Buscar

Erwin Mueller Peres responsabilidade Civil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE SEGURO 
 
 
ERWIN MUELLER PERES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itajaí, novembro de 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE SEGURO 
 
 
ERWIN MUELLER PERES 
 
 
 
 
Monografia submetida à Universidade 
do Vale do Itajaí – UNIVALI, como 
requisito parcial à obtenção do grau de 
Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
Orientador: Professor Mestre Clovis Demarchi 
 
 
 
 
 
 
Itajaí, novembro de 2007
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus, que me concedeu a vida e por tudo 
aquilo que ele me concede como recompensa de 
meus esforços. 
A minha querida mãe que cuidou de seus três 
filhos com muito amor e dedicação mesmo nem 
sempre podendo estar por perto. 
Ao meu pai, que mesmo distante, sempre se fez 
presente nos momentos mais difíceis da formação 
de um homem. 
As minhas irmãs que nunca me deixaram desistir 
desta e de muitas outras tormentas pelas quais 
passamos ao longo dos anos. 
E a minha amada Bianca que é meu porto seguro, 
minha paz e meu sossego. 
Obrigado de coração, eu amo todos vocês!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
Dedico esse trabalho a todas as pessoas que 
confiaram em mim, principalmente aos amigos 
que conquistei ao longo dessa jornada. 
 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo 
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do 
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o 
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. 
 
Itajaí, novembro de 2007. 
 
 
Erwin Mueller Peres 
Graduando 
 
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale 
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Erwin Mueller Peres, sob o título 
[Titulo da Monografia], foi submetida em [Data] à banca examinadora composta 
pelos seguintes professores: [Nome dos Professores ] ([Função]), e aprovada com 
a nota [Nota] ([nota Extenso]). 
 
Itajaí, novembro de 2007. 
 
 
Professor MSc. Clovis Demarchi 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
Professor MSc. Antônio Augusto Lapa 
Coordenação da Monografia 
SUMÁRIO 
RESUMO ......................................................................................... VIII 
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1 
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3 
A RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................................... 3 
1.1 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................ 3 
1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................. 6 
1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................... 9 
1.3.1 A CONDUTA ..................................................................................................... 9 
1.3.2 IMPUTABILIDADE ............................................................................................. 10 
1.3.3 O DANO ......................................................................................................... 11 
1.3.4 O NEXO DE CAUSALIDADE ................................................................................ 13 
1.4 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................... 15 
1.4.1 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL................................................................... 15 
1.4.2 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL ................................................ 16 
1.4.3 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA ...................................................................... 17 
1.4.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA ........................................................................ 19 
1.4.5 RESPONSABILIDADE CIVIL DIRETA .......................................................... 20 
1.4.6 RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA ................................................................. 21 
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 23 
OS CONTRATOS EM GERAL ......................................................... 23 
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................................... 23 
2.2 ESCORÇO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO......................................................... 26 
2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL .................................................... 29 
2.3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE ............................................................ 30 
2.3.2 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA CONVENÇÃO OU FORÇA OBRIGATÓRIA ........ 31 
2.3.3 PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO ..................................................................... 32 
2.3.4 PRINCÍPIO DA PROBIDADE E DA BOA-FÉ ............................................................ 32 
2.3.5 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS .................................................. 34 
2.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO ................................................ 34 
2.4.1 PRESSUPOSTOS ............................................................................................. 35 
2.4.2 REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO ......................................................... 36 
2.4.2.1 Declaração de vontade das partes ........................................................ 38 
2.4.2.2 Legitimação ............................................................................................. 38 
2.4.2.3 Consentimento ........................................................................................ 39 
2.4.2.4 Vícios do consentimento ........................................................................ 40 
 
2.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS .......................................................... 43 
2.5.1 OS CONTRATOS UNILATERAIS E BILATERAIS OU SINALAGMÁTICOS ...................... 43 
2.5.2 OS CONTRATOS CONSENSUAIS ........................................................................ 44 
2.5.3 OS CONTRATOS DE ADESÃO OU PARITÁRIOS ..................................................... 45 
CAPITULO 3 .................................................................................... 47 
A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE SEGURO ...... 47 
3.1 ASPECTOS GERAIS ...................................................................................... 47 
3.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONTRATO DE SEGURO ................... 50 
3.2.1 A RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL ............................................... 51 
3.2.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL. ....................................................... 52 
3.3 ENTENDIMENTO LEGAL .............................................................................. 54 
3.4 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL......................................................... 58 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 61 
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ........................................ 63 
 
RESUMO 
O tema em pesquisa explora o conteúdo abordado na área 
do direito civil, no sentido de analisar o Contrato de Seguro no Direito Brasileiro e 
a Responsabilidade Civil proveniente deste negócio jurídico. Nesse contexto 
verificou-se que os contratos realizam-se através do acordo entre as partes 
envolvidas e se dividemem diversas espécies, dentre as quais se encontra o 
contrato de seguro. Este é aquele pelo qual uma pessoa, ora segurado, assume 
com outra, ora segurador, a obrigação de indenizá-la das perdas e danos 
resultantes de um fato determinado, futuro e incerto. A apólice de seguro é um 
contrato de adesão regulado pelo Código Civil Brasileiro que possui cláusulas 
limitativas impostas pela parte mais forte (segurador), restando ao segurado 
aceitá-las em um todo sob pena de não ter o seu interesse garantido caso 
discorde de uma dessas cláusulas. Porém, não devemos confundir as cláusulas 
limitativas com as cláusulas abusivas, eis que, enquanto estas garantem ao 
fornecedor vantagens excessivas e que contribuem para o excessivo desequilíbrio 
do contrato, em desfavor do aderente e afastam a concretização da obrigação 
assumida, aquelas restringem a responsabilidade do fornecedor face ao objeto do 
contrato. Estas cláusulas abusivas, por não serem passíveis de negociação entre 
as partes, tipificam nitidamente que a apólice de seguro é um contrato de adesão. 
O Código de Defesa do Consumidor prevê em seu artigo 47 que as cláusulas 
contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. 
INTRODUÇÃO 
A presente Monografia tem como objeto a verificação da 
Responsabilidade Civil no Contrato de Seguro. 
Tem-se como objetivo institucional o de produzir a presente 
pesquisa utilizando-se de todos os meios possíveis para delinear todos os 
conceitos referentes ao tema proposto, para obtenção do título de bacharel em 
direito. 
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da 
Responsabilidade Civil discorrendo sobre sua evolução histórica para ai então 
conceituarmos o instituto, analisando seus pressupostos e sua larga classificação. 
No Capítulo 2, tratando de Contratos verificando sua 
evolução histórica, seu conceito legal e doutrinário, os princípios que regem os 
contratos, assim como seus elementos constitutivos, pressupostos e requisitos, 
por fim trazendo suas espécies de classificação. 
No Capítulo 3, apresentar-se-á um estudo acerca da 
Responsabilidade Civil no Contrato de Seguro, trazendo seu conceito, seu 
entendimento doutrinário e, para embasar a pesquisa, o posicionamento 
jurisprudencial adotado pelos nossos Tribunais de Justiça acerca do assunto. 
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as 
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos 
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões 
sobre a Responsabilidade Civil no Contrato de Seguro. 
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes 
hipóteses: 
 2
� Dentre as modalidades de contratos, não se resta clara em qual a 
apólice de seguro se enquadra. Tem-se entendido que é esse 
um contrato de adesão, porém, esse entendimento ainda não se 
formalizou o que acaba por gerar várias dúvidas com relação a 
matéria quando em uma revisão contratual; 
 
� O Código Civil de 1916 trazia em seu texto legal que a culpa era 
chave fundamental para se fazer gerar a responsabilidade de 
indenizar: a chamada Responsabilidade Civil Subjetiva. Porém, 
o contrato de seguro tem como objeto o risco assumido 
mediante prêmio pago pelo segurado. Assim sendo, a 
responsabilidade não poderá ser subjetiva e sim objetiva, uma 
vez que materializado o risco, na forma do sinistro, caberá ao 
segurador o dever de indenizar. 
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase 
de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados 
o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente 
Monografia é composto na base lógica Indutiva. 
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as 
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa 
Bibliográfica. 
 
CAPÍTULO 1 
A RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
1.1 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
Para dar início ao conceito de Responsabilidade Civil, deve-
se primeiramente conhecer a sua evolução histórica para daí então aprofundar o 
estudo. 
Antes de ser um instituto jurídico, a responsabilidade é um 
fato, uma realidade social, onde as pessoas de forma natural e espontânea 
tendem a reagir frente á agressões injustas. 
Nos primórdios da civilização, sob a régia da Lei de Talião, 
o homem fazia justiça pelas próprias mãos, ou seja, a vingança privada, ou ainda 
havia a vingança coletiva onde a sociedade se voltava contra o agressor. Esses 
eram os meios pelas quais se solucionavam as agressões. 
Comenta Diniz1, que: 
Na Lei das XII Tábuas, aparece significativa expressão desse 
critério na tábua VII, lei 11ª: "si membrum rupsit, ni cum eo 
pacit, talio esto" (se alguém fere a outrem, que sofra a pena de 
Talião, salvo se existiu acordo). A responsabilidade era 
objetiva, não dependia da culpa, apresentando-se apenas 
como uma reação do lesado contra a causa aparente do dano. 
 
Segundo Nalin 2 , "no Direito Romano, desde a época 
 
1
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 10. 
2
 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano 
Extrapatrimonial. Curitiba: Juruá, 1996. p. 22. 
 4
clássica, a responsabilidade civil se notabilizava por atos ilícitos, contratuais e 
delituais, que acarretavam o pagamento de certa quantia em dinheiro ao ofendido, 
chamada de poena". 
Para Nalin3, os delitos, naquela época, eram divididos em 
quatro espécies: 
a) A injuria: é a que conservou sua essência original ao longo 
dos tempos, do período clássico ao Império, onde se 
proporcionava à vítima tanto a oportunidade de vingança 
quanto a de reparação. 
b) O furtum: ao contrário da injuria, nunca proporcionou à 
vítima uma vingança contra o ofensor, mas tão-só a 
composição pecuniária. 
c) O damnun injuria datum: de maneira mais genérica, eram 
todos os danos materiais causados à propriedade alheia. 
d) A rapina: que designava a subtração de coisa alheia 
mediante violência, foi criada para suprir a pouca severidade 
da Lex Aquilia quanto ao damnun. 
 
Argumenta Diniz 4 , que "a Lex Aquilia de damnun, 
estabeleceu as bases da responsabilidade extracontratual, criando uma forma 
pecuniária de indenização do prejuízo, com base no seu valor". Esta Lei baseia-se 
na noção de culpa como fundamento da responsabilidade, onde se o agente agiu 
sem culpa, estaria isento de qualquer responsabilidade. 
Desta maneira, podemos ver a marcha da evolução 
produzida no conceito de Responsabilidade, segundo LOPES 5 , marcada por 
essas etapas: 
 
3
 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano 
Extrapatrimonial. p. 22-23. 
4
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 10. 
5
 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2003. 
p.165. 
 5
1°) responsabilidade puramente objetiva, em razão da 
solidariedade do grupo e da concepção política que então 
preponderava; 
2°) o abandono noxal (troca de um sistema político para outro de 
caráter jurídico) entregou o indivíduo causador do prejuízo à 
mercê da vítima, sem mais a proteção da solidariedade do seu 
próprio grupo, situação que propiciou uma defesa individual e a 
idéia de inimputabilidade, diante de certas circunstâncias; 
3°) com o tempo, processou-se uma conciliação entre a 
responsabilidade objetiva e a subjetiva, favorecida pelo fato da lex 
aquilia ter silenciado ou não previsto, expressis verbis, os fatos 
involuntários dando margem à responsabilidade, tendo sido esta 
transação, na realidade, o fator preponderante do nascimento da 
idéia de culpa. 
 
Afirma Diniz6, que "na Idade Média, com a estruturação daidéia de dolo e de culpa stricto sensu, seguida de uma elaboração da dogmática 
da culpa, distinguiu-se a responsabilidade civil da pena". 
Ressalta Lopes7, que "a noção de responsabilidade civil no 
Direito moderno ainda é preponderantemente calcada na idéia de culpa". 
Assim procedeu o atual Código Civil italiano, onde o 
princípio geral dominante (art. 2.043) é o de que todo fato doloso ou culposo, que 
ocasiona a outrem um prejuízo injusto, obriga ao que o perpetrou o dano. 
O Código Civil da Grécia firmou igualmente o princípio da 
culpa como fundamento da responsabilidade civil. 
O Código Civil egípcio, de 1948, que sofreu a influência das 
diversas legislações vigentes ao tempo de sua elaboração, rejeitou a teoria do 
risco para se filiar nitidamente à idéia da culpa. 
Igualmente o critério do Direito francês, que desde 
 
6
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 10. 
7
 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil, p.165-166. 
 6
anteriormente ao Código de 1804, tem sido fiel ao princípio da culpa, como dita o 
art 1.382, que estabelece a responsabilidade por todo fato do homem que 
representa uma culpa. 
A responsabilidade civil no Direito brasileiro, apesar de ter 
tido forte inclinação para a teoria do risco, ou seja, responsabilidade objetiva, com 
o Decreto Legislativo n° 2.681 promulgado na data de 17 de dezembro de 1912, 
acolheu a teoria da culpa em seu artigo 1598, estabelecido no Código Civil de 
1916. 
O Código Civil de 2002 em seu artigo 186 9 , manteve a 
doutrina subjetiva como fundamento principal da responsabilidade civil. Inovou ao 
apresentar um princípio geral para a responsabilidade objetiva, em seu artigo 
92710, parágrafo único11. 
 
1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL 
Estabelecer o conceito de responsabilidade civil é uma 
tarefa árdua devido às divergências doutrinárias, no entanto, majoritariamente 
tem-se entendido como a reparação de um dano causado a outrem. 
Comenta Diniz12, que: 
O vocábulo "responsabilidade" é oriundo do verbo latino 
 
8
 Código Civil de 1916, artigo 159: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou 
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. A 
verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade regulam-se pelo disposto neste Código, 
arts. 1518 a 1532 e 1537 a 1553". 
9
 Código Civil de 2002, artigo 186: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito". 
10
 Código Civil de 2002, artigo 927: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo". 
11
 Código Civil de 2002, artigo 927, parágrafo único: “ Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos 
de outrem”. 
12
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 33. 
 7
respondere, designando o fato de ter alguém se constituído 
garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina 
spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o 
devedor nos contratos verbais. 
Afirma Pereira13: 
A responsabilidade civil consiste na efetivação da reparabilidade 
abstrata do dano em relação a um sujeito passivo da relação 
jurídica que se forma. Reparação e sujeito passivo compõem o 
binômio da responsabilidade civil, que então se enuncia como o 
princípio que subordina a reparação à sua incidência na pessoa 
do causador do dano. Não importa se o fundamento é a culpa, ou 
se é independente desta. Em qualquer circunstância, onde houver 
a subordinação de um sujeito passivo à determinação de um 
dever de ressarcimento, aí estará a responsabilidade civil. 
Argumenta Rodrigues14, que "a responsabilidade civil vem 
definida como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo 
causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas". 
 
 
Enfatizando as figuras das chamadas responsabilidades 
civis objetivas e subjetivas, conceitua Lopes15 que: 
Responsabilidade significa a obrigação de reparar um prejuízo, 
seja por decorrer de uma culpa ou de uma outra circunstância 
legal que a justifique, como a culpa presumida, ou por uma 
circunstância meramente objetiva. 
Ensina Diniz16 que: 
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem 
 
13
 PEREIRA, Caio Mário da Silva Pereira. Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: forense, 2004. 
p. 11. 
14
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 06. 
15
 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil, p.160. 
16
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 34. 
 8
uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a 
terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa 
por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de 
simples imposição legal. 
Stoco 17 , por sua vez, aproxima a definição de 
responsabilidade à idéia de obrigação e leciona: 
Responsável, responsabilidade, assim como, enfim, todos os 
vocábulos cognatos, exprimem idéia de equivalência de 
contraprestação, de correspondência. É possível, diante disso, 
fixar uma noção, sem dúvida ainda que imperfeita, de 
responsabilidade, no sentido de repercussão obrigacional (não 
interessa investigar a repercussão inócua) da atividade do 
homem. Como esta varia até o infinito, é lógico concluir que são 
espécies de responsabilidade, conforme o campo que se 
apresenta o problema: na moral, nas relações jurídicas, de direito 
público ou privado. A responsabilidade não é fenômeno exclusivo 
da vida jurídica, antes se liga a todos os fenômenos da vida social. 
A Responsabilidade Civil é um fenômeno social, ou seja, 
algo que se origina e se oriunda da vida em sociedade. Conceitua-se como a 
obrigação imposta ao lesante em reparar os danos causados a outrem, seja 
através do ressarcimento da coisa in natura ou através do pagamento de quantia 
monetária correspondente à lesão causada. Tem-se por objetivo a restauração do 
status quo ante, ou seja, da situação fática anterior, e a restauração do equilíbrio 
social, econômico e jurídico rompidos pelo prejuízo, tendo-se como garantia do 
adimplemento o patrimônio do agente lesante. 
Devemos observar que muito mais importante que o ato 
ilícito que causou o dano, é o fato de que esse dano deve se ressarcido. 
 
 
17
 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. 4 ed. São Paulo: 
RT, 2002. p. 45. 
 9
1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
1.3.1 A Conduta 
A conduta é um ato humano, comissivo ou omissivo, lícito 
ou ilícito, onde a responsabilidade do agente pode defluir de ato próprio, de ato de 
terceiro que esteja sob a responsabilidade do agente, e ainda de danos causados 
por coisas que estejam sob a guarda deste. 
Portanto apenas o homem, por si ou por meio das pessoas 
jurídicas que forma, poderá ser civilmente responsabilizado. 
Para Rodrigues18: 
A responsabilidade por ato próprio se justifica no próprio princípio 
informador da teoria da reparação, pois se alguém, por sua ação 
pessoal, infringindo dever legal ou social, prejudica terceiro, é 
curial que deva reparar esse prejuízo. A responsabilidade por ato 
de terceiro ocorre quando uma pessoa fica sujeita a responder por 
dano causado a outrem não por ato próprio, mas por ato de 
alguém que está, de um modo ou de outro, sob a sujeição 
daquele. 
Sobre o tema, comenta SerranoJúnior19, que: 
A conduta omissiva tem natureza normativa. Do nada, nada surge. 
Assim, a omissão tem relevância para o direito, quando importa na 
inobservância de um dever de agir. Atribui-se sua 
responsabilidade pela não prática de um certo ato que deveria 
realizar. Como exemplo temos a inexecução de uma obrigação 
contratual. 
Argumenta Diniz 20 , "para que haja dever de ressarcir 
prejuízo, será preciso que o fato gerador possa ser imputável ao seu autor, isto é, 
que seja oriundo de sua atividade consciente”. 
 
18
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 14-15. 
19
 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais. 9 ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2002. , p. 23. 
20
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 41. 
 10 
Um dos principais pressupostos da Responsabilidade Civil é 
a existência do nexo causal entre o ato e o dano por ele gerado. 
Para se caracterizar a conduta, ela sempre deve ser 
voluntária, ou seja, tem que ser controlável pela vontade do homem. 
1.3.2 Imputabilidade 
A imputabilidade é a possibilidade de responsabilizar 
determinada pessoa a prática de uma conduta, responsabilidade esta que exige a 
prova de que o comportamento do agente causador do dano tenha sido doloso ou 
pelo menos culposo. 
Nos ensina Venosa 21 , “Imputar é atribuir a alguém a 
responsabilidade por algum fato ou ato. Desse modo, a imputabilidade é 
pressuposto não só da culpa, mas da própria responsabilidade”. 
Ensina Diniz22, que: 
A imputabilidade, elemento constitutivo de culpa, é atinente às 
condições pessoais (consciência e vontade) daquele que praticou 
o ato lesivo, de modo que consiste na possibilidade de se fazer 
referir um ato a alguém, por proceder de uma vontade livre. 
Assim, são imputáveis a uma pessoa todos os atos por ela 
praticados, livre e conscientemente. Portanto, Ter-se-á 
imputabilidade, quando o ato advier de uma vontade livre e capaz. 
Leciona Serrano Júnior23, que: 
Não obstante, pelo sistema jurídico pátrio, o fato do ato ser 
praticado por menor de 16 anos, inimputável do ponto de vista do 
direito civil, não afasta desde logo, o direito de indenização a que 
tem direito o lesado. Seja o menor imputável ou não, o ato ilícito 
por ele praticado acarreta a responsabilidade da pessoa (pai ou 
tutor) a quem incumbe sua vigilância (Código Civil 1916 art. 1.521, 
I e II, Código Civil 2002 art. 932, I e II), com fundamento na culpa 
 
21
 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 
62 
22
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 43. 
23
 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais, p. 24. 
 11 
in vigilando. 
Consoante ensina Monteiro24, "essa culpa é presumida pelo 
legislador, de modo que só não responderá o pai ou tutor, pelo ato praticado pelo 
filho ou pupilo, se provar não ter agido com culpa". 
A imputabilidade do agente, dar-se-á por seus atos 
advindos de uma vontade livre e capaz de praticá-los, logo, dessa conduta surge 
a obrigação de indenizar o agente lesado. 
1.3.3 O Dano 
O dano é peça chave para a existência da 
Responsabilidade Civil, sem um dano a ser reparado, o instituto da 
Responsabilidade Civil não se contempla. O dano consiste na diminuição ou 
destruição de um bem jurídico patrimonial ou moral pertencente a uma pessoa. 
Sito Venosa25: 
Dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser 
individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico 
ou não. Na noção de dano está sempre presente a noção de 
prejuízo. Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona 
dano. Somente haverá possibilidade de indenização, como 
regra, se o ato ilícito ocasionar dano. 
Observando o ensinamento acima define Diniz26: 
Não pode haver responsabilidade civil sem a existência de um 
dano a um bem jurídico, sendo imprescindível a prova real e 
concreta dessa lesão. Deveras, para que haja pagamento da 
indenização pleiteada é necessário comprovar a ocorrência de um 
dano patrimonial ou moral, fundados não na índole dos direitos 
subjetivos afetados, mas nos efeitos da lesão jurídica. 
Ensina Bittar27: 
 
24
 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito das obrigações. 31. ed. São 
Paulo: Saraiva, 1999. p. 288. 
25
 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 33. 
26
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 55. 
 12 
O dano é prejuízo ressarcível experimentado pelo lesado, 
traduzindo-se, se patrimonial, pela diminuição patrimonial sofrida 
por alguém em razão de ação deflagrada pelo agente, mas pode 
atingir elementos de cunho pecuniário e moral. 
É a responsabilidade civil, portanto, a obrigação de reparar 
danos, onde a extensão do dano é que determina o quantum indenizatório, ou 
seja, a indenização não deve proporcionar um enriquecimento indevido da vítima, 
assim como não deve ser insuficiente para reparar o dano, devendo 
corresponder, exatamente ao prejuízo, tarefa esta mais complexa, quando se 
tratar de danos morais. 
 
 
Assim, para que haja dano indenizável, será imprescindível 
a ocorrência dos seguintes requisitos, conforme denota Diniz28: 
Diminuição ou destruição de um bem jurídico, patrimonial ou 
moral, pertencente a uma pessoa, pois a noção de dano 
pressupõe a do lesado. Se alguém atropelar uma pessoa, os 
danos causados podem consistir na privação da vida da vítima do 
acidente, nos ferimentos, na amputação de órgãos, nas 
deformações estéticas, na incapacitação física ou intelectual, 
inutilização do vestuário etc. Se alguém caluniar outrem, os danos 
poderão consistir na afetação do bom nome do caluniado, na 
perda do emprego ou de algum negócio, na doença nervosa que o 
atingido contrai etc. Todo prejuízo é o dano a alguém. 
Efetividade ou certeza do dano, pois a lesão não poderá ser 
hipotética ou conjetural. O dano deve ser real e efetivo, sendo 
necessária sua demonstração e evidência em face dos 
acontecimentos e sua repercussão sobre a pessoa, ou patrimônio 
desta, salvo nos casos de dano presumido. 
Causalidade, já que deverá haver uma relação entre a falta e o 
prejuízo causado, ou seja, o dano deverá estar encadeado com a 
causa produzida pelo lesante. O dano poderá ser direto ou indireto 
 
27
 BITTAR, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 64-65. 
28
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 58-59-60-61. 
 13 
em relação ao fato gerador. 
Subsistência do dano no momento da reclamação do lesado. Se o 
dano já foi reparado pelo responsável, o prejuízo é insubsistente, 
mas, se o foi pela vítima, a lesão subsiste pelo quantum da 
reparação. 
Legitimidade, pois a vítima, para que possa pleitear a reparação, 
precisará ser titular do direito atingido. Os titulares poderão ser os 
lesados, ou seus beneficiários, isto é, pessoas que dele 
dependam ou possam reclamar alimentos. 
Ausência de causas excludentes de responsabilidade, porque 
podem ocorrer danos, que não resultem dever ressarcitório. 
Assim, para haver reparação civil é indispensável à prova 
real e concreta da lesão ao bem ou interesse juridicamente protegido por nosso 
ordenamento. 
1.3.4 O nexo de causalidade 
Além do dano, outro fator indispensável para a 
Responsabilidade Civil é a relação de causalidade, portanto, o nexo de 
causalidade é o vínculo, que liga o dano à conduta ou atividade explorada pelo 
agente. 
Conceitua Venosa29: 
O conceito de nexo causal,nexo etiológico ou relação de 
causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a 
conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação 
causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se 
de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva 
dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. 
Afirma Rodrigues30, que: 
Para que surja a obrigação de reparar, mister se faz a prova de 
existência de uma relação de causalidade entre a ação ou 
 
29
 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 45. 
30
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 17. 
 14 
omissão culposa do agente e o dano experimentado pela vítima. 
Se a vítima experimentar um dano, mas não se evidenciar que 
este resultou do comportamento ou da atitude do réu, o pedido de 
indenização formulado por aquela deverá ser julgado 
improcedente. 
Explica Serrano Júnior31, que: 
Trata-se de elemento cuja presença é inexorável, quer no âmbito 
da responsabilidade subjetiva, quer na seara da responsabilidade 
objetiva. Em sede da segunda modalidade de responsabilidade, 
que dispensa a culpa, basta estar presente o vínculo causal entre 
o fato lesivo (fato decorrente da atividade de risco explorada pelo 
agente) e o dano injusto para exsurgir o dever de indenizar. Nos 
casos de responsabilidade pela modalidade subjetiva, à prova do 
dano indenizável, da conduta imputável ao responsável (ou 
agente seu), e do nexo causal entre ambos, se acresce o plus da 
caracterização da culpa. 
Argumenta Diniz32, que "a obrigação de indenizar, em regra, 
não ultrapassa os limites traçados pela conexão causal, mas o ressarcimento do 
dano não requer que o ato do responsável seja a única causa do prejuízo". 
Nada obsta, como nos ensina Lopes33, que: 
Haja imputabilidade sem nexo causal, p. ex., se A der veneno a B, 
e B, antes da bebida produzir efeito, vier a falecer em razão de um 
colapso cardíaco. Houve culpa, mas não houve nexo de 
causalidade. 
Portanto, o nexo causal diz respeito a elementos objetivos, 
consistentes na ação ou omissão do sujeito, atentatória do direito alheio, 
produzindo dano material ou moral, haja vista que a imputabilidade diz respeito a 
elementos subjetivos. 
 
 
31
 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais, p. 31. 
32
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 93. 
33
 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil, p.219. 
 15 
1.4 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
1.4.1 Responsabilidade Contratual 
A responsabilidade contratual decorre da violação de uma 
obrigação acordada pelos contraentes em um contrato ou negócio jurídico, 
negócio esse que é de conhecimento de ambas as partes. 
Para Nalin34: 
A responsabilidade contratual, também dita negocial ou 
obrigacional, consiste justamente na não violação de um dever 
contratual, previamente estabelecido em contrato que não deve 
ser quebrado pelo sujeito contratual. 
Define Diniz35, que: 
A responsabilidade contratual, se oriunda de inexecução de 
negócio jurídico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de ilícito 
contratual, ou seja, de falta de adimplemento ou da mora no 
cumprimento de qualquer obrigação. É uma infração a um dever 
especial estabelecido pela vontade dos contraentes, por isso 
decorre de relação obrigacional preexistente e pressupõe 
capacidade para contratar. 
No entender de Carvalho Neto36, "a responsabilidade civil é 
chamada de contratual quando derivar de um descumprimento contratual". 
Para melhor compreensão acerca do assunto e já 
exemplificando o fenômeno Rodrigues37, cita como exemplo, "quando um artista, 
contratado para uma série de apresentações, recusa-se a dar um ou mais dos 
recitais combinados, fica ele sujeito a reparar as perdas e danos experimentados 
pelo empresário". 
 
34
 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano 
Extrapatrimonial, p. 64. 
35
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 110. 
36
 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por atos de seus agentes. São 
Paulo: Atlas, 2002. p.49. 
37
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 09. 
 16 
Ainda comenta Diniz38, que: 
Quando ocorre o inadimplemento do contrato, não é a obrigação 
contratual que movimenta a responsabilidade, uma vez que surge 
uma nova obrigação que se substitui à preexistente no todo ou em 
parte: a obrigação de reparar o prejuízo conseqüente à 
inexecução da obrigação assumida. 
Como no exemplo acima citado, a responsabilidade 
contratual deve ter sua preexistência no contrato firmado pelas partes 
interessadas, se um dos contraentes virem a violar tal dispositivo, incorrerá este 
no dever de reparar os danos provenientes de seu feito. Estes efeitos resultantes 
da responsabilidade contratual são disciplinados no artigo 389 do Código Civil de 
2002. 
1.4.2 Responsabilidade Extracontratual 
Espécie de responsabilidade que não está vinculada a 
nenhuma relação obrigacional ou contratual, é aquela que surge da violação de 
um direito de outrem. 
Assim, se o prejuízo decorre diretamente da violação de um 
mandamento legal, por força da atuação ilícita do agente, estamos diante da 
responsabilidade extracontratual. Como se verá, esta responsabilidade não 
apresenta um vínculo jurídico obrigacional. 
A respeito disto, leciona Nalin39, que: 
A responsabilidade extracontratual, aquiliana ou delitual, resulta 
da violação de um dever geral de abstenção, imposto a toda e 
qualquer pessoal, voltado ao respeito dos direitos ditos absolutos 
de terceiros. 
No entender de Carvalho Neto 40 , "é chamada de 
 
38
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 110. 
39
 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano 
Extrapatrimonial, p. 64. 
40
 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por atos de seus agentes, p.49. 
 17 
responsabilidade extracontratual ou aquiliana41, quando o ato ilícito não derivar de 
nenhum contrato". 
Conceitua Diniz42: 
A responsabilidade extracontratual, delitual ou aquiliana decorre 
de violação legal, ou seja, de lesão a um direito subjetivo ou da 
prática de um ato ilícito, sem que haja nenhum vínculo contratual 
entre lesado e lesante. 
Ainda afirma Diniz43,que "a fonte dessa responsabilidade é a 
inobservância da lei, ou melhor, é a lesão a um direito, sem que entre o ofensor e 
o ofendido preexista qualquer relação jurídica". 
Para melhor entendimento acerca do assunto, Rodrigues44, 
cita como exemplo, se "alguém atropela um homem que, no desastre, perde um 
braço. O agente causador desse dano fica obrigado a repará-lo, e sua 
responsabilidade é extracontratual". 
A responsabilidade extracontratual, como vimos, não 
decorre de uma infração contratual mas sim de uma negligência ou imperícia do 
agente, conforme regula o artigo 186 do Código Civil de 2002. Na 
responsabilidade extracontratual, cabe à vítima o encargo de demonstrar a culpa 
do agente causador do dano. 
1.4.3 Responsabilidade Subjetiva 
A responsabilidade subjetiva é regra geral e inquestionável 
no ordenamento jurídico brasileiro. O artigo 159 do Código Civil de 1916 trazia em 
seu texto legal os preceitos da responsabilidade civil. No novo ordenamento 
manteve a regra geral aperfeiçoando-a em seu artigo 186. 
A responsabilidade civil subjetiva inspira-se na idéia de 
 
41
 A expressão aquiliana é originária da Lex aquilia. 
42
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 427. 
43
 DINIZ, Maria Helena.Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 111. 
44
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 09. 
 18 
culpa, ou seja, além de se comprovar o liame causal entre o dano injusto e a 
atividade imputada ao responsável, é a caracterização de ter o imputado agido 
com culpa. 
Referindo-se ao que denomina de teoria da culpa ou teoria 
subjetiva, Bittar 45 se manifesta quanto a responsabilidade civil subjetiva 
dissertando que: 
Cabe perfazer-se a perquirição da subjetividade do causador, a 
fim de demonstrar-se, em concreto, se quis o resultado (dolo), ou 
se atuou com imprudência, imperícia ou negligência (culpa em 
sentido estrito). A prova é, muitas vezes, de difícil realização, 
criando óbices, pois para a ação da vítima, que acaba, 
injustamente, suportando os respectivos ônus. 
Relevando o elemento culpa, Pereira46 leciona que: 
A doutrina da culpa assume todas as veras de uma 
fundamentação ostensiva e franca com o Código Napoleão. Sobre 
este preceito a corrente exegética assentou que o fundamento da 
reparação do dano causado é a culpa. 
Argumenta Diniz 47 , que no caso de responsabilidade 
subjetiva, "a prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de 
reparar". 
Sustentando, também, quanto a importância da 
configuração do ato ilícito na caracterização da responsabilidade subjetiva, 
Alonso48, afirma que: 
Na dogmática da responsabilidade civil subjetiva, o ato ilícito 
destaca-se como um elemento relevante da sua sustentação. A 
investigação do comportamento do agente é fundamental para a 
apuração da sua responsabilidade, uma vez que o pressuposto do 
dever de indenizar pela teoria subjetiva é a conduta culposa do 
 
45
 BITTAR, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil, p. 578. 
46
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil, p. 14. 
47
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 111. 
48
 ALONSO, Paulo Sérgio Gomes. Pressupostos da responsabilidade civil objetiva, p. 20. 
 19 
agente. 
Salienta Serrano Júnior49, que: 
Segundo a nomenclatura civilista, em sentido lato, a culpa 
abrange o dolo e a culpa (stricto sensu). O dolo como vontade 
livre e consciente de transgredir – intencionalmente – o dever de 
agir conforme o direito e a culpa como violação de um dever, que 
o agente podia conhecer e acatar. 
 A responsabilidade civil subjetiva tem como sinônima a 
expressão responsabilidade extracontratual ou aquiliana e caracteriza-se ante a 
presença do ato ilícito, ou seja, o ato culposo ou doloso do agente, sempre que se 
testar configurado o dano reclamado pelo agente lesado e comprovado o nexo de 
causalidade. 
1.4.4 Responsabilidade Objetiva 
Esta modalidade de responsabilidade está vinculada a 
teoria do risco, em que aquele que, através de sua atividade/conduta, cria uma 
situação de risco de dano para outrem, deve ser obrigado a repará-lo, bastando a 
simples ocorrência, sem cogitação da intenção do agente, ou seja, é suficiente 
que se observe um nexo de causalidade entre a atividade criadora do risco e o 
dano, sem que seja necessário investigar se o agente praticou um ato ilícito. 
Enfatizando a irrelevância da conduta culposa ou dolosa, 
prescreve Diniz50, que: 
É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, 
uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo 
sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de 
indenizar. 
 
 
 
49
 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais, p. 34. 
50
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p.111. 
 20 
Para Venosa 51 a teoria do risco advém da teoria da 
culpabilidade conforma leciona a seguir: 
A insuficiência da fundamentação da teoria da culpabilidade 
levou à criação da teoria do risco, com vários matizes, que 
sustenta ser o sujeito responsável por riscos ou perigos que 
sua atuação promove, ainda que coloque toda diligência para 
evitar o dano.”“ 
Argumenta Rodrigues52: 
Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do 
agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que 
exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela 
vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha 
este último agido ou não culposamente. 
Acentua Alonso 53 , relevando o Princípio da Eqüidade, 
presente na responsabilidade objetiva, o seguinte: 
O princípio da responsabilidade objetiva é o da eqüidade, para 
que se imponha o dever da reparação do dano e não somente 
porque existe responsabilidade. Aquele que obtém o lucro em 
determinadas situações deve responder pelos riscos e pelas 
desvantagens. 
Evidencia-se, portanto, a partir dos entendimentos 
doutrinários que na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do 
agente causador do dano é irrelevante, basta que reste configurado a relação de 
causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente lesante, 
daí resultando o dever indenizatório. 
1.4.5 Responsabilidade Civil Direta 
Como no Direito Penal, a primeira idéia de responsabilidade 
que nos aflora, dentro do conceito de equidade e justiça, é a de fazer com que o 
 
51
 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 14. 
52
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 11. 
53
 ALONSO, Paulo Sérgio Gomes. Pressupostos da Responsabilidade Civil objetiva. São 
Paulo: Saraiva, 2000. p. 40. 
 21 
próprio causador do dano responda pela reparação. 
A regra para determinar a obrigação de reparar danos é a 
responsabilização direta, também denominada responsabilidade por ato próprio, 
tendo em vista que o próprio agente, com base em sua culpa ou nos riscos 
gerados por sua atividade, deve responder pelos danos que tiver provocado na 
esfera dos direitos de outrem. 
Conceitua Diniz54: 
A responsabilidade direta, simples ou por fato próprio é a que 
decorre de um fato pessoal do causador do dano, resultando, 
portanto, de uma ação direta de uma pessoa ligada à violação ao 
direito ou ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso. 
No mesmo sentido comenta Lopes55, que: 
Ela se constitui quer por uma comissão ou uma omissão, por um 
fato voluntário ou involuntário, mediato ou imediato, configurando-
se, neste caso, quando o homem dispõe de uma maneira 
negligente ou imprudente de uma coisa, que deu lugar a um 
prejuízo, ou seja, quando esta coisa é por ele movimentada, de 
modo a transformá-la num prolongamento de sua própria pessoa, 
do seu corpo, como é o caso de estar dirigindo um automóvel, 
manobrando um fuzil, um bastão etc. 
Diante das referências doutrinárias, esta modalidade de 
responsabilidade decorre de fato próprio, ou seja, o ato lesivo está ligado 
diretamente ao agente causador do ilícito, caracterizando assim, a 
responsabilidade civil direta. 
1.4.6 Responsabilidade Civil Indireta 
O direto positivo procura ampliar as possibilidades de 
reparação de prejuízos causados ao patrimônio de alguém. Nessa condição, se 
somente a responsabilidade direta fosse alvo para reparação de danos, muitas 
situações de prejuízo ficariam irressarcidas. E diante disso, o nosso ordenamento 
 
54
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 429. 
55
 LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de Direito Civil, p. 222. 
 22 
jurídico tem admitido, em situações descritas na lei, a responsabilidade indireta, 
ou seja, aquela que surge não ocorre pelas mãos do agente pagador. 
Neste caso, o responsável pelo agente direto, ou seja, por 
quem provocou efetivamente o dano, também deverá assumir a obrigação de 
indenizar. Trata-se, então, de uma responsabilidade indireta ou complexa,estando abrangido neste conceito, além da responsabilidade pelo ato de terceiro, 
a responsabilidade por fato de animais e a responsabilidade pelo fato de coisas 
inanimadas. 
Define Diniz56: 
A responsabilidade complexa é aquela que só poderá ser 
vinculada indiretamente ao responsável. Compreende duas 
modalidades: a) a responsabilidade por fato alheio, desde que o 
causador do dano esteja sob a direção de outrem, que, então, 
responderá pelo evento lesivo; b) a responsabilidade pelo fato das 
coisas animadas ou inanimadas que estiverem sob guarda de 
alguém, que se responsabilizará pelos prejuízos causados. 
No mesmo diapasão afirma Lopes57: 
A responsabilidade complexa, só indiretamente pode ser 
vinculada ao responsável, em desconformidade com o princípio 
geral de que só o homem é responsável pelos danos causados 
diretamente por ele e com seu fato pessoal. 
Decorrente de um culpa in vigilando, a responsabilidade 
indireta é aquela que emana da falta de vigilância ou de fiscalização em face de 
conduta de terceiro por quem nos responsabilizamos. 
Desta forma, encerra-se este capítulo onde se tratou da 
Responsabilidade Civil, para, na seqüência, adentrar no estudo referente a 
Contratos. 
 
 
56
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 430. 
57
 LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de Direito Civil, p. 234. 
CAPÍTULO 2 
OS CONTRATOS EM GERAL 
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
Na civilização humana, todas as relações entre 
indivíduos, de uma forma ou de outra, sempre estiveram reguladas por um 
pacto, um acordo, uma obrigação, ou seja, por um contrato mesmo que de 
uma forma induzida. 
Nessas relações podemos observar os principais 
fundamentos e requisitos que norteiam o conceito de contrato, 
consubstanciam-se eles na expressão da vontade, ou seja, na viabilização 
dos negócios jurídicos como nos ensina Diniz58: 
O contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na 
conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma 
regulamentação de interesses entre as partes com o escopo de 
adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza 
patrimonial. 
A palavra contractus significa unir, contrair. Como vimos, 
não era o único termo utilizado em Direito Romano para finalidades semelhantes, 
havia também a convenção (conventio) e o pacto (pacta). 
Theodoro Júnior59 traz um conceito interessante a respeito 
do contrato ao afirmar que se trata de “instituto jurídico que se amolda sempre à 
ideologia dominante do Estado a cuja organização econômica instrumentaliza”. 
 
58
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, v. III, 
p. 22. 
59
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do Consumidor. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2002, p. 6. 
 
 24 
Na visão de Pontes de Miranda60, “é negócio jurídico (ou 
instrumento jurídico) que estabelece entre os figurantes, bilateralmente ou 
plurilateralmente, relações jurídicas, ou as modifica, ou as extingue”. 
Para Nascimento61, Contrato é: 
[...] espécie de convenção mantida entre duas ou mais 
pessoas, desde que em pólos de interesses contrapostos e, 
por isso, relação jurídica, e que tem por fim a constituição, 
alteração, conservação ou extinção de direitos e obrigações 
pessoais, com adequação, ou não, a uma das modalidades 
contratuais previstas e estruturadas em lei. De um lado, 
caracteriza-se pelos elementos que, convergindo entre si, o 
estabelecem e, de outro, pelo conteúdo que, para as partes, 
vale como mandamentos e determinações. Assim, tanto é 
contrato uma compra e venda de qualquer móvel ou imóvel, ou 
uma doação ou permuta, como também uma locação, um 
arrendamento, etc. E não é só isto: o contrato pode ter como 
objeto a simples atividade humana, quando envolve obrigações 
de fazer ou não fazer. 
Assim, pode-se dizer que o contrato é todo acordo de 
vontades destinado a constituir uma relação jurídica de natureza patrimonial e 
eficácia obrigacional. Constitui-se de acordo de vontades, pois há necessidade de 
convergência das pretensões sobre um mesmo objeto; é uma relação jurídica 
porque envolve partes distintas e suas manifestações têm repercussão no Direito. 
É de natureza patrimonial, pois o objeto para onde 
convergem as pretensões possui um valor pecuniário, ou seja, mensurável 
economicamente e, por fim, de eficácia obrigacional porque envolvem direitos e 
 
 
60
 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. p. 245. 
61
 NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro. Comentários ao Código do Consumidor. Rio de 
Janeiro: Aide, 1991, p. 58. 
 25 
deveres de ambos os pólos da relação, podendo o Estado obrigar a parte 
inadimplente ao cumprimento do acordo de vontade pactuado62. 
Corroborando as palavras de Gomes, segue Pereira 63 , 
afirmando que: 
[...] o fundamento ético do contrato é a vontade humana, desde 
que em conformidade com a ordem jurídica. Seu habitat é a 
ordem legal. Seu efeito é a criação de direitos e obrigações. 
Modernamente os contratos trazem em seu interior a 
cláusula rebus sic stantibus, ou da teoria da imprevisão, que lhe impõe restrições 
e dá ao juiz a faculdade de revisão sobre os contratos. 
Frente a este entendimento, afirma Lopes64 que o Contrato 
necessita ser interpretado, procurando determinar qual seu alcance e seus 
efeitos. 
Investiga-se o seu verdadeiro conteúdo e faz-se a sua 
interpretação para reconstituir a vontade das partes, com um 
valor de lei entre elas. Quando um contrato é ambíguo e as 
partes nele interessadas lhe emprestam sentidos diversos, 
impõe-se fixar-lhe o seu verdadeiro sentido. 
Assim, chega-se a definição de contrato como um "ato 
bilateral, pois depende de no mínimo duas declarações de vontade, visando criar, 
modificar ou extinguir obrigações" 65. 
 
 
62
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 327, 30 mai. 2004. 
Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5240>. Acesso em: 22 abr. 2007, 
p. 1. 
63
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2001, v. III, p. 2. 
64
 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil – Fontes das Obrigações: Contratos. 
p. 45. 
65
 BARLETTA, Fabiana Rodrigues. A Revisão Contratual no Código Civil e no Código de 
Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 21. 
 26 
2.2 ESCORÇO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO 
Não se pode afirmar com certeza quando o homem 
começou a contratar, mas pode-se afirmar que nos primórdios da civilização, este 
já precisava da colaboração de terceiros para prover as suas necessidades. 
A contratação teve início com a simples troca de produtos, 
aprimorou-se com a compra e venda e foi evoluindo cada vez mais para atender 
aos anseios da vida em sociedade66. 
Juntamente com a possibilidade de contratar, surgiram os 
problemas e desentendimentos oriundos destes contratos. Entretanto, essa noção 
de intervenção estatal (através do juiz), nos acordos firmados entre particulares, é 
extremamente nova na história jurídico-contratual67. 
Fazendo uma análise histórica, o contrato apresentou seu 
ponto culminante e aglutinador com a evolução teórica do direito, após a idade 
média e a evolução social e política ocorrida nos séculos XVIII e XIX, com a 
Revolução Francesa, com o nacionalismo crescente e com o liberalismo 
econômico68. 
Sob o império da doutrina liberal, além do princípio genérico 
e implacável do pacta sunt servanda,informavam os contratos, a presunção de 
igualdade entre as partes, e a presunção de que cada parte era autônoma para 
contratar com quem quisesse e nos termos que lhe interessasse69. 
 
66
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil. In Revista da ESMESC/Escola Superior da 
Magistratura do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: ESMESC, 2002, v. 14, p. 69. 
67
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 69. 
68
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 
69
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70. 
 27 
Essa pouca ou nenhuma interferência estatal nos contratos 
privados pode explicar, historicamente, as práticas abusivas reiteradas que 
submetem o contratante em posição desvantajosa à vontade do mais forte70. 
Com a Revolução Industrial, a produção em larga escala 
substituiu a contração individual pela coletiva e trouxe a revolução do consumo. 
Os contratos passaram a ser de adesão, ou seja, elaborados por uma das partes 
e apresentados à outra, sem que nenhuma negociação prévia fosse realizada 
entre os interessados. A presunção liberalista, de que as partes tinham liberdade 
para contratar e estavam em posição de igualdade, continua a pautar a omissão 
judicial71. 
Frente às grandes mudanças no mundo urbano e industrial, 
proporcionadas pelo sistema capitalista do século XIX, surgem as primeiras 
contradições entre os ideais de igualdade e de liberdade e a realidade social da 
época. O desenvolvimento industrial veio praticamente anular aquelas idéias de 
igualdade e de liberdade. O anseio da população mais pobre, que sofria de fato 
com os problemas gerados por essas contradições, começou a reivindicar do 
Estado uma postura mais ativa, visando assegurar um equilíbrio nas relações 
interpessoais e à solução dos problemas sociais72. 
Assim, o Estado liberal deu lugar ao Estado social, 
preocupado com a garantia dos direitos sociais e econômicos. Consoante 
THEORODO JUNIOR· 
nessa nova ordem jurídica, a intervenção do Estado no domínio 
do contrato deixou de ser apenas supletória, para ser limitadora 
da vontade individual e disciplinadora de certos objetivos que 
transcendem à vontade dos contratantes. 
 
70
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70. 
71
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70. 
72
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 
 28 
Em resposta a essa problemática social, surgem as 
primeiras Constituições sociais. Um exemplo é a Constituição Francesa de 1848, 
que passa a demonstrar novas pretensões políticas sob a forma de direitos 
econômicos e sociais merecedores da proteção estatal. A Constituição de 1848, 
assim como o código civil francês, influenciou outras constituições, por exemplo, a 
alemã, a mexicana, entre outras, que viram na intervenção estatal a forma de 
combate às desigualdades sociais e às idéias comunistas que se afloravam73. 
No Brasil, as Constituições de 1934, 1946, 1967, 1969 e, 
principalmente, a de 1988, fizeram referências a essa nova ordem econômica e 
social. A Constituição de 1988, constituição social, criou princípios básicos da 
legislação trabalhista (art. 7º), da função social da propriedade, dos direitos 
sociais, da ordem econômica. A legislação extravagante abarcou tais preceitos 
constitucionais, por exemplo: o Código Civil de 2002 deu mais ênfase ao princípio 
da boa-fé, da probidade e da função social do contrato (art. 421 e 422); o Código 
de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) veio estabelecer normas de proteção 
e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos art. 
5º, inciso XXXII e art. 170, inciso V, da Constituição da República Federativa do 
Brasil de 1988; e as legislações trabalhistas que obedecem às diretrizes do art. 7º 
desse mesmo instituto74. 
Atualmente, as relações contratuais são influenciadas pela 
economia de mercado e pela globalização. No modelo econômico capitalista, 
muitos dos contratos não são feitos por opção, mas sim por um imperativo de 
modo de vida contemporâneo75. 
Essa nova conjuntura determinou a mitigação definitiva dos 
princípios da autonomia da vontade e da presunção e isonomia tornando-os 
 
73
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor, p. 01. 
74
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor, p. 01. 
75
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70-71. 
 29 
inexistentes no novo regime jurídico contratual, baseado no reconhecimento de 
que, em grande parte dos pactos, não há prerrogativa de escolha e, muito menos, 
paridade de forças entre os pactuantes76. 
A interferência estatal na vida econômica implicou a 
limitação legal da liberdade de contratar e o encolhimento da autonomia da 
vontade, passando a ser descartada e censurada a liberdade de determinar o 
conteúdo na relação contratual. Tais mudanças repercutiram no regime legal e na 
interpretação do contrato77. 
A intervenção do Estado tornou-se, na realidade, um meio 
de assegurar a manutenção do regime democrático, fazendo limitações aos 
contratos de adesão e aos contratos de massa, surgindo em contrapartida os 
contratos dirigidos e os contratos forçados sobre a tutela estatal78. 
 
2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL 
Assim como todos os demais ramos do direito, os contratos 
também possuem princípios que os regem, são pilares que sustentam a sua 
formalização, extrai-se das palavras de Reale79 que “toda forma de conhecimento 
filosófico ou científico implica a existência de princípios, isto é, enunciados lógicos 
admitidos como condição ou base de validade das demais asserções que 
compõem dado campo do saber”. 
 
76
 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico-
evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 71. 
77
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 
78
 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil 
e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 
79
 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 305. 
 30 
Para Bobbio 80 , princípios são “normas fundamentais ou 
generalíssimas do sistema, as normas mais gerais”. 
Nesse entendimento, pode-se afirmar que os princípios que 
regem uma ciência específica constituem um conjunto de idéias gerais, abstratas, 
que fundamentam o ordenamento, garantindo-lhe, desta forma, a validade. 
No presente trabalho, iremos tratar dos princípios 
específicos do direito contratual, que são, por sua vez, oriundos daqueles 
constitucionalmente referidos, os princípios gerais de direito. 
São princípios norteadores do direito contratual: a) o 
princípio da autonomia da vontade; b) o princípio da obrigatoriedadeda 
convenção ou da força obrigatória; c) o princípio do consensualismo; d) o princípio 
da probidade e da boa-fé; e e) o princípio da relatividade dos contratos. 
2.3.1 Princípio da autonomia da vontade 
Pelo princípio da autonomia da vontade, os contratantes 
possuem ampla liberdade para criar as relações que lhes convenham, tomando o 
contrato como verdadeira norma jurídica81. 
Neste sentido, Henri de Page, apud THEODORO JUNIOR82 
propõe que a autonomia privada da vontade deve ser compreendida como: 
o poder reconhecido às vontades particulares de regularem elas 
próprias, todas as condições e modalidades de seus vínculos, de 
decidir, por si só, a matéria e a extensão de suas convenções. 
 
80
 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 4. ed. trad. Cláudio de Cicco e Maria 
Celeste C. J. Santos. Brasília: Universidade de Brasília, 1994, p. 158. 
81
 BEGALLI, Paulo Antônio. Direito contratual no novo código civil. Leme: Editora de Direito, 
2003, p. 91. 
82
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Contratos. Princípios gerais. Tendências do direito 
contratual contemporâneo. Abrangendo os princípios tradicionais. Intervenção estatal 
crescente. Impacto do Código de Defesa do Consumidor. Revista dos Tribunais. São Paulo: 
RT, p. 11-33, jul. 1999, v. 765, p. 13. 
 
 31 
GOMES83 afirma que o princípio da autonomia da vontade 
constitui na liberdade de contratar inegável conferida às partes, porém, deixa 
intrínseco a este princípio o seu limite, que pode ser de ordem pública ou de bons 
costumes, ou seja, o princípio da supremacia da ordem pública, também 
consagrado por Monteiro, estaria inserido no princípio maior da autonomia da 
vontade. Assim, serão nulos os contratos que ultrapassarem estes limites. 
Segundo a doutrina, os contratos resultantes da livre 
apreciação dos interessados são sempre justos e somente limitados por 
considerações de ordem pública e pelos bons costumes. Respeitados os limites, 
os contraentes podem convencionar aquilo que lhes aprouver. 
2.3.2 Princípio da obrigatoriedade da convenção ou força obrigatória 
Tudo aquilo que fora acordado no contrato deverá ser 
fielmente executado (pacta sunt servanda) pode ser conceituado como aquilo que 
as partes, de comum acordo, estipularem e aceitarem. Caso contrário, devesse a 
execução patrimonial contra a parte desonrosa. Isto porque o contrato incorpora-
se ao ordenamento jurídico e por assim autorizando o contratante a executar, por 
intervenção estatal, o contrato contra aquele que não cumpriu a obrigação nele 
estabelecida. 
Diniz84 acentua, o contrato é intangível a menos que ambas 
as partes o rescindam voluntariamente ou haja a escusa por caso fortuito ou força 
maior (CC/2002, artigo 393, parágrafo único). Esse princípio da força obrigatória 
funda-se na regra de que o contrato é lei entre as partes, desde que estipulado 
validamente (RT, 543:243, 478:93), com observância dos requisitos legais. Mas 
devido ao dirigismo contratual, o pacta sunt servanda não é absoluto, limitado 
está pelo princípio do equilíbrio contratual, pois casos haverá em que se terá a 
resolução ou a revisão judicial dos atos negociais. 
 
83
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 16. 
84
 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2006 p.84. 
 32 
Para Gomes 85 , o princípio da força obrigatória 
consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que 
seja, com observância de todos os pressupostos e requisitos necessários à sua 
validade, deve ser executado pelas partes como se fossem preceitos legais 
imperativos. 
O autor assevera, ainda, que essa inteligência larga não se 
apresenta como corolário exclusivo da regra moral de que todo homem deve 
honrar a palavra empenhada. Justifica-se, ademais, como decorrência do próprio 
princípio da autonomia da vontade, uma vez que a possibilidade de intervenção 
do juiz na economia do contrato atingiria o poder de obrigar-se, ferindo a 
liberdade de contratar86. 
2.3.3 Princípio do consensualismo 
O princípio do consensualismo ou do consentimento, 
segundo GOMES87, é uma conquista moderna, onde o consentimento é 
suficiente para formalizar um contrato, desde que o contrário não esteja 
prescrito em lei. 
A regra do consensualismo é que para contratar basta o 
simples acordo de vontades, e, salvo as exceções legais, qualquer forma 
contratual é válida (verbal, silêncio, mímica, telefone, e-mail). Os atos 
solenes, aqueles que exigem formalidades legais, só ocorrem quando a lei 
ordenar88. 
2.3.4 Princípio da probidade e da boa-fé 
Nos contratos sempre há interesses opostos entre as 
partes contraentes, assim há uma imposição ética que domina toda a 
 
85
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 38. 
86
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 22. 
87
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 21. 
88
 BEGALLI, Paulo Antônio. Direito contratual no novo código civil, p. 91. 
 33 
matéria contratual que inibi o uso da astúcia e da deslealdade prevalecendo 
então, a boa-fé e a lealdade das partes tanto na criação quanto na 
interpretação e execução dos contratos. 
O Código Civil não possui norma específica sobre este 
princípio, porém as jurisprudências e as doutrinas, preceituam com 
unanimidade, que o mesmo também prevalece para lei pátria, como 
princípio geral do direito. 
Segundo Teodoro Júnior 89 , além de prevalecer a 
intenção sobre a literalidade, compreende-se segundo este princípio da 
boa-fé que ele deve ser interpretado e compreendido, sobre a máxima da 
lealdade e da confiança entre os contratantes, ou seja, não se fala neste 
princípio se um dos contratantes tenha firmado tal contrato, a fim de 
enriquecer-se injustamente à custa do prejuízo do outro. 
 O princípio da boa-fé no que preceitua Gomes90 entende mais 
com a interpretação do contrato do que com a estrutura. Nesse caso a expressão 
literal da linguagem não deve prevalecer sobre a intenção manifestada na 
declaração de vontade. 
 O Código Civil de 2002 preceituou em seu artigo 422 que: 
Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do 
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-
fé. 
 O Código Civil alemão entende que as partes devem agir com 
lealdade e confiança recíprocas, e, portanto, devem proceder de boa-fé. 
Estendendo-se mais um pouco a idéia central é de que entre o credor e o devedor 
é necessária colaboração, um ajudando o outro na execução do contrato. 
 
89
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e seus princípios. 3 ed. Rio de Janeiro: AIDE, 
2001. p. 34. 
90
 GOMES, Orlando. Contratos. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.p. 38,39. 
 
 34 
Por fim, é esse um princípio ligado à interpretação do 
contrato, pois o sentido literal da linguagem não prevalece sobre a verdadeira 
intenção das partes e também ao interesse social de segurança das relações 
jurídicas, uma vez que as partes deverão agir com lealdade e confiança 
recíprocas. A função social do contrato busca a boa-fé dos contratantes, a 
transparência negocial e a efetivação da justiça contratual. 
2.3.5 Princípio da relatividade dos contratos 
O princípio da relatividade dos contratos diz respeito à sua 
eficácia. De acordo com o mesmo, o “contrato só ata aqueles que dele participam. 
Seus efeitos não podem nem prejudicar nem aproveitar a terceiros” 91. 
Este princípio, contudo, admite exceções, pois há 
obrigações que estendem seus efeitos a terceiros. São efeitos externos, como, 
por exemplo, a estipulação em favor de terceiro, prevista no Código Civil 
Brasileiro, nos artigos 436 a 438. 
 
2.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO 
O contrato é uma espécie de negóciojurídico, portanto, 
um ato jurídico. Assim, para garantir sua plena existência e completa 
validade, o contrato necessita preencher alguns pressupostos e requisitos. 
“Pressuposto” é a circunstância ou fato considerado como 
antecedente necessário de outro. “Requisito” é a condição necessária para a 
obtenção ou para o preenchimento de certo fim. 
Os pressupostos e requisitos neste trabalho argüidos se 
fazem necessários para uma melhor compreensão da sua importância na 
formação do contrato. 
 
91
 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, 
p. 23. 
 35 
 
2.4.1 Pressupostos 
 Para que seja válido e se desenvolva, o contrato exige alguns 
pressupostos que devem estar presentes no momento da sua formação ou 
perfazimento. O Código Civil de 2002 traz expressamente em seu artigo 104 os 
pressupostos do contrato que são: a) a capacidade das partes; b) objeto ilícito e 
possível; e c) forma prescrita ou não defesa em lei. 
Por Bessone92, o pressuposto (pré+suposto) preexiste ao ato 
a que se refere. Constitui um prius, naturalmente situado antes e fora do ato, em 
um breve comentário discorre tal doutrinador sobre o que são pressupostos do 
contrato, senão vejamos: 
Os pressupostos da validade do contrato devem existir, portanto, 
antes de formar-se o vínculo. Distinguem-se dos elementos em que 
estes, ao contrário, são contemporâneos e constitutivos do 
contrato, quer dizer, integram-no, formando-lhe a estrutura ou 
fornecendo-lhe a substância, o conteúdo. 
Segundo Gomes os pressupostos são as condições sob as 
quais se desenvolve ou poderá se desenvolver o contrato. 
 A capacidade das partes é peça fundamental para que haja o 
negócio jurídico, assim não podem contratar os absolutamente incapazes, senão 
quando representados, e os relativamente incapazes sem a assistência das 
pessoas elencadas na lei. Como nos ensina Monteira·, A capacidade dos 
contratantes é assim o primeiro requisito para a validade dos contratos. 
 
92
 BESSONE, Darcy. Do contrato. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p.89. 
 36 
 Entende Bessone 93 que a capacidade, como qualidade do 
sujeito, difere-se em capacidade jurídica, ou de direito ou de gozo, e a capacidade 
de fato, ou de exercício de agir. 
O contrato é o acordo destinado a regular interesses, 
portanto seu objeto não pode ser contrário à lei, à moral, à ordem pública ou aos 
bons costumes. Deve ser lícito e possível e forme prescrita ou não defesa em lei. 
Deve-se observar as imposições legais previstas no artigo 166 do Código Civil de 
2002. 
2.4.2 Requisitos de validade do contrato 
Para que haja a existência do contrato são necessários 
alguns elementos essenciais, que podem ser “gerais”, se comuns à generalidade 
dos negócios jurídicos, dizendo respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e 
possível e ao consentimento dos interessados, e “particulares”, peculiares a 
determinadas espécies por serem concernentes à sua forma. 
Assim, os requisitos objetivos do contrato são, agente capaz, 
objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não 
defesa em lei94. 
A capacidade das partes é aquela “capacidade jurídica” das 
pessoas, ou seja, capacidade da pessoa de realizar um ato jurídico, 
independentemente de sua capacidade natural momentânea ou definitiva95. 
O objeto do contrato precisa, ainda, ser idôneo. O “contrato 
é acordo destinado a regular interesses. Necessário, portanto, que tenha objeto 
 
93
 BESSONE, Darcy. Do contrato. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p.90. 
94
 Art. 104 do Código Civil Brasileiro. 
95
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 27. 
 
 37 
lícito e possível. Imprescindível, ainda, a adequação do objeto ao fim visado pelos 
contratantes” 96. 
Diniz 97 define objeto lícito como aquele em 
conformidade com “a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem 
pública e à moral. Se tiver objeto ilícito será nulo”. 
Além disso, o contrato deverá ter ainda objeto possível, 
física ou juridicamente. Isto significa que, se o ato negocial contiver prestação 
impossível, como, por exemplo, a de dar volta ao mundo em uma hora ou de 
vender herança de pessoa viva, não poderá ser tido como um contrato, até 
porque, como poderá ser cumprido se não contém objeto possível? 
O último dos requisitos objetivos é a forma prescrita ou não 
defesa em lei. A forma é a exposição, a possibilidade do reconhecimento da 
atitude, dentro do ambiente social em que foi produzida. 
A forma escrita é sempre preferida em relação às demais, 
muito embora, na maioria dos contratos, não seja obrigatória. Sua superioridade 
sobre a forma verbal é manifesta, principalmente no que diz respeito à prova do 
contrato. 
Além destes requisitos objetivos, os contratos possuem, 
ainda, alguns requisitos subjetivos, que são: a) existência de declaração, ou 
melhor, de manifestação de duas ou mais vontades e capacidade genérica dos 
contraentes; b) aptidão específica para contratar; c) consentimento98, os quais 
passam a ser analisados. 
 
96
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 27. 
97
 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 9. ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código 
Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 105. 
98
 DINIZ, Maria Helena. Tratado Teórico e Prático dos Contratos. São Paulo: Saraiva, 1993, v. 
1, p. 12. 
 38 
2.4.2.1 Declaração de vontade das partes 
Um requisito subjetivo fundamental é a declaração de 
vontade emitida pelas partes, mecanismo de formação do contrato, sobre o qual 
Gomes99 manifesta que: 
[...] para a perfeição do contrato, requer-se: em primeiro lugar, a 
existência de duas declarações, cada uma das quais, 
individualmente considerada, há de ser válida e eficaz; em 
segundo lugar, uma coincidência de fundo entre as duas 
declarações. 
Assim, pode-se dizer que é através do acordo de vontades 
entre as partes contratantes, seja ele tácito ou expresso, que se manifesta de um 
lado a oferta e de outro a aceitação. 
A proposta e a aceitação são elementos indispensáveis à 
formação do contrato, haja vista que entre estas gira toda a controvérsia sobre a 
força obrigatória do contrato, sobre o momento exato em que ambas se fundem 
para produzir a relação contratual e sobre o lugar em que se reputará celebrado o 
negócio jurídico. 
Essa declaração de vontade é essencial à formação do 
contrato. Chama-se doutrinariamente de “consenso” a essa convergência ou 
coincidência. Havendo “dissenso” não nasce o contrato ou mesmo em 
determinados casos será ineficaz. 
2.4.2.2 Legitimação 
Outro requisito necessário é a legitimação. Não basta ser o 
agente capaz para celebrar o contrato, mas “requer-se ainda, que seja parte 
legítima, isto é, idônea, para movimentar a relação processual, por ter interesse a 
ser protegido. Pode alguém ser capaz, mas não ter legitimidade ad causam”100. 
 
99
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 10. 
100
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 29. 
 39 
Neste sentido, assevera Gomes101 que “pessoa plenamente 
capaz de exercer os atos da vida civil vê-se proibida de 
praticar alguns em virtude da posição em que se encontra 
relativamente a seu objeto”. 
Assim, verifica-se que há uma completa diferença entre 
capacidade da parte e legitimidade da parte. Aquela corresponde a uma 
qualidade intrínseca à pessoa, e esta diz respeito à situação da pessoa em 
relação a um determinado bem, “que podem ser objeto de negócios jurídicos em 
geral, ou em relação às especiais categorias de negócios”102. 
A falta de legitimação pode tornar o negócio nulo ou 
anulável, v.g.

Outros materiais