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Resumo ECA

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1 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
INTRODUÇÃO 
 
O Direito Infantojuvenil compreende o conjunto de princípios e normas jurídicas que 
disciplinam a proteção à criança e ao adolescente. 
O assunto encontra-se delineado na Constituição, no art. 227, e regulado pela Lei 8.069/90, 
que é o Estatuto da Criança e do Adolescente, outrossim, pela Convenção dos Direitos da Criança, 
subscrita pelo governo brasileiro em 26 de janeiro de 1.990, aprovada pelo Congresso Nacional 
(Decreto Legislativo 28/90) e promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto 
99.710/90. 
Há ainda outras leis e tratados internacionais que cuidam pontualmente de certos assuntos 
ligados ao direito infantojuvenil como é o caso do próprio Código Civil e da CLT. 
 
CONCEITO DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE 
 
Dispõe o art. 2º do ECA: 
“Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, 
e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. 
Adotou-se, como se vê, o critério biológico, que é o mais seguro e objetivo de todos. 
Criança, portanto, é a pessoa até doze anos incompletos. No dia do aniversário de doze anos, 
inicia-se a adolescência, que, por sua vez, perdura até a véspera de completar dezoito anos. No dia 
do aniversário de dezoito anos, inaugura-se a idade adulta, sendo, pois, considerado imputável para 
efeitos penais. 
Aplica-se a teoria da atividade, que considera praticado o ato infracional ao tempo da ação ou 
omissão. Se, por exemplo, este ato é praticado na véspera de completar doze anos, ainda que o 
resultado ocorra depois, será tratado como criança e não como adolescente. 
A distinção entre criança e adolescente decorre de mandamento constitucional, conforme se 
denota do art. 227 da CF. Alguns Tratados Internacionais, dos quais o Brasil é signatário, usam 
apenas a expressão criança, em sentido amplo, abrangendo também os adolescentes, mas o 
intérprete deve estar atento que, no Brasil, há diferença, inclusive, com repercussões práticas. 
 
MENOR 
 
O termo menor, usual na legislação anterior à Constituição, não é mais empregado no Direito 
Infantojuvenil, mas é ainda utilizado pelo Código Civil, Código Penal, CLT, e outras leis. 
Este termo, porém, na área da Infância e Juventude, deve ser repelido, porquanto na vigência 
da antiga Lei 6.697/1.979, denominada Código de Menores, sofreu grande desgaste, em razão do 
constante emprego das expressões “menor abandonado”, “menor infrator”, estigmatizando a 
criança e adolescente e, diante disso, a mudança terminológica revelou-se salutar. 
 
 
APLICAÇÃO EXTENSIVA DO ECA 
 
Conquanto os destinatários do ECA sejam normalmente as crianças e adolescentes, 
excepcionalmente, nos casos expressos em lei, ele é também aplicado às pessoas entre 18 (dezoito) 
e 21 (vinte e um) anos, por força do parágrafo único do seu art. 2º. 
 
 
 
 2 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
Esta tutela extensiva se verifica, por exemplo, na adoção, quando os adotantes já tinham a 
guarda ou tutela do adotando antes de ele completar 18 (dezoito) anos (art. 40 do ECA). 
Outro exemplo ocorre quando o adolescente pratica o ato infracional, mas a apuração se 
verifica quando ele já havia completado 18 (dezoito) anos, nesse caso, o processo prossegue e a 
medida socioeducativa deverá ser aplicada, mas a liberação será compulsória aos 21 (vinte e um) 
anos (§5º do art. 121 do ECA). 
 
ADOLESCENTE EMANCIPADO 
 
O adolescente emancipado, por força de lei, ou, por escritura pública lavrada pelos pais, 
adquire a plena capacidade civil, mas, no entanto, continua submetido à incidência do Direito 
Infantojuvenil, inclusive, no que tange às restrições,por exemplo, em caso de ato infracional, os 
jornais não poderão divulgar o seu nome (art. 247 do ECA). 
O ECA, ao dispor, em seu art. 1º, sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, não 
abre qualquer exceção ao menor emancipado. 
Tanto o conceito de criança quanto o de adolescente são parametrizados por uma faixa 
etária, e, destarte, não sofrem, em regra, qualquer interferência pelo advento da capacidade civil. 
Excepcionalmente, porém, a emancipação exercerá influência na aplicação de algumas 
normas do Direito Infantojuvenil. 
Com efeito, a emancipação gera a automática extinção do poder familiar e, por consequência, 
da guarda. Portanto, os atos que o adolescente só pode praticar com autorização dos pais ou 
responsável, a partir da emancipação, ele estará liberado para praticar livremente. Exemplo: o 
emancipado poderá hospedar-se em um hotel, motel, pensão ou estabelecimento similar (art. 82 
do ECA), outrossim, viajar ao exterior (art. 84 do ECA). Nesses dois casos, não haverá necessidade 
de autorização dos pais ou responsável, à medida que, diante da emancipação, não há fala-se mais 
em poder familiar ou na existência de algum outro responsável. 
 
JOVEM 
 
O art. 227, caput, da CF, refere-se a três pessoas: criança, adolescente e jovem. E o §8º, inciso 
I, ainda acrescenta que “a lei estabelecerá o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos 
dos jovens”. O inciso II desse parágrafo ainda faz menção a um plano nacional de juventude, de 
duração decenal. 
A Lei 12.852, de 05 de agosto de 2.013, depois de quase 25 (vinte e cinco) anos da 
promulgação da Constituição, instituiu, finalmente, o Estatuto da Juventude, dispondo sobre os 
direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas da juventude e o Sistema 
Nacional de Juventude (SINAJUVE). 
O §1º do art. 1º considera que jovens são as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e 
nove) anos de idade. E o §2º acrescenta que aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 
(dezoito) anos aplica-se a Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e Adolescente), e, excepcionalmente, o 
Estatuto do Jovem quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente. 
 
NASCITURO 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, com o escopo de permitir o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições digna de existência, protege o nascituro, desde 
a concepção, conforme se verifica no art. 7º, e nas seguintes normas: 
 
 
 
 3 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
a) É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e 
perinatal (art. 8º, caput). 
b) No parto, a parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a 
acompanhou na fase pré-natal (§2º do art. 7º). 
c) Incumbe ao Poder Público propiciar apoio alimentar à gestante que dele necessite e, 
após o nascimento, caso ela não possa amamentar, esse recurso deve ser estendido à nutriz (§3º 
do art. 7º). 
d) O pai pode reconhecer a paternidade do nascituro, desde a concepção (parágrafo 
único do art. 26). O Código Civil prevê também esse direito (parágrafo único do art. 1609). É, no 
entanto, vedada a adoção do nascituro. 
O Código Civil ainda permite que se faça tanto doação quanto testamento em favor do 
nascituro (art. 542 e 1.798), assegurando-lhe ainda a nomeação de curador para velar por seus 
direitos patrimoniais, que estão condicionados ao nascimento com vida (art. 1.779). 
O art. 4º do Pacto de São José da Costa Rica reconhece que o direito à vida deve ser 
protegido, em geral, desde a concepção. O Código Penal incrimina o aborto (arts. 124 a 127). 
Quanto à personalidade do nascituro, que é a aptidão para adquirir direitos e contrair 
obrigações, há consenso na doutrina que, quanto aos direitos da personalidade, esta é adquirida 
desde a concepção (teoria concepcionista). Em relação aos direitos patrimoniais,prevalece a teoria 
natalista, inclusive no STF, segundo a qual a personalidade somente é adquirida a partir do 
nascimento com vida, embora, desde a concepção, já ocorra a preservação dos direitos do 
nascituro, todavia, a aquisição encontra-se condicionada ao nascimento com vida. Força convir, 
portanto, que o direito brasileiro consagrou a teoria mista em relação à personalidade do nascituro. 
 
NEONATO (RECÉM-NASCIDO) 
 
O recém –nascido recebe uma atenção especial, no art. 10 do ECA, que determina que os 
hospitais e estabelecimentos de atendimento à saúde, públicos e particulares, tomem as seguintes 
providências: 
a) Conservem os prontuários médicos pelo prazo de 18 (dezoito) anos; 
b) Identifiquem o recém-nascido pela sua impressão digital e impressão digital da mãe. 
c) Realizem os exames para detectar anormalidades. O teste do pezinho, por exemplo, 
é obrigatório para todos os recém-nascidos. 
d) Forneçam a declaração de nascimento, fazendo constar as intercorrências do parto. 
e) Mantenham alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à 
mãe. 
O art. 9º ainda dispõe que o poder público, as instituições e os empregadores propiciarão 
condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida 
privativa de liberdade. 
 
PARALELO ENTRE A DOUTRINA AS SITUAÇÃO IRREGULAR E A DOUTRINA DA PROTEÇÃO 
INTEGRAL 
 
A doutrina da situação irregular, que vigorou no Brasil até antes da Constituição Cidadã de 
1.988, aplicava-se apenas aos menores abandonados ou delinquentes, centralizando no Poder 
Judiciário o atendimento e execução de qualquer medida destinada a esse público infantojuvenil, 
que era tratado apenas como objeto de proteção assistencial. Pautava-se ainda pela cultura da 
internação dos menores carentes ou delinquentes em instituições estatais de regime autoritário, 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
monocrático e verticalizado, sem que houvesse a participação do Município ou da sociedade civil. 
A doutrina da Proteção Integral, cujos paradigmas foram delineados pela Constituição de 
1.988, tem caráter universal, rege todas as crianças e adolescentes, posiciona o Poder Judiciário no 
seu devido lugar, que é a função de julgar, trata esse público infantojuvenil como sujeito de direitos 
e garantias fundamentais, de índole difusa, e não como simples objeto de proteção assistencial. É, 
pois, uma doutrina com caráter de política pública, que define os objetivos a serem atingidos, 
visando o bem estar individual, familiar e social das crianças e adolescentes. A cultura da internação 
é reduzida ao extremo, as instituições estatais evoluem do regime monocrático hierarquizado para 
o democrático de cogestão da sociedade civil, com ampla participação dos Municípios. 
 
O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI 8.069/90) 
 
O termo “estatuto”, que serve para designar a lei que regula os interesses de uma categoria 
de pessoas, foi empregado corretamente, pois a expressão “código” é reservada à lei que disciplina 
o ramo do direito aplicável a todas as pessoas. Pelo fato da Lei 8.069/90 dispor especificamente 
sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, justifica o acerto do legislador pela 
terminologia “estatuto”. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um verdadeiro microssistema jurídico, à medida 
que contém princípios e normas de caráter material, processual, penal e administrativo, que lhe 
confere uma conotação especial e peculiar, afastando a incidência das normas gerais. 
É claro que há também outras normas que complementam os direitos da criança e 
adolescente, previstas no Código Civil, na CLT, em Tratados Internacionais, etc. 
 
PRINCÍPIOS 
 
Os princípios são normas jurídicas dotadas de uma abstração maior, que expressam os 
valores que inspiram a elaboração das outras normas. Exercem importante papel na interpretação 
e integração das leis. 
São, pois as diretrizes que devem ser seguidas pelo Poder Legislativo e por todos os 
aplicadores do Direito. 
O Direito Infantojuvenil é regido pelos seguintes princípios: 
a) Proteção Integral; 
b) Prioridade Absoluta; 
c) Melhor Interesse; 
d) Condição Peculiar da Pessoa em desenvolvimento; 
e) Municipalização; 
f) Participação Popular. 
 
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL 
 
O Princípio da Proteção Integral, insculpido no art. 227 da CF e estreitamente relacionado à 
dignidade da pessoa humana, é o que consagra a amplitude da tutela conferida às crianças e 
adolescentes, tanto no aspecto da extensão dos direitos e garantias, quanto em relação aos 
destinatários e responsáveis pela consolidação desse sistema garantista. 
Em primeiro lugar, quanto à extensão dos direitos e garantias, assegura-se à criança e 
adolescente, no citado art. 227 da CF, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
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liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Vê-se, assim, que a proteção integral eleva as crianças e adolescentes a sujeitos de direitos 
difusos que não podem ser encarados como meras promessas inconsequentes da Constituição, 
podendo, portanto, invocar-se o Poder Judiciário para a concretização desses direitos. A Doutrina 
da Situação Irregular, que vigorava anteriormente, não enunciava os direitos do menor, limitava-se 
a especificar a situação que autorizava a intervenção do Estado-Juiz, atuando sobre o efeito e se 
esquecendo de combater a causa. Diante da falta de previsão de direitos difusos, isto é, extensivo a 
todas as crianças e adolescentes, inviabilizava-se o ajuizamento de ações judiciais para exigir que o 
Poder Público construísse creches, escolas, etc. 
Em segundo lugar, os destinatários da tutela são todas as crianças e adolescentes, e não 
apenas os menores abandonados e delinquentes como previa a restrita Doutrina da Situação 
Irregular. 
É certo, pois, que o art. 98 do ECA limita o âmbito da competência da Vara da Infância e 
Juventude, relegando diversas questões às Varas de Família, mas a incidência do ECA não sofre 
qualquer limitação, sendo, pois, aplicado indistintamente a toda criança e adolescente. Portanto, 
não se deve confundir o âmbito da jurisdição do Juízo da Infância e Juventude, que é sim restrito, 
com o âmbito de aplicação do Estatuto da Criança e Adolescente, que é universal, integral, tendo 
como destinatários todas as crianças e adolescentes. 
Por fim, o Princípio da Proteção Integral amplia o rol dos responsáveis para que esses direitos 
e garantias sejam assegurados. Se, no passado, essa função competia apenas ao Estado-Juiz, a 
partir da Constituição de 1.988 passou a ser dever da família, da sociedade e do Estado, conforme 
art. 227 da CF. Mas o Estado, a que se refere o art. 227, não é apenas o Estado-Juiz e sim os entes 
federativos (União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios). A comunidade, através do 
Conselho Municipal de Direitos e do Conselho Tutelar, também participa diretamente desse 
sistema protetivo. 
Acrescente-se ainda que, em decorrência do Princípio da Proteção Integral, há uma gama 
enorme de órgãos engajados na defesa dos direitos da criança e adolescente. Exemplos: Ministério 
Público, Defensoria Pública, Polícia Judiciária, Conselho Tutelar, Conselho dos Direitos e outros. 
Trata-se, sem dúvida, do princípio basilar do Direito Infantojuvenil, a ponto de não ser 
considerado mero princípio, mas, sim, uma doutrina reveladora da forma de proteção especialàs 
crianças e adolescentes. 
 
PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA 
 
De acordo com esse princípio, os direitos das crianças e adolescentes devem ser atendidos 
com primazia em relação aos direitos das demais pessoas. 
Esta preferência é indiscutível, pois consta expressamente no art. 227, caput, da CF, que, 
inclusive, refere-se a uma prioridade absoluta, isto é, sem exceções, estando, inclusive, à frente dos 
interesses dos idosos, cujos direitos também devem ser atendidos com prioridade, conforme art. 3º 
do Estatuto do Idoso. Se o administrador precisar decidir entre a construção de uma creche e de 
um abrigo para idosos, ensina Andréa Rodrigues Amin, “obrigatoriamente terá de optar pela 
primeira. Isso porque o princípio da prioridade para os idosos é infraconstitucional, estabelecido no 
art. 3º da Lei 10.741/2.003, enquanto a prioridade em favor das crianças é constitucionalmente 
assegurada, integrante da doutrina da proteção integral” (Curso de Direito da Criança e 
Adolescente, Coordenação Katia Regina Ferreira Lobo Andradde Maciel, Ed. Saraiva, p.61). 
A prioridade é extensiva a todos os setores: judicial, extrajudicial, administrativo, social e 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
familiar, e, diante da opção da Constituição, não há lugar para indagar sobre outros interesses 
prioritários. 
Os responsáveis para garantir essa prioridade são: a família, a comunidade, a sociedade e os 
Poderes Públicos (Legislativo, Executivo e Judiciário). 
De acordo com o parágrafo único do art. 4º do ECA, cujo rol é meramente exemplificativo, a 
garantia de prioridade compreende: 
a) Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias. Há, pois, o 
dever jurídico de socorrer primeiro as crianças e adolescentes quando estiverem em idêntica 
situação de perigo em relação aos adultos. 
b) Precedência no atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública. 
Exemplo: prioridade para receber doação de órgãos quando a situação de risco for idêntica à do 
adulto. 
c) Preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas. O poder 
discricionário do administrador público é limitado por essa diretriz consistente na primazia para os 
projetos sociais de interesse das crianças e adolescentes. 
d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção 
da infância e juventude. Assim, o orçamento público deve reservar uma verba privilegiada para a 
proteção à população infantojuvenil. A propósito, também dispõe o art. 212 da CF: “A União 
aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 
vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente 
de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”. Ressalte-se, ainda, que uma das 
atribuições do Conselho Tutelar é assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta 
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. 
Compete ao Ministério Público, e também à Defensoria Pública, fiscalizar a observância do 
princípio da prioridade absoluta, inclusive, analisando o teor dos orçamentos públicos. Se, por 
exemplo, não tem creche na cidade, o Prefeito não pode optar em asfaltar as ruas, primeiro ele 
deverá construir a creche. 
O Ministério Público e a Defensoria Pública têm obtido sucesso nas ações civis públicas 
propostas para concretização dos direitos das crianças e adolescentes, obrigando, por exemplo, o 
Poder Público, a construir creches, comprovando que, no orçamento, reservou-se verba para 
atender interesses que não eram tão prioritários. Demonstrada essa dotação orçamentária, a tese 
da reserva do possível cai por terra abaixo, diante da evidente demonstração da falta de vontade 
política. A reserva do possível é a defesa utilizada pelo Poder Público para justificar a não 
implementação do direito social, em razão da falta de recursos financeiros. 
 
PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE OU DO INTERESSE SUPERIOR DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE 
 
De acordo com esse princípio, o Poder Legislativo, ao elaborar as leis, e os aplicadores do 
direito, na interpretação das normas, devem buscar sempre o que for mais benéfico para a criança 
ou adolescente, ainda que em detrimento dos interesses dos pais e demais familiares. 
Este princípio, que já constava no antigo Código de Menores, que adotava a Doutrina da 
Situação Irregular, foi mantido e ampliado pela adoção da Doutrina da Proteção Integral, aplicando-
se a todas as crianças e adolescentes e não simplesmente aos menores infratores ou abandonados 
como previa o referido Código de Menores. 
É previsto na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, subscrita pelo governo 
brasileiro em 26 de janeiro de 1.990, aprovada pelo Decreto Legislativo 28/90 e promulgada pelo 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
Decreto Presidencial 99.710/90, sendo originário do “best interest” do direito inglês. 
O magistrado, a pretexto de aplicar esse princípio, não poderá evidentemente suprimir a 
ampla defesa e o contraditório, que, inclusive, são cláusulas pétreas. 
É preciso ter em mente que, de acordo com esse princípio, os destinatários da proteção são 
as crianças e adolescentes, cujos direitos devem ser assegurados de forma integral e prioritária, 
conforme art. 100, parágrafo único, inciso I, do ECA, prevalecendo sobre o eventual interesse dos 
pais ou familiares. Comprovada, por exemplo, o adultério da mulher, nem por isso ela perderá a 
guarda do filho, os aspectos morais não podem sobrepor aos interesses da criança. 
 
PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO PECULIAR DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO PESSOA EM 
DESENVOLVIMENTO 
 
É, pois, este princípio a razão de ser do tratamento especial e diferenciado que se confere às 
crianças e adolescentes, servindo de pilar para os demais princípios do Direito Infantojuvenil. Trata-
se, portanto, do princípio justificador dos demais princípios, que, inclusive, exerce papel 
preponderante na interpretação das leis, conforme destaca o art. 6º do ECA. 
De fato, o principal fundamento da Doutrina da Proteção Integral, que confere ampla e 
especial proteção às crianças e adolescentes, é justamente o fato de elas serem ainda pessoas em 
desenvolvimento. 
O princípio em análise, ao reconhecer a vulnerabilidade resultante da imaturidade física, 
mental e emocional, serve de embasamento para que crianças e adolescentes recebam tratamento 
diferenciado, com o escopo de se reduzir essa desigualdade, e, por consequência, cumprir o 
princípio da isonomia, que consiste em tratar de forma desigual os desiguais até o limite dessa 
desigualdade. 
À medida que a criança cresce e torna-se adolescente há uma mutação do tratamento que lhe 
é dispensado pelo legislador. Uma das características da tutela infantojuvenil é que, além de 
diferenciada, ela ainda é gradativa, alterando-se para poder acompanhar o desenvolvimento da 
pessoa. O direito de liberdade, por exemplo, em relação à criança é diferente do previsto para o 
adolescente que, por sua vez, também se distingue da liberdade conquistada a partir da maioridade 
civil. 
 
PRINCÍPIO DA MUNICIPALIZAÇÃO 
 
O Princípio da Municipalização compreende o conjunto de competências atribuídas aos 
Municípios em relação à proteção que se deve conferir às crianças e adolescentes. 
Em matéria de assistência social, o art. 204, I, da CF, seguindo a determinação do §7º do art. 
207, prevê a descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à 
esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e 
municipal,bem como a entidades beneficentes e de assistência social. 
O art. 88, I e II, do ECA, ao tratar da política de atendimento, consagra, como diretrizes, a 
municipalização do atendimento e a criação de conselhos municipais dos direitos da criança e do 
adolescente, além dos conselhos federais e estaduais. 
A Lei 12.594/2.012, que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), 
que regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescente que pratica ato 
infracional, atribuiu ao Município diversas competências, dentre os quais, a instituição do Sistema 
Municipal de Atendimento Socioeducativo e a criação de programas para execução dessas medidas 
(art.5º). 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
Na doutrina da situação irregular, as competências concentravam-se na União e nos Estados-
Membros. Como decorrência da adoção da Doutrina da Proteção Integral, operou-se a 
descentralização das competências administrativas aos Municípios, no que diz respeito ao 
atendimento e execução de programas, outrossim, a entidades não governamentais, mas não se 
pode olvidar que tanto a União quanto os Estados-Membros também desfrutam de competência 
para tratar dos direitos da criança e adolescente e, por isso, art. 100, parágrafo único, inciso III, do 
ECA ressalva que as três esferas de governo têm responsabilidade primária e solidária em relação à 
tutela desses direitos. 
 
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR 
 
De acordo com esse princípio, à sociedade também compete zelar pelos direitos da criança e 
adolescente e não apenas o Estado e a família. 
Esta participação popular se verifica através do Conselho Tutelar, que é o órgão que 
representa a sociedade, incumbido de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do 
adolescente, composto por 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandado de 4 
(quatro) anos (art. 131 e 132 do ECA). 
Outro exemplo é o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, em cuja composição é 
assegurada também a participação popular (art. 88, II, do ECA). 
Mais um exemplo é o fato de a sociedade, através de entidades não governamentais, também 
poder participar da execução de programas socioeducativos, conforme art. 100, III, do ECA. 
Há ainda o art. 198 do ECA, que prevê os auxiliares voluntários, que têm inclusive atribuições 
para lavrar o auto de infração, dando início ao procedimento para imposição de penalidade 
administrativa por infração às normas de proteção à criança e adolescente. 
Outros exemplos de participação popular no Direito Infantojuvenil ainda podem ser 
lembrados como é o caso do acolhimento familiar de crianças ou adolescentes em situação de 
risco, outrossim, da fiscalização da liberdade assistida por um orientador, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
PERGUNTAS: 
 
1) O que é o direito infantojuvenil? 
2) É regido por quais normas? 
3) Qual a diferença entre criança e adolescente? 
4) Qual o critério adotado? 
5) No dia do aniversário de doze anos, é criança ou adolescente? 
6) E no dia do aniversário de dezoito anos? 
7) O que é a teoria da atividade? 
8) Por que o termo “menor” não é mais usual? 
9) O que é a aplicação extensiva do ECA? Quando se verifica? 
10) O ECA é aplicável ao adolescente emancipado? Esse adolescente submete-se a todas 
restrições do ECA? 
11) O que se entende por jovem? 
12) Qual a duração do plano do sobre os jovens? 
13) No conflito entre o ECA e o Estatuto da Juventude, o que prevalece? 
14) Cite quatro medidas que visam proteger o nascituro. 
15) Qual a diferença entre as teorias concepcionista e natalista? Qual é a teoria adotada? 
16) Por quanto tempo os hospitais devem guardar o prontuário médico do recém-nascido? 
17) Cite cinco providências que os hospitais devem tomar em relação ao recém-nascido. 
18) Como a doutrina da situação irregular se distingue da doutrina da proteção integral, em 
relação às crianças e adolescentes abrangidos por uma e outra doutrina, à função do Poder 
Judiciário, à cultura da internação, ao fato de crianças e adolescentes serem sujeitos ou não de 
direitos, outrossim, ao regime das instituições? 
19) Por que o termo Estatuto da Criança e do Adolescente foi utilizado pelo legislador, em vez 
de “código”? 
20) Por que o ECA é um microssistema jurídico? 
21) O que são princípios? 
22) Quais suas funções? 
23) Quais os princípios do direito infantojuvenil? 
24) Explique o princípio da proteção integral nos seguintes aspectos: 
a) Extensão dos direitos; 
b) Destinatários da tutela; 
c) Responsáveis pela efetivação dos direitos; 
d) Órgãos engajados na defesa dos direitos. 
25) Toda questão referente à criança e adolescente é da competência do juízo da Infância e 
Juventude? 
26) Explique o princípio da prioridade absoluta nos seguintes aspectos: 
a) Previsão constitucional; 
b) Se não há creches o Poder Público pode construir asilos? 
c) A prioridade aplica-se a quais setores? 
d) Quem são os responsáveis para se garantir essa prioridade? 
e) Quais as prioridades mencionadas no art. 4º do ECA? 
f) Quem fiscaliza o princípio da prioridade? 
g) Como se fiscaliza? 
h) Que tipo de ação pode ser proposta? 
i) O que é a reserva do possível? Pode ser alegada pelo Poder Público? 
 
 
 
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27) O que é o princípio do melhor interesse´? 
28) O que é o princípio da condição peculiar da criança ou adolescente como pessoa em 
desenvolvimento? Explique a importância desse princípio em relação à interpretação das leis e à 
isonomia. 
29) Por que a tutela à criança e adolescente é diferenciada e gradativa? 
30) O que é o princípio da municipalização? 
31) A responsabilidade para velar pelos interesses das crianças e adolescente é exclusiva do 
Município? 
32) O que é princípio da participação popular? 
33) Cite cinco hipóteses de participação popular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
CONCEITO 
 
Os Direitos Fundamentais são aqueles indispensáveis para garantir a formação da criança e do 
adolescente, que são pessoas ainda em desenvolvimento. 
Encontram-se previstos no art. 277, caput, da CF e regulamentado no Título III do ECA, nos 
arts. 7º a 69. 
São os seguintes: 
a) Direito à vida; 
b) Direito à saúde; 
c) Direito à liberdade; 
d) Direito ao respeito; 
e) Direito à Dignidade; 
f) Direito à Convivência Familiar 
g) Direito à Convivência Comunitária 
h) Direito à Educação 
i) Direito à Cultura 
j) Direito ao Esporte 
k) Direito ao Lazer 
l) Direito à Profissionalização 
m) Direito à Proteção no Trabalho 
Vale lembrar que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder 
Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação de todos esses direitos constitucionais 
(art. 227 da CF e art. 4º do ECA). A rigor, é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou 
violação dos direitos da criança e do adolescente. 
Acrescente-se ainda que, além desses direitos, a criança e o adolescente gozam de todos os 
demais direitos fundamentais inerentes à pessoa humana (art. 3º do ECA). Portanto, o rol dos 
direitos fundamentais previsto no art. 227 da CF e no art. 7º do ECA é meramente exemplificativo. 
 
DIREITO À VIDA 
 
O direito à vida, a que se refere o art. 227 da CF, é o referente à existência com dignidade,assegurado desde a concepção, através do apoio à saúde da gestante, nos termos do art. 8º da CF, 
outrossim, durante todo o desenrolar de uma existência. 
Ao Poder Público, sociedade, comunidade e família competem envidar todos os esforços para 
se evitar a morte de criança ou adolescente. 
 
DIREITO À SAÚDE 
 
O direito à saúde é assegurado por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo acesso 
é universal, isto é, a todas as pessoas, e não apenas às crianças e adolescentes (art. 11 do ECA). 
A saúde compreende a integridade física e o bem estar fisiopsíquico, portanto, para que a 
proteção seja integral, é mister também o acesso a tratamentos psicológicos, competindo ao Poder 
Público providenciar, por exemplo, a construção de hospitais psiquiátricos. 
O abuso do álcool e das drogas compromete evidentemente a saúde e, dentre as medidas 
políticas do Poder Público, deve ser inserida o tratamento compulsório, pois a vontade da criança 
 
 
 
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ou adolescente, de se recusar ao tratamento médico, não pode sobrepor-se à sua saúde, que é um 
direito indisponível. 
A propósito, o art. 98, III, do ECA é muito claro ao dispor que as medidas de proteção à 
criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem 
ameaçados ou violados em razão de sua própria conduta. O art. 101, IV, do ECA ainda acrescenta 
que, nesse caso e nas demais hipóteses do art. 98, a autoridade competente poderá determinar, 
dentre outras medidas, a inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança 
e ao adolescente. Há, pois, fundamento legal para a imposição obrigatória do tratamento da saúde. 
Por outro lado, a criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento 
especializado (§1º do art. 11 do ECA). Este atendimento ainda deve ser prioritário, conforme Lei 
10.098/2000. Incumbe ao Poder Público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os 
medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação, nos 
termos do §2º do art. 11 do ECA, através de fisioterapeutas, ortopedistas, fonoaudiólogos, 
psiquiatras e outros profissionais especializados. É, pois, cabível ação judicial contra o Poder Público 
para que esses direitos sejam assegurados, cujos réus podem ser todos os entes da federação 
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios), que são responsáveis solidários pelo bom 
funcionamento do SUS. 
Em caso de internação, a criança e o adolescente têm direito a acompanhante, em tempo 
integral, de um dos pais ou responsável, nos termos do art. 12 do ECA. A propósito, a Lei 9.656/98, 
que rege os planos de saúde, torna obrigatório que, dentro da cobertura mínima, se compreenda as 
despesas para custear o acompanhante, no caso de pacientes menores de 18 (dezoito) anos (art. 
10, II, f). Ainda que se trate de menor infrator, este direito, que é irrenunciável, não pode ser 
negado. 
Acrescente-se também os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento 
cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente 
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências 
legais. 
As entidades, públicas ou privadas, que atuam na área infantojuvenil, devem contar, em seus 
quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou 
casos de maus-tratos praticados contra criança e adolescente (art.70-B do ECA, introduzido pela lei 
13.046/2.014). 
Finalmente, o SUS deve garantir assistência odontológica, inclusive, a de caráter preventivo, 
sendo ainda obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades 
sanitárias (art. 14 e parágrafo único, do ECA). 
 
DIREITO À LIBERDADE 
 
O direito à liberdade é o poder de autodeterminação da vontade. É, pois, a faculdade de 
conduzir-se no mundo exterior de acordo com a sua própria vontade. 
A criança e o adolescente têm direito à liberdade (art. 15 do ECA). Todavia, trata-se de um 
direito relativo, limitado por normas de ordem pública e que não pode ser exercido contra os seus 
próprios interesses. 
De acordo com o art. 16 do ECA, o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: 
I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições 
legais. Trata-se da liberdade de locomoção. É claro que a criança e o adolescente não têm o direito 
de abandonar a escola ou a frequentar lugares inadequados à sua faixa etária; a liberdade, a que se 
tem direito, é a que lhe trará algum benefício e não aquela que milita em seu desfavor. 
 
 
 
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II – opinião e expressão. Trata-se da liberdade de expressão. Os pais não podem coibir os 
filhos de emitirem suas opiniões sobre os mais variados assuntos. As escolas, por sua vez, têm a 
função de estimular a criança e o adolescente a exercitarem essa liberdade de expressão. Não se 
pode, por exemplo, impor punições disciplinares à criança e adolescente que opinaram sobre 
determinados assuntos. 
III – crença e culto religioso. É a liberdade religiosa. As escolas não podem impor determinada 
religião, sob pena de ofensa ao princípio do Estado Laico. Os pais, por sua vez, devem respeitar a 
opção religiosa dos filhos. 
IV – brincar, praticar esportes e divertir-se. Trata-se do direito de brincar e de praticar 
esportes, experiências indispensáveis à socialização da criança e adolescente. Na escola, e recreio é 
obrigatório. Em casa, os pais também devem reservar um espaço para as brincadeiras. Está, 
portanto, nítido que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de propiciar felicidade às 
crianças e adolescentes. 
V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação. Trata-se do direito à 
convivência familiar e comunitária. É, pois, direito da criança e adolescente preservar os vínculos 
familiares, não se desmembrar dos irmãos, participar da vida da comunidade local. Na aplicação 
das medidas socioeducativas a preferência será para aquelas que visam o fortalecimento dos 
vínculos familiares e comunitários (art. 100 do ECA). 
 
DIREITO AO RESPEITO 
 
O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da 
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos 
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. 
O direito ao respeito à criança e adolescente é imposto a todas as pessoas, inclusive, aos 
próprios pais e educadores (art. 53, II, do ECA). 
Dispõe o art. 94, caput e incisos IV e XVII do ECA: 
“As entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintes obrigações, entre 
outras: 
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente; 
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes”. 
É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as 
medidas adequadas de contenção e segurança (art. 125 do ECA). 
É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a 
crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional (art. 143 do ECA). Qualquer 
notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, 
referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e 
sobrenome. 
O art. 247 do ECA prevê a seguinte infração administrativa: 
“Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação, 
nome, ato ou documento de procedimentopolicial, administrativo ou judicial relativo a criança ou 
adolescente a que se atribua ato infracional: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de 
reincidência. 
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou 
adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira 
a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. 
 
 
 
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§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além da 
pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação”. 
Note-se que apesar de vedada a divulgação do apelido, nesse caso, não há infração 
administrativa, pois o art.247 do ECA refere-se a nome, silenciando-se sobre o apelido. 
 
DIREITO À DIGNIDADE 
 
Direito à dignidade é o de não sofrer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório 
ou constrangedor. 
É dever de todos zelar pela dignidade da criança e adolescente (art. 18 do ECA). 
 
DIREITO À EDUCAÇÃO 
 
O direito à educação é o de frequentar a rede regular de ensino. 
A criança e o adolescente têm direito à educação, cujos objetivos são: 
a) gerar o desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual; 
b) a integração social; 
c) o preparo para o exercício da cidadania; 
d) a qualificação para o trabalho, no caso de escolas profissionalizantes. 
Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular 
de ensino (art. 55 do ECA). 
A violação dessa norma pode caracterizar crime de abandono intelectual (art. 246 do CP) e 
aplicação de medidas aos pais ou responsáveis (art. 249 e 129 do ECA). 
A educação básica é obrigatória e gratuita, dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, 
conforme art. 208, I, da CF, e, por isso, o instituto homeschooling (estudo em casa), que é a 
educação doméstica, sem frequência à escola, ainda não é aceito no Brasil, tanto é que o §3º do 
art. 208 da CF exige inclusive o controle da frequência escolar. Há os que defendem essa 
modalidade de ensino invocando a liberdade de expressão (art. 5, LV, da CF), o princípio do 
pluralismo político (art.1º, V, da CF) e ainda o art. 5º, VIII, que dispõe que “ninguém será privado de 
direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar 
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, 
fixada em lei”. 
A criança e o adolescente têm o direito de acesso à escola pública e gratuita próxima de sua 
residência, ainda que os pais sejam pessoas abonadas, pois se trata de um direito universal, 
acessível a todos (art. 53, V, do ECA). Diante disso, compete ao Poder Público providenciar o 
transporte escolar gratuito, a todos os estudantes, crianças ou adolescentes, das zonas urbanas e 
rurais. 
Destaca-se ainda, no art. 53 do ECA, o direito de igualdade de condições para o acesso à 
escola. Se não houver vagas nas escolas públicas, o Poder Público tem o dever de conceder bolsas 
de estudo nas escolas particulares de ensino fundamental e médio aos alunos que demonstrarem 
insuficiência de recursos, ficando ainda obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua 
rede na localidade (art. 213, §1º, da CF). Quanto aos alunos deficientes (Exemplos: surdos, mudos, 
deficiência motora, cegos, etc), o acesso gratuito à educação especial, e não necessariamente em 
classe especial, deve ser assegurado pelo Poder Público, conforme dispõe a Convenção 
Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, através de professores habilitados para o 
ensino da língua de sinais, quando necessário, além de outras providências. 
 
 
 
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Outro direito que merece menção é o direito de permanência na escola. Eventual expulsão da 
escola só será possível mediante ampla defesa, após o estabelecimento de ensino ter tomado, sem 
sucesso, as medidas destinadas a contornar a situação. As sanções disciplinares de suspensão e 
expulsão, não podem causar prejuízo irreparável à criança ou adolescente, valendo aqui aplicar o 
princípio da razoabilidade. Como ensina Andréia Rodrigues Amin, “o aluno não poderá ser suspenso 
no período de provas escolares, bem como não poderá sofrer expulsão em período do ano escolar 
no qual se mostra inviável a transferência ou matrícula em outro estabelecimento de ensino”. 
(Curso de Direito da Criança e Adolescente, Coordenação Katia Regina Ferreira Lobo Andrade 
Maciel. Ed. Saraiva, p. 96). Quanto aos adolescentes infratores, no período de internação, a 
educação não pode ser interrompida, e, caso cumpram medidas socioeducativas têm também 
acesso à educação, em qualquer fase do período letivo (art. 82 da Lei 12.594/2012). 
Com o escopo de evitar a evasão escolar, o art. 12, VIII, da Lei 9.594/96 (LDB) obriga os 
estabelecimentos de ensino a notificar o Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da 
comarca e ao respectivo órgão do Ministério Público a relação dos alunos que apresentam 
quantidades de falta acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. Outrossim, 
informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, 
sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica 
da escola (art. 12, VII, da LDB). Não pode a escola condicionar o fornecimento do boletim escolar ao 
pagamento das mensalidades atrasadas, pois o acesso dos pais a esse boletim é um dos aspectos 
do direito fundamental à educação, sendo cabível mandado de segurança contra o diretor da escola 
particular, perante a Vara da Infância e Juventude, nos termos do art. 148, V, do ECA. 
Sobre a evasão escolar, o art. 56, inciso II, do ECA, determina que “os dirigentes de 
estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: reiteração 
de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares”. Idêntica comunicação 
deverá ser feita em casos de elevados níveis de repetência (art. 56, III, do ECA). 
A educação, segundo a Lei 9.394/96, é classificada em: 
a) educação infantil: abrange o ensino nas creches (crianças de zero aos três anos de 
idade) e pré-escolas (crianças dos quatro aos cinco anos de idade). 
b) o ensino fundamental: inicia-se aos seis anos de idade e tem duração de nove anos. É 
o antigo primário e ginásio. 
c) o ensino médio: tem duração de três anos. É o antigo colegial. 
O sistema de ensino é dever da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 211 da CF). 
Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil (§2º do art. 
211 da CF). Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente, no ensino fundamental e 
médio (§3º do art. 211 da CF). 
É, pois, cabível ação civil pública para que o Poder Público cumpra esse dever de garantir 
vagas nas escolas, creches e pré-escolas. 
O art. 208, II, da CF ao prever a progressiva universalização do ensino médio gratuito não 
pode ser interpretado como sendo a consagração da falta de obrigatoriedade do ensino médio e, 
sim, que a prioridade é para o ensino fundamental. De fato, o ensino, nos quatro níveis (infantil, 
fundamental, médio e superior), é dever do Estado, inclusive, mediante oferta de ensino noturno 
regular, adequado às condições do educando, para que o trabalho não possa prejudicá-lo na 
educação (art. 208, VI, da CF). É claro que o ensino noturno não se aplica às crianças, e, sim, aos 
adolescentes inseridos no mercado de trabalho,estendendo-se a obrigatoriedade desse ensino 
tanto ao nível médio quanto ao nível fundamental. 
O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público ou sua oferta irregular importa 
responsabilidade da autoridade competente (§2º do art. 54 do ECA), e, caso haja desvio dos 
 
 
 
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recursos públicos da educação, entram em cena a Lei de Improbidade Administrativa e o Código 
Penal. Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a 
chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. 
Vigora, ainda, nos termos do art. 206, II e VI, da CF, o princípio da educação democratizada, 
que abrange a liberdade de cátedra o direito de contestar critérios avaliativos e o direito de 
organização e participação em entidades estudantis. 
A liberdade de cátedra é a autonomia que se atribui aos professores para ensinar, aplicando a 
técnica pedagógica que entender adequada, respeitando, contudo, o conteúdo programático fixado 
pelo estabelecimento de ensino. Restringe-se, portanto, à liberdade de ensinar, e, não, de definir o 
conteúdo programático. 
Quanto ao direito de contestar, que é atribuído às crianças e adolescentes, abrange, inclusive, 
a interposição de recursos às instâncias escolares superiores (art. 53, III, do ECA). 
É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar 
da definição das propostas educacionais. 
Por fim, o direito de organização e participação em entidades estudantis, geralmente 
denominadas grêmios estudantis, deve ser garantido pelas escolas, desde o ensino fundamental. É 
uma das maneiras de as crianças e adolescentes exercitarem o direito de participação da vida 
política (art. 16, VI, da CF). 
Por outro lado, o art. 212 da CF, visando garantir o funcionamento da educação, obriga cada 
ente da federação a aplicar um percentual mínimo do orçamento nessa área. A União deverá 
aplicar 18%, Estados, Distrito Federal e Municípios, 25%, no mínimo. Estes percentuais incidem 
sobre as receitas oriundas de impostos, compreendendo inclusive o valor dos impostos transferidos 
por um a outro ente da federação. 
O art. 60 do ADCT/CF prevê o detalhamento sobre a aplicação desses recursos, além de 
outros fundos destinados à educação. 
Quanto às verbas oriundas da União, caso sejam desviadas pelos Municípios, dispõe a Súmula 
208 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba 
sujeita a prestação de contas perante órgão federal”. Esta Súmula refere-se aos valores que, em 
razão do desvio, sequer foram incorporadas aos cofres públicos municipais. Se, no entanto, a 
questão for de desvio de finalidade do emprego da verba, a Súmula 209 acrescenta que “Compete à 
Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao 
patrimônio municipal.” 
Assim, na hipótese da Súmula 208 do STJ, a fiscalização será feita pelo Ministério Público 
Federal, e, na hipótese da Súmula 209, pelo Ministério Público Estadual. 
 
DIREITO À CULTURA 
 
Direito à cultura é o acesso, pela criança e adolescente, aos valores culturais, artísticos e 
históricos próprios do seu contexto social. 
Deve, portanto, ser garantido o acesso às fontes da cultura nacional e a liberdade de criação, 
o estímulo ao conhecimento da arte, literatura, prédios históricos e outros bens de natureza 
material ou imaterial que integram o patrimônio cultural brasileiro (art. 215 e 216 da CF). 
O acesso à cultura, na verdade, é um dos aspectos do processo educacional (art. 58 do ECA). 
É curial, portanto, que as crianças e adolescentes indígenas tenham acesso à sua cultura 
(costumes, lugares, crenças e tradições), conforme art. 231 da CF. 
 
 
 
 
 
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DIREITO AO ESPORTE 
 
O estímulo ao esporte, profissional ou não profissional, é dever do Estado, e os recursos 
públicos destinados a essa área devem ser aplicados prioritariamente ao esporte educacional (art. 
217, II, da CF). 
O esporte é essencial para que a criança e adolescente se socialize e desenvolva habilidades 
motoras. Os Municípios, com apoio dos Estados e da União, deverão destinar recursos e espaços 
para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e juventude (art. 59 do 
ECA). 
 
DIREITO AO LAZER 
 
O direito ao lazer compreende as atividades de entretenimento e diversão, bem como o 
próprio descanso. Tem por objetivo a busca pela felicidade. Nas escolas, o intervalo para lazer, que 
é obrigatório, denomina-se recreio. 
O Poder Público tem o dever de garantir o acesso a teatros, shows musicais, circos, piscinas e 
outras atividades de lazer. 
 
DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO 
 
O direito à profissionalização é o de formação técnico-profissional. 
A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios: 
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; 
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; 
III - horário especial para o exercício das atividades. 
 
DIREITO À PROTEÇÃO NO TRABALHO 
 
De acordo com o art. 7º, XXXIII, da CF, os menores de dezoito anos, em hipótese alguma, 
poderão exercer o trabalho noturno; nem o trabalho diurno, quando perigoso ou insalubre. 
Quanto aos menores de dezesseis anos também não podem trabalhar, salvo na condição de 
aprendiz, a partir dos 14 (quatorze) anos. 
O art. 60 do ECA, que permite que o trabalho de aprendiz seja exercido por menores de 14 
(quatorze) anos de idade, foi revogado pelo art. 7º, XXXIII, da CF, que, desde a Emenda 
Constitucional nº 20/1998, só autoriza a aprendizagem a partir de quatorze anos. 
O art. 67 do ECA ainda proíbe o trabalho penoso, o trabalho realizado em locais prejudiciais à 
sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social, e ao trabalho realizado em 
locais que não permitam a frequência escolar. 
Quanto ao trabalho noturno, que é vedado em termos absolutos, é o realizado entre 22 (vinte 
e duas) de um dia e as 5(cinco) horas do dia seguinte, conforme art. 67, I, do ECA. Fora desse 
período, ser-lhe á lícito trabalhar, a partir dos 16 (dezesseis) anos, como empregado, ou antes, 
como aprendiz, desde que tenha pelo menos quatorze anos. Anote-se, contudo, que o trabalho 
rural, que é regido pela Lei 5.884/73, realizado nos campos, fora das cidades, no setor da lavoura, é 
considerado noturno entre as 21 horas e as 5 horas do dia seguinte, e, no setor pecuário, entre 20 
horas e as 4 horas do dia seguinte. 
 O trabalho exercido nas ruas, praças e outros logradouros dependerá de prévia autorização 
do Juiz da Infância e Juventude, ao qual cabe verificar se a ocupação é indispensável à sua própria 
 
 
 
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subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e se dessa ocupação não poderá advir prejuízo à sua 
formação moral (art. 405, §2º, da CLT). 
O art. 405, §3º da CLT dispõe que: “Considera-se prejudicial à moralidade do menor o 
trabalho: 
a) prestado de qualquer modo, em teatros de revista, cinemas, boates, cassinos, cabarés, 
dancings e estabelecimentos análogos; 
b) em empresas circenses, em funções de acróbata, saltimbanco, ginasta e outras 
semelhantes; 
c) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos, 
gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juízo da 
autoridade competente, prejudicar sua formação moral; 
d) consistente na venda,a varejo, de bebidas alcoólicas”. 
O art. 406 da CLT, por sua vez, estabelece que o Juiz da Infância e Juventude poderá autorizar 
ao menor o trabalho a que se referem as letras "a" e "b" do § 3º do art. 405: 
I - desde que a representação tenha fim educativo ou a peça de que participe não possa ser 
prejudicial à sua formação moral; 
II - desde que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à 
de seus pais, avós ou irmãos e não advir nenhum prejuízo à sua formação moral. 
O Juiz da Infância e Juventude poderá autorizar ao menor o trabalho a que se referem as 
letras "a" e "b" do § 3º do art. 405: 
I - desde que a representação tenha fim educativo ou a peça de que participe não possa ser 
prejudicial à sua formação moral; 
II - desde que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à 
de seus pais, avós ou irmãos e não advir nenhum prejuízo à sua formação moral. 
Os direitos trabalhistas devem ser assegurados ao trabalho do menor (art. 65 do ECA). O 
empregado estudante, menor de 18 (dezoito) anos, terá direito a fazer coincidir suas férias com as 
férias escolares. 
Finalmente, quando aos atores mirins, isto é, crianças que atuam em novelas, cinema, teatro, 
circo e outras atividades artísticas, aplica-se por analogia o art. 406 da CLT. A rigor, não pode ser 
rotulado de contrato de trabalho, pois, antes dos quatorze anos, ninguém pode trabalhar, e, sim, de 
um contrato de participação de obra artística, dependente de autorização judicial e à observância 
do regime especial fixado por portaria do Juízo da Infância e Juventude. A partir dos dezesseis anos, 
porém, o contrato de trabalho pode ser firmado, antes dessa idade o contexto será de participação 
de obra artística. Aos menores de dezoito anos sempre será necessária a expedição de alvará 
judicial para que possam participar na condição de atores ou figurantes ou outra atividade 
assemelhada. 
 
DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR 
 
O direito à convivência familiar é o de ser criado e educado no seio da sua família de origem. 
A colocação da criança e adolescente em família substituta é medida excepcional, que só 
pode ser tomada em casos de extrema necessidade, mediante decisão judicial. 
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança dispõe que criança não pode ser 
separada dos pais contra a vontade dos mesmos, exceto quando necessária esta separação ao 
interesse maior da criança. 
Quando, por decisão judicial, a criança for separada da família e encaminhada aos programas 
de acolhimento familiar ou instituições, o juiz, antes de decidir pela colocação em família 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
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substituta, deverá no máximo a cada 6 (seis) meses, com base em relatório elaborado por equipe 
interprofissional ou multidisciplinar, verificar se não é o caso de reinserção à família de origem (§1º 
do art. 19 do ECA). 
A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em 
relação a qualquer outra providência (§3º do art. 19 do ECA). 
A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou 
suspensão do poder familiar (art. 23 do ECA), mas a família de origem deverá ser obrigatoriamente 
incluída em programas oficiais de auxílio (arts. 19, §3º, e 20, parágrafo único, do ECA). 
A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se 
prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior 
interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. 
A Lei 12.594/2.012, que cuida do SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), 
que regula o atendimento aos adolescentes que praticarem ato infracional, assegura que, em caso 
de internação, deve ser garantida a visita das famílias e amigos do adolescente, inclusive dos filhos 
menores, independentemente da idade (art. 67 e 79). É ainda assegurado ao adolescente casado ou 
que viva, comprovadamente, em união estável, o direito à visita íntima (art. 68). 
Finalmente, o §4º do art.19 do ECA, introduzido pela lei 12.962/2.014, garante a convivência 
da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas 
periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela 
entidade responsável, independentemente de autorização judicial. 
 
DIREITO À CONVIVÊNCIA COMUNITÁRIA 
 
O direito à convivência comunitária é o de firmar relacionamentos sociais, isto é, fora do 
âmbito familiar, através de laços de amizade, frequência à igreja, exercício de atividade recreativa, 
etc. 
Ainda que internado por ato infracional, terá direito à visita dos amigos (art. 67 da Lei 
12.594/2.012). 
As medidas socioeducativas, os programas de acolhimento, sempre que possível, deverão 
manter a criança e o adolescente próximo à família e à comunidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
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PERGUNTAS: 
 
1) O que são direitos fundamentais? 
2) Quem tem o dever de garantir a efetivação desses direitos? 
3) O rol desses direitos, previstos no ECA, é taxativo? 
4) Como se assegura o direito à vida? 
5) Como se assegura o direito à saúde? 
6) O direito à saúde abrange o quê? 
7) É possível o tratamento compulsório à saúde? 
8) Quem tem direito a tratamento especial e prioritário? 
9) Explique o direito ao acompanhante. 
10) O que deve ser feito em casos de suspeita de maus-tratos? 
11) Há o direito ao tratamento odontológico? 
12) A vacinação é obrigatória? 
13) O direito à liberdade abrange apenas a liberdade de locomoção? 
14) Os pais podem impedir os filhos de emitirem opiniões? 
15) A emissão de opinião pode ensejar punições disciplinares nas escolas? 
16) Explique a liberdade religiosa. 
17) Os pais podem proibir os filhos de brincar? 
18) Qual o conteúdo do direito ao respeito? 
19) Qual a proibição do art.143 do ECA? E do art.147? 
20) O que é o direito à dignidade? 
21) O que é o direito à educação? 
22) Quais os objetivos da educação? 
23) Quais as sanções aplicáveis aos pais que não matriculam os filhos na rede regular de 
ensino? 
24) Qual é a idade em que é obrigatória a educação básica? 
25) É possível homeschooling? 
26) Para crianças ricas o transporte escolar também é gratuito? 
27) Quando é cabível bolsas de estudos em escolas particulares? 
28) Os alunos deficientes devem ter acesso gratuito à educação especial ou à sala de aula 
especial? 
29) Quais as cautelas que deve-se tomar antes de se decretar a expulsão ou suspensão da 
escola? 
30) Adolescente infrator, em caso de internação, pode ter os estudos interrompidos? 
31) A evasão escolar deve ser comunicada a quem? 
32) A escola deve comunicar a frequência e o rendimento escolar a quem? 
33) Se a escola se negar a fornecer o boletim escolar, em razão de inadimplência, qual a 
medida judicial cabível? 
34) A reiteração de faltas injustificadas do aluno e os elevados níveis de repetência devem ser 
comunicados a quem? 
35) Como se classifica a educação? 
36) Qual a diferença entre educação infantil, ensino fundamental e ensino médio? 
37) Qual ente político é responsável pela educação? 
38) O Município e o Estado-Membro atuarão prioritariamente sobre quais modalidades de 
ensino? 
 
 
 
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39) É cabível ação judicial para garantir vagas na escola? 
40) O ensino médio é obrigatório? 
41) O poder público deve fornecer ensino noturno?42) Quais os aspectos da educação democrática? 
43) O que é liberdade de cátedra? 
44) O que é o direito de contestar? 
45) O que é o direito de organização e participação em entidades estudantis? 
46) Como se dá o financiamento da educação? 
47) Se houver desvios de verbas que a União destina aos Municípios, a competência será da 
Justiça estadual ou federal? Explique as súmulas 208 e 209 do STJ. 
48) O que é o direito à cultura? 
49) O que é o direito à profissionalização? 
50) Em que hipóteses a Constituição proíbe o trabalho do menor? 
51) Em que hipóteses o menor pode trabalhar? 
52) É possível trabalhar a partir dos quatorze anos? 
53) Qual o período que o trabalho se caracteriza como noturno na área urbana, rural e na 
lavoura? 
54) O menor pode trabalhar nas ruas? 
55) O menor pode trabalhar em novela? Em caso positivo, é possível celebrar um contrato de 
trabalho? 
56) Qual o juiz que pode autorizar o menor a trabalhar nos casos admitidos pelo 
ordenamento jurídico? 
57) A criança pode ser separada dos pais contra a vontade dos mesmos? 
58) A permanência da criança ou adolescente em acolhimento familiar ou institucional deve 
ser avaliada em qual período? 
59) Qual a diferença entre convivência familiar e convivência comunitária? 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PREVENÇÃO 
 
DISPOSIÇÕES GERAIS 
 
Sob a rubrica “prevenção”, inicia-se do Título III do ECA, que estende-se dos art.70 a 85. 
Prevenção são as medidas que visam evitar a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos 
da criança e do adolescente. 
A prevenção é dever de todos, e não apenas da família ou Estado (art.70 do ECA). Há, pois, o 
dever genérico ou comunitário de solidariedade, em relação às crianças e adolescentes. 
Não se trata apenas de prevenção aos direitos fundamentais previstos no caput do art. 5º da 
CF (vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade) e, sim, de todos os direitos. 
O art. 71 do ECA relembra que “a criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, 
lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar 
de pessoa em desenvolvimento”. 
A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou 
jurídica, nos termos desta Lei. 
 
PREVENÇÃO ESPECIAL 
 
A prevenção especial constitui o conjunto de deveres impostos pelo ECA para prevenir a 
ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança ou adolescente. 
Estas obrigações figuram expressamente nos arts. 74 a 85 do ECA, mas o rol ali previsto é 
exemplificativo, porque há ainda outras implícitas, que são decorrentes dos princípios adotados 
pelo próprio ECA, conforme art. 72. 
A prevenção especial, que é tratada nos arts. 74 a 85 do ECA, refere-se a: 
a) Diversões e espetáculos públicos; 
b) Programas de rádio e televisão; 
c) Venda e locação de vídeos; 
d) Revistas e publicações impróprias ou inadequadas à idade; 
e) Estabelecimentos que exploram jogos com apostas; 
f) Produtos proibidos; 
g) Hospedagem; 
h) Autorização para viajar. 
 
DIVERSÕES E ESPETÁCULOS PÚBLICOS 
 
Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados 
como adequados à sua faixa etária. Todavia, o Poder Público, através do órgão competente, 
regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a 
que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada. 
A censura classificatória é admitida expressamente pela Constituição. A União detém 
competência exclusiva para legislar sobre esse assunto, conforme art. 21, XVI, da CF. O art. 220, 
§3º, I, da CF ainda dispõe que a lei federal deverá regular as diversões e espetáculos públicos, 
cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se 
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada. 
A regulamentação desse preceito constitucional coube à Lei 10.359/2001. 
 
 
 
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O Ministério da Justiça ainda baixou a portaria 1.220/2.007 regulamentando a lei acima, 
ordenando a observância do Manual de Classificação indicativa, que prevê os parâmetros sobre as 
faixas etárias em relação aos espetáculos e diversões públicas. 
Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de 
fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do espetáculo e 
a faixa etária especificada no certificado de classificação. 
A referida portaria ainda esclarece que a criança ou adolescente, dependendo do tipo de 
espetáculo ou diversão, pode ter acesso, desde que acompanhado dos pais ou responsáveis (tutor 
ou guardião). 
O parágrafo único do art. 75 do ECA ainda acrescenta que as crianças menores de dez anos 
somente poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exibição quando 
acompanhadas dos pais ou responsável. 
 
PROGRAMAS DE RÁDIO E TELEVISÃO 
 
As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público 
infantojuvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. 
Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de 
sua transmissão, apresentação ou exibição. 
Compete à União legislar sobre essa censura classificatória (arts. 21, XVI, e 220, §3º, I, da CF). 
A Lei 10.359/2.001, que disciplinou o assunto, impôs a obrigatoriedade de os novos aparelhos 
de televisão conterem dispositivo que possibilite a bloqueio temporário da recepção da 
programação inadequada. A classificação do programa, conforme a faixa etária, é regulada pela 
Portaria 1.220/2007 do Ministério da Justiça. 
O acesso à internet, contudo, não é previsto pela referida lei, nem objeto de regulamentação 
legal específica. 
 
VENDA E LOCAÇÃO DA VÍTIMA 
 
A venda ou locação de fitas de programação em vídeo, exemplo, DVD, não pode ser feita em 
desacordo com a classificação atribuída pelo Ministério da Justiça (arts. 77 do ECA). Estas fitas 
deverão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a faixa etária a que se destina. 
A violação dessa norma configura a infração administrativa do art. 256 do ECA e, em caso de 
reincidência, o estabelecimento poderá ser fechado por até quinze dias. 
 
REVISTAS E PUBLICAÇÕES 
 
As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e 
adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu 
conteúdo. 
A expressão “publicações” abrange livros, jornais e qualquer outro material que contenha 
informações impressas, veiculando a linguagem escrita ou imagens, como panfletos, cadernos, etc. 
O material é impróprio ou inadequado quando contraria a ordem pública, moral ou bons 
costumes. Exemplos: fotos eróticas ou que estimulam a violência, textos mentirosos ou que 
desprestigiam a família, etc. 
 
 
 
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As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter 
ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e 
munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. 
O descumprimento dos arts. 78 e 79 do ECA constitui infração administrativa sujeita a multa, 
além da apreensão da revista ou publicação (art. 257 do ECA). Esta infração administrativa pode ser 
praticada tanto pela editora, que confecciona o material,quanto pelo distribuidor e vendedor. 
De acordo com o art. 245, parágrafo único, inciso I, do CP, constitui crime de escrito ou objeto 
obsceno a venda, distribuição ou exposição à venda ou ao público desses escritos ou materiais 
obscenos. Todavia, esta norma não foi recepcionada pela Constituição, que consagra a liberdade de 
manifestação do pensamento, no art. 5, IV e IX, não podendo esta liberdade ser tipificada como 
crime, sob pena de violação do princípio da intervenção mínima do Direito Penal. 
 
ESTABELECIMENTOS QUE EXPLORAM JOGOS COM APOSTAS 
 
Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou 
congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que 
eventualmente, cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e 
adolescentes no local, afixando aviso para orientação do público. 
Ainda que haja autorização dos pais ou responsável, o acesso a esses jogos e apostas é 
vedado aos menores de dezoito anos. 
A proibição não se restringe aos jogos de azar, cujo resultado depende da sorte, e, sim, a 
qualquer jogo que envolve aposta, como bilhar, baralho, que, a rigor, não são jogos de azar, pois 
dependem da habilidade do jogador. 
A violação desta norma sujeita o responsável pelo estabelecimento ou o empresário à 
infração administrativa do art. 258 do ECA apenado com multa, mas, em caso de reincidência, o 
estabelecimento poderá ser fechado por até 15 (quinze) dias. 
Quanto aos jogos eletrônicos, não se encontram incluídos na proibição do citado art.80 do 
ECA. Compete ao juiz da Infância e Juventude disciplinar, através da portaria, ou alvará, a entrada 
ou permanência de criança ou adolescente, desacompanhada dos pais ou responsáveis, em local 
que explore comercialmente diversões eletrônicas, conforme art. 149, I, d, do ECA. 
Finalmente, os menores de dezoito anos também não podem comprar jogos lotéricos ou 
equivalentes, como loteria esportiva, mega sena, etc (art. 81, VI, do ECA). 
 
PRODUTOS PROIBIDOS 
 
De acordo com o art. 81 do ECA, é proibida a venda à criança ou ao adolescente de: 
I – armas, munições e explosivos. Este fato é crime, previsto no Estatuto do Desarmamento. 
II – bebidas alcoólicas. A venda ou fornecimento de bebida alcoólica ao menor de dezoito 
anos, ainda que gratuito, caracteriza crime do art. 243 do ECA, estando, pois, revogado 
expressamente o art. 69, parágrafo único, I, da Lei das Contravenções Penais, conforme lei 
13.016/2.015. O art. 258-C do ECA, introduzido pela referida lei, considera ainda infração 
administrativa o descumprimento dessa proibição estabelecida no inciso II do art. 81, 
estabelecendo como sanções uma multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez mil 
reais), além da interdição do estabelecimento comercial até o recolhimento da multa aplicada. 
III – Produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por 
utilização indevida. A hipótese caracteriza crime do art. 243 do ECA, quando a venda ou 
fornecimento gratuito recair sobre cola de sapateiro, tinner, e outras substâncias não abrangidas 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
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pela Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), que, evidentemente, por ser norma mais grave, afasta a 
incidência do art. 243 do ECA, quanto à cocaína, maconha e outra droga tipificada como crime. 
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam 
incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida. A venda ou 
fornecimento gratuito desses materiais configura crime do art. 244 do ECA. 
V – revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado. Trata-se de infração 
administrativa prevista no art. 257 do ECA. 
VI – bilhetes lotéricos e equivalentes. 
 
HOSPEDAGEM 
 
É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou 
estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável. 
Somente com autorização dos pais ou responsável, isto é, do guardião é que a hospedagem 
será franqueada aos menores de dezoito anos. Esta autorização, por cautela, deve ser colhida por 
escrito, e não verbalmente. Avós, tios, irmãos e outros parentes não tem este poder de 
autorização. 
Estando o menor acompanhado dos pais ou responsáveis, dispensa-se, por óbvio, a 
formalização da autorização, desde, é claro, que eles também se hospedem no local. 
A exigência de autorização não é apenas para motéis e, sim, para qualquer tipo de 
estabelecimento de hospedagem. 
Quanto ao menor emancipado, pode hospedar-se livremente. 
O art. 250 do ECA tipifica a violação dessa norma como infração administrativa, sancionada 
com multa, mas, em caso de reincidência o juiz poderá determinar o fechamento do 
estabelecimento por até 15 (quinze) dias. Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 
(trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada. 
 
AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR 
 
O adolescente pode viajar livremente para qualquer lugar do Brasil, desacompanhado dos 
pais ou responsáveis, que sequer precisarão autorizá-lo. Todavia, sem a autorização dos pais ou 
responsáveis não poderão se hospedar em hotel, pensão ou estabelecimento equivalentes. 
Quanto às crianças, isto é, os menores de 12 (doze) anos, quando desacompanhados dos pais 
ou responsáveis, só poderão viajar para fora da comarca onde residem, mediante expressa ordem 
judicial (art. 83 do ECA). A pedido dos pais ou responsável, o juiz pode conceder autorização válida 
por até 2 (dois) anos (art. 83, §2º, do ECA). 
A autorização judicial não será exigida nas seguintes hipóteses: 
a) Quando a criança estiver acompanhada de qualquer dos pais que detenham a 
guarda, de ascendente ou colateral maior, até terceiro grau (irmão, tios e sobrinhos), comprovado 
documentalmente o parentesco. Por analogia, abrange também outras pessoas da família, como o 
companheiro da mãe da criança. 
b) Quando a criança estiver acompanhada de pessoa maior, expressamente autorizada 
pelo pai, mãe ou responsável (tutor ou guardião). Exemplo: viagem organizadas por escolas e 
igrejas. 
c) Quando se tratar de comarca contígua à residência da criança, dentro mesmo do 
Estado-Membro. 
 
 
 
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
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d) Quando se tratar de comarca incluída na mesma região metropolitana 
(agrupamentos de Municípios dentro do mesmo Estado-Membro). 
Por outro lado, a viagem para exterior, desacompanhado dos pais ou responsável (guardião 
ou tutor), é possível mediante autorização dos pais, conforme art.1.634, IV, do CC, introduzido pela 
lei 13.058/2.014, quer se trate de criança ou adolescente. Não se exige mais autorização judicial 
para viagens ao exterior, salvo se houver conflito entre a vontade do pai e da mãe, estando pois 
revogado o art. 84 do ECA. 
Ressalte-se que a Resolução 131/2011 do CNJ, no tocante às viagens internacionais de 
crianças ou adolescentes brasileiros, desacompanhada dos pais ou responsável, já dispensava a 
autorização judicial, exigia apenas a autorização dos pais ou responsável (tutor ou guardião) com 
firma reconhecida. Esta resolução violava o hoje revogado art. 84 do ECA. 
Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em 
território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no 
exterior (art.85 do ECA). 
Assim, na adoção internacional, a criança ou adolescente só pode deixar o Brasil, na 
companhia dos adotantes, após o trânsito em julgado da sentença. Antes disso, será preciso 
autorização judicial. 
A criança ou adolescente

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