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TextoComplementar DH AlexandreFurniel 19092017

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UMA CONTRIBUIÇÃO FILOSÓFICA À CRÍTICA DA DOUTRINA DOS 
DIREITOS HUMANOS
 Honoré Augusto Cardoso 
 
SUMÁRIO:1.Introdução. 2. Crítica Tradicionalista. 3. Crítica Historicista. 4. 
Crítica Marxista. 5. Crítica Culturalista. 6. Considerações Finais. Referências 
RESUMO: O presente artigo irá expor críticas aos direitos humanos, feitas pelos seguintes 
filósofos: Edmund Burke, Carl Von Savigny, Karl Marx e Raimon Pannikar. A doutrina dos 
direitos humanos mostrou-se problemática em muitos aspectos e suscita muitas questões. 
Entre elas: os direitos são realmente universais? São apenas de uma classe social? Quem é 
esse homem das declarações? Verifica-se que, a despeito das suas diferentes perspectivas, 
essas críticas possuem em comum o fato de criticarem o caráter abstrato dos direitos 
humanos e por todos possuírem uma preocupação com o homem concreto. Este trabalho 
exporá, sucessivamente, as críticas tradicionalista, historicista, marxista, e, finalmente a crítica 
culturalista. O trabalho foi concebido segundo o Método Indutivo, acionadas as Técnicas do 
Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.
Palavras-Chave: Direitos Humanos. Universalismo. Relativismo Cultural. 
ABSTRACT: This article will expose some of the main criticisms of human rights made by follow 
philosophers: Edmund Burke, Carl Von Savigny, Karl Marx, Raimon Pannikar. The doctrine of 
human rights proved to be problematic in many respects and raises many questions. Among 
them: rights are truly universal? They are just one class? Who is this man of the statements? It 
appears that, despite their differences in perspective, these critiques have in common the fact 
criticizing the abstractness of human rights and everyone has a concern with the actual person. 
This paper will present successively the critical traditionalist, historicist, Marxist, and finally the 
cultural critique. The work is designed in the Inductive Methods, Techniques Regarding the 
driven, Category, Operational Concept and Library Research.
Key-Words: Human Rights. Universalism. Cultural Relativism
"A escravidão cresce desmesuradamente quando lhe dão a aparência de liberdade."- Ernst 
Junger
INTRODUÇÃO
Quem é o sujeito dos direitos humanos? A resposta mais óbvia: o 
homem. E quem é esse homem? E porque ele tem direitos? Os partidários da 
doutrina dos direitos humanos admitem que no momento em que o homem 
nasceu homem, independente de qualquer contexto, de qualquer tempo ou 
lugar, ele já é detentor de direitos humanos. A doutrina dos direitos humanos 
tem uma pretensão universalizante. Distinguindo, conceitualmente, direitos 
fundamentais de direitos humanos, Ingo Wolfgang Sarlet expõe o seguinte:
Em que pese sejam ambos os termos (‘direitos humanos’ e 
‘direitos fundamentais’) comumente utilizados como sinônimos, a 
explicação corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para 
a distinção é de que o termo ‘direitos fundamentais’ se aplica 
para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados 
na esfera do direito constitucional positivo de determinado 
Estado, ao passo que a expressão ‘direitos humanos’ guardaria 
relação com os documentos de direito internacional, por referir-
se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser 
humano como tal, independentemente de sua vinculação com 
determinada ordem constitucional, e que, portanto, aspiram à 
validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte 
que revelam um inequívoco caráter supranacional 
(internacional).1
Verifica-se, que a doutrina dos direitos humanos, ao tentar abarcar a 
totalidade dos homens é obrigada a se preocupar com o abstrato e o universal, 
e a renegar o fato que o homem só existe no particular concreto e não num 
universal abstrato, a doutrina dos direitos humanos transforma a pessoa 
concreta que sente dor e sofre, a pessoa concreta que tem pai e mãe e 
mantem laços afetivos com sua comunidade, em uma figura abstrata 
supostamente universal e destituída de contexto. O sujeito abstrato dos direitos 
humanos destrói a pessoa concreta. Por essa razão, desenvolveu-se o estudo 
apresentado neste artigo, o qual, utilizando-se de pesquisa bibliográfica, 
buscou dar uma contribuição à crítica da doutrina dos direitos humanos. As 
diversas críticas, expostas neste artigo, aos direitos do homem, a despeito de 
suas diferentes perspectivas, possuem em comum essa crítica de seu caráter 
1
1
 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª ed., Porto Alegre : Livraria 
do Advogado, 2006, p. 35 e 36.
abstrato e uma preocupação pelo homem concreto. Mas, antes de entrar nas 
críticas, é necessário voltar às origens da ideia de direitos humanos. De onde 
vieram esses direitos do homem?
Não pode haver direitos humanos sem o “humano”, e sociedades pré-
modernas não desenvolveram idéias de liberdade e de individualidade. 
Assinala Costas Douzinas que: “Tanto Atenas quanto Roma tinham cidadãos, 
mas não “homens”, no sentido de membros da espécie humana. A sociedade 
humana geral estava ausente do agora e do fórum”2 No mesmo sentido, 
expõe Michel Villey:
Sem ainda ter posse da mesma teoria que os modernos têm da 
“liberdade”, os pensadores gregos tinham o costume de postular 
uma ordem no mundo, de neles reconhecer uma hierarquia de 
gêneros e de espécies [...] A ciência do direito não era 
concentrada no indivíduo. Não o considerava isolado numa ilha. 
A antiguidade encarava o indivíduo tal como é, situado dentro de 
um grupo “o homem é animal político”3. 
Havia , também, no pensamento medieval o predomínio da idéia de 
uma ordem universal e não existiam unidades atomizadas e individuais. Era um 
mundo em que tudo tinha uma ordem e hierarquia, e não havia espaço para o 
individualismo. O indivíduo era definido a partir de suas funções sociais: “pai", 
"clérigo", "vizinho" ou outra ‘qualidade' que se referia à sua função social e não 
por características meramente individuais.4 
Na crise do período medieval é que vai entrar a idéia de sujeito, de 
homem como unidade autônoma, fragmentária. O sujeito moderno, como 
aponta Costas Douzinas5 “é o produto da destruição da visão teleológica do 
mundo da antiguidade”. 
2
2
 DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos, 1ª ed. São Leopoldo: Unisinos, 2009, p.81.
3
3
 VILLEY, Michel O direito e os direitos humanos, 1ª Ed. São Paulo.Martins Fontes, 2007, p.73.
4
4
 GILSON, Etienne. A filosofia na idade média. São Paulo. Martins Fontes, 1998.
Ao final do séc XVIII, como efeito do iluminismo, esse sujeito autônomo 
é aclamado e o conceito de homem havia se tornado o valor absoluto do qual o 
mundo girava. O homem deixou de estar submetido a uma ordem divina ou 
superior e foi forjada uma nova Trindade expressa por essas três palavras: 
Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Como escreveu o filósofo Julián Marías6 
sobre os revolucionários franceses: 
Esses homens decidem derrubar tudo para fazer melhor, 
racionalmente, de uma vez por todas e para todos: “direitos do 
homem e do cidadão”, assim, sem mais concessões à história. 
Estamos na Revolução Francesa. O mundo se organizará de um 
modo definitivo, geometricamente. É a raison que vai mandar a 
partir de agora.
A base da humanidade foi transferida de Deus para a natureza humana 
e o método dos inventores das declarações dos direitos do homem foi o de 
partir de uma definição racional do ser humano individual, da qual, então, 
deduziram seus “direitos”. Fazendo isso renegaram toda a cosmovisãoda 
antiguidade e postularam uma nova: a parte foi apartada do Todo e a 
sociedade se atomizou. Foi destruída a preponderância da base comunitária 
medieval e agora no centro está um homem individual abstrato sem contexto.
 Toma-se como ponto de partida a Declaração dos direitos do homem e 
do cidadão de 1789 que teve como inspiração e influência as ideias filosóficas 
do iluminismo. Em seu artigo primeiro está escrito:
Art.1º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As 
distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.7
5
5
 DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos, p.74
6
6
 MARÍAS, Julián. História da Filosofia.1a ed . São Paulo : Martins Fontes, 2004, p.307.
7
7
 VILLEY, Michel. O direito e os direitos humanos, apêndice.
Pode-se notar que a Declaração dos direitos do homem e do cidadão 
expressa princípios de ordem universal. Pretende-se universal, pois expressa 
direitos que não são somente para esse ou aquele homem, mas é um direito de 
um homem que está em todos os tempos e é de todos os lugares. Aqui surge 
uma pergunta: Quem é esse homem? Ao que parece, é todo e qualquer 
homem não se distinguindo sua cultura, língua, costumes. Mas será que já 
vimos um homem assim: Sem língua, sem costumes, sem história? E um 
homem sem classe social? 
As diversas críticas aos direitos do homem, que serão expostas nesse 
trabalho, questionarão esse homem abstrato sem contexto e vão ter uma 
preocupação pelo homem particular concreto. Este artigo exporá, 
sucessivamente, as críticas tradicionalista, historicista, marxista, e, finalmente a 
crítica culturalista.
1. A CRÍTICA TRADICIONALISTA (EDMUND BURKE)
Se as declarações do século XVIII dão origem ao discurso e a 
concepção de direitos universais humanos, as reflexões de Burke a respeito da 
Revolução Francesa dão origem às críticas desse discurso. 
Já no ano seguinte à Declaração francesa, ou seja, em 1790, Edmund 
Burke, apresenta, no seu livro Reflexões sobre a Revolução na França, uma 
refutação do que ele considera como “falácias francesas”. Burke8 apoia-se 
numa concepção do homem diferente da dos revolucionários: para o autor o 
homem está imerso na tradição e no costume, o homem sempre se encontra 
inserido num contexto histórico. 
O homem sempre tem pai e mãe. Antes do indivíduo nascer, a 
sociedade já existia com a sua história e tradição, e o indivíduo possui laços 
não somente racionais, mas emocionais e de atitude com a sua comunidade. 
Exemplos típicos são a família, a pátria, a igreja. 
8
8
 Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França, 1ª Ed. Brasília: Unb, 1997.p. 91
Os reais direitos do homem, para Burke, teriam que ser determinados 
por contextos reais da vida, que variavam com os tempos e as circunstâncias 
não podendo ser fixados mediante o estabelecimento de algum princípio 
racional abstrato. Burke vê que o homem da Declaração, é um homem a- 
histórico e isolado, e sem laços com a comunidade. Burke acredita que os 
direitos promulgados abstratamente pela Revolução Francesa são falsos, pois 
se assentam num pressuposto insustentável: a ficção do homem sem ligações, 
sem tradição, sem história, um homem “sem mãe e sem pai”.9
Esse homem universal e abstrato da Declaração do homem e do 
cidadão, é algo que não se apoia na experiência, é uma teorização que não 
veio da experiência concreta e moral das pessoas, mas foram direitos 
inspirados em ideias de filósofos distanciados do mundo do agir concreto. 
Burke nota, claramente, que o discurso dos direitos do homem não se situa no 
concreto, no prático e social. Sacia-se a fome com pão e não com um direito 
inscrito num papel. O fato de os direitos terem sido declarados não garante a 
sua eficácia concreta. 
Neste sentido, reproduz-se o autor:
Toda a questão é de saber como se conseguem alimentos, como 
se ministram os remédios. E, em tais circunstâncias, eu 
aconselharia fazer sempre apelo ao agricultor ou ao médico, 
antes de recorrer ao professor de metafísica.10 
O francês Joseph Maistre, alguns anos depois, também apontou os 
perigos da abstração dos direitos do homem: ”já conheci italianos, russos, 
espanhóis, ingleses, franceses, mas não conheço um homem em geral”11. Esse 
9
9
 Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França, p.
10
1
 FERREIRA, Da Cunha, Paulo. Direitos Humanos, 1ª ed .Lisboa Portugal. Edições Globo . 
2003, p.127
11
1
FERREIRA, Da Cunha, Paulo. Direitos Humanos, p.129
7 DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos, 1ª Ed. São Leopoldo: Unisinos, 2009, p.165
“homem em geral”, essa abstração parece ser necessária para abarcar as 
grandes diferenças das pessoas, dos lugares e das circunstâncias. Mas na 
verdade, parece que quanto mais a abstração é verdadeira, menos utilidade 
concreta ela tem. 
Como escreveu Costas Douzinas:
De que adianta o direito abstrato à vida ou à liberdade de 
expressão e de imprensa às vítimas de fome e da guerra ou às 
pessoas incapazes de ler por falta de recursos educacionais? De 
que adianta proclamar o direito à saúde em um lugar como Haiti, 
onde um hospital básico atende a mais de dois milhões de 
pessoas e pacientes de AIDS são rotineiramente dispensados 
por não poderem ser tratados devido à falta de recursos? As 
considerações de Burke, tecidas cerca de duzentos anos atrás, 
soam proféticas à luz dos fardos colocados sobre o mundo em 
desenvolvimento pela dívida imensa e má gestão, a corrupção e 
a ineficiência que acompanharam a ajuda humanitária.12
É quase um insulto às vítimas de catástrofes, de fome coletiva ou 
guerra, de terremotos, de epidemia e tortura, é um escárnio e desconsideração 
dizer a essas vítimas que, de acordo com um importante tratado internacional, 
elas tem direito à comida e à paz, tem direito a um abrigo e a um lar ou a um 
atendimento médico e a um fim aos maus-tratos. 
Em síntese: os direitos do homem, para terem substância, devem ser 
fundados na tradição e no costume. Na Alemanha, estas teses de Burke 
encontraram uma repercussão na Escola Histórica de Direito, principalmente 
por meio de F. Carl von Savigny.
2 ESCOLA HISTÓRICA DE DIREITO (F. CARL VON SAVIGNY)
8 LIMA. Hermes. Introdução à Ciência do Direito, 2ª ed . São Paulo. Objetiva, 2001 , p.276
12
9 SAMPAIO, José Adércio Leite – Direitos Fundamentais: retórica e historicidade, 2ª ed – Belo 
Horizonte: Del Rey, 2010, p.37
A recusa pela escola historicista da concepção de direitos do homem 
de 1789 inscreve-se nessa continuidade de rejeição de um direito racional e 
abstrato. O livro de Burke foi traduzido rapidamente para o alemão e é uma das 
influências dessa Escola. A diferença é que, aqui, a crítica se focará na filosofia 
do direito. 
Como aponta Hermes Lima: 
[...] é conquista definitiva da Escola Histórica a noção de caráter 
social dos fenômenos jurídicos, com seus dois elementos 
essenciais: continuidade e transformação. A escola mostrou que 
os fundamentos do direito se encontram na vida social. Eram 
esses fundamentos que as teorias precedentes iam buscar na 
razão.13
A Escola histórica de Direito, que tem como seu maior expoente, Carl 
Von Savigny, surgiu na Alemanha no final do século XVIII e início do século 
XIX, poucas décadas depois da Declaração do homem e do cidadão e num 
período em que o Direito era considerado pura criação da razão humana. 
Entendia Savigny, ao contrário da filosofia iluminista, que em vez de 
geral e universal, o direito era um produto histórico, nem constituído 
arbitrariamentepela vontade dos homens e nem pela razão, mas sim pela 
consciência nacional do povo e pelas relações concretas da vida.14 
Assinala José Adércio Leite Sampaio:
[...] o direito era visto, nessa escola como produto da elaboração 
dos povos, de sua vontade, na sedimentação que só o tempo 
haveria de conferir a existência, e nunca um produto da razão 
apriorística ou de qualquer princípio jusnaturalista (...) o povo 
vive o direito como uma necessidade própria de coexistência, 
fonte última de juridicidade. É mesmo nessa vivência ou nas 
“relações concretas da vida” que habitam os institutos jurídicos e 
os costumes. E é a partir deles que as regras podem ser 
intuídas, não sendo deduzidas de algum campo racional 
abstrato. Não há, portanto, um conjunto de preceitos imutáveis e 
13
14
universais, pois somente existe o direito positivo que resulta do 
espírito de cada povo situado no tempo e no espaço.15
Na perspectiva da Escola Histórica o homem não está em todos os 
tempos e em todos os lugares, ele sempre está inserido em um contexto 
histórico e geográfico: não podem existir direitos que não sejam da sociedade 
de onde se vive e fruto das relações concretas da vida, portanto devemos nos 
questionar o fato de alguns franceses situados em certa época, conseguirem 
inferir uma ideia que pudesse responder diretamente aos problemas concretos 
de todos os seres humanos, culturas e sociedades em todos os lugares e 
tempos.
Após Savigny, iniciou-se uma concepção homem, no direito, 
intimamente ligada ao contexto cultural; e uma das lutas da escola histórica foi 
contra o formalismo do Direito revolucionário burguês, que considerava a 
pessoa humana desligada de seu ligamento social. Essa crítica também será 
feita, posteriormente, por Karl Marx.
3. CRÍTICA MARXISTA (KARL MARX)
Em “A Questão Judaica”, Karl Marx fez críticas severas à Declaração 
do homem e do cidadão de 1789 e como os autores anteriores, aqui também 
se questiona o caráter abstrato dos direitos, mas será ressaltada a questão das 
classes. Marx entendia que esses direitos serviriam para a dominação da 
classe burguesa. 
Faz-se referência ao pensamento do autor: “Os direitos do homem 
nada são além dos direitos do membro da sociedade burguesa, ou seja, do 
homem egoísta, do homem separado do outro homem e da comunidade.”16 
15
1
 SAMPAIO, José Adércio Leite. Direitos Fundamentais: retórica e historicidade, 2ª ed. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2010, p.37.
16
1
 VILLEY, Michel. O direito e os direitos humanos,p.114
Para Marx nenhum dos chamados direitos humanos ultrapassa, 
portanto, o egoísmo do homem, do homem como membro da sociedade 
burguesa, ou seja, do indivíduo voltado para si mesmo, para seu interesse 
particular, e afastado da comunidade.17
Alem de criticar a concepção individualista dos direitos do homem, 
Marx examinou especificamente cada um dos direitos elencados na 
Declaração, e suas críticas foram mordazes. 
Marx viu que cada um dos direitos serviu, depois da destruição da 
monarquia, para a dominação política da classe burguesa. O autor analisou o 
direito de propriedade e viu que esse direito é um fortalecimento da classe 
burguesa. Ignorara-se que os ricos têm mais condições de exercer o direito de 
propriedade? E a opinião e a expressão? 
Com a Liberdade de Expressão, o povo não tem o que fazer, mas 
apenas aqueles que tiveram educação e o tempo suficiente de escrever e se 
expressar e do mesmo modo, o direito à liberdade de imprensa não tem a 
menor importância para um camponês faminto e para algum analfabeto de um 
algum vilarejo sulamericano. 
Enfim, os direitos não são para todos, são direitos que só poucos 
podem concretizar. 
Não são os “povos do mundo” que são os gestores dos direitos 
humanos, pois tais direitos estão nas mãos de representantes governamentais, 
diplomatas e funcionários de organizações internacionais que estão bem 
afastados das ruas. 
Os direitos humanos perderam seu caráter inicial de rebeldia e anseio 
de mudança e se institucionalizou tornando-se uma arma ideológica nas mãos 
de instituições internacionais muito poderosas. Será que eles realmente se 
preocupam com os direitos humanos ou usam esse discurso com interesses 
17
1
 FERREIRA, Da Cunha, Paulo. Direitos Humanos, 1ª Ed. Lisboa Portugal. Edições Globo. 
2003.
políticos e econômicos? Além da questão da dominação econômica, há 
também, um perigo de dominação cultural relacionada aos direitos humanos. E 
é sobre isso que a próxima crítica irá tratar. 
4 CRÍTICA CULTURALISTA (R. PANIKKAR E OUTROS).
Trata-se de uma crítica dos direitos do homem em nome da pluralidade 
de culturas humanas e da defesa dessa pluralidade contra o papel compressor 
que representa a noção de direitos universais do homem na atualidade.
A escola culturalista questiona a universalidade dos direitos humanos. 
Seriam esses direitos verdadeiramente universais? Esses direitos 
supostamente universais são a tentativa do ocidente em universalizar suas 
próprias crenças? Num mundo plural, podem existir direitos universais? 
Protesta Adriano Scianca contra a universalidade dos direitos humanos: 
Vírus ideológico pela sua capacidade etnocida quase total, esta 
moral presumidamente universal proporciona a armadura 
ideológica a um neocolonialismo que em lugar do “fardo do 
homem branco” tem hoje como justificação um coquetel 
devastador de messianismo e hipocrisia. Tratando de impor uma 
moral particular a todos os povos, a “religião” dos direitos 
humanos pretende voltar a dar uma boa consciência ao Ocidente 
permitindo-lhe instituir-se uma vez mais como “modelo”. A 
destruição dos povos passa também a partir daqui pela 
imposição a nível planetário dos “valores” ocidentais e pela 
consequente desintegração de todo o vínculo orgânico, de toda 
tradição particular, de todo o resto de comunidade – obstáculos 
todos eles à tomada de consciência da nova “identidade global” 
por parte do cidadão da era da globalização.18
Tem se afirmado, rotineiramente, a tese da universalidade dos direitos 
humanos. No entanto, ainda hoje, diversas argumentações não aceitam tal 
universalidade. 
18
1
 SCIANCA, Adriano –Direitos Humanos?- Revista Orion, número 226, julho de 2003,
13 César Augusto (org). Direitos humanos na sociedade cosmopolita. Rio de Janeiro: Renovar, 
2004
O filósofo indiano Raimundo Pannikar no seu célebre artigo: “A noção 
dos direitos do homem é um conceito ocidental?19” responde afirmativamente 
ao título do seu artigo e escreve que a noção de direitos do homem são uma 
ferramenta à serviço da cultura ocidental: racionalidade abstrata, 
antropocentrismo, individualismo e atomismo são conceitos que ela introduz 
em culturas que possuem outros valores.
A primeira crítica: o conceito de direitos humanos é fundado numa 
visão antropocêntrica do mundo, que não é compartilhada por todas as 
culturas.20
Toma-se como exemplo a civilização hindu: encontra-se, aqui, uma 
sociedade hierárquica cujo o ponto de partida não é o indivíduo. Para os hindus 
não existe um indivíduo isolado, no indivíduo estão seus pais, filhos, amigos, 
ancestrais e o ponto de partida é o complexo concatenado do real. 
Da perspectiva hindu, os direitos humanos são incompletos porque são 
direitos do homem individual, o que equivaleria a uma abstração, e não são 
relativos ao indivíduo como parte intrínseca das relações que constituem o real, 
dentro de uma estrutura hierárquica. 
EscreveuPanikkar: “com vistas a obter uma sociedade justa, o 
Ocidente moderno insiste na noção de Direitos Humanos. A fim de obter uma 
ordem dármica, a Índia clássica insiste na noção de svadharma”21. 
19
20
2
César Augusto (org). Direitos humanos na sociedade cosmopolita. Rio de Janeiro: Renovar, 
2004
21
2
 PANIKKAR, Raimon. Seria a noção de direitos humanos um conceito ocidental? In: BALDI, 
César Augusto (org). Direitos humanos na sociedade cosmopolita. Rio de Janeiro: Renovar, 
2004, p.206.
Outra crítica é a de que a noção de “direitos” inerentes aos direitos 
humanos contrapõe-se a noção de “deveres” proclamada por muitos povos. 
Por exemplo: os povos submetidos à tradição islâmica. 
Esses povos tem um severo senso de responsabilidades diante de 
Deus (Allah) que sobrepuja a liberdade individual. 
Assinalou Érica Peixoto em seu artigo “Universalismo e Relativismo 
Cultural”:
O fato é que, se a doutrina ocidental dos direitos humanos não 
se preocupa com as questões metafísicas relacionadas ao 
sentido da vida como, por exemplo, “quem é o ser humano?” ou 
“por que está aqui?”, a visão corânica não compreende qualquer 
noção do ser humano, seus direitos e responsabilidades, sem 
analisá-las. Isso porque a tradição dos direitos humanos, 
tipicamente ocidental, pauta-se numa visão antropocêntrica de 
mundo, enquanto outras culturas, como a islâmica, partem de 
uma visão teológica.22
Critica-se o fato de que os universalistas analisam um homem sem 
contexto, sendo que o homem se define por seus particularismos (língua, 
cultura, costumes, valores). As diversidades locais caracterizam o indivíduo. 
O homem vive num determinado lugar, numa certa época e compartilha 
valores que são preciosos naquela comunidade em que está inserido. A 
doutrina dos direitos humanos, segundo a visão relativista, deve levar em 
consideração as particularidades, pois é preciso que o homem se identifique 
com os valores que defende, e isso não será possível abstraindo o homem do 
seu contexto cultural.
E tem outro aspecto: nem todos os Estados se aderiram formalmente 
aos tratados de direitos humanos, e, além das diferenças ideológicas, há 
15PEIXOTO, Érica. Universalismo e Relativismo Cultural. Revista da Faculdade de Direito de 
Campos, Ano VIII, Nº 10 - Junho de 2007, p.05
22
2
 PEIXOTO, Érica – Universalismo e Relativismo Cultural- Revista da Faculdade de Direito de Campos, 
Ano VIII, Nº 10 Junho de 2007, p.05.
também, muita disparidade econômica entre os países. Para que todos no 
mundo possam concretizar os direitos é preciso que haja um desenvolvimento 
econômico em inúmeros países. Diversos países estão longe de ter condições 
de efetivamente proteger e implementar os direitos humanos. 
Aqui, ainda cabe uma continuidade com às críticas anteriores: o 
universal só se mostra singularmente. Direitos Universais do homem só podem 
ser defendidos pelo fato de existirem humanos que vivem em comunidades 
concretas com o seus estatutos culturais particulares.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa breve exposição das principais críticas aos direitos 
humanos, pode-se verificar que há um chamado para que esses direitos 
humanos respondam às exigências concretas do homem real e não o do 
abstrato. 
Há a necessidade de questionar os fundamentos e a efetividade dos 
Direitos Humanos, pois, diga-se o que se disser na Declaração do Homem e 
do Cidadão de 1789 ou na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 
1948, temos que constatar isso que escreveu Costas Douzinas: “mais 
atrocidades foram cometidas contra o homem nesse período obcecado por 
direitos do que em qualquer outro período da história”23
É necessário descobrir novos caminhos, além da razão e da lei para 
evitarmos ou reduzirmos massacres, genocídios e a corrupção. A liberdade dos 
direitos humanos é um mero preceito formal. É um atrativo retórico. Quando foi 
colocada como um princípio, como ocorreu na França, teve como resultado a 
tirania nos “amigos da liberdade” contra os “supostos inimigos”. Quem sabe, 
não encontraríamos mais paz se reclamarmos menos os “meus direitos”, se 
sairmos da posição de reclamantes para a posição de pessoas gratas por 
existir e que pensam mais em deveres e em adquirir virtudes? 
23
2
 DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos, p.167
Verifica-se, que é usada na atualidade, de forma exacerbada, a palavra 
“direitos”, mas não se usa, quase nunca, a palavra “dever”. O homem atual, 
parece se mostrar, muito mais como um ser descontente que reinvindica, que 
reclama “seus direitos”, do que um ser grato e endividado ciente de “seus 
deveres”. 
O professor da Universidad Pontíficia Comillas de Madrid, Miguel 
Ayuso, retratou a assim a diferença entre a atitude do homem descontente e a 
do homem devedor:
A atitude do homem devedor , que antepõe o 
cumprimento dos seus deveres à reclamação dos seus 
direitos, conduz a uma “sociedade de deveres”, ou seja, 
ao que, na linguagem sociológica de Ferdinand Tonnies, 
chamaríamos “comunidade”. Ao passo que a atitude 
revolucionária do homem sempre descontente, zeloso 
guardião de seus direitos, leva a uma “sociedade de 
direitos”, que só pode ser “coexistência” no sentido 
kantiano – já que a liberdade de cada um não tem outros 
limites - mecânicos por sua própria formulação e 
geradores mais de equilíbrio que de autêntica harmonia - 
que as liberdades dos demais – ou “sociedade” na 
terminologia de Tonnies.24
 O homem não é levado a respeitar a liberdade do próximo por causa 
de uma Declaração, por causa de uma formalidade. Ele é levado por amor, por 
benevolência e não pelo interesse egoísta de preservação da própria liberdade. 
Esvaziada de virtudes e desinteresse pessoal à liberdade é uma prepotência. 
A liberdade não tem dono. A liberdade é de ninguém.
REFERÊNCIAS
24
2
 AYUSO, Miguel. Liberdade e Direitos Humanos. 2ª ed. Lisboa Portugal, Globo. 2003, p.79
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos, 1ª ed.São Leopoldo: 
Unisinos, 2009, p.165.
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos, p.167.
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Edições Globo. 2003, p.127.
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1998.
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2003, disponível em <www.causanacional.net/index.php?itemid=208> acesso 
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