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Responsabilidade Civil Unidade 4

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Introdução às Unidades 4, 5 e 6: 
Responsabilidade indireta ou complexa
Retomando o quadro utilizado na Unidade 1, identifi camos a Responsabilidade pelo fato de 
outrem e a Responsabilidade pelo fato da Coisa (animada e inanimada).
Responsabilidade
Civil
Extracontratual
Responsabilidade
Subjetiva
Culpa Provada
Culpa Presumida
Responsabilidade
Objetiva
Abuso de Direito 
Atividade de Risco
Fato do Produto
Fato de Outrem
Fato da Coisa
Do Estado e Dos prestadores 
de Serviços Públicos
Nas Relações de Consumo 
Contratual 
Com Obrigação de Meio
Com Obrigação de Resultado
Estes dois tipos de Responsabilidade estão previstas no ordenamento jurídico brasileiro e são 
denominadas indiretas ou complexas porque impõem a responsabilidade a uma pessoa diferente 
daquela que praticou o ato, ou seja, quem responde não é quem executa o evento danoso e sim aquele 
que é responsável pelo praticante do ato.
A Responsabilidade Indireta representa uma exceção ao princípio geral de que o homem responde 
apenas pelos danos que ele próprio cause a alguém – Responsabilidade Direta ou responsabilidade pelo 
fato próprio. Portanto, por ser exceção, não comporta interpretação extensiva, sendo os seus casos 
previstos de forma taxativa na legislação. 
Sergio Cavalieri (2014, p. 235) explica que “para que a responsabilidade desborde do autor 
material do dano, alcançando alguém que não concorreu diretamente para ele, é preciso que 
alguém esteja ligado por um vínculo jurídico ao autor do ato ilícito, de sorte a resultar-lhe daí, 
um dever de guarda, vigilância e custódia”.
Alguns autores preferem a expressão “responsabilidade por infração dos deveres de 
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Responsabilidade Civil
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vigilância”. Cavalieri explica: “a responsabilidade pelo fato de outrem constitui-se pela infração 
do dever de vigilância”, “não se trata de responsabilidade por fato alheio, mas por fato próprio 
decorrente da violação do dever de vigilância”.
O fato de ser uma responsabilidade decorrente da infração do dever de vigilância não deve trazê-
la para o campo da responsabilidade subjetiva e com a inserção da culpa in vigilando ou da culpa in 
custodiendo (Unidade 2) em seus pressupostos.
A Responsabilidade Indireta ou Complexa é objetiva e se dará independentemente de culpa.
Este assunto será estudado em três unidades: 
•	 A unidade 4 trata da Responsabilidade pelo fato de outrem;
•	 A unidade 5 aborda a Responsabilidade pelo fato da Coisa (inanimada); 
•	 A unidade 6 trata da Responsabilidade pelo fato da Coisa animada, ou melhor, da 
Responsabilidade pelo dano causado por animais.
Assim, apresenta-se outro quadro sinótico para a melhor compreensão de como a Responsabilidade 
Indireta está no Plano de Aula:
Responsabilidade
Indireta ou 
Complexa
Fato de 
Outrem
Unidade 4
Responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos menores
Responsabilidade dos tutores e dos curadores pelo pupilo e curatelado
Responsabilidade do Empregador por atos dos seus empregados ou prepostos
Responsabilidade do Hoteleiro pelos atos de seus hóspedes
Responsabilidade dos estabelecimentos de ensino pelos atos dos educandos
Responsabilidade dos participantes, a título gratuito, em produto de crime
Fato da 
Coisa
Inanimada
Unidade 5
Responsabilidade das locadoras de veículos por danos 
causados pelo locatário
Responsabilidade pela ruína de edifício
Responsabilidade por coisas caídas de prédio
Responsabilidade dos depositários e encarregados de guarda 
e vigilância de carros
Animada
Unidade 6
Responsabilidade pelo dano causado por animais
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As possibilidades de responsabilidade pelo fato de terceiro e a previsão de que esta responsabilidade 
independe da confi guração de culpa estão previstos nos Arts. 932 e 933 do Código Civil:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos fi lhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do 
trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, 
mesmo para fi ns de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa 
de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.
Estes artigos disciplinam os casos de Responsabilidade Civil por fato de terceiro que ocorre 
quando alguém é legalmente responsável pelos atos de outrem que causam prejuízos a terceiros. 
Portanto, é preciso que haja três polos para que se efetive tal responsabilidade in direta.
O primeiro é o polo do responsável legal, que tem o dever objetivo de reparar o dano. O segundo 
é o do causador deste dano, que o deve causar de maneira culposa para fazer emergir a responsabilidade 
do obrigado legal. O terceiro polo é o da pessoa que sofre o prejuízo.
Sobre o texto acima destacado em itálico, Sérgio Cavalieri explica: 
Não se olvide, entretanto, que objetiva é a responsabilidade dos pais, tutor, curador e empregador, 
e não das pessoas pelas quais são responsáveis. Em qualquer dessas hipóteses, será preciso a 
prova de uma situação que, em tese, em condições normais confi gure a culpa do fi lho menor, do 
pupilo, do curatelado, como também do empregado (se for caso de responsabilidade subjetiva). 
O dispositivo em exame deve, portanto, ser interpretado no sentido de que, praticado o ato 
em condições de ser considerado culposo se nas mesmas condições tivesse sido praticado 
por pessoa imputável, exsurge o dever de indenizar dos pais, tutor, curador, empregador, etc., 
independentemente de qualquer culpa destes. Não haverá lugar para a chamada culpa in vigilando 
ou in eligendo. Os pais terão que indenizar simplesmente porque são pais do menor causador do 
dano. (...) Mas, em contrapartida, se ao menos em tese o fato não puder ser imputado ao agente 
a título de culpa, os responsáveis não terão que indenizar. (CAVALIERI, 2012, p. 205-206).
Importante conhecer estes conceitos pois, por razões históricas, muitos ainda confundem a 
responsabilidade pelo fato de terceiro. Até a previsão de responsabilidade objetiva pelo Código Civil 
de 2002, predominada a responsabilidade subjetiva, e alguns avanços no sentido de proteger a vítima 
do evento danoso eram experimentados pela jurisprudência com base no direito comparado. Enquanto 
vigeu o Código Civil de 1916, era preciso a vítima provar que houve omissão ou falha no dever de 
vigilância por parte do responsável, já que para efeitos penais e civis o menor era inimputável, não podia 
ser chamado a responder pelos seus atos e não havia a previsão de chamar aquele que era o responsável 
legal. Como se tratava de prova bastante difícil, era comum as vítimas destes eventos fi carem com o 
prejuízo. Para tais casos alegava-se até a excludente de caso fortuito!
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Unidade 4: da ReSPOnSaBiLidade 
POR FaTO de TeRCeiRO
Responsabilidade Civil
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Hoje, com a previsão dos Arts. 932 e 933, interpretados em consonância com a Constituição 
Federal de 1988 (Art. 5°, X) não se pode mais admitir que uma pessoa prejudicada pelo ato danoso de 
outrem não seja indenizada. Daí a importância da interpretação das normas conforme os princípios.
Para a configuração da Responsabilidade dos pais pelos filhos menores é necessário que o filho 
seja menor, sob autoridade e na companhia dos pais e que os pais estejam no exercício do poder familiar.
Sobre o fundamento da Responsabilidade dos pais pelosdanos causados por filhos menores 
Carlos Roberto Gonçalves (2003), citando Afranio Lyra, entende que é o Risco.
Os filhos são, para os pais, fonte de alegrias e esperanças e são, também, fonte de preocupações. 
Quem se dispõe a ter filhos não pode ignorar os encargos de tal resolução. Assim, pois, em 
troca da razoável esperança de alegrias e amparo futuro, é normal contra o risco de frustrações, 
desenganos decepções e desilusões. Portanto, menos que ao dever de vigilância, impossível de ser 
observado durante as 24 horas de cada dia, estão os pais jungidos ao risco do que pode acontecer 
aos filhos pequenos, ao risco daquilo que estes, na sua inocência ou inconsciência, possam 
praticar em prejuízo alheio. A realidade indica que é muito mais racional e menos complicado 
entender que a responsabilidade dos pais pelos danos causados por seus filhos menores se funda 
no risco. (GONÇALVES, 2003, p. 133-134).
Cavalieri discorda: 
Há quem sustente que a responsabilidade dos pais em relação aos filhos menores e a dos tutores 
e curadores em relação aos pupilos e curatelados estariam fundadas na teoria do risco. Chegam 
a dizer que se o pai põe os filhos no mundo corre o risco de que das atividades deles surja dano 
para terceiro. A levar a teoria do risco para tal extremo, tudo passará a tê-la por fundamento, até 
o próprio nascimento. Parece-nos exagero falar em risco de ter um filho, risco de ser pai, e assim 
por diante. Na tutela e na curatela a impropriedade de se falar em risco é ainda maior, porque 
representa um ônus para quem as exerce, verdadeiro múnus publicum. O fundamento desta 
responsabilidade é outro. É o dever objetivo de guarda e vigilância legalmente imposto aos pais, 
tutores e curadores. (CAVALIERI, 2014, p. 237).
Vários outros aspectos da responsabilidade dos pais pelos filhos menores deverão ser levados em 
consideração e aprofundados: 
•	 A responsabilidade dos pais quando os filhos estão na Escola;
•	 A responsabilidade dos pais quando o filho menor foi emancipado;
•	 A responsabilidade dos pais separados ou divorciados.
A Responsabilidade dos tutores e curadores pelos pupilos e curatelados chama atenção para a 
grande responsabilidade que o legislador trouxe para estas pessoas que já estão exercendo um munus publicum.
Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:
I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.
Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento 
para os atos da vida civil;
II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V - os pródigos.
Responsabilidade Civil
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Em razão desta responsabilidade que os iguala à mesma condição de pais, alguns autores sugerem 
que o juiz seja mais benigno que em relação aos pais.
Esta análise mais benigna também deve ser levada a efeito por força do parágrafo único do Art. 
928, que assim estabelece: “A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar 
se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem”.
Sobre o parágrafo único do Art. 928 também é importante destacar o Enunciado n° 39 da Jornada 
de Direito Civil/Conselho da Justiça Federal:
A impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever 
de indenização equitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da 
pessoa humana. Como consequência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados 
pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do 
incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos estes 
ao montante necessário à manutenção de sua dignidade.
Da maior importância também destacar o caráter inovador do Art. 928 ao prever a Responsabilidade 
Civil do próprio incapaz, constituindo-se em uma verdadeira mudança em relação ao Código Civil de 1916, 
que também era fator de dificuldade para a vítima de dano causado por incapaz. Sob a égide do Código 
Civil de 1916, era possível ficar sem indenização mesmo quando o incapaz causador do dano era pessoa de 
grandes posses resultantes de herança, por exemplo, simplesmente por ele ser incapaz e inimputável.
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não 
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes
Sobre a responsabilidade dos tutores e curadores pelos pupilos e curatelados devem ainda ser estudado: 
•	 A responsabilidade dos curadores em caso de internação do curatelado; 
•	 A responsabilidade dos curadores nos casos dos pródigos; 
•	 A responsabilidade dos curadores nos casos dos toxicômanos.
É na Responsabilidade do empregador pelos atos lesivos de seus empregados que se 
percebe de modo mais claro como se deu a evolução da responsabilidade subjetiva para a objetiva 
no ordenamento jurídico brasileiro.
Responsabilidade do 
empregador por culpa in 
elegendo ou in vigilando. 
Art. 1521, III, Código Civil 
de 1916
Culpa presumida do 
empregador por ato 
culposo do empregado 
- Súmula 341 do STF
Responsabilidade objetiva 
do empregador. Art.932, 
III do Código Civil
(Súmula superada!)
Esta é a regra que 
vale hoje!
O empregador ou comitente, nos exatos termos do Art. 932, III do Código Civil, responde 
objetivamente pelos danos causados por seus empregados, serviçais ou prepostos. 
Para caracterizar a responsabilidade do empregador ou comitente, não é necessário que haja um 
contrato de trabalho entre estes e seus empregados, prepostos ou serviçais, bastando que exista uma 
relação de subordinação voluntária entre os mesmos. São requisitos:
•	 Dano causado pelo fato do empregado; 
•	 Ter o empregado cometido o fato lesivo no exercício de suas funções, ou seja, durante o 
trabalho ou por ocasião dele; 
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•	 Relação de emprego ou dependência entre o causador do dano e o empregador ou comitente. 
•	 A culpa do preposto ou do empregado.
Deste último requisito vale o que já se comentou quando da responsabilidade dos pais 
pelos filhos menores: será preciso a prova de uma situação que, em tese, em condições normais, 
configure a culpa do empregado.
Aqui vale ainda a regra do Art. 934 do Código Civil que trata do Direito de Regresso e a regra 
do Art. 942 que dispõe sobre a Solidariedade, dispositivos que não se aplicam para as previsões de 
responsabilidade por atos danosos causados por incapazes.
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele 
por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos 
à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão 
solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas 
designadas no art. 932.
Sobre o Direito de Regresso, Maria Helena Diniz (2013, p. 466) afirma que:
O fato do terceiro não exclui a responsabilidade, mas quem reparar o dano causado por outrem, 
se este não for seu descendente, terá direito de reaver o que pagou. O direito regressivo só deixará 
de existir se o autor do prejuízo for um descendente, resguardando-se, assim, o princípio de 
solidariedade moral e econômica pertinente à família.
Para finalizar a Responsabilidade do Empregador, é importante deixar claro que é possível que 
a vítima cobre o prejuízo diretamente do empregado, valendo aqui a regra da responsabilidade direta, o 
que exigirá a prova da culpa.O inciso IV, do Art. 932, trata da Responsabilidade dos hotéis e hospedarias, mesmo para fins 
de educação, o que inclui a responsabilidade do hoteleiro e dos educandários. Esta responsabilidade é 
reforçada pelo Art. 927 do Código Civil, por ser uma atividade de risco.
Sobre a Responsabilidade do hoteleiro por atos danosos de seus hóspedes, considera-se que são 
prestadores de serviço e por isto deve se subordinar às regras do Código de Defesa do Consumidor. 
Sergio Cavalieri (2014) explica que se trata de responsabilidade direta, fundada no fato do serviço, Art. 
14 do Código de Defesa do Consumidor, e não cabendo mais falar em responsabilidade indireta fundada 
no fato de outrem, ficando o inciso IV esvaziado.
O mesmo vale para a Responsabilidade do dono de educandário pelos prejuízos causados pelos 
educandos, que assim como os hotéis e hospedarias, respondem de forma objetiva pelos danos causados 
aos seus alunos por defeitos na prestação dos serviços, enquadrado no Código de Defesa do Consumidor.
A Responsabilidade dos participantes, a título gratuito, em produto do crime está prevista no 
fim do rol do Art. 932. Trata-se do dever de reparação exigido das pessoas que, mesmo gratuitamente, 
tenham participado do produto do crime. Isto as torna solidariamente responsáveis até a quantia na qual 
concorreram, mesmo que penalmente inocentes.
Isto ocorre porque independente de dolo ou culpa, ninguém pode se locupletar do alheio. 
(CAVALIERI, 2014).
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aqui tratados, analisando-as criticamente.
Bom estudo!

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