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Escola Estadual de Educação Profissional – EEEP Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Curso Técnico em Aquicultura Carcinicultura e Maricultura 2 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura EDIÇÃO DA APOSTILA: Marcus Vinícius – Técnico em Aquicultura 09/2017 3 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura UNIDADE I – ALGICULTURA .................................................................................................................................. 6 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O CULTIVO DE ALGAS ........................................................................................ 6 2. PRINCIPAIS ESPÉCIES CULTIVADAS ........................................................................................................................ 8 3. FORMAS DE CULTIVO E INFLUENCIAS NO AMBIENTE ............................................................................................ 11 3.1 Seleção do local ....................................................................................................................................... 11 3.2 Correntes ................................................................................................................................................... 11 3.3 Salinidade .................................................................................................................................................. 12 3.4 Temperatura .............................................................................................................................................. 12 3.5 Presença de bancos de algas no local ................................................................................................. 12 3.6 Tipo de solo marinho ............................................................................................................................... 12 3.7 Profundidade ............................................................................................................................................. 13 3.8 Acesso ao local ........................................................................................................................................ 13 3.9 Influência de ondas .................................................................................................................................. 13 4. ESTRUTURAS DE CULTIVO .................................................................................................................................... 13 5. MANEJO DE CULTIVO ............................................................................................................................................ 15 5.1 Preparação das mudas para plantio ..................................................................................................... 16 5.2 Fixação das estruturas de cultivo .......................................................................................................... 18 5.3 Manejo de cultivo ..................................................................................................................................... 18 5.4 Ataque de animais herbívoros ................................................................................................................ 19 5.5 Colheita ...................................................................................................................................................... 20 UNIDADE II – CARCINICULTURA ......................................................................................................................... 21 6. RECEPÇÃO, ACLIMATAÇÃO E TRATAMENTO TÉRMICO DAS PÓS-LARVAS NA FAZENDA ........................................ 21 7. CULTIVO DE PÓS-LARVAS EM BERÇÁRIOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS .............................................................. 23 7.1 Tratamento da água................................................................................................................................. 23 7.1.1 Tratamento Químico da Água com Uso de Cloro: .............................................................................. 24 7.2 Limpeza e Assepsia nas Instalações dos Berçários Intensivos: ....................................................... 24 7.3 Preparação dos tanques berçários intensivos ..................................................................................... 25 7.4 Monitoramento dos parâmetros físico-químicos .................................................................................. 29 7.5 Ações emergenciais em caso de enfermidades de importância econômica .................................. 30 8. CULTIVO EM VIVEIROS DE ENGORDA .................................................................................................................... 30 8.1 Monitoramento da matéria orgânica e do pH no solo dos viveiros ................................................... 30 8.2. Avaliação do Perfil do Solo: .......................................................................................................................... 31 8.3. Monitoramento e tratamento da Matéria Orgânica no solo de viveiros de produção ........................... 31 8.3.1 fontes de constituição da matéria orgânica .............................................................................................. 32 8.4 Monitoramento e tratamento do pH do solo ............................................................................................... 32 4 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 8.5 Povoamentos em viveiros de engorda ......................................................................................................... 34 9. ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL..................................................................................................................................... 35 9.1 Controle da qualidade da ração ............................................................................................................. 35 CONTROLE DE QUALIDADE E ESTOCAGEM DE RAÇÃO .............................................................................................. 36 9.2 Arraçoamento de viveiros ....................................................................................................................... 39 9.4 Arraçoamento inicial ................................................................................................................................ 40 9.4.1 Método de voleio ...................................................................................................................................... 40 9.5 Alimentação em bandejas ....................................................................................................................... 41 9.6 Limpeza das bandejas ............................................................................................................................. 42 9.7 Sobras de alimento .................................................................................................................................. 42 9.8 Alimentação em bandejas durante o ciclo de muda ........................................................................... 42 9.9 Alimentação por faze lunar ..................................................................................................................... 42 10. AERAÇÃO EM VIVEIROS DE CRIAÇÃO DE CAMARÕES ...................................................................................... 43 11. CONTROLE DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA DOS VIVEIROS .................................................... 44 11.1 Monitoramento da água de cultivo.........................................................................................................44 12. DESPESCA ....................................................................................................................................................... 45 12.1 Despesca de rotina .................................................................................................................................. 45 12.2 Despesca de emergência ....................................................................................................................... 46 12.3 Neutralização do metabissulfito de sódio ............................................................................................. 46 13. SANIDADE DE CAMARÕES ............................................................................................................................... 47 13.1 Controles de vetores de enfermidades dentro dos viveiros de criação de camarão ..................... 47 13.2 Principais enfermidades em camarões peneídeos ............................................................................. 50 13.3 Influências do estresse no desempenho do camarão cultivado e o sistema imunológico. ........... 52 13.4 Programa de biossegurança .................................................................................................................. 54 Localização da Fazenda ........................................................................................................................................ 54 Layout do Projeto ................................................................................................................................................... 55 Recirculação .............................................................................................................................................................. 55 Dimensionamento de viveiros e fazendas ................................................................................................................. 56 Compartimentação ................................................................................................................................................... 56 Profundidade dos viveiros ......................................................................................................................................... 57 Desenho dos canais ................................................................................................................................................... 57 Filtração .................................................................................................................................................................... 57 Controle do acesso a fazenda .............................................................................................................................. 58 Controle da aquisição e armazenamento de insumos, utensílios e equipamentos. .................................... 59 Alimentos frescos e ração ..................................................................................................................................... 60 Limpeza e sanitização do pessoal, veículos, utensílios e equipamentos. ..................................................... 60 Limpeza da área de produção .............................................................................................................................. 62 13.5 Controle de patógenos e vetores ........................................................................................................... 63 5 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Rotina de sanitização e biossegurança .............................................................................................................. 63 Exclusão de patógenos da água .......................................................................................................................... 63 Exclusão de patógenos do solo ........................................................................................................................... 65 13.6 Monitoramento da sanidade dos camarões. ........................................................................................ 66 13.7 Desinfecção de viveiros de criação de camarão. ................................................................................ 66 13.8 Densidades de povoamento: .................................................................................................................. 67 13.9 Uso de probióticos ................................................................................................................................... 68 13.10 Uso de antibióticos para tratamento de enfermidades do camarão cultivado ........................... 68 13.11 Análise presuntiva ............................................................................................................................... 69 UNIDADE III – MALACOCULTURA ................................................................................................................................. 72 14. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS MOLUSCOS ................................................................................................... 72 14.1 Anatomia externa: .................................................................................................................................... 73 14.2 Anatomia interna: ..................................................................................................................................... 74 15. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CULTIVO DE MOLUSCOS NO MUNDO E NO BRASIL .............................................. 76 16. CULTIVO DE MEXILHÕES E OSTRAS ................................................................................................................. 77 16.1 Ciclo de reprodução ................................................................................................................................. 80 16.2 Desenvolvimento larval ........................................................................................................................... 80 17. FIXAÇÃO DAS LARVAS ...................................................................................................................................... 81 18. SELEÇÃO DE LOCAIS PARA CULTIVO................................................................................................................ 81 19. ESTRUTURAS DE APOIO ................................................................................................................................... 82 20. COLETA DE SEMENTES .................................................................................................................................... 82 20.1 Obtenção de sementes em laboratório ................................................................................................. 82 20.2 Metodologia coleta nas estruturas de cultivo (repicagem) ................................................................. 83 20.3 Coletas no ambiente natural ................................................................................................................... 83 20.4 Coletores artificiais ................................................................................................................................... 83 21. TIPOS DE CULTIVO ........................................................................................................................................... 85 22. MANEJO DE CULTIVO ....................................................................................................................................... 87 23. PROCEDIMENTO PARA AS COLHEITAS ............................................................................................................................. 92 BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................................................................95 ANEXO I – CULTIVO DE CAMARÕES COM A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA DE BIOFLOCOS ................................................. 97 ANEXO II – PROCEDIMENTOS PARA AQUISIÇÃO DE PÓS-LARVAS ................................................................................ 98 ANEXO III - BACTÈRIAS USADAS COMO PROBIÒTICOS ............................................................................................... 100 6 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura UNIDADE I – ALGICULTURA 1. Considerações gerais sobre o cultivo de algas Quando se fala em cultivar algas, algumas perguntas costumam surgir. Porque gastar tempo e trabalho para cultivar algas? Quem vai comprar isto? Para que servem as algas? Na verdade, o interesse em cultivar as algas vem do valor que existe nos produtos extraídos delas. Quando alguém toma uma cerveja - há produto de alga para manter a espuma firme por mais tempo; quando alguém toma sorvete industrializado - há produto de alga para evitar que a água forme pedrinhas de gelo, deixando o sorvete todo macio; quando alguém toma um remédio em cápsulas - há produto de alga na parede daquela cápsula; quando um dentista faz uma prótese dentária, ele usa produto de alga na massa para moldar os dentes. Em alguns lugares do mundo, como por exemplo, no Japão, é comum comer algas em saladas, sopas e outros pratos. Portanto, muita gente usa, compra e vende produtos de algas e por isto, muita gente compra algas para fabricar estes produtos. Isto significa que a alga tem valor comercial. O Brasil tem algumas fábricas que extraem estes produtos, mas como as algas que existem naturalmente não são suficientes, estas fá- bricas compram algas do exterior. Além disso, tirar as algas dos recifes para vender, acaba com o crescimento natural em pouco tempo. Elas não costumam voltar a crescer no mesmo lugar. Isto prejudica não só quem tira as algas, mas também animais, como os peixes e lagostas, que precisam das algas sobre os recifes para viver. Mas alguém descobriu que é possível cultivar algas, como uma fazenda, só que no mar. E este cultivo pode ser uma fonte de renda e preserva o ambiente, ajudando a manter outras formas de pesca. O mais importante e o melhor de tudo isto é que as algas ajudam a purificar o ambiente, a água, produzindo o oxigênio que respiramos, sendo conhecida como uma atividade ecologicamente desejável. Quer dizer, boa para a natureza, desde que tomemos alguns cuidados e boa para o ser humano. 7 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Existem algumas maneiras de cultivar algas, em geral todas muito simples. Por esta razão é uma atividade adequada tanto para homens como para mulheres, de todas as idades. O objetivo dos métodos de cultivo é atingir um rápido crescimento e uma alta produção. Isto é, produzir muitas algas em pouco tempo. Existe um método de cultivo próprio para cada lugar e cada época, por isso deve-se encontrar o melhor local, o melhor método para aquele local e suas variações para cada época. Mas é bom sempre lembrar que, qualquer que seja a situação, o mais importante é o comportamento do produtor, que, com interesse, prazer e zelo, sempre achará os melhores procedimentos para o seu cultivo. Um famoso pesquisador, Maxwell Doty afirmou que “o melhor fertilizante para fazer crescer bem as algas é a sombra do produtor.” Espécie cultivada As algas, também chamadas de sargasso, cisco, ou limo, são plantas muito simples que geralmente crescem dentro d’água, e não apresentam folhas, raízes, frutos ou flores. O seu corpo é formado por um apressório, que serve apenas para prender a planta, e todo o resto é chamado de talo que serve para tudo: crescer, absorver nutrientes, água e luz, e também reproduzir. O talo pode ter várias formas: cilíndrico como um macarrão, achatado como uma fita, achatado e largo como uma folha, com muitas ramificações formando um grande emaranhado ou até sem ramificações. O importante é que no cultivo qualquer pedaço do talo é capaz de crescer e viver normalmente se for preso, amarrado a alguma estrutura, pois normalmente o talo não forma um novo apressório. Como qualquer outra planta, as algas precisam de luz do sol, água e nutrientes. Além disso é preciso ter cuidado para que outras plantas indesejáveis não cresçam junto atrapalhando o crescimento do cultivo. Deve-se cuidar também para que animais não comam ou façam “casa” sobre as plantas do cultivo. Por isso, plantar algas se parece com plantar e cuidar de qualquer outro tipo de roça, a diferença é que é dentro d’água. 8 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Ciclo de vida As algas vermelhas crescem normalmente no mar ou nos manguezais, sempre presas a alguma superfície. Quando vemos uma alga vermelha solta na água ela já morreu ou certamente irá morrer. Existem plantas masculinas e plantas femininas, as quais geralmente têm forma semelhante. Do cruzamento destas plantas surgem plantas microscópicas que vivem como parasitas sobre as plantas-mãe, formando pequenas “verrugas” escuras sobre as plantas femininas – os cistocarpos. Estes cistocarpos produzem esporos que germinam e dão origem a plantas tetrasporofíticas. Estas plantas tetrasporofíticas também produzem esporos que germinam e dão origem a novas plantas femininas e masculinas. Para o cultivo é interessante usar plantas inférteis, que só crescem, não gastando energia com a reprodução. 2. Principais espécies cultivadas Chondrus cispus; Hypnea musciformis; 9 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Glacilaria chilensis: Gracilaria parvispora: Laminaria japonica: Sarcothalia crispata: 10 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Mazzaella laminarioides: Gigartina skottsbergii: Chondrachanthus chamissoi Gelidium lingulatum: 11 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Gracilaria conferta: 3. Formas de cultivo e influencias no ambiente 3.1 Seleção do local Para escolher o local de cultivo deve-se pensar em aspectos técnicos, para que seja bem produtivo, e nos aspectos legais, para que o cultivo tenha uma boa convivência com o ambiente, com a comunidade local e com os órgãos públicos que regulam esta atividade. O principal ponto é oferecer às plantas condições para que elas se desenvolvam bem, e ao mesmo tempo verificar também boas condições de trabalho, para que este seja realizado com disposição e satisfação. Tecnicamente existem vários parâmetros que devem ser observados para indicar a adequação do local ao cultivo de algas. Os mais importantes são os seguintes: 3.2 Correntes Esta é uma característica importante que afeta o cultivo de várias formas. Com relação às plantas, é bom que haja correnteza, pois é o movimento da água que trará os nutrientes e movimentará as plantas fazendo com que elas tomem sol por todo o talo, além de fazer com que se limpem. Um local sem correnteza é completamente inadequado. No entanto, uma correnteza muito forte impedirá que as plantas cresçam muito, fazendo com que elas se quebrem ao atingir um determinado tamanho, obrigando a fazer colheitas mais frequentes. Outro ponto importante é que uma forte correnteza dificulta muito o trabalho que é realizado dentro d’água, além de danificar mais rapidamente os equipamentos e estruturas, obrigando a uma manutenção mais intensa e maior reposição de materiais.12 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 3.3 Salinidade Esse é um parâmetro necessário para o crescimento das algas, pois informa a quantidade de sal contida na água. Para a Gracilaria cornea quanto mais alta a salinidade melhor, ou seja, quanto mais afastado de rios e estuários melhor para o seu cultivo. Outra característica importante é a variação da salinidade: deve ser pequena entre a maré alta e a baixa. Para medir a salinidade pode-se usar salinômetros eletrônicos, refratômetro que é um aparelho óptico, ou ainda densímetro que é muito barato e pode ser comprado em lojas de material para aquários. 3.4 Temperatura No nordeste, não há problemas com temperaturas baixas, que impediriam o crescimento da Gracilaria ou mesmo a matariam. Mas deve-se ter cuidado com locais onde a temperatura sobe demais. Pequenas baías rasas ou áreas abrigadas por recifes podem esquentar demais na baixa-mar durante o dia. Em geral a água deverá estar entre 22ºC e 32ºC, ou seja, uma água com temperatura agradável a qualquer pessoa. A temperatura pode ser medida por termômetros para aquário, flutuantes e baratos, encontrados em lojas especializadas. 3.5 Presença de bancos de algas no local A observação de que no local já crescem algas como Acanthophora, Hypnea, Gracilaria, Dictyota, ou o capim agulha Halodule é uma boa indicação de que o local é favorável para o cultivo da Gracilaria cornea. Isso revela que o local tem todos os parâmetros favoráveis. Para identificar as algas citadas pode-se usar alguns manuais técnicos disponíveis para o local. Outro meio é retirar algumas das plantas que crescem no local, colocá-las inteiras (com talo e apressório) e abertas para secar entre duas folhas de papel de jornal, por exemplo, e enviar para o serviço de extensão identificar. 3.6 Tipo de solo marinho Essencial em vários aspectos do cultivo: indica, de uma forma geral, o tipo de água e correnteza que passa pelo local, e vai determinar o tipo de estrutura para fixação do cultivo. Os fundos de areia fina são os ideais. 13 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Os fundos de lama são muito bons para fixar o cultivo mas indicam que haverá grande deposição de partículas finas sobre as algas, o que reduzirá o crescimento, favorecerá o surgimento de epífitas. Fundos de areia grossa indicam uma água muito boa para o cultivo, mas certamente haverá um pouco mais de dificuldade para a fixação. Os fundos de pedra apresentam problemas na fixação do cultivo, além de haver uma grande possibilidade de ocorrerem animais herbívoros. 3.7 Profundidade Quanto maior a profundidade, maior a dificuldade de se trabalhar, especialmente na instalação e manutenção das estruturas de cultivo, obrigando a fazer mergulhos profundos para estes trabalhos. No entanto, a profundidade na baixa-mar não pode ser tão pequena que as algas fiquem fora d'água, nem mesmo em algumas marés. 3.8 Acesso ao local Deve ser fácil para o produtor chegar ao cultivo, seja para trabalhar no manejo seja para melhor vigiar seus bens. 3.9 Influência de ondas Pequenas ondas, mesmo que quebrem sobre o cultivo, atrapalham pouco. A área não deve ser exposta a grande arrebentação ou sofrer intenso batimento durante as ressacas. Estas turbulências, além de danificarem as estruturas e as algas, podem tornar as condições de trabalho muito arriscadas, especialmente nos momentos mais críticos do cultivo. 4. Estruturas de cultivo As estruturas utilizadas para o cultivo são basicamente os long-lines e balsas com redes tubulares. 14 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Os long-lines, geralmente são estruturas formadas por apenas uma corda ou por várias cordas fixas numa mesma estrutura. No caso de long-lines de múltiplas cordas, dois cabos mestres e fixos nas extremidades por um sistema de ancoragem, que pode ser estacas, poitas, pedras, dentre outras. Os dois cabos mestres devem ter o comprimento duas vezes maior do que a profundidade durante a maré cheia. Em seguida deve-se colocar entre cada conjunto de cabos mestres tubos de PVC com 25 milímetros de diâmetro e 3 metros de comprimento e que devem ficar distantes um dos outro, a cada 4 metros. A distância entre cada tubo de PVC é chamado de quadro. Cada quadro será composto por 12 long-lines de 04 metros. Os quadros devem ser construídos fora da água e somente levados para o mar na ocasião de sua fixação aos cabos mestres. Antes de plantar as mudas de algas toda a estrutura deve ficar em observação por alguns dias para se certificar que está bem fixada e na posição correta em relação à superfície da água. É muito importante a utilização de bóias de sinalização para identificar os locais onde as estruturas estão instaladas, tanto para que o produtor possa chegar ao local com facilidade, bem como, para alertar as embarcações que trafegam pela região. Outra estrutura que pode ser utilizada são as balsas de cultivo e que utilizam redes tubulares no lugar dos long-lines. 15 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Essas balsas de cultivo foram desenvolvidas pela empresa BIOMAR SETE ONDAS, do Estado do Rio de Janeiro, e que produz algas marinhas para extração de carragenana. Cada balsa ocupará uma área individual de 150m², com distância aproximada de 3-4m uma das outras, compostas por 10 módulos (3x5m cada) e sustentados por tubos de PVC com as extremidades fechadas. Os módulos serão conectados uns aos outros, por cabos de polipropileno onde serão colocadas em torno de 220 (duzentos e vinte) mudas em cada. Todo o conjunto será fixado ao fundo por uma garatéia e uma âncora, fixadas nas extremidades das estruturas. Todo o sistema de balsas de cultivo se assemelha as estruturas de long-lines, inclusive o sistema de ancoragem e sinalização. Os critérios legais para a solicitação do uso de águas da União, também seguem os mesmos preceitos. A única diferença é que no sistema de balsas flutuantes os long-lines, são substituídos por redes tubulares, onde as mudas de algas serão plantadas. 5. Manejo de cultivo Finalizada a confecção e a instalação das estruturas de cultivo no local escolhido, tem início o plantio das mudas de algas nas estruturas. Essas mudas devem proceder de um banco de mudas criados no próprio local de cultivo, com o objetivo de não retirar as mudas de algas dos bancos naturais, evitando assim sua depredação, bem como pelo fato de na região alvo do cultivo não haver mudas de algas disponíveis. Provavelmente o produtor, para formar um banco de mudas de algas, necessitará extrair as matrizes das algas disponíveis na região. Com esse propósito recomendamos 16 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura que as matrizes sejam adquiridas de algas “arribadas”, ou seja, algas que são arrancadas do banco natural pela ação das fortes correntes presentes na região. O fenômeno da “arribada” é comum e natural, o que não traz prejuízos para os bancos naturais e para o meio ambiente local. Recomendamos, ainda, que ao enviar a documentação para a solicitação de cessão de águas da União, junto ao MPA, o produtor envie um plano de formação e manutenção de bancos de mudas para dar suporte ao cultivo. A formação de um banco de mudas é bastante simples, basta que o produtor reserve algumas estruturas de cultivo pra servir de banco de mudas. Essas estruturas não serviram para a comercialização e à medida que as algas forem crescendo, as mudas são retiradas e implantadas nas estruturas de produção. Porém é importante que o produtor faça o cálculo correto de quantasestruturas são necessárias para dar suporte a todas as outras estruturas de produção. Deve haver uma sincronia perfeita entre o crescimento das plantas no banco de mudas e o tempo do ciclo de produção. Com esse cuidado e planejamento, o produtor evita que as mudas cresçam demasiadamente, enquanto as estruturas de produção ainda estejam em operação. Da mesma forma as estruturas de produção, após a colheita, não devem ficar “paradas” por falta de mudas para novo plantio. Recomendamos que os produtores busquem orientações para elaborar o plano de produção de mudas, junto a um profissional especializado. 5.1 Preparação das mudas para plantio Obtenção de matrizes Escolhem-se plantas perfeitamente sadias, inférteis, e livres de epífitas e doenças. As matrizes podem ser obtidas nos recifes ou entre as plantas de outro cultivo. No caso de se obter as matrizes nos recifes, deve-se ter o cuidado de usar uma faca amolada, canivete ou tesoura, cortando as plantas logo acima do 17 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura apressório. Esse procedimento irá garantir plantas menos machucadas por não terem sido arrancadas, permitindo que a planta nativa torne a crescer, não afetando a vegetação dos recifes. Preparação de mudas Cada matriz, dependendo do seu tamanho, dará origem a muitas mudas. Com uma faca ou canivete corta-se a matriz em pequenos pedaços de aproximadamente 1 grama. Estes pedaços terão uns 5 centímetros e serão chamados de mudas. As mudas devem ser bem ramificadas, limpas e sadias. Retiram-se quaisquer epífitas com a mão, tomando cuidado para não ferir ou machucar a muda. Estas mudas são amarradas com pedaços de fitilho. É preciso cortar pedaços de 20 centímetros e rasgar o fitilho ao comprido, separando-o em vários pedaços de 20 centímetros, bem finos. Com uma ponta deste fitilho amarra-se com um nó cego cada muda. É muito importante que este nó não aperte a muda, pois isso irá quebrar a planta, mas também não pode ficar tão folgado que deixe a muda sair. O ideal é amarrar o fitilho entre ramificações da muda. Amarração das mudas Deve-se preparar os long-lines com cabos de polipropileno torcido de 3 milímetros, cortando pedaços de exatamente 4,5 metros e queimando as pontas para que não desfiem. A 25 centímetros de cada ponta dar um nó que seja pouco comum, como o nó de frade, por exemplo, para marcar a extensão de 4 metros que iremos plantar e as partes finais que serão usadas para amarrar nos quadros do MLL. Estes cabos devem ser amarrados, não esticados, entre dois suportes a cerca de 1 metro de altura, para trabalhar confortavelmente ao longo de sua extensão. Amarra- se então o fitilho das mudas ao cabo do long-line, destorcendo rapidamente o cabo e passando o fitilho por dentro dele e terminando com um nó tipo volta de fiel. As mudas ficam bem próximas ao cabo do long-line, não mais de 1 centímetro de fitilho entre a muda e o long-line. De uma muda para outra se deixa 2,5 centímetros, que corresponde a 160 mudas por long-line. Todo esse trabalho deve ser feito observando os mesmos cuidados usados para as matrizes e mudas. 18 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Porém em cultivos em regiões do Estado do Ceará, foi observado que o sistema de amarração provoca a perda de mudas devido às correntes e o próprio desgaste do fitilho utilizado. Uma alternativa é a utilização de pequenas redes que normalmente se usa para ensacar frutas. Relatos comprovam que essa metodologia está se mostrando eficiente em cultivo realizado no litoral de Camocim/CE. No caso das redes tubulares, as mudas são colocadas com o auxílio de um cano de PVC, que servirá como guia para que as mudas fiquem na rede de forma ordenada, o que irá contribuir para o seu melhor desenvolvimento. Em seguida o tubo de PVC é retirado e a rede estará pronta para ser instalada nas balsas de cultivo. O produtor deve observar o tamanho ideal das malhas das redes tubulares para evitar que hajam perdas de mudas devido à ação das correntes locais. Uma forma de garantir que não haja perdas de mudas é colocar as mudas nos sacos para frutas e em seguida introduzi-las nas redes tubulares. Essa estratégia é recomendada, principalmente em cultivo de algas da espécie Hypnea musciformis, por se tratar de uma planta com talo bastante fino e que pode ser perder com facilidade no momento que são colocadas na água. 5.2 Fixação das estruturas de cultivo Após a fixação das mudas, tanto nos long-lines quanto nas redes tubulares, às estruturas são devem ser levadas para os locais de cultivo com cuidado para não danificar as mudas. A melhor forma de fazer a fixação das estruturas nos locais de cultivo deve ficar a escolhas do produtor ao da própria comunidade. Apenas recomendamos cuidado com relação à manipulação das mudas para evitar perdas e dos cuidados com os trabalhos para evitar acidentes. 5.3 Manejo de cultivo O manejo deve ter como princípio básico “tratar as plantas com carinho”, para que elas cresçam sem estresse. Isso evitará doenças e outros males, e tornará mais fácil entender e solucionar os problemas. 19 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Para que o produtor possa realizar os procedimentos de manejo é necessário contar com uma embarcação, seja canoa, jangada, bote e até mesmos caiaques. Isso dependerá da distância da costa até o local de cultivo, bem como das condições do mar na região. O manejo passa por quatro etapas: instalação, manutenção, colheita e replantio. As quatro devem ser conduzidas com esmero, pois qualquer problema em uma pode afetar toda a produção. Plantas faltando nos long-lines Se alguma planta se soltar do long-line, deve-se repor uma nova muda no lugar o quanto antes, de forma que a quantidade de plantas por long-line se mantenha sempre igual. Plantas doentes ou com pouca vitalidade Plantas que não estiverem sadias, apresentando coloração esbranquiçada, manchas, ou com poucos ramos e ápices deverão ser removidas, repondo em seu lugar uma nova muda. Epífitas ou incrustações sobre as plantas Manter as plantas sempre limpas, sem outros organismos crescendo sobre elas. Retirar a sujeira, plantas ou animais das mudas, o quanto antes. No caso de sujeiras, que pode ser observado através da formação de uma camada de sedimento sobre as algas cultivadas, o produtor deverá balançar as cordas do long-line, ou a rede tubular, para que essa sujeira solte das plantas. A manutenção de limpeza e retirada de epífitas deve ser realizadas, no mínimo, a cada semana. 5.4 Ataque de animais herbívoros Ficar sempre atento a sinais de que animais estão comendo as plantas. Há três tipos de sinais: 1. As pontas das plantas foram mordidas, podendo-se até perceber pequenas marcas de dentes nas plantas; 2. Ao longo do talo há pequenos sinais de mordidas; 3. Plantas inteiras foram arrancadas. 20 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Dependendo da freqüência e intensidade com que estes ataques ocorrem, este problema pode ser resolvido mudando a profundidade ou distância do fundo ao cultivo, mudando o local de cultivo, ou apenas modificando a época das colheitas. 5.5 Colheita Na colheita, as plantas são cortadas a cerca de 5 centímetros do long-line, com auxílio de tesoura ou faca. Usar uma faca bem amolada e manuseá-la com uma luva que proteja o polegar, pois é onde ela se apoiará para cortar as algas. O material colhido será colocado em cestos ou sacos de ráfia e transportado para onde vai ser secado. Separar uma parte com cuidado para ser usada como mudas de reposição. O material que fica no long-line deve serrapidamente limpo de epífitas, pois ficará como mudas para continuar crescendo e produzindo. É necessário bastante cuidado com o que fica no long-line, mantendo somente plantas sadias, bem ramificadas e inférteis. O trabalho precisa ser feito de forma contínua: primeiro corta-se, depois se faz uma rápida limpeza removendo com as mãos as epífitas e outras incrustações, e repõem-se mudas onde houver necessidade. Para isso são usadas as bóias de serviço, como na instalação e manutenção, não sendo necessário retirar os long-lines do quadro para a colheita. O serviço pode ser feito de cima da canoa ou jangada. Assim, os long-lines serão colhidos e já estarão instalados para continuar a produção. Uma questão importante no cultivo é quando colher? De quanto em quanto tempo? A resposta dependerá do local e da época do ano. É preciso avaliar como as plantas estão crescendo, até que tamanho elas crescem rapidamente, e como está o crescimento de epífitas. Todas estas observações servem para conseguir, com o menor trabalho, a melhor produção durante um longo tempo. Como uma base, pode-se pensar em uma colheita a cada dois meses. Com o tempo o produtor vai adquirir experiência para determinar a melhor frequência, para cada época do ano. É bom lembrar que a colheita é um processo contínuo, em cada dia de trabalho, com a manutenção, alguns quadros são colhidos. 21 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura UNIDADE II – CARCINICULTURA Procedimentos para aquisição de pós-larvas – Anexo II 6. Recepção, aclimatação e tratamento térmico das pós-larvas na fazenda Depois da aprovação prevista na avaliação preliminar, as PLs necessitam ser aclimatadas às novas condições dos berçários intensivos no caso de povoamento indireto, ou dos viveiros de engorda definitivo no caso de povoamento direto. OBS: Se o laboratório fornecedor já tiver realizado este procedimento não é necessário repeti-lo na fazenda. Uma série de precauções, desde a chegada das PL´s até o povoamento nos tanques, deve ser adotada para minimizar o estresse advindo do manuseio das larvas na execução deste procedimento. Procedimentos operacionais para recepção e aclimatação de pós-larvas Os procedimentos operacionais concernentes à recepção da pls deverão obedecer aos seguintes passos: • Montagem da estrutura de recepção das PLs com antecedência de 6 horas, para evitar o desperdício de tempo na hora da chegada das pós-larvas; • O condutor do veículo e seus auxiliares não devem entrar no Setor de Berçários sem que sejam efetuados os procedimentos de higienização. O condutor deverá entregar o Check-List do laboratório ao funcionário responsável pelo berçário, ainda no pátio de desembarque; • Após a entrega, as pós-larvas só poderão ser manuseadas pelos funcionários do Setor de Berçário, que obedecerão às normas de biossegurança aplicadas a essa unidade operacional; • Toda a área operacional do Berçário Intensivo, bem como os aparelhos e equipamentos utilizados, devem estar devidamente higienizados para eliminar a possibilidade de contaminação; • Devem ser utilizadas soluções de hipoclorito de cálcio, ou iodo, a 200ppm (308g de HTH a 65% / m3). As caixas de aclimatação podem ser desinfetadas com solução de ácido muriático a 10%, e depois enxaguadas três vezes consecutivas com água filtrada; 22 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura • Os parâmetros salinidade, temperatura, pH, alcalinidade e dureza da água de transporte deverão estar compatibilizados com os da água dos tanques. Caso existam diferenças, a aclimatação deverá ser iniciada pelo parâmetro que apresentar a maior diferença; • Durante a aclimatação, as PLs deverão ser alimentadas com náuplios de Artemia na razão de 40 náuplios/PL/hora; • Os náuplios de Artemia deverão ser certificados em relação à ausência de enfermidades de importância econômica, principalmente aquelas de notificação obrigatória para a OIE; • Os náuplios de Artemia deverão ser descapsulados antes de serem disponibilizados para uso nas fazendas; • As unidades de descapsulação e incubação de cistos de Artemia deverão ser escovadas para remoção de toda sujidade, e depois preenchidas até o topo com água clorada a 200ppm (308g de hipoclorito a 65% / m3). Essa desinfecção deverá continuar por 2 dias seguidos; • A parte externa das unidades deverá ser pulverizada com água clorada a 1.600ppm (2,461g de HTH a 65% / Litro); • A neutralização do cloro poderá ser conduzida com aplicação de Tiosulfato de Sódio na proporção de 2.78g do produto para cada grama de cloro ativo utilizado no procedimento; • Após o tratamento de desinfecção, as incubadoras deverão ser esvaziadas e lavadas com água doce tratada e expostas à secagem por 3 dias; • As embalagens lacradas de cistos de Artemia, bem como de outros produtos de uso comum no setor de berçários intensivos, devem ter sua superfície desinfetada com cloro (200ppm = 307gr de cloro a 65%) ou Iodóforo (200 ppm = 2ml/Litro). • As embalagens contendo os náuplios de Artemia, fornecidas pelo laboratório, devem conter informação referente à quantidade de cada embalagem, para que seja possível o cálculo da oferta deste alimento em função do tempo previsto para a aclimatação. Os náuplios deverão ser mantidos em depósito adequado e com aeração; • O monitoramento dos parâmetros de qualidade da água (temperatura, pH, salinidade, oxigênio dissolvido, alcalinidade e dureza) deverá ser monitorado para assegurar um ambiente confortável durante o transporte das larvas; 23 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura • O povoamento dos tanques berçários ou dos viveiros de engorda só deverá ocorrer quando os parâmetros da qualidade da água (principalmente temperatura, pH e salinidade) estiverem compatibilizados; • É importante monitorar a alcalinidade da água de cultivo para que, se necessárias, sejam aplicadas as devidas correções. A cal hidratada (CaOH) poderá ser utilizada na proporção de 100g/m3 para elevar a alcalinidade da água em 11,8 mg/L de CaCO3; • O equilíbrio iônico da água deverá ser corrigido para os valores observados no item 5.4.3 do Módulo III deste documento. 7. Cultivo de pós-larvas em berçários primários e secundários O manejo da fazenda com a utilização de berçários intensivos e raceways oferece maior segurança em relação ao índice de sobrevivência. Isso devido ao maior controle da saúde das larvas pela eliminação de patógenos e predadores, pela melhor qualidade dos parâmetros físico-químicos e pelo melhor aproveitamento no consumo de ração. 7.1 Tratamento da água A água bombeada para os tanques berçários primários e secundários deverá passar por um processo de tratamento que inclui filtração em bolsa-bag com abertura de malha entre 150 a 200 micras para os berçários primários, e 250 micras para os secundários. A bolsa de filtragem deverá ser colocada estrategicamente na saída do cano de abastecimento dos tanques. Na presença de surtos de enfermidade, um segundo tratamento com processo de desinfecção deverá ser adotado. Nesse caso, a recomendação é desinfetar a água com o uso de produtos específicos e em concentrações. Para que esse propósito seja alcançado é necessário um reservatório que tenha a capacidade de armazenar água tratada em quantidade suficiente para suprir a demanda exigida pelos berçários. A partir do reservatório a água tratada deverá ser bombeada para os tanques berçários passando pelas filtragens específicas em cada caso. Para melhor controle da qualidade da água, os tanques berçários e secundários devem possuir o fundo revestido. Esse tipo de revestimento impedirá o excesso deprodução de tóxicos metabólicos advindos da decomposição dos sedimentos infiltrados no solo, muito comuns nos viveiros desprotegidos. 24 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 7.1.1 Tratamento Químico da Água com Uso de Cloro: NOTA: Adaptado da OIE - Manual of Diagnostics Tests for Aquatic Animals / 2009 – Chapter 1.1.3/ Methods for Disinfection of Aquaculture Establishments. Aplicar 30ppm de cloro ativo (46g de hipoclorito a 65% / m3 ) e deixar agir por um período mínimo de 48h00min; Rotineiramente a aeração contínua é suficiente para volatilizar o cloro aplicado 48h00min depois definalizado o tratamento. Todavia, a neutralização alternativa do cloro residual poderá ser levada a cabo com uso de Tiosulfato de Sódio na razão de 2,85g do produto para cada grama de cloro ativo residual. OBS: O pessoal envolvido com a operação deverá usar EPIs apropriados. 7.2 Limpeza e Assepsia nas Instalações dos Berçários Intensivos: O termo higiene compreende os procedimentos de limpeza e de sanitização, que são etapas distintas e complementares, com os seguintes significados: Limpeza: consiste na remoção física das sujidades. Sanitização: consiste na aplicação de produtos que reduzem ou exterminam microrganismos potencialmente patógenos das superfícies onde são aplicados. A limpeza dos tanques berçários deverá ser realizada imediatamente após a última despesca de transferência para os viveiros de engorda. A sanitização deverá ser realizada por pessoal treinado e munido com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Os procedimentos devem ser realizados conforme os passos descritos observados na Figura abaixo: 25 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 7.3 Preparação dos tanques berçários intensivos 7.3.1 Instalação das mangueiras de aeração: A forma mais recomendada é a instalação suspensa pela facilidade do método e por permitira sifonagem do fundo durante o ciclo de cultivo. Mangueiras suspensas também facilitam sua remoção para a sanitização e o melhor desempenho dos sopradores. A distribuição de difusores de ar no tanque berçário para atender um povoamento de até 35 PLs/L, deve ficar na razão de 1 difusor para cada metro quadrado de fundo de tanque de cultivo. 7.3.2 Instalação dos air-lifts A montagem de cada unidade deverá assegurar um distanciamento de 01 metro linear no sentido da circunferência total do tanque. Cada air-lift deverá manter um ângulo de 45° em relação à parede do tanque e ser posicionado no sentido anti-horário. Além de proporcionar um movimento de circulação da água no sentido anti-horário, esse equipamento ajudará na homogeneização vertical da coluna da água. 7.3.3 Equilíbrio iônico da água Além dos requisitos de salinidade, de alcalinidade e de dureza, é importante o monitoramento da constituição iônica da água, que pode sofrer alterações significativas por ocasião de fortes chuvas e afetar a saúde do camarão cultivado. Os resultados de cultivos, 26 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura em recentes pesquisas, têm demonstrado que a composição iônica da água exerce influência direta no crescimento e na sobrevivência final. No processo de osmorregulação, os íons mais importantes são os cátions Sódio (Na+ ), Cálcio (Ca2+), Potássio (K+1 ), e Magnésio (Mg2+), e os ânions Cloretos (Cl- ), Carbonatos e Bicarbonatos (HCO3- ), e Sulfatos (SO4 - ). Atualmente existem duas formas de correção da composição iônica da água. A mais comum é a adição de sais minerais na forma de fertilizantes químicos ou orgânicos. A outra forma, ainda em fase de estudos, mas com resultados promissores, é a adição de suplementos desses íons na dieta alimentícia. Para se determinar as concentrações recomendáveis para os íons da água de cultivo, o procedimento correto consiste em multiplicar a salinidade (em ‰) da água de cultivo pelo fator do íon desejado. ÍON FATOR* Cálcio 11,6 Magnésio 39,1 Potássio 10,7 Sódio 304,5 Cloretos 551 Sulfatos 78,3 Ex.: Para uma água de salinidade de 1,5‰, a concentração de Potássio desejada deve ser de 10,7 (fator) x 1,5 (salinidade), que é igual a 16,5mg/L. Se a água apresentar níveis de potássio inferior a 16,5mg/L, deve-se proceder com a correção deste parâmetro e assim, sucessivamente, com os outros íons acima mencionados. Na Tabela não consta o íon bicarbonato, mas é sabido que os camarões encontram dificuldade para realizar a muda se a alcalinidade total for menor que 50mg/L de CaCO3, o que corresponde a 61mg/L de bicarbonato. Por esta razão, recomenda-se manter sempre a alcalinidade total acima 80mg/L de CaCO3 para garantir os níveis indicados deste parâmetro. Tabela 07 27 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura Outra observação importante diz respeito à relação entre o Cálcio e o Magnésio (Ca:Mg) na água do viveiro, que no caso da água do mar é de 1:1,34. O desequilíbrio entre esses dois elementos tem sido apontado como causa de outro problema que afeta a saúde do camarão cultivado, a câimbra muscular. 7.3.4 Abastecimento e povoamento As PLs deverão ser estocadas logo após o tratamento da água seguido da fertilização para o desenvolvimento do plâncton. A ideia geral é não deixar a água estocada por período desnecessário e assim evitar riscos de contaminação. 7.3.5 Calagem e fertilização Uma boa produtividade primária, controle do pH e da alcalinidade, será alcançada com o uso de um consistente programa de manejo. A Tabela 07 deverá ser usada como meta para que se obtenha um ambiente propício à produção do alimento natural e confortável para as PL’s com vistas à minimização do estresse. Fertilização orgânica: utilizar 1Kg de esterco curtido e bem seco ou de cama de frango peneirada para cada 28.000 L de água, a cada 15 dias. Fertilização química: Dissolver 60g de uréia, 30g de superfosfato triplo, 40mg de cloreto de ferro e 20mg de silicato de sódio para cada 1.000 L de água contida no pré- berçário. 7.3.6 Período de cultivo É importante manter o cultivo nos Berçários Intensivos por um período entre 10 e 15 dias. No transcorrer do cultivo, a saúde dos animais deverá ser monitorada diariamente com análises visuais e, periodicamente, mediante avaliações microscópicas e análises presuntivas. 7.3.7 Controle da alimentação O fornecimento de uma dieta balanceada é uma das principais estratégias para a produção de animais saudáveis, especialmente pela presença de nutrientes que são importantes para completar o desenvolvimento do sistema imunológico das PLs, antes do povoamento do viveiro de engorda a que se destinam. 28 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 7.3.8 Qualidade da ração A ração utilizada na alimentação das pós-larvas de camarão na fase inicial deverá atender os requisitos nutricionais que atendam o bom desempenho zootécnico durante esta fase de cultivo. A Tabela 08 servirá de orientação para esse acompanhamento 7.3.9 Uso de alimentos frescos O alimento fresco em tanques berçários deverá ser evitado. A biomassa de Artemia deverá ser substituída por alimento seco especialmente preparado para uso exclusivo nesse setor. As dietas secas devem ser ofertadas a cada duas horas ou de acordo com as recomendações técnicas do fornecedor. Biomassa de Artemia certificada contra enfermidades por meio do uso de PCR poderá ser utilizada sem restrições nas unidades de Berçários Intensivos e Raceways. 29 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 7.4 Monitoramento dos parâmetrosfísico-químicos Os parâmetros físico-químicos deverão ser monitorados continuamente e, em caso necessário, devem ser corrigidos com precisão. Os principais parâmetros sujeitos ao monitoramento rigoroso são: Amônia Tóxica (NH3), Nitrito (NO2), H2S, Alcalinidade, pH e Oxigênio Dissolvido. PARÂMETRO FREQUÊNCIA HORÁRIOS ONDE MEDIR FAIXA IDEAL (LIMITES) Temperatura Diária 05h00min, 11h00min, 16h00min, 20h00min; 23h00min Superfície e Fundo 26 a 32ºC (18 a 34ºC) SALINIDADE Diária 13h00min Superfície e Fundo 15 a 25 ‰. (0,5 a 60 ‰) O2D Diária 05h00min, 11h00min, 16h00min, 20h00min; 02h00min Superfície e Fundo > 5mg/L (3,7 a 8mg/L) Alcalinidade Semanal 07h00min Meia água Água doce >80mg/L de CaCO3. Água Salgada > 120mg/L de CaCO3 Dureza total Semanal 07h00min Meia água Água doce > 100mg/L. Água Salgada > 1000mg/L Transparência Diária 13h00min Iniciar na superfície 35 a 45cm Amônia (NH3) Semanal 17h00min Fundo < 0,12mg/L Nitrito (NO2) Semanal 17h00min Fundo < 0,1mg/L Silicatos Semanal 07h00min Meia água >1mg/L H2S Semanal 17h00min Fundo >0,001mg/L Relação Ca2+ : Mg2+ : K+ Semanal 06h00min Meia água 1 : 3 : 1 30 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 7.5 Ações emergenciais em caso de enfermidades de importância econômica Os tanques berçários positivos para enfermidade específica de importância econômica deverão ser desinfetados com aplicação de cloro na razão de 100ppm (154g Cloro a 65% / m3 ); Após a neutralização do cloro, o tanque deverá ser esvaziado. As pós-larvas mortas deverão ser coletadas e incineradas ou, alternativamente, descartadas em vala sanitária com cobertura de óxido de cálcio na razão de 1:1; Após o descarte da água, o tanque berçário deverá ser enxaguado com água corrente tratada e submetido à secagem por 2 dias. Na presença de sintomas evidentes de enfermidades, amostras de pós-larvas deverão ser coletadas em triplicata, seguindo as seguintes recomendações: Três amostras deverão ser fixadas em Solução de Davidson por 24 horas e depois transferidas para álcool a 70%, com vistas à análise laboratorial de Histopatologia; Três amostras deverão ser fixadas em álcool a 95% para análise de PCR. Duas amostras (fixadas em álcool e Davidson) deverão ser enviadas ao Laboratório para análise de PCR e Histopatologia; Outras duas amostras (fixadas em álcool e Davidson) deverão ser enviadas ao Laboratório fornecedor para confirmação da presença da enfermidade e eventual ressarcimento; As outras duas amostras (álcool e Davidson) deverão ser mantidas no Berçário Intensivo como contraprova. 8. Cultivo em viveiros de engorda Preparação de viveiros de engorda de camarões. 8.1 Monitoramento da matéria orgânica e do pH no solo dos viveiros A matéria orgânica presente no solo de viveiros de cultivo de camarão é de especial importância por influenciar diretamente a qualidade da água e a saúde dos camarões confinados. A oxidação da matéria orgânica causa depleção do oxigênio dissolvido na coluna da água provocando estresse e mortalidade. Ademais é na matéria orgânica onde se encontra uma comunidade de microrganismos que são potencialmente patógenos aos 31 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura camarões, como é o caso das bactérias do gênero Víbrio. Várias espécies desse grupo são patógenos oportunistas do camarão cultivado. 8.2. Avaliação do Perfil do Solo: O estudo do perfil do solo dos viveiros da fazenda é fundamental para determinar a profundidade em que se encontra a infiltração da matéria orgânica, e assim determinar a profundidade do corte do arado durante o processo de revolvimento do solo. A infiltração da matéria orgânica no solo potencializa problemas com subprodutos de sua decomposição, principalmente o gás sulfuroso (H2S), produzido por bactérias anaeróbicas que atuam em ambientes sem oxigênio. 8.3. Monitoramento e tratamento da Matéria Orgânica no solo de viveiros de produção Para que seja possível um acompanhamento da curva de tendência da matéria orgânica no solo de viveiros, é necessário que as amostras sejam coletadas entre os ciclos de cultivo. A metodologia da coleta para avaliação da matéria orgânica varia de acordo com a sua textura. Abaixo estão discriminados os procedimentos para a coleta considerando as variadas constituições físicas do solo: Solo argiloso: a plasticidade desses solos não permite que a matéria orgânica se aprofunde para a camada abaixo dos primeiros 5 centímetros. Nesses casos, a coleta da amostra deverá ser realizada nessa camada superficial onde se encontra a matéria orgânica de interesse técnico; Solo areno-argiloso: as coletas deverão ser realizadas na camada superficial com espessura entre 5cm e 10cm, ou de conformidade com o conhecimento que se tem do perfil do solo do viveiro; Solo arenoso: a coleta deverá se aprofundar até a camada delimitada pelo estudo do perfil desse tipo de solo. OBS: Em geral, o valor máximo recomendado para o teor de matéria orgânica no solo do viveiro é de 4% (± 20m3 /ha) na primeira camada superficial com espessura de 5 centímetro. Nessa avaliação devem ser consideradas as características físicas do solo e a profundidade em que se encontra infiltrada a matéria orgânica. Ex: Se a matéria orgânica estiver infiltrada até uma profundidade 32 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura de 10 centímetros, o volume de 20m3 /ha encontrado na camada superficial de 5cm somada à camada inferior de mais 5cm dobrará. 8.3.1 fontes de constituição da matéria orgânica Esta tem sua fonte originada no plâncton, adubos orgânicos, restos de ração não consumida e fezes dos camarões e de outros animais presentes no ambiente de cultivo. A matéria orgânica de difícil decomposição é chamada de “refratária” e tem sua fonte em produtos de origem vegetal, ricos em lignina e celulose. Já a de fácil decomposição é chamada de matéria orgânica “lábil”. 8.3.2 tratamento da matéria orgânica A forma moderna para tratamento da matéria orgânica é com o uso contínuo e sistemático de probióticos. Estes são comercializados nas formas de produtos líquidos ou liofilizados (pó), sendo que estes últimos podem ser usados diretamente após simples diluição na água do próprio viveiro, enquanto que os primeiros necessitam de produto base como fonte de carbono para a ativação das bactérias, sendo a melaça o produto comumente utilizado. Existem fórmulas comerciais de probióticos para uso diretamente no solo e outras direcionados para uso na água de cultivo e no alimento. As duas primeiras fórmulas têm o objetivo comum voltado para a redução da matéria orgânica na coluna da água e no solo dos viveiros, enquanto que a fórmula aplicada na ração ocasiona melhora na flora intestinal do sistema digestivo dos camarões, com reflexos positivos no aproveitamento do alimento ingerido e na sua saúde. Para aumentar o grau de eficiência dos probióticos na decomposição da matéria orgânica, recomenda-se realizar os seguintes procedimentos: Avaliar o pH do solo e, se for necessário, corrigir para 7.5±1, para potencializar a capacidade dos decompositores; Fazer a leitura da relação C:N do solo dos viveiros. Caso seja observada alguma deficiência, recomenda-se agregar os componentes necessários para equilibrar a relação C : N para a faixa desejada entre 10 e 14:1. 8.4 Monitoramento e tratamento do pH do solo Metodologia Aplicada para Monitoramento do pH do Solo de Viveiros: 33 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura As amostras deverão ser coletadas a uma profundidade média de 10cme colocadas em sacos plásticos esterilizados, dos quais se retira uma sub- amostra de +/- 100gr; A análise do pH se inicia com a secagem da amostra em estufa com temperatura controlada a 60°C por período de aproximadamente 2 horas, ou tempo suficiente que permita sua completa secagem; As amostras secas deverão ser pulverizadas em peneiras de tela com abertura de malha de 1mm; As amostras pulverizadas deverão ser umedecidas com água destilada na razão de 1:1 (peso x volume), até se obter forma homogenia. Em seguida, a mistura é deixada em repouso por meia hora para que o pH se estabilize; A leitura do pH é realizada com peagâmetro de bancada, e os resultados deverão ser anotados em planilha com a anotação dos dados para cada amostra; Após a leitura de todas as amostras, definir o valor do pH médio pelo cálculo da média aritmética de todas as amostras coletadas. Essas informações poderão servir para fazer um mapeamento do viveiro com ênfase nas diferenças observadas no pH das amostras. Nome comercial Composto Fórmula Efeito neutralizante Calcário calcítico Carbonato de cálcio CaCO3 100% Calcário dolomítico Carbonato de cálcio e magnésio CaCO3.Mg 108% Cal hidratada Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 135% Cal de construção Hidróxido de cálcio e magnésio Ca(OH).Mg(OH ) 151% Cal virgem Óxido de cálcio CaO.MgO 178% Óxido de cálcio Óxido de cálcio e magnésio CaO 208% Tratamento do pH do Solo: A faixa ideal do pH do solo para início de cultivo é estimada entre 7.5 ± 1. A melhor forma para a correção do pH é mediante a aplicação de Óxido de Cálcio Micronizada ou Hidróxido de Cálcio. Esses materiais corretivos são agressivos e necessitam de uso de EPIs especiais durante seu manuseio. Equipamentos agrícolas para aplicação mais eficiente desses produtos estão disponíveis no mercado 34 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 8.5 Povoamentos em viveiros de engorda Fazer o povoamento do viveiro 5 dias depois do tratamento químico. O povoamento deve ser feito sempre nas primeiras horas da manhã para minimizar o estresse das larvas. Antes do povoamento recomenda-se fazer o bioensaio para se assegurar de que o produto usado já foi neutralizado. O bioensaio é feito com o uso de 100 larvas colocadas dentro de uma caixa telada, a qual é fixada no viveiro perto da comporta de drenagem. Após 24 horas se faz a verificação da sobrevivência. Caso haja mortalidades no bioensaio o povoamento deverá ser adiado e novo bioensaio deverá ser realizado. 8.5.1 Bioensaio O bioensaio é uma ferramenta que pode ser utilizada para a avaliação da qualidade ambiental e para checar a sobrevivência no ato do povoamento. No primeiro caso, o bioensaio pode ser aplicado em viveiros recém-construídos para avaliação ambiental antes do primeiro povoamento e, no segundo caso, para verificar a sobrevivência após o povoamento rotineiro. Mediante o uso do bioensaio é possível avaliar o sucesso na operação de povoamento Por meio do Bioensaio é possível avaliar o sucesso do povoamento pela sobrevivência final do teste. Essa avaliação é realizada pela estocagem e observação posterior de quantidade conhecida de pós-larvas de camarões em gaiolas teladas e montadas em parte estratégica do viveiro de engorda. Caso se verifique mortalidade no bioensaio, o povoamento poderá ser recomposto pela adição das pós-larvas necessária para repor a perda observada. » Metodologia para execução do Bioensaio: Colocar 100 PLs na gaiola » Observar a sobrevivência após 24, 48 e 72h00min » Recompor a população perdida caso se faça necessária. As gaiolas utilizadas no Bioensaio poderão ser confeccionadas nas dimensões de 1 x 1 x 1m. Importante: Durante o Bioensaio, as PLs não deverão ser alimentadas.. 35 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 8.5.2 Transporte das PLs do Berçário Intensivo e Raceways para o Viveiro de Engorda: Os equipamentos e utensílios deverão ser higienizados com solução de cloro a 100ppm (153gr de cloro a 65%) previamente ao transporte das PLs; De preferência, a qualidade da água dos berçários deve ser previamente ajustada à qualidade da água dos viveiros de destino, para minimizar o tempo de aclimatação; 9. Alimentação artificial 9.1 Controle da qualidade da ração Em decorrência da importância da ração nos custos de produção de uma carcinicultura sustentável, torna-se imprescindível o monitoramento desse insumo por intermédio de um controle eficiente de qualidade quando da sua recepção na fazenda. A qualidade da ração depende da formulação, da qualidade e inocuidade de seus ingredientes, além de estar intrinsecamente relacionada ao desempenho desses ingredientes em termos da digestibilidade e aceitabilidade por parte da espécie cultivada. 36 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura CONTROLE DE QUALIDADE E ESTOCAGEM DE RAÇÃO 1. Avaliação do prazo de validade e do estado de conservação: Na recepção, a carga de ração deve ser inspecionada quanto à data de fabricação, estabelecida como um máximo de validade de 90 dias, bem como quanto às determinações indicadas nas normativas do MAPA. Uma vez satisfeita essas condições, uma amostra representativa, correspondente a 2% das bolsas, deve ser examinada cuidadosamente com a observação de odor, temperatura, estado de agregação dos peletes, presença ou ausência de bolores, coloração e consistência das partículas. 2. Avaliação do tempo de lixiviação: Essa denominação se refere à solubilização do material hidrossolúvel e à liberação de óleo para a água. A metodologia consiste na coleta de 10 gramas de ração e sua imersão em água limpa, coletada dos viveiros, usando-se um recipiente de 100 ml. As amostras deverão ser observadas a cada 15 minutos e o tempo mínimo para o início desse processo deverá ser de 30 minutos, tempo que permite que os animais se alimentem do produto antes que este possa perder componentes importantes, como vitaminas, minerais, proteínas etc. 3. Hidratação: O processo de hidratação ocorre na absorção de água pelo pelete. Da mesma amostra usada para o teste de lixiviação, deve ser retirada a quantidade para o teste de hidratação. O tempo assumido como ideal para a hidratação é considerado de 30 minutos a um máximo de 2 horas 4. Desintegração A desintegração se inicia após a hidratação total dos peletes. Quantidades das amostras empregadas para os procedimentos anteriormente citados, também são usadas para essa avaliação, e as observações deverão ser realizadas, também, a cada 30 (trinta) minutos. É necessário que o pelete da ração inicie o seu processo de desintegração somente após um tempo mínimo de 3 horas (±½ hora), que corresponde ao intervalo de tempo normalmente necessário para o completo consumo da ração pelo animal. O tempo máximo determinado para a desintegração da ração deverá ser de 6 a 7 horas, caso esteja 37 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura acima desse limite, sua estabilidade estará exagerada e, portanto, o seu consumo poderá estar comprometido. 5. Flutuabilidade: A flutuabilidade se refere à constatação de peletes que flutuam na água. Tal constatação pode indicar perda do alimento ofertado, o que, por sua vez, pode influenciar negativamente a taxa de conversão alimentar com reflexos diretos na qualidade da água e sobre os custos de produção dos empreendimentos. A metodologia envolve a coleta de no mínimo três e até seis amostras aleatórias de 400 (quatrocentas) gramas de ração, retiradas de sacos diferentes e escolhidos aleatoriamente. O teste poderá ser realizadoem aquários com utilização da água dos viveiros. As amostras são atiradas na água e os peletes flutuantes são coletados com auxílio de puçás e contados para que seja estimado o porcentual de peletes que flutuam. Para que o cálculo seja estimado corretamente é necessário que se determine, previamente, o número de peletes por grama ou por 100 (cem) gramas de cada ração utilizada. O resultado ideal para este teste é o percentual nulo; entretanto, admite-se como limite máximo o nível de 0,5%; 6. Presença de finos: A presença de finos na ração é outro elemento importante para o acúmulo de matéria orgânica nos viveiros e a indução de degradação de qualidade de água. Para o cálculo do porcentual de finos são usados dois a três sacos de ração, escolhidos ao acaso, e uma peneira de 1,5 x 1,5m com malha de 1,0 mm. Após a peneiração realizada com movimentos suaves, o pó resultante desse processo deve ser recolhido e pesado, o que permite estimar o porcentual de finos. O limite máximo estabelecido para os finos é de apenas 1,0%. 7. Granulometria O teste de granulometria dos ingredientes é realizado com o objetivo de verificar a uniformidade e a dimensão das partículas formadoras do pelete. É recomendado que as partículas possuam dimensões inferiores a 250µ, uma vez que são importantes na homogeneização e agregação das partículas ao proporcionar maior estabilidade e melhor aproveitamento do alimento por parte dos camarões. Para a realização desse teste, três amostras de 10g deverão ser coletadas de sacos escolhidos aleatoriamente, sendo em seguida maceradas individualmente e visualizadas ao microscópio ou lupa. Além dos 38 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura parâmetros especificados, deverá ser observado se existem outros ingredientes que podem afetar a qualidade do pelete. 8. Presença de corpos estranhos: Podem ser citados como corpos estranhos: grãos de cereais, pedaços de madeira ou outras partículas de ferro, argila, ou peletes de outras rações animais, entre outros. A avaliação de corpos estranhos é feita apenas visualmente com o uso, para coleta das amostras, dos mesmos sacos de ração que serviram para a avaliação de finos. 9. Monitoramento da qualidade nutricional: Além dos controles acima expostos, a ração deve ser monitorada em relação à sua qualidade nutricional para a espécie L. vannamei durante o período de engorda em viveiros. A Tabela 24 servirá de orientação para este acompanhamento. 39 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 10. Estocagem da ração: • A estocagem de ração deverá ser feita em ambiente coberto, ventilado e distante de locais predispostos à umidade do ar e do solo; • Deverão ser adotadas práticas de limpeza e manutenção, assim como um sistema de controle integrado de pragas (CIP); • O estoque de ração deverá ser protegido do contato direto com o solo, com o uso de estrados; • As pilhas estocadas deverão manter uma altura máxima de 10 sacos para evitar danos à integridade física das embalagens e do produto e um distanciamento de 45cm entre os lotes e as paredes laterais do depósito. Esse distanciamento facilitará a circulação de ar e dos operadores; • Programar a estocagem com identificadores de controle dos lotes, fabricantes, data da entrada e tipos de ração em relação ao teor de proteínas, etc.; • A ração deverá ser mantida no estoque por período não superior ao seu prazo de validade; • Adotar método de controle de estoque – O Primeiro que entra é o Primeiro que sai (PEPS), ou o Primeiro que Vence é o Primeiro que Sai (PVPS). 9.2 Arraçoamento de viveiros Fundamental para o controle da qualidade da água no ambiente de cultivo, o uso das Boas Práticas de Manejo na oferta de alimento é uma ferramenta indispensável. No Brasil, a oferta de alimento em comedouros fixos tem se apresentado como a maneira prática e confiável de ajustes na quantidade de ração para os camarões confinados. O cálculo da quantidade de bandejas em função da densidade praticada e as formas de arraçoamento são a seguir apresentado: 9.3 Determinação do numero de bandejas em razão da densidade usada no viveiro 40 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 9.4 Arraçoamento inicial 9.4.1 Método de voleio A ração inicial é ofertada observando-se o comportamento biológico das PLs após o povoamento do viveiro. Na fase de reconhecimento do novo ambiente a que estão submetidas existe uma tendência natural de as pós-larvas se distribuírem pela margem do viveiro na primeira semana após o povoamento, migrando para o centro nas semanas subsequentes, razão pela qual a ração deverá ser distribuída obedecendo às direções da Figura 01: 41 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 9.5 Alimentação em bandejas Depois do período de voleio se inicia o arraçoamento em bandejas e, neste caso, o total da ração referente ao último dia do voleio deverá ser dividido pelo número estipulado de bandejas de acordo com a densidade do povoamento. A substituição da ração inicial pela ração de crescimento deverá ser realizada de forma gradual para evitar a rejeição por parte dos camarões. A quantidade de ração nas bandejas deverá ser ajustada a cada oferta, levando-se em consideração o consumo. Práticas corretas de arraçoamento: Bandejas artesanais: As bandejas de alimentação artesanais devem manter uma velocidade de descida na razão de 8cm/seg. Essa velocidade é suficiente para evitar o transbordo da ração durante a descida e oconsequente desperdício com acúmulo de matéria orgânica na área operacional da bandeja; Para controlar a velocidade da descida, uma boia colocada na haste da bandeja é uma alternativa para controlar a velocidade sem perdas de material por transbordamento; O uso do Truck é uma alternativa eficiente para oferta de alimento. Após a colocação da ração na bandeja, o arraçoador, ao iniciar o deslocamento do caiaque, não deve remar sobre a área onde ela foi colocada. Este movimento pode deslocar a ração em decorrência da corrente formada pela força da remada. 42 Aquicultura – Carcinicultura e Maricultura 9.6 Limpeza das bandejas As áreas onde são instaladas as bandejas estão sujeitas a deterioração natural pelo simples fato de ser ali onde se registra a maior circulação dos camarões confinados. Ademais, as sobras de ração e pequenas perdas diárias ocasionadas pelos transbordos tornam essas áreas num ambiente sujeito a contaminações pelo excesso de matéria orgânica acumulada, razão pela qual a limpeza das bandejas é um procedimento necessário e deverá ser realizada semanalmente. Bandejas limpas afastarão a possibilidade de acúmulo de microrganismos patógenos, como é o caso de bactérias do gênero Víbrio. 9.7 Sobras de alimento Retirar as sobras de ração ofertada nas bandejas é um procedimento necessário para a manutenção da qualidade da água, redução da matéria orgânica no solo dos viveiros e manutenção da saúde dos camarões confinados. 9.8 Alimentação em bandejas durante o ciclo de muda O consumo de ração pelos camarões apresenta oscilações significativas em função de alguns fatores, sendo a muda um dos principais. Como esse processo não ocorre em toda a população em um mesmo momento, mas em forma parcelada, o percentual de camarões em muda estará em constante oscilação refletida no consumo diário de ração. Por esta razão, o acompanhamento técnico nesse período é fundamental para evitar desperdício bem
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