drogas no país’, vemos que se trata de estabelecer e disseminar um conhecimento concreto acerca das drogas por toda a sociedade.
Isso de extrema importância para o Estado, na medida em que pode coordenar e orientar suas políticas e ações contra as drogas com base em dados empíricos e informações relevantes acerca do fenômeno, bem como, é importante para a sociedade, na medida em que passa a ter acesso a esses dados e informações e seus membros podem ter atitudes preventivas espontâneas. 
Esse objetivo também é mencionado na Política Nacional Sobre Drogas do CONAD, publicada no ano de 2005:
Educar, informar, capacitar e formar pessoas em todos os segmentos sociais para a ação efetiva e eficaz de redução da demanda, da oferta e de danos, fundamentada em conhecimentos científicos validados e experiências bem-sucedidas, adequadas a nossa realidade.
Diante disso, várias publicações educativas e pesquisas são realizadas pelos mais variados órgãos, dando cumprimento efetivo a essa diretriz estabelecida pelo legislador penal. 
Sobre o terceiro objetivo, contido no inciso III do artigo em comentário, que fala, dentre outras coisas, da promoção da integração entre políticas de prevenção do uso indevido das drogas, e de uma articulação entre os órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios, vemos que esse busca dar mais efetividade às políticas dos diversos órgãos estatais.
De fato, em tese, quando pensamos em diversas ações com um objetivo em comum, temos que o resultado dessas ações seja mais eficaz se as ações forem coordenadas entre si. 
Nesse sentido, dispõe o artigo 17 do Decreto 5.912/06, que regulamente a Lei nº 11.343/06, ao determinar o intercâmbio de informações entre os órgãos que elepróprio menciona:
Art. 17.  Será estabelecido mecanismo de intercâmbio de informações com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, com o objetivo de se evitar duplicidade de ações no apoio às atividades de que trata este Decreto, executadas nas respectivas unidades federadas.
Por fim, o quarto e último objetivo do sistema nacional de políticas públicas sobre drogas elencado pelo legislador refere-se a “assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades” das quais trata o artigo 3º da Lei nº 11.343/06. 
As atividades referidas no artigo 3º, ora mencionado, são “a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;” e “a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.”
Trata-se de um princípio ou uma diretriz um tanto quanto vaga, mas que pode inspirar o sistema a se renovar no tempo, a tomar novas formas e assim melhor responder aos desafios que a questão das drogas apresenta. 
1.3.3. Princípios
A Lei 11.343/06 elencou em seu artigo 4º nada menos que onze princípios, que devem servir de vetor para a aplicação de seus dispositivos e para o próprio desenvolvimento do SISNAD. 
	São eles: 
I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade;
II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;
III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados;
IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o estabelecimento dos fundamentos e estratégias do Sisnad;
V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da participação social nas atividades do Sisnad;
VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;
VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;
VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação mútua nas atividades do Sisnad;
IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas;
X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social;
XI - a observância às orientações e normas emanadas do Conselho Nacional Antidrogas - Conad.
	
	Dentre esses, destacamos o inciso I, que trata dos ‘direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto a sua autonomia e a sua liberdade’; o inciso V, que cuida da ‘responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade’, o inciso VIII, que trata da “articulação de órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário” e o inciso IX, que fala de uma ‘abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e natureza complementar das atividades de prevenção’ do uso indiscriminado, da atenção e reinserção na sociedade de usuários e dependentes químicos e do controle da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. 
	Quanto ao inciso I, devemos notar que os direitos fundamentais da pessoa humana, num Estado Democrático de Direito devem ser respeitados em quaisquer hipóteses ou circunstâncias. 
No entanto, o enfoque legislativo deu-se em relação aos princípios da autonomia da vontade e da liberdade, que preservam o direito à autodeterminação pessoal, estabelecendo uma esfera individual dentro da qual o Estado não pode e nem deve se imiscuir. 
Em relação à política de drogas, a aplicação desses princípios é relativamente nova. 
De acordo com os ensinamentos da doutrinadora ALICE BIANCHINI (2013, p. 41):
Tal princípio inaugura uma nova mentalidade acerca da problemática que envolve o usuário de drogas. Ele está em conformidade com as tendências criminológicas modernas, nas quais o enfoque estereotipado do consumidor-doente cede lugar à autonomia da vontade, respeitando e permitindo que o sujeito envolvido com drogas deixe a situação passiva, para participar do processo que envolve o uso ou a dependência da droga. 
Também pertinentes os comentários de SALO CARVALHO (1996, p. 228) ao discorrer sobre a ingerência estatal em atos de indivíduos que não causem danos ou perigo concreto a bens jurídicos de terceiros, e que é um dos fundamentos da descriminalização do uso de drogas: 
Nenhuma norma penal será legítima se intervier nas opções pessoais, impondo aos sujeitos determinados padrões de comportamento ou reforçando determinadas concepções morais. A secularização do direito e do processo penal, fruto da recepção constitucional dos valores do pluralismo e da tolerância à diversidade, blinda o indivíduo de intervenções indevidas na esfera da interioridade. Assim, está garantido ao indivíduo a possibilidade de plena resolução sobre os seus atos, desde que sua conduta exterior não afete (dano) ou coloque em risco factível (perigo concreto) bens jurídicos de terceiros. Apenas nestes casos (dano ou perigo concreto), haverá intervenção penal legítima. 
Já em relação ao princípio da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, devemos inicialmente observar que essa iteração se trata de uma tendência das atuais políticas públicas, nas suas mais diversas espécies. 
2. AVANÇOS E RETROCESSOS PROPORCIONADOS PELA LEI 11.343/2006
 
	A Lei 11.343/06 trouxe inovações para todos os lados, para os usuários, principalmente para usuários e traficantes. Discutem-se bastante os tipos penais novos, bem como o tratamento diferenciado, agravado ou abrandado, ao tráfico e ao usuário, tendo por objetivo principal o tratamento mais individualizado das inúmeras condutas que rodeiam o tráfico de drogas. Assim, enrijeceu o tratamento dado ao tráfico de drogas com pena maior (de 5 a 15 anos e multa), e criou novos tipos penais, mais rigorosos e mais brandos. 
2.1. Avanços e retrocessos no controle, prevenção e repressão ao controle do consumo e trafico de drogas
	A lei 11.343/2006 entrou em vigor no dia 07 de outubro do ano de 2006, revogando expressamente as Leis 6.368/76 e 10.409/02, e instituindo o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes, além do respectivo procedimento criminal. Para fins da Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. 
	A nova lei trouxe em seu corpo descritivo vários avanços notórios em uma primeira leitura, contudo e valido salientar, que da mesma forma trouxe uma serie de celeumas jurídicas causadores de conflitos constitucionais no nosso ordenamento jurídico.
	Nessa vertente de analise, cabe destacar a problemática instituída pelo art. 28 da referida lei, onde se confunde a descriminalização (“abolitio criminis”) com uma lei penal mais branda (“novatio legis in mellius”). 
2.2 Impactos no sistema prisional brasileiro causado pela nova lei 11.343/2006
	Os sentimentos de medo e insegurança presentes na sociedade, associados á amplavisibilidade das questões relacionadas ao uso e trafico de drogas são fatores que tem favorecido uma política repressiva e punitiva que vem se mostrando de alcance limitado. 
	A maioria das prisões em flagrantes é realizada pela policia militar, e ocorrem normalmente em vias públicas, singularmente conhecidas no dito popular como bocas de fumo, conhecidos como pontos de vendas de drogas, em patrulhamentos de rotina.
	A aplicação falha da lei é apontada como a causa da superlotação dos presídios na última década. Presos por tráfico de drogas já superam os de todos outros crimes no país, segundo dados do Ministério da Justiça.
	Em 2006, quando a Lei 11.343 começou a valer, eram 31.520 presos por tráfico nos presídios brasileiros. Em junho de 2013, esse número passou para 138.366, um aumento de 339%. Nesse mesmo período, só outro crime aumentou mais dentro das cadeias: tráfico internacional de entorpecentes (446,3%).
	Só em São Paulo, posse e tráfico de drogas motivaram 25,27% das prisões de incluídos no sistema prisional entre 15 de abril e 14 de maio deste ano. Foram 837 novos presos de um total de 3.311 no período de um mês, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Outros 10,72% (355 presos) entraram por outros crimes praticados em função do vício em substância tóxica.
	E a consequência grave dessa política de repressão e punição colocada em pratica é a geração de uma massa de jovens com passagem pela policia, registros criminais e com os estigmas produzidos pela prisão. 
	Conforme os dados a seguir apresentados por uma emissora de televisão brasileira (2015):
	
3. AS ALTERAÇÕES NA POLÍTICA SOBRE DROGAS REALIZADAS PELA LEI Nº 11.343 DE 2006 
	Antes da promulgação da Lei nº 11.343 de agosto de 2006, duas eram as leis que cuidavam do assunto no ordenamento jurídico brasileiro, quais sejam, a Lei nº 6.368 do ano de 1976 e a Lei nº 10.409, mais nova, de 2002, e que foram revogadas pela ‘nova lei’.
	A nova lei penal sobre drogas promoveu sensíveis alterações na política criminal antiga, dentre as quais, as de maior relevância são a criação do SISNAD, bem como, a instituição de medidas preventivas e repressivas às drogas, e também, uma nova perspectiva sobre o usuário, com a instituição de medidas de reinserção e reintegração social deste. 
	Trataremos dos aspectos mais relevantes relacionados às alterações legislativas mais recentes. 
3.1. A elevação da pena por tráfico de drogas, sua inafiançabilidade e a liberdade provisória
	A Lei nº 11.343 de 2006 institui uma nova pena ao crime de tráfico de drogas em seu artigo 33. 
Nesse novo panorama, a pena para quem importe, expor, remeta, prepare, produza, fabrique, adquira, venda, exponha à venda, ofereça, tenha em depósito; transporte, traga consigo, guarde, prescreva, ministre, entregue a consumo ou forneça drogas “ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar” é de reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
 Foi um sensível aumento em relação ao artigo 12 da Lei nº 6.368 de 1976, que previa, para esse delito, pena de reclusão de 3 (três) a 15 (quinze) anos e multa de 50 a 360 dias-multa.
Contudo, vale notar que esse não foi o primeiro aumento de pena para o crime de tráfico ocorrido no Brasil.
Segundo esboço histórico realizado por JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA ROBALDO (2013), o aumento de pena realizado pela Lei nº 11.343/06 foi o terceiro aumento de pena pra esse tipo de delito, o que reflete a tendência da política estatal de drogas de aumento de pena do traficante:
Uma rápida retrospectiva histórica revela, com clareza, essa tendência.  O Código Penal de 1940, em seu art. 281, punia o tráfico com a pena de reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e multa de dois a dez mil cruzeiros. Como o crime de tráfico vinha aumentando, o Código Penal, por meio da Lei nº 6.368, de outubro de 1976, foi alterado e essa modalidade criminosa passou a ser punida com pena de reclusão de 3 (três) a 15 (quinze) anos e multa de 50 a 360 dias-multa. Entretanto, o crescimento do crime de tráfico não perdeu a sua velocidade. De acordo com as perspectivas do governo e do legislador, para contê-lo, a solução era elevar a “dose do remédio”, pois a “doença” estava aumentando vertiginosamente. Foi nesse contexto que, em 2006, por meio da Lei nº 11.343, instituiu-se o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad, visando, mais uma vez, conter os altos índices de tráfico de drogas que não paravam de crescer. Para tal, a pena prevista foi a reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Aumento considerável tanto em relação à pena mínima quanto em relação à pena pecuniária.
Essa tendência parece não ter se esgotado, tendo em vista que tramita na Câmara dos Deputados o projeto de Lei nº 7.663/10, de autoria do Deputado Federal OSMAR TERRA (PMDB – RS) que visa à alteração da atual lei de drogas, e que se aprovado, também representará um agravamento das atuais sanções. 
Não é demais lembrar, todavia, que os delitos de tráfico praticados antes do advento da nova lei, isto é, na vigência da Lei nº 6.368/76, são por esta regidos, por força do princípio da irretroatividade da lei penal maléfica para o réu. 
 Mas, uma questão que se colocou recentemente foi a relativa à combinação de preceitos das duas legislações, a atual e a revogada.
 Isto é, uma vez cometido o delito na época de vigência da Lei nº 6.368/76, o sujeito ativo se submete à menor pena-base desta lei, e cria a pretensão de dispensar a causa de diminuição de pena constante do parágrafo único do artigo 19 em troca da cláusula de diminuição de pena constante do artigo 33 §4º da lei atual.
Seguem os dispositivos invocados da Lei nº 6.368/67: 
Art. 19. É isento de pena o agente que em razão da dependência, ou sob o feito de substância, entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica proveniente de caso fortuíto ou força maior era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se, por qualquer das circunstâncias previstas neste artigo, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Bem como, o dispositivo invocado da Lei nº 11.343/067: 
Art. 33. (...) 
§ 4o  Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
Contudo, a jurisprudência logo se mostrou refratária a essa possibilidade de aplicação combinada dos dois diplomas legais, como infere-se do seguinte acórdão, proferido pelo STJ: 
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. APLICAÇÃO DA MAJORANTE DO ART. 40, I, DA LEI 11.343/06 (TRANSNACIONALIDADE) E DA MINORANTE DO ARTIGO 33, PARÁGRAFO 4º, DA LEI Nº 11.343/06 SOBRE A PENA FIXADA COM BASE NO ARTIGO 12 DA LEI 6.368/76. COMBINAÇÃO DE LEIS. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI QUE POR INTEIRO FOR MAIS BENÉFICA. 1. A Lei nº 11.343/06, ao revogar a Lei nº 6.368/76, disciplinou por inteiro o sistema de repressão ao tráfico ilícito de drogas e, ao tempo em que conferiu tratamento mais rigoroso aos traficantes, aumentando a pena mínima cominada abstratamente ao delito de 3 (três) para 5 (cinco) anos, instituiu causa especial de diminuição de pena de 1/6 a 2/3, e ainda reduziu o menor patamar de exasperação pelas causas especiais de aumento de pena de 1/3 (um terço) para 1/6 (um sexto).
 2. A concessão da minorante do parágrafo 4º do artigo 33 e a aplicação da majorante no patamardo artigo 40, ambos da Lei 11.343/06 sobre a pena fixada com base no preceito secundário do artigo 12 da Lei nº 6.368/76 não decorreria de mera retroatividade de lei nova mais benéfica, mas de verdadeira aplicação conjugada das normas revogada e revogadora, sendo de todo inviável, já que o sistema revogador instituiu causa de diminuição de pena e reduziu o menor patamar da exasperação pelas causas de aumento de pena justamente porque aumentara a pena mínima cominada abstratamente ao delito de 3 (três) para 5 (cinco) anos. 3. Conquanto se reconheça na lei revogadora as hipóteses de nova causa de diminuição da pena, bem como de aumento de pena em patamar menor, não se pode pinçar uma regra de uma lei e uma regra da outra lei para o fim de beneficiar o réu porque assim haveria a criação de uma terceira lei que, além de evidenciar atividade legiferante, vedada ao Poder Judiciário, deixa de considerar a norma como um sistema uno, coerente e harmônico. 
4. Agravo regimental desprovido.
(STJ - AgRg no REsp: 1212535 PR 2010/0176810-5, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 02/04/2013, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/04/2013)
Bem como, acórdão do STF: 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA. COMBINAÇÃO DE LEIS. APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006 SOBRE A PENA APLICADA COM BASE NA LEI 6.368/1976. IMPOSSIBILIDADE. LEX TERTIA. INCIDÊNCIA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO EM PATAMAR INFERIOR AO MÁXIMO PREVISTO PELO TRIBUNAL ESTADUAL. APLICAÇÃO INTEGRAL DA LEI MAIS FAVORÁVEL AO RÉU. ORDEM DENEGADA. 
1. O art. 5º, XL, da Carta Magna (a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu) é de incerta aplicação aos casos em que a lei posterior é mais benéfica ao réu em alguns aspectos e prejudicial em outros, sustentando a doutrina majoritária que, em tais hipóteses, deve aplicar-se uma ou outra lei, integralmente, em bloco, sem que possam combinar-se os aspectos mais favoráveis delas, mercê de proibir-se a denominada lex tertia ou princípio de combinação (CALDERÓN, Guillermo Oliver. Retroactividad e irretroactividad de las leyes penales. Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 2007. p. 56-61; MANZINI, Vicenzo. Trattato di Diritto Penale Italiano. 4ª ed. Torino: UTET, 1981. p. 391; CEREZO MIR, José. Curso de derecho penal español. Parte general. T. I. 6ª ed. Madrid: Tecnos, 2004. p. 234; MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal. Parte general. 6ª ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2004. p. 146; e MANTOVANI, Fernando. Diritto penale. Parte generale. 3ª ed. Padova: CEDAM, 1992. p. 123).
 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 600.817-RG/MS, Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, realizado em 7/11/2013, firmou-se no sentido da impossibilidade de aplicação retroativa da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 sobre a reprimenda cominada com base na Lei 6.368/1976, sob pena de se formar uma lex tertia.
3. In casu, a) o paciente foi condenado pela prática do crime previsto no art. 12 da Lei 6.368/1976 (tráfico de drogas) à pena de 3 anos de reclusão, porquanto utilizava sua residência como ponto de venda de drogas, sendo encontrado em sua posse 10 (dez) pedras de crack embaladas em papel alumínio, para fins de entrega a consumo de terceiros, bem como um revólver calibre 38, marca Taurus, com quatro cartuchos intactos. b) O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do recurso especial, reconheceu a prescrição quanto ao crime de posse irregular de arma de fogo e negou a aplicação da causa de diminuição de pena prevista na Lei 11.343/2006 sobre a pena cominada com base na Lei 6.368/1976, assentando que a aplicação da Lei 6.368/1976 em sua totalidade era mais favorável do que a aplicação integral da Lei 11.343/2006, em razão do Tribunal estadual ter aplicado a mencionada minorante na fração de 1/6 (um sexto), de acordo com as circunstâncias do caso. 
4. (...)
5. Ordem denegada.
(STF - HC: 119067 PR , Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 11/03/2014, Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-066 DIVULG 02-04-2014 PUBLIC 03-04-2014)
Sobre a inafiançabilidade do delito de tráfico, o artigo 44 da Lei nº 11.343/06 prescreve que: “os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos”. 
A inafiançabilidade desse tipo de crime não é uma inovação da Lei de Drogas, mas uma diretriz dada pela própria Constituição Federal, que em seu artigo 5º, XLIII, prescreve: 
Art. 5º. (...)
 XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Temos que a inafiançabilidade significa apenas que em determinados tipos de delito é impossível obter-se a liberdade com o pagamento de fiança. Tal é o que ocorre com o tráfico de drogas ilícitas. 
Mas, a própria expressão ‘afiançabilidade’ poderia ter sido evitada pelo legislador constituinte, já que ‘ressuscitou’ algo que já estava ultrapassado em nosso ordenamento jurídico, já que os delitos tidos como inafiançáveis, desde a Lei nº 6.416 de 1977, são passíveis de receberem a liberdade provisória. 
De qualquer modo, a expressão ‘afiançabilidade’ constante do mencionado artigo 44 não provocou maiores problemas jurídicos nos tribunais, pelo menos, não, comparada à expressão ‘liberdade provisória’, constante do mesmo artigo. 
Conforme EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA (2009, p. 550):
A constituição de 1988 chegou, então absolutamente desatualizada, trazendo uma enorme perplexidade ao renovar ou ressuscitar a antiga expressão da inafiançabilidade, cujo único significado era (e ainda é, para nós) a impossibilidade de aplicação do regime de liberdade com fiança. (...) O fato de a liberdade com fiança não ser permitida para determinados crimes, daí serem inafiançáveis, não poderá significar nunca a impossibilidade da aplicação da liberdade provisória sem fiança, tal como admitida no próprio texto constitucional ( art.5º, LXVI), porque isso implicaria a interpretação da norma constitucional a partir da legislação ordinária, o que é absolutamente inadmissível e mesmo impensável
De fato, a controvérsia sobre a constitucionalidade da exclusão da possibilidade de o Poder Judiciário examinar a presença dos requisitos da liberdade provisória foi instalada e acabou sendo resolvida pelo Supremo Tribunal Federal.
Tratava-se de um habeas corpus onde o paciente, preso em flagrante por tráfico de entorpecentes, tivera o exame de seu pedido de liberdade provisória denegado na origem, e então, postulava a declaração incidental de inconstitucionalidade parcial do artigo 44 da Lei nº 11.343/06, e por consequência, o exame de mérito de seu pedido de liberdade provisória na entrância.
O relator do caso, Ministro Gilmar Mendes deferiu liminarmente o pedido que, posteriormente foi referendado pelo Plenário da Corte, em acórdão que ficou assim ementado: 
EMENTA. 1. HABEAS CORPUS. 2. PACIENTE PRESO EM FLAGRANTE POR INFRAÇÃO AO ART. 33, CAPUT, C/C 40, III, DA LEI 11.343/2006. 3. LIBERDADE PROVISÓRIA. VEDAÇÃO EXPRESSA (LEI N. 11.343/2006, ART. 44). 4. CONSTRIÇÃO CAUTELAR MANTIDA SOMENTE COM BASE NA PROIBIÇÃO LEGAL. 5. NECESSIDADE DE ANÁLISE DOS REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. 6. INCONSTITUCIONALIDADE INCIDER TANTUM DA EXPERSSÃO ‘LIBERDADE PROVISÓRIA’ DO ARTIGO 44 DA LEI N. 11.343/2006. ORDEM CONCEDIDA, PARCIALMENTE, NOS TERMOS DA LIMINAR ANTERIORMENTE DEFERIDA.
(STF - HC: 104339 SP , Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 10/05/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-239 DIVULG 05-12-2012 PUBLIC 06-12-2012)
De fato, entendeuo tribunal que havia indevida invasão de competências do Judiciário, pelo Poder Legislativo, caso esse impedisse a análise, caso a caso, do pedido de liberdade provisória. Além disso, foi comum a invocação de princípios como o do devido processo legal, individualização da pena e da presunção de inocência.
Porém, embora o STF tenha firmado a orientação no sentido da possibilidade de concessão da liberdade provisória nos delitos de tráfico (inconstitucionalidade parcial do artigo 44 da Lei nº 11.343/06), a decisão não foi unânime.
Interessante o posicionamento do Ministro Marco Aurélio Mello, dizendo que: “os representantes do povo brasileiro e os representantes dos estados, deputados federais e senadores, percebendo a realidade prática e o mal maior que é revelado pelo tráfico de entorpecentes, editou regras mais rígidas no combate ao tráfico de drogas”.
Também o Ministro Luiz Fux divergiu da maioria, deixando registrado que a “... opção legislativa levou em consideração que a criminalidade no país está umbilicalmente ligada à questão das drogas e a medida foi estratégica neste sentido, impedindo não só a fiança, mas também liberdade provisória”.
3.2. O usuário 
O usuário é a figura daquele que utiliza as drogas ilícitas com o intuito exclusivo de consumo próprio e, diante da atual política criminal, o usuário é visto não como um delinquente, mas como doente. 
	Como classificar e diferencia o usuário do traficante? Essa com certeza é uma das maiores questões levantadas pela nova lei. Não obstante dizer que o texto da lei trouxe critérios em sua maioria objetivos para tal diferenciação. A Lei de Drogas, n. 11.343/2006, apesar de ter trazido avanços reconhecidos, tais como a despenalização do usuário e o reconhecimento de políticas de prevenção e redução de danos, gerou impactos indesejados. 	Em seu art. 28, § 2º, ela elenca oito critérios legais de distinção entre o porte para uso próprio e o tráfico de drogas: a quantidade e a natureza da substância apreendida; o local e as condições da ação; e as circunstâncias sociais e pessoais, a conduta e os antecedentes do agente. Juntos formam um conjunto de critérios em sua maioria subjetivo, sendo de fato objetiva apenas a referência à natureza da substância apreendida, cuja ilicitude é fixada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Essa formulação tem se mostrado insuficiente. 
	O critério da quantidade, potencialmente objetivo, acabou ficando em aberto, sem indicação clara de parâmetros de distinção, o que gera uma insegurança visível na aplicação da lei. 
	Consoante o exposto, atualmente, quem adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consegue, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, não será, de forma alguma, submetido à pena de prisão, mas, tão somente, às sanções alinhavadas acima, as quais, em síntese, podem ser consideradas “penas” alternativas ou medidas sócio-educativas.
	Evidencia-se, desse modo, que a conduta do usuário de drogas não é mais punida com pena privativa de liberdade, mas com sanções de caráter social, que demonstram a preocupação do legislador em ressocializar o dependente, tratando-o como uma pessoa que precisa de cuidados para voltar ao regular convívio com a sociedade, e não como alguém que precisa extirpado do meio social.
	Seguindo uma tendência mundial, no que se refere a lei penal, e claro e notório que o legislador buscou embora tipificando como crime o porte de drogas para uso pessoal, não vê-lo mais como um criminoso e sim como um sujeito que necessita de cuidados e de ajuda por parte do Estado. O Estado passa, assim, a tratar o consumo como um problema de saúde pública, busca-se a redução de danos. 
Desse modo, a Lei nº 11.343/06 refletiu esse novo entendimento acerca do usuário em seu artigo 28: 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transpor tar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
LUIZ FLÁVIO GOMES (2007, p. 160) define quem atualmente é o usuário de drogas: 
Para fins penais, entende-se por usuário de drogas (doravante) quem adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo, para consumo pessoal, qualquer tipo de droga proibida. O usuário não se confunde de modo algum, com o traficante financiador do tráfico. 
. 
Vale lembrar, no diploma legal anterior (Lei nº 6.368/76) as condutas acima descritas eram punidas com pena de seis meses a dois anos, mais pagamento de multa. De qualquer maneira, o usuário já não abrangido pela lei antiga não permanecia preso, tendo em vista que submetia-se ao procedimento dos Juizados Especiais Criminais, instituídos pela Lei 9.099/95. 
Com a supressão da pena privativa de liberdade realizada pelo artigo 28 da lei atual, estabeleceu-se uma grande polêmica em relação ao dispositivo, que girava em torno da questão: teria a nova lei de drogas descriminalizado o consumo de drogas? Ou teria ocorrido apenas a despenalização da conduta? Ou, ainda, nenhuma dessas duas hipóteses? 
Houve e ainda há muita controvérsia doutrinária acerca dessa questão. Para alguns doutrinadores, como VICENTE GRECO e JOÃO DANIEL RASSI (2008, p. 44), não houve nem descriminalização nem despenalização: 
A Lei não descriminalizou nem despenalizou a conduta de trazer consigo ou adquirir para uso pessoal nem transformou em contravenção. Houve alterações, abrandamento, mas a conduta continua incriminada. 
Já defendendo posição contrária, LUIZ FLÁVIO GOMES (2007, p. 63) aduz que de fato houve uma descriminalização da posse de droga para consumo pessoal, mas que, no entanto, essa conduta passou a constituir uma infração penal ‘sui generis’:
Ora, se legalmente (no Brasil) ‘crime’ é a infração penal punida com reclusão ou detenção quer isolada ou cumulativa ou alternativamente com multa), não há dúvida que a posse de droga para consumo pessoal (com a nova Lei) deixou de ser ‘crime’ porque as sanções impostas para essa conduta (advertência, prestação de serviços à comunidade e comparecimento a programas educativos – art. 28) não conduzem a nenhum tipo de prisão. Aliás, justamente por isso, tampouco essa conduta passou a ser contravenção penal (que se caracteriza pela imposição de prisão simples ou multa). Em outras palavras: a nova Lei de Drogas, no art. 28, descriminalizou a conduta da posse de droga para consumo pessoal. Retirou-lhe a etiqueta de ‘infração penal’ porque de modo algum permite a pena de prisão. E sem pena de prisão não se pode admitir a existência de infração ‘penal’ no nosso País. Diante de tudo quanto foi exposto, conclui-se que a posse de droga para consumo pessoal passou a configurar uma infração sui generis. 
No entanto, como seria de se prever, a questão acabou chegando ao Supremo Tribunal Federal em questão de ordem no recurso extraordinário, cuja relatoria foi exercida pelo Ministro Sepúlveda Pertence: 
A Turma, resolvendo questão de ordem no sentido de que o art. 28 da Lei 11.343/2006 (Nova Lei de Tóxicos) não implicou abolitio criminis do delito de posse de drogas para consumo pessoal, então previsto no art. 16 da Lei 6.368/76, julgou prejudicado recurso extraordinário em que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro alegava a incompetência dos juizados especiais para processar e julgar conduta capitulada no art. 16 da Lei 6.368/76. Considerou-se que a conduta antes descrita neste artigo continua sendo crime sob a égide da lei nova, tendo ocorrido, isto sim, uma despenalização, cuja característica marcante seria a exclusão de penas privativas de liberdade como sanção principal ou substitutiva da infração penal. Afastou-se, também, o entendimento de parte da doutrina de que o fato, agora, constituir-se-ia infração penal sui generis, poisesta posição acarretaria sérias conseqüências, tais como a impossibilidade de a conduta ser enquadrada como ato infracional, já que não seria crime nem contravenção penal, e a dificuldade na definição de seu regime jurídico. Ademais, rejeitou-se o argumento de que o art. 1º do DL 3.914/41 (Lei de Introdução ao Código Penal e à Lei de Contravenções Penais) seria óbice a que a novel lei criasse crime sem a imposição de pena de reclusão ou de detenção, uma vez que esse dispositivo apenas estabelece critério para a distinção entre crime e contravenção, o que não impediria que lei ordinária superveniente adotasse outros requisitos gerais de diferenciação ou escolhesse para determinado delito pena diversa da privação ou restrição da liberdade. Aduziu-se, ainda, que, embora os termos da Nova Lei de Tóxicos não sejam inequívocos, não se poderia partir da premissa de mero equívoco na colocação das infrações relativas ao usuário em capítulo chamado ‘Dos Crimes e das Penas’. Por outro lado, salientou-se a previsão, como regra geral, do rito processual estabelecido pela Lei 9.099/95. Por fim, tendo em conta que o art. 30 da Lei 11.343/2006 fixou em 2 anos o prazo de prescrição da pretensão punitiva e que já transcorrera tempo superior a esse período, sem qualquer causa interruptiva da prescrição, reconheceu-se a extinção da punibilidade do fato e, em conseqüência, concluiu-se pela perda de objeto do recurso extraordinário (STF, 1º Turma, RE 430105 QO/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 13.2.2007.  Informativo n. 456. Brasília, 12 a 23 de fevereiro de 2007).
Como pudemos ver, a Corte Suprema colocou fim à controvérsia, pelo menos em âmbito jurisprudencial, assentando que ocorrera a ‘despenalização’ da conduta e que, portanto, a conduta continua incriminada. 
3.3. Medidas de atenção e de reinserção social de usuários ou dependentes de drogas
Sob a nova ótica pela qual a lei trata do usuário, natural que essa inspiração tenha estado presente em outras partes do texto normativo e que tenha em resultado em outras disposições que busquem implementar as novas políticas.
Além das disposições relacionadas à prevenção do envolvimento com as drogas, a Lei nº 11.343/06 trouxe em seus artigos 20 a 26, preceitos que tratam de atividades de atenção e de reinserção social dos usuários ou dependentes das drogas. 
Esses dois tipos de atividades são definidas pelos artigos 20 e 21, respectivamente: 
Art. 20.  Constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas. 
Art. 21.  Constituem atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais. 
Os dois dispositivos, analisados isoladamente não nos dizem muita coisa. No entanto, são os diversos incisos do artigo 22 da lei em comentário que trazem luz à questão, ao instituírem vários princípios que devem orientar o desenvolvimento das políticas estabelecidas nos artigos 20 e 21, anteriormente citados: 
Art. 22.  As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social;
II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais; 
III - definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde;
IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais;
V - observância das orientações e normas emanadas do Conad;
VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas.
Dentre esses dispositivos, destacam-se os incisos II e III, que tratam do tratamento especializado aos dependentes de drogas, o que inegavelmente seria uma grande e saudável providência. 
Porém, devemos nos atentar que esses são preceitos totalmente programáticos, e portanto, dependem de condições materiais e financeiras para se tornarem realidade na prática cotidiana. Assim, acabam relegados a segundo plano e se tornando dispositivos praticamente ineficazes, tendo em vista a conhecida escassez de recursos para a realização de políticas públicas no Brasil.
De qualquer maneira, entre seus artigos 23 e 26 a Lei nº 11.343/06 estabelece que as redes dos serviços de saúde dos quatro entes políticos realização programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas (art. 23); que os mesmos entes anteriormente citados poderão conceder benefícios às instituições privadas que desenvolvam programas que busquem a reinserção dos usuários e dependentes químicos no mercado de trabalho, desde que esses tenham sido encaminhados por órgão oficial (art. 24); que determinadas instituições da sociedade civil podem receber recursos do Funad (art. 25) e que os usuários ou dependentes, que estejam cumprindo pena privativa de liberdade ou medida de segurança, também têm direito ao acesso aos serviços de atenção e saúde (art. 26). 
Diante do que foi dito, resta-nos concluir que a lei previu uma série de medidas que atentam às necessidades e buscam a reinserção social do usuário e do dependente químico, e por isso, o problema que reside nessa questão não é a ausência de leis garantidoras de direitos, mas a ausência de efetividade prática das mesmas. 
3.4. Definição de droga e norma penal em branco
Um ponto importante numa lei que trata de drogas é a definição do seu objeto. Isto é, que a lei expresse o que é a droga para fins penais. 
A Lei nº 6.368/76 definia seu objeto como “substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica” (art. 1º). 
Já a Lei nº 10.409/02 utilizou a expressão “produtos, substâncias ou drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica” (art. 1º).
A Lei atual, nº 11.343/06, define as drogas no parágrafo único de seu artigo primeiro, dizendo que “para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.
	A nova nomenclatura utilizada pela lei (droga) foi bem acolhida pela doutrina, tendo em vista que segue orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), já que se passou a utilizar um termo genérico, mais abrangente.
	Tal é o sentir de VICENTE GRECO FILHO e DANIEL RASSI (2006, p. 10): 
Após ser repetida a ementa da lei, o artigo  1º dispõe  em seu parágrafo único que para seus fins, entenda-se inclusive os criminais, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos  capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. O conceito legal está de acordo com aquele apresentado pela doutrina. A qualificação jurídica de droga, segundo a doutrina, é toda substância natural ou sintética, suscetível de criar: a) um efeito sobre o sistema nervoso central; b) uma dependência psíquica ou física; c) um dano á saúde pública e social.
	De qualquer modo, é bom observar que a lei não traz em si mesma a definição específica do que será considerado drogas para fins penais, mas remete a relações que serão definidas em lei ou em listagens atualizadas, expedidas pela União Federal. 
	Isso nos demonstra que estamos diante de uma norma penal em branco, tendo em vista que a lei penal é complementada por um atoadministrativo do Poder Executivo Federal. 
	Nesse sentido, GUILHERME NUCCI (2009, p. 553): 
Continua a Lei de Drogas a ser uma norma penal em branco, há órgão governamental próprio, vinculado ao Ministério da Saúde, encarregado do controle das drogas em geral, no Brasil, que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), editando a relação das substâncias entorpecentes proibidas. 
	Assim, para a conduta ser considerada criminosa, a substância a ela relacionada deve estar descrita na referida relação a ser expedida a atualizada pela ANVISA. Do contrário, a conduta não será típica, tendo em vista o princípio da legalidade. 
4. OS RESULTADOS PRÁTICOS OBTIDOS PELA NOVA LEI DE DROGAS
Até aqui, vimos que a Lei nº 11.343/06 trouxe várias alterações na política de combate às drogas no Brasil. 
A criação do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD, o aumento da pena para o crime de tráfico, a distinção mais clara (embora ainda não satisfatória) entre as figuras do usuário e do traficante, o dever dos órgãos públicos e da própria sociedade na prevenção do problema, a criação de medidas de reinserção social de usuários e traficantes e a extinção da pena privativa de liberdade para o usuário, foram algumas das apostas do legislador ordinário na tentativa de solucionar ou, no mínimo, atenuar a circulação de drogas e todos os problemas daí decorrentes. 
No entanto, passados mais de sete anos da criação da lei, é de se perguntar: a lei foi ou está sendo efetiva na repressão aos crimes relacionados às drogas? É uma política que vem conseguindo os resultados inicialmente pretendidos?
Analisando as estatísticas criminais relacionadas às drogas, a resposta àquelas perguntas acima realizadas nos parece negativa. 
4.1. Estatísticas sobre os crimes que envolvem drogas
Segundo o Departamento de Polícia Militar e o Departamento da Polícia Civil, no ano de promulgação da Lei nº 11.343/06 foram registradas 33.899 ocorrências relacionadas aos crimes tipificados na nova lei de drogas.
No ano seguinte ao da promulgação da lei, mais precisamente em 2007, aquele número saltou para 39.375 ocorrências: um aumento de mais de 5.000 casos, ou de 15%. 
Em 2008, as estatísticas mostram uma queda nesses crimes: de 39.375 em 2007, para 39.077 em 2008, que na prática, significa uma redução de menos de 1%. Isto é, houve uma melhora, mas não foi muito significativa em números e, tendo em vista que não iniciou um movimento constante de queda nesses índices, essa melhora acabaria por ser afastada no ano seguinte.
Em 2009, os números negativos continuaram a subir e foram registradas 42.221 ocorrências envolvendo os crimes relacionados às drogas: um aumento de 3.144 casos ou aproximadamente 8%. 
Em 2010, houve outra ligeira melhora em relação ao ano anterior: foram registradas 53 ocorrência a menos, isto é, uma melhora quase imperceptível. 
A partir do ano de 2011 e até 2013, verifica-se uma tendência de forte crescimento nos registros de ocorrência relacionados às drogas. No primeiro desses anos foram registradas 48.100 ocorrências; em 2012 esse número subiu para 52.422 e, em 2013, o número de ocorrências chegou a 54.950.
Portanto, vemos que desde a promulgação da Lei nº 11.343, no ano de 2006, o número de ocorrências policiais que envolviam as drogas quase dobrou, passando dos iniciais 33.899 para os atuais 54.950. 
4.2. Estatísticas sobre as prisões em decorrência de crimes que envolvem drogas
Quando da promulgação da Lei nº 11.343/11 e, sobretudo, da distinção entre as figuras do traficante e do usuário, com a eliminação da pena privativa de liberdade deste último, a expectativa era a de que o número de prisões relacionadas às drogas diminuísse. 
Contudo, não foi o que ocorreu. 
Analisando o tema no período compreendido entre os anos de 2006 e 2010, LUIZ FLÁVIO GOMES (2012) nos traz os seguintes dados: 
Em dezembro de 2006 o número total de presos no Brasil era de 401.236 detentos, sendo 45.133 (ou 11,2%) presos por drogas; em dezembro de 2010, o total de presos era de 496.251 detentos, sendo 100.648 (ou 20,3%) por drogas. Ou seja, o percentual de presos por entorpecentes praticamente dobrou no período mencionado. Assim, nesses quatro anos (2006/2010), houve um crescimento de 123% no número absoluto de presos por drogas. Enquanto que, no mesmo período, o crescimento no número total de presos foi de apenas 24%. Dados mais recentes do Infopen (Sistema Integrado de Informações Carcerárias), de junho de 2011, apontam ainda que 60% de todas as prisões femininas e 21% de todas as masculinas no Brasil (levando-se em consideração todos os crimes, incluindo-se as prisões provisórias e definitivas) se fundamentam no tráfico de entorpecentes. (grifo nosso).
Isto é, entre 2006 e 2010, enquanto o número de pessoas que adentravam o sistema penitenciário cresceu 24%, o número de prisões envolvendo entorpecentes cresceu quase cinco vezes mais, chegando a 123%. 
Esses dados são facilmente explicáveis quando vemos que a Lei nº 11.343/06 impede que o traficante responda ao processo em liberdade. Logo, ante a suspeita dessa prática, o acusado já é recolhido à prisão e, diante da conhecida demora nos trâmites processuais, pessoas inocentes podem passar um bom tempo atrás das grades até que possam demonstrar sua inocência.
Discorrendo sobre esse assunto, e sobre a relação das atuais condições com os direitos humanos, JÚLIO DELMANTO (2013) diz: 
A Lei nº 11.343 em vigor já é draconiana, quando enquadra o comércio de drogas tornadas ilícitas na definição de “crime hediondo”, o que impede, por exemplo, o acusado dessa conduta de responder ao processo em liberdade. Pode passar dois ou três anos preso até provar a inocência. Com isso, o comércio de substâncias cujo consumo não mais representa um crime passível de prisão já é a infração penal que mais encarcera pessoas no Brasil. Aumentar a pena num contexto de flagrante superpopulação e superviolação de direitos humanos nas prisões brasileiras é “fazer o diabo sorrir”. 
Diante da dura realidade imposta pelos números e estatísticas referentes à nova política de drogas brasileira, LUIZ FLÁVIO GOMES (2012) conclui:
Desta forma, a realidade evidencia que novas leis, ainda que bem intencionadas, se desacompanhadas de sérias políticas e medidas criminais e sociais, não são suficientes para amenizar a problemática da superlotação carcerária. Pior, sua aplicação, muitas vezes equivocada, pode corroborar para a deterioração e saturamento do sistema.
Assim, o que podemos verificar é uma contradição grave entre os propósitos e o que realmente tem sido alcançado pela nova lei de drogas, o que vai em sentido contrário não apenas em relação aos objetivos instituídos pela nova política de drogas, mas também à função de ressocialização da pena, que constitui um dos mais importantes objetivos também do próprio Direito Penal. 
Desse modo, parece-nos irretocável a constatação de SALO CARVALHO (1996, p. 447), no sentido de o presente modelo criminal estar verdadeiramente assentado no ‘modelo político criminal autônomo’:
A política criminal de drogas no Brasil, em sua expressão ideológica, legal e dogmática, demonstra a grande distância entre as funções declaradas (prometidas) e as funções realmente exercidas pelas agências punitivas (...) Deflagra-se, no senso comum dos juristas e do homem de rua (every day theories), a idéia de políticas públicas de segurança pautadas pela lógica beligerante da eliminação de incômodos. Assim, a demonização dos envolvidos com drogas ocasionada pelo discurso maniqueísta fundamenta o modelo político criminal autônomo, atualmente densificado pela teoria do direito penal do inimigo, que passa a ser o tipo ideal da repressão criminal
Apresentadas essas estatísticas, devemos realizar algumas considerações a respeito de sua interpretação pelos legisladores e juízes. 
4.3. Considerações sobre os dados coletados nos planos legislativos e jurisprudenciais
Nos tópicos 4.1 e 4.2

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