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Gramática Aplicada da Língua Portuguesa Unidade II

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Unidade II
5 O ESTUDO DA GRAMÁTICA: ÂMBITO DA FONOLOGIA, DA MORFOLOGIA, 
DA SINTAXE E DA SEMÂNTICA
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(ANDRADE, 2003)
Depois de falarmos em variação no uso da língua, podemos ver que, ao abrirmos uma gramática, 
encontramos a descrição dela em todos os seus níveis: o fonético, o morfológico, o sintático e 
o semântico. Apresentaremos, então, o que trata cada um deles. Ao abrirmos uma gramática 
descritiva, verificamos que esta se encontra dividida nesses níveis, fazendo-se a descrição de 
cada um.
Se pensarmos que os sons articulados constituem o nosso primeiro contato com a língua, 
podemos verificar que o nível fonético é o mais expressivo por apresentar marcas do que 
seja cada língua devido à sua pronúncia e à articulação dos sons para se pronunciarem as 
palavras.
O morfológico corresponde às unidades que representam, por exemplo, um radical, uma desinência 
de gênero e/ou de número ou um afixo (prefixo e sufixo).
Já no nível sintático, observamos como as palavras se relacionam na organização de um texto, de 
acordo com a estrutura sintagmática de nossa língua.
Do ponto de vista semântico, verificamos os significados que as palavras podem assumir, de acordo 
com cada contexto em que se encontra inserida.
Esses são os principais aspectos dos estudos que encontramos em uma gramática descritiva da 
língua e dos quais passaremos a tratar.
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 Observação
Gramática: compreendida aqui como o sistema de regras da língua em 
funcionamento.
Sabe-se que toda língua tem uma estrutura – a sua gramática. Esta, por sua vez, ao registrar e 
descrever os aspectos de uma língua em particular, costuma ser apresentada em diferentes itens, 
usualmente organizados em diversos níveis. Identificamos, assim, a fonologia; a morfologia e a sintaxe 
(melhor denominada morfossintaxe); e a semântica e a estilística.
6 NÍVEIS GRAMATICAIS
Vejamos a conceituação básica de cada um desses níveis:
Quadro 4
Fonologia
É o nível de descrição da linguagem em que 
encontramos os sons que fazem parte do 
sistema linguístico, tendo cada um sua função 
no sistema comunicativo. Também cuida 
de aspectos relacionados à divisão silábica, 
à ortografia e à acentuação de palavras, de 
acordo com o padrão culto da língua. Estuda o 
aspecto fônico e tem como unidade básica de 
estudo o fonema.
Morfologia
É o nível de análise linguística que se ocupa do 
estudo das palavras, de sua formação, de sua 
classificação e de suas flexões. Estuda palavras 
que pertencem a grupos bem diferentes: 
substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, 
verbo, advérbio, preposição, conjunção e 
interjeição.
Sintaxe
A sintaxe é o estudo das combinações e relações 
entre as palavras de um enunciado e entre as 
frases de um texto. 
Semântica É definida, de maneira genérica, como o estudo do sentido das palavras e dos enunciados.
Estilística
Estuda os aspectos afetivos que envolvem e 
caracterizam a linguagem emotiva que perpassa 
todos os fatos da língua
Vejamos, a seguir, como o sujeito trabalha com elementos próprios de cada um desses níveis de 
organização linguística a fim de obter os efeitos de sentido que deseja.
6.1 Âmbitos de estudo da gramática: fonologia e morfologia
Observar a sonoridade de um texto ajuda a captar o sentido que se quis traduzir com a disposição de 
palavras e frases. Nos enunciados em geral, seja um poema, um texto em prosa, uma propaganda, histórias 
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em quadrinhos etc., podemos encontrar sons que se repetem com maior frequência, aproximando a 
imitação fonética do enunciado àquilo que eles sugerem.
Acompanhe o poema de Oswald de Andrade:
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão
(ANDRADE, 1978)
No texto, o poeta “traduziu” o som e o movimento pendular do relógio pela utilização de determinadas 
combinações sonoras de palavras e, ainda, pela disposição delas no texto.
Aliteração e assonância
A repetição da mesma consoante ao longo do texto – a aliteração – provoca efeitos sonoros variados 
conforme o caso. Observe:
Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
(...)
O vento varria os sonhos
e varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
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E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
(BANDEIRA, 1985)
Nesse poema, Bandeira explora um recurso expressivo fonológico para provocar o efeito 
desejado: a aliteração. Nesse caso, a repetição dos fonemas /v/ e /f/ no início ou meio de um 
significativo número de palavras permite que se associe o texto lido em voz alta ao som produzido 
pelo vento.
De acordo com as teorias que descrevem a língua, o fonema representa a sonoridade e a letra 
representa a grafia do som, por isso, não devemos confundir ambos. Quando se trata de transcrição do 
fonema, este deve ser representado entre “/ /”, como, por exemplo, /s/ em “sol” ou /z/ em “casa”. Portanto, 
não devemos confundir letra com fonema e vice-versa.
Veja, também, como ocorre a aliteração em outro texto, agora provocada pela repetição do fonema 
/k/:
Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
(MEIRELES, 1990)
A assonância é a repetição da mesma vogal no texto. Note a repetição do /a/ neste trecho da letra 
de Clara, de Caetano Veloso:
Quando a manhã madrugava
Calma
Alta
Clara
Clara morria de amor
(VELOSO, 1990)
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Onomatopeia
As onomatopeias, outro recurso fonológico, representam certos sons e ruídos produzidos por 
animais ou coisas ou mesmo certos sons humanos. Têm como função “imitar” a realidade. O uso de 
onomatopeias é bastante comum nos quadrinhos e, muitas vezes, delas se extrai o pretendido efeito 
de humor.
É comum encontrarmos expressões como “pof” e “paf” para indicar que um personagem está batendo 
no outro, ou, por exemplo, quando alguém está admirado ou em dúvida sobre algo, é comum vermos 
“hum”. Enfim, há uma série de representações dos sons, muito frequentes em tipos de texto que se 
denominam história em quadrinhos.
Observe onomatopeias traduzindo vozes de animais e sons das coisas:
O tique-taque do relógio, o marulho das ondas, o zunzunar da abelha, o arrulhar dos pombos.
Ortoepia e prosódia
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
(ANDRADE, 1978)
O texto da epígrafe mostra algumas transformações fonéticas que as palavras podem sofrer na 
pronúncia dealguns falantes da língua. Veja, por exemplo, os pares milho/mio, pior/pió, telha/teia, 
telhado/teiado. Essas variações de pronúncia de uma palavra dependem de fatores de ordem social, 
regional, individual e estilística.
 Lembrete
Fonema: menor unidade sonora de uma palavra.
Letra: representação gráfica dos fonemas da língua.
Existe uma parte da fonologia que trata da pronúncia adequada das palavras, segundo o 
padrão culto da língua: a ortofonia, que, para efeito de estudo, costuma se dividir em ortoepia e 
prosódia.
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Assim:
• Ortoepia: trata da correta pronúncia dos fonemas das palavras.
• Prosódia: trata da acentuação (acento da fala) e da entoação adequada dos fonemas.
Algumas palavras de nossa língua oferecem dúvidas quanto à posição da sílaba tônica. Veja 
algumas das infrações mais frequentes de pronúncia, tomando-se como referência o padrão culto da 
língua:
• são oxítonas: Nobel, refém, sutil, ruim, ureter;
• são paroxítonas: âmbar, avaro, ciclope, clímax, filantropo, fluido (ui ditongo), fortuito (ui ditongo), 
gratuito (ui ditongo), ibero, libido, pudico, rubrica;
• são proparoxítonas: aeródromo, arquétipo, autóctone, barbárie, boêmia, condômino, etíope, 
ínterim.
• admitem dupla prosódia: acrobata ou acróbata, ambrósia ou ambrosia, crisântemo ou crisantemo, 
hieróglifo ou hieroglifo, homília ou homilia, Madagáscar ou Madagascar (mais comum), Oceânia 
ou Oceania, projétil ou projetil.
 Lembrete
Vogal: é o fonema produzido pelo ar que faz vibrar as cordas vocais e 
que não encontra obstáculo na sua passagem pelo aparelho fonador.
Semivogal: é fonema produzido como vogal, mas pronunciado com 
baixa intensidade, como se fosse uma consoante. Veja:
s a u d a d e / b o i
 | | | |
 v sv v sv
Consoante: é o fonema em cuja produção o ar encontra obstáculo na 
passagem pelo aparelho fonador.
Palavra: unidade linguística de som e significado que entra na 
composição dos enunciados da língua.
Além de recursos expressivos no nível fonológico, podemos também encontrar recursos expressivos 
morfológicos. Vejamos:
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(AUGUSTO DE CAMPOS, 1956)
Como vimos, a morfologia é o nível de análise linguística que se ocupa do estudo das palavras, de 
sua formação, de sua classificação e de suas flexões.
As palavras, assim, não constituem unidades indivisíveis. Elas, na maioria das vezes, decompõem-se 
em elementos menores: os morfemas, unidades elementares de significação que entram na constituição 
das palavras da língua.
Em nossa língua há palavras formadas por um só morfema (como sol, por exemplo) e palavras 
constituídas de mais de um morfema (des + espera + da + mente).
Quanto aos morfemas, aqueles que correspondem ao radical da palavra são os morfemas lexicais, pois 
são eles que garantem a produtividade lexical da língua e, a partir deles, formam-se novas palavras.
Em relação às palavras, os grupos de substantivos, adjetivos e verbos são os lexemas da língua. 
Alguns advérbios, como os que derivam de um adjetivo + sufixo -mente (sutilmente), também são 
considerados morfemas lexicais.
Há dois processos básicos de formação de novas palavras: a derivação e a composição. No primeiro, 
acrescenta-se um morfema gramatical, que corresponde a um afixo (prefixo e sufixo). Já no segundo, 
tem-se ao menos dois lexemas que formam um novo: são as palavras compostas.
 Observação
Neologismo: atribuição de um novo sentido assumido por uma palavra 
que já existia.
Observe:
Pedro, pedra, pedreira, pedrinha, pedregulho, apedrejar, empedrar.
Canto, cantar, canta, cantamos, cantáveis, cantam, cantaria, cantei.
I
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II
Desfazer, desaparecer, desmontar, desenrolar, desapropriar, desmentir.
Felizmente, docemente, delicadamente, atualmente, calmamente.
Em I, temos, em destaque, os radicais aos quais se acrescentou, em cada caso, um morfema diferente, 
responsável pelas diferenças de significação entre as palavras.
Já em II, o prefixo des –e o sufixo -mente foram acrescentados a radicais diferentes, determinando, 
em cada caso, um sentido específico para as palavras.
Assim como podemos explorar os recursos fonológicos da língua, também é possível explorar seus 
recursos morfológicos para obter efeitos de sentido particulares.
Observe o que fez Millôr Fernandes num texto em que cria neologismos engraçados a partir da 
combinação de elementos mórficos da língua.
Dicionovário (palavras que precisam ser inventadas)
Abacatimento: redução no preço do abacate.
Abensuado: louvado cristãmente por ter feito um grande esforço físico.
Abrilgar: dar morada em abril.
Altaração: modificação no oratório.
Anãofabeto: pequenininho que nem sabe assinar o nome.
Anthepático: sujeito desagradável porque sofre do fígado.
Assassinatura: a rubrica de um criminoso de morte.
Cálcoolar: dosar a batida.
Caligrafeia: letra ruim.
Calvício: mania de estar ficando careca.
Cãodência: um latido rítmico.
Capetão: oficial diabólico.
Cartomente: uma adivinha que nunca diz a verdade.
Comemoriação: festa em regozijo por ter boa memória.
Difaculdade: empecilho para entrar na academia.
Dozistência: uma dúzia de pessoas que não querem mais.
Equilébrio: o balanço do bêbado.
Fãtigado: admirador cansado.
Filhosofia: sabedoria do descendente.
Fronthospício: fachada do manicômio.
Instintor: aparelho para aplacar as nossas ânsias.
Larbuta: o trabalho doméstico.
Martrapilho: marinheiro muito mal vestido.
Miltidão: uma reunião de mais de 999 pessoas.
Nortícia: informação vinda do Norte.
Novocábulo: uma palavra deste dicionovário.
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Pavãoroso: ave horrorosa da família dos galináceos.
Repulgnante: pulga nojenta.
Sacrotário: um auxiliar de igreja que é facilmente enganável.
Soltão: dono de harém, mas inteiramente livre de compromissos.
Velhocidade: pressa do ancião.
Xalafrário: governador persa safado.
(MILLÔR, 2006)
Note, por exemplo, que em “calvício”, o autor trabalha com duas palavras da nossa língua: calvo e 
vício e explora o fato de que uma delas – calvo – termina com a sílaba marcada pela consoante v, assim 
como a primeira sílaba da palavra vício. A partir dessa coincidência fonológica, o autor junta as duas 
palavras e forma uma “nova” palavra – calvício -, com o sentido que se propõe: mania de estar ficando 
careca. Apesar de essa palavra não existir em nossa língua, somos obrigados a reconhecer o humor 
presente nessa surpreendente criação.
Podemos formar novas palavras para compor o léxico por meio de dois processos básicos da língua: 
a derivação e a composição. Vejamos alguns detalhes importantes sobre esses processos.
Os processos de derivação propiciam a produtividade na língua e esse fenômeno ocorre devido à 
possibilidade de combinações de radicais e afixos, os quais, muitas vezes, implicam mudança de classe da 
palavra (pesar – pesagem) ou na ideia de negação (imoral), assim como de grau (fininho), de designações 
para indivíduos (trapezista) ou de substantivos abstratos (beleza).
Quando há acréscimo apenas de prefixo, o processo é denominado derivação prefixal (in + feliz = 
infeliz). Ao se acrescentar apenas sufixo, denomina-se sufixação ou derivação sufixal (feliz + mente 
= felizmente).
Pode-se ainda, no processo de derivação, acrescentar tanto sufixo quanto prefixo. Esse tipo de 
derivação corresponde a dois tipos diferentes.Um é denominado prefixação e sufixação (derivação 
prefixal e sufixal) o outro é a parassíntese (derivação parassintética).
A diferença é que no primeiro processo, o de prefixação e sufixação, a ideia é a de que houve 
primeiro um e depois o outro, por isso podemos separar a palavra em duas outras que têm sentido. 
Por exemplo, “infelizmente” pode ser desmembrada em “infeliz” e “felizmente”. Já na parassíntese, 
isso não ocorre. Por exemplo, “amanhecer” não pode ser decomposta em duas palavras que 
tenham significado no léxico, daí a noção de que ambos (prefixo e sufixo) foram acrescentados 
simultaneamente.
A parassíntese é um processo bastante utilizado na formação de verbos, principalmente os que 
representam mudança de estado, como endurecer, amadurecer, anoitecer, escurecer etc.
Além dos dois processos de derivação já apresentados, podemos nos lembrar também da derivação 
regressiva (também conhecida por deverbal), pela qual há redução de morfemas na palavra. Por exemplo, 
de falar, obtemos fala. São normalmente verbos que originam substantivos abstratos.
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A derivação imprópria é assim denominada porque há mudança de classe gramatical da 
palavra. Todavia, esse processo implica relação sintático-semântica da palavra para que se possa 
identificar tal processo. Por exemplo, se dissermos “o meu viver é repleto de alegria”, podemos 
observar a derivação imprópria em “viver”, pois o determinante “meu” transformou “viver” de verbo 
para substantivo, ou seja, há mudança de classe da palavra na organização sintática e esta passa a 
nomear uma ação por meio de sua classe não habitual, a do substantivo, no lugar da mais comum, 
que é um verbo.
No processo de composição, juntam-se ao menos dois radicais para se formar uma nova palavra, por 
isso denomina-se palavra composta. E isso pode ocorrer pela simples justaposição ou pela aglutinação 
desses radicais. Por exemplo, “malmequer” é uma palavra composta por justaposição, enquanto “fidalgo” 
(filho de algo) é composta por aglutinação.
Para sabermos se houve aglutinação de radicais, é preciso termos conhecimento das palavras 
primitivas que formaram a palavra. Disso podemos tomar conhecimento por meio de dicionários, 
principalmente o do tipo etimológico.
Com a nova ortografia, depois da realização do acordo ortográfico entre os países lusófonos, houve 
mudanças nas regras do hífen em palavras compostas. Portanto, consulte um material específico que 
trate desse assunto. Atualmente, há vários deles em circulação e, entre eles, encontra-se o de José 
Carlos Azeredo. Há outros autores que também trataram do assunto, como Evanildo Bechara. Procure o 
material com o qual você mais se identifique.
Além desses processos básicos de formação de palavras na língua portuguesa, há outros recursos que 
produzem novas palavras em nosso léxico. É o caso da abreviação (foto, moto, micro), da reduplicação 
(nenê, Zezé), da sigla (INSS, CNH, CPF, RG), assim como do neologismo, já exemplificado em texto 
anterior.
Esse assunto pode ser aprofundado por meio de pesquisa em uma boa gramática de língua portuguesa. 
Para tanto, há referências bibliográficas no final do livro-texto que você pode adotar para ampliar seus 
conhecimentos.
Ao selecionar as palavras, o usuário da língua deve considerar não apenas o sentido e a função 
que assumem na frase, mas também sua forma, isto é, sua respectiva classe gramatical: substantivo, 
adjetivo, verbo, pronome, advérbio etc. O agrupamento das palavras de acordo com sua forma deve ser 
feito observando-se a função sintática que elas assumem nas frases.
Observe a seguinte expressão: “Eu não posso ver ninguém passando mal e “devolvendo o que comeu” 
porque tenho estômago fraco”.
A palavra fraco, por exemplo, pode pertencer a mais de uma classe gramatical. No enunciado, fraco 
é um adjetivo, caracterizando o substantivo estômago. Já num outro contexto, como, por exemplo, “o 
fraco mostrou-se arrependido ao final da batalha”, fraco é substantivo.
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6.2 Âmbitos de estudo da gramática: a sintaxe e a semântica
A sintaxe
Antes de se apresentarem os conceitos básicos da sintaxe, lembremo-nos de que, combinadas 
sintaticamente, as classes de palavras da língua portuguesa formam frases que comporão o texto.
A sintaxe é o estudo das combinações e relações entre as palavras de um enunciado e entre as frases 
de um texto. Assim, estudar a sintaxe de uma língua implica estudar “as maneiras como se associam as 
palavras para formar frases”.
Os enunciados da língua constituem unidades linguísticas que têm uma estrutura, o que significa 
dizer que não podemos formar enunciados apenas juntando palavras de maneira aleatória. Em 
sintaxe, entender a noção de estrutura significa entender os modos pelos quais se podem combinar as 
palavras para construir estruturas autorizadas pela língua. Para ilustrar essas informações, considere o 
enunciado:
Na última semana, André, meu vizinho, foi o vencedor do campeonato estadual de tênis, em 
Campinas.
Veja que é possível alterar a ordem dos termos constituintes desse enunciado. Podemos dizer, por 
exemplo:
Em Campinas, André, meu vizinho, foi o vencedor do campeonato estadual de tênis, na última 
semana.
Em Campinas, na última semana, André, meu vizinho, foi o vencedor do campeonato estadual 
de tênis.
André, meu vizinho, foi o vencedor do campeonato estadual de tênis em Campinas, na última 
semana.
Meu vizinho, André, na última semana, foi o vencedor do campeonato estadual de tênis em Campinas.
Certamente, esses exemplos não esgotam as possibilidades de alterações aceitáveis na ordem dos 
constituintes do enunciado. No entanto, há modificações nessa ordem que são impossíveis na língua 
portuguesa. Com esses mesmos elementos, não seria aceitável dizer, por exemplo:
Foi campeonato semana vizinho de estadual o meu Campinas André em última vencedor na tênis do.
Apesar de reconhecermos todas as palavras acima, verificamos de imediato que tal combinação 
constitui um enunciado que não se realiza na língua portuguesa. Isso nos leva a entender, definitivamente, 
que as combinações são sempre reguladas por uma sintaxe, que define as ordens possíveis dos elementos 
lexicais no interior de estruturas sintáticas. Daí a importância desse estudo.
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Fazer a análise sintática dos enunciados da língua passa, necessariamente, pelo reconhecimento das 
estruturas sintáticas e estudo das relações e funções dos termos que as constituem. Sem a compreensão 
clara dessas noções básicas, de nada adianta decorar termos, conceitos, regras e tentar aplicá-los aos 
exercícios de análise.
Esse estudo será feito em disciplina específica que haverá no curso, na qual será tratada a morfossintaxe 
enquanto objeto de estudo linguístico. Por ora, podemos nos lembrar de que a nossa língua tem um padrão 
SVC (sujeito – verbo – complemento) e tudo que fugir a esse padrão não se encontra na ordem direta. É 
preciso observar se a ordem usada não modificou o sentido e, se foi o caso, até que limite isso ocorreu.
Temos que ter atenção ainda quanto aos seguintes elementos:
Frase é a unidade de texto que, numa situação de comunicação, é capaz de transmitir um pensamento 
completo. A frase pode ser curta ou longa e pode ou não conter verbo. Observe:
Socorro!
Atenção!
Choveu todo o final de semana.
Oração é o enunciado que se organiza em torno de um verbo. Na oração, há sempre a relação 
sujeito/predicado.
O ferimento provocou uma inflamação noorganismo.
A plateia não questionou o palestrante durante o evento.
Período é a frase sintaticamente estruturada em torno de um ou outro verbo.
“Sonhei que estava sonhando e que no meu sonho havia um outro sonho esculpido.” (Carlos 
Drummond de Andrade)
Intencionalmente, pode-se inverter a sintaxe em um texto. Por exemplo, o autor pode colocar em 
primeiro lugar o objeto, se a intenção for focalizá-lo.
Veja:
A moral, o homem não preservou naquele momento.
No exemplo, o termo a moral é complemento do verbo preservou. Entretanto, na organização da oração, 
ele foi colocado em primeiro lugar, invertendo-se a ordem direta. Esse processo é chamado de topicalização.
Pode ocorrer também, principalmente em textos mais informais, o uso da clivagem, como no exemplo:
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Foi aquele garoto que comentou o fato.
A construção foi... que... é denominada clivagem.
Esses processos de topicalização e/ou clivagem são utilizados para se dar ênfase a um determinado 
termo na oração. Aí se encontram a riqueza da língua e a capacidade humana de lidar com ela.
Esse assunto será abordado na unidade III, na qual trataremos da sintaxe de colocação dos termos.
A semântica
Como já afirmamos, a semântica é definida, de maneira genérica, como o estudo do sentido das 
palavras e dos enunciados.
Só atingimos o sentido dos enunciados linguísticos, em qualquer contexto, por meio de um exercício 
de interpretação, a partir do qual os possíveis significados das palavras e de suas combinações são 
avaliados em situações específicas, na busca daquele que melhor se ajusta ao contexto de enunciação. 
Para exemplificar essas considerações, leia o enunciado abaixo, trecho de uma propaganda brasileira.
Toma que o BB é seu.
A leitura desse enunciado, num primeiro momento, dá-nos uma impressão, no mínimo, estranha, 
pois a sigla BB rompe com o dito popular, no qual temos o enunciado “toma que o filho é seu”.
Observamos que a articulação sonora da sigla foi usada como um meio de produzir o significado de 
“bebê” no lugar de filho. Entretanto, a sigla representa a abreviatura do nome de um banco, atualmente 
o maior do Brasil. É o que podemos observar no texto completo da propaganda:
Figura 8 – Campanha publicitária do Banco do Brasil
No contexto do anúncio publicitário, rapidamente recuperamos o sentido que nos parecia estranho 
quando tomamos o texto isoladamente. A metáfora foi produzida pelo processo já descrito e há 
ambiguidade no verbo tomar também, pois pode-se entender tanto como assumir a responsabilidade 
do bebê quanto como assumir o lugar de cliente desse banco.
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Como vemos, a compreensão é um processo ativo. Ela não depende apenas da palavra, mas do 
contexto em que está inserida. É com ele, e não com a palavra em si, que “negociamos” os significados. 
Diante de uma dada palavra, somamos as intenções do outro – o interlocutor – às nossas intenções e, 
somente então produzimos significado.
Veja:
–Olha aí, cuidado!
O valor unicamente linguístico é insuficiente para completar a significação. É preciso, também, 
recorrer à situação da fala: o “objeto” do olhar pode ser algo perigoso perto do ouvinte, dependendo do 
lugar (uma pedra, um buraco, um abismo etc.).
De modo geral, as palavras e enunciados de uma língua operam em dois eixos de significação: 
o conotativo – sentido figurado, ampliado e modificado – e o denotativo – sentido literal, primeira 
significação atribuída à palavra nos dicionários.
Em um diálogo entre os personagens Hagar e Sortudo, numa de suas viagens pelo mar, 
o primeiro solicita ao segundo que “dê corda”, com intuito de que ele lance a corda para 
que possam atracar, mas ele entende que era para distrair o responsável pelo cais e inicia 
uma conversa banal, perguntando ao outro sobre uma mulher que o acompanhava na noite 
anterior.
Hagar faz o uso literal – denotativo – da palavra corda. Já Sortudo deu outra interpretação 
à mensagem: julgou que “dar uma corda” seria distrair o responsável pelo cais com uma conversa 
qualquer, sem maior importância. Utilizou, então, o sentido figurado – conotativo – da palavra corda. É 
exatamente nesse jogo de significação que se atinge o humor da tira.
O usuário da língua – bem diferente do personagem – estabelece, desde cedo, uma relação natural 
entre esses dois eixos de significação, devido, em grande parte, ao fato de participamos das mais diversas 
situações de interação comunicativa, prática que, gradativamente, leva-nos a reconhecer que o sentido 
das palavras e expressões não é fixo e imutável. Ao contrário, ele se define e ganha significado preciso 
nos contextos específicos em que se realiza.
Veja como isso também ocorre em alguns provérbios populares, gênero de linguagem 
predominantemente conotativa:
Quem semeia vento colhe tempestade (as pessoas devem arcar com as consequências dos próprios 
atos).
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando (é melhor contentar-se com o que já tem, sob 
risco de ficar sem nada).
Pimenta nos olhos dos outros é refresco (o sofrimento dos outros, em geral, não nos afeta).
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Ressaltamos que, diferentemente dos estudos de fonologia, morfologia ou sintaxe, os estudos 
semânticos constituem uma área bastante complexa, pois tratam da relação entre as estruturas 
linguísticas e a sua significação. Tal fato, entre outros, leva-nos a considerar a importância desse estudo 
nas aulas de língua materna, item que, infelizmente, é muitas vezes considerado secundário. A linguagem 
– sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação – lida com a atribuição 
de sentidos em todas as suas manifestações.
Propiciar o estudo semântico passa a ser, certamente, um eixo fundamental na construção de uma 
prática pedagógica que pretende favorecer a formação de leitores e escritores competentes.
Esse estudo será mais detalhado em uma disciplina que faz parte do curso e que consta da grade 
curricular. Você terá oportunidade, então, de aprofundar, futuramente, seus conhecimentos nessa área 
da semântica.
 Saiba mais
Consulte a obra de Perini, M. A. Princípios de linguística descritiva: 
introdução ao pensamento gramatical. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
 Resumo
Vamos rever os pontos principais desta unidade.
A descrição da língua pode ser realizada desde seu nível mais elementar 
até o mais alto, que compreendem o fonológico, o morfológico, o sintático 
e o semântico. Há também a descrição de estilo no uso da língua, o qual é 
feito pela estilística.
No nível fonológico, podem-se descrever diferenças de pronúncia, 
enquanto no morfológico pode-se ver a estrutura e formação das palavras 
(derivação e composição), as quais são organizadas sintaticamente e 
carregam semanticamente um significado.
Assim, no nível sintático, podemos observar a relação entre sujeito, 
predicado, complementos verbais, nominais e outras funções dos termos da 
oração. Esse assunto será visto com mais detalhes (retomando-se também 
a morfologia) em disciplina do curso que faz parte da grade curricular.
Quanto à semântica e à estilística, também haverá uma disciplina 
específica que tratará do assunto.
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Nessa fase, o importante é ter entendido que há diferentes níveis de 
análise para o mesmo objeto – a língua portuguesa. Então:
Fonologia – estuda o aspecto fônico e tem como unidadebásica de 
estudo o fonema.
Morfologia – estuda a estrutura e a classe das palavras.
Sintaxe – estuda a relação entre as palavras.
Semântica – estuda o sentido das palavras na oração, período, texto.
Estilística – estuda outros aspectos que se relacionam à produção de 
significado das palavras, como, por exemplo, a emotividade.
 Questões
Questão 1 (FUVEST 1998). A mesma relação semântica assinalada pela conjunção e na frase 
“Detenho-me diante de uma lareira e olho o fogo” encontra-se também em:
A) E, a cada dia, você tem mais lugares onde pode contar com a comodidade de pagar suas despesas 
com cartões de crédito.
B) Realizada pela primeira vez em outubro do ano passado, a Semana de Arte e Cultura da USP tenta 
conquistar seu espaço na agenda cultural de São Paulo.
C) Carro quebra no meio da estrada e casal pede ajuda a um motorista que passa pelo local.
D) Quisera falar com o ladrão, e nada fizera.
E) E seu irmão Dito é o dono daqui?
Resposta correta: alternativa C.
Análise das alternativas:
A) Alternativa incorreta.
Justificativa:
O “e” indica adição com o período anterior.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa:
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O “e” liga dois termos coordenados do adjunto adnominal de “semana”.
C) Alternativa correta.
Justificativa:
A conjunção indica um processo de causa e consequência. O fato de o narrador deter-se diante de 
uma lareira provoca que ele olhe o fogo. O mesmo ocorre nesta alternativa.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa:
O “e” tem sentido de uma conjunção.
E) Alternativa incorreta:
Justificativa:
O “e”, neste caso, pode ser considerado como uma partícula expletiva, pois não é necessário na 
construção da oração.
Questão 2: Leia o poema abaixo, de Paulo Leminski:
O assassino era o escriba
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
Inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular com um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
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Considere as afirmativas a seguir:
I – A narrativa é construída a partir de termos utilizados na análise sintática, o que provoca efeito 
de humor.
II – Em “sujeito inexistente”, a expressão, normalmente utilizada na análise sintática, adquire outro 
sentido, qualificando o professor.
III – A compreensão adequada da brincadeira do poeta não exige do leitor o conhecimento em análise 
sintática.
Está correto o que se afirma em:
a) Todas as afirmativas.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.
e) I.
Resolução desta questão na Plataforma.

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