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MATÉRIA: PROCESSO PENAL PROFESSOR: BRUNO GALVÃO Alunas: Bruna Pirro - Matrícula: 01068824 Poliana Andrade - Matrícula: 01055435 Turma: 5NC A polêmica acerca da possibilidade de o Ministério Público desenvolver investigação criminal direta, mediante procedimento próprio, já esteve exaustivamente colocado à baila pela mídia, tribuna e pela academia, promovendo acalorados argumentos favoráveis e contrários quanto ao poder ministerial para a persecução criminal. Porém, coube ao Supremo Tribunal Federal dar a última palavra. 1. RESUMO O presente trabalho menciona, resumidamente, a respeito do Poder Investigativo do Ministério Público. Tema esse que ganhou força no cenário atual, criando divergias consideráveis, tanto na doutrina quanto na jurisprudência. Assim, objetiva-se discutir a respeito do Ministério Público, e o poder de desenvolver investigações criminais em momento anterior ao oferecimento da denúncia. 2. MINISTÉRIO PÚBLICO Ministério Público é uma instituição permanente, um poder independente, que tem a incumbência de zelar pelos interesses da população contra atos e fatos provocados por pessoas físicas, jurídicas ou governamentais. Em seu nome, adota à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Em outras palavras adere providências judiciais necessárias para resguardar interesses e direitos, na esfera civil e criminal, atuando a pedido ou de ofício. O Ministério Público é o defensor da sociedade. No Brasil o Ministério Público brasileiro é composto em dois ramos, o Ministério Público da União, compreendido pelo Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar, pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e pelo Ministério Público Federal - MPF) e os Ministérios Públicos dos Entes Federados. (Art. 127, CF). No plano infraconstitucional, a Instituição se encontra regulamentada pelas Leis Ordinária nº 8.625/1993, Lei Complementar nº 75/1993 e, no âmbito estadual, por suas respectivas Leis Orgânicas, em face da repartição de competências legislativas definida pela Constituição da República (artigos 24, §3º, e 128, § 5º). Princípios do Ministério Público - A unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. O MP é constituído por princípios institucionais, os princípios institucionais do Ministério Público consubstanciam-se em bases estruturais de suas atribuições destinados à realização de sua atividade fim. Desse modo, pode-se dizer que os princípios institucionais desempenham funções. A primeira é a função de constituição, onde os princípios institucionais identificam-se com a existência e conceituação do Órgão, manifestando-se como expressão de sua estrutura. A segunda função é a de diretrizes de atuação. Por essa, suas atividades são regulamentadas e dirigidas de modo a satisfazer o interesse público, garantindo-o, portanto. Dentre suas funções institucionais, destaca-se a de promover, privativamente, a ação penal pública; zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; exercer o controle externo da atividade policial. A unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. A unidade é o primeiro princípio. Por este, entende-se o Órgão Ministerial apenas como um, ou seja, não comporta divisão funcional. Daí seria errado dizer que existem vários Ministérios Públicos pelo fato de ele ser dividido por atribuições, como o Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar ou Ministério Público Eleitoral. A indivisibilidade é decorrência da unidade, este princípio torna possível a reciprocidade na atuação, podendo os Membros do Ministério Público substituírem-se reciprocamente sem prejuízo do ministério comum. Princípio decorrente necessário do princípio da unidade, a indivisibilidade da Instituição faz com que se admita a atuação de todos os agentes em seu nome. Ela indica, também, que o posicionamento de um de seus membros vincula toda a Instituição. Na Independência funcional os Membros do Ministério Público não devem subordinação intelectual ou ideológica a quem quer que seja, podendo atuar segundo os ditames da lei, do seu entendimento pessoal e da sua consciência. Este princípio é inseparável de qualquer Instituição estatal organizada de forma democrática. Em sua razão, os membros do Ministério Público possuem liberdade significativa para formar seu convencimento técnico, demonstrando ou arguindo de acordo com o seu juízo próprio de convicção. Os limites que se lhe impõem, entretanto, são objetivos na formação do convencimento, não sendo uma decorrência do princípio a atuação à margem da ordem jurídica. A atuação do Ministério Público é técnica e limitada pela lei. Não há discricionariedade sem limites e o agente deve sempre motivar seus atos, desde que necessária esta última. 3. INVESTIGAÇÃO Investigação Criminal Toda informação colhida por agente público ou mesmo por particular é denominada de investigação criminal, no sentido amplo. Deste modo, esta trata-se de uma reunião de atos de natureza administrativa, realizados preliminarmente, tendo por finalidade a aferição dos crimes, bem como quem os perpetrou, para que após se desenvolva o julgamento e seja aplicada a pena cabível ao caso. A investigação criminal ocorre por meio de requisições de dados e informações, quando as testemunhas são ouvidas, na situação em que é determinado judicialmente a escuta telefônica, por exemplos, dentre outras hipóteses. Investigação como Procedimento Quando falamos de funções investigatórias como procedimento próprio, há de se saber que esta se diferencia da condução do inquérito policial pelo Ministério Público. Não se pode confundir inquérito policial com investigação criminal e nem tê-lo como a única espécie do gênero. A autoridade policial preside o inquérito policial, sendo este único, e ainda é uma das muitas modalidades do gênero "investigação criminal". A competência para presidir inquérito policial obviamente não é do Ministério Público, ficando a cargo Polícias, sob presidência dos Delegados. Entretanto ao titular da ação penal é assegurada o direito de solicitar e/ou realizar diligências investigatórias, que não se confundem com "inquérito", para apuração de eventual existência de crimes. 4. DISCURSÕES ACERCA DA FUNÇÃO INVESTIGATÓRIA DO MP Posição Favorável A grande questão é a da possibilidade de o Ministério Público conduzir investigação criminal direta, pois a função persecutória preliminar, própria e direta, é inerente à privacidade da ação penal pública que a Constituição lhe conferiu. Na dicção Douglas Fischer, Procurador Regional da República na 4ª Região se extraí: “Há muitos questionamentos acerca da legitimidade de o Ministério Público poder, eventualmente, realizar procedimentos investigatórios. Há certa propagação por meras repetições que a admissão de tal circunstância violaria o sistema acusatório, bem como se revelaria incompatível com o ordenamento constitucional vigente e com os paradigmas garantistas. Respeitosamente, não nos parece a melhor compreensão. Primeiro, porque não há incompatibilidade alguma entre o sistema acusatório com a circunstância de o MinistérioPúblico eventualmente proceder à coleta de provas. Em segundo lugar, porque, como se vê das suas próprias palavras, Ferrajoli defende abertamente que, muitas vezes, é evidente que as investigações da Polícia devem ser efetuadas em segredo, sob a direção da acusação pública, mas isso significa apenas que não devem as provas ser realizadas pelo juiz. É o que deflui do oitavo princípio, o princípio acusatório ou da separação do juiz e da acusação. Aliás, foi o que disse de modo hialino e expresso o próprio Ferrajoli em palestra proferida no ano de 2007 em Porto Alegre-RS. Ao ser indagado acerca dos poderes investigatórios do Ministério Público, foi explícito o mestre italiano no sentido de que o Órgão Ministerial deve investigar, mas, no exercício de seu mister (o que é óbvio), está vinculado aos preceitos fundamentais garantistas insertos na Constituição quando realizar atos de investigação”. Estão previstas expressamente na Constituição Federal de 1988, em seu art. 129, as funções institucionais do Ministério Público, porém existem outras funções que lhe são atribuídas e não determinadas que são explícitas no rol do citado artigo. Conclui -se que, se pode exercer outras funções que não aquelas elencadas, pode-se exercer as que também lhe forem expressamente outorgadas pela nossa Constituição. Nas palavras do professor Alexandre de Moraes: “Importante ressaltar, novamente, que o rol do art. 129 constitucional é exemplificativo, possibilitando ao Ministério Público exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com a sua finalidade constitucional, sendo- lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.” Segundo essa posição que aliais, é a majoritárias a possibilidade de o Ministério Público realizar, direta e pessoalmente, tais investigações criminais, para formar a sua opinio delicti e com estes elementos iniciar, se for o caso a devida ação penal. Assim, negar a autuação direta deste órgão nas investigações criminais é chancelar a legitimidade de autuação de certas organizações criminosas, restando à sociedade se não exigir do Ministério Público, a condução das devidas investigações criminais destinar aos órgãos de polícia criminal a supremacia outorgada ao parquet. Posição Contrária Em lado oposto a possibilidade de o Ministério Público conduzir tais investigações verificamos que as opiniões que insurgem contra tal iniciativa, demonstram clara inadmissibilidade. O argumento contrário à investigação do Ministério Público possui vertentes acerca da interpretação sistemática das disposições constitucionais pertinentes e normas infraconstitucionais; de elementos históricos de interpretação; e por último, argumentos de natureza metajurídica. Assim, e nesse diapasão, Nucci esclarece, sobre o tema controvertido: "O ministério público pode investigar ? Nucci — Sozinho, não. O próprio promotor abre investigação no gabinete, colhe tudo, não dá satisfação para ninguém, e denuncia. Não. Não e não mesmo. As pessoas estão confundindo as coisas. Ninguém quer privar o Ministério Público de fazer seu papel constitucional. Estão divulgando essa questão de uma forma maniqueísta; O que a gente tem de pensar é o seguinte: o Ministério Público é o controlador da Polícia Judiciária. Está na Constituição Federal. A Polícia Judiciária, também de acordo com a Constituição Federal, é quem tem a atribuição da investigação criminal. A polícia existe para isso. Delegados, investigadores, detetives, agentes da Polícia Federal são pessoas pagas para investigar. A atividade investigatória foi dada, no Brasil, ao delegado de polícia, concursado, bacharel em Direito. Nossa estrutura é concursada, democrática, de igual para igual. Não existe isso de “ele é delegado, então ele é pior; eu sou promotor, sou melhor”. Tem corrupção? Então vamos em cima dela, vamos limpar, fazer o que for necessário. Agora, não podemos dizer que, porque a polícia tem uma banda corrupta, devemos tirar a atribuição dela de investigar e passar para outro órgão." "Como se no Ministério Público não tivesse corrupção. Nucci — É o único imaculado do mundo? Não. Polícia investiga, MP acusa, juiz julga. MP investiga? Lógico. Junto com a polícia. A polícia faz o trabalho dela e o MP em cima, pede mais provas, requisita diligência, vai junto. Não tem problema o promotor fazer essas coisas. Ele deve fazer." "O que não pode é ele fazer, sozinho, a investigação, é isso? Nucci — É. Dizer “eu quero fazer sozinho”. Ele faz o que ele quiser. Ele requisita informações a seu respeito, ou testemunhas. Depois joga uma denúncia. Do nada. Mas cadê a legalidade?! O Supremo já decidiu: tem procuração, pode acompanhar qualquer inquérito, quanto mais protocolado na Promotoria. Então vamos jogar o jogo: quer investigar? Quero. Sozinho? É. Então passa uma lei no Congresso. No mínimo. O ponto é: se o MP quer investigar, tem de editar uma lei federal dizendo como é que vai ser essa investigação. Quem fiscaliza, quem investiga, de que forma, qual procedimento etc. para eu poder entrar com Habeas Corpus, se necessário. O que está errado, hoje, é o MP fazer tudo sozinho. Eu deixo isso bem claro porque cada vez que a gente vai para uma discussão vem o lado emocional. Não estamos vendo o mérito e o demérito da instituição. Estamos falando de um ponto só: o MP não pode investigar sozinho." Verifica-se que não é unânime as opiniões quanto a possibilidade de o Ministério Público promover e conduzir investigação criminal, ensejando assim discussões entre doutrinadores e nas Cortes maiores. Da Jurisprudência do STF O STF tem posições bem delineadas a respeito da questão do Ministério Público ter o poder de conduzir investigações criminais em últimos debates sobre o HC 84.548 impetrado pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do homicídio do ex -prefeito de Santo André; o supremo indicou que deve ser reconhecido o poder do MP de comandar investigações, porém deve ser estabelecido um código de conduta para a atuação do mesmo. Há seis votos proferidos e três correntes divergentes sobre a possibilidade do MP de conduzir investigações penais, para os ministros Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski o MP pode conduzir as investigações em somente três casos : em hipótese de membros do próprio MP investigados, agentes policiais, autoridades e terceiros, mas apenas quando a Polícia seja notificada do crime e se omita; uma segunda corrente formada por Ayres Britto e Joaquim Barbosa que alargam as hipóteses da investigação penal pelo MP; ''Assim, o Ministério Público exerce melhor sua função de defender a ordem juríd ica”, disse Britto, para ele o inquérito policial como espécie e a investigação criminal como gênero se diferem claramente. A terceira corrente é formada por Celso de Melo e Gilmar Mendes para ambos, o MP tem, sim, o poder de conduzir investigações de matéria penal também em casos de crimes contra a administração pública, por exemplo. E também pode conduzir investigações complementares; na visão de Celso de Mello, o MP não pretende, e nem poderia pretender, presidir o inquérito policial. Mas cabe ao Ministério Público atuar em situações excepcionais, já Gilmar Mendes explica que “Existe, sim, a possibilidade de investigação por parte do Ministério Público desde que atendidos certos requisitos”. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos fortes argumentos com relação a investigação direta pelo órgão ministerial é que esta afeta o princípio da paridade das armas. Porém, a de salientar, que a aplicação deste princípio, embora pleno na fase judicial, é mitigada na etapa pré- processual, não importando quem conduza tal investigação,seja o Ministério Público ou a polícia judiciária, pois não há o contraditório. Desta maneira, o Supremo Tribunal Federal ao chancelar a legitimidade de o Ministério Público promover a persecução criminal trouxe a lume a globalização jurídica. Ficando claro o abandono do modelo de sistema inquisitivo, fazendo-se notar um crescimento do papel do Ministério Público na tarefa de investigar infrações penais, visto a não exclusividade do desempenho de tal função pela Polícia Judiciária, instituição de inegável importância para a existência de um Estado Democrático de Direito e que, portanto, também deve ser fortalecida e respeitada, mas não exclusiva. MATÉRIA: PROCESSO PENAL
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