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POR QUE DEVEMOS DEFENDER A TRANSMISSÃO DOS CONTEÚDOS SISTEMATIZADOS NA ESCOLA? MORATO, Daiane Cristina Para tal defesa é necessário entender primeiramente que o psiquismo humano é a representação mental da realidade objetiva, um sistema funcional complexo, sendo a maneira em que o cérebro “capta” o mundo e o representa mentalmente, essa realidade existe fora do homem e de modo independente da consciência humana, cabendo ao homem representar tal realidade. Ao afirmar que o psiquismo é a imagem ou reflexo subjetivo da realidade objetiva, é preciso também a compreensão de que tal representação mental é constituída por meio de um sistema complexo de funções psíquicas cognitivo- afetivas são elas: a sensação, percepção, atenção, memória, linguagem, pensamento, imaginação, emoção e sentimento. As sensações podem ser classificadas em interoceptivas que são: as de suas vísceras e órgãos internos; proprioceptivas: a dos músculos, tendões e ligamentos; exteroceptivas: captadas do meio externo e exteroceptivas que pode ser classificada em duas categorias, de distância e de contato, as sensações capta a realidade objetiva por receptores do estímulo, nervos aferentes (óticos, acústicos, olfativos, táteis e gustativos), e correspondem a uma resposta, aparentemente naturais, porém essas sensações utilizam -se da atividade social, exemplo de fácil compreensão é o de degustador de vinho que socialmente aguça o paladar para vinho, paladar este construído no meio social e cultural. A percepção reflete o conjunto de propriedades do objeto ou fenômeno, tem a ver com a imagem inteira, não é um processo biológico, mas sim, fruto do desenvolvimento cultural, portanto transmitido do adulto para a criança, após desenvolvido a percepção está se junta ao pensamento e linguagem possibilitando conhecer o fenômeno ou objeto para além de sua aparência é necessário dirigir a atenção da criança para formas de conduta culturalmente instituída esse processo deve ser contínuo, para que esta internalize os signos. Memória é a recuperação de algo que no passado já foi, sentido, percebido e atentado. O ser humano armazena grande quantidade de dados ao longo de suas vivências, o homem primitivo ao criar meios artificiais regulado por signos para lembrar de algo, transforma a memorização involuntária à memorização regulada por signos, passando assim a dominar o próprio processo de memorização, procedimento este que exige que novos meios estejam em constante desenvolvimento do domínio das operações psíquicas, mediado por signos, portanto produto históricos sociais internalizados pelo indivíduo, por meio de transmissão, a memorização de um conteúdo necessita a consciência dos motivos desta ação, guardar esta informação para acessar quando preciso. As funções complexas sensação, percepção e memória, são comuns aos homens e animais, porém o domínio da linguagem e do pensamento torna o homem capaz de tornar significativo o reflexo subjetivo da realidade, superando a representação imediata do objeto, representando-o por signos. A linguagem do homem trás o surgimento da imaginação diferenciando o homem dos demais animais, assegurando a criação de instrumentos de trabalhos e de linguagem orientada e dirigida, a representação mental da realidade apresentou-se além de um sistema de estímulos e resposta, e do imediatamente percebido. Tornando o ser humano agora capaz de antecipar mentalmente o produto de suas ações, o psiquismo agora se apresenta como reflexo subjetivo da realidade e também a possibilidade de criar novas imagens, novas representações mentais. Imaginação capacidade de criar novas imagens, orientam o homem na atividade teleológica, serve de base para a criação orientada e dirigida. Emoções, sentimentos são funções afetivas particulares, segundo transformações registradas do mundo exterior, não são somente biológicas, nem imediatas, nem só hereditárias, mas são organizadas pela experiencias de toda a humanidade, as emoções humanas desenvolvem-se influenciados pela cultura, adquirem caráter social, para isso é necessário um processo de educação que envolvem as relações entre a realidade presente, as experiências passadas e as expectativas futuras a partir daí as imagens passam à existirem por meio das funções cognitivas adquirindo um caráter pessoal particular. Assim, o homem criou as possibilidades de dominar as formas de comportamento naturais, dominando funções psíquicas elementares, a criação dos signos, marca formas de comportamento artificiais e mediado, controlando assim o próprio comportamento chamado de trabalho social. Quais são as funções psíquicas elementares e quais são as superiores? Para responder tal questão é preciso salientar os equívocos recorrentes na compreensão desse tema. Martins (2013) afirmou que tais equívocos radicam na concepção dicotômica que existe sobre esse contexto. A referida autora analisa que não se trata da existência de duas colunas de funções psíquicas (uma natural e outra social), nas quais se edifica o psiquismo. Não se deve considerar a existência de funções psíquicas superiores de um lado e elementares de outro. Trata-se, portanto, de uma concepção dialética de superação por incorporação, onde a vida social engendra, do ponto de vista filogenético e ontogenético, dadas propriedades no psiquismo que, objetivamente, retroagem na própria vida social, ou seja, na produção da cultura humana. Portanto, as funções psíquicas sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, imaginação, sentimentos e emoções tornam-se superiores, voluntárias, à medida que o ser humano vai dominando o universo simbólico objetivado ao longo da história da humanidade. As funções psíquicas superiores caracterizam-se pela fusão entre as funções e pela consequente capacidade do indivíduo dominar seu próprio comportamento (ANJOS, 2017 p.:8). Após entendido essa parte mínima do psiquismo humano, como se dá a atividade vital, o trabalho, por meio da mediação de signos, afim de destacar a relação com a educação escolar. Agora o homem, não mais se adapta à natureza para suprir suas necessidades, cria meios para satisfação de suas necessidades modificando a natureza à partir da mediação de instrumentos de trabalho e da linguagem, à medida em que supre essas necessidades, novas surgirão, exigindo novo psiquismo mais complexo e consequentemente modificando a sua natureza externa e interna também, a natureza humana é fruto de apropriações da cultura já produzida. O que a natureza oferece aos homens no seu nascimento não é suficiente para torná-los seres humanos aptos a viver em sociedade, é preciso adquirir o conhecimento e cultura produzida e acumulada ao longo da história, nós seres humanos morremos mas aquilo que criamos permanece passando para as próximas gerações, transmitidas. Segundo Anjos (2017), ‘Aquilo que é muitas vezes chamado de “natureza humana” é o resultado da objetivação histórica da cultura e sua apropriação pelas novas gerações’. A função maior da apropriação da cultura é criar, nos seres humanos, novas aptidões, novas funções psíquicas, Leontiev (1978) citado aqui por Anjos (2017) assevera a questão de que, estruturas podem não se formar se certas atividades não existirem para uma determinada pessoa, pois o homem não nasce dotado das aquisições históricas, somente por apropriação, adquirem propriedades humanas elevando o homem acima do mundo animal. Este processo de apropriação se faz somente por meio da comunicação entre os seres humanos que constitui sempre um processo de educação, a mediação de outros indivíduos, sem transmissão da cultura, a educação, é impossível a transmissãodo conhecimento às novas gerações. O desenvolvimento psíquico do ser humano, portanto, não ocorre de forma natural e espontânea. O desenvolvimento psíquico é caracterizado pela apropriação dos meios externos de desenvolvimento cultural exemplo a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho; e o consequente desenvolvimento das funções psíquicas superiores, funções especificamente humanas transmitida ao longo das gerações, como a memória lógica, a atenção voluntária, o pensamento abstrato etc. A esses dois aspectos tomados em conjunto Vygotski (2012, p. 29) denominou “processos de desenvolvimento das formas superiores de conduta da criança”. A base da formação das funções psíquicas superiores estão os signos ou, como também denominados por Vigotski, os instrumentos psicológicos. E assim os signos são estímulos artificiais criados por homens a para serem princípios reguladores da própria conduta ou da conduta do outro. O comportamento elementar (biológico) passa por sistemas psicológicos de transição e se transforma em comportamento sócio cultural. Isso não anula o comportamento elementar, nem desaparecem os instintos, mas que se superam nos reflexos condicionados, continuam, mas agora dominados mediados pela cultura. O conceito de mediação deverá promover mudança na relação do sujeito e objeto ou o signo interposto, está é a principal importância da educação escolar, para que haja o desenvolvimento do psiquismo do aluno, assim a qualidade da mediação determinará a qualidade de tal desenvolvimento. Duarte (2013) relata o desenvolvimento do ser humano ocorre por meio do processo dialético entre apropriação e objetivação. As objetivações humanas as objetivações genéricas em si são produções da vida cotidiana como a linguagem falada, os usos e costumes de uma dada sociedade e seus materiais e utensílios a apropriação de tais objetivações não exige reflexão crítica ou científica por parte de quem delas se apropria. As objetivações genéricas para si são produções não cotidianas como a ciência, a arte e a filosofia e representam o máximo grau de desenvolvimento humano até aqui alcançado a apropriação de tais objetivações requer reflexão e análise de suas múltiplas determinações de quem delas se apropria. Anjos (2013) ressalta que o indivíduo ao apropriar se das objetivações genéricas para si, o indivíduo forma sua concepção de mundo supera e vai além do imediatismo e da superficialidade da vida cotidiana, isto é o que o torna capaz de se relacionar com sua cotidianidade de forma consciente. A partir da mediação das objetivações genéricas para si, o ser humano tem condições de dominar seus comportamentos e aceitar ou negar algumas práticas e pensamentos impostos pela vida cotidiana. O ser humano pode, então, hierarquizar sua atividade, ele pode fazer escolhas, que mais lhe proporcionarão desenvolvimento. Essa capacidade de hierarquizar, de maneira consciente, as atividades da vida cotidiana denomina-se “condução da vida”. A vida cotidiana, portanto, não mais o conduz, mas é o próprio indivíduo que conduz suas atividades de maneira consciente, libertando-se do pragmatismo e imediatismo do senso comum. Fica claro o papel fundamental da escola e dos professores em proporcionar apropriação das esferas das objetivações genéricas para si, como a ciência, a arte e a filosofia, as funções psíquicas do ser humano se desenvolverão em suas máximas possibilidades, a partir de uma mediação mais elaborada e desenvolvida, lhe será exigido uma complexidade psíquica maior, possibilitando a inteligibilidade do real e o autodomínio da conduta. A imagem subjetiva da realidade objetiva será mais nítida, possibilitará uma forma de agir, pensar e sentir consciente. Ocorre, portanto, o desenvolvimento do psiquismo. Não significa retirar o aluno de seu cotidiano, mas sim de transmitir os signos não cotidianos a fim de que o aluno, ao se apropriar deles, conduza sua vida cotidiana de forma consciente, trata-se de superar o saber do senso comum (Doxa), da sabedoria elaborada ao longo da vida (Sofia), para a transmissão do saber elaborado, erudito, do saber sistematizado (Episteme). É preciso, ainda, criar condições para que a sua transmissão e assimilação se efetivem. Ou seja, o conhecimento deve ser dosado e sequenciado no espaço e no decorrer do tempo escolar, transformado em “saber escolar” (SAVIANI, 2013). Portanto, se a escola cumprir seu papel de transmitir os conteúdos erudito, sistematizados o Episteme conforme citados anteriormente, torna-se um local produtor de desenvolvimento das funções psíquicas superiores dos alunos como o pensamento abstrato, sentimentos éticos e estéticos, memória lógica, atenção voluntária etc. que, unidas, promovem o autodomínio da conduta, a autoconsciência e a inteligibilidade do real, preparando a aluno para uma vida em cidadania, tornando-o um cidadão crítico e tolerante, com visão do mundo em si, que lida com os desafios e conflitos diários de família e sociedade.
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