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APOSTILA ANESTESIOLOGIA GRANDES ANIMAIS

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Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
1 
 
PREPARO DO PACIENTE PARA A ANESTESIA 
 
Francisco José Teixeira Neto e Stelio Pacca Loureiro Luna 
FMVZ-Unesp-Botucatu-SP 
 
Avaliação pré anestésica: considerações gerais: 
 A anestesiologia veterinária é uma ciência multidisciplinar que envolve conhecimentos integrados de 
farmacologia, fisiologia e clínica. O exame clínico pré-anestésico é a primeira etapa antes da realização do 
procedimento anestésico. Nesta fase, a condição física do paciente é avaliada através de exames clínico-
laboratoriais e, de acordo com o estado fisiológico do paciente, o risco anestésico é determinado. Com base no 
exame pré-anestésico também se determinam quais as medidas terapêuticas a serem empregadas visando a 
estabilização das funções fisiológicas vitais no paciente que vai ser submetido à anestesia. 
Identificação do animal 
 Na primeira fase da avaliação pré-anestésica deve-se ter à disposição os dados de identificação do paciente, 
como espécie, raça, idade, sexo e estado reprodutivo, já que estes aspectos vão influenciar na escolha da técnica 
anestésica. 
Espécie: 
 Espécies de grande porte como os eqüinos e bovinos apresentam particularidades fisiológicas que devem ser 
reconhecidas em função de seu impacto na anestesia. A anestesia em espécies de grande porte (eqüinos), 
apresenta maior risco de complicações durante o procedimento anestésico quando comparada à anestesia em 
pequenos animais. Em função do seu porte e temperamento, há também de se considerar que a anestesia em 
eqüinos apresenta maior risco de injúrias ao profissional. Em bovinos o maior risco está associado à regurgitação e 
possível aspiração do conteúdo gástrico, com a possibilidade de ocorrência de pneumonia aspirativa. 
Raça: 
 Nos bovinos, as fêmeas de origem européia (Bos Taurus, exemplo Jersey) e os machos de origem indiana 
(Bos indicus, exemplo Nelore) são normalmente dóceis, enquanto que os machos de origem européia e as fêmeas de 
origem indiana são indóceis e de difícil avaliação pré-anestésica. Nos eqüinos, os Puro Sangue Inglês e Árabes são 
normalmente mais indóceis e podem apresentar alguma dificuldade no exame clínico. Asininos e Muares são 
também difíceis de serem contidos e manipulados. 
Idade: 
 Os animais idosos e muito jovens apresentam dificuldade de manter a temperatura corporal e compensar 
eventuais alterações cardiopulmonares. Neonatos (animais com menos de oito semanas de idade) apresentam 
pouca capacidade de metabolizar os fármacos administrados, uma vez que o sistema enzimático hepático ainda se 
encontra imaturo. Da mesma forma, os pacientes geriátricos (animais que excederam 75% da expectativa de vida) 
apresentam dificuldade de metabolizar e excretar os fármacos anestésicos e apresentam uma menor porcentagem 
de água, reduzindo o volume de distribuição dos fármacos. 
 
Sexo: 
 O sexo dos animais não altera as respostas anestésicas. Entretanto, é importante salientar que fêmeas em 
cio podem apresentar maior risco de hemorragia intra-operatória e as gestantes apresentam alterações fisiológicas 
que podem alterar as respostas anestésicas. 
Anamnese 
 Em relação à anamnese, devem ser pesquisados os diversos sistemas facilmente avaliados por meio da 
anamnese inicial, de acordo com o quadro a seguir: 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
2 
 
 
SISTEMAS OBSERVAÇÕES 
Respiratório tosse, dispnéia, secreções 
Endócrino hipo ou hipertireoidismo, Síndrome de Cushing 
Sistema nervoso central convulsões, epilepsias 
Digestório diarréias 
Cardiovascular cansaço fácil, ascite, síncopes 
Hematológico transfusões recentes, mucosas 
 É importante que o anestesista se informe com o proprietário sobre a ocorrência de outras doenças. Além 
disso, faz-se necessário conhecer quais as medicações foram administradas ao animal, uma vez que vários agentes 
podem interferir na ação dos anestésicos e fármacos adjuvantes. 
Exame Físico 
 No exame físico, é importante verificar o peso, a constituição física e o estado nutricional. Os animais 
desnutridos podem apresentar hipoproteinemia, ocorrendo, assim, incremento na fração livre de fármacos que se 
ligam às proteínas, como o tiopental, aumentando o efeito farmacológico dos mesmos e a conseqüente depressão 
que possam causar. Isto se agrava no paciente desnutrido, onde há diminuição da resposta imunológica, da 
capacidade vital pulmonar devido à diminuição da massa muscular, maior incidência de edema pulmonar e intersticial 
e maior sensibilidade aos anestésicos em geral. 
 Freqüentemente, animais anêmicos, desidratados e/ou com perdas sanguíneas significativas são apresentados 
para a anestesia, devendo-se realizar em todo paciente a avaliação do estado volêmico, por meio de sinais clínicos 
como o elasticidade da pele, coloração das mucosas aparentes e tempo de preenchimento capilar (TPC). 
 Deve–se verificar a temperatura corpórea do animal. Pacientes que apresentam hipotermia previamente à 
indução anestésica certamente terão este problema agravado pela anestesia, com as suas conseqüências inerentes. 
Animais de porte reduzido (neonatos eqüinos e bovinos, ovinos, caprinos) são mais susceptíveis à hipotermia que 
animais de grande porte. Esta ocorrência é atribuída ao fato de que animais relativamente pequenos apresentam 
maior relação superfíce/massa. 
 No exame do sistema cardiovascular deve-se procurar identificar por auscultação a possível presença de 
sopros e arritmias. Os sopros tem incidência relativamente baixa em grandes animais. Em muitas situações observa-
se a presença de sopros “inocentes”, que não estão associados à doença cardíaca. No entanto presença de sopro 
cardíaco associado a outros sinais como edema periférico, ascite e/ou dispnéia é forte indicativo de doença cardíaca 
avançada. Animais com histórico de síncope (desmaio), cansaço ou fraqueza devem idealmente ser submetidos à 
avaliação cardiológica previamente ao procedimento anestésico, tal como um eletrocardiograma e/ou 
ecocardiograma. 
 Com relação ao sistema respiratório, deve-se realizar auscultação cuidadosa dos pulmões para se avaliar a 
possível presença de sibilos e estertores, que são indicativos de doença pulmonar. A amplitude e a freqüência dos 
movimentos respiratórios deve ser adequada, indicando que a ventilação é normal. A observação de cianose das 
mucosas aparentes é indicativo de hipoxemia grave devido à comprometimento da função pulmonar. A 
hemogasometria arterial (ver a frente) é indicada em situações onde há alteração significativa da função pulmonar, 
como hérnia diafragmática, traumatismo torácico e doença pulmonar avançada. 
Exames Laboratoriais 
 A seleção dos exames laboratoriais adicionais é baseada no exame físico, classificação do risco anestésico 
(Tabelas 1 e 2) e no tipo de procedimento a ser realizado. 
 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
3 
 
Tabela 1 - Classificação do estado físico e risco anestésico segundo a American Society of Anesthesiology 
 
Classificação 
ASA 
Descrição Exemplos 
I Paciente hígido Ausência de doença sistêmica. Animais submetidos a 
procedimentos eletivos como ovariossalpingo-histerectomia, 
orquiectomia, conchotomia 
II Paciente com afecção 
sistêmica discreta 
Pacentes neonatos e geriátricos (ver definição); gestantes, obesos, 
cardiopatas compensados, infecções localizadas, fraturas não 
complicadas. 
III Paciente com afecção 
sistêmica moderada 
Desidratação moderada / hipovolemia; anorexia; caquexia; anemia; 
fraturas complicadas. 
IV Paciente com afecção 
sistêmica grave 
Choque; uremia; toxemia; desidratação grave; hipovolemia severa; 
anemia grave; síndrome dilatação torção-gástrica; doença 
cardíaca descompensadas. 
V Moribundos sem expectativa 
de sobrevivência, com ou 
sem cirurgia nas 24 horas 
Falência de múltiplosórgãos, choque em fase terminal, 
traumatismo craniano. 
 
Tabela 2 – Exames auxiliares a serem realizados no período pré-anestésico de acordo com o risco anestésico e a 
idade do paciente 
 
Classificação ASA 
I e II Hematócrito (Ht), proteína plasmática total (PPT), 
glicemia (recomendada em pacientes 
neonatos) 
III Hemograma completo (no mínimo Ht e PPT), uréia 
e creatinina (pacientes geriátricos), glicemia 
(pacientes neonatos), 
IV e V Hemograma completo (no mínimo Ht e PPT), uréia 
e creatinina (pacientes geriátricos), glicemia 
(pacientes neonatos), hemogasometria / 
eletrólitos 
 
Preparo do Paciente para a Anestesia 
Jejum: 
 A presença de conteúdo gástrico aumenta o risco de regurgitação, com possível aspiração e obstrução de 
vias aéreas durante o ato anestésico e pneumonia aspirativa após a anestesia. 
 Nos pacientes em aleitamento (lactentes), o jejum não é recomendado pelo esvaziamento gástrico ser 
extremamente rápido. Portanto em neonatos, o jejum não é necessário, pois podem rapidamente desenvolver 
hipoglicemia quando submetidos ao jejum. 
 Os eqüinos adultos são submetidos a jejum sólido de 12 horas antes da anestesia geral, não sendo necessário 
jejum hídrico devido ao rápido esvaziamento do compartimento gástrico. Em casos de urgência não é necessário 
realizar jejum em eqüinos, já que nesta espécie praticamente não há risco de regurgitação. 
 O jejum assume particular importância em ruminantes adultos submetidos à anestesia geral ou procedimentos 
envolvendo decúbito prolongado, uma vez que o risco de regurgitação de conteúdo ruminal com conseqüente 
pneumonia aspirativa é muito grande. Devido ao tamanho do compartimento gástrico, bovinos adultos devem ser 
submetidos à jejum alimentar e hídrico de 24 horas antes de procedimentos envolvendo anestesia geral ou sedação 
com décubito. O jejum recomendado para pequenos ruminantes (ovinos, caprinos) antes da anestesia geral é de 24 e 
12 horas para alimentos sólidos e água, respectivamente. Mesmo assim ocorre grande risco de regurgitação e os 
cuidados preventivos quanto a este aspecto devem ser levados em consideração. 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
4 
 
 Em casos em que a intubação orotraqueal seja realizada é importante que a cavidade oral seja higienizada 
antes da indução anestésica, para evitar o risco de contaminação respiratória no momento da intubação 
endotraqueal. 
Vias de administração de fármacos 
Os fármacos anestésicos podem ser administrados pelas vias oral (VO), retal, subcutânea (SC), intramuscular 
(IM), intravenosa (IV), intraperitoneal, intracardíaca, epidural, intratecal (subaracnóidea), inalatória, intraóssea e 
intraarticular. 
A via oral é útil quando se disponibiliza de tempo, já que o efeito é mais tardio. Normalmente deve-se esperar 
ao redor de uma hora para o efeito. Entretanto alguns fármacos não são bem absorvidos por esta via. É indicada 
para animais indóceis que não permitem uma abordagem direta, quando pode-se misturar o fármaco na ração. 
Vários sedativos como fenotiazínicos, benzodiazepínicos, opióides e alfa-2 agonistas podem ser administrados por 
esta via. A via retal é pouco explorada em animais, com a vantagem que não sofre biotransformação na primeira 
circulação, atingindo diretamente o coração e SNC, entretanto a absorção é irregular e muitas vezes incompleta, 
além da possibilidade de irritação local. 
A via subcutânea apesar de apresentar uma absorção lenta é útil em animais cujo acesso venoso esteja 
impossibilitado. Esta via é contraindicada em eqüinos pois normalmente ocorre inflamação do local. O efeito 
farmacológico normalmente ocorre a partir de 15 minutos e apresenta efeito mais prolongado que as demais vias 
injetáveis. 
A via intramuscular apresenta tempo de ação intermediário entre a via subcutânea e a intravenosa. Tem as 
mesmas indicações e precauções da via subcutânea, levando-se em consideração a maior rapidez de efeito que esta 
última. Como desvantagem principal o volume do fármaco deve ser reduzido. É uma das vias mais utilizadas em 
grandes animais, devendo ser administrada na região cervical e na músculo glúteo no membro posterior. 
A via intravenosa é uma das mais utilizadas em anestesia, tendo em vista a rapidez de ação e a possibilidade 
de administração de grandes volumes, particularmente para fluidoterapia. É freqüentemente utilizada em casos de 
emergência quando necessita-se de um efeito imediato. Outro uso freqüente desta via é durante a anestesia 
intravenosa contínua, quando pode-se controlar de modo relativamente preciso a(s) concentração(ões) do(s) 
anestésico(s) administrados por meio de bombas de infusão. Diversos fármacos que não podem ser administrados 
pelas vias subcutânea e intramuscular, dada a possibilidade de irritação, podem ser administrados pela via 
intravenosa. Durante uma anestesia deve-se sempre ter disponibilidade de acesso intravenoso para casos de 
emergência, mantendo-a veia canulada. Em grandes animais a melhor opção é a veia jugular. Como alternativa tem-
se a veia mamária em vacas e a torácica lateral em eqüinos. 
A via intraperitoneal apresenta um efeito mais rápido que a via IM e mais lento que a IV. É indicada para 
animais de laboratório ou de porte muito pequeno, quando o acesso venoso é inviável. Pode também ser utilizada 
para fluidoterapia. 
Uma outra via de acesso de efeito tão rápido quanto a IV e que também permite a administração de grandes 
quantidades de fluidos é a intraóssea. Entretanto é mais utilizada em pequenos animais. Normalmente utiliza-se o 
trocanter maior do fêmur ou a tuberosidade ilíaca como via de acesso, podendo-se ou não lançar mão de agulhas 
específicas. 
A via intracardíaca apesar de apresentar efeito extremamente rápido deve ser evitada pela possibilidade de 
dano do miocárdio e lesão das estruturas torácicas. É utilizada na área de auscultação cardíaca. As vias epidural, 
intratecal e intraarticular são normalmente utilizadas para administração de anestésicos locais e serão discutidas a 
seguir, bem como a via inalatória. 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
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RECONHECIMENTO DA DOR EM GRANDES ANIMAIS 
 
Stelio Pacca Loureiro Luna 
FMVZ-Unesp-Botucatu-SP 
Não existe nada pior que a dor. Ela fragmenta o ser e o incapacita para viver 
O que faz os animais sofrerem? 
O principio de analogia é uma ótima forma de responder esta questão de um modo simples. Todos os 
estímulos ou fenômenos que desencadeiam sofrimento no ser humano podem potencialmente desencadeá-lo em 
animais. Entretanto, devido às diferenças nos comportamentos de cada espécie, em muitos casos alguns estímulos 
que não causam sofrimento no ser humano, podem desencadear em animais e vice-versa. Os principais estímulos 
desencadeantes de sofrimento nos animais são a dor, ansiedade, medo, estresse, desconforto e injúria ou trauma. 
 Além das injúrias, traumas e doenças, os animais são susceptíveis a outros estímulos que causam dor e 
sofrimento. Em eqüinos as maiores causas de estresse são confinamento, alimentação inadequada causando 
desconforto abdominal e alterações ortopédicas. Cavalos mantidos em Jockeys ou Hípicas apresentam acima de 
95% de incidência de úlceras gástricas, demonstrando claramente o manejo inadequado a que estes animais estão 
submetidos. 
As causas principais de dor e sofrimento em animais de produção são: em ruminantes a marcação à quente 
ou frio, castração, descorna, mastite e laminite, onde mesmo após a resolução clínica da laminite, o limiar de dor 
destes animais está reduzido, dada sensibilização central do sistema nervoso; em suínos a caudectomia e o corte de 
dentes. O próprio manejo dos animais pode ser uma causa considerável de estresse, tal como o transporte e 
confinamento, este último particularmente importante em casos de criações intensivas de suínos e “babybeef”. 
Além de atividades relacionadas ao manejo para produção, muitos animais estão sujeitos a práticas de 
“esporte” que causam ao sofrimento, tais como algumas provas de rodeio e torneios ilegais de luta. Estas atividades 
não deflagram apenas a dor física, mas estão imbuídas de um dano emocional devido ao estresse psíquico e a 
frustração que muitas vezes acarretam (Prada et al 2002). 
Contexto histórico-evolutivo da abordagem da dor e sofrimento e comparação entre o ser humano e os 
animais 
A dor tem sido historicamente negligenciada no ser humano, quiçá em animais, nos quais historicamente, a 
dor foi desconsiderada por muito tempo. A visão Cartesiana estabelecida por René Descartes no século XVII, 
propunha que os animais eram fisiologicamente diferentes do homem e que a reação destes seres a um estímulo 
doloroso seria puramente mecânica, sem haver consciência da dor. A resposta demonstrada frente a um estímulo 
nocivo seria apenas um reflexo de proteção, determinado pelo sistema nervoso autônomo. Levando-se em conta que 
nesta época não se conseguia provar que os animais sentiam dor, simplesmente se assumia que a dor não fazia 
parte das sensações dos animais. Dentro da visão atual, graças à teoria evolutiva de Charles Darwin no século XX, 
considera-se o homem descendente dos animais. Desta forma, estes são usados para estudar a fisiologia e a 
farmacologia de mecanismos da dor no homem. Assim estabeleceu-se o dilema que se o comportamento da dor é 
puramente mecânico nos animais, sem haver consciência da mesma, não seria necessário tratar a dor, nem se 
preocupar com o bem estar dos animais. Entretanto, ao mesmo tempo, não haveria justificativa para se usar animais 
em modelos de dor para que os resultados sejam aplicados no ser humano. O bom senso sugere que a falha em 
provar alguma coisa não significa a não existência do fenômeno, ou seja “a ausência de evidencia não significa a 
evidencia da ausência” (Prada et al 2002). 
Da mesma forma que não há dúvida de que o homem sofre e sente dor, há evidências claras de que os 
animais sofrem e sentem dor como o homem, tendo em vista a anatomia, a fisiologia e respostas farmacológicas 
similares, reações semelhantes à um estímulo nocivo e comportamento de esquiva frente a uma experiência dolorosa 
repetida. O sofrimento é subjetivo e a melhor forma de avaliá-lo é em nós mesmos. Daí a máxima, “ponha-se no lugar 
do animal”, pois está é a melhor forma de avaliar o sofrimento alheio. Segundo Charles Darwin “não há diferenças 
fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais... os animais, como os homens, demonstram 
sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento”. 
Implicações e abordagem da dor em grandes animais 
 Dentre os conceitos atuais, a dor pode ser classificada em nociceptiva (somática ou visceral), neuropática e 
psicogênica. A dor nociceptiva é a clássica dor aguda relacionada, por exemplo, a um trauma ou à cólica digestiva. A 
dor neuropática na maioria das vezes origina-se a partir da dor aguda não tratada ou tratada de forma insuficiente, 
passando a ser crônica. Neste caso, a dor passa de sintoma, no caso da dor nociceptiva, à própria doença, no caso 
da dor neuropática, caracterizando-se como uma forma de estresse. O componente psicogênico da dor também é 
muito importante não apenas no ser humano. Vinte e cinco por cento dos pacientes que procuram tratamento para 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
6 
 
dor, não apresentam nenhuma lesão. Em animais, a situação talvez não seja diferente, tendo em vista que boa parte 
das fibras que transmitem impulsos nervosos relacionados à dor conectam-se diretamente ao sistema límbico, que é 
o centro das emoções. Desta forma a dor em animais apresenta além do aspecto físico, um componente emocional 
importante. 
A dor é considerada o quinto sinal vital, juntamente com a função cardiorrespiratória e a térmica. Apesar de 
todo o avanço tecnológico da medicina, a dor é um dos maiores escândalos desta especialidade, dada muitas vezes 
à impotência diante da obtenção de um tratamento eficaz para a mesma. Do lado de quem prescreve, as razões 
pelas quais a dor não é tratada apropriadamente se devem a falta de conhecimento e de objetividade, falha de 
prescrição, questões econômicas e temor de efeitos colaterais advindos do tratamento farmacológico. Por outro lado, 
a medicina humana e veterinária muitas vezes é impotente para o tratamento adequado da dor, mesmo quando o 
método é bem selecionado, dada a complexidade dos mecanismos envolvidos na deflagração da dor. De forma geral, 
em animais, esta questão se agrava e, mais ainda, quando se trata de animais de grande porte. Nestes seres, o uso 
de analgésicos é ainda restrito e de pequena magnitude. 
Além da questão ética e moral do bem estar animal, a dor é biologicamente danosa, por dificultar a cura de 
lesões, devido à resposta de estresse; causar emagrecimento, tanto pela redução do apetite, como pelo aumento do 
consumo de energia; risco de automutilação; possibilidade de se tornar crônica; depressão da função imune e em 
casos de pós cirúrgico, aumento do tempo de recuperação e maior risco de complicações pós-operatórias. Como 
exemplo, ratos portadores de câncer e submetidos a analgesia apresentaram 80% menor incidência de lesões de 
metástase que os que cuja dor não foi tratada (Page et al 1993). 
A questão puramente econômica também seria um argumento relevante para abordar este tema em animais 
com mais atenção. A produção dos animais pode ser profundamente afetada em presença de dor, interferindo no 
bem estar e no estado de saúde dos mesmos. Em estudo recente (Sturlini & Luna 2006), observou-se que leitões 
castrados sob efeito de anestesia local apresentaram maior ganho de peso na semana após a cirurgia, que aqueles 
em que o procedimento foi realizado sem anestesia. Este aumento de peso superou os gastos com o procedimento 
anestésico, demonstrando a vantagem e a viabilidade econômica de se evitar o sofrimento desnecessário de 
animais. É comum o argumento de que o tratamento da dor em animais submetidos a procedimentos ortopédicos 
deve ser limitado dada à possibilidade do animal “forçar” o membro e interferir na recuperação da cirurgia. Entretanto, 
cães submetidos à correção de fratura de fêmur apresentaram melhor recuperação do ponto de vista cirúrgico, em 
termos de melhor cicatrização, consolidação da fratura mais rápida e menor edema, infecção e migração de pino, 
quando tratados com analgésicos antiinflamatórios do que os não tratados (Cruz et al 2000). Em eqüinos, cujo uso de 
analgésicos opióides é polêmico dada à possibilidade de excitação, o risco de efeitos adversos com o emprego de 
morfina é inversamente proporcional à intensidade da dor (Muir, 1981), podendo a mesma ser indicada para esta 
espécie em casos de dor. Assim, frente a diversos estudos, é irrefutável que a dor seja prevenida e tratada nos 
animais. 
Meios da avaliação da dor em grandes animais 
A avaliação da dor em animais é difícil, pela ausência de entendimento de sua capacidade de comunicação 
ou pela própria falta de sonorização, da mesma forma que os neonatos humanos. As atitudes com relação ao uso de 
analgésicos em animais variam de acordo com o sexo e idade dos veterinários. As mulheres são mais sensíveis na 
avaliação da dor e normalmente estabelecem escores de dor mais altos que os homens, da mesma forma que 
veterinários com menor tempo de graduação em relação aos graduados há mais tempo (Dohoo & Dohoo 1996ab 
Capner et al 1999, Lascelles et al 1999). 
O comportamento é o componente principal na avaliação, já que normalmente está alterado. Há diversos 
estudos referentes a métodos de interpretação de dor em animais, onde se descrevem escalas de avaliação, que 
apesar de aparentemente subjetivas são extremante úteis na prática (Holton et al 2001, Price et al 2003). Dentre as 
escalas, normalmenteutilizam-se escores, escala analógica visual, onde se traça uma linha de zero a dez cm, sendo 
zero correspondente a um animal sem dor e dez a pior dor possível e escala de contagem variável, onde se 
associam vários parâmetros de avaliação. Para uma avaliação mais abrangente da dor, as alterações 
comportamentais devem ser complementadas com a observação das alterações fisiológicas. Os cavalos ao sentir dor 
podem apresentar movimentos de arranque em poucos passos, parar, balançar o trem posterior e reiniciar o mesmo 
movimento. Podem ranger os dentes, morder a área afetada, apresentar movimento de esquiva, balançar a cabeça e 
a cauda e resfolegar. Os lábios podem ficar enrugados. Alguns animais enchem a boca de alimento, mas não 
mastigam, nem engolem e podem brincar e espalhar a água sem ingestão. Sinais de dores nos membros se 
caracterizam por apoiar e levantar constantemente o membro, aliviar o peso do membro afetado, mantendo o 
discretamente flexionado e relutância em se movimentar (Taylor et al 2002). Cavalos submetidos à artroscopia 
passaram menor tempo se alimentando, se movimentando, em comportamento exploratório e em decúbito esternal e 
demonstraram maior ocorrência de comportamento anormal entre 24 e 48 horas após a cirurgia em relação à cavalos 
não submetidos à cirurgia (Price et al 2003). Os cavalos com dor lombar apresentam além dos sinais gerais de dor já 
mencionados, intensa sensibilidade ao serem selados ou montados, se rebaixando nestas atividades, dificuldade em 
se curvar ou permitir ser cavalgado, tropeço, passos curtos, relutância em se moverem e perda de performance. Os 
sinais de dor abdominal em eqüinos são clássicos e envolvem desde depressão ou agitação intensa, abaixamento da 
cabeça, relutância em se movimentar, olhar para o flanco, movimentos de cavar com a pata, sudorese profusa, 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
7 
 
mímica de micção sem urinar ou urinar pouco e até decúbito, com rolamento e movimentação das patas, havendo a 
possibilidade de choque neurogênico e óbito. O óbito de um eqüino com dor abdominal é uma cena chocante e 
inesquecível. Em casos de dor crônica, os animais apresentam tensão abdominal, depressão, abaixam a cabeça, 
apresentam postura anormal de cabeça, evitam outro cavalos, ficam isolados, com olhar fixo, indiferente e distante 
(Taylor et al 2002). 
Bovinos normalmente vocalizam com grunhidos e urros, rangem os dentes, relutam em se moverem, alteram 
a expressão facial e reduzem a produtividade. Suínos gritam, não se levantam, não respondem à presença de outros 
animais e se tornam irritados ou mesmo agressivos. Ovinos podem balir, ranger os dentes, alterar a expressão facial, 
parecerem desinteressados e isolados do grupo. Além das alterações anteriores, observadas em ruminantes, os 
caprinos alternam freqüentemente a postura e parecem agitados, batendo o pé. (Underwood 2002). 
 As alterações fisiológicas relacionadas à dor se caracterizam por estímulo do sistema nervoso simpático, 
com aumento da freqüência cardíaca, respiratória e da pressão arterial, dilatação da pupila, sudorese generalizada e 
abundante no caso de eqüinos. Adicionalmente ocorre ativação do metabolismo com aumento da secreção de 
hormônios do catabolismo, da mesma forma que na resposta de estresse anteriormente mencionada. 
Controle da dor em grandes animais 
 A complexidade da dor ultrapassa a fronteira física. A dor também se estabelece pelas influências do meio 
ambiente e do aspecto psicológico do animal, daí ser considerada como um fenômeno biopsico-social, que envolve 
os aspectos biológico, psíquico e social do indivíduo. Está relacionada ao ambiente que o animal vive e 
conseqüentemente às condições de tratamento do mesmo. Assim, a abordagem da dor em animais deve ser 
multidisciplinar, mesmo quando se trata de animais de produção e fatores externos aos animais devem ser levados 
em consideração. 
Os conceitos recentes demonstram que a melhor forma de controle da dor é a prevenção. Desta forma, evita-
se a sensibilização periférica e central do sistema nervoso, esta última muitas vezes irreversível, dada à dificuldade 
de tratamento. Isto se deve ao fato de que neurônios com poucos receptores podem se tornar ricos em receptores de 
dor, com ampliação da sensibilidade. Este estado de hipernocicepção pode perdurar toda a vida, tornando-se 
crônico. Muitas dores crônicas se iniciam com estados dolorosos agudos e podem ocorrer sem nenhuma evidência 
de lesão. Desta forma a dor pode continuar mesmo que a lesão inicial seja curada. Em algumas situações não existe 
terapia para alívio total, apenas o sono. Como citado anteriormente este tipo de dor é conhecida como neuropática e 
é gerada por uma deformação plástica das membranas nervosas, reorganização da neuroanatomia, alteração 
genética da medula espinhal e morte dos neurônios inibitórios da dor. 
Um mito normalmente considerado é que os animais jovens não possuem o sistema nervoso tão 
desenvolvido e desta forma o sofrimento é menor. Entretanto, a ciência mostra que neonatos apresentam maior 
sensibilidade que adultos na percepção da dor (Hellebrekers 2002). É importante lembrar que até o início da década 
de 80, eram realizados procedimentos cruentos em neonatos humanos, inclusive cirúrgicos, sem anestesia ou 
analgesia, simplesmente pelo fato que não se percebia que os bebês apresentavam dor. 
Da mesma forma que a dor deve ser avaliada de forma multidisciplinar, também deve ser tratada 
preferencialmente por associação de vários métodos. Apesar da grande importância dos métodos convencionais, 
como o uso de opióides, antiinflamatórios, anestésicos locais, sedativos e anestésicos gerais, outras técnicas, tais 
como acupuntura, homeopatia, fitoterapia e métodos físicos, entre outros, são tão ou mais importantes de acordo 
com a etiologia e a categoria da dor. 
Considerações finais 
 A dor é a única doença incapacitante de toda a plenitude do corpo. Mesmo animais deficientes físicos, podem 
compensar as deficiências com outras atividades ou fortalecer outras funções ou sentidos. Entretanto, nenhum ser 
pode exercer suas atividades como um todo quando sofre de dor. 
 Todo o embasamento científico demonstra que os animais sentem dor, dado não apenas a resposta 
comportamental, mas também a bioquímica e fisiológica. Porém, com exceção de animais de estimação em que há 
uma maior preocupação com o tema, os animais de produção estão constantemente sujeitos a experiências 
extremante dolorosas, na sua esmagadora maioria, sem o uso de anestésicos e/ou analgésicos. Estas práticas, tais 
como a caudectomia e corte de dentes em leitões, castração, desvio lateral de pênis para produção de rufiões e 
descorna em ruminantes, bem como outras práticas de manejo que causam dor e sofrimento intensos, tal como a 
marcação a fogo, deveriam ser reavaliadas quanto à necessidade e a forma de realização. 
Pode-se questionar se os animais têm emoção e/ou inteligência, mas um fato inquestionável é que eles 
podem sofrer. Já que o ser humano usa os animais em benefício próprio, é questão de bom senso, independente da 
abordagem filosófica no que concerne o bem estar animal, que estes sejam tratados de forma digna, evitando-se a 
dor e o sofrimento destes seres. 
Referências Bibliográficas 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
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SEDAÇÃO, ANALGESIA E ANESTESIA EM EQÜINOS À CAMPO 
 
Francisco José Teixeira Neto 
Antonio José de Araujo Aguiar 
FMVZ-Unesp-Botucatu-SP 
 
Introdução: 
 
 A anestesia eqüina tem se desenvolvido intensamente nos últimos anos com o surgimento de novas técnicas 
e/ou associações anestésicas. O objetivo deste artigo é fornecer subsídios ao profissional para realização de 
procedimentos anestésicos à campo, abordando recentes progressos na sedação, analgesia e anestesia intravenosa. 
 
1- Emprego de analgésicos no tratamento da dor abdominal aguda: 
 
 A síndrome cólica é uma patologia que requer intervenção imediata. O alívio da dor é uma das medidas 
terapêuticas a serem adotadas. Entretanto, a terapia analgésica, caso empregada de forma inadequada pode 
mascarar o quadro clínico, prejudicando o diagnóstico precoce de processos de natureza cirúrgica. Nestas situações, 
o atraso no envio do animal à cirurgia pode causar o insucesso. Portanto, a terapia analgésica deve ser empregada 
com critério, visando ao mesmo tempo proporcionar alívio da dor, sem no entanto prejudicar o diagnóstico. 
 Escolha do analgésico: 
 O veterinário deve escolher o analgésico com base no seu conhecimento sobre as vantagens e 
desvantagens de cada fármaco. Em casos simples de cólica espasmódica e/ou inflamatória, o uso de analgésicos 
discretos é vantajoso por resultar em inibição da dor sem mascarar processos de maior gravidade. Por outro lado, 
fármacos de maior poder analgésico somente devem ser empregados após estabelecido o diagnóstico ou em casos 
de dor não controlável com outros fármacos (tabela 1). 
 
Tabela 1: Eficácia relativa dos analgésicos no tratamento da dor abdominal aguda em eqüinos. 
 
Analgésico Dose Eficácia analgésica 
Dipirona 10 mg/kg/IV Discreta 
Dipirona / hioscina 4 ml/ 100 kg (associação) Discreta a moderada 
Flunixin meglumine 1 mg/kg/IV Boa 
Xilazina 0,5-1,0 mg/kg/IV Boa a excelente 
Detomidina 10-20 µg/kg/IV Excelente 
Butorfanol 0,05 - 0,1 mg/kg/IV Boa 
 
Fonte: WHITE NA, The equine acute abdomen 1990 (modificado) 
 
 Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) 
 Os anti-inflamatórios não esteroidais são os fármacos de emprego mais difundido na tratamento da dor 
abdominal. A dipirona é um AINE de eficácia discreta no controle da da dor abdominal (tabela 1).O flunixin 
meglumine além de possuir bom poder analgésico, inibe a síntese de tromboxana e prostaciclinas, minimizando os 
efeitos da endotoxemia (MOORE et al, 1986). O flunixin meglumine somente deve ser empregado após o 
estabelecimento do diagnóstico ou em casos de dor intensa, não controlável por outros analgésicos, uma vez que 
este fármaco pode mascarar os sinais clínicos de obstruções estrangulativas severas (endotoxemia). O uso 
prolongado e/ou de altas doses destes fármacos deve ser evitado, uma vez que podem provocar ulceração do trato 
digestório e insuficiência renal, particularmente em animais endotoxêmicos/desidratados que receberam 
concomitantemente terapia com aminoglicosídeos (gentamicina/amicacina). 
 
 Alfa-2 agonistas: 
 A xilazina e detomidina são alfa-2 agonistas que produzem sedação, miorrelaxamento e analgesia intensa. 
Em função destes efeitos, estes fármacos facilitam sobremaneira a realização do exame de palpação retal no animal 
com síndrome cólica. A xilazina pode ser utilizada com esta finalidade na dose de 0,5 mg/kg/IV. Os alfa-2 agonistas 
também são de grande eficácia no controle da dor abdominal severa, não passível de ser controlada por outros 
analgésicos (tabela 1). Estes fármacos devem ser empregados cuidadosamente em pacientes com comprometimento 
significativo da função circulatória, uma vez que estudos tem demonstrado que os alfa-2 agonistas provocam 
bradiarritimas e depressão acentuada do débito cardíaco (WAGNER et al, 1991). Adicionalmente a diurese induzida 
por estes fármacos pode contribuir para um agravamento do quadro de desidratação. A motilidade do jejuno e porção 
distal da flexura pélvica podem se reduzir por até 2 horas após o emprego de 1,1 mg/kg de xilazina (ADAMS et al, 
1984). Logo seu uso repetido e prolongado deve ser evitado, particularmente em animais c/ distúrbios do trânsito 
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intestinal ou com íleo paralítico. A xilazina associada ou não ao opióide butorfanol tem sido empregada em casos de 
dor não controlável por outros analgésicos. Deve-se estar atento ao fato de que processos estrangulativos de maior 
gravidade, como torções de cólon maior e torções de intestino delgado, muitas vezes produzem dor incontrolável, 
mesmo com o emprego de analgésicos potentes como os alfa-2 agonistas, flunixin meglumine e butorfanol. 
 
 Opióides: 
 Dentre os opióides, o butorfanol tem sido o fármaco de uso mais difundido no tratamento da dor abdominal. O 
butorfanol, por ser um opióide agonista/antagonista, proporciona alívio da dor com menor incidência de efeitos 
colaterais. No tratamento da dor abdominal, podem-se empregar as doses de 0,05a 0,1 mg/kg/IV. Deve-se evitar o 
uso de doses excessivamente elevadas, uma vez que neste caso pode ocorrer excitação. O uso do butorfanol por 
períodos prolongados também não é recomendado em função da possível interferência com o trânsito intestinal 
(SOJKA et al, 1988). O butorfanol é um fármaco recomendado no tratamento da dor abdominal moderada a severa. A 
principal vantagem a ser considerada é o fato deste fármaco produzir analgesia sem no entanto interferir 
significativamente na função cardiorrespiratória (ROBERTSON et al, 1981, KALPRAVIDH et al, 1984). Em função 
desta característica, a avaliação do quadro circulatório do animal não é prejudicada, como pode ocorrer com o 
emprego do flunixin meglumine. 
 
 Conclusões: 
 O emprego de analgésicos é um tópico de grande importância na abordagem terapêutica do eqüino com 
síndrome cólica. Ao se considerar o uso de analgésicos, deve-se conhecer a farmacologia dos principais fármacos, 
visando assim proporcionar alívio da dor, sem no entanto prejudicar o estabelecimento do diagnóstico e tratamento 
adequados. 
 
 
2- Contenção farmacológica do eqüino em posição quadrupedal: 
 
Durante a realização de um exame clínico em animais de grande porte, em especial nos eqüinos, muitas 
vezes há necessidade de se empregarem métodos de contenção química que, em associação aos meios de 
contenção física, irão facilitar a obtenção de um diagnóstico clínico, além de permitirem o emprego de técnicas de 
exame auxiliares, como a ultra-sonografia e radiografia, a colheita de material biológico para exames laboratoriais e a 
realização de intervenções cirúrgicas simples. 
Alguns procedimentos clínicos especiais, tais como exames oftálmicos, do pavilhão auricular e conduto 
auditivo externo, exames da cavidade oral, palpação retal, endoscopias dos tratos respiratório e digestório, lavados 
traqueais e exames das extremidades dos membros torácicos e pélvicos, muitas vezes só são possíveis com a 
administração prévia de fármacos com efeitos depressores do sistema nervoso central, que produzem efeitos 
tranqüilizantes e ansiolíticos. 
Uma contenção farmacológica eficaz tornaria os pacientes mais calmos e tranqüilos, indiferentes ao meio 
que os cerca, reduzindo suas reações de defesa a estímulos externos como ruídos e toques. Favoreceria, também, a 
manipulação de uma determinada região do corpo ou mesmo a movimentação do paciente de um local para outro. 
O emprego de agentes tranqüilizantes, sedativos e analgésicos tem como objetivos principais a redução da 
ansiedade e do estresse experimentados pelo paciente, muitas vezes provocados pela simples aproximação de 
pessoas estranhas, até mesmo do próprio médico veterinário, ou pelo ambiente de um hospital veterinário, para onde 
foi transportado. 
Em alguns casos, a origem do estresse á a dor que, invarialvelmente, está associada a diversas afecções 
clínicas, determinando inquietação e agressividade por parte do paciente, tornando mais difíceis a sua manipulação e 
exame clínico, além de aumentar os riscos de acidentes a si próprio, e aos profissionais responsáveis pelo 
tratamento. Nestes casos, a utilização de agentes analgésicos, associados ou não a tranqüilizantes, promoveria a 
redução da dor e desconforto, acalmando o paciente; fornencendo assim, condições seguras para a melhor 
condução do caso. 
A contenção química em eqüinos não está isenta de efeitos indesejáveis. Não existe um fármaco “ideal” que 
produza efeitos tranqüilizantes ou analgésicos sem que também não cause algum grau de depressão 
cardiorrespiratória, incoordenação motora, ataxia ou mesmo, em alguns casos, o decúbito. Por esse motivo, alguns 
agentes sedativos e analgésicos são empregados em associação, buscando-se minimizar a ocorrência destes 
efeitos. 
O comportamento do animal é um fator de importância fundamental na seleção dos agentes e técnicas de 
sedação, bem como nos efeitos clínicos observados após a administração destes. 
Dentre os fatores a serem considerados na escolha da técnica de contenção química a ser empregada, 
pode-se citar: o comportamento do indivíduo, a raça, a idade, o sexo, o manejo, o tipo de cirurgia/exame clínico a ser 
realizado e o custo operacional dos procedimentos. 
 
Características comportamentais da espécie eqüina 
 
Alguns fatores relacionados a espécie eqüina influenciam diretamente o comportamento individual do 
paciente. 
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11 
 
Em geral, animais de comportamento mais dócil, tranqüilo e menos agressivo, apresentam respostas 
melhores à administração de agentes sedativos e tranqüilizantes, onde costumam-se observar sinais característicos 
de depressão do sistema nervoso central, mesmo quando são empregadas doses baixas desses fármacos. Em 
contrapartida, pacientes de temperamento instável, estressados e muito inquietos costumam ser menos responsivos 
à contenção química, necessitando, assim, do emprego de substâncias mais potentes e em doses elevadas. 
A seleção do fármaco mais adequado em cada caso dependerá do estado físico do paciente, tipo de procedimento 
clínico/cirúrgico a ser executado, da disponibilidade de auxiliares e de recursos materiais, das instalações do local do 
exame e, principalmente, de uma avaliação comportamental adequada do paciente. 
Algumas considerações sobre os principais fatores que influenciam o comportamento animal são 
apresentadas a seguir. 
Embora haja, dentro da espécie eqüina, uma grande variação de peso e tamanho, os indivíduos adultos são 
animais de grande porte, o que dificulta, em diversas ocasiões, o manejo clínico, incluindo procedimentos simples 
como a aproximação do profissional, o deslocamento do paciente até o tronco de contenção, a aplicação de meios 
físicos de contenção e a venopunção para a administração de medicamentos. 
Os eqüinos apresentam um padrão de comportamento bastante variável devido, principalmente, à raça e ao 
manejo a que foram submetidos desde o nascimento. Em geral, os animais adultos são muito sujeitos ao estresse, 
com sentidos de olfato, audição e visão bastante desenvolvidos, reagindo de maneira muito rápida e brusca a 
estímulos externos. 
 Quando se administra um tranqüilizante ou sedativo, em doses clínicas, os cavalos costumam se manter em 
posição quadrupedal, muito embora apresentem sinais de instabilidade corpórea, com o afastamento lateral dos 
membros toráciocs, apoio alternado dos membros posteriores sobre a região da pinça do casco, e ataxia. Alguns 
animais tornam-se assustados ao terem a percepção destes efeitos, especialmente se eles forem conduzidos de um 
local a outro, imediatamente após a administração do fármaco. 
 
Raça 
 A raça é um dos fatores que mais influenciam o padrão de comportamento dos pacientes. Tanto em eqüinos 
quanto em outras espécies, existem grandes variações de temperamento, característicos de determinadas raças. 
 Os animais das raças Puro Sangue Inglês, Árabe, Mangalarga Paulista e Andaluz, em geral, apresentam 
comportamento agitado e assustam-se com facilidade, especialmente em ambientes diferentes ao local de criação e 
na aproximação de pessoas estranhas. Por outro lado, as raças Quarto-de-Milha, Bretão e Percheron apresentam 
temperamento mais dócil e menos vulnerável ao estresse. 
 
Sexo 
 Os garanhões normalmente apresentam temperamento mais agitado quando comparado às fêmeas. O 
manejo desses animais deve ser feito com muita cautela, pois sempre há o risco de acidentes, sendo aconselhável o 
auxílio do tratador ou pessoa conhecida pelo paciente. Deve-se sempre evitar a presença de outros machos ou 
fêmeas em estro nas proximidades do local de exame, assim como a permanência de muitas pessoas próximas ao 
paciente. Ruídos e movimentos bruscos próximos à cabeça do animal também dificultam o exame clínico, tornando 
os animais mais estressados e ansiosos. 
As fêmeas, por ocasiãodo parto e durante o início do período de lactação, costumam modificar o seu 
comportamento, tornando-se mais inquietas. As éguas, quando acompanhadas de suas crias, adotam atitude de 
proteção, e qualquer procedimento, seja na égua ou no potro neonato, deve ser realizado com muita calma e 
cuidado. 
 
Idade 
 A facilidade de contenção física nos animais mais jovens, devido ao seu menor porte pode dispensar o 
emprego da contenção química para a realização de um exame clínico de rotina. Entretanto, em situações em que 
esta é necessária, deve-se ter cautela na seleção dos fármacos e no cálculo de suas doses, pois animais neonatos e 
jovens são bastante sensíveis aos efeitos de agentes depressores do sistema nervoso central. Os principais sistemas 
do organismo ainda estão em fase de desenvolvimento e, com isso, os efeitos depressores destes agentes sobre os 
sistemas cardiovascular e respiratário serão mais intensos e prolongados do que nos animais adultos. Além disso, a 
biotransformação e eliminação de fármacos serão também mais lentas, devido à imaturidade dos sistemas hepático e 
renal. 
 A presença da mãe junto ao potro neonato durante o procedimento de contenção física, venopunção e 
administração do medicamento, geralmente reduz o seu estresse e os acalma. Uma vez que os efeitos 
tranqüilizantes tenham se manisfestado, a fêmea pode ser retirada do local do exame. Entretanto, algumas mães 
reagem de forma violenta à manipulação e à contenção física de suas crias, necessitando, em algumas ocasiões, ser 
também submetidas à contenção química. 
 
Manejo 
 O padrão de comportamento individual é bastante influenciado pelo método de manejo que o paciente foi 
submetido desde o seu nascimento. Os eqüinos submetidos a procedimentos inadequados de adestramento ou 
doma, com a aplicação de violência e de maus-tratos, podem apresentar sinais de alteração de comportamento, 
reagindo à manipulação e ao exame de determinadas regiões de seu corpo, especialmente a cabeçaa. Isso pode 
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ocorrer mesmo em indivíduos de raçaas mais dóceis como a Quarto-de-Milha. 
 
Estado Clínico 
 Os pacientes com estado geral debilitado, normalmente apresentam-se apáticos e pouco responsivos a 
estímulos externos, não necessitando, na maioria dos casos, de contenção química para a realização de um exame 
físico. Entretanto, nos procedimentos em que haja a necessidade da administração desses fármacos, deve-se ter 
cuidado na escolha do agente, e utilizá-lo em doses baixas, pois estes pacientes são sensíveis aos seus efeitos 
depressores sobre o sistema cardiorrespiratório. 
 Os animais em excelente estado clínico, como os eqüinos atletas, por outro lado, podem se mostrar mais 
resistentes à contenção química, necessitando algumas vezes de fármacos mais potentes e em doses mais altas 
para uma boa tranqüilização. 
 
Local do Exame 
 Em condições ideais, o ambiente onde o exame clínico será realizado deve ser o mais tranqüilo e calmo 
possível, sem a ocorrência de ruídos, ou a circulação de outros animais, pessoas e veículos. A disponibilidade de 
tronco de contenção facilita a contenção física e permite a administração de medicamentos com maior segurança. 
 Um ambiente inadequado, com barulho e estímulos externos é uma fonte de estresse adicional aos pacientes 
e prejudica a obtenção de uma contenção química de qualidade. Assim, os efeitos de uma tranqüilização, algumas 
vezes, são pouco evidentes, ou mesmo não se manifestam em animais muito estressados. Inúmeros procedimentos 
podem ser realizados através da contenção farmacológica do eqüino em estação, desde cirurgias até exames 
clínicos e radiográficos. 
 
 
3- Fármacos principais: 
 
Fenotiazínicos: 
 Os fenotiazínicos são fármacos empregados na contenção farmacológica de eqüinos em estação, produzindo 
sedação discreta. Possuem ação antiarritmogênica, reduzindo o risco de fibrilação ventricular induzida pela 
epinefrina. Seus efeitos sedativos são adequados em animais de temperamento dócil. No entanto, não produzem 
sedação adequada em animais excitados e/ou nervosos. Adicionalmente, devido a sua ação hipotensora, não são 
recomendados em pacientes com comprometimento circulatório (síndrome cólica). Seu uso em garanhões deve ser 
cauteloso, uma vez que há relatos da ocorrência eventual de priapismo (enrijecimento persistente do pênis) em 
animais tratados com fenotiazínicos. A acepromazina é um fenotiazínico que tem sido empregado como medicação 
pré-anestésica em eqüinos na dose de 0,03 a 0,05 mg/kg/IV ou IM. 
 
 Alfa-2 agonistas: 
 Os alfa-2 agonistas são amplamente empregados na espécie eqüina. Em função da sua ação sedativa, 
analgésica e miorrelaxante, facilitam a realização de inúmeros procedimentos, desde simples radiografias até 
laparotomias com o animal em estação. A xilazina e detomidina, apesar de possuírem boa eficácia analgésica, 
resultam em maior grau de ataxia que a romifidina (HAMM et al, 1995, ENGLAND et al, 1992) (Tabela 2). Devido à 
ataxia produzida por estes fármacos, recomenda-se evitar a movimentação do animal após a sedação. 
 
 
 
Tabela 2: Comparação entre os efeitos clínicos dos principais agentes alfa-2 agonistas empregados no eqüino. 
 
Fármaco Analgesia Ataxia Abaixamento 
de cabeça 
Xilazina (1 
mg/kg/IV) 
 
Boa Maior Intermediário 
Detomidina (20 
µg/kg/IV) 
 
Excelente Maior Maior 
Romifidina 
(80 µg/kg/IV) 
 
Boa Menor Menor 
 
 Os efeitos produzidos por estes fármacos ocorrem de forma dose dependente. Devendo-se selecionar a dose 
em função do estado sistêmico, temperamento do animal e tipo de procedimento. Os alfa-2 agonistas provocam 
bradiarritmias, bloqueio AV de 2o grau, redução do débito cardíaco e hipertensão transitória, seguida de hipotensão 
(WAGNER et al, 1991). Tais efeitos são bem tolerados por animais sadios, entretanto devem ser empregados 
cuidadosamente em pacientes com comprometimento circulatório. 
 
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 Associação dos alfa-2 agonistas com opióides (Neuroleptoanalgesia): A associação de uma alfa-2 agonista 
com um opióide produz um estado denominado neuroleptoanalgesia (sedação e analgesia intensa). Esta associação 
resulta em maior sedação e analgesia (efeito sinérgico), sendo empregada para contenção farmacológica em animais 
que necessitam de sedação e/ou analgesia mais intensas. 
A xilazina (0,3 a 0,5 mg/kg/IV), pode ser associada ao butorfanol (0,02 a 0,05 mg/kg/IV) para produzir 
neuroleptoanalgesia. 
 
3- Anestesia intravenosa à campo 
 
 Xilazina/quetamina/diazepam: 
 A associação xilazina/quetamina/diazepam induz anestesia segura e efetiva nos eqüinos. O período 
anestésico hábil proporcionado por esta associação é relativamente curto (aproximadamente 10 minutos). Havendo a 
necessidade de se prolongar seus efeitos, pode-se readministrar 1/3 da dose inicial de xilazina e quetamina na 
mesma seringa. Esta associação é empregada para realização de pequenas cirurgias ou ainda como parte de um 
protocolo de indução da anestesia geral (Tabela). 
 A quetamina (2,0-3,0 mg/kg/IV) deve ser administrada após 5 - 10 minutos do emprego da dose alta de 
xilazina (1,0 mg/kg/IV). Antes da administração da quetamina, deve-se estar seguro de que o animal apresenta 
sedação adequada, evidenciada pelo abaixamento da cabeça e relativa indiferença ao ambiente. Caso contrário, 
existe o risco de excitação induzida pela quetamina. Para se aumentar o miorrelaxamento, o diazepam (0,05 a 0,1 
mg/kg/IV) é associado à quetamina na mesma seringa. 
 
 Acepromazina/ xilazina/quetamina/diazepam: 
 Alternativamente, a acepromazina (0,03 – 0,05 mg/kg) pode ser administrada por via intramsucular 1 hora 
antes da administração da dose baixa de xilazina (0,3 a 0,5 mg/kg) pela via intravenosa. O uso prévo dofenotiazínico 
possibilita a redução da dose do agonista alfa-2. Deve-se aguardar um período prolongado após a administração da 
acepromazina IM, uma vez que este fenotiazínico possui um período de latência longo no cavalo. Durante esta fase, 
para se otimizar a tranquilização induzida pela acepromazina, o animal deve ficar em ambiente tranquilo, sem ser 
manipulado. A quetamina (2,0-3,0 mg/kg/IV) assoicada ao diazepam (0,1 mg/kg) é administrada após 5 - 10 minutos 
do emprego da xilazina. O período anestésico hábil é semelhante à técnica anterior. 
 
 Xilazina / Éter Gliceril Guaiacol (EGG) / Quetamina: 
 Após pré-medicação com xilazina (0,3 a 0,5 mg/kg/IV), anestesia pode ser induzida com a quetamina (2,0 
mg/kg/IV) associada ao EGG (100 mg/kg/IV). Esta associação permite uma anestesia com maior grau de 
miorrelaxamento, graças ao emprego do EGG. Nesta técnica, 5-10 minutos após o agonista alfa-2 a anestesia é 
induzida com EGG a 5 ou 10% administrado por via IV. Logo nos primeiros sinais de ataxia, a infusão de EGG é 
interrompida e a quetamina é administrada sob a forma bolus. Logo após o animal entrar em decúbito o restante do 
EGG pode então ser infundido. O período anestésico hábil é de aproximadamente 15 a 20 minutos. A administração 
de EGG deve ser realizada preferencioalmente através de catéter intravenoso. 
 
 Associação xilazina/telazol(tiletamina-zolazepam) 
 O telazol é uma associação previamente preparada de tiletamina (anestésico dssociativo) com zolazepam 
(benzodiazepínico). A associação xilazina (1 mg/kg/IV) e telazol (1,0 a 1,5 mg/kg/IV) é uma técnica satisfatória de 
anestesia de curta duração em eqüinos, proporcionando um período anestésico hábil com duração média de 15 
minutos. Semelhantemente à quetamina, o telazol somente deve ser utilizado após sedação prévia com o alfa-2 
agonista. O emprego do alfa-2 agonista auxilia na inibição dos efeitos indesejáveis dos anestésicos dissociativos 
(hipertonia muscular / excitação). 
 
Anestesia intravenosa por infusão contínua: 
No campo, o veterinário pode não ter acesso imediato a centros cirúrgicos de referência, onde há a 
disposição equipamento para realização da anestesia inalatória. O advento de técnicas de anestesia intravenosa por 
infusão contínua no eqüino tem possibilitado a realização de procedimentos cirúrgicos de maior duração (YOUNG et 
al, 1993, TAYLOR et al, 1998). A manutenção da anestesia com o emprego de agentes intravenosos possui as 
seguintes vantagens: 
 
- produz menor depressão cardiovascular que os anestésicos inalatórios (LUNA et al, 1996). Tipicamente a 
pressão arterial média (PAM) sob anestesia inalatória cai abaixo de 70 mm Hg, enquanto que com o uso da 
associação EGG/quetamina/xilazina administrada or infusão contínua a PAM se mantém em valores próxiomos a 
90-100 mm Hg 
- não resulta na resposta de estresse endócrino noramalmente associada à anestesia inalatória (LUNA et al, 1996, 
TAYLOR et al, 1998). 
 
Deve-se considerar ainda que a anestesia intravenosa é de maior praticidade para o clínico no campo, não 
exigindo investimento em equipamentos sofisticados. 
Curso de Pós-Graduação em Espécies Pecuárias - 2008 
 
 
14 
 
 As técnicas de anestesia intravenosa empregando de infusões contínuas de EGG/quetamina/Alfa-2 agonista 
(G/K/X) tem se tornado populares. Com o emprego destas técnicas, deve-se estar atento para avaliação do plano 
anestésico. Diferentemente do animal sob anestesia geral inalatória, os reflexos protetores são mantidos 
(laringotraqueal e oculopalpebral), verificando-se nistagmo mesmo em planos cirúrgicos adequados. Portanto, 
mesmo com a presença de nistagmo (movimentos rápidos do globo ocular) e reflexo palpebral, o anestesista não 
deve aumentar a velocidade de infusão caso o animal não esteja se movimentando em resposta ao estímulo cirúrgico 
. No animal sob anestesia intravenosa total com o emprego da associação EGG/quetamina/alfa-2 agonista, o melhor 
parâmetro para avaliação do plano anestésico é a presença ou ausência de movimentação do animal diante do 
estímulo cirúrgico. 
 
 Conclusões: 
 A contenção farmacológica/anestesia intravenosa pode ser empregada em inúmeras situações em eqüinos. 
O uso racional das diversas técnicas anestésicas disponíveis deve-se basear no conhecimento das vantagens e 
desvantagens de cada fármaco e suas diversas associações. 
 
Referências Bibliográficas: 
 
ADAMS, S.B., LAMAR, C.H., MASTY, J. Motility of the distal portion of the jejunum and pelvic flexure in ponies: 
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agonists (romifidine, detomidine and xylazine) in the horse. J. Vet. Pharmacol. Ther. v.15, p.194-201, 1992. 
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Rec. v.136, p. 324-7, 1995. 
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p.211-6, 1984. 
LUNA, S.P.L., TAYLOR, P.M., WHEELER, M.J. Cardiorespiratory, endocrine and metabolic effects in ponies 
undergoing intravenous or inhalation anesthesia. J. Vet. Pharmacol. Ther. v.19, p. 251-8, 1996. 
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comparison of flunixin meglumine, phenilbutazone and a selective tromboxane synthetase inhibitor. Am. J. Vet. 
Res. v.47, p.110-3, 1986. 
ROBERTSON, J.T.MUIR, W.W., SAMS, R. Cardiopulmonary effects of butorphanol tartrate in horses. Am. J. Vet. 
Res. v.42, p. 41-44, 1981. 
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TAYLOR, P.M., KIRBY, J.J., SHRIMPTON, D.J., JOHNSON, C. B. Cardiovascular effects of surgical castration during 
anaesthesia maintained with halothane or infusion of detomidine, ketamine and guaifenesin in ponies. Eq. Vet. J. 
v.30, n.4, p.304-9, 1998. 
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YOUNG, L.E. BARTRAM, D.H., DIAMOND, M.J., et al. Clinical evaluation of an infusion of xylazine, guaifenesin and 
ketamine for maintenance of anesthesia in horses. Eq. Vet. J. v.25, p.115-9, 1993 
 
 
VIII CURSO PRÁTICO DE ANESTESIA EM GRANDES ANIMAIS-FMVZ-Unesp-Botucatu-SP-2008 
 
 
15 
Emprego de agentes sedativos e analgésicos em eqüinos. 
 
Fármaco / 
Associação 
Dose Indicação Observações 
Acepromazina 
 
0,03 - 0,05 mg/IV-IM Tranquilização / Medicação pré-anestésica 
(MPA) 
Período de latência longo (30 min com a via IV e 60 min 
com a via IM). 
Pouco eficaz em animais excitados / nervosos. 
Evitar em animais desidratados/endotoxêmicos. 
Evitar uso em garanhões excitados (risco preapismo). 
Xilazina 
 
0,3 - 0,5 mg/kg/IV(sedação discreta 
a moderada) 
 
1,0 mg/kg/IV(sedação intensa) 
Procedimentos diversos / MPA 
Analgesia 
Utilizar cuidadosamente em animais com comprometimento 
circulatório. 
Não utilizar em potros de até 1 mês. 
Empregar doses reduzidas (0,2 - 0,3 mg/kg) em raças de 
tração (maior susceptibilidade, ataxia excessiva). 
Detomidina 10 - 20 µg/kg/IV Procedimentos diversos / MPA 
Analgesia 
Maior duração de ação que a xilazina. 
Analgésico potente. 
Doses reduzidas em raças de tração (5 - 10µg/kg) 
(Não disponível atualmente no mercado nacional.) 
Romifidina 0,03 – 0,05 mg/kg/IV(sedação 
discreta a moderada) 
0,08-0,1 mg/kg/IV(sedação intensa) 
Procedimentos diversos / MPA 
 
Menor ataxia que a xilazina e detomidina. 
Duração mais prolongada 
Doses reduzidas em raças de tração (20 - 40µg/kg) 
Butorfanol 
 
0,02 - 0,1 mg/kg/IVAlívio da dor abdominal aguda(dor moderada 
a severa) 
Pode causar excitação caso administrado isoladamente em 
animais hígidos. 
Acepromazina / 
Xilazina 
Acepromazina (0,03 - 0,05 
mg/kg/IV) 
30 min após: 
Xilazina (0,02 - 0,07mg/kg/IV) 
MPA 
Procedimentos com animal em estação 
 
Administrar a acepromazina na baia. 
Caso acepromazina seja administrada IM aguardar 1 hora 
antes de manipular o animal (30 min se via IV foi utilizada) 
Sedação satisfatória antes da indução anestésica com 
quetamina. 
Xilazina / 
Butorfanol 
Xilazina (0,3 - 0,5 mg/kg/IV) / 
Butorfanol (0,02 - 0,05mg/kg/IV) 
MPA 
Procedimentos que necessitam de maior grau 
de sedação / analgesia (Ex: laparotomias em 
estação com o emprego conjunto de anestesia 
local) 
Sedar o animal no local do procedimento devido ao maior 
grau de ataxia. 
Tanto a romifidina como a detomidina podem ser 
empregadas como alternativa à xilazina. 
Xilazina / 
Buprenorfina 
Xilazina (0,3 - 0,5 mg/kg/IV) / 
Buprenorfina (3 µg/kg/IV) - mesma 
seringa 
MPA 
Procedimentos que necessitam de maior grau 
de sedação / analgesia (Ex: laparotomias) 
Sedar o animal no local do procedimento devido ao maior 
grau de ataxia 
 
Acepromazina / 
Buprenorfina 
 
Acepromazina (0,05 mg/kg/IV) / 
Buprenorfina (3 µg/kg/IV) - mesma 
seringa 
MPA Menor grau de sedação / analgesia que as associações de 
alfa-2 agonista / opíóide. Menor grau de ataxia que as 
associações de alfa-2 agonista / opíóide. 
 
VIII CURSO PRÁTICO DE ANESTESIA EM GRANDES ANIMAIS-FMVZ-Unesp-Botucatu-SP-2008 
 
 
16 
Emprego de agentes antestésicos intravenosos em eqüinos. 
 
Fármaco / Associação Dose Indicação Observações 
A) Xilazina 
Quetamina / Diazepam 
 
Xilazina (1,0 mg/kg/IV), 5-10 minutos após: Quetamina 
(2,0-3,0 mg/kg/IV) + diazepam (0,05-0,1 mg/kg/IV) 
Cirurgias de curta 
duração, Indução da 
anestesia geral inalatória 
Período anestésico hábil: ~10 minutos. 
Para prolongar o efeito, administrar xilazina + quetamina (1/3 da dose 
original). Evitar o uso isolado da quetamina em animais que não 
apresentarem sedação satisfatória com o alfa-2 agonista (associar EGG). 
B) Acepromazina / Xilazina 
Quetamina / Diazepam 
Acepromazina (0,05 mg/kg/IV), 30 min após: Xilazina (0,3-
0,7 mg/kg/IV), 5-10 minutos após: Quetamina (2,0-3,0 
mg/kg/IV) + diazepam (0,1 mg/kg/IV) 
Cirurgias de curta 
duração, Indução da 
anestesia geral inalatória 
Período anestésico hábil: ~10 minutos (semlhante técnica anterior). 
Dose de xilazina reduzida (de 1,0 para 0,3-0,5 mg/kg) pelo uso prévio de 
acepromazina. 
Evitar o uso isolado da quetamina em animais que não apresentarem 
sedação satisfatória com o fenotiazínico /alfa-2 agonista. 
C) Xilazina 
Telazol (tiletamina / zolazepam) 
Xilazina (1,0 mg/kg/IV), 5-10 minutos após: Telazol (1,0 a 
1,5 mg/kg/IV) 
Cirurgias de curta 
duração 
Período anestésico hábil mais prolongado que na técnica anterior. 
Recuperação mais prolongada que a associação 
xilazina/quetamina/diazepam. 
Maior ataxia na fase de recuperação. 
Custo mais elevado (tiletamina-zolazepam) 
D) Xilazina 
Éter gliceril guaiacol (EGG) / 
Quetamina 
Xilazina (0,3-0,5 mg/kg/IV), 5-10 minutos após: EGG (100 
mg/kg/IV) + Quetamina (2,0 mg/kg/IV). 
Cirurgias de curta 
duração, Indução da 
anestesia geral inalatória 
Anestesia de boa qualidade. Relaxamento muscular adequado. 
E) Xilazina / Éter gliceril guaiacol / 
Tiopental 
 
Xilazina (0,3-0,5 mg/kg/IV), 10 minutos após: EGG (100 
mg/kg/IV) + Tiopental sódico (2-4 mg/kg/IV) 
Cirurgias de curta 
duração, Indução da 
anestesia geral inalatória 
Apnéia transitória eventualmente observada com o uso do tiopental sódico. 
Não utilizar em pacientes de alto risco (desidratados / endotoxêmicos) 
F) Anestesia intravenosa por infusão 
contínua (EGG/Quetamina/Xilazina) 
 
INDUÇÃO: 
Técnica A: Xilazina (1,0 mg/kg/IV), 10 minutos após: 
Diazepam (0,05 a 0,1 mg/kg/IV) + Quetamina (2,0 
mg/kg/IV) 
ou Técnica B (ver acima) 
MANUTENÇÃO: 
Infusão contínua (1-1,5 ml/kg/hora) da associação: Éter 
gliceril guaiacol (EGG) 100 mg/mL / Quetamina: 2mg/mL / 
Xilazina: 1 mg/ml (Diluir em Solução Fisiológica ou 
Glicofisiológica) 
Cirurgias prolongadas 
(até 1-1,5 horas de 
duração). 
Ajustar a velocidade de infusão em função da necessidade individual de 
cada animal. 
Manutenção adequada da função cardiovascular ( geralmente não ocorre 
hipotensão). 
Recuperação de boa qualidade desde que o tempo de anestesia não 
exceda 1 a 1,5 horas. 
Recomendável suplementar O2 através da sonda endotraqueal ou sonda 
nasal introduzida até a faringe (mínimo de 15 litros / minuto para animal 
adulto) para prevenir hipoxemia. 
 
 
VIII CURSO PRÁTICO DE ANESTESIA EM GRANDES ANIMAIS-FMVZ-Unesp-Botucatu-SP-2008 
 
 
17 
FARMACOLOGIA DOS ANALGÉSICOS OPIÓIDES 
Paulo Vinicius Mortensen Steagall 
Stelio Pacca Loureiro Luna 
FMVZ-Unesp-Botucatu-SP 
 
Histórico e conceitos 
Opióides são alcalóides naturais ou sintéticos derivados do ópio (do grego ópion), que significa “suco”, 
exsudato leitoso seco extraído das cápsulas das sementes verdes (imaturas) cortadas da planta Papaver somniferum 
ou papoula, originária da Ásia Menor. Após a queda da pétala da flor, a cápsula da semente é incisada e o suco 
leitoso é ressecado para formar uma massa pegajosa acastanhada, a qual é colhida, seca e pulverizada para formar o 
produto final. 
O ópio tem sido utilizado para o combate da dor desde os primórdios da civilização. Há relatos do uso de 
extrato de papoula pelos sumérios ao redor de 4.000 AC e posteriormente pelos egípcios. Os benefícios analgésicos, 
sedativos e antitussígenos do ópio começaram a serem usufruídos na Europa no século XVI, durante a Idade Média. 
No século XVIII, o uso do ópio se tornou popular na China. Navegantes mercadores portugueses e ingleses traficaram 
o produto visando a exploração econômica, o que resultou na Guerra do Ópio, em meados de 1839, entre Inglaterra e 
China, e transferência da Ilha de Hong Kong para os ingleses, como indenização de guerra, até 1997. 
A invenção da seringa e agulha hipodérmica em 1853 disponibilizou o uso de morfina em soldados feridos em 
batalhas, até o início do uso abusivo no Ocidente, o que causou vários casos de dependência física no homem. 
Atualmente a planta é cultivada na China, Tailândia, Índia, Irã, Paquistão e Afeganistão, sendo este último 
responsável pela maioria da produção mundial. 
Dentre os mais de 20 alcalóides encontrados no ópio, apenas a morfina (Figura 1) e a codeína possuem uso 
clínico. A morfina (do grego Morpheus, Deus dos sonhos) foi o primeiro opióide a ser isolado em 1806, na Alemanha. 
A heroína (diamorfina), de etimologia da palavra heróico em alemão, foi produzida em 1874 com o intuito de tratar a 
dependência causada pela morfina, até que anos mais tarde descobriu-se que seria uma droga com potencial ainda 
maior de causar dependência. Outros opióides sintéticos foram criados a seguir, já na Segunda Guerra Mundial, como 
a meperidina (1939) e a metadona (1942), pelos químicos alemães, para se obter o mesmo benefício analgésico da 
morfina sem efeitos colaterais. Entretanto isto não foi possível, pois estes também causam efeitos colaterais. Na 
década de 1960, a fentanila, a oximorfona, a etorfina e outros opióides foram introduzidos na Medicina Veterinária. Em 
1978, o citrato de carfentanila e dois anos mais tarde, a alfentanila, surgiram como novos opióides para uso em 
humanos. A carfentanila é uma ótima opção para sedação e contenção química de animais selvagens. Em 1984, foi 
sintetizado a sufentanila, mais potente e de menor período de ação que a fentanila, e mais recentemente, a 
remifentanila em 1996. O uso dessa classe de analgésicos tem sido cada vez mais importanteem Medicina 
Veterinária tanto para analgesia como componente da anestesia balanceada, que consiste na associação de diversos 
fármacos num único protocolo anestésico. 
Os opióides são os principais analgésicos da história, ainda insubstituíveis em determinadas situações 
cirúrgicas e de dor extrema. Produzem analgesia sem a perda da propriocepção ou da consciência, com possibilidade 
de narcose. Apresentam grande eficácia no pós-operatório imediato e na dor aguda. Entretanto, infelizmente, são os 
analgésicos menos utilizados em Medicina Veterinária, devido ao receio dos efeitos colaterais e o controle de 
entorpecentes. 
VIII CURSO PRÁTICO DE ANESTESIA EM GRANDES ANIMAIS-FMVZ-Unesp-Botucatu-SP-2008 
 
 
18 
 
Figura 1: Fórmula química da morfina 
 
Mecanismo de ação 
A identificação dos sítios de ação e de ligação dos opióides no cérebro de mamíferos em meados de 1970 
auxiliou no entendimento do mecanismo de ação destes fármacos. Os opióides inibem, por meio de proteínas ligantes 
do tipo GTP (guanina trifosfato), a enzima monofosfato adenilato ciclase. A ativação do receptor também causa 
inibição voltagem-dependente dos canais de cálcio, por meio da proteína Gi. Com isso, há diminuição na formação de 
AMPc, inibição da excitabilidade das fibras aferentes e do impulso nociceptivo (Figura 2). 
Os efeitos analgésicos dos opióides podem ocorrer também por meio das vias serotoninérgicas e dos 
receptores GABA. Outras evidências sugerem que os opióides mobilizam cálcio das vesículas intracelulares, como 
conseqüência da ativação da fosfolipase C. Esta via de inibição dos canais de cálcio aparentemente é utilizada pelos 
opióides que atuam em receptores κ. Os opióides ainda promovem a abertura de canais de K+ levando à 
hiperpolarização da célula. Assim as cargas positivas decorrentes do influxo por canais de Na+ ou Ca++, saem pelos 
canais de K+ que se mantêm abertos e não se acumulam na célula. Desta forma não ocorre a despolarização celular e 
a célula fica incapacitada de propagar impulsos nociceptivos. 
Os opióides reduzem a liberação de neurotransmissores excitatórios, como o glutamato e a substância P e 
inibem os impulsos nervosos somatosensoriais aferentes supraespinhais. A partir do cérebro ativam as vias inibitórias 
descendentes noradrenérgica e serotonérgica da medula espinhal e reduzem os efeitos psicológicos da dor, causando 
leve sedação. 
O efeito antálgico também ocorre quando administrado por via intra-articular em artroscopias e artrotomias, 
com eficácia igual ou superior, em relação à via sistêmica e menor incidência de efeitos colaterais. 
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19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Esquema do mecanismo de ação dos opióides: (+) estímulo. (-) inibição. 
 
Receptores opióides 
Os opióides agem ao menos em três diferentes receptores opióides: OP3 (µ - mu), OP2 (κ – kappa) e OP1 (δ 
– delta). Estes já foram clonados e apresentam suas seqüências de aminoácidos definidas. O receptor sigma (σ), 
originalmente identificado como receptor opióide, não é mais considerado como tal, visto que possui alta afinidade 
pela cetamina e fenciclidina, fármacos com atividade antagonista de receptores N-metil D-aspartato (NMDA). O 
receptor epsilon (ε), postulado como receptor da endorfina, opióide endógeno, apesar da controvérsia, provavelmente 
é um subtipo de receptor OP2 (κ). Novos receptores foram descobertos em estudos recentes, tais como o ORL1, 
semelhante aos outros receptores opióides. 
Estudos farmacológicos menos recentes ainda propõem a existência de subtipos de receptores µ (µ-1, µ-2 e 
µ-3), κ (κ-1, κ-2 e κ-3) e δ (δ-1 e δ-2), cuja existência ainda não foi confirmadas por pesquisas clonais modernas. 
 
Distribuição dos receptores opióides 
 Assim como em número, a distribuição dos receptores opióides é diferente entre as espécies animais e dentro 
do SNC. Altas densidades destes receptores são encontradas em áreas centrais que processam informações 
nociceptivas. A área cinzenta periaqueductal, formação reticular mesencefálica, medula, substância nigra e amígdala 
no cérebro apresentam uma presença maior de receptores do tipo OP3 (µ), enquanto que nas lâminas do corno dorsal 
I-IV e substância gelatinosa na medula espinhal há a presença de receptores OP3 (µ), OP2 (κ) e OP1 (δ). Os 
receptores também estão localizados perifericamente no plexo mioentérico, coração, rim, duto deferente, pâncreas, 
células de gordura, líquido sinovial, linfócitos e adrenais e por meio destes ocorrem alguns dos efeitos farmacológicos, 
como a diminuição da motilidade gastrointestinal. A maioria dos efeitos farmacológicos são similares nas espécies 
animais quando um determinado receptor é ativado, entretanto há diversas exceções. Por exemplo, quando a morfina 
se liga ao receptor OP3 (µ) em gatos e no homem, os efeitos podem ser de excitação e sedação, respectivamente, 
dependendo da dose e via de administração (quadro 3). 
 
opióides + receptores 
acoplados 
proteína Gi 
GMPc 
Sistema de adenilato ciclase 
AMPc 
PkA 
Ca +2 
K + 
Hiperpolarização da célula 
interferência c/ transdução 
e liberação de neurotransmissores 
( + ) 
( - ) 
canal para Ca +2 
dependente de voltagem 
( - ) 
( - ) 
( - ) 
( - ) 
( + ) 
( + ) 
Interfere com o estimula 
opióides + receptores 
acoplados 
proteína Gi 
GMPc 
Sistema de adenilato ciclase 
AMPc 
PkA 
Ca +2 
K + 
interferência c/ transdução 
e liberação de neurotransmissores 
( + ) 
( - ) 
canal para Ca +2 
voltagem 
( - ) 
( - ) 
( - ) 
( - ) 
( + ) 
( + ) 
Interfere com o estimula 
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Opióides endógenos 
 A descoberta de receptores opióides levou à busca de ligantes endógenos, conhecidos como peptídeos 
opióides endógenos, divididos em três famílias (encefalinas, endorfinas e dinorfinas), identificadas em diversas 
regiões do SNC, trato gastrintestinal e outros tecidos periféricos. Essas três famílias dão origem a outros produtos 
(metencefalina, leucenfalina, dinorfinas, neoendorfina, β-endorfina, orfanina e outros), que são neuropeptídeos 
intimamente relacionados às áreas de informações nociceptivas no SNC. Podem agir em mais de um receptor opióide 
e não participam apenas da atividade analgésica, mas também da resposta de estresse e funções cognitivas, como 
aprendizado e memória. Espera-se que estudos futuros, principalmente relacionados à biologia molecular, elucidem 
as principais funções dos opióides endógenos. Sabe-se que possuem potências diferentes e que se ligam a 
receptores opióides diferentes. As encefalinas se ligam a receptores OP1, as endorfinas aos OP3 e as dinorfinas aos 
OP2. 
 
Farmacodinâmica dos opióides 
Classificação dos opióides 
 Os opióides são classificados de acordo com o tipo de receptores e a maneira a que se ligam a estes, fatores 
determinantes do grau de analgesia e da farmacodinâmica. Por exemplo, um opióide ao se ligar ao receptor OP3 (µ) 
causará analgesia supraespinhal, entretanto também produzirá depressão respiratória, bradicardia, euforia, 
dependência física e hiperpolarização dos nervos periféricos induzidos pela resposta imune e inflamatória. O receptor 
OP2 (κ) media a analgesia espinhal e seu estímulo produz miose, sedação e disforia. Os receptores OP1 (δ) 
desencadeiam atividade psicomimética, analgesia espinhal, alucinação, estimulo vasomotor e respiratório e modulam 
a atividade de receptores OP3 (µ). Em geral, os fármacos analgésicos opióides de maior efeito clínico são os que 
possuem seletividade aos receptores OP3 (µ). 
 
 A conceituação dos termos a seguir é de extrema importância para se definir as diferenças entre os opióides:

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