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Jacareí 2017 CAMILA ROBERTA DA SILVA A REPRESENTAÇÃO DO SKATE NA PUBLICIDADE Jacareí 2017 A REPRESENTAÇÃO DO SKATE NA PUBLICIDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera de Jacareí, como requisito parcial para a obtenção do título de graduada em Comunicação Social Habilitação Publicidade e Propaganda. Orientadora: CAMILA ROBERTA DA SILVA CAMILA ROBERTA DA SILVA A REPRESENTAÇÃO DO SKATE NA PUBLICIDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera de Jacareí, como requisito parcial para a obtenção do título de graduada em Comunicação Social Habilitação Publicidade e Propaganda. BANCA EXAMINADORA Prof(ª). Prof(ª). Prof(ª). Jacareí, 06 de Dezembro de 2017 Dedico este trabalho, principalmente, aos meus pais, Antônio Carlos da Silva e Rosa Amélia M. da Silva, por me proporcionarem uma educação de qualidade; ao meu namorado Binho Sakamoto, pelo apoio e compreensão neste momento tão importante da minha vida. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que me permitiu acordar todas as manhãs, tivesse força para nunca desistir, e meu concedeu esse privilégio de concluir mais uma etapa importante da minha vida. Gostaria de agradecer ao meu namorado Binho, que sempre esteve ao meu lado nos momentos de dificuldade e sempre ajudou nos momento de aflição e deu força para seguir sempre em frente sem desistir, meu eterno muito obrigado. Um agradecimento muito especial a minha família, que acreditaram no meu potencial, me apoiando nos momentos de maior dificuldade e me incentivando na busca pela realização dos meus sonhos e projetos de vida. Agradeço a todos os amigos e parceiros que se disponibilizaram a me ajudar na pesquisa, em busca de material, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, ajudaram-nos, com dicas de leitura, empréstimos de livros ou conhecimento passado adiante. A Direção, Coordenação, Professores e colegas da Faculdade Anhanguera de Jacareí, pela atenção prestada, pelos conhecimentos repassados, pelas vivencias diárias durante esses quatro anos. A todos o meu muito obrigado! SILVA, Camila. A representação do skate na publicidade. 2017. 55 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social Publicidade e Propaganda) – Faculdade Anhanguera de Jacareí, Jacareí, 2017. RESUMO O skate surgiu nos anos 1950 como atividade de lazer da juventude californiana e chegou ao Brasil logo em seguida, sendo rapidamente adotado pela juventude brasileira. Hoje é um esporte mundialmente conhecido e uma indústria que movimenta milhões. Essa pesquisa buscou compreender como ocorre a representatividade do skatista nas mídias publicitárias tradicionais, por meio de uma abordagem sobre o panorama histórico, cultural e mercadológico do skate enquanto esporte e estilo de vida. A partir de uma pesquisa bibliográfica e documental, foi feito um resgate sobre a história do skate e de teorias sobre marketing esportivo e patrocínio esportivo; foram analisadas campanhas publicitárias com o uso da imagem do skate, seja como esporte, como estilo de vida ou sobre qual a representatividade de seus atletas. Como resultados percebeu-se que atletas do skate são mais bem aceitos em campanhas publicitárias pelo “seu público”, ou seja, de praticantes ou simpatizantes do esporte, do que para outros públicos. Sob o ponto de vista das campanhas analisadas neste trabalho, a imagem do skate aparece mais como um esporte para meninos, que desafia as habilidades, é radical e desafiador. Palavras-chave: Skate; Publicidade; Marketing Esportivo; Patrocínio Esportivo. SILVA, Camila. The representation of skateboarding in advertising. 2017. 55 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social Publicidade e Propaganda) – Faculdade Anhanguera de Jacareí, Jacareí, 2017. ABSTRACT The skate emerged in the 1950s as a leisure activity of surfers in California, and has been quickly adopted by the Brazilian youth. Today is a world-renowned sport and industry that moves millions. This research has analyzed the representation of the skater in advertising media, through an approach on the historical, cultural and market panorama of sports and lifestyle. From a bibliographical and documentary research, there is an approach on the history of the skate and theories on sports marketing and sports sponsorship; advertising campaigns were analyzed using the image of skateboarding, as a sport, as a way of life or about the representativeness of its athletes. The results showed that skateboarding athletes are better accepted in advertising campaigns by "their public", that is, of practitioners or supporters of the sport, than to other publics. From the point of view of the campaigns analyzed in the work, a skateboard image appears more like a sport for boys, which challenges abilities, is radical and challenging. Key-words: Skateboard; Advertising; Sports marketing; Sports Sponsorship. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1 – Skate Roller Derby ................................................................................ 16 Imagem 2 – Capa da Revista Life (maio de 1965) .................................................... 18 Imagem 3 – Capa da Primeira Edição da Revista Esqueite (1977) .......................... 24 Imagem 4 – Frames do Comercial #Bora Lá ............................................................ 39 Imagem 5 – Frame do Comercial “Downhill” para VIVO Internet Fibra ..................... 44 Imagem 6 – Frame do Comercial “Checklist dos Mamíferos” com Sandro Dias....... 47 Imagem 7 – Foto do Anúncio da Secret com Letícia Bufoni ..................................... 48 Imagem 8 – Frame do Comercial “Você do Seu Jeito” com Karen Jonz .................. 49 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Definições de Marketing ........................................................................ 28 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – O Mix de Marketing ................................................................................. 29 Figura 2 – Segmentos da Indústria do Esporte ........................................................ 32 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1 A HISTÓRIA DO SKATE ....................................................................................... 15 1.1 RAÍZES E HISTÓRIA MUNDIAL DO SKATE ....................................................... 15 1.2 A HISTÓRIA DO SKATE NO BRASIL .................................................................. 22 2 MARKETING E PATROCÍNIO ESPORTIVO ......................................................... 27 2.1 MARKETING ....................................................................................................... 27 2.2 MARKETING ESPORTIVO .................................................................................. 31 2.3 PATROCÍNIO ESPORTIVO ................................................................................. 34 3 A REPRESENTAÇÃO DO SKATE NA PUBLICIDADE BRASILEIRA.................. 37 3.1 O SKATE NA PUBLICIDADE: PESQUISASANTERIORES ................................ 37 3.2 A REPRESENTAÇÃO DOS ATLETAS DO SKATE NA PUBLICIDADE ............... 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 51 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 12 INTRODUÇÃO O esporte está em todos os lugares, nos gramados, nas quadras, no mar, no ar e sobre rodas. O esporte possui uma pluralidade de práticas e lugares, atualmente é facilmente encontrado na televisão, jornais, revistas e estrelando em outdoors de campanhas publicitárias pelas ruas da cidade. O skate é considerado um esporte de ação e faz parte dos denominados esportes radicais que pode ser praticado como atividade de lazer, profissionalmente ou até mesmo como um meio de locomoção. A origem da primeira prancha de skate nunca foi comprovada e tem sido considerada como uma invenção espontânea de várias pessoas que surgiram com ideias similares na mesma época. Mas dizem que sua primeira aparição ocorreu na Califórnia na década de 1950, por ideia de surfistas que colocaram rodinhas de patins em uma tábua – ou prancha de madeira, porque desejavam algo para surfar fora do mar devido à falta de ondas. A partir de então o skate evoluiu muito e passou por diversas fases, de brincadeira e hobby, para esporte representativo da contracultura, incorporado aos movimentos urbanos como expressão de um estilo de vida, e, atualmente se consolida como prática esportiva profissionalizada, sem deixar de perder suas características históricas, além da evolução e inclusão como modalidade olímpica a partir de 2020 para os Jogos de Tóquio. Entretanto, apesar do skate e os atletas (skatistas) serem amplamente conhecidos entre os adeptos da prática, dentro da publicidade que não é de produtos voltados para o skate isto não ocorre. Há registros de inúmeras marcas que se utilizam da imagem, do conceito do skate e do skatista, mas não valorizam o atleta, e em alguns casos o atleta nem mesmo é creditado na campanha publicitária, que por vezes é cortada para um modelo comum no lugar de skatistas profissionais, dificultando o relacionamento de patrocínio das empresas com os atletas. Isto se daria por aspectos culturais, sociais ou econômicos? A publicidade tradicional até pode usar a imagem do skate para falar com o público que é adepto da prática, mas o faz raramente. Diferentemente, a publicidade das marcas de produtos voltados ao público do skate é amplamente difundida nesse meio. Assim, existe uma ausência de representação desse esporte no meio publicitário, que consistiria em trazer para a publicidade tradicional o conceito do 13 skate da mesma forma que acontece com outros esportes, por exemplo, como no futebol, vôlei ou basquete. Deste modo, esse estudo busca através da abordagem do panorama histórico, cultural e mercadológico do esporte e do skate, compreender os fatores que excluem a representatividade do skatista nas mídias publicitárias tradicionais e abrem um leque de questionamentos das causas dessa exclusão e como esses fatores influenciam na relação de patrocínio das empresas com os atletas. Desde muito tempo, as campanhas publicitárias de esporte arrancam suspiros e lágrimas dos espectadores, por trabalhar com os apelos sobre a luta e motivação do atleta em conquistar a glória. Mas, e quando a publicidade faz o papel inverso no cenário do esporte? A partir desta premissa, surgiram outros questionamentos sobre qual é a representação do skate na publicidade? O que faz o skatista não ter a mesma relevância na publicidade como os atletas de outras modalidades? E quanto esta ausência de representatividade afeta o patrocínio do skatista? Esta ausência está relacionada a fatores culturais e econômicos? Assim, este trabalho de pesquisa se caracteriza como de abordagem eminentemente qualitativa e do tipo descritiva. A coleta de dados ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica e documental para responder sobre “como se dá a representação do skate e do skatista sob o domínio da publicidade”? Com foco em campanhas publicitárias brasileiras. As fontes de pesquisa bibliográfica buscadas foram livros, artigos científicos indexados às bases de dados Scielo e Google Scholar, além de trabalhos de conclusão de curso como monografias, dissertações e teses. Enquanto as fontes de pesquisa documental foram quaisquer tipos de documentos consultados como matérias na imprensa online, revistas, jornais, fotografias, filmes, entrevistas, estatísticas, páginas de internet, relatórios de pesquisa publicados tanto por organizações públicas como privadas (GIL, 2010). Para atingir os objetivos deste trabalho, primeiramente é apresentada a história do skate, desde o seu surgimento da Califórnia e em especial como foi sendo construída sua trajetória esportiva no mundo e no Brasil. Em seguida, será abordada a relação entre o esporte e a publicidade, sob o ponto de vista do marketing esportivo. Por fim, serão analisadas algumas campanhas publicitárias que 14 fazem uso da imagem do skate e verificar qual a mensagem é passada sobre o skatista, ou sobre esse esporte. O esporte há tempos deixou de ser apenas entretenimento, e se tornou um negócio altamente lucrativo, movimentando em grande escala a economia nacional. Muitas empresas com nichos diversificados que vão desde alimentos a produtos de higiene pessoal fazem uso do reconhecimento de diversos atletas através do esporte para se promoverem e para que seus produtos cheguem ao maior número de consumidores. Ao observarmos que a imagem de atletas populares do futebol – Neymar Jr., Messi, Cristiano Ronaldo, por exemplo – aparecem para vender lâmina de barbear e desodorante em campanhas publicitárias, surgem questões que se fazem necessárias à análise das dinâmicas que envolvem o esporte dentro da publicidade, e sobre como as marcas usam a imagem do esporte em geral e do skate especificamente. A escolha do skate como objeto de pesquisa se deu, pelo fato de que apesar de ser um esporte com inúmeros adeptos no Brasil1, grande parte da publicidade que faz uso da sua imagem não dá créditos ao atleta e acaba por retratar o esporte como um movimento juvenil e urbano. Assim, cabe investigar como tem sido retratada a imagem do atleta de skate na publicidade brasileira. 1 O Brasil possui 3.863.981 praticantes de skate, de acordo com dados de pesquisa realizada pelo Datafolha (2016) solicitada pela Confederação Brasileira de Skate. Disponível em: <http://umti.com.br:8040/uploads/ckeditor/attachments/4449/Pesquisa_Datafolha_2015.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2017. 15 1 A HISTÓRIA DO SKATE A palavra skate se origina dos termos em inglês skateboarding e skating, cujo verbo to skate significa patinar. No Brasil, a palavra foi adotada como sinônimo do esporte no qual uma pessoa (o skatista) desliza em uma pequena tábua com quatro rodinhas chamada de skateboard (prancha de skate), ou simplesmente skate. O skate tem suas raízes na cultura do surf e está vinculado à categoria de esportes inicialmente vistos como “californianos” (BRANDÃO, 2011). Atualmente, tais esportes estão cada vez mais popularizados e têm sido chamados de esportes radicais, dentre os quais também fazem parte o surfe e outros derivados como windsurfe e kite surf, além de escalada, canoagem, paraquedismo, bungee jump e mountain bike, entre outros (PEREIRA; ARMBRUST; RICARDO, 2008). Para compreender como ocorreu o surgimento do skateno Brasil e a representação desse esporte na publicidade é importante apresentar primeiramente as raízes históricas do skate. 1.1 RAÍZES E HISTÓRIA MUNDIAL DO SKATE Há controvérsias quanto ao ano exato em que o skate surgiu, mas diversas fontes afirmam que foi criado na Califórnia em algum momento do final da década de 1950, provavelmente porque algum surfista entediado num dia de mar sem ondas propícias para a prática de surfe resolveu colocar rodinhas de patins em uma prancha de madeira para se divertir e criou o surfe de calçada (sidewalk surfing), como foi inicialmente apelidado (LOPES, 2005). De acordo com Brandão (2011, p. 31), baseado no livro “The Concrete Wave: the history of skateboarding” (“A Onda de Concreto: a história do skate”, sem tradução brasileira) de Michael Brooke, os primeiros skates surgiram a partir de “caixas de laranja fixadas a uma madeira com rodas que serviam como meio de locomoção entre os jovens estadunidenses no início do século passado” e eram chamados de scooters. Lopes (2005) menciona que o scooter era um “patinete de madeira com um guidão para se equilibrar”, mas entre os anos 1920 e 1930 a garotada norte americana retirava o guidão e andava sobre essa pequena prancha 16 com rodinhas. Nessa época, o ato de deslizar sobre uma prancha com rodinhas era visto apenas como brincadeira ou meio de se locomover. Conforme Rhyn Noll em seu livro “Skateboard retrospective” (“Retrospectiva do skate”, sem tradução brasileira), o primeiro skate foi patenteado em 1936 e consistia de um shape2, dois eixos e quatro rodas (BRANDÃO, 2011). Mas foi apenas em 1959 que começou a fabricação em massa do primeiro skate, que se chamava Roller Derby e tinha rodas de aço (imagem 1). A partir de então, outras marcas passaram a ser fabricadas e a primeira fase de popularização do skate ocorreu no início da década de 1960, quando era frequentemente adotado como forma de diversão depois de surfar. Imagem 1 – Skate Roller Derby Fonte: reproduzido da página web de Russ Howell3. Nesta época o skate chegou a ser considerado como esporte alternativo da juventude nos Estados Unidos e ocorreram as primeiras competições, realizadas em 1963 por empresas como Jack's, Hobie e Makaha. Os praticantes do esporte imitavam os movimentos que os surfistas faziam sobre as ondas, porém em pequenas pranchas de skate nas ruas. Os adolescentes da época praticavam freestyle (tradução: estilo livre) que abrangia todo tipo de acrobacias praticadas em solo plano; o downhill (descida em inglês) que consistia em descer ladeiras tentando alcançar a maior velocidade possível; e o slalom (sem tradução) em que são feitos ziguezagues em volta de 2 Shape em inglês significa forma e o termo foi adotado para nomear a prancha de madeira do skate. 3 Disponível em: <http://www.skatewhat.com/russhowell/WebPage-SkateBoarding-SkatePhotos.html>. Acesso em: 21 ago. 2017. 17 cones espalhados no asfalto (LOPES, 2005). Mas o estilo freestyle da época difere bastante do atual, o que antes mais se parecia a uma dança de ballet ou patinar no gelo com um skate – inclusive com trilha sonora musical, hoje em dia consiste na demonstração de habilidades em que o skatista executa manobras de giro na sua maioria, seja do skate ou do próprio corpo em solo plano (PEREIRA, 2015). Havia tantos garotos com skates nas ruas que a revista Life dedicou uma capa à nova febre. A edição de 14 de maio de 1965 traz uma foto da skatista Pat MacGee, de San Diego, descendo uma rua de cabeça para baixo. A paixão pelo esporte logo fez surgir publicações especializadas (a primeira foi The Quarterly Skateboarder) e logo se formaram centenas de equipes interessadas em disputar campeonatos pelo país. Só que os acidentes eram tão comuns que a prática ganhou fama de maldita. As rodas já eram feitas de metal ou de plástico, mas continuavam não oferecendo boa aderência. Assim, o número de jovens quebrados no asfalto era de fato assustador. Até que… (LOPES, 2005). Mas em 1965, a popularidade do skate desabou de repente e “o skate quase desapareceu, perdendo a preferência para o ioiô e o bambolê” (PEREIRA, 2015, p. 26). Muitos acreditavam que andar de skate era uma moda que havia morrido e as empresas de skate fecharam, os praticantes tinham de fazer seus próprios skates novamente a partir do zero, as peças eram difíceis de encontrar e os shapes eram caseiros com o uso de rodas de argila, extremamente perigosas e difíceis de controlar (BRITTO, 2000). Até mesmo a jovem celebridade da capa da Life, Patti MacGee (imagem 2) – de origem surfista, como boa parte dos skatistas dessa primeira fase – que aos 19 anos venceu o primeiro campeonato nacional feminino de skate e se profissionalizou “pela lendária equipe de surf e skate Hobie/Vita Pak, do não menos lendário Hobie Alter (Mestre das águas, ventos e ondas)” (DIAS, S/D.) foi esquecida e mudou para a prática de esqui no lago Tahoe. Atualmente, Betty “confecciona camisetas de sua marca First Betty (Betty é uma gíria americana para meninas skatistas), marca especializada em roupas femininas de skate” (DIAS, S/D.). Patti significou mais para a popularização do skate que qualquer outro esportista em qualquer época, tanto pela empatia e beleza, quanto pela disposição em divulgar sua paixão. Miss McGee é a primeira mulher a entrar para o Hall da Fama do Skate, em um reconhecimento tardio (2010). (DIAS, S/D.) 18 Imagem 2 – Capa da Revista Life (maio de 1965) Fonte: reproduzido da página web de Projeto Semema4. Essa fase durou até o início dos anos 1970 e foi considerada como um adormecimento do skate para, em seguida, ser revolucionado por uma inovação nos materiais e por outros fatores culturais (BRANDÃO, 2011; PEREIRA, 2015). A invenção das rodas de uretano por Frank Nasworthy, chamadas de Cadillac Wheels, em 1972, é dita como decisiva para o skate e sua ascensão enquanto esporte, porque proporcionou mais segurança aos skatistas. De acordo com Brandão (2011, p. 32) “com o poliuretano os skates passaram a ser mais velozes e aderentes ao pavimento, conquistando rapidamente um maior número de adeptos e possibilitando uma maior variedade de manobras”. Foi nessa época que surgiu também um grupo de garotos skatistas na região litorânea da cidade de Los Angeles, “considerados os inventores da prática do skate 4 Disponível em: <http://semema.com/primordios-do-skate-patti-mcgee-a-primeira-musa-radical/>. Acesso em: 21 ago. 2017. 19 que conhecemos atualmente” (PEREIRA, 2015, p. 27). Conhecidos pelo nome de Z- Boys, porque faziam parte da equipe Zephyr – nome de uma loja de materiais e equipamentos para surfe e skate – essa fase da história do skate está muito bem retratada no documentário “Dogtown and Z-Boys”, lançado em 2001, com a direção de Stacy Peralta, também skatista que foi um dos integrantes da equipe Zephyr. O documentário relata o início da chamada “revolução no skate” que, para Brandão (2011, p. 37) instaurou “uma nova prática corporal juvenil que ficou mundialmente conhecida, em meio aos esportes intitulados californianos (ou radicais), como skate ou skateboard”. A equipe Z-Boys era formada pelos skatistas Shogo Kubo, Bob Biniak, Nathan Pratt, Jim Muir, Allen Sarlo, Tony Alva, Paul Constantineau, Jay Adams, Wentzle Ruml, Chris Cahill, Stacy Peralta e pela única mulher do grupo Peggy Oky. Todos os integrantes da equipe frequentavam ou residiam na região de Dogtown, “parte sul de Santa Mônica, a região mais pobre (ou menos rica)da cidade” (BRANDÃO, 2011, p. 39). Em 1975, a partir de um concurso de slalom e freestyle realizado no Ocean Festival em Del Mar, Califórnia, a equipe Zephyr mostrou ao mundo um estilo agressivo e inovador de praticar skate, realizando manobras até então não vistas pelo grande público e o skate deixou de ser notado apenas como um hobby para se tornar um esporte desafiador e excitante (PERALTA, 2001). Os Z-Boys também foram os inventores do skate vertical, devido ao período de seca e racionamento de água que se instalou na Califórnia, conforme relata Brandão (2011, p. 65): Um aspecto curioso dessa história encontra-se na arquitetura das piscinas californianas, pois elas não se assemelham com as encontradas no Brasil. Aqui as piscinas são quadradas, retangulares, com as paredes retas, as quais formam um ângulo de 90º graus com o chão. Na Califórnia, existem muitas piscinas em formato oval, redondo [...] as paredes possuem transições, que lembram as ondas do mar. Foi esta “rampa” nas paredes das piscinas californianas, somada à habilidade e à técnica dos skatistas de “Dogtown”, sobretudo os da equipe “Z-Boys”, que forneceram às piscinas vazias uma outra utilidade nunca antes pensada: elas viraram as primeiras pistas de skate vertical. Diante disso, as piscinas da Califórnia influenciaram a construção de pistas de skate com formatos arredondados, e pode-se dizer que foram as primeiras “pistas” propriamente ditas, ainda que não tenham sido construídas para esse fim. A partir de então o skate se firmou não apenas como um esporte radical, mas também como alternativo e pertencente a uma contracultura, da qual também fazia parte o surfe. 20 Porém, no final dos anos 1970, o skate criou identidade própria se ligando mais com a rebeldia do movimento punk, que influenciou a música e o comportamento dos jovens numa era considerada pós-rock and roll, diferentemente do surfe que era mais ligado às influências do movimento hippie, de paz, amor, tranquilidade e valorização da natureza. O skate passou a ser um estilo de vida, maneira de se portar, se vestir. Lopes (2005) relata sobre os Z-Boys “o visual desleixado dos moleques: calça rasgada e cabelo comprido, numa atitude 100% roqueira”, sendo que os praticantes passaram ser chamados a partir de então como pertencentes a uma tribo skatista. Nas décadas e 1980 e 1990 o skate continuou seu crescimento como subcultura, os skatistas cada vez mais se empenhavam em inventar novas manobras, influenciados pela atitude punk que lentamente foi substituída pela cultura urbana, com ênfase no hip hop (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SKATEa, S/D.). Houve construção de rampas próprias nos quintais das casas de praticantes e alguns parques públicos começaram a ter pistas de patinação e skate. Pequenas empresas privadas de skate aparecem, em grande parte formada pelos próprios skatistas, e a mídia teve presença marcante no desenvolvimento da esportivização do skate, com a cobertura de campeonatos e matérias sobre os skatistas (HONORATO, 2013). Em 1994 ocorre a primeira World Cup Skateboarding (Copa Mundial de Skate) e se amplia a profissionalização do esporte. Em 1995 é realizado pela primeira vez, nos Estados Unidos o campeonato de X-Games, uma espécie de olimpíada dos esportes radicais, criado pelo canal de TV a cabo ESPN, com bastante destaque para o skate, que com a visibilidade recebida, atraiu patrocinadores, muito dinheiro e interesse midiático (OLIC, 2014). Nessa fase a imagem do skate deixou de ser vinculada apenas como esporte rebelde, ainda que os skatistas continuassem a defender sua identidade e atitude (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SKATEa, S/D.). Os X-Games tiveram tanto sucesso que se globalizaram e já foram realizados em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil, país de origem do atleta do skate mais bem-sucedido nessa competição: Bob Burnquist – carioca filho de uma brasileira e um norte-americano. Burnquist é o único atleta que participou de todas as edições dos X-Games até então e conquistou o maior número de medalhas na 21 competição – 30 ao todo, sendo 15 de ouro. Em julho deste ano Burnquist anunciou sua aposentadoria dos X-Games, mas disse que continuará a competir em outros campeonatos (FERRAZ, 2017). Burnquist elevou o nível do skate vertical, se tornou um ícone do skate mundial, muito conhecido e ovacionado por suas manobras e pioneirismo na Megarampa5, além de ter revolucionado a forma de andar de skate, com as bases dos pés trocadas (BURNQUIST, S/D; FERRAZ, 2017). Baseado na popularidade atingida pelo skate, principalmente com os X- Games, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e seus patrocinadores começaram “a avaliar a possibilidade de incluir modalidades radicais nos Jogos Olímpicos” (OLIC, 2014, p. 88). Após a adoção nos Jogos Olímpicos de Inverno do snowboard, esporte que usa uma prancha similar à do skate para deslizar na neve, havia a possibilidade de que o skate fosse incluído nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro realizados em 2016. Mas, diversas polêmicas entre o COI, skatistas profissionais, simpatizantes e entidades de representação do skate, como associações e confederações de skatistas são contrárias à entrada do skate nos jogos olímpicos, que ocorrerá a partir dos jogos de Tóquio em 2020 (MOTA; SEDA, 2016). A partir dos anos 2000, segundo a Confederação Brasileira de Skate (S/D.): Diferente de outras viradas de décadas o Mercado do Skate não entra em crise, ao contrário, fica mais forte, profissional e estruturado. [...] Skatistas participam de publicidade de marcas fora do universo do Skate: Omar Hassan para a Ford e Bob Burnquist para Toyota. [...] Skatistas viram atores de Cinema (Jason Lee, Bam Margera) e de TV (Steve Berra, Rob Dyrdek, Ryan Sheckler) ou até diretores de cinema (Spike Jonze no “Eu quero ser John Malkovich”, Stacy Peralta no “Z-boys and Dogtown” e Harmony Corine em “Kids” e “Ken Park”). Atualmente, o skate enquanto esporte já é bastante divulgado na TV e popularmente visto como prática de lazer e esporte em qualquer local, principalmente em parques, nas ruas e calçadas de cidades urbanas, assim como já tem sido mais bem aceito pela sociedade. 5 Rampa para a prática de skate vertical que mede cerca de 100 metros de comprimento por 27 metros de altura, idealizada pelo skatista norte-americano Danny Way e projetada pelo especialista em construção civil John Tyson. Disponível em: <http://umti.com.br:8040/modalidades/megarampa>. Acesso em: 19 ago. 2017. 22 1.2 A HISTÓRIA DO SKATE NO BRASIL Não existem registros precisos sobre o surgimento do skate no Brasil, mas há rumores de que tenha ocorrido no Rio de Janeiro por volta de 1964. Seu surgimento e ascensão inicial estão intimamente ligados à história da juventude da década de 1960, período marcado por uma forte revolução cultural, liderada pela juventude tanto em termos mundiais como nacionais. A época é lembrada pelos horrores da guerra e por uma geração nascida dos escombros de um mundo maculado por bombas, que desejou inaugurar novas formas de pensar, sentir e representar o meio social. Em função disso, diversas áreas da cultura passaram por uma alteração sobre as percepções de mundo e se instalou uma diversidade social e cultural – denominada de “contracultura”, que em seu bojo trazia movimentos impulsionados pela juventude na música, cinema, artes e literatura, como o rock and roll, estilo musical que se tornou um dos fenômenos culturais mais salientes do século XX porque se contrapôs ao conservadorismo social, cultural e estético até então vigentes.Havia, portanto a gestação de uma nova ética cultural jovem no período, novas esperanças e novos sonhos de liberdade. Mas é preciso destacarmos, e aqui levando em conta o caso brasileiro, que uma série de mudanças nas condições materiais de vida também ajudava a abrir caminhos para que se frutificassem novas formas de ações políticas e culturais (BRANDÃO, 2014, p. 27). No Brasil, mesmo em tempos de ditadura militar, de “superpolitização da cultura” em função da censura e das perseguições politicas, a juventude postulou uma contracultura que segundo Brandão (2014, p. 29) foi “um movimento drop out”, ou seja, de “pular fora do sistema” sem a tentativa de alterá-lo como um todo. Nesse contexto, a sociedade assistiu a juvenilização da cultura e a busca de novas formas de expressão mais abertas ao prazer e ao lúdico. Surgem então novas práticas corporais como a do skate, que pleiteava experiências de excitação e transcendência e promoviam uma forma de protesto que não estava relacionada aos dilemas políticos da época. Assim, muitas atividades esportivas inicialmente chamadas “californianas” – surf, windsurf, asa-delta e skate – chegaram ao país e se expandiram. 23 O skate era visto como uma forma de lazer e aventura, apesar de ser uma atividade que envolvia riscos, o desejo de ir até o limite provocava um efeito libertador e catártico (BRANDÃO, 2014). Mesmo em um período que combinava sociabilidade e lazer com as repressões políticas do governo militar a juventude coexistia paradoxalmente sobre as técnicas de controle do corpo e a busca de novas vivências e experiências corporais. Para Cesinha Chaves, começou a praticar skate em 1968 no Rio de Janeiro, durante a década de 1970: “ninguém [entre os skatistas] queria saber o que o governo ou os militares faziam, [deslizar sobre o skate] era muito mais um escape pela contracultura, rebeldia e alienação” (BRANDÃO, 2014, p. 29). Inicialmente, no Brasil o skate era visto como uma derivação do surf denominado “surf do asfalto” sob o título de esporte californiano, bastante difundido no meio juvenil através de publicações da Revista Pop da Editora Abril, que a princípio não era uma revista de skate ou de esporte, mas para o público teen com faixa etária de 14 a 20 anos, que influenciava no desejo dos jovens em experimentar o skate e no ideal de “curtir a vida” (BRANDÃO, 2014). Após certa popularização do skate entre os jovens brasileiros, principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo, houve receio por parte dos pais e das autoridades, pois a prática foi intitulada como perigosa e poderia eventualmente causar transtornos no trânsito, uma vez que não existiam lugares específicos para o uso do skate e os adeptos a prática se aventuravam em ladeiras e entre os carros, o que levou a proibição da atividade sob pena de prisão. Muitas vezes, ao final de uma descida, os skatistas encontravam grupos de policiais encarregados de proibir novas investidas, sob alegação de que era grande o perigo representado por esse surf de asfalto. Na rua, segundo argumentavam, haveria transtornos em relação ao trânsito. E, sem dúvidas, sobreviriam muitos atropelados se os skatistas resolvessem correr sobre as calçadas. O skate passou a ser, então, para escapar ao rigor policial, um divertimento noturno – e não foram poucos os pais a serem convocados, em plena madrugada, até às delegacias de seus bairros, para levar os filhos detidos sobre as condenadas pranchas de rodas (BRANDÃO, 2014, p. 41). Na década de 1970 inicia-se o processo de esportivização do skate, tencionando a “sobrevivência da prática”, o que posteriormente resultou na organização de campeonatos, pistas especificas, produção e comercialização de 24 skates e demais produtos que passaram a ser associados a ele, como roupas e equipamentos de proteção (HONORATO, 2013). A primeira revista de circulação nacional sobre skate, denominada Esqueite (ver imagem 3) foi editada em 1977, divulgando as manobras existentes na época e apresentando uma espécie de tutorial com o “passo a passo” sobre como executá- las. Também era informado na revista sobre espaços para a prática do skate, como praças, ruas e estacionamentos onde já havia a presença de skatistas já que ainda não existiam pistas (PEREIRA, 2015). Outras revistas surgiram depois como a “Brasil Skate em 1978, ou a Overall, a Skatin, Vital Skate e a Yeah! – essas na década de 80” (BRANDÃO, 2011, p. 94). Imagem 3 – Capa da Primeira Edição da Revista Esqueite (1977) Fonte: reproduzido da página web Skate Curiosidade6. O estado do Rio de Janeiro nos anos 1970 foi destaque para a história do skate, além de ter sido a sede das revistas pioneiras para divulgação do skate 6 Primeira revista sobre “Esqueite” do Brasil – 1977. Disponível em: <http://www.skatecuriosidade.com /revistas/primeira-revista-de-esqueite-do-brasil-2>. Acesso em: 21 ago. 2017. 25 nacional, em sua capital ocorreram “o primeiro campeonato de skate do Brasil em 1974; primeira demonstração de uma equipe de skate em 1977” (PEREIRA, 2015, p. 39). As primeiras pistas de skate brasileiras foram inauguradas em 1976 no município de Nova Iguaçu (RJ) e no ano de 1977 em Alphaville (SP), chamada Wave Park (BRANDÃO, 2011; PEREIRA, 2015). A partir dos anos 80, o skate passa a ser mais conhecido como streetskate porque a grande maioria dos skatistas costumava praticar o esporte nas ruas, assim como na época de seu surgimento, mas houve a “[...] descoberta de outros locais também “skatísticos” do espaço urbano, como escadas, bancos, muretas, paredes e corrimãos” (BRANDÃO, 2011, p. 26). O termo streetskate (derivado do inglês street = rua) passou a circular nas revistas da época “Overall e a Yeah!”, assim como os próprios skatistas passaram a se referir a “esta prática mais radical do skate de rua e que colocou seus praticantes em contato direto com esses outros elementos da arquitetura urbana” (BRANDÃO, 2011, p. 26-27). Brandão (2011, p. 27) ressalta que durante a década de 1980 houve uma espécie de reivindicação dos skatistas para apropriações vinculadas à cultura punk, seja pelas vestimentas rasgadas ou pela atitude rebelde e contestatória inspirada “[...] nas letras das canções de punk-rock e pelo simbolismo de um visual pouco convencional, também refletiu sobre a prática do streetskate”. O que fez o skate se tornar popular de verdade foi a roupagem do punk-rock que se incrustava nos praticantes de todo o mundo. No Brasil não foi diferente. Sai o estilo freak-heavymetal-cabeleira-surf e entra o estilo agressivo eu-quebro-tudo-mesmo do punk-rock. [...] Calça descolorida e rasgada, com a camiseta da banda preferida e um bracelete de pontas. Skate or Die! Skate and Destroy! Go Skate or Go Home, ou qualquer frase de efeito estavam ecoando em cada quarteirão. Marcando muito bem essa atitude, o 2º Campeonato Brasileiro de Guaratinguetá foi um desfile de punks e simpatizantes. A cidade foi invadida por alfinetes e penteados que iam do moicano ao espigado ou pintado. Essa atitude começou a incomodar os moradores da pacata cidade, e logo após eles entraram em guerra contra os skatistas (BOLOTA, 2000, p. 33 apud Brandão, 2011, p. 103-104). Essa inserção conturbada do skate, induz a pensar numa certa pluralidade de representações e campos dos sentidos. Segundo a ótica de Foucault (2009, p. 171), o essencialismo no skate como esporte é resultado do agrupamento social e produz comportamentos inesperados fugindo a regra e que necessitam de código de conduta, “foi inventado, fabricado, produzido por uma série de mecanismos e de pequenosmecanismos”. 26 Mas o streetskate era considerado algo marginal e transgressor, sendo que os skatistas eram “[...] classificados como arruaceiros, agitadores ou baderneiros” e “[..] andar de skate em vias públicas era e ainda é algo transgressor para a vida organizada da cidade” (BRANDÃO, 2011, p. 118-119). Diante disso, em 1988 a prática do skate foi proibida nas ruas de São Paulo na época do prefeito Jânio Quadros e em muitas cidades os skatistas tinham de fugir da policia (BRANDÃO, 2011). Assim, devido ao constante conflito entre as autoridades e as necessidades de lazer dos skatistas que reivindicavam o uso das vias públicas e praças, as prefeituras passaram a construir pistas de streetskate, contendo obstáculos que imitavam a cidade. A década de 1980 se encerrou com importantes conquistas não apenas nas ruas, mas também para os primeiros atletas brasileiros do skate, que obtiveram a quinta colocação por equipes no Campeonato Mundial realizado no Canadá em 1986 (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SKATEb, S/D.). Ainda, segundo dados da mesma Confederação, a partir dos anos 1990 os skatistas brasileiros estiveram presentes nos melhores campeonatos mundiais de skate e passaram a ser considerados como alguns dos melhores atletas do mundo. Nessa época os atletas Lincoln Ueda e Bob Burnquist alcançam status mundial, Ueda por ser o primeiro a ganhar um título em campeonato mundial e Burnquist por ter sido eleito o skatista do ano de 1997 pela revista Thrasher (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SKATEb, S/D.). A fundação da Confederação Brasileira de Skate (CBSk) ocorreu em 1999 e a partir dos anos 2000 a profissionalização do esporte skate acelerou, inclusive com o apoio do Ministério do Esporte, pelo programa federal Bolsa Atleta que passou a beneficiar skatistas a partir de 2008, resultado de uma articulação de dois anos da CBSk (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SKATEb, S/D.). Com o sucesso de atletas como Ueda e Burnquist e dos X-Games, conforme mencionado no tópico anterior, a partir dos anos 2000 e acentuadamente depois de 2010 a mídia televisiva passou a dar maior destaque para o skate tanto em programas esportivos na TV “sobre campeonatos (Oi Vert Jam, Pro Rad, Mega Rampa) e especializados (Skate Paradise, Zona de Impacto e Distorção), entrevistas com personalidades [...] e até em novelas (Malhação)”, popularizando o skate para o grande público (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SKATEb, S/D.). 27 2 MARKETING E PATROCÍNIO ESPORTIVO Antes de abordar sobre o marketing esportivo propriamente, convém resgatar a definição de marketing para introduzir o tema e compreender qual o conceito e aplicações do marketing sob o ponto de vista dos esportes. 2.1 MARKETING Existe certa confusão relacionada ao significado das palavras marketing e propaganda. Há quem pense que marketing é o mesmo que propaganda, mas a propaganda é apenas uma parte do marketing. A propaganda é considerada a parte de comunicação, de divulgação sobre uma empresa, marca ou produto/serviço. O marketing é muito mais abrangente, pois os profissionais de marketing trabalham as variáveis mercadológicas das empresas com base nas tendências econômicas, sociais, políticas, culturais e concorrenciais de mercado e procuram influenciar as decisões de compra dos consumidores, estimulando-os a optar pela compra do seu produto ou serviço ao invés daqueles dos concorrentes. O marketing é uma palavra derivada de market, que na língua inglesa significa mercado e sua origem está ligada à evolução da satisfação e dos desejos humanos. Em tempos remotos, a base da economia era a troca entre os excedentes de caça, de extração de produtos naturais e da agricultura, mas com o passar do tempo surgiu o comerciante, que era responsável por intermediar essas trocas entre produtores e compradores, com atribuição de preços e encargos (comissão). Com a chegada da Revolução Industrial a produção em massa passou a existir e, consequentemente, a disponibilidade de produtos aumentou drasticamente, sendo estes cada vez mais parecidos entre si. Com isso, os comerciantes e intermediários entre produtores e compradores também se multiplicaram e os compradores viraram consumidores, que tem se tornado cada vez mais exigentes para satisfazer suas necessidades e desejos. Foi então que cresceu a necessidade de gerenciar as trocas mais profissionalmente e o marketing passou a existir. O cerne do marketing está relacionado com identificar as necessidades dos seres humanos e atender aos seus desejos, moldados de acordo com a sociedade em que eles estão inseridos. Essas necessidades e desejos criam demandas por 28 produtos e serviços específicos que podem satisfazê-los, e os consumidores escolhem esses produtos ou serviços com base em seu poder de compra e outras influências, como as culturais e de status social (KOTLER; KELLER, 2006). O marketing pode ser definido por diferentes abordagens, como a social ou a gerencial, em que a definição social mostra o papel do marketing na sociedade e a gerencial tem relação com as funções da administração, pois cada autor aborda diferentes aspectos, conforme apresentado no quadro a seguir. Quadro 1 – Definições de Marketing Definição Autores “o processo de planejar e executar a concepção, estabelecimento de preços, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. Churchill Jr. & Peter (2005, p. 4) “é um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com outros”. Kotler & Keller (2006, p. 4) “definimos marketing simplesmente como a intenção de entender e atender o mercado”. Richers (2000, p. 5) Fonte: elaborado pela autora (2017). A abordagem de Churchill Jr. e Peter (2005, p. 4) para sua definição de marketing é gerencial, pois para estes autores marketing é “o processo de planejar e executar”, sabendo-se que as funções da Administração são planejamento, organização, direção e controle. Esses autores também mencionam “preços, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços”, pois como apresentado anteriormente o marketing não é apenas propaganda. Para Kotler e Keller (2006) o marketing se apresenta como um processo social, pois advém das relações sociais entre as pessoas, sejam elas os consumidores ou grupos de consumidores e as pessoas que fazem parte das organizações. O aspecto gerencial do marketing está relacionado com as funções da administração, mencionadas no parágrafo anterior. As definições de marketing apresentadas no quadro apresentam as mesmas palavras e enfoques como “trocas, satisfação, valor, metas etc.” e apenas a definição de Richers (2000), apesar de ser a mais resumida, se refere a um fator importante para as atividades de marketing: “entender o mercado”, pois sem o 29 conhecimento sobre as necessidades ou desejos dos consumidores não há trocas, nem satisfação ou criação de valor para ambos, sejam empresas ou pessoas. Assim, dentre os autores pesquisados neste trabalho, apenas Richers (2000) destaca a importante função do marketing para compreender e buscar formas de fornecer produtos e serviços adequados às necessidades e desejos dos consumidores, o que também denota uma atividade gerencial de análise do mercado ao buscar o seu entendimento. O planejamento e execução do preço, distribuição etc. referido por Churchill Jr. e Peter (2005) em sua definição fazem parte das importantes decisões de marketing, conhecidas como“variáveis controláveis de marketing” (LIMEIRA, 2004, p. 2), ou mix de marketing, também conhecidos pela sigla “4 Ps: produto preço, praça (ou ponto de venda), e promoção”, conforme a figura a seguir. Essa sigla foi popularizada a partir da sistematização das atividades mercadológicas importantes, feita por McCarthy e Pereaut e se origina dos termos em inglês product, price, place e promotion, que traduzidas significam produto, preço, lugar e promoção (ZENONE; BUAIRIDE, 2005). Figura 1 – O Mix de Marketing Fonte: reprodução de Kotler e Keller (2006, p. 17). Então, as empresas devem suprir as necessidades e desejos dos consumidores por meio do planejamento de marketing, a partir da definição das estratégias de quais produtos ou serviços serão oferecidos para quais mercados- alvo, com a definição dos preços desses produtos ou serviços, assim como escolher 30 em quais os locais ou pontos de venda estarão disponíveis e como os clientes ficarão sabendo da existência desses produtos ou serviços, em suma, comunicando sobre a existência dos produtos por meio da propaganda e publicidade. A propaganda e a publicidade são apenas uma parte do marketing e podem chegar diversas maneiras aos consumidores em potencial, por meio das ferramentas de comunicação, que são a propaganda, a publicidade, a promoção de vendas, o merchandising e o marketing direto. As propagandas ou mensagens publicitárias abordam os consumidores por meio das mídias, que “são canais impessoais pelos quais as organizações podem dirigir-se diretamente ao consumidor” (ZENONE; BUAIRIDE, 2005, p. 3). As principais mídias são: rádio, televisão, cinema, jornais, revistas, outdoors, cartazes, e, atualmente, a internet. Cada ferramenta de comunicação possui um objetivo diferente, que pode ser de informar, lembrar e persuadir o consumidor em tomar uma ação desejada pela empresa, e finalmente comprar (ZENONE; BUAIRIDE, 2005), e suas definições, com base em Zenone e Buairide (2005, cap. 1 e figura 1.5) e Limeira (2004, p. 274) estão relacionadas a seguir: a) Publicidade: comunicação não paga contendo informações sobre a empresa ou seus produtos e serviços (por exemplo, notícias). b) Relações Públicas: comunicação com os públicos (stakeholders) direta ou indiretamente interessados nas atividades da empresa, visando criar atitude favorável em relação à marca do produto e às atividades da empresa. c) Propaganda: anúncios pagos, geralmente persuasivos veiculados nos meios de comunicação de massa. d) Promoção de Vendas: pressão de marketing durante um período predeterminado para estimular a experiência, aumentar a demanda de um produto ou serviço, estimular sua compra ou melhorar a sua disponibilidade para o público. e) Merchandising: atividades de comunicação e exposição de produtos e serviços no PDV para estimular a compra imediata. Também é a inserção de produtos, embalagens e marcas em programas de TV, rádio ou cinema. 31 f) Vendas Pessoais: comunicação direta entre a empresa e os consumidores, feita em geral por meio de uma equipe treinada de vendedores ou representantes da empresa, também chamada de comunicação dirigida. g) Marketing Direto: comunicação impessoal direta e sem intermediários, via mala direta, telemarketing, catálogos, internet (e-mail marketing, hotsites, etc.). 2.2 MARKETING ESPORTIVO O conceito de marketing esportivo tem recebido diferentes significados entre acadêmicos e profissionais (FAGUNDES et al, 2012; MAZZEI et al, 2013). As discussões sobre sua aplicação na imprensa e em muitos livros didáticos incluem categorias que vão desde ingressos para esportes, espectadores, até apostas relacionadas aos esportes em estabelecimentos legais de jogos (SHANNON, 1999). A visão simplista da imprensa sobre o que engloba a disciplina de marketing esportivo resume-se a venda de bilhetes e colocação de fãs nos assentos em eventos esportivos organizados. Essa perspectiva reflete os enormes gastos de marketing para que os objetivos de venda e lotação de público em estádios, arenas, parques olímpicos etc. sejam seus principais objetivos. Na ampla pesquisa de levantamento da produção acadêmica sobre marketing esportivo, realizada por Shannon (1999, p. 523), os principais temas pesquisados em artigos científicos nos periódicos internacionais da área foram: “patrocínio” em primeiro colocado (21 artigos com foco neste tópico); 16 artigos de “pesquisa geral” e 15 artigos com pesquisa sobre espectadores, fãs e/ou participantes. “Esportes colegiados” e “publicidade/promoção” tiveram 12 artigos cada dentre as áreas temáticas com mais de dez artigos. O menor número de artigos em qualquer categoria foi dois: “gerenciamento de eventos” e “educação de marketing esportivo”. “licenciamento” teve três artigos. No Brasil, foram realizadas duas pesquisas de levantamento da produção acadêmica sobre marketing esportivo por Fagundes et al (2012) e Mazzei et al (2013). A primeira analisou publicações nos principais periódicos e eventos científicos brasileiros entre 1994 a 2011 com 23 trabalhos encontrados, cujos principais resultados foram: constatação de pequena quantidade de produção 32 acadêmica sobre marketing esportivo no Brasil; maior ocorrência de estudos exploratórios e empíricos (74%) publicados em eventos; concentrada em instituições de ensino das regiões sudeste e sul (85%). (FAGUNDES et al, 2012). Os principais temas encontrados por Fagundes et al (2012, p. 113) foram “mercado de produtos e serviços esportivos” (34,6%); “produto esportivo propriamente dito” e “promoção no esporte” com 26,9% cada; “percepção de valor na atividade esportiva” (7,7%) e “segmentação no esporte” (3,8%). O levantamento de Mazzei et al (2013) buscou pesquisas sobre a ótica multidisciplinar da Gestão do Esporte, pois considerou o tema “indústria do esporte” para localizar estudos sobre marketing esportivo e temas correlatos. Esses autores também encontraram uma quantidade pequena de artigos publicados em periódicos brasileiros nesta temática com abordagens primárias ou descritivas; predominância de “ensaios” e temas relacionados ao segmento “promoção da indústria do esporte”. O destaque dado para a indústria do esporte por Mazzei et al (2013) é interessante de ser destacado, pois os autores identificaram alguns segmentos principais que merecem atenção para os estudos sobre marketing esportivo, conforme figura a seguir. Figura 2 – Segmentos da Indústria do Esporte Fonte: reprodução de Mazzei et al (2013, p. 187) adaptado de Pitts et al. (1994). 33 De acordo com a figura 2, os autores Pitts et al (1994) citados por Mazzei et al (2013) identificam três segmentos principais que fazem parte da indústria do esporte e isso serve como ponto de partida para pesquisas para o planejamento em marketing esportivo que podem ser orientadas para um ou outro tema específico. O primeiro segmento (de Prática Esportiva) é composto por organizações que oferecem como serviços a prática esportiva e atividades diretamente ligadas ao entretenimento esportivo, como, por exemplo, clubes, federações, academias, ligas, etc. O segundo segmento (de Produção) é o das organizações responsáveis pelo fornecimento de produtos e equipamentos esportivos, como, por exemplo, as marcas fabricantes de vestuário esportivo. O terceiro (de Promoção) segmento é constituído por organizações responsáveis pela promoção do esporte como um produto, bem como os produtos que usam o esporte como um veículo para a promoção e comercialização de produtos, de eventos, ações de mídia e patrocínio (Pitts et al., 1994apud Mazzei et al, 2013, p. 187). Shank (2002, p. 2) define marketing esportivo como “a aplicação especifica dos princípios e processos de marketing aos produtos esportivos e ao marketing de produtos não esportivos por meio da associação com o esporte”. Ou seja, o marketing esportivo de maneira simplificada é a aplicação dos 4Ps dentro do contexto esportivo, servindo para atender as necessidades dos clientes do esporte, podendo estes serem consumidores, participantes de esportes, jogadores ou investidores corporativos. Essa definição está alinhada com a segmentação da indústria do esporte, que aplica as ferramentas do marketing esportivo para oferecer diferentes produtos para os diferentes públicos do esporte. Sob o ponto de vista do marketing, o esporte é entendido como um serviço disponível para a comunidade, tanto para contemplação quanto para participação ativa. Então, tanto as organizações esportivas como as empresas que fornecem produtos ligados ao esporte devem administrar as atividades tradicionais de marketing, ou seja, analisar o mercado, definir o mix de marketing, realizar pesquisas de marketing com a intenção de conhecer hábitos e desejos dos consumidores, definir o mercado-alvo e desenvolver o plano de marketing para esse mercado. Em suma, como todo negócio lucrativo precisa ser administrado, o marketing esportivo também atua como elemento do processo de gestão do esporte. Atualmente, o esporte move uma quantidade significativa no PIB em todo o mundo, somente se forem considerados os grandes eventos esportivos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, ou mesmo os campeonatos nacionais de futebol, 34 tanto no Brasil como na Europa ou das ligas de beisebol e basquete americanas, o montante de dinheiro de patrocínios e direitos de transmissão de imagens é maior do que o PIB de muitos países pequenos ou pobres. Assim, o esporte se tornou um negócio muito lucrativo para algumas empresas e também muito explorado para vender produtos nem sempre ligados ao esporte, como mostram comerciais em que alguns atletas são os garotos propaganda para diversos produtos e serviços, de bancos a automóveis. Finalizando, em relação aos esportes mais mencionados pelas pesquisas do levantamento de Mazzei et al (2013, p. 194) houve a constatação de (...) alta frequência de estudos com os objetos futebol e o voleibol é coerente com a realidade esportiva brasileira, já que essas duas modalidades são as práticas esportivas que possuem destaque em resultados internacionais, são expostas com frequências na mídia e também possuem um volume considerável em movimentações econômicas (...) Com base nisso, ressalta-se a importância e a justificativa dessa pesquisa que aborda o marketing esportivo e a publicidade no skate, tema ainda pouco estudado. 2.3 PATROCÍNIO ESPORTIVO O patrocínio esportivo é um método promocional comumente associado ao esporte, é um investimento em forma de comunicação, uma marca patrocina um atleta, um clube ou evento esportivo com o objetivo de atingir um mercado específico por meio da identificação do consumidor com o esporte, dessa forma o público entende que a marca assim como ele aprecia um determinado esporte, clube ou atleta em questão, além de incentivar entretenimento e cultura (MASON, 2005). Morgan e Summers (2008) recomendam que as estratégias de marketing de patrocínio devam ser inseridas nas estratégias empresariais e implantadas como propostas de valorização da marca ou empresa. O patrocínio esportivo, sob esse ponto de vista é estratégico, pois a associação entre o esporte e o patrocinador representa um elo estratégico com oportunidades de marketing para ambos. Nesse sentido, o patrocínio esportivo representa uma plataforma de marketing, integrado ao mix de marketing capaz de aumentar a eficiência e a eficácia de uma série de atividades de marketing para ambas as partes da aliança estratégica. 35 A associação da marca a um esporte por meio do patrocínio pode contribuir fortemente para que uma marca atinja seus objetivos de comunicação e marketing, pois agrega valor à marca, traz um posicionamento, reforça a imagem, motiva e estimula vendas. O patrocínio pode proporcionar grande retorno aos investidores. O patrocínio pode contribuir para atingir muitos objetivos de comunicação diferentes, mas os objetivos mais comuns relacionados a ele são: conscientização, mudança ou reforço de imagem da marca, aumento da lealdade, motivação do funcionário e, finalmente estímulo de vendas. (MORGAN, SUMMERS, 2008, p. 244). Zardini Filho (2017) identificou que o patrocínio esportivo é capaz de modificar favoravelmente o aspecto afetivo da atitude em relação a uma marca, influenciando positivamente a atitude de consumidores sobre a marca, mesmo considerando um cenário negativo desta marca. Os resultados desta pesquisa comprovaram que a aplicação de estratégias macros de marketing esportivo aplicadas por uma empresa são mais eficazes do que ações específicas para influenciar essa mudança de atitude dos consumidores. As marcas pesquisadas por Zardini Filho (2017) estavam posicionadas entre as líderes de vendas, com alta qualidade de produtos e bons preços e relacionadas ao esporte futebol. Os impactos negativos “supostos” sobre essas marcas diziam respeito à ligação da empresa em esquemas de corrupção, planos de demissões em massa e problemas ambientais ocasionados pelas fábricas da empresa. Assim, o pesquisador testou pressupostos sobre veiculação de notícias desfavoráveis em relação às marcas hipotéticas e mesmo assim houve uma atitude positiva dos pesquisados quando as marcas desenvolviam ações de patrocínio esportivo. Diante dos resultados encontrados, o patrocínio esportivo pode servir como uma ferramenta para superar barreiras afetivas e não favoráveis em relação a uma determinada marca, sendo que as pessoas envolvidas com esportes, população estudada por Zardini Filho (2017, p. 204) “tendem a alinhar sua atitude favorável ao esporte com a da empresa patrocinadora”. O patrocínio esportivo também influencia no comportamento do consumidor (MASON, 2005) principalmente em relação às atitudes dos consumidores. O patrocínio cria conexões emocionais positivas e altera as estruturas cognitivas dos 36 consumidores levando-os ao engajamento de comportamentos desejáveis do ponto de vista do anunciante. Convém ressaltar que os fãs altamente envolvidos com determinado esporte ou time/liga/associação parecem ser mais receptivos ao patrocínio, o que irá influenciar sobre as escolhas empresariais sobre qual tipo de patrocínio ou qual o esporte irá patrocinar. Mason (2005) ressalta a importância de reconhecer qual a imagem sobre o estilo de vida está associada ao esporte ou evento específico, os quais devem estar alinhados ao mercado-alvo do patrocinador, senão a empresa poderá ter prejuízos em sua imagem/marca. Assim sendo, no próximo capítulo serão examinadas algumas campanhas publicitárias de marcas que fazem uso da imagem do skate e verificar como tem se dado a representação do skate, visto que atletas do futebol e mesmo de outras modalidades esportivas são mais comuns de estarem em propagandas dos mais variados tipos. 37 3 A REPRESENTAÇÃO DO SKATE NA PUBLICIDADE BRASILEIRA Diante do que foi apresentado sobre a história do skate no primeiro capítulo, constatou-se que o esporte está cada vez mais profissionalizado no Brasil e no mundo. Em parte, essa profissionalização se tornou acentuada a partir da criação dos X-Games e da popularização de programas especializados sobre skate e coberturade campeonatos na TV. Assim, o skate atualmente possui características reconhecidas pelo grande público como sendo um esporte desafiador e radical, mas ainda não se desvinculou completamente do rótulo de ser uma prática de arruaceiros, desocupados ou marginais. A segunda visão está mais vinculada aos skatistas amadores ou por lazer, que costumam praticar o streetskate nos espaços públicos urbanos. Diante disso, esse capítulo apresenta uma análise da imagem do skate representada pela publicidade brasileira sob dois aspectos distintos. Primeiro, a partir da pesquisa realizada em fontes bibliográficas, serão apresentados alguns autores que abordaram em suas pesquisas aspectos relacionados à publicidade do skate no Brasil. Segundo, serão identificados alguns dos principais atletas do skate brasileiro atualmente, e buscadas campanhas publicitárias que tenham participado, de forma a analisar qual a imagem é passada e para qual o público-alvo se destina. Devido às limitações de tempo e extensão desse trabalho, as pesquisas bibliográficas e documentais aqui empreendidas são consideradas como “não exaustivas” e pretendem ilustrar aspectos sobre a representação do skate na publicidade brasileira, a partir de alguns exemplos selecionados. 3.1 O SKATE NA PUBLICIDADE: PESQUISAS ANTERIORES Desde a sua gênese o skate está vinculado à imagem de juventude (BRANDÃO, 2011; 2014; BRITTO, 2000; LOPES, 2005). De acordo com Rocha (2010, p. 9) desde os anos 1960 no Brasil “a assimilação da juventude pela publicidade deu-se em duas frentes”: os jovens “[...] foram incorporados à indústria da publicidade para trabalhar com pesquisa e criação” e a juventude retratada nos anúncios publicitários passava a imagem de “[...] uma promessa de felicidade perfeitamente integrada à sociedade capitalista”. Para chegar a essa conclusão, a 38 autora realizou uma análise dos anúncios publicados na revista Veja, entre 1968 e 2001. Dentre outras considerações, merece destaque: [...] a juventude é um recurso para ancorar os anúncios nos valores românticos da liberdade e da autenticidade pessoais, tendência que extrapola os ramos da produção voltados ao público jovem e alcança o conjunto da publicidade brasileira de ponta, ainda que, pela própria necessidade de diferenciação entre os concorrentes em cada mercado, as estratégias narrativas sejam forçadas a algum grau de diversificação. A abrangência do apelo à juventude deve-se ao fato de que é correlato a uma mudança no conjunto da publicidade brasileira, em que o fascínio pela industrialização antes manifesto na ênfase na “tecnologia” e no “prestígio”, dentro dos anúncios, foi cedendo espaço para o recurso à “qualidade de vida”, de que a jovialidade, a liberdade e a autenticidade são ingredientes indispensáveis. Como indicativo da amplitude desse apelo, podemos tomar o caso de uma das marcas mais importantes do planeta, a Coca-Cola. (ROCHA, 2010, p. 19-20). Rocha (2010, p. 20) identificou esse “apelo à juventude” em anúncios da Diet- Coke a partir de 1989, onde figuram imagens de um casal na praia ao pôr-do-sol e de um grupo de surfistas, com as frases “Hotel cinco estrelas numa versão Diet Coke” para a primeira imagem e “executivos em viagem de negócios”, para a segunda. Em 2001, um anúncio de Coca-Cola na revista Veja apresentava o slogan: “gostoso é viver” e a cena retratada era de um pai descendo uma ladeira no skate do filho que o observava. A autora novamente analisa que momentos de “[...] alegria e felicidade intensamente associados, senão à juventude como faixa etária, pelo menos, a uma atitude juvenil de descontração, informalidade, paixão, liberdade e autenticidade”, procuram posicionar a marca Coca-Cola associada à juventude e descontração (ROCHA, 2010, p. 20), com o skate fazendo parte da cena para reforçar essa imagem. Em termos culturais, o skate é visto tanto como um esporte como um estilo de vida (BRANDÃO, 2014; HONORATO, 2013). Atualmente, apesar de ainda carregar uma imagem de rebeldia, também é possível afirmar que representa um estilo livre, que envolve aventura e adrenalina, pois é desafiador de habilidades, e se classifica como esporte radical (CAMARGO; SILVA, 2016; PEREIRA; ARMBRUST; RICARDO, 2008). Diante desses pressupostos, Camargo e Silva (2016) examinaram a recente tendência comportamental sobre a busca de experiências intensas e do resgate do contato com a natureza, realizada muitas vezes pela prática de esportes radicais; e 39 buscaram evidências sobre como as marcas e campanhas publicitárias trabalham as imagens baseadas nesse discurso para atrair os consumidores. Para Camargo e Silva (2016) a reconciliação do corpo com a natureza se transformou numa oportunidade de mercado. Os autores analisaram três campanhas publicitárias veiculadas em comerciais de TV e vídeos no Youtube: (1) #Bora Lá, do Guaraná Antarctica; (2) Global Next is Now, dos smartphones Galaxy S6 e S6 Edge da Samsung; e (3) Escute Seu Corpo, do Tênis Olympikus. Para os fins desse trabalho, interessa o exemplo da campanha #BoraLá do Guaraná Antarctica (ver imagem 4), pois usou a imagem do skate para posicionar o refrigerante como uma marca jovem, que acompanha as pessoas em seus momentos de lazer, em contato com a natureza, desafiadores ou radicais. Imagem 4 – Frames do Comercial #Bora Lá Fonte: vídeo publicado no YouTube de Guaraná Antarctica (2015)7. A campanha do Guaraná Antarctica mostra a prática do skate em um momento social e com um grupo para validar a ideia de que as pessoas atualmente tem uma vontade intensa de “vivenciar o diferente e de libertar-se de regras, rotinas e padrões sociais; acredita-se na liberdade, no desprendimento, na quebra de valores” (CAMARGO; SILVA, 2016, p. 47). O skate [...] ganha a cena no final do comercial, no momento de conclusão de ideias e quando a marca incentiva as pessoas a “fazerem um lance juntas”. Tanto pelo desejo delas praticarem alguma atividade fora do comum, com emoção e adrenalina, quanto pelo fato de o skate ser um esporte muito bem visto socialmente pela “galera”, a marca dá muita visibilidade ao esporte, visto que deixa de lado esportes muito praticados socialmente como o futebol e o vôlei e conversa com esse público, principalmente jovem, que já foi atingido por essa tendência de vivenciar 7 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kzfP1KBnK-Q>. Acesso em: 30 Set. 2017. 40 experiências intensas e fora dos padrões sociais. Ao final do comercial, de maneira estratégica, a marca relaciona o consumo do refrigerante à prática e iniciativa dessas atitudes. “Quando a vida pedir, abre um Guaraná Antarctica e #Bora Lá” (CAMARGO; SILVA, 2016, p. 42-43). Deste modo, Camargo e Silva (2016) corroboram a mesma imagem de “liberdade, autenticidade” etc. identificada por Rocha (2010) na campanha de outro refrigerante em décadas anteriores, e também fazem referência sobre a imagem do skate nos tempos atuais como uma prática ou esporte avesso às atividades comuns ou entediantes da vida cotidiana em sociedade. Cabe destacar que, apesar de ser um esporte mais praticado por homens, o skate tem crescido entre as mulheres. Conforme pesquisa realizada pelo Datafolha (2016) para a Confederação Brasileira de Skate 11% dos domicílios brasileiros possui pelo menos um morador que pratica ou anda de skate e de 2009 para 2015 houve um aumento do público feminino praticante de 10 para 19%. Mas apesar desse aumento, ainda é maior a quantidade de homens praticantes, composta por 81% e a faixa etária de 15 anos. Assim, uma das representações ainda datadasque o skate possui em anúncios publicitários é o vínculo maior com imagens ou estenótipos masculinos, como analisado por Viegas (2017, p. 120) que fez uma análise sobre estereótipos de gênero na publicidade. A autora mostrou os estereótipos de gênero reforçados pelos filmes publicitários “Celular”8 e “Skate”9 da marca “Bauducco”, produzidos pela AlmapBBDO (2015) e veiculados pela TV e redes sociais, que representavam “respectivamente grupos de amigas e amigos em papéis de gênero bem restritos”. Os comerciais mostravam que “[...] meninas são românticas, delicadas, sutis, empolgadas e gostam de usar o celular, enquanto os meninos são despreocupados, debochados e gostam de andar de skate” (VIEGAS, 2017, p. 120). Figueira e Goellner (2009) também perceberam que o skate é representado como prática culturalmente associada ao gênero masculino, mas buscaram outros espaços ou fontes para desconstruir esse senso comum. Destacou-se a página na internet denominada Skate para Meninas, na qual é possível encontrar, a partir de diversas fontes, conteúdos sobre os acontecimentos relacionados ao skate praticado 8 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cKKcw56jvY4>. Acesso em: 30 Set. 2017. 9 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Mm-LK96GzDw>. Acesso em: 30 Set. 2017. 41 por mulheres brasileiras, e também outros websites, blogs, etc. cuja produção de conteúdo é das próprias skatistas (FIGUEIRA; GOELLNER, 2009). Boa parte das publicações esportivas ou mídias especializadas, e até as acadêmicas, sobre a história do skate no Brasil apresenta pouca ou nenhuma referência sobre as mulheres praticantes de skate, como no livro “A onda dura: 3 décadas de skate no Brasil”. As autoras identificaram apenas uma referência sobre uma atleta dentre as 105 páginas do livro: “na qual o editor informa que, no ano de 1995, foi realizado na ZN Skatepark, em São Paulo, o 1º campeonato feminino da década, vencido por Giuliana Ricomini” (BRITTO, 2000, p. 62 apud FIGUEIRA; GOELLNER, 2009, p. 100). Além da “invisibilidade da mulher” no skate, as autoras perceberam a diferença entre a representação dos atletas homens e da única mulher no livro. Enquanto os atletas são representados em ação, em mais de setenta fotos, “fazendo manobras radicais”, nenhuma destas imagens é de uma atleta mulher e há apenas duas imagens de mulheres. Na primeira delas, aparece a vencedora do primeiro campeonato dos anos de 1990. No entanto, a atleta não é fotografada em ação como são os homens: Giuliana Ricomini está de costas, segurando o skate e revelando para as lentes do fotógrafo a imensa tatuagem que colore quase toda essa parte de seu corpo, que está descoberta. A leitura que fazemos dessa construção textual, em nenhum momento é atribuída a alguém que acabou de vencer um campeonato de skate. O que se vê é um belo corpo tatuado. A outra fotografia exibe uma modelo desfilando em um evento de moda realizado em São Paulo, em 1995, no qual representa a loja Mad Corner. A imagem exibida é de uma mulher cruzando a passarela com a parte de cima do corpo sem roupa tendo seus seios cobertos apenas por um skate (FIGUEIRA; GOELLNER, 2009, p. 101) Assim, a imagem que Figueira e Goellner (2009, p. 101) concluem sobre como são representadas as mulheres no livro fotográfico que procura ilustrar a história do skate no Brasil é ironicamente de “figuras ilustrativas no cenário de uma história protagonizada por homens”. As duas imagens analisadas por Figueira e Goellner (2009) colocam as mulheres no “universo da beleza, delicadeza e graciosidade”, papéis geralmente atribuídos ao gênero feminino, como também evidenciado por Viegas (2017) no comercial da Bauducco. Figueira e Goellner (2009, p. 101) ainda ressaltam: “O que se vê são duas mulheres belas, expondo seus corpos e não seus atributos esportivos – o que, em tese, deveria ser o motivo 42 primeiro para se fazerem presentes num livro que tem como mote contar alguns fragmentos da história do skate nacional”. Em contrapartida, nos conteúdos produzidos por mulheres skatistas a representação das mulheres é como protagonistas, desde fanzines dos anos 1980 que relatavam a participação de meninas nos campeonatos, muitas vezes competindo com os meninos até as matérias sobre coberturas de campeonatos, que muitas vezes eram enviadas pelas próprias atletas para essas fontes. Conforme Figueira e Goellner (2009) nas publicações de mulheres skatistas há outro tipo de narrativa, com destaque para as atletas, manobras, campeonatos e imagens das atletas em ação, mostrando seu desempenho em uma prancha de skate e não seus corpos. Assim, “[...] ao produzirem modos de se fazer ver, as skatistas colocaram em ação disputas de poder entendido aqui como prática de ações possíveis que perpassa as relações entre sujeitos e instituições” (FIGUEIRA; GOELLNER, 2009, p. 106). Horkheimer e Adorno (2002) partindo do conceito de cultura de massa criaram o termo indústria cultural, referindo-se aos grandes conglomerados midiáticos globais detentores dos meios de comunicação de massa que padronizam e homogeneízam produtos, notícias, serviços, etc., para o consumo imediato. Isto gera efeito nos consumidores, que são induzidos a desejos e pseudonecessidades, objetivando claramente as vendas e o consumo excessivo. Em relação ao skate, a indústria cultural explora sua imagem juntamente com a da contracultura, ou seja, exploram outros movimentos de contracultura, como o punk e o hip-hop que acabam influenciando o estilo do skate, para criar uma identidade própria e juvenil. Mas como vimos pelas pesquisas abordadas nesta seção, a contracultura do skate não apareceu muito vinculada com a música ou a rebeldia punk dos anos 1980, e sim com elementos mais recentemente associados ao skate, como desafios, habilidades, adrenalina, provavelmente influenciados também por um grande conglomerado midiático que criou e divulga os X-Games – o canal de TV por assinatura ESPN. Devido essa exposição da mídia muitos atletas se beneficiaram de grandes patrocínios, como será abordado na próxima seção. No entanto, ainda persiste nos comerciais ou em registros fotográficos desse esporte nas principais revistas, a indústria cultural o classifica e exibe como masculino. 43 3.2 A REPRESENTAÇÃO DOS ATLETAS DO SKATE NA PUBLICIDADE Antes de analisar alguns comerciais dos quais participam atletas do skate, será apresentada rapidamente uma pesquisa que investigou o significado cultural do skate em campanhas publicitárias. Esse material foi incluído nessa seção ao invés da anterior, primeiramente pelo rigor utilizado na pesquisa, e segundo porque em um dos comerciais analisados na dissertação de Reis (2015), a representação do skate no comercial é feita por um atleta da categoria downhill, ou seja, é um atleta de skate atuando como garoto-propaganda de outro produto. A pesquisa de Reis e Rocco (2016) é apresentada como uma das partes da dissertação de Reis (2015), com a análise do uso do skate em um filme publicitário para o comercial de uma empresa não esportiva: “Caso VIVO Fibra Internet”. Foram analisadas as percepções de dois grupos focais (praticantes e não praticantes de skate) com cinco participantes em cada grupo e idades entre 18 e 35 anos, para identificar as influências da imagem do skate na linguagem publicitária e no comportamento dos consumidores em seis categorias: “admiração, desprezo, transferência de significado ao produto, dispersão, percepção e intenção de compra” (REIS; ROCCO, 2016). Foi feita uma análise comparativa sobre as reações ao filme publicitário
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