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JORGE BOAS CTST 2018. ATIVIDADE CALOR

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO - E-TEC
TECNICO DE SEGURANÇA DO TRABALHO
JORGE BOAS
HIGIENE NO TRABALHO
ATIVIDADE – CALOR
SÃO LUÍS
2017
INTRODUÇÃO
Atualmente um grande número de processos industriais emprega calor como fonte de energia; nesses processos o trabalhador é exposto a situações térmicas extremas, com desgaste físico, que poderá se tornar irreparável se medidas de controle não forem tomadas em tempo hábil. Cabe aos profissionais de Segurança do Trabalho estudar as situações e tomar as providências em favor dos indivíduos expostos, encaminhando ao serviço médico aqueles que evidenciarem, desgaste físico além do normal, e adotar medidas para evitar o referido desgaste físico. É preciso que se tenha o senso crítico valorizando a produção e a produtividade como a razão de ser da empresa; todavia há que se ponderar de que com segurança e saúde se produzirá mais e com menores perdas humanas e materiais.
 
Os Trabalhadores da Cultura de Corte de Cana de Açúcar, estão expostos a sobrecarga térmica causando graves problemas de saúde. O desgaste físico causado pelo corte manual é implacável, principalmente porque as atividades são desenvolvidas sob péssimas condições. Os cortadores chegam a produzir mais de 12 toneladas por dia. Ao comparar a atividade exercida durante a escravidão no Brasil, quando a produção era de 3,5 toneladas diárias por escravo, hoje a submissão do cortador de cana é absurdamente maior. A diferença é que agora o trabalhador é remunerado. Mas, sim, ele é mal pago e ainda precisa sujeitar-se ao sistema de remuneração por produção, utilizado no setor, que associa a bônus e premiações por superação de metas.
O excesso de trabalho leva esses trabalhadores a problemas musculares e até cardiorrespiratórios. Porém, não bastasse o desgaste físico provocado pelo excesso do trabalho, há mais uma constatação preocupante: os trabalhadores rurais do corte de cana de açúcar são submetidos a alto risco de estresse térmico, segundo pesquisa realizada pelo engenheiro mecânico da Fundacentro de Campinas, Rodrigo Cauduro Roscani. A pesquisa teve como base dados de uma série histórica de setembro de 2010 a agosto de 2014, com os cortadores de cana do estado de SP, em que foram consideradas as atividades leve, moderada e pesada. Em sua dissertação de mestrado, Roscani apresentou os resultados que indicaram que os trabalhadores foram submetidos a altos valores de IBUTG (Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo), associados ao calor gerado pela atividade física, podendo levá-los a possível confusão mental, câimbras, desmaios e em casos extremos, à morte. 
Os dados de IBUTG foram estimados a partir de observações meteorológicas. Por meio de mapas com o percentual de dias em que o limite legal de tolerância do IBUTG é extrapolado em período de 1 a 8 horas, o estudo mostrou que, com os limites excedidos, os trabalhadores deveriam contar com medidas preventivas específicas no cultivo da cana. Como ultimamente o aquecimento global já é uma realidade, com evidências científicas que mostram que vem aumentando a temperatura do planeta, o trabalhador do setor sucroalcooleiro terá sua saúde ainda mais afetada. Além da relevante pesquisa de Roscani, algo precisa ser feito para livrar esses trabalhadores de tantos riscos ocupacionais.
Ref: http://segurancaocupacionales.com.br/exposicao-a-sobrecarga-termica-agrava-os-problemas-de-saude-dos-cortadores-de-cana/
CALOR – STRESS TÉRMICO 
O calor é um agente presente em vários ambientes de trabalho em empresas como: siderúrgicas, forjarias e em atividades desenvolvidas a “céu aberto”, como no corte de cana de açúcar e construção civil. Ao contrário de outros agentes ambientais, na avaliação do calor, há diversos eventos e fatores envolvidos que devem ser analisados, através de índices de avaliação de calor correlacionados.
 
SOBRECARGA TÉRMICA – CALOR
Quando o trabalhador está exposto junto a uma ou várias fontes de calor, ocorrem as seguintes trocas térmicas entre o ambiente e o organismo.
 Fonte figura: texto_base_calor
- Condução/Convecção - C.
- Radiação - R
- Evaporação - E
- Metabolismo – M
ELEMENTOS BÁSICOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR 
CONDUÇÃO
É o processo de transferência de calor que ocorre quando 2 corpos sólidos ou fluído que não está em movimento, a diferentes temperaturas, são colocados em contato. O calor do corpo de maior temperatura se transfere para o de menor até que haja um equilíbrio térmico, isto é, quando a temperatura dos corpos se igualarem.
Ex: aquecimento de uma barra de ferro.
CONVECÇÃO
É o processo de transferência de calor idêntico ao anterior, só que, neste caso, a transferência de calor se realiza através de fluído em movimento.
Ex: aquecimento de um becker com água.
RADIAÇÃO
Quando há transferência de calor sem suporte material algum, o processo é denominado radiação. A energia radiante passa através do ar sem aquecê-lo apreciavelmente e aquecerá a superfície atingida. A energia radiante passa através do vácuo ou de outros meios a uma velocidade que depende do meio.
Ex: radiação emitida por um forno elétrico.
EVAPORAÇÃO
É o processo de passagem de um líquido, a determinada temperatura, para a fase gasosa, passando, portanto, para o meio ambiente. Não é necessário diferença de temperatura para desenvolvimento do processo. O calor transferido desta forma é chamado calor latente, diferenciando-se assim do que se transmite através de variação de temperatura que é chamado calor sensível. No fenômeno de evaporação, o líquido retira calor do sólido para passar a vapor, podendo-se, portanto, afirmar que o sólido perdera calor para o meio ambiente por evaporação.
Ex: suor emanado após um esforço físico (Corte Manual de Cana de Açúcar).
FATORES QUE INFLUEM NAS TROCAS TÉRMICAS ENTRE O
AMBIENTE E O ORGANISMO.
A complexidade do estudo do calor reside no fato de haver diversos fatores variáveis, que influenciam nas trocas térmicas entre o corpo humano e o meio ambiente, definindo desta forma a severidade da exposição ao calor.
Entre os inúmeros fatores que influenciam nas trocas térmicas, cincos principais devem ser considerados na quantificação da sobrecarga térmica:
- temperatura do ar
- umidade relativa do ar
- velocidade do ar
- calor radiante
- tipo de atividade
TEMPERATURA DO AR
É necessário que haja um gradiente de temperatura para que possibilite os mecanismos de troca térmica: condução, convecção e radiação. Deste modo, o sentido de transmissão de calor dependera de defasagem positiva ou negativa entre a temperatura do ar e a temperatura da pele. Se a temperatura do ar for maior que a da pele, o organismo ganhará calor por condução-convecção e se a temperatura do ar for menor que a da pele, o organismo perderá valor por condução-convecção. A quantidade calor ganha ou perdida é diretamente proporcional à defasagem entre as temperaturas.
UMIDADE RELATIVA DO AR
Este parâmetro influi na troca térmica entre o organismo e o ambiente pelo mecanismo de evaporação. Deste modo, a perda de calor no organismo por evaporação dependerá de umidade relativa do ar, isto é, da quantidade de água presente numa determinada quantidade de ar. Sabe-se que o organismo humano perde em média 600 kcal/h pela evaporação do suor, isto se a umidade relativa for 0%. Quanto maior a umidade relativa (maior saturação de água no ar), menor será a perda de calor por evaporação.
VELOCIDADE DO AR
A velocidade do ar no ambiente pode alterar as trocas tanto na condução e convecção como na evaporação. Quando há aumento de velocidade do ar no ambiente, haverá aceleração da troca de camadas de ar mais próximas ao corpo, aumentando deste modo o fluxo de calor entre este e o ar. Se há maior velocidade do ar, haverá substituição mais rápida das camadas de ar mais saturadas com água e substituição por outras menos saturadas,favorecendo então, a evaporação.
É importante verificar o sentido de transmissão de calor, pois o aumento de velocidade do ar poderá favorecer ou desfavorecer o ganho de calor pelo organismo, dependendo se o gradiente de temperatura é positivo ou negativo. Assim, se a temperatura do ar for menor que a do corpo, o aumento da velocidade do ar, favorecerá o aumento de perda de calor do corpo para o meio. Caso contrário, o corpo ganhará mais calor com o aumento da velocidade do ar. No caso de evaporação, o aumento de velocidade do ar sempre favorecerá a evaporação.
CALOR RADIANTE
Quando um indivíduo se encontra em presença de fontes apreciáveis de calor radiante, o organismo ganhará calor pelo mecanismo de radiação. Caso não haja fontes de calor radiante ou se as mesmas foram controladas, o organismo humano poderá perder calor pelo mesmo mecanismo.
TIPO DE ATIVIDADE
Quanto mais intensa for a atividade física exercida pelo indivíduo, tanto maior será o calor produzido pelo metabolismo, constituindo, portanto, parte do calor total ganho pelo organismo.
EFEITOS DO CALOR NO ORGANISMO (EFEITOS A SAÚDE) 
Quando o calor cedido pelo organismo ao meio ambiente é inferior ao recebido ou produzido pelo metabolismo total (metabolismo basal+metabolismo de trabalho), o organismo tende a aumentar sua temperatura. 
Para evitar essa hipertermia (aumento da temperatura interna do corpo), são colocados alguns mecanismos de defesa, tais como:
Vaso dilatação periférica
Com o aumento do calor ambiental, o organismo humano promove a vasodilatação periférica, no sentido de permitir meios de troca de calor entre o organismo e o ambiente.
Ativação das glândulas sudoríparas
Há aumento do intercâmbio de calor através da transformação do estado líquido em vapor.
Consequências da hipertermia
Caso a vasodilatação periférica e a sudorese não sejam suficientes para manter a temperatura do corpo em torno de 37 ºC, haverá consequências para o organismo que podem se manifestar das seguintes formas:
Exaustão do calor: Com a dilatação dos vasos sanguíneos em resposta ao calor, há uma insuficiência do suprimento de sangue do córtex cerebral, resultando na queda da pressão arterial;
Desidratação: A desidratação provoca, principalmente, redução de volume de sangue, promovendo a exaustão do calor.
Câimbras do calor: Na sudorese, há perda de água e sais minerais, principalmente NaCl (Cloreto de Sódio). Poderão ocorrer câimbras com a redução desta substância no organismo.
MEDIDAS DE CONTROLE
O calor, como todo agente ambiental, deve ser considerado primeiramente na fonte ou na trajetória, constituindo medidas aplicáveis ao ambiente. Não sendo possível esse tipo de controle por razões de ordem técnica ou econômica, devem ser adotadas medidas aplicáveis.
A finalidade das medidas de controle é obviamente, procurar diminuir a quantidade calor que o organismo produz ou recebe, na possibilidade de dissipá-lo. 
Fonte:
Alterar as características da fonte geradora de calor variando a potência;
Utilizar instrumentação e automatização do processo.
Trajetória:
Utilizar barreiras entre a fonte e o trabalhador, 
Aumentar a distância entre o local de trabalho e a fonte de calor;
Ventilar ar fresco no ambiente de trabalho;
Reduzir a umidade através da exaustão do vapor d´água proveniente do processo.
No Individuo:
Limitar o tempo de exposição através de revezamento de pessoas ou tarefas, otimizando os ciclos de trabalho na execução de tarefas.
Utilizar EPI’s, principalmente óculos com lentes especiais, luvas, aventais e capuz de material isolante;
Monitorar o trabalhador realizando exames médicos periódicos;
Aclimatar o trabalhador e garantir a hidratação por reposição de sais minerais;
Elaborar procedimentos que diminuam a exposição do trabalhador à fonte de calor;
Garantir ao trabalhador o direito de realizar pausas em respostas as suas limitações físicas, evitando a fadiga;
Conscientizar os trabalhadores sobre os riscos da exposição ao calor.
Avaliação Ocupacional do Calor
A avaliação de calor nos postos de trabalho deve ser feita através de instrumentos que englobam um conjunto de termômetros, podendo ser utilizados equipamentos digitais desde que alguns requisitos sejam atendidos, tais como:
Termômetro de globo: Composto de esfera oca de cobre de 1 mm de espessura, com 152,4 mm de diâmetro, pintada exatamente de preto fosco, e termômetro de mercúrio com escala mínima de +10 ºC a + 150 ºC, com precisão mínima de leitura de + 0,1 ºC. Existem no mercado alguns equipamentos digitais que possuem o globo menor de 152,4 mm de diâmetro, para estes casos deverão ser juntamente com a avaliação de calor, deve ser avaliado a velocidade do ar (m/s) existente no ambiente de trabalho, para fins de aplicação de fator de correção.
Termômetro de Bulbo Úmido: composto de termômetro de mercúrio com escala mínima de + 10 ºC a + 50 ºC e precisão mínima de leitura de + 0,1 ºC, erlenmeyer de 125 ml, pavio de tecido branco de algodão, de alto poder de absorção de água com comprimento mínimo de 100 mm, e água destilada. É usado para medir o calor influenciado pela umidade do ar.
Termômetro de bulbo Seco: Termômetro de mercúrio, com escala mínima de + 10 ºC a + 100 ºC e precisão mínima de leitura de + 0,1 ºC. É usado para medir a temperatura do ar.
CONCLUSÃO
Ao término deste trabalho podemos concluir que as trocas térmicas ocorrem diariamente, seja em qualquer local causando efeitos de propagação do calor tanto por condução, convecção e radiação. Os efeitos causados pelo calor são essenciais ao conhecimento do profissional de segurança do trabalho, pois o mesmo tem o dever de saber e verificar as causas do calor em um ambiente de trabalho para prevenir, orientar e garantir a segurança dos trabalhadores em seu ambiente de trabalho. Esse conhecimento fundamental da calorimetria nos permitir prevenir acidentes corriqueiros que acontecem periodicamente com os trabalhadores, diminuindo assim a taxa de acidentes dessa natureza.
REFERÊNCIAS:
Livros: SALIBA. CURSO BÁSICO DE SEGURANÇA E HIGIENE OCUPACIONAL. 3° Ed. São Paulo: ed. LTr, 2010.
Site: http://www.asho.com.br/artigos/calor-stress-termico-ibutg/

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