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LITERATURA BRASILEIRA I
Aula 8 - Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama (a poética da paisagem e da conciliação )
Aula 8: Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama (a poética da paisagem e da conciliação )
AULA 8 
LITERATURA BRASILEIRA I
Conteúdo Programático desta aula
as principais características da obra de Cláudio Manuel da Costa;
aspectos peculiares da obra de Cláudio Manuel da Costa;
o surgimento do índio na obra arcádica de Basílio da Gama
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LITERATURA BRASILEIRA I
O Arcadismo teve como marco inaugural a publicação do livro de poemas Obras, em 1768, de Cláudio Manuel da Costa.
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LITERATURA BRASILEIRA I
Contexto Histórico:
Na verdade, o ciclo da mineração já atingira seu apogeu quando o Arcadismo despertou entre nós, e observava-se um desgaste das relações entre Brasil e Portugal, devido à diminuição do envio de impostos relativos à extração do ouro na região. A Inconfidência Mineira, nesse sentido, pode ser considerada como a eclosão desse conflito, marcando tragicamente também a história de nossas letras.
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 “Prólogo ao Leitor
Bem creio que te não faltará que censurar nas minhas Obras, principalmente nas Pastoris onde, preocupado com tua opinião, te não há de agradar a elegância de que são ornadas. Sem te apartares deste mesmo volume, encontrarás alguns lugares que te darão a conhecer como talvez me não é estranho o estilo simples, e que sei avaliar as melhores passagens de Teócrito, Virgílio, Sanazaro e dos nossos Miranda, Bernardes, Lobo, Camões etc. 
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 Pudera desculpar-me, dizendo que o gênio me fez propender mais para o sublime: mas, temendo que ainda neste me condenes o muito uso das metáforas, bastará, para te satisfazer, o lembrar-te que a maior parte destas Obras foram compostas ou em Coimbra, ou pouco depois, nos meus primeiros anos, tempo em que Portugal apenas principiava a melhorar de gosto nas belas letras.”
 
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 Cláudio Manuel da Costa, desculpando-se, apresenta-nos características desse período: a recuperação do ideal clássico de beleza, tomado da Antiguidade clássica, e a simplicidade da linguagem, como valor estético a ser perseguido. Em outras palavras, no prefácio são apresentados os padrões estéticos do período: o Neoclassicismo ou Arcadismo.
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 Soneto I
Para cantar de amor tenros cuidados,
Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;
Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
Se é, que de compaixão sois animados:
Já vós vistes, que aos ecos magoados
Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Da lira de Anfião ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.
Bem sei, que de outros gênios o Destino,
Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino:
O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama
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Para Afrânio Coutinho: 
“Sua poesia escapa, à luz dessa compreensão, a uma classificação rigorosa de Arcadismo: aproxima-se, antes, do Quinhentismo, distinguindo-se dele apenas pela maior ênfase dada à expressão subjetiva. É nela que vamos encontrar elementos novos: motivação pré-romântica, um sentimento melancólico de perda e de abandono, às vezes de exílio. As saudades de Portugal, do Tejo e do Mondego, são motivos de queixas frequentes, e na comparação da paisagem brasileira com a portuguesa, a primeira não sai favorecida.
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(...)
Manejando o decassílabo com um desembaraço que não demonstraria nos metros menores, Cláudio realiza, assim, uma poesia em tons delicados, suaves, em que o desespero vem amortecido pela resignação.
Desse subjetivismo intenso resulta, entre outras coisas, o condicionamento da natureza, ou melhor, da visão da natureza ao estado de espírito do poeta.” (223-226)
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III
Pastores, que levais ao monte o gado,
Vede lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver se o meu rosto magoado:
Eu ando (vós me vedes) tão pesado; 
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra 
A causa de um martírio tão cansado.
Se a quereis conhecer, vinde comigo, 
Vereis a formosura, que eu adoro; 
Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro; 
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo, 
Chorareis, ó pastores, o que eu choro.
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Sou pastor; não te nego; os meus montados São esses, que aí vês; vivo contente Ao trazer entre a relva florescente A doce companhia dos meus gados; Ali me ouvem os troncos namorados, Em que se transformou a antiga gente; Qualquer deles o seu estrago sente; Como eu sinto também os meus cuidados. Vós, ó troncos, (lhes digo) que algum dia Firmes vos contemplastes, e seguros Nos braços de uma bela companhia; Consolai-vos comigo, ó troncos duros; Que eu alegre algum tempo assim me via; E hoje os tratos de Amor choro perjuros.
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 Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado;
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio: 
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias 
Nas porções do riquíssimo tesouro 
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro 
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.
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Segundo Antônio Candido, “(...) esta presença da rocha aponta nele para um anseio profundo de encontrar alicerce, ponto básico de referência, que a impregnação da infância e adolescência o levam a buscar no elemento característico da paisagem natal. Quando quer localizar um personagem, é perto, ou sobre uma rocha que o situa”( 88). 
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“Cláudio guardava duas imagens de santos dentro de redomas de vidro, que ficavam em cima de algum móvel ou dentro de um oratório, ou ainda quem sabe ao pé da cama: as paredes, ele reservava para uma de suas paixões, os mapas” 
Esse acréscimo contribui para explicar o interesse do poeta pelos acidentes geográficos, marcos importantes em mapas geográficos. A natureza de sua terra natal está presente em algumas de suas produções poéticas, seja pela referência às rochas, ou ao ribeirão do Carmo.
[Laura de Mello e Souza em Cláudio Manuel da Costa: o letrado dividido. (São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p.144]. 
 
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da Gama (a poética da paisagem e da conciliação )
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Memórias do presente, e do passado
Fazem guerra cruel dentro em meu peito;
E bem que ao sofrimento ando já feito,
Mais que nunca desperta hoje o cuidado.
Que diferente, que diverso estado
É este, em que somente o triste efeito
Da pena, a que meu mal me tem sujeito,
Me acompanha entre aflito, e magoado!
Tristes lembranças! e que em vão componho
A memória da vossa sombra escura!
Que néscio em vós a ponderar me ponho!
Ide-vos; que em tão mísera loucura
Todo o passado bem tenho por sonho;
Só é certa a presente desventura
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LITERATURA BRASILEIRA I
Cláudio Manuel da Costa ainda escreveu Vila Rica, uma epopeia inspirada em O Uraguai, de Basílio da Gama – poeta que conheceremos a seguir.
É a descrição da epopeia dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de Vila Rica.
O enredo tem uma estrutura de rapsódia, fugindo aos padrões clássicos. O primeiro foco narrativo é o drama de Garcia, o segundo a missão de Albuquerque e o terceiro, a luta dos revoltosos
 Vamos conhecer um trechinho de Vila Rica?
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Ouve Garcia o canto, e não atina De onde tanto prodígio, mas de Eulina A delicada face está patente: Fita os olhos, e vê desde a corrente Lançar a mão à praia a Ninfa bela, Toma uma areia de ouro, e já com ela Pulveriza os cabelos: neste instante, O sonho de Albuquerque o faz avante Passar, os braços abre, a Ninfa chama; Ela o vê, e não teme, e já se inflama De amor por ele: aos braços o convida, E abrindo o seio o rio, uma luzida Urna de fino mármore os sepulta Recebendo-os em si: ficou oculta (Vila Rica. Canto VII)
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Para a Aula 8
Sempre Um Papo - Laura de Mello e Souza (Bloco 2/4) 
12:54
https://www.youtube.com/watch?v=-ZpIBST24Aw
 
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BASÍLIO DA GAMA- O Uraguai, o índio arcádico
 
O poeta José Basílio da Gama publicou o poema O Uraguai, em 1769. Embora os críticos afirmem que o tema da obra tenha servido aos propósitos do autor, procurando ganhar a simpatia do Marquês de Pombal - uma vez que estudava em colégio jesuíta quando foi promulgada a expulsão dos padres – é inegável a qualidade de sua obra
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Observa-se, no poema a reversão do esquema épico tradicional, pois inicia em pela ação; embora possamos identificar as partes que constituem a epopeia tradicional: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Além disso, as referências à mitologia quase não se percebem. A paisagem se liga à ação e os indígenas atuam como personagens importantes na narrativa.
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Enredo: Pelo Tratado de Madri, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, passariam ao domínio espanhol. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos das Missões era habitada por índios e cuidada por jesuítas, que organizaram a resistência aos portugueses. O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire de Andrade
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General Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas portuguesas); Catâneo (chefe das tropas espanholas); Cacambo (chefe indígena); Cepé (guerreiro índio); Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões); Caitutu (guerreiro indígena; irmão de Lindóia); Lindóia (esposa de Cacambo); Tanajura (indígena feiticeira). 
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 Canto Segundo
(...)
De que serve ao teu rei? Aqui não temos
Nem altas minas, nem caudalosos
Aqui não temos. Os padres faziam crer aos índios que os
portugueses eram gente sem lei, que adoravam o ouro.
Rios de areias de ouro. Essa riqueza
Que cobre os templos dos benditos padres,
Fruto da sua indústria e do comércio
Da folha e peles, é riqueza sua.
Com o arbítrio dos corpos e das almas
O céu lha deu em sorte. A nós somente
Nos toca arar e cultivar a terra,
Sem outra paga mais que o repartido
Por mãos escassas mísero sustento.
Podres choupanas, e algodões tecidos,
E o arco, e as setas, e as vistosas penas 
São as nossas fantásticas riquezas.
 
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Vê que o nome dos reis não nos assusta.
O teu está muito longe; e nós os índios
Não temos outro rei mais do que os padres. 
Acabou de falar; e assim responde
O ilustre General: Ó alma grande,
Digna de combater por melhor causa,
Vê que te enganam: risca da memória
Vãs, funestas imagens, que alimentam
Envelhecidos mal fundados ódios.
Por mim te fala o rei: ouve-me, atende,
E verás uma vez nua a verdade.
Fez-vos livres o céu, mas se o ser livres
Era viver errantes e dispersos,
Sem companheiros, sem amigos, sempre
Com as armas na mão em dura guerra,
Ter por justiça a força, e pelos bosques
Viver do acaso, eu julgo que inda fora
Melhor a escravidão que a liberdade.
 
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(...)
E o índio, um pouco pensativo, o braço
E a mão retira; e, suspirando, disse:
Gentes de Europa, nunca vos trouxera
O mar e o vento a nós. Ah! não debalde
Estendeu entre nós a natureza
Todo esse plano espaço imenso de águas.
Prosseguia talvez; mas o interrompe
Sepé, que entra no meio, e diz: Cacambo
Fez mais do que devia; e todos sabem
Que estas terras, que pisas, o céu livres
Deu aos nossos avôs; nós também livres
As recebemos dos antepassados.
Livres as hão de herdar os nossos filhos.”
 
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 “Devido ao tema do índio, durante todo o Romantismo o nome de Basílio da Gama foi talvez o mais frequente na pena dos escritores, quando se tratava de apontar precursores da literatura nacional. Convém, todavia, distinguir nele o nativismo do interesse interior pelo exótico, parecendo haver predomínio deste, pois o Indianismo não foi para ele uma vivência, como para os românticos; foi antes um tema arcádico transposto em roupagem mais pitoresca.” (Candido, A. Formação da literatura brasileira.Momentos decisivos. CANDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos 1750-1880.11.ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul sobre, 2007.p.133-134)
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Para finalizar:
Nessa aula conhecemos a obra de Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama.
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