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História do Design - Unidade 4

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História do Design
Unidade 4
Aula 1
Nos anos 1950 surgiu uma cultura da juventude que se agiganta e toma o mundo de assalto nas duas décadas seguintes. Na balança política estamos na Guerra Fria, um equilíbrio sempre ameaçado entre duas superpotëncias: Estados Unidos e União Soviética. O mercado de consumo de massas se fortalece e o advento da televisão o consolida, ultrapassando o rádio em poder de persuasão e alcance. Nesse mundo frenético, as soluções propostas pelo Estilo Internacional já não são as únicas ou as mais adequadas: ele envelheceu e será questionado pela nova geração de designers.
“No início da década de 1950, as leis monolíticas do Modernismo clássico começavam a ser questionadas. Membro do Independent Group, que se encontravam esporadicamente no Institute of Contemporary Arts em Londres de 1952 a 1955, descartou o modernismo como ultrapassado. (...) O grupo era fascinado pelo american way of life como representado pelos interiores luxuosos vistos nos filmes de Hollywood e anúncios coloridos em revistas como McCalls e National Geographics. Geladeiras bem abastecidas, máquinas de lavar automáticas e televisões tinham um apelo óbvio no clima econômico austero da Grã-Bretanha no início dos anos 1950. Essa avidez pode ser vista na obra de Richard Hamilton, Just What Is It That Make’s Today’s Homes So Different, So Appealing? (1956), um inventário de todos os objetos de consumo de massa apreciados em lares americanos.” (MASSEY, Anne. Interior design since 1900. Londres: Thames & Hudson, 1999, 2001.)
Pioneiro da Pop Art, Hamilton é autor da seguinte frase, que serve de síntese do Pop e a cultura dos anos 1960:
"Pop Art is: Popular, transient, expendable, low-cost, mass-produced, young, witty, sexy, gimmicky, glamorous, and Big Business." — Richard Hamilton
“Pop Art é: Popular, transitória, descartável, de baixo custo, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, enigmática, glamurosa e um grande negócio.”
Essa postura de apropriação de elementos da cultura popular foi especialmente forte na Itália. Se a geração anterior combinara a tradição cultural com o vocabulário de formas orgânicas (Achille Castiglioni, Gio Ponti e Osvaldo Borsani), para os designers dos anos 1960 a saída para questionar a rigidez funcionalista era o Pop. Luigi Colani usava materiais sintéticos para criar um design orgânico, colorido e expressivo. Outros designers ligados ao movimento Pop na Itália dos anos 1960: Guido Drocco e Franco Mello (cabideiro Cactus, 1971), Piero Gatti (cadeira Sacco, 1968 - em algumas lojas você pode encontrar o mesmo design como “bag pufe”) e Paolo Lomazzi, Donato D’Urbino, Jonathan De Pas e Carla Scolari (cadeira Blow, em plástico inflável, 1972, cadeira Joe, em formato de luva de basebal, 1970 ). O pop e a tendência orgânica do design têm uma conexão direta e o design de Vernen Panton (cadeira Panton, 1959-60) é incluída nas obras de design pop. Panton, Joe Colombo e Olivier Mourgue foram convidados pela Bayer para criar ambientes com os novos materiais sintéticos fabricados pela empresa produzindo entre 1968 e 1972 a série Visiona. A versão de 1970 de Panton, intitulada Visiona 2, é considerada o ápice de sua visão.
No final da década de 1960, surgem grupos de antidesign, não comprometidos com o aspecto comercial e funcional das suas criações, numa rejeição ao design estabelecido e ao “consumismo”. Archizoom, Superstudio, Grupo 9999 e Grupo Strum atuam nas cidades de Milão, Florença e Turim na segunda metade dos anos 1960. Esses grupos tiveram grande impacto e curta duração, dissolvendo-se nos anos 1970.
Havia quem rejeitasse o funcionalismo mas também quem o reforçasse e quisesse reinventá-lo. Todos os países que foram derrotados na guerra tinham em comum a missão de superar as ideias do passado fascista. Se na Italia o caminho era o pop, na Alemanha era a recuperação da herança bauhausiana. Lembra quem em 1933 a Bauhaus foi fechada pelos nazistas? O estilo adotado nos anos de guerra pelo regime de Hitler pode ser estudado no livro da disciplina (pág 84 a 91) e eu aconselho você a olhar se o assunto te interessar, mas aqui vamos fazer uma ponte direto para o período pós Segunda Guerra quando de novo o país precisava se reconstruir.
O chamado Neofuncionalismo se afastava do artesanato e trazia de volta os processos e ideias da Bauhaus, que havia prosperado no exílio, nos Estados Unido principalmente. A Alemanha foi dividida entre as potências, com um lado capitalista (Alemanha Ocidental) e um lado socialista (Alemanha Oriental). Do lado oriental a Bauhaus de Dessau foi reaberta uma segunda escola, uma Hochschule für Gestaltung (Escola Superior de Design) foi fundada em . Já do lado ocidental a Deutscher Werkbund foi refundada em 1947 e em 1953 fundou-se HfG (Hochschule für Gestaltung) em Ulm. Segundo o autor do livro da disciplina, “todas essas instituições cultivavam o funcionalismo. Elas rejeitavam tanto o “estilo orgânico quanto os estilos histórico-restauradores”.
Estavam envolvidos com a Escola de Ulm e com o conceito de Boa Forma (Gute Form) os designers Max Bill, Tomás Maldonado, Otl Aicher e Gui Bonsiepe, entre outros. A Escola funcionou até 1968 num espírito antifacista e democrático, estimulado por Inge Scholl e sua fundação, mantenedoras de Ulm, com aulas de formação para políticos, jornalistas, literatos e artistas. O primeiro reitor, Max Bill, criou um programa em que o design era influenciado pela arte mas sem as disciplinas artísticas que havia na Bauhaus. O curso básico, a participação dos estudantes na administração, o learning by doing, a fundamentação do fazer e a formação multidisciplinar marcaram o modelo da escola, que foi replicado em outros países, no Brasil inclusive. Bill foi substituído pelo argentino Tomas Maldonado, que mudou a orientação da escola para um eixo mais tecnológico. A escola promoveu o convênio com diversas empresas, sendo a principal delas a Braun.
Dieter Ramns foi contratado pela Braun em 1955 e junto com Hans Gugelot e Herbert Hirche foi o responsável pelo alinhamento da empresa com as ideias de Ulm. São suas as frases “menos mas melhor” e “menos design é mais design”. Nos anos 1970, preocupado com as tendências pop e psicodélicas e com a preservação do que ele considerava “bom design”, Rams criou esse conjunto de regras:
Bom design é inovador
Bom design faz o produto ser útil
Bom design é estético
Bom design nos ajuda a entender um produto
Bom design é discreto
Bom design honesto
Bom design durável
Bom design se preocupa com os mínimos detalhes
Bom design se preocupa com o meio ambiente
Bom design é menos design
Ulm e o Bom Design influenciaram o design do mundo todo. Na Suíça houve a Boa Forma, com Max Bill e Hans Gugelot à frente. Na Itália, a tendência filiada a essas mesmas ideias chamou-se Bel Design e grandes empresas como a Olivetti e a Fiat convidavam famosos designers a colaborar em seus produtos. Destaca-se o trabalho de Ettore Sottsass, arquiteto e designer que colaborou por três décadas com a Olivetti. Veremos mais de Sottsass na próxima aula, sobre pós modernismo.
No Brasil, depois das iniciativas no Masp (São Paulo) e no MAM (Rio de Janeiro), em 1963 foi aberta da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI). Inspirada no modelo de Ulm, a ESDI foi o primeiro curso superior de design da América do Sul. Entre seus primeiros professores estavam Zuenir Ventura, Décio Pignatari, Aloisio Magalhães e ex alunos de Ulm como Alexandre Wollner, Karl Heinz Bergmiller e Daisy Igel. Segundo Pedro Luiz Pereira de Souza, a ESDI fornece uma formação técnico-produtiva, tendo Max Bill por referencial. Bill esteve no Brasil na ocasião da primeira Bienal de São Paulo, em 1951, ganhando o prêmio por escultura estrangeira. A ESDI formou e ainda forma gerações de designers, com tremenda influência no design brasileiro. 
Outra influência, especialmente no design gráfico dos anos 1960, foi a arte e a poesia concretista. Reunidos em torno da revista Noigandres, editada por Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos,os concretos foram influenciados pelas políticas desenvolvimentistas do governo de Juscelino Kubitschek. Seu Plano Piloto da Poesia Concreta tinha relação direta com o Plano Piloto de Brasília. Sua proposta era um poema-objeto, uma construção visua. Uma boa explicação sobre o concretismo pode ser encontrada na Biblioteca Itau Cultural. É possível ver uma pequena coleção de cartazes nesse projeto do Google Arts and Culture sobre a coleção Adolpho Leirner.
“O design gráfico e a moda das décadas de 1960 e 1970 foram influenciados pela música e pela cultura jovem vinda dos Estados Unidos e da Inglaterra. Através das telas de TV, grupos e artistas se tornavam ídolos globais. Os cartazes psicodélicos associados à cultura hippie marcaram o visual dessa época. A transgressão das normas de composição e de impressão, cores hiperssaturadas, contraste de cores complementares, completada com ilustrações e letras desenhadas a mão eram a expressão de uma nova visão de mundo, que contestava o status quo. Artistas com Victor Moscoso, Richard Griffin, Alton Kelly, Wes Wilson, Bonnie McLean e Stanley Mouse descartavam as normas de legibilidade do Estilo Tipográfico Internacional e experimentavam com inspirações Art Nouveau, redescobrindo a cultura dos cartazes do início do século XX, especialmente o trabalho de Alphonse Mucha. Outro importante veículo de expressão eram as capas de LPs.”
O movimento negro e o movimento feminista também tiveram uma expressão gráfica. Cartazes, revistas e panfletos eram veículo para essas ideias. Ligado aos Panteras Negras, Emory Douglas foi o nome mais importante da expressão gráfica do movimento negro. Das muitas revistas feministas vale destacar Ms, fundada em 1971 por Gloria Steiner e Dorothy Pitman Hughes. Nela atuou a designer brasileira Bea Feitler, formada na Parson School de Nova York e que atuou majoritariamente nos Estados Unidos. Sobre seu papel na Ms diz o seu perfil na AIGA (Associação americana de design gráfico): 
Na Ms. Feitler deixou uma marca indelével sobre a face do design gráfico americano. Seu profundo interesse em todas as artes teve efeito catalisador ao expandir o escopo da revista e incluir a cobertura cultural. Talvez ela sentisse que estava fazendo história ao definir um movimento e uma revolução cultural.
Além do trabalho na Ms., Feitler atuou na brasileira Senhor, na Harper’s Bazaar, fez capas de disco e livros para artistas como Rolling Stones e os Beatles e trabalhou com fotógrafos revolucionários, com Richard Avedon e Annie Leibovitz. Dizia que “Uma revista deve fluir. Ela deve ter ritmo. Você não pode olhar para uma página sozinha, você tem que visualizar o que vem antes e depois. Design editorial bom é tudo sobre como criar um fluxo harmônico.” Sua produtiva carreira foi interrompida em 1982, quando faleceu prematuramente, vitimada por um cancer.
Sobre o design brasileiro da década de 1960 e 1970 indico o livro de Chico Homem de Melo, O Design Gráfico Brasileiro Anos 60 (Cosac Naify, 2006). Vale destacar o trabalho de Rogério Duarte, ligado ao Tropicalismo, que produziu capas de disco e cartazes de cinema antológicos, como o de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Os anos 1960 foram de grande efervescência cultural, com o Cinema Novo, a Bossa Nova, os movimentos estudantis e a arquitetura modernista. O golpe militar de 1964 e os protestos contra o regime também tiveram sua expressão gráfica, registrada no livro Os Cartazes desta História, outra referência que indico, caso o assunto seja importante para a sua pesquisa visual.
No campo da moda são muitos os destaques que podemos fazer dessa época. A cultura jovem que começa nos anos 1950 ganha força e nas décadas de 1960 e 1970 vira o jogo e passa a comandar as tendências. Isso se deveu em muito ao aumento do poder aquisitivo do jovem que passa a ser desde então o principal alvo do mercado de moda. Em 1950 surgem com força o jeans, que deixa o domínio de roupa de trabalho; o biquíni; a mini saia; a butique de moda. Nos swinging sixties em Londres destacou-se o trabalho de Mary Quant, a quem é creditada a invenção da mini saia. Quant e outras empresas de moda, como Biba, Granny Takes a Trip e Bus stop abriram lojas na Carnaby Street, “transformado a natureza da experiência de compras numa época de grande agitação social, quando o auge da geração baby boom do pós guerra de 1947 resultou num número sem precedente de adolescentes atingindo a puberdade em 1960.” (FOGG, 2013. p. 354).
Entre os ícones da moda do período vale destacar a modelo Twiggy, que se torna o padrão de beleza daquela década. No flanco masculino foram as roupas de músicos, especialmente das bandas de rock, que mais influenciaram a moda. Beatles, Rolling Stones, The Who e outros viraram referências para uma moda mais chamativa e livre. David Bowie, cuja carreira começa nesse período, é outro ícone da música e da moda. Essa conexão entre música e moda continua até os dias de hoje, com artistas que colaboram ou criam suas próprias marcas de moda. No final da década de 1960 foi a vez da moda hippie ganhar popularidade entre os jovens, rejeitando produtos sintéticos e processos industriais, abraçando fibras naturais e roupas de segunda mão, compradas em viagens à Índia, ao Marrocos e ao extremo Oriente. Franjas e contas inspiradas nos índios americanos, pinturas à mão e bordados se uniam para expressar um estilo que começou como subcultura mas em pouco tempo foi absorvido pelo mercado, virando tema de coleções. Na alta costura, vale mencionar o vestido Mondrian de Yves Saint Laurent e as estampas de Emilio Pucci.
Na moda brasileira um destaque ao trabalho da estilista Zuzu Angel, não só por sua militância política mas por suas criações em moda. Um assunto não se dissocia do outro, visto que ela usava a moda como veículo de denúncia e protesto: em seu desfile de 1971, em Nova York, vestiu-se de luto pelo filho, capturado pelo regime militar e não declarado como morto até os anso 1990. No site da Casa Zuzu Angel é possível ver o acervo da estilista.
No cinema os movimentos de renovação cinematográfica que surgem nos anos 1960 mudaram os rumos dessa arte. Pesquisem sobre o Neo realismo italiano, a Nouvelle Vague francesa e o Cinema Novo brasileiro. Em Hollywood, uma nova geração de diretores renovava a indústria, como Arthur Penn, Mike Nichols, Sydney Pollack, Norman Jewison, John Cassavetes, Stanley Kubrick, Roman Polanski e outros. Na animação, a Disney lançava seus filmes (101 Dálmatas, A Espada da Lei) e os Beatles lançavam a animação Yellow Submarine (1968), uma fantasia lisérgica dirigida por George Dunning. É difícil eleger um filme para representar a época, mas fica aqui uma escolha pessoal: Easy Rider, de 1969, filme independente escrito por Peter Fonda, Dennis Hopper e Terry Southern, dirigido por Hopper.
Aula 2
No final dos anos 1970 a rigidez das regras funcionalistas já não expressavam os valores de uma sociedade em ebulição. O conservadorismo dos governos Reagan e Thatcher eram questionados por novos pensadores, que chamam seu posicionamento de pós moderno. No Brasil, a população exigia o retorno ao regime democrático.
“Depois do fracasso das esperanças e das utopias na década de 1970 e de 1980, após o naufrágio das grandes ideologias (les grands récits, Baudrillard), do ponto de vista do pensamento pós moderno, tudo o que significava projeto de modernismo entrou em crise.” (SCHNEIDER, 2010. p. 152)
O pós moderno nasce em oposição ao moderno. A expressão se populariza graças ao livro de 1979, “A Condição Pós-Moderna” de Jean-François Lyotard. Ao racionalismo modernista, o pós moderno contrapõe a ironia; em lugar da forma, ele valoriza o conteúdo; em lugar da cultura elevada, a banalidade do cotidiano; em lugar do original, o pastiche. Ele substitui a abstração pela figuração-abstração contaminada. Em lugar do universalismo modernista, o pluralismo e a fragmentação de estilos. O pós modernismo não pretende mais fazer produtos que duram a eternidade — no pós moderno tudo é efêmero e o eterno cede lugar ao provisório.Em lugar de uma síntese formal, trabalha-se com a desconstrução e a fragmentação de conceitos e ideias.
O movimento foi influenciado pela arte e pelo design Pop, pelo Antidesign, pela contracultura dos anos 1960 e 1970 e por alguns livros, como Obra Aberta (1962) de Umberto Eco, Aprendendo com Las Vegas (1972) e Complexidade e Contradições em Arquitetura (1966) de Robert Venturi, além do conceito de desconstrutivismo de Jacques Derrida.
Outro teórico do movimento pós moderno, Charles Jencks chega a declarar simbolicamente o fim do modernismo na ocasião da demolição do conjunto habitacional Pruitt-Igoe, em St. Louis, Estados Unidos, em 1972. O edifício modernista foi implodido por ter se tornado inabitável, sinalizando a falência do modelo justamente em um dos programas arquitetônicos que mais lhe eram caros, a habitação popular. Isolado da malha urbana, sem serviços de saúde, educação e lazer, além da pouca ventilação e da péssima distribuição.
Dois estúdios importantes para o design pós moderno tiveram a participação de Ettore Sottsass: o Studio Alchimia e o grupo Memphis. É possível ver um pouco do trabalho do Studio Alchimia no livro Elogio del Banale (Elogio do Banal), de autora de Barbara Radice, criado em 1980 para a Mostra de arquitetura que ocorreu durante a Bienal de Veneza daquele mesmo ano. Do trabalho do grupo Memphis, consulte os catálogos, disponíveis online, como este.
Além de Sottsass, que já havia atuado na Bel Forma italiana, o pósmodernismo inclui nomes como Alessandro Mendini, Michael Graves, Shiro Kuramata, Hans Hollein e outros, numa reunião de representantes de diversos países. O escritório de Robert Venturi e Denise Scott Brown também realizou incríveis projetos, como a série de cadeiras para a empresa Knoll. É de Venturi a frase “Less is bore”, “Menos é chato”, uma provocação ao lema funcionalista de Mies van der Rohe, “Menos é mais”. Outra formulação frontalmente anti-funcionalista era a ideia “Forma-Fruição”, em contradição direta ao conceito da forma seguir a função, um dos pilares modernistas. A valorização do design vernacular, do kitsch, do espontâneo, pondo em cheque a ideia de “bom” e “mau” design, é característica da produção da época.
“Em meados da década de 1980 exemplos vernaculares testados e aprovados foram transformados de uma marca comum em um estilo pós-moderno. “Retro”, a reprise das tendências de design passadas e ultrapassadas, tornou-se um componente popular da estética contemporânea e uma curiosa reverência ao lugar comum emergiu como reação ao elegante profissionalismo e austero modernismo. Vernacular (o termo foi cunhado por Tibor Kalman mais tinha raízes em Roland Barthes) não era visto como uma ampla linguagem de design gráfico, mas como o método distinto que pintores de anúncio, impressores e outros trabalhadores do design gráfico que produziam a ração diária de letreiros, banners, menus e anúncios de lista telefônica a que realmente faltava estilo.” (HELLER, FILI, 2006, p. 319-320)
O mesmo conceito de design vernacular que o texto acima define para o campo do design gráfico pode ser expandido para o design de produtos, interiores, moda e arquitetura. Um exemplo é o trabalho do Studio Alchimia.
Outro conceito importante para entender os códigos do pós-modernismo é o pastiche. Na literatura, é considerada a obra que imita o estilo de outra, copiando. Essas cópias assumidas têm o poder de apelar à memória afetiva e ao mesmo tempo remeter a “códigos específicos que são deliberadamente usados para manipular a percepção e disparar a resposta do consumidor. Alguns exemplos incluem:
Estilo vitoriano Histórico
Construtivismo russo Revolucionário
Bauhaus Progressivo
Art Deco Elegante
Streamline Velocidade
Realismo Socialista Americano Otimismo
Estilo piscodélico Drogas
Estilo atômico dos anos 1950 e estilo Disco dos anos 1970 Desastrado
Anos 1980 Hipster
Fonte: (HELLER, FILI, 2006, p. 237-238)
Os conceitos de retrô, vintage e pastiche lembram o historicismo e o ecletismo que vimos na primeira aula, quando falávamos da virada do século XIX para o século XX. Coincidentemente nesta outra virada de século o processo parece se repetir: grande aceleração tecnológica, busca por um estilo contemporâneo e apelo aos estilos do passado, revisitados com o uso das novas técnicas. Pensem em algo como um teclado de máquina de escrever adaptado para uso com um tablet (esse produto existe). A ideia da máquina antiga é remeter a uma sensação nostálgica, a um passado em que tudo era mais simples, menos conectado.
No design gráfico vale ressaltar o trabalho de Paula Scher. Sócia da Pentagram, escritório de design fundado em 1972 com atuação em diversos campos e 20 sócios, Paula recorda nesse vídeo o início de sua carreira como designer de capas de disco para a CBS Records. Ela diz que realmente odiava a fonte Helvetica, identificada com o Estilo Tipográfico Internacional, que dominada a comunicação visual e era ensinado nas escolas nos anos 1970.
“Então meu objetivo na vida era fazer coisas que não fossem com Helvetica. E fazer coisas sem utilizar Helvetica era realmente bastante difícil porque você precisava achá-las. E não existiam muitos livros sobre a história do design nos anos 1970. Não existia uma variedade de publicações de design, você precisava ir nas lojas de antiguidades. Você precisava ir para a Europa. Precisava ir aos lugares e buscar as coisas. E o que eu gostava era, você sabe, Art Nouveau ou Deco, ou tipografia vitoriana ou coisas que fossem completamente diferentes da Helvetica.” Paula Scher em entrevista
No Brasil a força do concretismo e do Estilo Tipográfico Internacional prevaleceu e somente em finas dos anos 1980 veremos algo que se aproxime de um posmodernismo nacional, com Felipe Taborda, Gringo Cardia, Pojucan e outros.
No final da década de 1980 os computadores entram no design gráfico. A evolução das técnicas de impressão já havia mudado a prática do design com a disseminação da fotocomposição e da impressão offset nos anos 1950, mas nada se comparou ao efeito do computador. Mas esse é um assunto para a aula que vem.
Na moda e no cinema os anos 1980 foram marcados por estilos diversos e experimentações. Para citar somente cinco, numa lista pessoal, cito aqui Blade Runner (Ridley Scott, 1982), Paris Texas (Wim Wenders,1984), Kagemusha, a Sombra de um Samurai (Akira Kurosawa, 1980), E.T. - O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982), A Rosa Púrpura do Cairo (Woody Allen, 1985). A lista não inclui as comédias adolescentes de John Hughes ou as franquias de terror que começaram nessa época, muito menos o filme Faça a coisa certa (Spike Lee, 1989). A medida que vamos nos aproximando do presente fica mais difícil selecionar o essencial. Para a moda, a inspiração do punk rock, a moda ligada aos Novos Românticos e à cultura clubber, à street art, o estilo hip hop e o power suit são algumas das referências possíveis.
No cinema brasileiro, uma lista de excelentes filmes dessa época pode incluir Cabra Marcado pra morrer (Eduardo Coutinho, 1984), Pixote, a lei do mais franco (Hector Babenco, 1981), Ilha das Flores (Jorge Furtado, 1989), Eles não usam black-tie (Leon Hirzman, 1981), Bye-bye Brasil (Cacá Diegues, 1979), Memórias do Cárcere (Nelson Pereira dos Santos, 1984), A Hora da Estrela (Suzana Amaral, 1985), A Idade da Terra (Glauber Rocha, 1980), O Homem que virou suco (João Batista de Andrade, 1980) e Pra Frente Brasil, (Roberto Farias, 1982).
Aula 3
Eu já falei um pouco sobre os anos 1980 e o pós modernismo na última aula. Nesta, você e eu vamos avançar um pouquinho mais no tempo, tentando identificar as diferentes tendências associadas à época e nos aproximando dos dias de hoje. A medida que caminhamos para o presente vou precisar ainda mais da sua participação: teremos mais links para nos aprofundarmos no assunto, por isso, clique sem dó. Alimente seu vocabulário visual nessa última aula e prepare-se para as atividades finais.
Das correntes estilísticas surgidas a partir do pós modernismo destaco o desconstrutivismo,o novo minimalismo e o High Tech. O desconstrutivismo vem do campo da linguística, a partir das ideias de Jacques Derrida, numa teoria que ataca a construção do discurso, entendendo que a relação direta entre significante (a forma do signo) e significado (seu conteúdo) já não é possível, por causa das suas constantes mudanças. Sua aplicação na arquitetura parte do questionamento e da subversão de suas próprias bases, questionando a ortogonalidade dos planos e a estagnação dos programas para edificações de todo tipo. Uma parede pode ser um piso e depois de novo uma parede, como em projetos de Frank Gehry, Peter Eisenman, Rem Koolhaas e Daniel Libeskind.
Os arquitetos citados também criaram peças de design de produto, como móveis, luminárias e outros artefatos. Apesar de apresentarem uma adesão à desconstrução menos pronunciada, não deixam de ser interessantes.
Da onda do “Novo design” do anos 1980 vale destacar também o trabalho de alguns designers pop stars, alçados a ícones culturais, como o próprio Gehry (procure sua participação em episódio da série animada Os Simpsons), Phillip Starck, Ron Arad, Borek Sipek, Jasper Morrison, Massimo Ghini. Celebrados pela mídia, esses designers se tornaram celebridades por seus trabalhos autorais em design.
No Brasil essa tendência do design autoral pode ser representada pelo trabalho dos irmãos Campana, cujo estúdio foi fundado em 1983 e que vem gozando em anos mais recentes de fama de alcance mundial.
O design High Tech foi resultado do fascínio pelas novas tecnologias, exaltadas em artefatos que levavam a expressão do material e do modo de construção ao seu limite máximo, expondo suas entranhas. É o caso do projeto de Renzo Piano e Richard Rogers para o Centre Georges Pompidou (Paris, 1977), um edifício em que todas as instalações e estruturas estão expostas em cores vibrantes, compondo a fachada. Outro exemplo é a cadeira Landi, criada por Hans Coray, em liga de alumínio.
A ideia de expor a tecnologia não deve ser confundida com o preceito modernista de verdade do material. Isso fica claro quando pensamos na manutenção exigida por uma estrutura como o Pompidou, por exemplo, que nada tem de funcional.
Na década de 1990 o novo minimalismo vinha curar a ressaca dos excessos da primeira onda modernista, como a piazza italiana de Charles Moore, projetada para a cidade americana de Nova Orleans e inaugurada em 1978. Alguns dos designers celebridade aderiram a essa tendência, como Phillip Starck, Ron Arad e Jasper Morrison. O trabalho de Tom Dixon têm esse caráter, com formas elegantes e materiais contemporâneos, como o aço inoxidável e o alumínio.
No design brasileiro, além dos citados Campana no mesmo campo de design de móveis vale citar o trabalho de Zanini de Zanine. As mostras e feiras de design ganharam força nos últimos anos e a Casa Cor, que em 2017 teve a sua 30ª edição, vem se firmado como espaço de exibição de tendências e designers.
Uma preocupação atual que perpassa o design em todas as suas áreas é o pensamento ecológico. O movimento pela preservação do meio ambiente ganhou força na década de 1970 e desde então vem se impondo como uma necessidade, como um item indispensável à sobrevivência. Sua inserção no design é essencial pois pode transformar o meio de fabricação do produto e tornar o ciclo produção-consumo-descarte em um que pense do berço ao berço. Esse conceito pode ser melhor entendido assistindo a palestra TED do arquiteto William McDonough.
As ferramentas de projeto foram mudadas para sempre graças a introdução dos computadores no design. Para o design gráfico especialmente, mas também para as áreas de interiores e moda, os novos instrumentos fomentaram uma organização de trabalho radicalmente diferente da que havia antes, com o acúmulo de funções que antes eram desempenhadas por outros profissionais.
A era da informação alterou o fazer design não só nas ferramentas mas também nos processos criativos e na troca de informações. Com a internet, acessível para um público além dos círculos universitários a partir do início dos anos 1990, o acesso a informação aumentou exponencialmente. A capacidade de troca de arquivos permitiu trabalhar remotamente e contactar clientes e fornecedores de forma mais eficaz. Com a miniaturização e a portabilidade permitida pelos smartfones atuais, o desafio parece ser impor um limite ao tempo de trabalho.
A customização de produtos tornou-se viável para produções em larga escala — no livro da disciplina é dado o exemplo do relógio swatch. Na moda de hoje, com a impressão de tecidos por impressoras eletrônicas essa customização pode chegar até mesmo às estampas.
No design gráfico, o mais afetado pela inserção do computador, saberes antes fragmentados tornaram-se tarefas de um único profissional. No campo da manipulação de imagens, todos os recursos de uma câmera profissional e de um laboratório analógico podem ser desempenhados por alguém com os programas e o conhecimento certo. Na tipografia digital, é possível criar fontes personalizadas usando aplicativos razoavelmente acessíveis. Houve o receio que a profissão fosse dizimada pelos manipuladores de arquivos sem formação profissional mas essa visão pessimista não se cumpriu. No final das contas, todo o aparato de programas e recursos não passam de ferramentas e ainda é necessário uma mente pensante, com ideias, boas referências e com habilidades que ultrapassam o conhecimento puramente técnico para chegar a um projeto de qualidade.
Como destaques no design gráfico aconselho ver mais sobre os trabalhos de Neville Brody e David Carson, muito atuantes na década de 1990 e entusiastas dos recursos digitais. Seus trabalhos são hoje relacionados com o visual grunge, em moda na mesma década e ligado mais uma vez à música, dessa vez aos grupos de rock de Seattle. No Brasil, vale ver os trabalhos da Bold design (Leo Eyer), da Crama Design estratégico (Ricardo Leite), da Ana Couto Branding e da Tátil Design (Fred Gelli). No campo do design editorial, vale citar o trabalho da Casa Rex e do incrível Gustavo Piqueira. Menciono também o trabalho da dupla da Radiográfico, escritório que ousa em projetos experimentais ligados à área cultural. Esta é uma lista de referências minhas, pessoais. Aconselho dar uma olhada nas Bienais de Design Gráfico da ADG para encontrar mais referências de design gráfico contemporâneo. Para ver os selecionados da edição de 2017, clique aqui.
No cinema, a última década viu a substituição definitiva da película de 35 mm pela filmagem digital. Os softwares de edição, que já haviam migrado para o computador pelo menos uma década antes, trabalham agora com imagens originalmente captadas em formato eletrônico. Todas as etapas de produção de cinema e de animação dependem do computador. Na animação o uso do computador ganhou impulso com o CGI (Computer Graphic Images). Toy Story (1995) foi o primeiro longa metragem em 3D. No ano seguinte estreava Cassiopeia (1996), o primeiro longa em 3D brasileiro. A expansão do 3D empurrou a tecnologia 2D para um papel secundário, com poucos longas lançados no mercado de sala de cinemas. Para as séries animadas, porém, o 2D continua prevalescendo.
Ampliando o foco
Sobre o design dos ano s1960 e 1970:
SCHNEIDER, Beat. Design - Uma Introdução - O Design no Contexto Social, Cultural e Econômico. 1ª ed. São Paulo: Blücher, 2010, p. 138-145.

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