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www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 1 DIREITOS HUMANOS: CONCEITOS DIREITOS HUMANOS X DIREITOS FUNDAMENTAIS Os “direitos humanos” ou os “direitos fundamentais” formam o centro mais valioso dos direitos e se relacionam à vida, à liberdade, à propriedade, à segurança e à igualdade, com todos os seus desdobramentos. A expressão “direitos humanos” é utilizada pela Filosofia do Direito e ainda pelo Direito Internacional Público e Privado. Já os “direitos fundamentais” seriam os direitos humanos positivados em um sistema constitucional, analisados sob o enfoque do direito interno. DIREITOS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS “Direito”, em sua acepção clássica, seria a disposição meramente declaratória que imprime existência legal ao direito reconhecido. È a proteção ao bem, ao interesse tutelado pela norma jurídica configurando verdadeiro patrimônio jurídico. As “garantias”, por sua vez, traduzem-se no direito dos cidadãos de exigir dos poderes públicos a proteção de seus direitos. Servem para assegurar os direitos através da limitação do poder, possuindo caráter instrumental, atuando como mecanismos prestacionais na tutela dos direitos. Dividem-se em garantias gerais e específicas. “Todos os seres humanos merecem igual respeito e proteção, a todo tempo e em todas as partes do mundo em que se encontrem” (Fábio Konder Comparato) GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS (Manoel Gonçalves Ferreira Filho) Direitos de primeira dimensão Inauguram o movimento constitucionalista, fruto dos ideários iluministas do século XVIII. Os direitos defendidos nessa geração cuidam da proteção das liberdades públicas, civis e direitos políticos. Nesta fase, o Estado teria um dever de prestação negativa, isto é, um dever de nada fazer, a não ser respeitar as liberdades do homem. Seriam exemplos desses direitos: a vida, a liberdade de locomoção, a liberdade de opinião, a liberdade de expressão, à propriedade, à manifestação, ao voto, ao devido processo legal... b) Direitos de segunda dimensão Sob a inspiração principal do Tratado de Versalhes, de 1919, pelo qual se definiram as condições de paz entre os Aliados e a Alemanha e a criação da Organização Internacional do Trabalho – a OIT- nasce a denominada segunda dimensão de direitos fundamentais, que traz proteção aos direitos sociais, econômicos e culturais, onde do Estado não mais se exige uma abstenção, mas, ao contrário, impõe-se a sua intervenção. Nesse diapasão, seriam exemplos clássicos desses direitos: o direito à saúde, ao trabalho, à assistência social, à educação e o direito dos trabalhadores. c) Direitos de terceira dimensão Marcada pelo espírito de fraternidade ou solidariedade entre os povos com o fim da Segunda Guerra Mundial, a terceira geração representa a evolução dos direitos fundamentais para alcançar e proteger aqueles direitos decorrentes de uma sociedade já modernamente organizada, que se encontra envolvida em relações de diversas naturezas, especialmente aquelas relativas à industrialização e densa urbanização. Nesta perspectiva, são exemplos desses direitos: direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito à comunicação, o direito à autodeterminação entre os povos e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. AS GRANDES ETAPAS HISTÓRICAS NA AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS (Fábio Konder Comparato) I - O reino davídico, a democracia ateniense e a república romana O reino de Davi que durou 33 anos (entre os séculos XI e X a.C) estabeleceu pela primeira vez na história política da humanidade, a figura do rei-sacerdote, o monarca que não se www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 2 proclama Deus nem se declara legislador. O embrião do Estado de Direito. A democracia ateniense fundava-se nos princípios da preeminência da lei e da participação ativa do cidadão nas funções de governo. Poder dos governantes limitados e soberania popular ativa. A república romana instituiu um complexo sistema de controles recíprocos entre os diferentes órgãos políticos, o sistema do “checks and balances” II- Baixa Idade Média Com a extinção do império romano do Ocidente, em 453 da era cristã, teve início uma nova civilização, constituída por valores cristãos e costumes germânicos. Foi nas cidades comerciais da baixa idade média que teve início a primeira experiência histórica de sociedade de classes, onde a desigualdade social já não é determinada pelo direito, mas resulta principalmente das diferenças de situação patrimonial de famílias e indivíduos. III- O século XVII Todo o século representa um tempo de “crise da consciência européia”, uma época de profundo questionamento das certezas tradicionais. Generalizou-se a consciência dos perigos representados pelo poder absoluto. A instituição-chave para a limitação do poder monárquico e a garantia das liberdades na sociedade civil foi o Parlamento. O governo representativo. IV- A Independência Americana e a Revolução Francesa O art. I da Declaração do Bom Povo de Virgínia (abaixo transcrito) de 1776 constitui o registro de nascimento dos direitos humanos na História. “Todos os seres humanos são, pela sua natureza, igualmente livres e independentes e possuem certos direitos inatos, dos quais, ao entrarem no estado de sociedade, não podem, por nenhum tipo de pacto, privar ou despojar sua posteridade: nomeadamente,a fruição da vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade de bens, bem como de procurar e obter a felicidade e a segurança”. Treze anos depois, no ato de abertura da Revolução Francesa, a mesma idéia de liberdade e igualdade dos seres humanos é reafirmada e reforçada: “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em Direitos” (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, art. 1°) Faltou apenas o reconhecimento da fraternidade, isto é, a exigência de uma organização solidária da vida em comum. V- O reconhecimento dos direitos humanos de caráter econômico e social A ascensão do indivíduo na história não conseguiu evitar a exploração que ocorria nas empresas capitalistas. O reconhecimento dos direitos humanos de caráter econômico e social foi o principal benefício que a humanidade recolheu do movimento socialista, iniciado na primeira metade do século XIX. O titular desses direitos é o conjunto dos grupos sociais esmagados pela miséria, a doença, a fome e a marginalização. VI- A primeira fase de internacionalização dos direitos humanos Ela teve início na segunda metade do século XIX e findou com a 2ª Guerra Mundial, manifestando-se basicamente em três setores: o direito humanitário, a luta contra a escravidão e a regulação dos direitos do trabalhador assalariado. Direito humanitário: conjunto das leis e costumes da guerra. Convenção de Genebra de 1864; www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 3 A luta contra a escravidão: o Ato Geral da Conferência de Bruxelas, de 1890 estabeleceu, embora sem efetividade, as primeiras regras interestatais de repressão ao tráfico de escravos africanos; Com a criação da Organização Internacional do Trabalho em 1919, a proteção do trabalhador assalariado passou também a ser objeto de uma regulação convencional entre os diferentes Estados. VII- A evolução dos direitos humanos a partir de 1945 Após os massacres da guerra, a dignidade da pessoa humana – entendida como o atributo imanente ao ser humano para exercícioda liberdade e de direitos como garantia de uma existência plena e saudável – passou a ter amparo como um objetivo e uma necessidade de toda humanidade, vinculando governos, instituições e indivíduos. Nesse momento da história, o valor fundante da dignidade da pessoa humana se irradiou para as novas Constituições do mundo pós- guerra, permitindo-lhes inaugurar novas ordens jurídicas professando a dignidade humana como fim a ser atingido, verdadeiro substrato de valor de todo o ordenamento jurídico. A Declaração Universal, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, e a Convenção Internacional sobre a prevenção e punição do crime de genocídio, aprovada um dia antes no quadro da ONU, constituem os marcos inaugurais da nova fase histórica que se encontra em pleno desenvolvimento. POSIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA NORMATIVO (Fábio Konder Comparato) I - A Magna Carta, Inglaterra – 1215 Principais disposições: Lança as bases do Tribunal do Júri, bem como o do paralelismo necessário entre delitos e penas; Respeito à propriedade privada contra os confiscos ou requisições decretados abusivamente pelo soberano ou seus oficiais; Nasce o princípio do devido processo legal, ao estabelecer que os homens livres devem ser julgados pelos seus pares e de acordo com a lei da terra; Estabelece a liberdade de ingresso e saída do país, bem como a livre locomoção dentro de suas fronteiras. II- Lei de Habeas Corpus (Habeas Corpus Act) – Inglaterra – 1679 Principais destaques: A lei surgiu para efetivar regras processuais para a defesa em juízo do direito de ir e vir Tornou-se a matriz de todas as outras ações que vieram a ser criadas posteriormente, para a proteção de outras liberdades fundamentais, como o mandado de segurança, por exemplo. III - Declaração de Direitos (Bill of Rights) – Inglaterra – 1689 O essencial do documento consistiu na instituição da separação de poderes, com a declaração de que o Parlamento é um órgão precipuamente encarregado de defender os súditos perante o Rei e cujo funcionamento não pode, pois, ficar sujeito ao arbítrio deste. Também fortaleceu a instituição do Júri, o direito de petição e a proibição de penas inusitadas ou cruéis. IV- A Declaração de Direitos Americana Principais destaques: A Declaração de Direitos de Virgínia (1776) Foi o primeiro documento político que reconheceu, a par da legitimidade da soberania popular, a existência de direitos inerentes a todo ser humano independentemente das diferenças de sexo, raça, religião, cultura ou posição social. Expressou os fundamentos do regime democrático ao reconhecer os direitos inatos de toda pessoa humana que não podiam ser alienados ou suprimidos por uma decisão política e ainda destacou a importância da soberania popular. Defesa da igualdade perante a lei A liberdade de imprensa como um dos grandes baluartes da liberdade www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 4 V- As Declarações de Direitos Francesa Principais destaques: A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) Defesa das liberdades individuais No campo penal, o princípio da legalidade e o da anterioridade da pena foram consagrados Garantia da propriedade privada contra expropriações abusivas Estrita legalidade na criação e cobrança de tributos A Declaração dos Direitos na Constituição de 1791 Reforçou o caráter antiaristócrático e antifeudal do novo regime político Nacionalizou os bens pertencentes a eclesiásticos ou a congregações religiosas Reconheceu pela primeira vez na história a existência de direitos humanos de cunho social com a criação de um estabelecimento geral de Assistência Pública, para educar as crianças abandonadas, ajudar os enfermos pobres Estabeleceu que o Poder Legislativo não poderia fazer nenhuma lei que prejudicasse ou impedisse o exercício dos direitos naturais e civis garantidos pela Constituição VI- A Constituição Francesa – 1848 Principais destaques: Preocupação com a família Orientação do ensino público para o mercado de trabalho Instituição de deveres sociais do Estado para com a classe trabalhadora e os necessitados em geral A pena de morte é abolida em matéria política Proibiu-se a escravidão em “todas as terras francesas” Declarou que o território da Argélia e das colônias é território francês VII - A Convenção de Genebra – 1864 Principais destaques: Inaugura o direito humanitário, que veio a ser desenvolvido no século seguinte após as guerras mundiais. Serviu como base para a criação, em 1880, da Comissão Internacional da Cruz Vermelha, mundialmente conhecida. VIII – A Constituição Mexicana – 1917 Principais destaques: Proibição de reeleição do Presidente da República Garantias para as liberdades individuais e políticas Quebra do poderio da Igreja Católica Expansão do Sistema de educação pública Reforma agrária Proteção do trabalho assalariado A primeira Constituição a atribuir aos direitos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais IX- A Constituição Alemã (Weimar) – 1919 Principais destaques: Instituiu a primeira república alemã Igualdade jurídica entre marido e mulher Equiparou os filhos ilegítimos aos legítimos com relação à política social do Estado Proteção à família e à juventude Proteção à educação pública e aos direitos trabalhistas e previdenciários A função social da propriedade (“a propriedade obriga”) X- A Convenção Relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra – Genebra, 1929 Principais destaques: Desenvolveu o conjunto das normas de proteção aos prisioneiros de guerra, assentadas na Convenção de 1864 e na Convenção de Haia de 1907 (sobre os prisioneiros de guerra marítima) Regula a captura, o cativeiro, a organização dos campos de prisioneiros, o trabalho dos prisioneiros de guerra e o fim dos cativeiros www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 5 XI- A Carta das Nações Unidas A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, após o término da Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, entrando em vigor a 24 de outubro daquele mesmo ano. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça faz parte integrante da Carta. Principais destaques (Trechos) NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra,que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS. Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas (ONU). E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças paramanter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos. XII- A ONU A Organização das Nações Unidas é uma instituição internacional formada por 193 Estados soberanos, fundada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social, melhores padrões de vida e direitos humanos. Os membros são unidos em torno da Carta da ONU, um tratado internacional que enuncia os direitos e deveres dos membros da comunidade internacional. As Nações Unidas são constituídas por seis órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado. Todos eles estão situados na sede da ONU, em Nova York, com exceção do Tribunal, que fica em Haia, na Holanda. Ligados à ONU há organismos especializados que trabalham em áreas tão diversas como saúde, agricultura, aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: OMS (Organização Mundial da Saúde), OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário Internacional). Estes organismos especializados, juntamente com as Nações Unidas e outros programas e fundos (tais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF), compõem o Sistema das Nações Unidas. Órgãos da ONU A Assembleia Geral A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão deliberativo da ONU. É lá que todos os Estados-Membros da Organização (193 países) se reúnem para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do planeta. Na Assembleia Geral, todos os países têm direito a um voto, ou seja, existe total igualdade entre todos seus membros. Assuntos em pauta: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões de orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, direitos humanos, etc. As resoluções – votadas e www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 6 aprovadas – da Assembleia Geral funcionam como recomendações e não são obrigatórias. As principais funções da Assembleia são: Discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU; Discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na pauta do Conselho de Segurança; Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos jovens e das mulheres; Discutir assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e direitos humanos; Decidir as contribuições dos Estados-Membros e como estas contribuições devem ser gastas; Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização. O Conselho de Segurança O Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais. Ele é formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China – e dez membros não- permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos. Este é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho. O Conselho Econômico e Social O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é o órgão coordenador do trabalho econômico e social da ONU, das Agências Especializadas e das demais instituições integrantes do Sistema das Nações Unidas. O Conselho formula recomendações e inicia atividades relacionadas com o desenvolvimento, comércio internacional, industrialização, recursos naturais, direitos humanos, condição da mulher, população, ciência e tecnologia, prevenção do crime, bem-estar social e muitas outras questões econômicas e sociais. O Conselho de Tutela Segundo a Carta, cabia ao Conselho de Tutela a supervisão da administração dos territórios sob regime de tutela internacional. As principais metas desse regime de tutela consistiam em promover o progresso dos habitantes dos territórios e desenvolver condições para a progressiva independência e estabelecimento de um governo próprio. Os objetivos do Conselho de Tutela foram tão amplamente atingidos que os territórios inicialmente sob esse regime – em sua maioria países da África – alcançaram, ao longo dos últimos anos, sua independência. Tanto assim que em 19 de novembro de 1994, o Conselho de Tutela suspendeu suas atividades, após quase meio século de luta em favor da autodeterminação dos povos. A decisão foi tomada após o encerramento do acordo de tutela sobre o território de Palau, no Pacífico. Palau, último território do mundo que ainda era tutelado pela ONU, tornou-se então um Estado soberano, membro das Nações Unidas. A Corte Internacional de Justiça A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte – que é parte da Carta das Nações Unidas – podem recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos, podem pedir pareceres à Corte Internacional de Justiça. Além disso, a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros órgãos das Nações Unidas. A Corte Internacional de Justiça se compõe de quinze juízes chamados “membros” da Corte. São eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança em escrutínios separados. O Secretariado O Secretariado presta serviço a outros órgãos das Nações Unidas e administra os programas e políticas que elaboram. Seu chefe é o Secretário-Geral, que é nomeado pela www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 7 Assembleia Geral, seguindo recomendação do Conselho de Segurança. Cerca de 16 mil pessoas trabalham para o Secretariado nos mais diversos lugares do mundo. XIII- A Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos básicos das Nações Unidas e foi assinada em 10 de dezembro de 1948. Nela, são enumerados os direitos que todos os seres humanos possuem. “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Art. I “No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.” (Artigo XXIX) “Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados”. (Artigo XXVIII) XIV- Os Pactos Internacionais de Direitos Humanos – 1966 Em 16 de dezembro de 1966, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou dois pactos internacionais de direitos humanos que desenvolvera, pormenorizadamente o conteúdo da Declaração Universal de 1948: Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos Principais destaques: Consagra o direito à autodeterminação dos povos Assenta o princípio da igualdade essencial de todos os seres humanosNão se admite regressões com relação aos direitos fundamentais Vedação à tortura, penas cruéis, aos tratamentos desumanos ou degradantes Vedação à escravidão Princípio do livre acesso ao Poder Judiciário Reconhece o direito de reunião Criou o Comitê de Direitos Humanos Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Proteção das classes ou grupos sociais desfavorecidos contra a dominação socioeconômica exercida pela minoria rica e poderosa Proteção ao trabalho e à previdência social Direito à moradia Direito à saúde Desafios para a sua concretização Não criou nenhum órgão de fiscalização e controle XV - A Convenção Americana de Direitos Humanos – 1969 Aprovada na Conferência de São José da Costa Rica em 22 de novembro de 1969, a Convenção reproduz a maior parte das declarações de direitos constantes do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos Principais destaques: Proteção do direito à vida desde o momento da concepção Prisão Civil apenas ao devedor de alimentos* Liberdade de atividade empresarial em matéria de imprensa, rádio e televisão Defesa do direito ao nome Vedação a todas as formas de exploração do homem pelo homem XVI- O Estatuto do Tribunal Penal Internacional (Tratado de Roma) – 1998 www.cers.com.br DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Flavia Bahia 8 O Estatuto incluiu na competência do Tribunal Penal apenas quatro crimes: “o crime de genocídio, os crimes contra a humanidade, os crimes de guerra e o crime de agressão” Sua criação constitui um avanço importante, pois esta é a primeira vez na história das relações entre Estados que se consegue obter o necessário consenso para levar a julgamento, por uma corte internacional permanente, políticos, chefes militares e mesmo pessoas comuns pela prática de delitos da mais alta gravidade, que até agora, salvo raras exceções, têm ficado impunes, especialmente em razão do princípio da soberania.
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