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Limite e Continuidade de Funções Reais Lúcio Fassarella DCMN/CEUNES/UFES March 27, 2012 Abstract Notas de aula e lista de exercícios sobre limite e continuidade de funções reais. Contents 1 Introdução 2 2 Limites de Funções 3 2.1 Limites laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2.1.1 Propriedades dos limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.2 Limites in nitos e limites no in nito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.3 Limites Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.4 Assíntotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 3 Continuidade 8 3.1 Continuidade Lateral e Tipos de Descontinuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 3.2 Funções Contínuas em Intervalos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3.3 Funções Contínuas Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 4 Problemas 11 4.1 Lista Resumida de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1 1 Introdução Sobre o estudo de limites Pergunta: Por que estudar limites se é o assunto difícil e tem poucas aplicações práticas? Resposta: Embora o conceito de limite tenha relativamente poucas aplicações práticas, possui algumas importantes. O conceito de limite fundamenta outros conceitos básicos da Matemática e do Cálculo (como os conceitos de número real, de derivada e de integral). Além disso seu estudo serve como exercício para a manipulação algébrica, para a compreensão de conceitos abstratos e argumentos complexos. Motivações para o estudo do conceito de limite num curso introdutório de Cálculo: i) teoria dos números reais;1 ii) de nição dos conceitos fundamentais do Cálculo: continuidade, derivada e integral ; iii) métodos numéricos para cálculo (aproximado) de raízes de funções (exemplo: o método de Newton) iv) métodos numéricos para a resolução (aproximada) de equações algébricas, diferenciais e integrais (exemplo: o método de Piccard). v) de nição de conceitos técnicos e cientí cos, tais como o conceito nanceiro de juros contínuos e o conceito físico de velocidade e aceleração (instantâneas). Objetivos do estudo de limites num curso introdutório de Cálculo: i) fundamentar as de nições de continuidade, derivada e integral; ii) desenvolver no estudante a capacidade para manipulação algébrica; iii) desenvolver no estudante a capacidade para compreender conceitos abstratos e argumentos complexos, típicos da matemática. A de nição de limite de funções é intuitiva e simples; entretanto, os estudantes geralmente encontram di culdades para entenderem, estudarem e dominarem o assunto; essencialmente, essas di culdades podem ter as seguintes origens: i) desconhecimento das motivações, objetivos e aplicações do conceito; ii) de ciências no conhecimento de matemática básica necessário para o entendimento de exemplos e resolução de exercícios; iii) perplexidade diante da novidade; iv) aversão ao tema; v) falta de empenho. Exemplo concreto de aplicação do conceito de limite:2 Uma empresa fabrica latas na forma de cilindro circular reto com altura igual ao diâmetro; considerando que as latas devem ter volume igual a 500ml, determine a precisão com que se deve medir as dimensões da lata para que a variação do volume em torno de 500ml seja inferior a 1%. (A resolução deste problema requer um raciocínio similar àquele resumido no conceito de limite. Portanto, estudar limites nos prepara para resolver problemas! ) 1Um número real pode ser de nido como o limite de uma sequência convergente de números racionais. 2Tente resolvê-lo! Qualquer pessoa diria que qualquer matemático deve ser capaz de resolver esse problema... 2 2 Limites de Funções Essencialmente, o limite de uma função f : I ! R num ponto x0 2 R é de nido pelo valor para o qual a imagem f (x) se aproxima quando o argumento x se aproxima de x0:3 Dizemos que L 2 R é o limite de f (x) quando x tende a x0signi ca que f(x) se aproxima de L quando x 2 I se aproxima (enquanto é diferente) de x0. Formalmente: De nição 1 (Limite) Seja f : I ! R uma função de nida num conjunto I � R. Se x0 2 R é um ponto de acumulação de I, então dizemos que o limite de f em x0 é o número L 2 R quando 8" > 0; 9� > 0 = x 2 I; 0 < jx� x0j < � ) jf (x)� Lj < " Lema 2 (unicidade do limite) Se o limite existe, então ele é único. Nesse caso, denotamos o limite acima por L =: lim x!x0 f (x) Observação 3 Notamos que a de nição de limite não exige que a função esteja de nida no ponto de acumu- lação e nem depende do seu valor nesse ponto caso esteja de nida nele! (Para dar um exemplo importante, veremos que a derivada de uma função será de nida por um limite para a zero de uma função que não está de nida em zero.) Se duas funções coincidem nas vizinhanças de um ponto comum de seus domínios, então seus limites são iguais: Teorema 4 (caráter local do limite) Sejam f : I ! R e g : J ! R funções de nidas em intervalos tais que J � I e f jJ = g. Se x0 2 J é um ponto interior de J , então lim x!x0 f (x) = lim x!x0 g (x) ; se os limites existirem 2.1 Limites laterais De nição 5 (Limite lateral) Seja f : I ! R uma função de nida num conjunto I � R. Se x0 2 R é um ponto de acumulação à esquerda de I, então dizemos que o limite de f à esquerda de x0 é o número L 2 R quando 8" > 0; 9� > 0 = x 2 I; 0 < x0 � x < � ) jf (x)� Lj < " Nesse caso, é possível provar que o limite é único e então o denotamos por L =: lim x!x0� f (x) Se x0 2 R é um ponto de acumulação à direita de I, então dizemos que o limite de f à direita de x0 é o número L 2 R quando 8" > 0; 9� > 0 = x 2 I; 0 < x� x0 < � ) jf (x)� Lj < " Nesse caso, é possível provar que o limite é único e então o denotamos por L =: lim x!x0+ f (x) 3A noção intuitiva de limite pode ser expressa em palavras de diversas maneiras: - L 2 R é o limite de f (x) quando x tende a x0se podemos fazer f (x) car tão próximo de L quanto for desejado, fazendo x tão próximo (mas diferente) de x0 quanto for necessário. - L 2 R é o limite de f (x) quando x tende a x0 se podemos fazer f (x) car arbitrariamente próximo de L, tomando x su cientemente próximo (mas diferente) de x0. - L 2 R é o limite de f (x) quando x tende a x0 quando dada qualquer vizinhança J de L, podemos encontrar uma vizinhança V de x0 tal que, excluindo x0, sua imagem por f está contida em J , i.e. f (V \ In fx0g) � J . 3 Teorema 6 (limite e limites laterais) Uma função tem limite num ponto de acumulação à esquerda e à direita de seu domínio se e somente se os limites laterais existem e são iguais. Mais precisamente: Seja f : I ! R uma função de nida num conjunto I � R. Se x0 2 R é um ponto de acumulação à esquerda e à direita de I, então o limite de f em x0 existe sse os limites laterais existem e são iguais; nesse caso, vale lim x!x0� f (x) = lim x!x0 f (x) = lim x!x0+ f (x) Observação 7 Geralmente, não precisamos calcular limites partindo da de nição: o cálculo de limites pode ser realizado mediante o uso de duas tabelas: uma de propriedades dos limites e outra de limites fundamentais! 2.1.1 Propriedades dos limites Teorema 8 (propriedade dos Limites) Sejam f; g : I ! R um par de funções e seja x0 2 R é um ponto de acumulação de I. Se existem os limites de f e g em x0, então: i) limx!x0 cf (x) = c limx!x0 f (x) , para todo c 2 R; ii) limx!x0 [f (x) + g (x)] = limx!x0 f (x) + limx!x0 g (x); iii) limx!x0 [f (x) :g (x)] = [limx!x0 f (x)] : [limx!x0 g (x)]; iv) limx!x0 [f (x) =g (x)] = limx!x0 f (x) = limx!x0 g (x) , quando limx!x0 g (x) 6= 0. v)4 limx!x0 h f (x) m=n i = [limx!x0 f(x)] m=n ; 8m;n 2 Z; n 6= 0. Para o caso em que I é um intervalo ilimitado inferiormente ou superiormente, valem a rmações análogas para os limites x! �1. Teorema 9 (comparação) Sejam f; g; h : I ! R funções e x0 2 R um ponto de acumulação de I. Se valem f � h � g e lim x!x0 f (x) = lim x!x0 g (x) = c então lim x!x0 h (x) = c Teorema 10 (composição) Sejam f : I ! R e g : J ! R funções tais que f (I) � J , e seja x0 2 R é um ponto de acumulação de I. Se limx!x0 f (x) = y0 é um ponto de acumulação de J e limy!q g (y) = L, então lim x!x0 g � f (x) = lim y!y0 g (y) = L Em palavras: o limite de uma composição de funções é a composição dos limites, se eles existirem. 2.2 Limites in nitos e limites no in nito Um limite in nito ocorre quando a função tem seu valor tendendo ao in nito: De nição 11 (Limite in nito) Seja f : I ! R uma função de nida num conjunto I � R e seja x0 2 R é um ponto de acumulação de I. Dizemos que o limite de f em x0 é in nito quando 8M > 0; 9� > 0 = x 2 I; jx� x0j < � ) f (x) > M Nesse caso, denotamos esse limite por lim x!x0 f (x) = +1 Dizemos que o limite de f em x0 é menos-in nito quando 8M > 0; 9� > 0 = x 2 I; 0 < jx� x0j < � ) f (x) < �M Nesse caso, denotamos esse limite por lim x!x0 f (x) = �1 4Nesse caso, devemos ter L1 > 0 se n for par. 4 Um limite no in nito ocorre quando a função tem seu argumento tendendo ao in nito: De nição 12 (Limite no in nito) Seja f : I ! R uma função de nida num conjunto I � R ilimitado. Se I é ilimitado superiormente, dizemos que o limite de f em +1 é L 2 R quando 8" > 0; 9M > 0 = x 2 I; x > M ) jf (x)� Lj < " Nesse caso, denotamos esse limite por lim x!+1 f (x) = L Se I é ilimitado inferiormente, dizemos que o limite de f em �1 é L 2 R quando 8" > 0; 9M > 0 = x 2 I; x < �M ) jf (x)� Lj < " Nesse caso, denotamos esse limite por lim x!�1 f (x) = L Similarmente, de nimos limites in nitos no in nito, mas essa de nição será omitida aqui para o bem da brevidade! Teorema 13 (comparação de limites in nitos) Sejam f; g : I ! R funções de nidas num conjunto I � R e seja x0 2 R um ponto de acumulação de I. Se f � g, i.e., f (x) � g (x) ; 8x 2 I então: i) limx!x0 f (x) = +1) limx!x0 g (x) = +1; ii) limx!x0 g (x) = �1) limx!x0 f (x) = �1. Teorema 14 Sejam f; g : I ! R funções de nidas num conjunto I � R e seja x0 2 R um ponto de acumulação de I. i) Se limx!x0 f (x) = 0 e g é limitada numa vizinhança de x0, então vale lim x!x0 f (x) g (x) = 0 ii) Se limx!x0 f (x) =1 e g (x) � � > 0 para x numa vizinhança de x0, então vale lim x!x0 f (x) g (x) =1 iii) Se limx!x0 f (x) =1 e g é limitada numa vizinhança de x0, então vale lim x!x0 g (x) f (x) = 0 Naturalmente, valem outros resultados análogos quanto ocorre um limite �1, mas serão omitidos aqui para o bem da brevidade! As propriedades dos limites in nitos e no in nito serão análogas às propriedades dos limites nitos sempre que resultarem em expressões com sentido matemático bem de nido (veja o teorema 8); porém, nem sempre isso acontece: o cálculo de limites envolvendo o in nito pode resultar em indeterminações matemáticas: 0=0 ; 1 1 ; 1�1 ; 0�1 ; 0 0 ; 01 ; 10 ; 11 Em geral, essas indeterminações surgem quando separamos o limite original em limites de subespressões calculados independentemente; nesses casos, podemos tentar simpli car a expressão antes de tomarmos seu limite ou recorrer a alguma propriedade especial dos limites (tal como as regras de LHospital). 5 2.3 Limites Fundamentais Os seguintes limites são considerados fundamentais porque, além de aparecem em situações importantes, a eles podemos reduzir uma grande quantidade de outros limites. lim x!0 1 jxj = 1 lim x!�1 1 x = 0 lim x!1 xn ex = 0 ; 8n 2 N lim x!1 ln (x) x = 0 ; 8n 2 N lim x!0 sin (x) x = 1 lim x!�1 � 1 + a x �x = e�a 8a 2 R lim x!0 ax � 1 x = ln (a) 8a > 0; a 6= 1 Observação 15 Muitos limites fundamentais podem ser calculados mais facilmente depois de terem sido provadas as propriedades gerais dos limites; em particular, alguns limites fundamentais são calculados me- diante o teorema do sanduíche. 6 2.4 Assíntotas De nição 16 (Assíntota) Dada uma função f : I ! R de nida num subconjunto I � R, uma assíntota do grá co de f é uma reta do plano cartesiano para a qual tende o grá co de f ; há apenas três casos possíveis: Assíntota vertical: quando o grá co de f se aproxima de uma reta do tipo x = a. Esse caso acontede quando f possui algum limite lateral in nito num ponto de acumulação a 2 R do domínio I, i.e. lim x!a� f (x) = �1 Assíntota horizontal: quando o grá co de f se aproxima de uma reta do tipo y = b. Esse caso acontece quando o domínio de f é ilimitado e f possui limite nito em �1 ou +1, i.e. lim x!�1 f (x) = L 2 R Assíntota oblíquia: quando o grá co de f se aproxima de uma reta do tipo y = �x + � com � 6= 0. Esse caso acontece quando o domínio de f é ilimitado e se veri cam, para cada uma das possibilidades, as duas condições lim x!�1 f (x) =1 e limx!�1 f (x) x = � 2 R Nesse caso, � = lim x!�1 [f (x)� �x] 2 R Alguns fatos óbvios estão coletados no seguinte teorema: Teorema 17 i) Seja f : (a; b) ! R injetiva. Se f possui assíntota lateral vertical em a, então sua inversa possui uma assíntota horizontal em limx!a+ f (x). Analogamente para o caso em que f possui assíntola lateral vertical em b. ii) Seja g : (a;+1) ! R injetiva. Se g possui assíntota horizontal em +1 dada pela reta y = c, então sua inversa possui uma assíntota vertical em c. Analogamente para o caso em que o domínio de g é da forma (�1; b) e g possui assíntota horizontal em �1. iii) Seja h : (a;+1) ! R injetiva. Se h possui assíntota oblíqua em +1 dada pela reta y = �x + � (� 6= 0), então sua inversa possui assíntota oblíqua em +1 (se � > 0) ou �1 (se � < 0) dada pela reta y = (1=�)x. Analogamente para o caso em que o domínio de h é da forma (�1; b) e h possui limite oblíqua em �1. 7 3 Continuidade Intuitivamente, a continuidade de uma função f num ponto x0 do seu domínio formaliza a idéia de que os valores de f em números próximosde x0 são valores próximosde f (x0); naturalmente, a de nição dessa idéia envolve o conceito de limite: De nição 18 (Continuidade) Seja f : I ! R uma função de nida num subconjunto I � R. Dizemos que f é contínua num ponto de acumulação x0 2 I quando lim x!x0 f (x) = f (x0) Dizemos que f é contínua quando ela for contínua em todos os pontos do seu domínio. Teorema 19 (caráter local da continuidade) Sejam f : I ! R e g : J ! R funções tais que J � I e f jJ = g. Então, f é contínua em x0 2 J se e somente se g também é contínua em x0. Teorema 20 (limitação local) Seja f : I ! R uma função de nida num subconjunto I � R. Se f é contínua em x0 2 I, então f é limitada numa vizinhança de x0. Teorema 21 (preservação de sinal local) Seja f : I ! R uma função de nida num subconjunto I � R. Se f é contínua em x0 2 I e f (x0) 6= 0, então existe � > 0 tal que f não muda de sinal em (x0 � �; x0 + �) \ I. A continuidade herda algumas das propriedades dos limites: Teorema 22 (propriedades algébricas das funções contínuas) Sejam f; g : I ! R e x0 2 I um ponto de acumulação de I. Se f e g são contínuas em x0 2 I, então também são contínas em x0 as funções f + g e f � g, e também f=g quando g (x0) 6= 0. Teorema 23 (composição de funções contínuas) Sejam f : I ! R e g : J ! R funções tais que f (I) � J . Se f é contínua em x0 2 I e g é contínua em f (x0), então g � f é contínua em x0. 3.1 Continuidade Lateral e Tipos de Descontinuidade De nição 24 (Continuidade Lateral) Dizemos que f é contínua à direita de x0 quando lim x!x0+ f (x) = f (x0) Dizemos que f é contínua à esquerda de x0 quando lim x!x0� f(x) = f (x0) Lema 25 A função f : I ! R é contínua em x0 2 I se e somente se f é contínua à esquerda e à direita de x0, simultaneamente. Classi camos os pontos de descontinuidade de uma função segundo a existência ou não de limites laterais: 8 De nição 26 (Tipos de Descontinuidade) Sejam f : I ! R uma função de nida num subconjunto I � R e seja x0 2 I um ponto de acumulação de I. i) Dizemos que x0 é um ponto de descontinuidade de f quando f (x0) 6= limx!x0 f (x) ou quando este limite não existe; ii) Dizemos que x0 é um ponto de descontinuidade removível de f quando existe o limite limx!x0 f (x); iii) Dizemos que x0 é um ponto de descontinuidade de primeira espécie quando existem os limites laterais limx!x0+ f (x) e limx!x0� f (x) mas eles são diferentes (esse tipo de descontinuidade também é chamado descontinuidade de salto); iv) Dizemos que x0 é um ponto de descontinuidade de segunda espécie quando não existe pelo menos um dos limites laterais limx!x0+ f (x) e limx!x0� f (x) (esse tipo de descontinuidade pode ser de dois tipos: descontinuidade in nitaou descontinuidade de salto). Para pontos de descontinuidade removível, uma rede nição conveniente torna a função contínua no ponto. 3.2 Funções Contínuas em Intervalos No Cálculo, lidamos principalmente com funções contínuas de nidas em intervalos; essas funções possuem certas propriedades especiais, das quais listamos algumas abaixo. Teorema 27 (Valor Intermediário) Seja f : I ! R uma função contínua de nida num intervalo I � R. Para todo par a; b 2 I e todo d 2 R entre f (a) e f (b), existe algum c 2 I entre a e b tal que f (c) = d. Corolário 28 (Teorema do Ponto Fixo) Seja f : [a; b]! R uma função contínua. Se f ([a; b]) � [a; b], então f possui um ponto xo, i.é: existe c 2 [a; b] tal que f (c) = c. Teorema 29 (continuidade da função inversa) Seja f : I ! R uma função injetiva de nida num intervalo I � R. Se f é contínua, então f é monótona5 , sua imagem f (I) � R é um intervalo e sua função inversa f�1 também é contínua. Observação 30 O Teorema do Valor Intermediário nos garante que para uma função contínua f : I ! R de nida num intervalo I � R valem: i) o grá co de f é conexo (não possui rupturas); ii) se f muda de sinal em I, então f possui um zero em I mais precisamente: se existem pontos a; b 2 I tais que f (a) < 0 e f (b) > 0, então existe c 2 I tal que f (c) = 0. Exemplo 31 O Teorema do Valor Intermediário (TVI) saber sobre a existência de soluções para uma equação mesmo sem (tentar) resolvê-la! Por exemplo, o TVI seguinte equação possui uma solução no inter- valo [0; �=2] cos (x)� x = 0 Também com recursos analíticos, podemos discutir o número de soluções da seguinte equação6 : 2x = x2 5Um função monótona injetiva é uma função que é crescente ou decrescente. 6Para um comentário, vide: E.L. Lima, Meu professor de Matemática e outras histórias (Coleção do Professor de Matemática), SBM, Rio de Janeiro, 1991: p.176-180. 9 3.3 Funções Contínuas Elementares A grande maioria das funções com as quais lidamos no Cálculo são construídas a partir de algumas funções elementares que são os polinômios, as funções trigonométricas, as funções exponenciais e as funções logarít- micas. Essas funções são contínuas (e deriváveis, e integráveis, e etc.)! Teorema 32 (Funções Contínuas Elementares) São contínuas as funções identidade, exp, log, sin, cos, tan, arcsin, arccos, arctan, bem como somas, produtos, quocientes e composições destas - nos pontos onde elas estiverem de nidas. 10 4 Problemas Os problemas desta lista estão divididos em três categorias: problemas computacionais, prob- lemas conceituais e problemas aplicados. Os objetivos desses problemas são distintos, mas todos são importantes: os problemas computacionais visam desenvolver a percepção e capacidade de manipulação algébrica, os problemas conceituais visam consolidar e articular as idéias da teo- ria dos limites, os problemas aplicados visam ilustrar possibilidades de aplicações práticas dessa teoria. Problema 33 Problemas computacionais Problema 34 Calcule os limites i) limx!3 5x 2�8x�13 x2�9 ii) limx!3 x4�81 2x2�5x�3 iii) limx!4 3� p x+5 x�4 iv) limx!1 x1=2�1 x1=3�1 v) limx!4 p x�2 x�4 vi) limx!1 x3�1 (x�1)2 vii) limx!0 sin(5x) 3x viii) ix) limx!0 3p8+h�2 h x) limx!1 51=x 21=x+31=x xi) limx!�3 e x2�9�1 x+3 xii) limx!�=2 tan(2x) x��=2 Calcule os limites no in nito i) limx!1 x 3+5x�2 x4�100x ii) limx!1 x3=2+2x2=3+5x4=5 x2+1 iii) limx!1 x3 � 1000x2 iv) limx!1 x� p x2 + 7 v) limx!1 e x x10 vi) limx!1 ln2(x)+45 p x x vii) limx!1 (x� 100 ln (x)) viii) limx!1 exx100 ix) limx!1 sin(3x) x x) limx!1 ln � x5+27 4x5�x3 � xi) limx!1 arcsin � x x2+1 � xii) limx!1 arctan � 2x3 � Calcule os limites i) lim x!0 x3 cos � 2 x � ii) lim x!1 x2 � sin (x) + cos3 (x) � x2 + 1 iii) lim x!1 x2 � 2 + sin2 (x) � x+ 100 iv) lim x!1 cos2 (2x) 3� x Problema 35 7Para a; b 2 R�, calcule os limites i) lim x!0 p x2 + a2 � ap x2 + a2 � a ; ii) limt!1 ae�t + be�2t e�t + e�2t Problema 36 Calcule os limites , calcule os limites i) lim x!0 cos (x)� 1 x ; ii) lim x!0 cos (x)� 1 x2 ; ii) lim x!0 cos (ax)� 1 cos (bx)� 1 (a; b 2 R �) Problema 37 Analise a continuidade da função no ponto x = 1: f (x) := � 3x� 5 ; x 6= 1 2 ; x = 1 Problema 38 Analise a continuidade da função no ponto x = �2: f (x) := � x2 + 2x ; x � �2 x3 � 6x ; x � �2 7O segundo limite está envolvido no cálculo da energia fundamental de um sistema quântico cujo espectro de energia é positivo e discreto; vide J.J. Sakurai, Modern Quantum Mechanics, Revised Edition 1994, p.149: exercice 29. 11 Problema 39 Considere a seguinte função e responda as perguntas justi cando sua resposta: f : R! R ; f (x) = � x cos (1=x) ; x 6= 0 1 ; x = 0 (i) f possui limites laterais em x = 0? (ii) f possui limite em x = 0? (iii) f é contínua em x = 0? Problema 40 Para cada x 2 R, determine a ordenada k (x) do ponto de interseção com o eixo-y da medi- atriz do segmento cujos extremos são a origem e o ponto � x; x2 � . Agora, calcule o limite de k (x) quando x tende a zero. Problemas conceituais Problema 41 Uma função pode ter assíntota num ponto de R mas não possuir limite nesse ponto? Justi que sua resposta. Problema 42 Seja f : I ! R função de nida num intervalo aberto I � R e seja x0 2 I. Prove que se f é contínua em x0 e f (x0) > 0, então existe � > 0 tal que para x 2 I com jx� x0j < � temos f (x) > 0. Problema 43 Sejam f; g : (�"; ") ! R funções tais que f é contínua em x = 0 com f (0) = 0 e g é uma função limitada. Prove que a função produto fg é contínua em 0. Problema 44 Seja f : I ! R função de ninda num intervalo aberto I � R. Dizemos que f é derivável em x0 2 I quando existe o limite em R lim �x!0 f (x+�x)� f (x) �x Prove que se f é derivável em x0 2 I, então f é contínua em x0. Problemas de aplicação Problema 45 (Mecânica I) Uma partícula de massa m que cai próxima à superfície terrestre sofre uma força de resistência do ar que depende da sua velocidade; quando a força de resistência é proporcional à velocidade f (v) = �bv podemos deduzir que a velocidade depende do tempo pela função v (t) = mg b + � v0 � mg b � e� b mg (t�t0) ; v0 = v (t0) Calcule e interprete os limites lim t!1 v (t) ; limb!0 v (t) Problema 46 Suponha seja gasto 0:5 cal calor para aumentar em 1 �C a temperatura de 1 g de gelo, que sejam gastos 80 cal para derreter o gelo a 0 �C, e que seja gasto 1 cal para aumentar em 1 �C a temperatura de 1 g de água. Considere que Q (�) seja o número de calorias gastas para aumentar a temperatura de 1 g de água (congelada ou liquefeita) da temperatura de �40 �C até � �C. Traceo grá co de Q (�) no intervalo � 2 [�40; 20] e indique onde essa função é descontínua. Problema 47 Suponha que a bandeirada de um táxi custa 60 centavos mais 10 centavos para cada quarto de km ou porção disso. Denote por f (x) a bandeirada para uma viajem de x km; determine o domínio de f , trace seu grá co e indique onde essa função é descontínua. Problema 48 (Precisão I) Escreva a área da superfície de uma esfera em função do seu volume e de- termine o volume v0 para o qual a área é numericamente igual a esse volume. Então, determine o maior intervalo de variação do volume da esfera em torno de v0 no qual a variação da área seja menor do que o máximo de 2%. 12 Problema 49 (Precisão II) Uma empresa fabrica latas na forma de cilindro circular reto com altura igual ao diâmetro; considerando que as latas devem ter volume igual a 500ml, determine a precisão com que se deve medir as dimensões da lata para que a variação do volume em torno de 500ml seja inferior a 1%. Problema 50 (Radioterapia) A radioterapia é qualquer técnica de tratamento que utiliza a radição para combater tumores; devido à sua periculosidade, são utilizados certos materiais que absorvem ou bloqueiam a passagem de radiação de modo a controlar a exposição. Considere um aparelho radioterápico que produz um feixe de raios-X com intensidade constante I0; suponha que o controle da intensidade da radiação que deve incidir sobre um paciente seja feito pela inserção de placas de chumbo na trajetória do feixe de raios-X. Teoricamente se prevê e experimentalmente se veri ca que a intensidade de um feixe de raios-X que penetra numa placa de chumbo decai exponencialmente em função da expessura s da placa, i.e. I (s) = I0e �as onde a é uma constante positiva característica da interação entre os raios-X e o chumbo. Suponha que a intensidade do feixe produzido pelo aparelho seja I0 = 1MeV s�1 e que tenhamos o valor da constante a = 0; 151 cm�1; se as placas de chumbo têm expessura " = 1mm, quantas devem ser usadas no bombardeio de um paciente para o qual foram prescritas seções de radioterapia com intensidades entre 0:3MeV s �1e 0:4MeV s�1? [Observação: o MeV é uma unidade de medida de energia e o MeV s�1 mede a quantidade de energia liberada por segundo. Neste problema, os valores numéricos são ctícios.] 13 4.1 Lista Resumida de Exercícios Exercício 51 Determine pela de nição se os seguintes limites existem i) lim x!1 1 1 + x ii) lim x!0 x sin (1=x) iii) lim x!2 jx� 2j Exercício 52 Analise os limites laterais das funções abaixo quando x! 0: i) f (x) = x jxj ii) f (x) = 1 x iii) f (x) = sin � 1 x � Exercício 53 Analise a continuidade das funções 1. f : R! R ; f (x) = � x3�8 x2�4 ; x 6= 2 3 ; x = 2 2. g : R! R ; g (x) = � sin(x) x ; x 6= 0 0 ; x = 0 3. h : R! R ; g (x) = � x sin (x) ; x 6= 0 0 ; x = 0 Exercício 54 Analise se seguinte função é contínua8 f (x) = tanh � ecos(x 3+1) � + 4 p ln (7x5 + 3x) + 1= sin � 1 x � Exercício 55 Determine e desenhe as assíntotas das seguintes funções: i) f (x) = ax+ b ii) g (x) = sec (x) iii) h (x) = sin (x) x iv) y (x) = p x2 � 1 v) z (x) = x+ 1 ln (x)� 1 8O grá co dessa função: 54321 15 12.5 10 7.5 5 x y x y 14
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