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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE SEGURO ERWIN MUELLER PERES Itajaí, novembro de 2007 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE SEGURO ERWIN MUELLER PERES Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Mestre Clovis Demarchi Itajaí, novembro de 2007 AGRADECIMENTOS A Deus, que me concedeu a vida e por tudo aquilo que ele me concede como recompensa de meus esforços. A minha querida mãe que cuidou de seus três filhos com muito amor e dedicação mesmo nem sempre podendo estar por perto. Ao meu pai, que mesmo distante, sempre se fez presente nos momentos mais difíceis da formação de um homem. As minhas irmãs que nunca me deixaram desistir desta e de muitas outras tormentas pelas quais passamos ao longo dos anos. E a minha amada Bianca que é meu porto seguro, minha paz e meu sossego. Obrigado de coração, eu amo todos vocês! DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a todas as pessoas que confiaram em mim, principalmente aos amigos que conquistei ao longo dessa jornada. TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, novembro de 2007. Erwin Mueller Peres Graduando PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Erwin Mueller Peres, sob o título [Titulo da Monografia], foi submetida em [Data] à banca examinadora composta pelos seguintes professores: [Nome dos Professores ] ([Função]), e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]). Itajaí, novembro de 2007. Professor MSc. Clovis Demarchi Orientador e Presidente da Banca Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia SUMÁRIO RESUMO ......................................................................................... VIII INTRODUÇÃO ................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3 A RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................................... 3 1.1 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................ 3 1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................. 6 1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................... 9 1.3.1 A CONDUTA ..................................................................................................... 9 1.3.2 IMPUTABILIDADE ............................................................................................. 10 1.3.3 O DANO ......................................................................................................... 11 1.3.4 O NEXO DE CAUSALIDADE ................................................................................ 13 1.4 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................... 15 1.4.1 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL................................................................... 15 1.4.2 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL ................................................ 16 1.4.3 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA ...................................................................... 17 1.4.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA ........................................................................ 19 1.4.5 RESPONSABILIDADE CIVIL DIRETA .......................................................... 20 1.4.6 RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA ................................................................. 21 CAPÍTULO 2 .................................................................................... 23 OS CONTRATOS EM GERAL ......................................................... 23 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................................... 23 2.2 ESCORÇO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO......................................................... 26 2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL .................................................... 29 2.3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE ............................................................ 30 2.3.2 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA CONVENÇÃO OU FORÇA OBRIGATÓRIA ........ 31 2.3.3 PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO ..................................................................... 32 2.3.4 PRINCÍPIO DA PROBIDADE E DA BOA-FÉ ............................................................ 32 2.3.5 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS .................................................. 34 2.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO ................................................ 34 2.4.1 PRESSUPOSTOS ............................................................................................. 35 2.4.2 REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO ......................................................... 36 2.4.2.1 Declaração de vontade das partes ........................................................ 38 2.4.2.2 Legitimação ............................................................................................. 38 2.4.2.3 Consentimento ........................................................................................ 39 2.4.2.4 Vícios do consentimento ........................................................................ 40 2.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS .......................................................... 43 2.5.1 OS CONTRATOS UNILATERAIS E BILATERAIS OU SINALAGMÁTICOS ...................... 43 2.5.2 OS CONTRATOS CONSENSUAIS ........................................................................ 44 2.5.3 OS CONTRATOS DE ADESÃO OU PARITÁRIOS ..................................................... 45 CAPITULO 3 .................................................................................... 47 A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE SEGURO ...... 47 3.1 ASPECTOS GERAIS ...................................................................................... 47 3.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONTRATO DE SEGURO ................... 50 3.2.1 A RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL ............................................... 51 3.2.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL. ....................................................... 52 3.3 ENTENDIMENTO LEGAL .............................................................................. 54 3.4 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL......................................................... 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 61 REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ........................................ 63 RESUMO O tema em pesquisa explora o conteúdo abordado na área do direito civil, no sentido de analisar o Contrato de Seguro no Direito Brasileiro e a Responsabilidade Civil proveniente deste negócio jurídico. Nesse contexto verificou-se que os contratos realizam-se através do acordo entre as partes envolvidas e se dividemem diversas espécies, dentre as quais se encontra o contrato de seguro. Este é aquele pelo qual uma pessoa, ora segurado, assume com outra, ora segurador, a obrigação de indenizá-la das perdas e danos resultantes de um fato determinado, futuro e incerto. A apólice de seguro é um contrato de adesão regulado pelo Código Civil Brasileiro que possui cláusulas limitativas impostas pela parte mais forte (segurador), restando ao segurado aceitá-las em um todo sob pena de não ter o seu interesse garantido caso discorde de uma dessas cláusulas. Porém, não devemos confundir as cláusulas limitativas com as cláusulas abusivas, eis que, enquanto estas garantem ao fornecedor vantagens excessivas e que contribuem para o excessivo desequilíbrio do contrato, em desfavor do aderente e afastam a concretização da obrigação assumida, aquelas restringem a responsabilidade do fornecedor face ao objeto do contrato. Estas cláusulas abusivas, por não serem passíveis de negociação entre as partes, tipificam nitidamente que a apólice de seguro é um contrato de adesão. O Código de Defesa do Consumidor prevê em seu artigo 47 que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto a verificação da Responsabilidade Civil no Contrato de Seguro. Tem-se como objetivo institucional o de produzir a presente pesquisa utilizando-se de todos os meios possíveis para delinear todos os conceitos referentes ao tema proposto, para obtenção do título de bacharel em direito. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da Responsabilidade Civil discorrendo sobre sua evolução histórica para ai então conceituarmos o instituto, analisando seus pressupostos e sua larga classificação. No Capítulo 2, tratando de Contratos verificando sua evolução histórica, seu conceito legal e doutrinário, os princípios que regem os contratos, assim como seus elementos constitutivos, pressupostos e requisitos, por fim trazendo suas espécies de classificação. No Capítulo 3, apresentar-se-á um estudo acerca da Responsabilidade Civil no Contrato de Seguro, trazendo seu conceito, seu entendimento doutrinário e, para embasar a pesquisa, o posicionamento jurisprudencial adotado pelos nossos Tribunais de Justiça acerca do assunto. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a Responsabilidade Civil no Contrato de Seguro. Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: 2 � Dentre as modalidades de contratos, não se resta clara em qual a apólice de seguro se enquadra. Tem-se entendido que é esse um contrato de adesão, porém, esse entendimento ainda não se formalizou o que acaba por gerar várias dúvidas com relação a matéria quando em uma revisão contratual; � O Código Civil de 1916 trazia em seu texto legal que a culpa era chave fundamental para se fazer gerar a responsabilidade de indenizar: a chamada Responsabilidade Civil Subjetiva. Porém, o contrato de seguro tem como objeto o risco assumido mediante prêmio pago pelo segurado. Assim sendo, a responsabilidade não poderá ser subjetiva e sim objetiva, uma vez que materializado o risco, na forma do sinistro, caberá ao segurador o dever de indenizar. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. CAPÍTULO 1 A RESPONSABILIDADE CIVIL 1.1 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL Para dar início ao conceito de Responsabilidade Civil, deve- se primeiramente conhecer a sua evolução histórica para daí então aprofundar o estudo. Antes de ser um instituto jurídico, a responsabilidade é um fato, uma realidade social, onde as pessoas de forma natural e espontânea tendem a reagir frente á agressões injustas. Nos primórdios da civilização, sob a régia da Lei de Talião, o homem fazia justiça pelas próprias mãos, ou seja, a vingança privada, ou ainda havia a vingança coletiva onde a sociedade se voltava contra o agressor. Esses eram os meios pelas quais se solucionavam as agressões. Comenta Diniz1, que: Na Lei das XII Tábuas, aparece significativa expressão desse critério na tábua VII, lei 11ª: "si membrum rupsit, ni cum eo pacit, talio esto" (se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se existiu acordo). A responsabilidade era objetiva, não dependia da culpa, apresentando-se apenas como uma reação do lesado contra a causa aparente do dano. Segundo Nalin 2 , "no Direito Romano, desde a época 1 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 10. 2 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano Extrapatrimonial. Curitiba: Juruá, 1996. p. 22. 4 clássica, a responsabilidade civil se notabilizava por atos ilícitos, contratuais e delituais, que acarretavam o pagamento de certa quantia em dinheiro ao ofendido, chamada de poena". Para Nalin3, os delitos, naquela época, eram divididos em quatro espécies: a) A injuria: é a que conservou sua essência original ao longo dos tempos, do período clássico ao Império, onde se proporcionava à vítima tanto a oportunidade de vingança quanto a de reparação. b) O furtum: ao contrário da injuria, nunca proporcionou à vítima uma vingança contra o ofensor, mas tão-só a composição pecuniária. c) O damnun injuria datum: de maneira mais genérica, eram todos os danos materiais causados à propriedade alheia. d) A rapina: que designava a subtração de coisa alheia mediante violência, foi criada para suprir a pouca severidade da Lex Aquilia quanto ao damnun. Argumenta Diniz 4 , que "a Lex Aquilia de damnun, estabeleceu as bases da responsabilidade extracontratual, criando uma forma pecuniária de indenização do prejuízo, com base no seu valor". Esta Lei baseia-se na noção de culpa como fundamento da responsabilidade, onde se o agente agiu sem culpa, estaria isento de qualquer responsabilidade. Desta maneira, podemos ver a marcha da evolução produzida no conceito de Responsabilidade, segundo LOPES 5 , marcada por essas etapas: 3 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano Extrapatrimonial. p. 22-23. 4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 10. 5 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2003. p.165. 5 1°) responsabilidade puramente objetiva, em razão da solidariedade do grupo e da concepção política que então preponderava; 2°) o abandono noxal (troca de um sistema político para outro de caráter jurídico) entregou o indivíduo causador do prejuízo à mercê da vítima, sem mais a proteção da solidariedade do seu próprio grupo, situação que propiciou uma defesa individual e a idéia de inimputabilidade, diante de certas circunstâncias; 3°) com o tempo, processou-se uma conciliação entre a responsabilidade objetiva e a subjetiva, favorecida pelo fato da lex aquilia ter silenciado ou não previsto, expressis verbis, os fatos involuntários dando margem à responsabilidade, tendo sido esta transação, na realidade, o fator preponderante do nascimento da idéia de culpa. Afirma Diniz6, que "na Idade Média, com a estruturação daidéia de dolo e de culpa stricto sensu, seguida de uma elaboração da dogmática da culpa, distinguiu-se a responsabilidade civil da pena". Ressalta Lopes7, que "a noção de responsabilidade civil no Direito moderno ainda é preponderantemente calcada na idéia de culpa". Assim procedeu o atual Código Civil italiano, onde o princípio geral dominante (art. 2.043) é o de que todo fato doloso ou culposo, que ocasiona a outrem um prejuízo injusto, obriga ao que o perpetrou o dano. O Código Civil da Grécia firmou igualmente o princípio da culpa como fundamento da responsabilidade civil. O Código Civil egípcio, de 1948, que sofreu a influência das diversas legislações vigentes ao tempo de sua elaboração, rejeitou a teoria do risco para se filiar nitidamente à idéia da culpa. Igualmente o critério do Direito francês, que desde 6 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 10. 7 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil, p.165-166. 6 anteriormente ao Código de 1804, tem sido fiel ao princípio da culpa, como dita o art 1.382, que estabelece a responsabilidade por todo fato do homem que representa uma culpa. A responsabilidade civil no Direito brasileiro, apesar de ter tido forte inclinação para a teoria do risco, ou seja, responsabilidade objetiva, com o Decreto Legislativo n° 2.681 promulgado na data de 17 de dezembro de 1912, acolheu a teoria da culpa em seu artigo 1598, estabelecido no Código Civil de 1916. O Código Civil de 2002 em seu artigo 186 9 , manteve a doutrina subjetiva como fundamento principal da responsabilidade civil. Inovou ao apresentar um princípio geral para a responsabilidade objetiva, em seu artigo 92710, parágrafo único11. 1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL Estabelecer o conceito de responsabilidade civil é uma tarefa árdua devido às divergências doutrinárias, no entanto, majoritariamente tem-se entendido como a reparação de um dano causado a outrem. Comenta Diniz12, que: O vocábulo "responsabilidade" é oriundo do verbo latino 8 Código Civil de 1916, artigo 159: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. A verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade regulam-se pelo disposto neste Código, arts. 1518 a 1532 e 1537 a 1553". 9 Código Civil de 2002, artigo 186: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". 10 Código Civil de 2002, artigo 927: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". 11 Código Civil de 2002, artigo 927, parágrafo único: “ Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. 12 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 33. 7 respondere, designando o fato de ter alguém se constituído garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos contratos verbais. Afirma Pereira13: A responsabilidade civil consiste na efetivação da reparabilidade abstrata do dano em relação a um sujeito passivo da relação jurídica que se forma. Reparação e sujeito passivo compõem o binômio da responsabilidade civil, que então se enuncia como o princípio que subordina a reparação à sua incidência na pessoa do causador do dano. Não importa se o fundamento é a culpa, ou se é independente desta. Em qualquer circunstância, onde houver a subordinação de um sujeito passivo à determinação de um dever de ressarcimento, aí estará a responsabilidade civil. Argumenta Rodrigues14, que "a responsabilidade civil vem definida como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas". Enfatizando as figuras das chamadas responsabilidades civis objetivas e subjetivas, conceitua Lopes15 que: Responsabilidade significa a obrigação de reparar um prejuízo, seja por decorrer de uma culpa ou de uma outra circunstância legal que a justifique, como a culpa presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva. Ensina Diniz16 que: A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem 13 PEREIRA, Caio Mário da Silva Pereira. Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: forense, 2004. p. 11. 14 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 06. 15 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil, p.160. 16 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 34. 8 uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. Stoco 17 , por sua vez, aproxima a definição de responsabilidade à idéia de obrigação e leciona: Responsável, responsabilidade, assim como, enfim, todos os vocábulos cognatos, exprimem idéia de equivalência de contraprestação, de correspondência. É possível, diante disso, fixar uma noção, sem dúvida ainda que imperfeita, de responsabilidade, no sentido de repercussão obrigacional (não interessa investigar a repercussão inócua) da atividade do homem. Como esta varia até o infinito, é lógico concluir que são espécies de responsabilidade, conforme o campo que se apresenta o problema: na moral, nas relações jurídicas, de direito público ou privado. A responsabilidade não é fenômeno exclusivo da vida jurídica, antes se liga a todos os fenômenos da vida social. A Responsabilidade Civil é um fenômeno social, ou seja, algo que se origina e se oriunda da vida em sociedade. Conceitua-se como a obrigação imposta ao lesante em reparar os danos causados a outrem, seja através do ressarcimento da coisa in natura ou através do pagamento de quantia monetária correspondente à lesão causada. Tem-se por objetivo a restauração do status quo ante, ou seja, da situação fática anterior, e a restauração do equilíbrio social, econômico e jurídico rompidos pelo prejuízo, tendo-se como garantia do adimplemento o patrimônio do agente lesante. Devemos observar que muito mais importante que o ato ilícito que causou o dano, é o fato de que esse dano deve se ressarcido. 17 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. 4 ed. São Paulo: RT, 2002. p. 45. 9 1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1.3.1 A Conduta A conduta é um ato humano, comissivo ou omissivo, lícito ou ilícito, onde a responsabilidade do agente pode defluir de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a responsabilidade do agente, e ainda de danos causados por coisas que estejam sob a guarda deste. Portanto apenas o homem, por si ou por meio das pessoas jurídicas que forma, poderá ser civilmente responsabilizado. Para Rodrigues18: A responsabilidade por ato próprio se justifica no próprio princípio informador da teoria da reparação, pois se alguém, por sua ação pessoal, infringindo dever legal ou social, prejudica terceiro, é curial que deva reparar esse prejuízo. A responsabilidade por ato de terceiro ocorre quando uma pessoa fica sujeita a responder por dano causado a outrem não por ato próprio, mas por ato de alguém que está, de um modo ou de outro, sob a sujeição daquele. Sobre o tema, comenta SerranoJúnior19, que: A conduta omissiva tem natureza normativa. Do nada, nada surge. Assim, a omissão tem relevância para o direito, quando importa na inobservância de um dever de agir. Atribui-se sua responsabilidade pela não prática de um certo ato que deveria realizar. Como exemplo temos a inexecução de uma obrigação contratual. Argumenta Diniz 20 , "para que haja dever de ressarcir prejuízo, será preciso que o fato gerador possa ser imputável ao seu autor, isto é, que seja oriundo de sua atividade consciente”. 18 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 14-15. 19 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. , p. 23. 20 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 41. 10 Um dos principais pressupostos da Responsabilidade Civil é a existência do nexo causal entre o ato e o dano por ele gerado. Para se caracterizar a conduta, ela sempre deve ser voluntária, ou seja, tem que ser controlável pela vontade do homem. 1.3.2 Imputabilidade A imputabilidade é a possibilidade de responsabilizar determinada pessoa a prática de uma conduta, responsabilidade esta que exige a prova de que o comportamento do agente causador do dano tenha sido doloso ou pelo menos culposo. Nos ensina Venosa 21 , “Imputar é atribuir a alguém a responsabilidade por algum fato ou ato. Desse modo, a imputabilidade é pressuposto não só da culpa, mas da própria responsabilidade”. Ensina Diniz22, que: A imputabilidade, elemento constitutivo de culpa, é atinente às condições pessoais (consciência e vontade) daquele que praticou o ato lesivo, de modo que consiste na possibilidade de se fazer referir um ato a alguém, por proceder de uma vontade livre. Assim, são imputáveis a uma pessoa todos os atos por ela praticados, livre e conscientemente. Portanto, Ter-se-á imputabilidade, quando o ato advier de uma vontade livre e capaz. Leciona Serrano Júnior23, que: Não obstante, pelo sistema jurídico pátrio, o fato do ato ser praticado por menor de 16 anos, inimputável do ponto de vista do direito civil, não afasta desde logo, o direito de indenização a que tem direito o lesado. Seja o menor imputável ou não, o ato ilícito por ele praticado acarreta a responsabilidade da pessoa (pai ou tutor) a quem incumbe sua vigilância (Código Civil 1916 art. 1.521, I e II, Código Civil 2002 art. 932, I e II), com fundamento na culpa 21 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 62 22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 43. 23 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais, p. 24. 11 in vigilando. Consoante ensina Monteiro24, "essa culpa é presumida pelo legislador, de modo que só não responderá o pai ou tutor, pelo ato praticado pelo filho ou pupilo, se provar não ter agido com culpa". A imputabilidade do agente, dar-se-á por seus atos advindos de uma vontade livre e capaz de praticá-los, logo, dessa conduta surge a obrigação de indenizar o agente lesado. 1.3.3 O Dano O dano é peça chave para a existência da Responsabilidade Civil, sem um dano a ser reparado, o instituto da Responsabilidade Civil não se contempla. O dano consiste na diminuição ou destruição de um bem jurídico patrimonial ou moral pertencente a uma pessoa. Sito Venosa25: Dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico ou não. Na noção de dano está sempre presente a noção de prejuízo. Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona dano. Somente haverá possibilidade de indenização, como regra, se o ato ilícito ocasionar dano. Observando o ensinamento acima define Diniz26: Não pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano a um bem jurídico, sendo imprescindível a prova real e concreta dessa lesão. Deveras, para que haja pagamento da indenização pleiteada é necessário comprovar a ocorrência de um dano patrimonial ou moral, fundados não na índole dos direitos subjetivos afetados, mas nos efeitos da lesão jurídica. Ensina Bittar27: 24 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito das obrigações. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 288. 25 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 33. 26 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 55. 12 O dano é prejuízo ressarcível experimentado pelo lesado, traduzindo-se, se patrimonial, pela diminuição patrimonial sofrida por alguém em razão de ação deflagrada pelo agente, mas pode atingir elementos de cunho pecuniário e moral. É a responsabilidade civil, portanto, a obrigação de reparar danos, onde a extensão do dano é que determina o quantum indenizatório, ou seja, a indenização não deve proporcionar um enriquecimento indevido da vítima, assim como não deve ser insuficiente para reparar o dano, devendo corresponder, exatamente ao prejuízo, tarefa esta mais complexa, quando se tratar de danos morais. Assim, para que haja dano indenizável, será imprescindível a ocorrência dos seguintes requisitos, conforme denota Diniz28: Diminuição ou destruição de um bem jurídico, patrimonial ou moral, pertencente a uma pessoa, pois a noção de dano pressupõe a do lesado. Se alguém atropelar uma pessoa, os danos causados podem consistir na privação da vida da vítima do acidente, nos ferimentos, na amputação de órgãos, nas deformações estéticas, na incapacitação física ou intelectual, inutilização do vestuário etc. Se alguém caluniar outrem, os danos poderão consistir na afetação do bom nome do caluniado, na perda do emprego ou de algum negócio, na doença nervosa que o atingido contrai etc. Todo prejuízo é o dano a alguém. Efetividade ou certeza do dano, pois a lesão não poderá ser hipotética ou conjetural. O dano deve ser real e efetivo, sendo necessária sua demonstração e evidência em face dos acontecimentos e sua repercussão sobre a pessoa, ou patrimônio desta, salvo nos casos de dano presumido. Causalidade, já que deverá haver uma relação entre a falta e o prejuízo causado, ou seja, o dano deverá estar encadeado com a causa produzida pelo lesante. O dano poderá ser direto ou indireto 27 BITTAR, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 64-65. 28 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 58-59-60-61. 13 em relação ao fato gerador. Subsistência do dano no momento da reclamação do lesado. Se o dano já foi reparado pelo responsável, o prejuízo é insubsistente, mas, se o foi pela vítima, a lesão subsiste pelo quantum da reparação. Legitimidade, pois a vítima, para que possa pleitear a reparação, precisará ser titular do direito atingido. Os titulares poderão ser os lesados, ou seus beneficiários, isto é, pessoas que dele dependam ou possam reclamar alimentos. Ausência de causas excludentes de responsabilidade, porque podem ocorrer danos, que não resultem dever ressarcitório. Assim, para haver reparação civil é indispensável à prova real e concreta da lesão ao bem ou interesse juridicamente protegido por nosso ordenamento. 1.3.4 O nexo de causalidade Além do dano, outro fator indispensável para a Responsabilidade Civil é a relação de causalidade, portanto, o nexo de causalidade é o vínculo, que liga o dano à conduta ou atividade explorada pelo agente. Conceitua Venosa29: O conceito de nexo causal,nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Afirma Rodrigues30, que: Para que surja a obrigação de reparar, mister se faz a prova de existência de uma relação de causalidade entre a ação ou 29 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 45. 30 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 17. 14 omissão culposa do agente e o dano experimentado pela vítima. Se a vítima experimentar um dano, mas não se evidenciar que este resultou do comportamento ou da atitude do réu, o pedido de indenização formulado por aquela deverá ser julgado improcedente. Explica Serrano Júnior31, que: Trata-se de elemento cuja presença é inexorável, quer no âmbito da responsabilidade subjetiva, quer na seara da responsabilidade objetiva. Em sede da segunda modalidade de responsabilidade, que dispensa a culpa, basta estar presente o vínculo causal entre o fato lesivo (fato decorrente da atividade de risco explorada pelo agente) e o dano injusto para exsurgir o dever de indenizar. Nos casos de responsabilidade pela modalidade subjetiva, à prova do dano indenizável, da conduta imputável ao responsável (ou agente seu), e do nexo causal entre ambos, se acresce o plus da caracterização da culpa. Argumenta Diniz32, que "a obrigação de indenizar, em regra, não ultrapassa os limites traçados pela conexão causal, mas o ressarcimento do dano não requer que o ato do responsável seja a única causa do prejuízo". Nada obsta, como nos ensina Lopes33, que: Haja imputabilidade sem nexo causal, p. ex., se A der veneno a B, e B, antes da bebida produzir efeito, vier a falecer em razão de um colapso cardíaco. Houve culpa, mas não houve nexo de causalidade. Portanto, o nexo causal diz respeito a elementos objetivos, consistentes na ação ou omissão do sujeito, atentatória do direito alheio, produzindo dano material ou moral, haja vista que a imputabilidade diz respeito a elementos subjetivos. 31 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais, p. 31. 32 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 93. 33 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil, p.219. 15 1.4 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1.4.1 Responsabilidade Contratual A responsabilidade contratual decorre da violação de uma obrigação acordada pelos contraentes em um contrato ou negócio jurídico, negócio esse que é de conhecimento de ambas as partes. Para Nalin34: A responsabilidade contratual, também dita negocial ou obrigacional, consiste justamente na não violação de um dever contratual, previamente estabelecido em contrato que não deve ser quebrado pelo sujeito contratual. Define Diniz35, que: A responsabilidade contratual, se oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja, de falta de adimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma infração a um dever especial estabelecido pela vontade dos contraentes, por isso decorre de relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar. No entender de Carvalho Neto36, "a responsabilidade civil é chamada de contratual quando derivar de um descumprimento contratual". Para melhor compreensão acerca do assunto e já exemplificando o fenômeno Rodrigues37, cita como exemplo, "quando um artista, contratado para uma série de apresentações, recusa-se a dar um ou mais dos recitais combinados, fica ele sujeito a reparar as perdas e danos experimentados pelo empresário". 34 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano Extrapatrimonial, p. 64. 35 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 110. 36 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por atos de seus agentes. São Paulo: Atlas, 2002. p.49. 37 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 09. 16 Ainda comenta Diniz38, que: Quando ocorre o inadimplemento do contrato, não é a obrigação contratual que movimenta a responsabilidade, uma vez que surge uma nova obrigação que se substitui à preexistente no todo ou em parte: a obrigação de reparar o prejuízo conseqüente à inexecução da obrigação assumida. Como no exemplo acima citado, a responsabilidade contratual deve ter sua preexistência no contrato firmado pelas partes interessadas, se um dos contraentes virem a violar tal dispositivo, incorrerá este no dever de reparar os danos provenientes de seu feito. Estes efeitos resultantes da responsabilidade contratual são disciplinados no artigo 389 do Código Civil de 2002. 1.4.2 Responsabilidade Extracontratual Espécie de responsabilidade que não está vinculada a nenhuma relação obrigacional ou contratual, é aquela que surge da violação de um direito de outrem. Assim, se o prejuízo decorre diretamente da violação de um mandamento legal, por força da atuação ilícita do agente, estamos diante da responsabilidade extracontratual. Como se verá, esta responsabilidade não apresenta um vínculo jurídico obrigacional. A respeito disto, leciona Nalin39, que: A responsabilidade extracontratual, aquiliana ou delitual, resulta da violação de um dever geral de abstenção, imposto a toda e qualquer pessoal, voltado ao respeito dos direitos ditos absolutos de terceiros. No entender de Carvalho Neto 40 , "é chamada de 38 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 110. 39 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade Civil Descumprimento do Contrato e Dano Extrapatrimonial, p. 64. 40 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por atos de seus agentes, p.49. 17 responsabilidade extracontratual ou aquiliana41, quando o ato ilícito não derivar de nenhum contrato". Conceitua Diniz42: A responsabilidade extracontratual, delitual ou aquiliana decorre de violação legal, ou seja, de lesão a um direito subjetivo ou da prática de um ato ilícito, sem que haja nenhum vínculo contratual entre lesado e lesante. Ainda afirma Diniz43,que "a fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, ou melhor, é a lesão a um direito, sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica". Para melhor entendimento acerca do assunto, Rodrigues44, cita como exemplo, se "alguém atropela um homem que, no desastre, perde um braço. O agente causador desse dano fica obrigado a repará-lo, e sua responsabilidade é extracontratual". A responsabilidade extracontratual, como vimos, não decorre de uma infração contratual mas sim de uma negligência ou imperícia do agente, conforme regula o artigo 186 do Código Civil de 2002. Na responsabilidade extracontratual, cabe à vítima o encargo de demonstrar a culpa do agente causador do dano. 1.4.3 Responsabilidade Subjetiva A responsabilidade subjetiva é regra geral e inquestionável no ordenamento jurídico brasileiro. O artigo 159 do Código Civil de 1916 trazia em seu texto legal os preceitos da responsabilidade civil. No novo ordenamento manteve a regra geral aperfeiçoando-a em seu artigo 186. A responsabilidade civil subjetiva inspira-se na idéia de 41 A expressão aquiliana é originária da Lex aquilia. 42 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 427. 43 DINIZ, Maria Helena.Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 111. 44 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 09. 18 culpa, ou seja, além de se comprovar o liame causal entre o dano injusto e a atividade imputada ao responsável, é a caracterização de ter o imputado agido com culpa. Referindo-se ao que denomina de teoria da culpa ou teoria subjetiva, Bittar 45 se manifesta quanto a responsabilidade civil subjetiva dissertando que: Cabe perfazer-se a perquirição da subjetividade do causador, a fim de demonstrar-se, em concreto, se quis o resultado (dolo), ou se atuou com imprudência, imperícia ou negligência (culpa em sentido estrito). A prova é, muitas vezes, de difícil realização, criando óbices, pois para a ação da vítima, que acaba, injustamente, suportando os respectivos ônus. Relevando o elemento culpa, Pereira46 leciona que: A doutrina da culpa assume todas as veras de uma fundamentação ostensiva e franca com o Código Napoleão. Sobre este preceito a corrente exegética assentou que o fundamento da reparação do dano causado é a culpa. Argumenta Diniz 47 , que no caso de responsabilidade subjetiva, "a prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de reparar". Sustentando, também, quanto a importância da configuração do ato ilícito na caracterização da responsabilidade subjetiva, Alonso48, afirma que: Na dogmática da responsabilidade civil subjetiva, o ato ilícito destaca-se como um elemento relevante da sua sustentação. A investigação do comportamento do agente é fundamental para a apuração da sua responsabilidade, uma vez que o pressuposto do dever de indenizar pela teoria subjetiva é a conduta culposa do 45 BITTAR, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil, p. 578. 46 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil, p. 14. 47 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 111. 48 ALONSO, Paulo Sérgio Gomes. Pressupostos da responsabilidade civil objetiva, p. 20. 19 agente. Salienta Serrano Júnior49, que: Segundo a nomenclatura civilista, em sentido lato, a culpa abrange o dolo e a culpa (stricto sensu). O dolo como vontade livre e consciente de transgredir – intencionalmente – o dever de agir conforme o direito e a culpa como violação de um dever, que o agente podia conhecer e acatar. A responsabilidade civil subjetiva tem como sinônima a expressão responsabilidade extracontratual ou aquiliana e caracteriza-se ante a presença do ato ilícito, ou seja, o ato culposo ou doloso do agente, sempre que se testar configurado o dano reclamado pelo agente lesado e comprovado o nexo de causalidade. 1.4.4 Responsabilidade Objetiva Esta modalidade de responsabilidade está vinculada a teoria do risco, em que aquele que, através de sua atividade/conduta, cria uma situação de risco de dano para outrem, deve ser obrigado a repará-lo, bastando a simples ocorrência, sem cogitação da intenção do agente, ou seja, é suficiente que se observe um nexo de causalidade entre a atividade criadora do risco e o dano, sem que seja necessário investigar se o agente praticou um ato ilícito. Enfatizando a irrelevância da conduta culposa ou dolosa, prescreve Diniz50, que: É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar. 49 SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais, p. 34. 50 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p.111. 20 Para Venosa 51 a teoria do risco advém da teoria da culpabilidade conforma leciona a seguir: A insuficiência da fundamentação da teoria da culpabilidade levou à criação da teoria do risco, com vários matizes, que sustenta ser o sujeito responsável por riscos ou perigos que sua atuação promove, ainda que coloque toda diligência para evitar o dano.”“ Argumenta Rodrigues52: Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente. Acentua Alonso 53 , relevando o Princípio da Eqüidade, presente na responsabilidade objetiva, o seguinte: O princípio da responsabilidade objetiva é o da eqüidade, para que se imponha o dever da reparação do dano e não somente porque existe responsabilidade. Aquele que obtém o lucro em determinadas situações deve responder pelos riscos e pelas desvantagens. Evidencia-se, portanto, a partir dos entendimentos doutrinários que na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é irrelevante, basta que reste configurado a relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente lesante, daí resultando o dever indenizatório. 1.4.5 Responsabilidade Civil Direta Como no Direito Penal, a primeira idéia de responsabilidade que nos aflora, dentro do conceito de equidade e justiça, é a de fazer com que o 51 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 14. 52 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 11. 53 ALONSO, Paulo Sérgio Gomes. Pressupostos da Responsabilidade Civil objetiva. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 40. 21 próprio causador do dano responda pela reparação. A regra para determinar a obrigação de reparar danos é a responsabilização direta, também denominada responsabilidade por ato próprio, tendo em vista que o próprio agente, com base em sua culpa ou nos riscos gerados por sua atividade, deve responder pelos danos que tiver provocado na esfera dos direitos de outrem. Conceitua Diniz54: A responsabilidade direta, simples ou por fato próprio é a que decorre de um fato pessoal do causador do dano, resultando, portanto, de uma ação direta de uma pessoa ligada à violação ao direito ou ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso. No mesmo sentido comenta Lopes55, que: Ela se constitui quer por uma comissão ou uma omissão, por um fato voluntário ou involuntário, mediato ou imediato, configurando- se, neste caso, quando o homem dispõe de uma maneira negligente ou imprudente de uma coisa, que deu lugar a um prejuízo, ou seja, quando esta coisa é por ele movimentada, de modo a transformá-la num prolongamento de sua própria pessoa, do seu corpo, como é o caso de estar dirigindo um automóvel, manobrando um fuzil, um bastão etc. Diante das referências doutrinárias, esta modalidade de responsabilidade decorre de fato próprio, ou seja, o ato lesivo está ligado diretamente ao agente causador do ilícito, caracterizando assim, a responsabilidade civil direta. 1.4.6 Responsabilidade Civil Indireta O direto positivo procura ampliar as possibilidades de reparação de prejuízos causados ao patrimônio de alguém. Nessa condição, se somente a responsabilidade direta fosse alvo para reparação de danos, muitas situações de prejuízo ficariam irressarcidas. E diante disso, o nosso ordenamento 54 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 429. 55 LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de Direito Civil, p. 222. 22 jurídico tem admitido, em situações descritas na lei, a responsabilidade indireta, ou seja, aquela que surge não ocorre pelas mãos do agente pagador. Neste caso, o responsável pelo agente direto, ou seja, por quem provocou efetivamente o dano, também deverá assumir a obrigação de indenizar. Trata-se, então, de uma responsabilidade indireta ou complexa,estando abrangido neste conceito, além da responsabilidade pelo ato de terceiro, a responsabilidade por fato de animais e a responsabilidade pelo fato de coisas inanimadas. Define Diniz56: A responsabilidade complexa é aquela que só poderá ser vinculada indiretamente ao responsável. Compreende duas modalidades: a) a responsabilidade por fato alheio, desde que o causador do dano esteja sob a direção de outrem, que, então, responderá pelo evento lesivo; b) a responsabilidade pelo fato das coisas animadas ou inanimadas que estiverem sob guarda de alguém, que se responsabilizará pelos prejuízos causados. No mesmo diapasão afirma Lopes57: A responsabilidade complexa, só indiretamente pode ser vinculada ao responsável, em desconformidade com o princípio geral de que só o homem é responsável pelos danos causados diretamente por ele e com seu fato pessoal. Decorrente de um culpa in vigilando, a responsabilidade indireta é aquela que emana da falta de vigilância ou de fiscalização em face de conduta de terceiro por quem nos responsabilizamos. Desta forma, encerra-se este capítulo onde se tratou da Responsabilidade Civil, para, na seqüência, adentrar no estudo referente a Contratos. 56 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 430. 57 LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de Direito Civil, p. 234. CAPÍTULO 2 OS CONTRATOS EM GERAL 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Na civilização humana, todas as relações entre indivíduos, de uma forma ou de outra, sempre estiveram reguladas por um pacto, um acordo, uma obrigação, ou seja, por um contrato mesmo que de uma forma induzida. Nessas relações podemos observar os principais fundamentos e requisitos que norteiam o conceito de contrato, consubstanciam-se eles na expressão da vontade, ou seja, na viabilização dos negócios jurídicos como nos ensina Diniz58: O contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. A palavra contractus significa unir, contrair. Como vimos, não era o único termo utilizado em Direito Romano para finalidades semelhantes, havia também a convenção (conventio) e o pacto (pacta). Theodoro Júnior59 traz um conceito interessante a respeito do contrato ao afirmar que se trata de “instituto jurídico que se amolda sempre à ideologia dominante do Estado a cuja organização econômica instrumentaliza”. 58 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, v. III, p. 22. 59 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do Consumidor. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 6. 24 Na visão de Pontes de Miranda60, “é negócio jurídico (ou instrumento jurídico) que estabelece entre os figurantes, bilateralmente ou plurilateralmente, relações jurídicas, ou as modifica, ou as extingue”. Para Nascimento61, Contrato é: [...] espécie de convenção mantida entre duas ou mais pessoas, desde que em pólos de interesses contrapostos e, por isso, relação jurídica, e que tem por fim a constituição, alteração, conservação ou extinção de direitos e obrigações pessoais, com adequação, ou não, a uma das modalidades contratuais previstas e estruturadas em lei. De um lado, caracteriza-se pelos elementos que, convergindo entre si, o estabelecem e, de outro, pelo conteúdo que, para as partes, vale como mandamentos e determinações. Assim, tanto é contrato uma compra e venda de qualquer móvel ou imóvel, ou uma doação ou permuta, como também uma locação, um arrendamento, etc. E não é só isto: o contrato pode ter como objeto a simples atividade humana, quando envolve obrigações de fazer ou não fazer. Assim, pode-se dizer que o contrato é todo acordo de vontades destinado a constituir uma relação jurídica de natureza patrimonial e eficácia obrigacional. Constitui-se de acordo de vontades, pois há necessidade de convergência das pretensões sobre um mesmo objeto; é uma relação jurídica porque envolve partes distintas e suas manifestações têm repercussão no Direito. É de natureza patrimonial, pois o objeto para onde convergem as pretensões possui um valor pecuniário, ou seja, mensurável economicamente e, por fim, de eficácia obrigacional porque envolvem direitos e 60 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. p. 245. 61 NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro. Comentários ao Código do Consumidor. Rio de Janeiro: Aide, 1991, p. 58. 25 deveres de ambos os pólos da relação, podendo o Estado obrigar a parte inadimplente ao cumprimento do acordo de vontade pactuado62. Corroborando as palavras de Gomes, segue Pereira 63 , afirmando que: [...] o fundamento ético do contrato é a vontade humana, desde que em conformidade com a ordem jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito é a criação de direitos e obrigações. Modernamente os contratos trazem em seu interior a cláusula rebus sic stantibus, ou da teoria da imprevisão, que lhe impõe restrições e dá ao juiz a faculdade de revisão sobre os contratos. Frente a este entendimento, afirma Lopes64 que o Contrato necessita ser interpretado, procurando determinar qual seu alcance e seus efeitos. Investiga-se o seu verdadeiro conteúdo e faz-se a sua interpretação para reconstituir a vontade das partes, com um valor de lei entre elas. Quando um contrato é ambíguo e as partes nele interessadas lhe emprestam sentidos diversos, impõe-se fixar-lhe o seu verdadeiro sentido. Assim, chega-se a definição de contrato como um "ato bilateral, pois depende de no mínimo duas declarações de vontade, visando criar, modificar ou extinguir obrigações" 65. 62 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 327, 30 mai. 2004. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5240>. Acesso em: 22 abr. 2007, p. 1. 63 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, v. III, p. 2. 64 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil – Fontes das Obrigações: Contratos. p. 45. 65 BARLETTA, Fabiana Rodrigues. A Revisão Contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 21. 26 2.2 ESCORÇO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO Não se pode afirmar com certeza quando o homem começou a contratar, mas pode-se afirmar que nos primórdios da civilização, este já precisava da colaboração de terceiros para prover as suas necessidades. A contratação teve início com a simples troca de produtos, aprimorou-se com a compra e venda e foi evoluindo cada vez mais para atender aos anseios da vida em sociedade66. Juntamente com a possibilidade de contratar, surgiram os problemas e desentendimentos oriundos destes contratos. Entretanto, essa noção de intervenção estatal (através do juiz), nos acordos firmados entre particulares, é extremamente nova na história jurídico-contratual67. Fazendo uma análise histórica, o contrato apresentou seu ponto culminante e aglutinador com a evolução teórica do direito, após a idade média e a evolução social e política ocorrida nos séculos XVIII e XIX, com a Revolução Francesa, com o nacionalismo crescente e com o liberalismo econômico68. Sob o império da doutrina liberal, além do princípio genérico e implacável do pacta sunt servanda,informavam os contratos, a presunção de igualdade entre as partes, e a presunção de que cada parte era autônoma para contratar com quem quisesse e nos termos que lhe interessasse69. 66 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil. In Revista da ESMESC/Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: ESMESC, 2002, v. 14, p. 69. 67 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 69. 68 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 69 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70. 27 Essa pouca ou nenhuma interferência estatal nos contratos privados pode explicar, historicamente, as práticas abusivas reiteradas que submetem o contratante em posição desvantajosa à vontade do mais forte70. Com a Revolução Industrial, a produção em larga escala substituiu a contração individual pela coletiva e trouxe a revolução do consumo. Os contratos passaram a ser de adesão, ou seja, elaborados por uma das partes e apresentados à outra, sem que nenhuma negociação prévia fosse realizada entre os interessados. A presunção liberalista, de que as partes tinham liberdade para contratar e estavam em posição de igualdade, continua a pautar a omissão judicial71. Frente às grandes mudanças no mundo urbano e industrial, proporcionadas pelo sistema capitalista do século XIX, surgem as primeiras contradições entre os ideais de igualdade e de liberdade e a realidade social da época. O desenvolvimento industrial veio praticamente anular aquelas idéias de igualdade e de liberdade. O anseio da população mais pobre, que sofria de fato com os problemas gerados por essas contradições, começou a reivindicar do Estado uma postura mais ativa, visando assegurar um equilíbrio nas relações interpessoais e à solução dos problemas sociais72. Assim, o Estado liberal deu lugar ao Estado social, preocupado com a garantia dos direitos sociais e econômicos. Consoante THEORODO JUNIOR· nessa nova ordem jurídica, a intervenção do Estado no domínio do contrato deixou de ser apenas supletória, para ser limitadora da vontade individual e disciplinadora de certos objetivos que transcendem à vontade dos contratantes. 70 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70. 71 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70. 72 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 28 Em resposta a essa problemática social, surgem as primeiras Constituições sociais. Um exemplo é a Constituição Francesa de 1848, que passa a demonstrar novas pretensões políticas sob a forma de direitos econômicos e sociais merecedores da proteção estatal. A Constituição de 1848, assim como o código civil francês, influenciou outras constituições, por exemplo, a alemã, a mexicana, entre outras, que viram na intervenção estatal a forma de combate às desigualdades sociais e às idéias comunistas que se afloravam73. No Brasil, as Constituições de 1934, 1946, 1967, 1969 e, principalmente, a de 1988, fizeram referências a essa nova ordem econômica e social. A Constituição de 1988, constituição social, criou princípios básicos da legislação trabalhista (art. 7º), da função social da propriedade, dos direitos sociais, da ordem econômica. A legislação extravagante abarcou tais preceitos constitucionais, por exemplo: o Código Civil de 2002 deu mais ênfase ao princípio da boa-fé, da probidade e da função social do contrato (art. 421 e 422); o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) veio estabelecer normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos art. 5º, inciso XXXII e art. 170, inciso V, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; e as legislações trabalhistas que obedecem às diretrizes do art. 7º desse mesmo instituto74. Atualmente, as relações contratuais são influenciadas pela economia de mercado e pela globalização. No modelo econômico capitalista, muitos dos contratos não são feitos por opção, mas sim por um imperativo de modo de vida contemporâneo75. Essa nova conjuntura determinou a mitigação definitiva dos princípios da autonomia da vontade e da presunção e isonomia tornando-os 73 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, p. 01. 74 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, p. 01. 75 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 70-71. 29 inexistentes no novo regime jurídico contratual, baseado no reconhecimento de que, em grande parte dos pactos, não há prerrogativa de escolha e, muito menos, paridade de forças entre os pactuantes76. A interferência estatal na vida econômica implicou a limitação legal da liberdade de contratar e o encolhimento da autonomia da vontade, passando a ser descartada e censurada a liberdade de determinar o conteúdo na relação contratual. Tais mudanças repercutiram no regime legal e na interpretação do contrato77. A intervenção do Estado tornou-se, na realidade, um meio de assegurar a manutenção do regime democrático, fazendo limitações aos contratos de adesão e aos contratos de massa, surgindo em contrapartida os contratos dirigidos e os contratos forçados sobre a tutela estatal78. 2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL Assim como todos os demais ramos do direito, os contratos também possuem princípios que os regem, são pilares que sustentam a sua formalização, extrai-se das palavras de Reale79 que “toda forma de conhecimento filosófico ou científico implica a existência de princípios, isto é, enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das demais asserções que compõem dado campo do saber”. 76 NERILO, Lucíola Fabrete Lopes; CORREA, Fernanda Letícia Kaizer. A trajetória histórico- evolutiva dos contratos até o Novo Código Civil, p. 71. 77 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 78 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, p. 1. 79 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 305. 30 Para Bobbio 80 , princípios são “normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais”. Nesse entendimento, pode-se afirmar que os princípios que regem uma ciência específica constituem um conjunto de idéias gerais, abstratas, que fundamentam o ordenamento, garantindo-lhe, desta forma, a validade. No presente trabalho, iremos tratar dos princípios específicos do direito contratual, que são, por sua vez, oriundos daqueles constitucionalmente referidos, os princípios gerais de direito. São princípios norteadores do direito contratual: a) o princípio da autonomia da vontade; b) o princípio da obrigatoriedadeda convenção ou da força obrigatória; c) o princípio do consensualismo; d) o princípio da probidade e da boa-fé; e e) o princípio da relatividade dos contratos. 2.3.1 Princípio da autonomia da vontade Pelo princípio da autonomia da vontade, os contratantes possuem ampla liberdade para criar as relações que lhes convenham, tomando o contrato como verdadeira norma jurídica81. Neste sentido, Henri de Page, apud THEODORO JUNIOR82 propõe que a autonomia privada da vontade deve ser compreendida como: o poder reconhecido às vontades particulares de regularem elas próprias, todas as condições e modalidades de seus vínculos, de decidir, por si só, a matéria e a extensão de suas convenções. 80 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 4. ed. trad. Cláudio de Cicco e Maria Celeste C. J. Santos. Brasília: Universidade de Brasília, 1994, p. 158. 81 BEGALLI, Paulo Antônio. Direito contratual no novo código civil. Leme: Editora de Direito, 2003, p. 91. 82 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Contratos. Princípios gerais. Tendências do direito contratual contemporâneo. Abrangendo os princípios tradicionais. Intervenção estatal crescente. Impacto do Código de Defesa do Consumidor. Revista dos Tribunais. São Paulo: RT, p. 11-33, jul. 1999, v. 765, p. 13. 31 GOMES83 afirma que o princípio da autonomia da vontade constitui na liberdade de contratar inegável conferida às partes, porém, deixa intrínseco a este princípio o seu limite, que pode ser de ordem pública ou de bons costumes, ou seja, o princípio da supremacia da ordem pública, também consagrado por Monteiro, estaria inserido no princípio maior da autonomia da vontade. Assim, serão nulos os contratos que ultrapassarem estes limites. Segundo a doutrina, os contratos resultantes da livre apreciação dos interessados são sempre justos e somente limitados por considerações de ordem pública e pelos bons costumes. Respeitados os limites, os contraentes podem convencionar aquilo que lhes aprouver. 2.3.2 Princípio da obrigatoriedade da convenção ou força obrigatória Tudo aquilo que fora acordado no contrato deverá ser fielmente executado (pacta sunt servanda) pode ser conceituado como aquilo que as partes, de comum acordo, estipularem e aceitarem. Caso contrário, devesse a execução patrimonial contra a parte desonrosa. Isto porque o contrato incorpora- se ao ordenamento jurídico e por assim autorizando o contratante a executar, por intervenção estatal, o contrato contra aquele que não cumpriu a obrigação nele estabelecida. Diniz84 acentua, o contrato é intangível a menos que ambas as partes o rescindam voluntariamente ou haja a escusa por caso fortuito ou força maior (CC/2002, artigo 393, parágrafo único). Esse princípio da força obrigatória funda-se na regra de que o contrato é lei entre as partes, desde que estipulado validamente (RT, 543:243, 478:93), com observância dos requisitos legais. Mas devido ao dirigismo contratual, o pacta sunt servanda não é absoluto, limitado está pelo princípio do equilíbrio contratual, pois casos haverá em que se terá a resolução ou a revisão judicial dos atos negociais. 83 GOMES, Orlando. Contratos, p. 16. 84 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2006 p.84. 32 Para Gomes 85 , o princípio da força obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que seja, com observância de todos os pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se fossem preceitos legais imperativos. O autor assevera, ainda, que essa inteligência larga não se apresenta como corolário exclusivo da regra moral de que todo homem deve honrar a palavra empenhada. Justifica-se, ademais, como decorrência do próprio princípio da autonomia da vontade, uma vez que a possibilidade de intervenção do juiz na economia do contrato atingiria o poder de obrigar-se, ferindo a liberdade de contratar86. 2.3.3 Princípio do consensualismo O princípio do consensualismo ou do consentimento, segundo GOMES87, é uma conquista moderna, onde o consentimento é suficiente para formalizar um contrato, desde que o contrário não esteja prescrito em lei. A regra do consensualismo é que para contratar basta o simples acordo de vontades, e, salvo as exceções legais, qualquer forma contratual é válida (verbal, silêncio, mímica, telefone, e-mail). Os atos solenes, aqueles que exigem formalidades legais, só ocorrem quando a lei ordenar88. 2.3.4 Princípio da probidade e da boa-fé Nos contratos sempre há interesses opostos entre as partes contraentes, assim há uma imposição ética que domina toda a 85 GOMES, Orlando. Contratos, p. 38. 86 GOMES, Orlando. Contratos, p. 22. 87 GOMES, Orlando. Contratos, p. 21. 88 BEGALLI, Paulo Antônio. Direito contratual no novo código civil, p. 91. 33 matéria contratual que inibi o uso da astúcia e da deslealdade prevalecendo então, a boa-fé e a lealdade das partes tanto na criação quanto na interpretação e execução dos contratos. O Código Civil não possui norma específica sobre este princípio, porém as jurisprudências e as doutrinas, preceituam com unanimidade, que o mesmo também prevalece para lei pátria, como princípio geral do direito. Segundo Teodoro Júnior 89 , além de prevalecer a intenção sobre a literalidade, compreende-se segundo este princípio da boa-fé que ele deve ser interpretado e compreendido, sobre a máxima da lealdade e da confiança entre os contratantes, ou seja, não se fala neste princípio se um dos contratantes tenha firmado tal contrato, a fim de enriquecer-se injustamente à custa do prejuízo do outro. O princípio da boa-fé no que preceitua Gomes90 entende mais com a interpretação do contrato do que com a estrutura. Nesse caso a expressão literal da linguagem não deve prevalecer sobre a intenção manifestada na declaração de vontade. O Código Civil de 2002 preceituou em seu artigo 422 que: Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa- fé. O Código Civil alemão entende que as partes devem agir com lealdade e confiança recíprocas, e, portanto, devem proceder de boa-fé. Estendendo-se mais um pouco a idéia central é de que entre o credor e o devedor é necessária colaboração, um ajudando o outro na execução do contrato. 89 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e seus princípios. 3 ed. Rio de Janeiro: AIDE, 2001. p. 34. 90 GOMES, Orlando. Contratos. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.p. 38,39. 34 Por fim, é esse um princípio ligado à interpretação do contrato, pois o sentido literal da linguagem não prevalece sobre a verdadeira intenção das partes e também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes deverão agir com lealdade e confiança recíprocas. A função social do contrato busca a boa-fé dos contratantes, a transparência negocial e a efetivação da justiça contratual. 2.3.5 Princípio da relatividade dos contratos O princípio da relatividade dos contratos diz respeito à sua eficácia. De acordo com o mesmo, o “contrato só ata aqueles que dele participam. Seus efeitos não podem nem prejudicar nem aproveitar a terceiros” 91. Este princípio, contudo, admite exceções, pois há obrigações que estendem seus efeitos a terceiros. São efeitos externos, como, por exemplo, a estipulação em favor de terceiro, prevista no Código Civil Brasileiro, nos artigos 436 a 438. 2.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO O contrato é uma espécie de negóciojurídico, portanto, um ato jurídico. Assim, para garantir sua plena existência e completa validade, o contrato necessita preencher alguns pressupostos e requisitos. “Pressuposto” é a circunstância ou fato considerado como antecedente necessário de outro. “Requisito” é a condição necessária para a obtenção ou para o preenchimento de certo fim. Os pressupostos e requisitos neste trabalho argüidos se fazem necessários para uma melhor compreensão da sua importância na formação do contrato. 91 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, p. 23. 35 2.4.1 Pressupostos Para que seja válido e se desenvolva, o contrato exige alguns pressupostos que devem estar presentes no momento da sua formação ou perfazimento. O Código Civil de 2002 traz expressamente em seu artigo 104 os pressupostos do contrato que são: a) a capacidade das partes; b) objeto ilícito e possível; e c) forma prescrita ou não defesa em lei. Por Bessone92, o pressuposto (pré+suposto) preexiste ao ato a que se refere. Constitui um prius, naturalmente situado antes e fora do ato, em um breve comentário discorre tal doutrinador sobre o que são pressupostos do contrato, senão vejamos: Os pressupostos da validade do contrato devem existir, portanto, antes de formar-se o vínculo. Distinguem-se dos elementos em que estes, ao contrário, são contemporâneos e constitutivos do contrato, quer dizer, integram-no, formando-lhe a estrutura ou fornecendo-lhe a substância, o conteúdo. Segundo Gomes os pressupostos são as condições sob as quais se desenvolve ou poderá se desenvolver o contrato. A capacidade das partes é peça fundamental para que haja o negócio jurídico, assim não podem contratar os absolutamente incapazes, senão quando representados, e os relativamente incapazes sem a assistência das pessoas elencadas na lei. Como nos ensina Monteira·, A capacidade dos contratantes é assim o primeiro requisito para a validade dos contratos. 92 BESSONE, Darcy. Do contrato. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p.89. 36 Entende Bessone 93 que a capacidade, como qualidade do sujeito, difere-se em capacidade jurídica, ou de direito ou de gozo, e a capacidade de fato, ou de exercício de agir. O contrato é o acordo destinado a regular interesses, portanto seu objeto não pode ser contrário à lei, à moral, à ordem pública ou aos bons costumes. Deve ser lícito e possível e forme prescrita ou não defesa em lei. Deve-se observar as imposições legais previstas no artigo 166 do Código Civil de 2002. 2.4.2 Requisitos de validade do contrato Para que haja a existência do contrato são necessários alguns elementos essenciais, que podem ser “gerais”, se comuns à generalidade dos negócios jurídicos, dizendo respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e possível e ao consentimento dos interessados, e “particulares”, peculiares a determinadas espécies por serem concernentes à sua forma. Assim, os requisitos objetivos do contrato são, agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei94. A capacidade das partes é aquela “capacidade jurídica” das pessoas, ou seja, capacidade da pessoa de realizar um ato jurídico, independentemente de sua capacidade natural momentânea ou definitiva95. O objeto do contrato precisa, ainda, ser idôneo. O “contrato é acordo destinado a regular interesses. Necessário, portanto, que tenha objeto 93 BESSONE, Darcy. Do contrato. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p.90. 94 Art. 104 do Código Civil Brasileiro. 95 GOMES, Orlando. Contratos, p. 27. 37 lícito e possível. Imprescindível, ainda, a adequação do objeto ao fim visado pelos contratantes” 96. Diniz 97 define objeto lícito como aquele em conformidade com “a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral. Se tiver objeto ilícito será nulo”. Além disso, o contrato deverá ter ainda objeto possível, física ou juridicamente. Isto significa que, se o ato negocial contiver prestação impossível, como, por exemplo, a de dar volta ao mundo em uma hora ou de vender herança de pessoa viva, não poderá ser tido como um contrato, até porque, como poderá ser cumprido se não contém objeto possível? O último dos requisitos objetivos é a forma prescrita ou não defesa em lei. A forma é a exposição, a possibilidade do reconhecimento da atitude, dentro do ambiente social em que foi produzida. A forma escrita é sempre preferida em relação às demais, muito embora, na maioria dos contratos, não seja obrigatória. Sua superioridade sobre a forma verbal é manifesta, principalmente no que diz respeito à prova do contrato. Além destes requisitos objetivos, os contratos possuem, ainda, alguns requisitos subjetivos, que são: a) existência de declaração, ou melhor, de manifestação de duas ou mais vontades e capacidade genérica dos contraentes; b) aptidão específica para contratar; c) consentimento98, os quais passam a ser analisados. 96 GOMES, Orlando. Contratos, p. 27. 97 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 9. ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 105. 98 DINIZ, Maria Helena. Tratado Teórico e Prático dos Contratos. São Paulo: Saraiva, 1993, v. 1, p. 12. 38 2.4.2.1 Declaração de vontade das partes Um requisito subjetivo fundamental é a declaração de vontade emitida pelas partes, mecanismo de formação do contrato, sobre o qual Gomes99 manifesta que: [...] para a perfeição do contrato, requer-se: em primeiro lugar, a existência de duas declarações, cada uma das quais, individualmente considerada, há de ser válida e eficaz; em segundo lugar, uma coincidência de fundo entre as duas declarações. Assim, pode-se dizer que é através do acordo de vontades entre as partes contratantes, seja ele tácito ou expresso, que se manifesta de um lado a oferta e de outro a aceitação. A proposta e a aceitação são elementos indispensáveis à formação do contrato, haja vista que entre estas gira toda a controvérsia sobre a força obrigatória do contrato, sobre o momento exato em que ambas se fundem para produzir a relação contratual e sobre o lugar em que se reputará celebrado o negócio jurídico. Essa declaração de vontade é essencial à formação do contrato. Chama-se doutrinariamente de “consenso” a essa convergência ou coincidência. Havendo “dissenso” não nasce o contrato ou mesmo em determinados casos será ineficaz. 2.4.2.2 Legitimação Outro requisito necessário é a legitimação. Não basta ser o agente capaz para celebrar o contrato, mas “requer-se ainda, que seja parte legítima, isto é, idônea, para movimentar a relação processual, por ter interesse a ser protegido. Pode alguém ser capaz, mas não ter legitimidade ad causam”100. 99 GOMES, Orlando. Contratos, p. 10. 100 GOMES, Orlando. Contratos, p. 29. 39 Neste sentido, assevera Gomes101 que “pessoa plenamente capaz de exercer os atos da vida civil vê-se proibida de praticar alguns em virtude da posição em que se encontra relativamente a seu objeto”. Assim, verifica-se que há uma completa diferença entre capacidade da parte e legitimidade da parte. Aquela corresponde a uma qualidade intrínseca à pessoa, e esta diz respeito à situação da pessoa em relação a um determinado bem, “que podem ser objeto de negócios jurídicos em geral, ou em relação às especiais categorias de negócios”102. A falta de legitimação pode tornar o negócio nulo ou anulável, v.g.
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