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Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II 11AULA AULA11.indd 119 14/10/2005, 08:29:20 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ120 INTRODUÇÃO Nesta aula continuaremos a falar da glicólise. Dessa vez, exploraremos a etapa de pagamento ou de síntese de ATP. Lembre-se de que: • Na primeira fase, dois ATPs foram hidrolisados para fosforilar a molécula de glicose. • Os produtos da primeira fase são duas moléculas de gliceraldeído 3P, um açúcar fosforilado de três carbonos. É daí que partiremos agora. Recorde-se de que, com uma molécula de glicose, duas moléculas de gliceraldeído 3P são geradas e, portanto, a partir delas, duas moléculas de todos os intermediários são produzidas também. Estágio 2: Nesse último estágio da glicólise, as duas moléculas de três carbonos (G3P) são convertidas em duas moléculas de piruvato. 2 Gliceraldeído 3-fosfato 2 Piruvato A molécula de G3P é oxidada e ao mesmo tempo fosforilada, formando uma molécula de 1,3-bisfosfoglicerato. Observe que, nessa etapa, uma molécula de fosfato inorgânico (Pi) é incorporada à molécula de G3P no entanto não há consumo de qualquer molécula de ATP (reação 6). De onde vem então a energia para formar uma ligação covalente entre o G3P e o Pi? Resumo do estágio 2: Reação 6: O H C HCOH CH OPO2 3 2– P+ O – O HO O – O C HCOH CH OPO2 3 2– P O – O O O – NAD + NADH + H + + Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase Fosfato inorgânico Gliceraldeído 3-fosfato 1,3 bifosfoglicerato �G´ = 6,3 kJ/mol0 Bifosfoglicerato AULA11.indd 120 14/10/2005, 08:29:21 CEDERJ 121 A U LA 1 1 M Ó D U LO 3 Parte da energia que foi liberada no processo oxidativo (transformação de gliceraldeído em glicerato) foi conservada na formação de uma molécula de 1,3-BISFOSFOGLICERATO, que possui, então, um potencial energético maior do que o G3P. Nesta reação, uma molécula de NAD+ é reduzida a NADH + H+. Esta é uma reação típica, catalisada por uma classe de enzimas denominadas desidrogenases ligadas ao NAD+. Na etapa seguinte, a energia conservada na molécula de 1,3- bisfosfoglicerato (BPG) será utilizada na formação de uma molécula de ATP (ligação éster-fosfórica entre ADP + Pi), sendo o BPG convertido, então, em 3-fosfoglicerato (3PG). 1,3-B I S F O S F O G L I - C E R A T O É a primeira molécula de alta energia formada na glicólise. Reação 7: Essa reação é catalisada pela enzima fosfoglicerato quinase. Uma vez que duas moléculas de triose fosfato são formadas por molécula de glicose, duas moléculas de ATP são geradas nesse estágio. Este processo de formação de ATP é um exemplo de fosforilação em nível de substrato. Pela ação de uma fosfoglicerato mutase, o 3PG será convertido em 2-P-Glicerato (2PG). O C HCOH CH OPO2 3 2– P O – O O O – 1,3 bifosfoglicerato �G´ = –18,5 kJ/mol 0 O P P Rib Adenina + ADP O C HCOH CH OPO2 3 2– O – O P P Rib Adenina P O – – O O ATP 3–fosfoglicerato + fosfoglicerato quinase Mg 2+ AULA11.indd 121 14/10/2005, 08:29:22 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ122 Reação 8: A etapa subseqüente é catalisada pela enolase e envolve a desidratação e redistribuição da energia dentro da molécula. A proximidade do grupamento funcional hidroxila com o íon fosfato favorece a formação de um enol-fosfato, o fosfoenolpiruvato (PEP), que é também considerado um composto de alta energia. Reação 9: O passo seguinte é também uma fosforilação em nível do substrato. O fosfoenolpiruvato transfere seu grupo fosfato para o ADP, formando ATP. O produto é o piruvato, e a reação é catalisada pela piruvato quinase. FO S F O E N O L P I R U- V A T O É a segunda molécula de alta energia formada na glicólise. 3-fosfoglicerato O — O HC CH C 2 P O — O — O O OH Mg2+ fosfoglicerato mutase O — O HC CH C 2 P O — O — O OH O 2-fosfoglicerato G´°= 4,4 kJ/mol H C O P O HO CH 2 O OC OO - - - C O P O CH2 O OC OO - - - H O2 2-fosfoglicerato fosfoenolpiruvato enolase G´º= 7,5 kJ/mol O C C Ch2 O – Fosfoenolpiruvato �G´ = –31,4 kJ/mol0 O P P Rib Adenina + O C C Ch3 O O P P Rib Aden P O – – O O ATP Piruvato + Piruvato quinase Mg , K 2+ + P O – O O O – O Fosfoenolpiruvato AULA11.indd 122 14/10/2005, 08:29:22 CEDERJ 123 A U LA 1 1 M Ó D U LO 3 Devemos lembrar que, nesse segundo estágio, partimos de duas moléculas de gliceraldeído 3P e, portanto, duas moléculas de piruvato, duas de NADH + H+ e quatro moléculas de ATP foram formadas. Ao calcularmos o rendimento energético em termos de formação de ATPs, veremos que foram gastas duas moléculas no primeiro estágio da via e que foram ressintetizadas quatro moléculas, ou seja ocorreu formação líquida de duas moléculas de ATP (Figura 11.1). Figura 11.1: Fase de pagamento da glicólise. Também chamada etapa de conservação de energia ou, simplesmente, etapa de síntese de ATP. Fase de pagamento Conversão oxidativa de gliceraldeído 3-fosfato em piruvato e a formação acoplada de ATP e NADH. ! AULA11.indd 123 17/10/2005, 08:30:56 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ124 UTILIZAÇÃO DO PIRUVATO E REOXIDAÇÃO DO NADH Já vimos no início da aula que o piruvato pode ter vários destinos. O estado redox do tecido e a presença ou ausência de O2 determinam qual via deverá ser seguida. 1o destino – Quando em condições anaeróbicas, o piruvato é reduzido pelo NADH, formando lactato (na fermentação lática) ou etanol e CO2 (na fermentação alcoólica). Fermentação lática Na fermentação lática a reação é catalisada pelo complexo enzimático piruvato desidrogenase. Nessas condições, a molécula de NAD+ é regenerada, estando pronta para ser reutilizada em um outro ciclo da via glicolítica. Piruvato + NADH + H+ L(+)-Lactato + NAD+ A fermentação lática ocorre em alguns microorganismos e também no músculo de vertebrados e invertebrados. Fermentação alcoólica Na fermentação alcoólica a conversão de piruvato em etanol e CO2 envolve duas reações sucessivas. A primeira reação é a conversão de piruvato em acetaldeído, uma reação de descarboxilação, na qual o CO2 é liberado. Esta reação é catalisada pela piruvato descarboxilase. piruvato acetaldeído CO2 piruvato descarboxilase A segunda reação é a reoxidação do NADH a NAD+. Esta última reação é catalisada pela enzima álcool desidrogenase. Os produtos fi nais da fermentação alcoólica são, portanto, o etanol, uma molécula de dois carbonos, CO2 e NAD +. acetaldeído etanol NADH NAD+ álcool desidrogenase AULA11.indd 124 14/10/2005, 08:29:26 CEDERJ 125 A U LA 1 1 M Ó D U LO 3 2o destino – Quando em condições aeróbicas, o piruvato é transferido para as mitocôndrias e, após conversão em acetil-Coenzima A (Acetil-CoA), é oxidado em CO2 no ciclo do ácido cítrico. Os equivalentes do NADH + H+ produzidos na via glicolítica são também levados para as mitocôndrias, onde serão transferidos para aceptores específi cos, em um processo que veremos mais tarde e que é denominado cadeia transportadora de elétrons. Piruvato + NAD+ + CoA Acetil-CoA + NADH + H+ + CO2 REGULAÇÃO DA VIA GLICOLÍTICA Embora a maioria das reaçõesda via glicolítica seja reversível, três delas são marcadamente exergônicas e são consideradas irreversíveis do ponto de vista fi siológico. Essas reações são catalisadas pela HEXOQUINASE E GLICOQUINASE, FOSFOFRUTOQUINASE e PIRUVATO QUINASE e são consideradas os principais sítios de regulação da glicólise. A regulação da via ocorre segundo o princípio da máxima economia. A via será inibida se o organismo estiver em um estado fi siológico energeticamente favorável, ou seja, quando o balanço ATP/ADP for positivo. Em outras palavras, se a célula tem muito ATP, as vias metabólicas de síntese de ATP serão inibidas. Em baixas concentrações de ATP (altas concentrações de ADP), a via será ativada. Entretanto, não se engane... Não existe nenhuma situação fi siológica em que a via esteja parada. Ela pode funcionar a uma velocidade maior ou menor, mas qualquer inibidor ou situação metabólica que paralise a via glicolítica certamente levará o organismo à morte. GLICOQUINASE E HEXOQUINASE glicose + ATP glicose –6P + ADP + Pi FOSFOFRUTOQUINASE frutose 6-P + ATP frutose 1,6-bisfosfato + ADP + Pi PIRUVATUVATO QUINASE fosfoenolpiruvato + ADP + Pi piruvato + ATP Enzimas chaves da via glicolítica: HEXOQUINASE FOSFOFRUTO- QUINASE PIRUVATO QUINASE ! AULA11.indd 125 14/10/2005, 08:29:27 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ126 Tabela 11.1: Reguladores das enzimas chaves da via glicolítica. Enzima Inibidor (-) Ativador (+) Hexoquinase Fosfofrutoquinase Piruvato quinase Glicose 6-fosfato; ATP ATP; citrato AMP; ADP O detalhamento dessa regulação será visto após estudarmos outras vias metabólicas, uma vez que os processos metabólicos ocorrem de maneira integrada. R E S U M O A glicólise é uma seqüência de dez reações catalisadas por enzimas e por meio das quais uma molécula de glicose é convertida em duas moléculas de piruvato, com a produção de duas moléculas de ATP e duas de NADH. A via glicolítica pode ser dividida em uma etapa de investimento e uma etapa de pagamento. Na primeira etapa, a célula investe dois ATPs e quebra a glicose em duas moléculas de gliceraldeído 3P. Na segunda etapa, duas moléculas de alta energia são produzidas: 1,3-bisfosfoglicerato e fosfenolpiruvato. A formação dessas moléculas é fundamental para a síntese de quatro moléculas de ATP. Além de ATP, dois NAD+ são reduzidos a NADH, para cada molécula de glicose quebrada. A via glicolítica é regulada principalmente pela carga energética da célula. O indicador da carga energética é a relação entre a concentração de ATP e a concentração de ADP e/ou AMP. Os principais pontos de regulação são as enzimas hexoquinase, fosfofrutoquinase e piruvato quinase, todas as três metabolicamente irreversíveis. A via trabalha tanto em condições aeróbicas quanto em condições anaeróbicas. AULA11.indd 126 17/10/2005, 08:31:15 CEDERJ 127 A U LA 1 1 M Ó D U LO 3 Nas três últimas aulas, você conheceu uma das vias metabólicas mais importantes do metabolismo energético. Não perca de vista a totalidade dessas aulas, pois, mais importante que saber detalhes da via metabólica, é a compreensão do seu sentido fi siológico, ou seja, para que ela serve. Isso vai orientar você quanto ao que precisar ser fi xado realmente. Não deixe de entender os conceitos de máxima economia, de moléculas de alta energia, de acoplamento entre reações. Tais conceitos são universais quando se trata de Bioquímica e entendê-los facilita a compreensão dessa e de cada uma das outras vias metabólicas que você verá na Bioquímica II. O próximo módulo chama-se respiração celular. Ele fala das vias complementares à glicólise que ocorrem na presença de oxigênio (ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico e cadeia transportadora de elétrons). Portanto, não esqueça que a glicólise também é parte desse processo. EXERCÍCIOS De 1 a 6, assinale a(s) afi rmativa(s) correta(s): 1. Sobre os aspectos gerais da via glicolítica: a) na via glicolítica são produzidas seis moléculas de ATP; b) duas moléculas de piruvato são formadas por cada molécula de glicose que entra na via; c) ocorrem duas reações de condensação na via; d) a regulação alostérica é importante para esta via; e) a via glicolítica só ocorre em organismos anaeróbicos. 2. A glicólise apresenta duas etapas: a) ambas requerem ATP para ativação; b) somente uma é catalisada pela aldolase; c) somente uma produz piruvato; d) ambas são catalisadas por quinases. AULA11.indd 127 14/10/2005, 08:29:27 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ128 3. Qual enzima não é importante para a via glicolítica? a) aldolase; b) enolase; c) piruvato carboxilase; d) piruvato quinase. 4. A conversão de gliceraldeído 3P em 1,3-bisfosfoglicerato. a) requer ATP; b) é inibida por frutose 1,6 bi-P; c) é catalisada por uma desidrogenase NAD+ dependente; d) é uma reação de condensação. 5. A produção de frutose 1,6-bisP. a) libera energia; b) é uma etapa comprometida na via glicolítica; c) é catalisada pela hexoquinase; d) é inibida por ATP. 6. A produção de ATPs na glicólise. a) ocorre em duas reações separadas; b) ocorre na ausência de 2P-glicerato; c) requer a produção de lactato; d) requer a produção de piruvato. AULA11.indd 128 14/10/2005, 08:29:27 CEDERJ 129 A U LA 1 1 M Ó D U LO 3 7 . Com relação ao processo de fermentação alcoólica (etanólica), podemos dizer que: a) as reações da glicólise são diferentes daquelas que ocorrem nos organismos que produzem lactato; b) o acetaldeído é um composto intermediário nesta transformação; c) NAD+ é convertido em NADH; d) grandes quantidades de oxigênio são necessárias para que tal processo ocorra. 8 . Estabeleça os aspectos comparativos entre as enzimas hexoquinase e glicoquinase. 9. Como você explicaria a existência de uma mesma via metabólica presente desde os microorganismos até os seres mais complexos que conhecemos? 10. Você reparou que todos os compostos da via glicolítica, exceto a molécula de piruvato, encontram-se fosforilados? Pense/especule sobre uma razão para este fato. AULA11.indd 129 14/10/2005, 08:29:28 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ130 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS AVALIATIVOS Assinale a(s) afi rmativa(s) correta(s) 1. Sobre os aspectos gerais da via glicolítica. a) na via glicolítica são produzidas seis moléculas de ATP: b) duas moléculas de piruvato são formadas por cada molécula de glicose que entra na via; CORRETA c) ocorrem duas reações de condensação na via; d) a regulação alostérica é importante para esta via; CORRETA e) a via glicolítica só ocorre em organismos anaeróbicos. 2. A glicólise apresenta duas etapas e: a) ambas requerem ATP para ativação; b) somente uma é catalisada pela aldolase; c) somente uma produz piruvato; CORRETA d) ambas apresentam reações catalisadas por quinases. CORRETA 3. Qual dessas enzimas não é importante para a via glicolítica? a) enolase; b) aldolase; c) piruvato carboxilase; CORRETA d) piruvato quinase. AULA11.indd 130 14/10/2005, 08:29:28 CEDERJ 131 A U LA 1 1 M Ó D U LO 3 4. A conversão de gliceraldeído 3P a 1,3-bisfosfoglicerato: a) requer ATP; CORRETA b) é inibida por frutose-1,6 bisP; c) é catalisada por uma desidrogenase NAD+ dependente; d) é uma reação de condensação. 5. A produção de frutose 1,6-bisP: a) libera energia; b) é a reação fi nal na via glicolítica; c) é catalisada pela hexoquinase; d) é inibida por ATP. CORRETA 6. A produção de ATPs na glicólise:a) ocorre em duas reações separadas; CORRETA b) ocorre na ausência de 2P-glicerato; c) requer a produção de lactato; d) requer a produção de piruvato. 7 . Com relação ao processo de fermentação alcoólica (etanólica), podemos dizer que: a) as reações da glicólise são diferentes daquelas que ocorrem nos organismos que produzem lactato; b) o acetaldeído é um composto intermediário nesta transformação; CORRETA c) NAD+ é convertido em NADH; d) grandes quantidades de oxigênio são necessárias para que este processo ocorra. AULA11.indd 131 14/10/2005, 08:29:28 Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II CEDERJ132 8 . Estabeleça os aspectos comparativos entre as enzimas hexoquinase e glicoquinase. Ambas são enzimas que catalisam a reação de fosforilação de glicose em glicose 6-P. Ambas são inibidas pelo produto. Hexoquinase é a isoforma presente na maior parte dos tecidos extra-hepáticos, enquanto a glicoquinase é a isoforma encontrada no fígado. As isoformas têm diferentes afi nidades pelo substrato (glicose). Enquanto a hexoquinase é uma enzima generalista, que catalisa a fosforilação de hexoses, como glicose, manose e frutose, a glicoquinase é bastante específi ca para glicose. A hexoquinase possui alta afi nidade (baixo Km) por seu substrato glicose, enquanto a glicoquinase possui baixa afi nidade. 9. Como você explicaria a existência de uma mesma via metabólica presente desde os microorganismos até os seres mais complexos que conhecemos? Falar de relações evolutivas entre os organismos. 10. Você reparou que todos os compostos da via glicolítica, exceto a molécula de piruvato, encontram-se fosforilados? Pense/especule sobre uma razão para este fato. Falar de organização celular, fosfato como etiqueta de endereçamento. AULA11.indd 132 14/10/2005, 08:29:28
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